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aA aiicleswas pl ae te ae as ea \ Gabriel Fackre Ronald H. Nash & John Sanders Editado por John Sanders E aqueles | que NUNCA OUVIRAM? Trés pontas de vista sobre ________________0 destino dos néo-evangelizados E Seog PR Se ee | 1509, tetatoretesnnenm 9 Data: 10/04! 2) Copyright ©: Todos os direitos reservados em lingua portuguesa por Gréfica Aleluia Ltda. Publicado originalmente em inglés pela InterVarsity Press, com o litulo What About Those Who Have Never Heard?, por John Sanders. © 1995 por Gabriel Fackre, Ronald H. Nash e John Sanders. Traduzido e impresso com permissao da InterVarsity Press, P.O. Box 1400, Downers Grove, IL 60515, USA. Traduc&o: Rubens Paes Revisao: Joel Ribeiro de Camargo Capa: Cleber Rogério Marchini Impressao e acabamento: Gréfica e Editora Aleluia As citacées biblicas séo extraidas da Edicao Almeida Revista e Atualizada. © Sociedade Biblica do Brasil ISBN 85-87360-04-3 1999 2000 1 28 Edi Catalogagée na fonte do Departamento Nacional do Livro Fidza Fackre, Gabriel. E aqueles que nunca ouviram? : trés pontos de visia sobre o destino dos néio-evangelizadios / Gabriel Faciere, Ronald H. Nash & John Sanders ; [traduzido por Rubens Paes]. —Arapongas, PR : Aletuia, 1999. 168 p.; 21 cm. ~~ ISBN 85-87360-04-3 a Tradugéo de: What about thosewho have never heard? : three views on the onan] — ne —clestiny of the amevangelized.... anaes —— 1.Salvagiio (Teologia) fora da Igreja, 2. Evangelizagdo. 3, Salvagao (Teologia) apés a morte. I. Nash, Ronald H. Il. Sanders, John. II. Titulo. CDD-234 - 2000 - Proibida a reprodugio. Os infratores sero processados na forma da lei. wee ¢ Editona aBeLwia Fone/fax (43) 252-3858 - Caixa postal 2011 - CEP 86703-990 - Arapongas, PR www.editoraaleluia.com.br - E-mail: aleluia@onda.com.br Uma palavra do editor... A pergunta sobre o destino eterno dos que jamais ouviram 0 Evangelho é muito comum. Em nossas escolas biblicas, nas discusses sobre evangelismo e missdes, nas aulas de Teologia, e mesmo em conversas informais acerca da fé crista, sempre a questao é levantada. Muitas vezes ha respostas evasivas, sem boa fundamentagio, sem reflexao. Preferimos ignorar 0 assunto ou, entao, bem 14 dentro de nds, cremos que, no final, Deus vai dar um “jeitinho” e nao precisamos nos preocupar com isso. Mas, e as implicagdes de nossos pontos de vista? Sob que perspectivas vamos encarar a questao, sem medo de estar no caminho errado? Nao se pode assumir um posicionamento sobre um assunto sem conhecé-lo bem. A caréncia de material disponivel em lingua portu- guesa sobre o destino eterno dos mao-sleaneace pelo evangelho é que nos-levou-a-publicar este livro. — E AQUELES QUE NUNCA OUVIRAM? é uma obra para quem gosta de refletir sobre temas polémicos. Ela nao oferece ao leitor uma resposta pronta, acabada, final. No entanto, por ser uma obra-debate, abre horizontes para se discutir um assunto que a literatura teoldgica evangélica em nosso pais ainda nao explorou. Este livro contém trés diferentes pontos de vista sobre o destino dos nao-evangelizados. Ao leitor cabe analisar cuidadosamente cada um deles, avaliando com muita atengao seus pressupostos filos6ficos, biblicos, teoldgicos, etc. A leitura exige uma mentalidade criticae uma percepgao acurada de todas as implicagdes de cada um dos pensamen- tos aqui expostos. Vocé vai ver que os autores usam diversas vezes 0 termo “evan- gélico”. A palavra é empregada para designar aqueles que sustentam ‘a doutrina da inspiragdo das Escrituras. Na verdade, tem o sentido de “conservador”, em oposicao aos tedlogos “liberais”. Prestaram valiosa colaboracao ao tradutor a missiondgia. Barbara Burns e o pastor Jonas Machado. Profundos conhé do tema aqui proposto, ajudaram na escolha de termos e exprensties- chaves que séo muito utilizadas pelos tedlogos que abordam o assun- to. O pastor Jonas Machado estudou profundamente este tema no preparo de sua dissertagéo para obtencao do grau de Mestre em Teologia. Por isso o convidamos para prefaciar o livro. Vindo o leitor a compreender a importancia do que se aborda neste livro ¢ a saber avaliar criticamente todas as implicagdes de qualquer posicionamiento que venha a assumir, ficaremos muito sa- tisfeitos. Joel Ribeiro de Camargo Gréfica e Editora Aleluia Prefacio a edicao em portugués ©:fecte impacto do pluralismo religioso que vem sendo assumido pos tedlogos cristéos, pressupondo a igualdade de todas as religides como opgio teoldgica, tem causado reagées no mundo evangélico, notadamente na América do Norte. Uma dessas reagGes é a necessidade de explicar como os evangé- licos podem sustentar a f em Jesus Cristo como tnico Salvador da humanidade e o amor de Deus por esta mesma humanidade, diante do fato de que milhGes ainda nao ouviram falar de Jesus. O exposto acima é parte da raz4o por que livros como este, que tratam do destino eterno dos naéo-evangelizados, tém sido editados no mundo de lingua inglesa. ‘ Talvez alguém questione se realmente € importante editar no Brasil_um livro que trata de um assunto que até entdo nao tem sido largamente levantado nos circulos de estudos teoldgicos € missiolag= _cos brasileiros. Entretanto, ha varias razGes que tornam relevante a edig&o do livro em portugués. Em primeiro lugar, 0 fato de o assunto nao ter sido discutido largamente nos seminarios até entao nao significa que cle esta ausen- te. Pastores, missiondrios e crentes, em geral, certamente tém uma opiniao, ainda que prévia. O cresciments da comunidade evangélica no Brasil e seu cres- cente envolvimeate atissiondrio também contribuem para a relevan- cia deste assunto. O mission4rio transcultural para povos nao-alcan- cados tera de encarar este problema de frente. Exemplo disto ¢ 0 questionamento que os que esto sendo evangelizados fazem normal- mente a respeito do destino de seus antepassados que nao ouviram o evangelho. O melhor, nestas horas, é ter convicgdes bem embasadas. Os autores do livro discutem 0 efeito que a posicao assumida podera ter sobre a motivagao missionaria. O leitor tera de decidir por si mesmo sobre isto. Mas, € justo dizer que o assunto tem uma relagéo direta sobre como se entende a razao de fazer miss6cs. Outro ponto ainda a destacar é 0 modo especial como este tema toca em doutrinas fundamentais da fé crista. Ficam envolvidas ques- tdes como: a natureza de Deus, da revelagio, da fé salvifica, do pecado; como entender a relagao entre o Antigo e Novo Testamento, entre outras. Embora este assunto possa ser chamado de “periférico” em relagéo a pontos centrais da fé crista, cle toca em questdes fundamentais de um modo que outros (por exemplo, a questéo da ordenagao feminina) nado tocam. Oleitor brasileiro sera beneficiado também por ter em suas maos 0 assunto discutido em forma de debate. Nao é a caso de um livro que traz uma questao polémica apenas de um ponto de vista. De inicio, esta é uma grande vantagem. Quem lé poderé avaliar as trés posigdes expostas € as réplicas correspondentes, e decidir qual delas se ajusta melhor a uma exegese coerente dos textos biblicos envolwvidos. Estas, entre outras, sao raz6es suficientes, nao s6 para justificar, _ Mas para recomendar a leitura deste livro, e seu uso em seminarios & debates sobre a questao. ° Jonas Machado Pastor da Igreja Batista Boas Novas em Jundiat, SP. Professor de Grego e Exegese do Novo Testamento na. a Faculdade Teolégica Putisia de Sao Paulo. ~~~ Mestrando em Tealogia- INTRODUCAO ......-....2--00% Uk John Sanders INCLUSIVISMO ....... eee eee ee 2 John Sanders REPLICAS Gabriel Fackre ........ 61 RonaldH. Nash ....... 67 PERSEVERANGA DIVINA .... seh aes 75 Gabriel Fackre REPLICAS HonaldH.Nash .. 2... 100 Joba, Sanders se deme es 105 Ronald Nash REPLICAS John Sanders ..... +... 143 Gabriel Fackre .... « Notas bibliograficas Sugestdes de leituras adicionais ........ 168 Introduca2e John Sanders Qual o destino daqueles que morrem sem nunca ter ouvido o Evangelho de Cristo? Estao todos os “pagaos” perdidos? Ha uma oportunidade de salvagao para aqueles que nunca ouviram acerca de Jesus? Estas perguntas suscitam uma das mais perplexas, desafiadoras econtinuas quest6es com a qual os cristaos se defrontam. Ela tem sido considerada por filésofos e pelo homem do campo, por cristaos e por ndo-cristaos. Em sociedades onde o Cristianismo tem exercido forte influéncia, quase todos ou jé perguntaram, ou foram entao questionados rem sem conhecimento do tinico Salvador, Jesus Cristo. Esta éa quest 0 apologética que se faz nos” campiuniversildrios norte-americanos, No Brasil, ha posig6es assumidas inconscientemente, mais que propriamente discutidas. Durante’ meu primeiro ano como estudante em uma grande universidade estadual, muitos de meus amigos e eu regularmente faziamos evangelizagao pessoal. Numa dessas ocasides, um nao-cren- te reflexivo me perguntou: “Se Jesus é 0 tinico meio de salvacao, entao 0 que acontece com todos aqueles que nunca ouviram falar dele?” Naquele tempo, eu ainda era um cristao novo na f¢ e, conseqiiente- mente, nao tinha uma resposta bem fundamentada para dar. Contu- do, reconheci a importancia da questao e mais tarde perguntci ao mcu pastor sobre o assunto. Ele me indicou alguns textos basicos da Escritura, mas dissc nao ter nenhuma opiniao segura sobre o assunto. 1 E aqueles que nunca ouviram? . No decorrer dos anos, desde aquele encontro, centenas de vezes jé me fizeram a mesma pergunta. AImporfancia da Questao Por que essa pergunta é tao importante que é feita com tanta freqiiéncia? Pelo menos trés razGes podem ser dadas. Mas, talvez a explicagéo mais importante seja o fato de que ela diz respeito ao probleniz do mal, assunto que tem ocupado as mentes de alguns dos maiores, pensadores cristaos, O problema do mal é normalmente colocado da seguinte forma: Se Deus é inteiramente bom, onisciente © onipotente, por que existe o mal no mundo? Poderia parecer que, se Deus é onisciente, ele sabe como livrar o mundo do mal; se ele é onipotente, tem condigGes de evitar o mal; e se ele ¢ completamente bom, ele quer extinguir o mal. Entao, por que existe o mal? Um dos subtépicos do classico problema do mal envolve o destino dos nao-evangelizados. & chamado de “problema soteriolégico do nial” porque trata de um aspecto da doutrina da salvagio, ou soterialo- gia. Ele pergunta: como: é possfvel referir-se a Deus como sendo inteiramente bom, onisciente e onipotente, se Jesus € 0 tinico Salva- dor ¢ ninguém é salvo a nao ser por ele? Se Jesus é 0 tinico meio de salvacdo indicado para toda a raga humana, isso nao faz surgirem perguntas sobre a bondade, poder ou conhecimento de Deus? ~—— 0 grande-tedlogo-cristao-de-quarto-século; Agostinho,lutou-com—— esta questao. Ele respondeu a Porfirio, fil6sofo critico do Cristianis- mio, que perguntara: Se Cristo declara que ele mesmo é 0 meio de salvagao, a graga e a verdade, ¢ afirma que somente nele, e apenas para almas que créer nele, esté o caminho de volta para Deus, 0 que aconteceu aos homens que viveram nos muitos séculos antes que Cristo viesse?... O que, entéio, aconteceu a tais inumerdveis multidées de almas que nao eram, de modo algum, culpdveis, tendo em vista que aquele, em quem unicamente a fé salvifica pode ser crercida, ainda ndo havia agraciado os homens com seu adven- to?” A questdo de Porfirio é pertinente nao apenas aqueles que viveram e morreram antes do tempo de Jesus, mas também a todos Introdugao 13 aqueles que morreram desde o advento de Cristo, e, no entanto, continuaram sem saber de sua vida, morte e ressurreigio. E isso nos leva 4 segunda razao da importancia da questéo. Um nimero muito grande de pessoas tem morrido sem jamais ouvir as boas-novas sobre Jesus. Estima-se que no ano 100 d. C. havia 181 milhdes de pessoas, das quais 1 milhao eram cristaos.” Também se cré que havia 60 mil grupos de povos nao-alcangados aquele tempo. Aproximadamente no ano 1000, a populagao mundial era de 270, milh6es de habitantes, 50 milhGes dos quais eram cristaos, com 50 mil grupos de povos naéo-alcangados. Em 1989 havia 5,2 bilhdes de habi- tantes, com 1,7 bilhdo de cristaos e 12 mil grupos de povos nao- alcangados. Além disso, poderiamos pensar sobre aqueles que vive- ram antes da encarnagao e que nunca ouviram acerca dos israelitas ¢ do pacto de Deus com eles. Embora nao se consiga saber exatamente quantas pessoas morreram sem jamais ouvir sobre Israel ou a Igreja, parece seguro conclvix que a vasta maioria dos seres humanos que ja viverain estio nessa categoria. Em termos de niimeros absolutos, portanto, um estudo sobre a salvacdo dos nag-evangelizados é de imenso interesse. O que pode ser dito sobre o destino de incontaveis bilhGes de pessoas que viveram ¢ moireram sem conhecimento da graca divina manifestada em Jesus? ~"Unid Fertkira TARAO para a importancia da questao € que muitos Ge nds, hoje, femos contatos pessoais com gente de outras culturas e “yeligibes. Essas pesedas que conhecemos podem vir a nos perguntar sobre scus ancestrais que nunca ouviram acerca de Jesus. Eu fui levado a entender plenamente isso de uma forma muito comovente quando uma das trés criangas que minha esposa e cu adotamas da india me perguntou sobre a salvagao dos seus pais biolégicos. Havia alguma esperanga cle salvagao para eles? cla queria saber; ela nao achava que eles tivessem alguma vez ouvido falar sobre Jesus. Tais discuss6es tém-se tornado mais comuns na tiltima parte do século 2 na medida em que os povos do planeta tém crescente contato uns com os Outros. Duas Doutrinas Cruciais Com o maior contato entre os povos, obtemos maior conheci- mento sobre outras religides e certas tensdes acompanham esse co- 1d Eaqueles que nunca ouviram? nhecimento. Essa nova consciéncia da multiplicidade de religides tm sido um verdadeiro choque para algumas pessoas, de tal maneira que clas sofrem daquilo que Gabriel Fackre chama de “parada cardiaca cristolégica”. Alguns escritores contemporancos, como John Hick, créem que, a fim de ajustar-nos a consciéncia global de hoje, devemos abrir mao de qualquer reivindicagao da exclusividade de Jesus. Jesus, afirma-se, € apenas um salvador dentre muitos. Nao € 0 cimulo da arrogancia ¢ intolerancia, tais pessoas dizem, crer que Jesus é 0 tnico Salvador? Os cristéos nao tm uma mente incrivelmente fechada? As pessoas que fazem tais acusagécs consideram os autores deste livro como tendo mente fechada e sendo intolerantes. Pois nés trés, que contribuimos para este volume, nos recusamos a sacrificar a importancia tltima de Jesus Cristo no altar do pluralismo moderno. Ao invés disso, com firmeza, sustentamos que Jesus é a palavra final, bem como também afirmamos sua singularidade. Por palavra final queremos dizer que Jesus é a revelagdo completa e autorizada de quem € Deus e do que Deus deseja. Nenhuma revelag&o iré além dele. O termo singtilaridade significa que Jesus é a pessoa tinica e singular que Deus designa como nosso Salvador. A salvagaio nao é proporcio- nada por qualquer outro meio, a nao ser pelas agGes histéricas espe- cificas de Deus na vida, morte, ressurreigao e ascensdo de Jesus. essa conclusao. O livro de Hebreus, por exemplo, fala de Jesus nao como sendo um profeta comum, mas a préprio Filho de Deus, que revela com precisao o que significa ser Deus (Hb 1: 1-3). No Evange- lho de Joao, Jesus diz que quem o vé esta vendo o Pai (Jo 14: 9). Por isso, Jesus é visto como aquele que revela Deus de forma verdadeira e completa. Além disso, Jesus é declarado como sendo o singular Salvador do mundo. Nao é através de Buda, de Maomé ou de outros personagens que Deus tem agico de modo decisivo para salvar a humanidade, mas através de Jesus de Nazaré. O livro de Atos procla- ma que nao ha nenhum outro nome, além de Jesus, pelo qual os homens devam ser salvos, At 4: 12, e Jesus disse que ninguém vem ao Pai, a nao ser por ele (Jo 14: 6). Ea luz de tais versiculos que os cristaos afirmam a singularidade da revelagao e redengéo encontradas em Jesus. Iniroducdo 15 A outra importante doutrina diz respeito ao alcance da salvacao. A Biblia claramente assevera que Deus tem tanto o conhecimento quanto o poder para prover salvagao aos pecadores. Além disso, proclama que Deus € bom — bom, na verdade, muito além do que possamos imaginar. E esse bom Deus deseja salvar pecadores. Nume- rosos textos falam do desejo magnanimo de Deus de salvar. Paulo diz: “.. ele morreu por todos” (2 Co 5: 15), e assevera que o ato redentor de Jesus resultou na absolvicio para todos (Rom 5: 18). Para Paulo, Jesus é 0 ponto central da graga de Deus, que faz dele o “Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1 Tm 4: 10; Tt 2: 11). 1 Jo 2: 2 declara que Jesus é “a propiciagaéo pelos nossos pecados e nao somente pelos nossos préprios, mas ainda pelos do. mundo inteiro”. O Novo Testamento freqiientemente fala do desejo divino de compartilhar a salvacéo com os pecadores. A Segunda Carta de Pedro diz que Deus nao deseja que ninguém se perca, mas que todos cheguem ao arrependimento (3:9), Paulo diz a mesma coisa, quando escreve sobre “Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2: 4). O préprio Jesus expressou a mesma opinifio quando disse que em sua obra de expiagao ele atrairia todos a si mesmo (Jo 12: 32). _Jofo escreve que Deus amou o mundo de tal maneira gue deu seu tnico Filho por nossa redengao (Jo 3: 16). ~——~Os-textos~citados referem-se-a—motivagaéo-divina~para—salvar— pecadores. Quando esses versos sao colocados lado a lado com versi- culos que apdiam a afirmagio de que Jesus é o tnico Salvador (singuiaridadc), surgem algumas perguntas. Deus quer que absoluta- mente todos sejam salvos ou somente aqueles que tém fé em Cristo? A expiagao decorrente da obra de Jesus é somente para‘os cristaos ou também para aqueles que nunca se tornam cristaos? Esse é um debate antigo, € os leitores perceberao que os autores deste livro interpretam passagens-chaves das Escrituras de modos diferentes. Nash sustenta a chamada expiagao limitada (ou definida), em que Jesus morreu por um grupo especifico de pessoas, os cleitos. A palavra “todos”, nos textos mencionados anteriormente, é interpretada como que significando a humanidade como urn grupo, sem distincdes cde raga, Sexo, cultura, etc, ao invés de cada individuo. As passagens que 16 E aqueles que nunca ouviram? dizem que Deus deseja que todos venham ao arrependimento, ou que Deus ama o mundo, sao interpretadas como que significando o mundo dos eleitos, e nao todas as pessoas, em geral. Fackre e Sanders, por outro lado, afirmam o que é conhecids como expiacao ilimitada A (ou indefinida), em que Jesus morreu em favor de cada individuo, seja ele nao-cristao ou cristdo. Eles interpretam as passagens que falam de “mundo” e “todos” como significando que Deus quer que cada pessoa se beneficie da obra de Cristo. Diferentes interpretag6es destes importantes textos biblicos levam a diferentes pontos de vista sobre o assunto que estamos abordando. Qs Pontos de Vista Estas duas doutrinas centrais da f€ crista, 0 desejo de Deus de salvar e Jesus como o tnico Salvador (0 universal e o singular), formam as fronteiras dentro das quais sao elaboradas as respostas ao complexo problema dos nao-evangelizados. Naturalmente, temas mais importantes das Escrituras, bem como textos especificos, sao relevantes para o assunto. Embora a Biblia nao trate da questdo de forma sistematica, ela oferece as informagées essenciais de que nés precisamos para chegar a uma posigdo. As trés posiges discutidas neste livro apresentam modos alternativos de entender as Escrituras acerca desta questio. Ronald Nash apresenta um ponto de vista que ele chama de somente em Jesus Cristo, e € necessdrio ter conhecimento acerca da obra de Cristo ¢ exercer f€ em Jesus, antes da morte, para que alguém seja salvo, Deus tem estabelecido divinamente qual o meio de salva- cao, e é exclusivamente através da pregagao do evangelho — nao ha nenhuma outra possibilidade. Deve-se notar que Nash usa 0 terme exclzsivismo como sindnimo de restritivismo. Isso é valido para os mossos prapdsitos, contanto que os leitores tenham em mente que nest todas as pessoas concordam com 0 uso indistinto dos dois termos. Na iiteratura sobre o pluralismo religioso, o termo exclusivismo designa o ponto de vista de que o Cristianismo oferece 0 tnico meio de salvacio valido; outras religioes séo completamente ineficazes para salvagdo, e Deus nao se utiliza delas. Embora o exclusivismo afirme a singularidade de Jesus e sua Inérodugda 17 importancia como palavra final, ele nao envolve necessariamente o restritivismo, pois alguns exclusivistas sao universalistas, enquan- to outros exclusivistas afirmam haver uma oportunidade para sal- owagdo apés a morte.* Tanto Karl Barth como Carl F. H. Henry sio - e&elusivistas quanto ao relacionamento entre o Cristianismo e outras © xeligides, mas discordam fortemente quanto ao destino dos ndo-evange- lizados. Henry é um restritivista, enquanto Barth tinha esperancga na salvacao universal. John Sanders advoga uma posic¢ao conhecida como inclusivismo. Conforme essa linha de pensamento, Deus salva as pessoas somente por causa da obra de Cristo, mas pode ser que pessoas sejam salvas mesmo que nao tenham conhecimento sobre Cristo. Deus lhes con- cede salvag&o se elas exercem fé em Deus como se lhes é revelado através da criagao e da providéncia. Gabriel Fackre prope o ponto de vista que ele chama perseve- ranga divina (as vezes chamado de evangelizagao post-mortem). De acordo com esse ponto de vista, aqueles que morrem néo-evangeliza- dos recebem uma oportunidade de salvagao apés a morte. Deus nao condena ninguém sem que primeiro veja qual é a resposta dessa pessea a Cristo. Essas trés opinides t¢m alguns pontos interessantes de semelhanga _bem.como diferengas. Como ja foi observado, todas as trés_afirmam___ que a saktagaa em Jesus é a palavra final bem como a singularidade dessa salvagao. O restritivismo e o inclusivismo concordam, numa posigao contraria 4 defendida pela perseveranga divina, que nosso destino ja esté sclado no momento da morte e que nao existe nenhuma oportunidade de salvagao apés ela. O restritivismo e a perseveranca divina concordam, contrariamente ao inclusivismo, que o conheci- mento da mensagem do evangellio é uma condigao necessaria para a salvagao. Mas discordam sobre se a mensagem deve ser apresentada por um agente humano antes da morte. O inclusivismo diverge das duas outras opinides ao sustentar que Deus concede salvagéo mesmo onde o Evangelho € desconiecido. O inskisivismo e a perseveranga divina afirmam que Deus, em Jesus Crisiv, torna a salvacéo disponivel a todas as pessoas que j4 viveram, ao passo que o restritivismo nega isso. ié E aqueles que nunca owviram? Deve-se olistevat que ha outras opinides quanto ao destino dos evangelizades que nado sido discutidas neste livro. Podem ser resumidas ageing: Cy Alguns advogam um completo agnosticismo, dizendo que nés nio feries infotreagae biblica suficiente para justificar uma conclusio sobre agsyato, tJ Outros, indo de Tomas de Aquino a Norman Geisler, créem que Deus enviara a mensagem do evangelho aqueles que respondem positivamente 4 revelagao geral. Em outras palavras, Deus envia mais luz Aqueles que respondem & luz que ja possuem. (3 Alguns advogam um ponto de vista conhecido como conhecimento intermediario, segundo o qual Deus pode salvar aqueles que Ele sabe que teria crido em Cristo, se tivessem ouvido o evangelho. Argumentam que, visto que Deus sabe como os nao-evangclizados teriam respondido ao evangelho se houvessem sido evangelizados, Ele pode salvar aqueles que teriam crido cm Jesus, se tivessem ouvido. [J Alguns teélogos catélicos romanos propdem uma versio da evangelizagao post-mortem chamada de teoria da opgdo final. Eles créem que Cristo encontra todas as pessoas no momento em que estéo morrendo — nao. depois da morte — dando-lhes oportunidade de conversao. salvar a grande maioria da raga humana, muito embora eles nao saibam como Deus ira realizar isso, Isto é, eles se recusam a tomar uma posigéo quanto ao método que Deus usa para salvar os ndo-evangelizados, embora afirmem que Ele o faz. (J) Outros, como J. I. Packer, tém uma posigao mais pessimista, asseverando que, embora talvez seja possfvel que Deus proveja um meio de salvagao para alguns dos nao-evangelizados, o melhor € permanecer negando essa possibiliclade. Isto é, pode ser que Deus 0 faga, mas nao temos razao para pensar que Ele o fara. (-} Ainda outros advogam um completo universalismo, a idéia de que absolutamente todos scrao realmente salvos através de Jesus. Universalistas, como Origenes, pai da igreja antiga, créem que Alguns, como John R. W. Stott, sio otimistas de que Deus ira Introdugao 19 Jesus finalmente trar4 todos os pecadores a reconciliagdo com o Pai. ( Finalmente, ha pluralistas unitivos que vao muito além do universalismo classico por rejeitar Jesus como 0 tinico Salvador. Enquanto 0 universalismo tradicional diz que todas as pessoas serao salvas por Jesus, os pluralistas unitivos dizem que isso chega a scr até ofensivo, porque implica em que as maiores religides mundiais nao podem prover Salvagao para seus préprios adeptos. sem Jesus. Os pluralistas unitivos John Hick e Paul Knitter créem que as principais religides mundiais sao todas modos validos de referir-se 4 realidade Ultima, de mancira que sustentar que Jesus é o tnico Salvador é ser intolerante quanto aos outros credos religiosos.° Ao fim desta introdugao, vocé encontrard uma tabela que o ajudard a identificar as diferengas entre todos esses pontos de vista. A diversidade de opinides sobre 0 destino dos nao-evangsiizados, indo do restritivismo ao universalismo, mostra que ha divergénéias 6bvias entre os cristaos quanto ao assunto. Em Que Pontos os Cristéos Concordam Ao reconhecer essas diferengas, contudo, nao deveriamos perder de vista que ha notavel concordancia nos pontos mais importantes Todas as posigées j4 mencionadas, exceto 0 pluralismo unitivo, sio ~ marcadas por certas caracteristicas. Afirmagéo de que Jesus éa palavra final e é singular para arevelacdo e salvagao. No transcorrer da historia da igreja tem havido consenso neste ponto crucial: Jesus 6 0 tinico Salvador do mundo ea revelagéo ultima de Deus. Ouso das Escrituras como fonte de revelagdo. Cada um dos pontos de vista (exceto o pluralismo unitivo) busca amparo nas Escrituras para afirmar que é o que melhor abarca os ensinos do testemunho biblico. Precedente histérico. Nenhuma das posig6es 6 nova em termos de hist6ria eclesiastica, pois defensores de qualquer uma delas consegui- rao reunir uma boa lista de adeptos através da historia da igreja. Este fato é importante por duas razées. Primeiro, ele corrige a amnésia 20 2 he E aqueles que nunca ouviram? ica, portisio da qual freqiientemente desacreditamos os pontos de:#sta. sens dos outros, ou por serem “novos” ou, entao, “antigos”, degestizado de nossas tendéncias. Alguns cristéos nao ouviram acer- ca de um posicionamento especifico; por isso, pode parecer-lhes novo, quando, na verdade, ja existiu no cendrio histérico. Segundo, ele mostra que os cristéos nunca chegaram a um consenso sobre este importante, mas dificil assunto. Desde os pais da igreja antiga até os . dias atuais os cristéos nao chegaram a uma opiniéo comum sobre o destino daqueles que morrem sem nunca ter ouvido o evangelho de Jesus Cristo.” Nao ha unidade de pensamento na igreja quanto ao destino das criangas e das pessoas mentalmente incapazes que morrem. Muito menos ha unidade quando se fala sobre o destino de adultos nao-evan- gelizados que morrem. Por Que a Falta de Concordancia? Alguém pode corretamente perguntar: por que nao existe con- senso na igreja sobre esse tema? As Escrituras nao sfo claras em seus ensinos? Estas sao boas questées, e algumas respostas sao possiveis. Primeiro de tudo, precisamos lembrar-nos de que ha um consi- do consenso. Batismo, ceia do Senhor e escatologia sdo apenas trés exemplos. Mas, a despeito de nossa falta de consenso sobre tais questées, ainda concordamos em muitos pontos significativos. Isso também é verdade no debate sobre os nio-evangelizados. Todos os cristéos que sustentam uma teologia ortodoxa concordam que Deus deseja salvar pecadores, que Jesus é Deus encarnado, cujo ministério tornou possivel a redengao, que os seres humanos sao pecadores, que o evangelho tem poder para salvar ¢ que as Escrituras sao a norma de f€ e pratica, Esses sio importantes pontos de concordancia, sem os quais a discussao seria niuito diferente. Um motivo principal por causa do qual nds nao iremos sempre concordar é que somos criaturas finitas. Nosso conhecimento e capa- cidade de entendimento sao limitados. Ninguém sabe tudo, e nenhum de nds sabe qualquer coisa de modo exaustivo. Isso significa que nossa compreensdo, mesmo de textos biblicos, sera parcial. Embora a Biblia Introdugao 21 seja autoridade para nds, nossas interpretagdes dela sempre ficaraio aquém da palavra final sobre 0 assunto. Outro fator significativo é que todos nés somos pecadores,*e 0 pecado afeta até mesmo nossos processos de raciocinio. E possivel que nossos desejos pecaminosos interfiram em nossa interpretacao adequada das Escrituras. O orgulho, por exemplo, pode nos impedir de admitir “a validade dos argumentos de outra pessoa. Contudo, a despeito de nosso pecado e limitagdes naturais, o Espirito Santo continua a trabalhar conosco, ajudando-nos a entender a mensagem biblica, aplicando-a as quest6es que enfrentamos. Nos precisamos uns dos outros ——- mesmo de nossos oponentes — na medida em que procuramos chegar verdade de Deus. Embora cada um dos autores afirme a autoridade das Escrituras, cada um de nés trabalha a partir de uma tradigéo especffica de interpretagao. Cada um aborda o texto tendo em mente sua propria experiéncia, interesses e valores. Isso fica evidente até mesmo nos textos que citamos c na maneira como expomos nossos pontos de vista. Todos os trés desenvolvemos posig6es distintas quanto ao des- tino dos nao-evangelizados com base em nossa interpretagao das Escrituras, que é moldada pela nossa prépria experiéncia. Nio ha ‘nada de mal nisso; é simplesmente admitir que somos criaturas que de pensar ¢ de emitir juizos de valor. Cada um de nés trés, por exemplo, pertence a uma denominagao especifica. Contudo, de forma interessante, a afiliagio denominacio- nal nao é determinante de qual abordagem qualquer um de nés fara com respeito aos néo-evangelizados. Dentro da tradigio batista, por exemplo, podem ser encontrados defensores para as trés teorias aqui expostas. O mesmo € verdade para metodistas, presbiterianos, lute- ranos € muitas outras denominagées. Além disso, muitas correntes teologicas que separam os cristaos em outras questes sao, na maioria, irrelevantes aqui. Se eu sou calvinista, arminiano, dispensacionalista, aliancista, carismatico, etc, isso pode dar um colorido especial A tese que eu venha a escolher, mas nao sao esses fatores que determinam qual ponto de vista eu deva apoiar quanto ao destino daqueles que nunca ouviram o evangelho.® Alguns calvinistas, por exemplo, aceitam o regtritivismo, enquanto 22 FE aqueles que nunca ouviram? outros defendem o inclusivismo e ainda outros a evangelizacio post- mortem. O que é importante para se determinar a posigao de alguém sobre os nao-evangelizados é seu entendimento especifico acerca da natu- reza de Deus (especialmente a relagio entre lei divina e justiga), a natureza da igreja, o significado da morte fisica, o valor da revelagao de Deus na criagdo, a natureza da fé salvifica, os meios de graga e qual método é melhor para se fazer teologia. As posig6es que tomamos quanto a essas questOes terao influéncia decisiva na resposta que damos 4 pergunta sobre o destino dos nao-evangelizados, Em outras palavras, néo podemos discutir este assunto sem levantar quest6es acerca de outras doutrinas importantes. O assunto deste livro inevitavelmente tem impacto sobre outras dreas da teolo- gia, tais como a natureza de Deus, o papel do Espirito, a igreja, salvagéo, missdes e escatologia. Sem ddvida, h4 uma grande variedade de opinides sobre este assunto na igreja. Os trés autores deste livro ilustram esta diversidade. Nés diferimos entre nés sobre o destino dos naéo-evangelizados em parte porque temos diferentes perspectivas sobre varios pressupostos. Como resultado, desenvolvemos diferentes interpretagGes para expli- car o destino daqueles que nunca ouviram sobre Jesus. Leitores que achem umas das posigées teolégicas deste livro especialmente convin- _cente, J também concordem com o autor em muitas das questdes que Ihe servem de pressuposto. Que discordamos uns clos outros ficara claro n&o somente nos capitulos mas também nas réplicas ao fim de cada capftulo. Depois que um de nés defendeu seu ponto de vista, é dado espage aos outros dois para uma breve réplica, oferecendo perguntas, exiticas au suges- tdes, bem como esclarecendo pontos em que ha concordancia. Em- bora nenhum de nés creia que possa “provar” seu ponto de vista num sentido rigido, cada um acredita que pode apresentar idéias que tenham maior embasamento biblico, solidez teolégica e relevancia pratica que os outros. Aqui deixamos os leitores julgarem. Umas poucas palavras sobre a produgiio € natureza deste livro sao apropriadas. Alguns Icitores podem querer saber se eu (Sanders), como editor deste volume, e tendo também contribuido como escri- Introducdo 23 tor, tive alguma vantagem injusta ao produzir meu capitulo. Foi tomado cuidado no sentido de se assegurar que cada um dos autores fosse tratado com imparciatidade, Por exemplo, meu capitulo foi acabado antes que eu tivesse acesso aos textos escritos por Nash e Fackre. Também foi permitide que tanto Fackre quanto Nash revi- sassem esta introdugdo pata assegurar que nenhum posicionamento particular tivesse vantagem indevida ou tratamento injusto. Esperamos que nossos esforgos capacitem nossos leitores para se tornarem melhor informados acerca das quest6es basicas relaciona- das a este assunto, bem como conhegam textas das Escriturase pontos de vista sobre o tema. Para os que gostariam de ter maiores informa- g6es, providenciamos uma lista de sugestao de leituras ao final. Apesar de nao termos trazido a lume a palavra final sobre o assunto, acreditamos piamente que este livro ira servir ao povo de Deus quando se defrontarem com esta questao controversa. Finalmente, nenhum de nés cré que possamos saber com absolu- ta certeza quem esta salvo ou perdido. Mas podemos relatar 0 que diriamos a uma pessoa procedente de uma sociedade antcriormente nao-evangelizada que nos perguntasse: “E quanto aos meus ances- trais? Ha alguma posssibilidade da salvagao deles?” 2 ram? Eaqueles que nunca ouw 24 wopuajys oo1un a snsar anb wapsoou0a vjsia ap st yuod sassap sopouiojquaiu sapuviuasaidas 50 SOpOL ‘SEO | auyoeg [a1geD siopueg yor YSN PreuoY initg sanboer sweq uaydag Sroquauurg weUjons 198195) WEWION nods “5 “y eg Wwe ysaqpury 981095 youd 31015) “AP HaANSNG_LBALIO ‘Asuay 1e5 JaMox9— DD yasooig piewoq swe |g 3 “ap uetunaN Away uyor sprempg uewneuor spypeUNsaIalyOS "a “ prevoqoey 81039) Aoisoya (yor ouyury oe oulnied oor sua eupuexaty ap ayuatwa[D, que Ouksne ouinby ap spwioy ‘oyunsosy ssoqutyuasoidoy ssaqucquasoaday ssajucjuasalday ssaqumuasosdey ssaqucjuasaiday Zz ovor | OL poaDULL | TIL BOF 1 SEZ ‘SL SORUBIOD | ~ 81 € O1pad 1 £01 fo ZL sp soWW 81g sourwioy SL + ovor ETI pEOL | | zi 9 :p1 ogor SAAEIDSONDL, :S2ADU]2-SOPOL ssoueup-spso, | | :S9ABYD-£0)89], $S9AYD-S0IN9, apypavusaqu owaLUrsayuoD OP spABne no aWOW ep OWaWOWW OU AO (solos -warssod ap no sofue op spreste | “ayoW ep sawe ajqu wag12 “awatweuia9 auow | — anb opSejonau eu sopebseq | | otusetu) oyjasuess 0 eiaua ogy ‘aauawervan bastioa opeuapuce 9 wpnBuin “snsay tod seajes ‘apep.ion ep siodap snsaf tua 1919 9p apeplumiodo wun taqaoer 'p} wo snag] e tuasapuddsas 28 'sonyes 125 v sta wudpod u soy snag anbrod senjes ua49s ap apepyunaiodo ew “9 snsap ap eola0e wanno ‘ogu anb sojanbe esed eu ‘0v.98 svossad se sepo] sopezt|a8ueca-o0U SQ sopezipBuen2-oel! so | | waqaoai seossod se sepoy | _ogbeajes gnoud opu snaq sous uyaq sousiuujoq rorSiuyag :0051uy2q “ov51uyyoq wo}Jou-ysog owstosuvag | MOA Up Sazuy omsttusisaun | no eupatg wiuuroddsizg owswysnjuy | | jessos1un apepruniodo ousppinsoy soppzyaSupaq-ovny Sop ouxsag o PLGOS DISLA ap SOMO Inclusivismo John Sanders O grupo de discussao de filosofia da universidade estadual local estava patrocinando um debate sobre a natureza de Deus. Meu interesse se despertou ¢ cu decidi ir. Diversos dos alunos presentes eram cristaos que eu ja conhecia; alguns que sem reservas se diziam ateus também estavam 14. Eu ouvia tudo atenciosamente, mas nao dizia nada, enquanto cristaos e ateus discutiam suas opinides, Final- mente Matt, um dos ateus, disse: “Eu simplesmente nao posso enten- der como alguém poderia crer em Deus” Sentindo uma oportunidade, eu entrei naquela discussao, per- guntando: “Em qual Deus vocé nao acredita, Matt? Existem muitos _entendimentos diferentes acerca de Deus. Qual deles representa o Deus que vocé nao acredita existir?” Matt replicou: “O Deus que condena ao inferno todos aqueles que nunca ouviram sobre Jesus”. “Quem diz que Deus faz isso?”, perguntei. . “Qs cristaos”, ele disse. “Um cristao neste campus me disse que aqueles que morrem sem nunca ter ouvido sobre Jesus nao podem ser salvos. As pessoas pregam que Deus é amor, mas cu nao entendo como Deus é amor se Ele nao da aos nao-evangelizados uma oportu- nidade para que sejam salvos. Que tipo de Deus cria bilhdes de pessoas sem qualquer possibilidade de salvagéo e entio as condena ao inferno? E nesse Deus que eu nao creio”. “E verdade que alguns cristdos acreditam niss®”, repliquei, “mas certamente nao séo todos. Alguns dos maiores cristaos na histéria, 26 E aqueles que nunca owviram? tais como Justino Martir, John Wesley e C. S. Lewis, criam que Deus torna a salvacao universalmente acessivel a todas as pessoas que ja viveram. Além disso, nunca foi o ensino oficial, nem do Catolicismo Romano nem do Protestantismo, que aqueles que morrem na4o-evan- gelizados nao tém esperanga de vida eterna. E para ser honesto, Matt, cu também néo acredito nesse Deus”. Matt e eu tivemos outras oportunidades de conversar amigavel- mente depois, ¢ cle estava profundamente impressionado com o fato de que cristaos reflexivos livessem uma resposta para o que ele considerava uma objegao decisiva a fé crista. Na verdade, ele decidiu reestabelecer seu interesse pelo Cristianismo, dizendo: “Talvez eu tenha descartado Deus um pouco cedo demais”. Aquilo a que Matt estava fazendo objegdo é parte do que é chamado de problema do mal com respeito aos nao-evangelizados (ou problema soteriolégico do mal). Como se pode dizer que Deus € amor, onisciente e onipotente se aqueles que morrem sem nunca ter ouvido sobre Jesus nao tém oportunidade de ser salvos? Serd que Deus, sinceramente, nao deseja a salvagéo de todas as pessoas? Alguns cristéos haviam dito a Matt que nao havia esperanga para pessoas que nao tivessem ouvido sobre Jesus, e ele erroneamente acreditou que essa era a resposta crista. ensaio, vou argumentar que Deus verdadeiramente deseja a salvacio © de-todas-as-pessoas~-e-que-File-torna-a-redengio-obtida-_por_Jesus— disponivel a todos. capitulo ast4 dividido em duas seg6es. Primeiramente, vou apre- senlar ura arguimentagio que nos da uma visao biblica acerca da snisericdrdia de Dews, a qual possibilita esperanga de salvagao para os no-evangelizagos. Deus ama todos os pecadores e deseja a redengio Ceies. Ente, irel angurentar a favor de um especifico ponto de vista de uraa “esperanga maior”, conhecido como inclusivismo, que procura val cowig a salvagdo que é cncontrada somente em Jesus Cristo € vita disponives oniversalmente. AESperanca Maior Quando estou abordando o destino dos nao-evangelizados, tenho como ponto de partida dois principais ensinos das Escrituras. O Inclusivismo 27 primeiro diz respeito ao fato de Jesus ser a revelagao ultima de Deus ea pessoa singular através de quem Deus prové redengao para a raga humana. Jesus é a tnica e insuperavel revelag&o de Deus e é 0 tinico Salvador (Jo 14: 6-9; At 4: 12; Hb 1: 1-3). Além disso, Jesus é 0 alvo, o modelo ao qual a humanidade deve assemelhar-se. Nele encontra- mos ocumprimento de nosso destino, 0 que significa ser um auténtico ser humano. Ele é tanto a verdadeira imagem de Deus como a verdadcira imagem do que é a natureza humana. Além disso, a obra expiat6ria de Jesus é absolutamente essencial para a salvagéo de qualquer ser humano que ja tenha vivido — quer tenham nascido dois mil anos antes de Jesus ou dois mil anos depois dele. Os escritores do Novo Testamento apresentam uma variedade de conceitos a respeito da obra de Cristo, que nenhuma tinica teoria da expiagaéo é capaz de abranger. Por essa razao, diversos pontos merecem ser mencionados. Primeiro, foi a vontade do Pai — sua boa vontade para com os pecadores — que o Filho se tornasse homem para que pudesse conduzir-nos a gloria (Hb 2: 10). Para redimir a humanidade, Deus se fez homem, pois nas palavras dos pais da igreja “o que nao é assumido nao éredimido”. O que eles queriam dizer era que se o Filho nao era verdadeiramente humano, entéo os homens nie estas redi- midos. Ao assumir a humanidade sobre si mesmo, o File de Deus experimentou 0 abandono, a alienacdo e 0 softimsuts que exam ——nossos.Como resultado, nossa propria dor entrou no coracde de Lous _ e, assim, uma das barrciras entre Deus e nés é desfeita. ° Segundo, mesmo lideres do Antigo Testamento, tais como Moi- sés € Elias, precisaram da expiagao de Jesus para sua salvagio eterna. E interessante que, quando Moisés ¢ Elias falaram com Jesus na transfiguragio, eles falaram do “éxodo” que ele estava para cumprir em Jerusalém (Le 9: 31). Jesus é 0 lider do novo éxodo do pecado. Sem a redengao que ele oferece, a raga humana inteira ainda estaria sob o jugo do pecado. O livro de Hebreus enriquece este ponte quando fala de Jesus como 0 Filho que, uma vez por todas, obteve #essa sterna redencio, ao entrar no taberndculo celestial e fazer de si mesmo um sacrificio, sem macula, pelos nossos pecados (9: 11-28). © autor de Hebreus deixa claro que Jesus fez o amplo, completo e final sacrificio expiat6- 28 E aqueles que nunca ouviram? rio — 0 tipo de sacriffcio ao qual nenhuma outra oferta é comparavel. Jesus € 0 verdadeiro homem que, de modo vicario, arrependeu-se € morréu por toda a raga ¢ é ele que agora intercede por nés (Hb 2: 17-18). Terceiro, o Evangelho de Marcos declara que Jesus veio para dar sua vida como um resgate pelo nosso pecado (10: 45). Jesus nos resgatou de qualquer reivindicagao que 0 diabo possa ter sobre nés. Quarto, Jesus é vitorioso sobre as forgas do mal arregimentadas contra Deus (CI 2: 15). Todas as forgas demoniacas foram vencidas através da morte e ressurreigao de Cristo —feito oque somente o tinico Deus encarnado poderia realizar. Quinto, Paulo diz que Jesus nos livra da ira divina sobre o pecado (1 Ts 1: 10) e da pena de morte (Rm 6: 23). No pecado, os seres humanos colocam-se a simesmos no lugar de Deus. Na salvagdo, Deus se coloca em nosso lugar. Em Jesus, Deus tomou sobre si 0 nosso pecado e suportou a pena de nossa incredulidade. “Deus estava em Cristo reconciliande. consigo o mundo” (2 Co 5: 19 - ARA). A expiagdo poderia, eu sxponho, ter sido realizada de varias maneiras, se assim Deus 0 desejasse. Mas Deus decidiu realizar seus propésitos através da obra do Filho em Jesus. Conseqiientemente, sem a obra -—-tedentorade.Jesus, nenhum ser humano poderia jamais vir a ter parte na vida eterna. ‘O outro ensino biblico que é extremamente importante quando se trata dos nao-evangelizados diz respeito ao desejo magnanimo de Deus de salvar todo ser humano. Jesus morreu pelos pecados de todas as pessoas (Rm 5: 18; 2 Co 5; 15; 1 Jo 2: 2). Além disso, Deus quer que a salvagao que Jesus tornou possivel esteja disponivel a todas as pessoas. E a vontade de Deus para todos que tomem parte nesta grande béngao (Jo 12: 32; 1 Tm 2: 4). Deus nao deseja que ninguém pereca, mas que todos venham ao arrependimento (2 Pe 3: 9). As vezes, pessoas tentam diluir esse ensino acerca do desejo de Deus de salvar todas as pessoas apresentando textos que tratam da condenag4o divina dos que nao se arrependem. Outro argumento favorito € dizer que, embora pode ser que Deus queira salvar todas as pessoas, no entanto é extremamente dificil de encontrar 0 meio que ele tem provido para a salvacao. Dai, nao é surpreendente que alguns Inclusivismo 29 tedlogos simplesmente neguem que Deus deseja que todos venham ao arrependimento. Mas, se Deus nao torna a salvacdo acessivel a todas as pessoas, entéo sera que esses textos biblicos deveriam ser levados a sério? Se Deus nao faz um esforco genuino para salvar os nao-evangelizados, deveria ser dito que Deus deseja que eles venham. a f€? Um dia, quando Jesus estava indo para Jerusalém, alguém lhe perguntou: “Senbor, so poucos os que sao salvos?”. Em resposta, Jesus fez um virsgoso, apclo para que aqucla pessoa cntrasse pela “porta estreita” .¢ e120 contou uma parabola sobre algumas pes- soas que achavam que entrariam no banquete messianico, mas nao entraram (Le 13: 23-30). Em Mateus, Jesus faz uma adverténcia semelhante: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espagoso, o caminho que conduz para a perdigao, e sao muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e sfo poucos os que acertam com ela” (7; 13, 14), Jesus também disse: “Porque muitos sio chamados, mas pou- cos, escolhidos” (Mt 22: 14). Nao € surpreendente que tais textos tenham levado alguns cris- taos a crer, com Agostinho (um bispo do quarto século), que “muitos mais s4o os deixados sob 0 castigo do que os que séo resgatados dele”.! Contudo, outros cristéos que tém estudado os mesmos textos, tém chegado-a-uma-conclusio-diferente. William.G.T.Shedd, tedlogo-do—— século XIX, diz, por exemplo: “Dois erros... devem ser evitados: primeiro, que todos os homens sao salvos; segundo, que somente alguns poucos homens sao salvos”. 2 Tedlogos conservadores, tais como B. B. Warfield e Charles Hodge, chegaram ao ponto de dizer que “no final, o nimero de perdidos em comparagado com o nimero total dos salvos sera muito desprezivel”. 3 Os restritivistas, que créem que todos os que morrem nao-evan- gelizados sio condenados ao inferno, citam os textos que falam da “porta estreita” ¢ conch:em que qualquer rumor sobre a possibilidade de uma “esperarig¢a maior” é ilegitima. Esta “doutrina dos poucos” tem, infelizmente, servido para desviar muitas pessoas para o univer- salismo (a crenga de que todo ser humano serd realmente salvo). Muitos tém sido levados ao universalismo, ou mesmo a abandonar a 30 Eaqueles que nunca ouviram? f€, devido a crueldade do ensino restritivista de que Deus justamente condena todos os nao-evangelizados porque sao pecadores. ‘O restante deste t6pico procuraré mostrar que os textos normal- mente citados, que falam dos “poucos”, na verdade nao ensinam o restritivismo. Além disso, procurarei explicar como o amor de Deus em {razer pessoas para a salvacao nao esta limitado a uns poucos, mas se eMeznde a Lodas as pessoas. Primeiramente, a natureza radical do xaminada. Entao, tentarei estabelecer 0 principio de qe Weus inclui na graga antes de excluir no julgamento. O tépico conclui com uma consideragéo acerca do tema “inversio” no ensino de Jesus, em que alguns que pensavam ser ovelhas terminam como bodes e€ vice-versa. 0 Amor Radical de Deus O profeta Isafas nos oferece 0 ponto de partida quando ele diz, sobre Deus: “os Seuszatinhos nao sio os nossos caminhos”. Embora as pessoas frewkestemente mencionem essa idéia, elas geralmente nao tém eni'iiénte o significado que Isafas queria dar. Quando Isafas escreve que Deus diz: “Porque os meus pensamen- tes mao sao Os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, 0s meus caminhos”, Is 55: 8, ele nao esta se referindo a alguma diferenga genérica entre Deus € a humanidade. Antes, 0 contexto _ claramente indica que o que distingue Deus da humanidade é a disposigao-divina de _perdoar-aqueles que scriamente.o injuriaram.—— Isafas diz: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar... Deixe o perverso o seu caminho.., converta-se ao Senhor, que se compade- cera dele, e volte-se pata 0 nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos niio séo os vossos pensamentos, nem Os vossos caminhos, os meus caminhos, diz 0 Senhor”, 55: 6-8. O amor de Deus € bem diferente do amor humano no sentido de que Ele mostra amor aos pecadores nas situagdes em que nés nao o farfamos. Alguns podem procurar limitar as afeig6es divinas aos pecadores israelitas somente, excluindo pecadores gentios, tal como o farad, a0 tempo do éxodo. Contudo, um exame das narrativas do éxodo revela que o amor e a gracga de Deus foram mostrados até mesmo ao faraé que estava oprimindo brutalmente 0 povo de Israel. Em Exodo 5, Inclusivismo 31 Moisés e Arao vao a Fara6, e o informam de que Javé, 0 Deus de Israel, exige a libertagao do povo. Farad responde que ele nao “co- niece” este Deus chamado Javé de quem Moisés fala. Os capitulos seguintes mostram como o Deus de Isracl procurou, através das pragas, levar Farao a “conhecé-lo” (Bx 7: 5, 17; 8: 10). A palavra hebraica para “conhecer” aqui traz consigo a idéia de um conheci- mento pessoal e redentor. Javé, o Deus de Israel, queria que Faraé e 0 povo egipcio experimentassem sua verdade e a graga que concede vida. As pragas eram para mostrar a inutilidade das divindades egip- cias.” Ao demonstrar a debilidade dos deuses egipcios, Javé procurou libertar Fara6 e os egipcios desse jugo e concecler-Ihes a oportunidade de se voltarem para Ele, 0 Criador e Redentor. Em outras palavras, Deus estava tentando evangelizar Faraé e os egipcios! Isso 6 muite diferente do que eu quero que Deus faca, j4 que eu nao desejo 2 galvacdo de tal pecador. Eu acho que uma idéia melhor seria enviar 0 anjo da morte para o matar. Mas o Deus de Israel e 0 Pai de nosso Senhor Jesus é diferenté: ele pacientemente busca a salvagdo de Farad. Além disso, o endurecimento do coragio de Faraé nao anula esta visdo das coisas, visto que o endurecimento nao determina automati- camente 0 gue ira acontecer. A palavra hebraica para “endurecimen- ~ to” significa fortalecer, de modo que o endurecimento nao tomauma——— __ pessoa incapaz de arrepender- se. Isso é facilmente visto pelo fato de ~~ que Deus endurece 0 ¢ 6 (Ex 10: 1), na07 obstante eles entendam o que Dens esta fazende ¢ implorem a seu senhor que liberte os israetitas (10: 7 Além do mais, Deus muitas vezes usa wma linguagem condicional com respeito a Faraé (8: 2; 9: 2; 10: 4), Tais frases que comegam sempre com 0 “se” nao fazem seatida, caso ta somente uma decisio negativa por parte de Faraé fosse passivel. Evidentemente, esse ato divino de tornar resistente o cozagie de Faraé nds agulou os poderes de decisdo do lider egipcio, As pragas foram enviadas com propésitos redentores ¢ nao meramente retributivos. Verdadeiramente, Deus nunca se alegrou com a morte do impio. O castigo veio aos egipcios, mas nao antes que Deus houvesse feito tudo o que podia para trazer redengao para a situagao. 32 E aqueles que nunca ouviram? Este mesmo assunto aparece no livro de Jonas, onde lemos.que Deus desejava a redengaéo do povo assirio, que havia tratado os israclitas com grande crueldade. O profeta Jonas, contudo, nao com- partilhou da misericérdia de Deus. Antes, ele queria os assirios destruidos, Muitos de nés somos mais parecidos com Jonas do que com Deus. Queremos ver justiga e julgamento trazidos sobre pessoas desumanas; nao queremos qué sejam evangelizadas. Indo para o Novo Testamento, encontramos o mesmo ensino que ha nas narrativas do Antigo Testamento. Em Romanos, 0 apéstolo Paulo declara que Cristo morreu por todos que sao “impios”, “peca- dores” e “inimigos” de Deus (5: 6-10). Deus ama e deseja redimir os pecadores desamparados— aqueles que nao inspiram afeigao e amor. Paulo e Pedro concordam que Deus nao deseja que ninguém perega, mas que todos tomem pari na vida eterna (1 Tm 2: 4; 2 Pe 3: 9).O Pai ama tanto o munds gue o Filho se fez carne e viveu entre nds e fez tudo o que é necessario para a redengao de seres humanos que sio indignos e impios. Jesus amou inclusive aqueles que nao o ama- vam: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu proprio ninho debaixo das asas, e vés nao o quisestes!” (Lc 13: 34).6 Lucas retrataeste tema-no capitulo 15 de seu evangelho de uma. forma comovente, onde Jesus come com publicanos e pecadores. O termo pecador no Judaismo eraum.-termo-de-exclusao, referindo-se.a judeus que haviam rejeitado os mandamentos do Deus de Israel: Essas pessoas nao tinham lugar na graga de Deus ¢ nao eram povo de Deus. Os fariseus consideravam tais pessoas fora da fronteira aceita- vel do reino de Deus. Eles criticaram que Jesus comesse com tais pessoas, porque aqucla atitude implicava em aceitagao dos pecadores. Em resposta, Jesus conta as parabolas da ovelha perdida e da dracma perdida, que nos ensinam que Deus esta ativamente procurando suas criaturas perdidas. Mas a parabola do filho prédigo € uma das mais paderosas descrigdes da profundidade do amor e da graga de Deus.’ Nesta parabola, na verdade, o filho mais novo diz ao pai: “Eu queria que yocé estivesse morto para que eu pudesse tomar posse de minha heranga agora”. Se algum de meus filhos dissesse tal coisa para mim, Inclusivismo 33 eu ficaria horrorizado; mais afrontado ainda se sentiria, ouvindo tal coisa, um pai origindrio do Oriente Médio. Uma pessoa que tenha sido criada naquela regiao, ouvindo tal historia, ‘espera que 0 pai denuncie seu filho e o exponha A vergonha piiblica. Ao invés disso, o pai Lhe da o que ele deseja. Depois de um tempo, o filho encontra-se. sofrendo privagGes e decide voltar para seu pai, no como um filho, mas como empregado contratado. Novamente, 0 ouyinte de Jesus, com sua formacao e cultura do Oriente Médio, espera que este filho, 40 retornat, seja publicamente envergonhado pelos camponesese pelo préprio pai. Ao invés disso, Jesus diz que “vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, ¢, compadecido dele, correndo, o abragou, ¢ beijou” (Le 15: 20). O pai recusa-se a permitir que o filho experimente qualquer desprezo por parte dos camponeses. Na verdade, o pai se humilha ao correr para encontrar 0 filho — uma atitude que era considerada indigna naquela cultura, Quando 0 filho comega a se rebaixar diante dele, 0 paio impede e ordena que o filho seja vestido com roupas finas e que uma festa seja dada em sua honra. Estes atogconfirmariam aos camponeses que 0 pai aceitara, sem reservas, o rapaz como seu filho. Quando o filho mais velho volta do campo ¢ ouve o barulho da festa que esta acontecendo, fica do lado de fora da casa, ao invés de entrar e cumprir suas résponsabilidades culturalmente definidas no sentido de ajudar seu pai a recepcionar os convidados. Agorao pai novamente se humilha, ao ir para fora da casa para encontrar seu filho. Quando o filho mais velho se dirige ao seu pai, insulta-o, nao usando uma forma de tratamento respeitosa. E ele nem mesmo admite que o filho mais jovem pecador é seu irm4o. Os fariseus, Iembre-se, nado consideravam os pecadores como povo de Deus. Contudo, o pai ignora esses insultos e carinhosamente o chama de “minha crianga” (versio inglesa NASB), mostrando, com isso, sua atitude de aceitagdo para com este filho também. Nesta pardbgla Deus é retratado como um pai — mas que pai incomum! Ambos Gs fithos publicamente insultam o pai e, em ambos Os casos, 0 pai, com praga, se humitha © procura reconciliagao com seus filhos. Embora sejamas pecadores, Deus, em seu amor gracioso, Nos convida a voltar-nos para Ble. Seus' caminhios mao so os nossos caminhos. 34 E aquelzs que nunca ouviram? Inclusao Antes da Exclusio Este mesmo amor acolhedor é encontrado até em lugarés tao improvaveis, como no ensino de Jesus sobre julgamento. Vale a pena observar que Jesus conta todas as parabolas formais acerca do julga- mento nos ultimos dias que antecederam sua crucificagao a Conseqiien- temente, elas devem ser interpretadas a luz do ministério da graga que ele estava prestes a cumprir. Quanclo se faz isso, se ira reconhecer que 0 julgamento é precisamente para perdao — nao um acerto de contas. Na realidade, essas parabolas enfatizam a inclusao antes da exclusao, graga antes da ira, aceitacao antes da rejeigio. Ninguém € excluido da graga de Deus sem que antes ja houvesse sido incluido nela. A parabola das bodas do filho do rei, em Mateus 22, ilustra isso de uma forma maravilhosa. O contexto que precede a passagem deixa claro que Jesus sente que as autoridades rcligiosas rejeitaram que ele fosse o Messias c, em conseqiiéncia, ele Ihes diz que o reino de Deus sera tirado delas (Mt 21: 31-46). O fundo histérico mais amplo para essa parabola é o banquete messianico ao qual Isaias se refere em 25: 6-9, onde é dito que judeus e gentios comeriam juntos na presenga de Deus.” Ao tempo do Novo Testamento, a abrangente visio de Isafas havia sido reduzida, de modo que gentios cram considerados como sendo largamente excluidos do banquete messianico. Aparentemente as autoridades religiosas pensavam que essa fossé uma festa exclusiva, com uma lista de convidados bem pequena. Na parabola, Jesus diz que um rei enviou seu servos para informar os convidados de que era hora de vir para uma festa do casamento de seu filho. Os convites iniciais tinham sido enviados havia muito tempo € todos haviam agendado o evento. Mas, por alguma razao, aqueles que haviam sido convidados recusarami-se a vir. Ignorando este insulto, 0 rei enviou owzes,-servos para instar com os convidados a que viessem. ‘ Novamente: s#e#sam. Alpuns se envolvem em seus negécios, enquanto outros abéyaifievite maltratam e até matam alguns dos servos. Jesus esta dizendo qué, exatamente como os profetas do Antigo Testamento haviam sido rejeitados, assim também o filho do rei esta sendo rejeitado. Os lideres religiosos recusam-se a vir para o banquete messianico, se Jesus é 0 Messias. A atitude deles é a seguinte: se Jesus € 0 filho que esta se casando, eles nao querem participar da festa nupcial. Inclusivismo 35 Com toda a razao, o rei ficou irado diante dessa aftonta e ordenou que aqueles que desprezaram seu convite fossem destruidos. Jesus esta nos dizendo que viré um tempo em que a rejeigao da graca sera devidamente tratada. Quando a graga é recusada — ao ponto de assassinarem os servos do rei— o que ainda resta? Vern ojulgamento sobre aqueles que desprezam a graga de Deus. O rei nao tinha de convidar essas pessoas; ele o fez por grande gencrosidade. Assim Jesus convida pessoas para participar da novi- dade de vida que ele traz. Se a vida que Jesus oferece € recusada, 0 que resta senao a morte? O banquete messianico é apenas paca os gue viverm. Entretanto, a parabola nao termina aqui. Esse rei estava deter- minado a oferecer uma festa, ¢ entéo enviou mais serv: ATA Que convidassem ao banquete todos os que encontrassem. Os convites eram indiscriminados, oferecidos a “maus ¢ bons” (v. 10). Do mesmo modo, Deus nao convida os bons e despreza os maus. Ele chama todos, inclusive pecadores, para confiar em seu amor gracioso, E as pessoas realmente vicram ao banquete do rei — tantos, na verdade, que a sala do banquete ficou “repleta de convidados” (v. 10). Enquanto a pequena nobreza havia se recusado a vir, muitos cidadaos comuns, Camponeses € até pessoas da camada social mais baixa vicram eencheram a sala, Aqui vemos Deus retrataclo’ como um tei extrémamente inco- mum! Que rei humano convidaria 0 povo comum, os despreziveis da comunidade, e até estranhos, para as bodas de seu filho? Que rei humano humilharia tanto a si mesmo? Inesperadamente, contudo, surgiu um problema no banquete, visto que um individuo pensou que ele poderia vir para a festa como quisesse. Quando o rei chegou, havia um convidado que nao estava trajado com vestes nupciais. O rei pediu uma explicagio, mas o homem permaneceu calado, recusando-se a accitar a graca real que fora demonstrada na tentativa de didlogo. Claramente o rei demons- trara amor e aceitagio para com essa pessoa, mas tal individuo havia desejado vir ao banquete como queria. Conseqiientemente, ele é posto para fora da festa, pois nunca ha uma boa razio para sc rejeitar a graga. 36 E aqueles que nunca ouviram? Entao Jesus diz: “Porque muitos sio chamados, mas poucos, escolhidos.” (v. 14}, {aso abruptamente nos faz parar — pois parece que rido esté ent sinfcnia com a parabola — afinal, o contraste era entre os poucos gi@ haviam rejeitado o convite para o banquete e a multiddo que o aceitara. Muitos comentaristas sugerem que esse era um provérbio comum nos dias de Jesus.!°Mas, o que ele significa? Eu creio que Jesus estava mudando completamente o significado desse provérbio e lancando-o de volta aqueles que pensavam que segura- mente estariam no banquete messinico. As autoridades religiosas ha muito haviam sido convidadas para participar do reino messianico de Jesus, mas elas recusaram. Entéo Jesus toma um provérbio pelo qual as autoridades religiosas incluiam a si mesmas, mas exclufam a todos os outros, e 0 aplica a elas — dizendo, na verdade, que as pessoas que faziam parte da religiao imstitucionalizada nao estavam entre os eleitos, mas os pecadores é que estavam entre os eleitos! Os fariscus haviam sido chamados mas nao foram escolhidos porque recusaram a graga divina. Para nossos propésitos, é importante notar que, na parabola, tanto os que foram primeiramente convidados, como os que foram convidados depois para substitui-los, sao, todos eles, recipientes do favor imerecido do rei. Robert Farrar Capon explica: - - Ninguém na parabola esté fora do favor-real;todos comegam, - no que diz respeito ao préprio rei, irrevogavelmente, dentro... = Ninguénré posto pare-fora;-se-nio-estava jé-dentro-O inferno —— talvez seja uma opcio; mas, se for, é a opgdo que nos € dada somente depois que ja recebemos a dadiva inteiramente nao- opcional de nos sentarmos juntos nas regides celestiais om Cristo Jesus.!! Isso nao nos agrada, porque quando se chega realmente a ques- tao ndo estamos tao convencidos da idéia da graga divina. Alguns de nos preferirfamos ter nossos méritos pessoais, pobres com fossem, recompensados, e desejamos que o comportamento impio dos outros seja punido. Por outro lado, ha aqueles dentre nés que proclamam ter grande prazer na graga de Deus revelada aos pecadores, enquanto secretamente estéo desejando que Deus torne sua graga o mais dificil possivel de ser encontrada. Certamente, Deus nao deveria langar sua graga por toda a parte de modo indiscriminado, como na Inclusivismo 37 parabola do semeador. Antes, deveria conservar a graca onde ela sera protegida e bem apreciada — na igreja. Mas Deus ndo ird tolerar isso. O Deus da Biblia é absolutamente maravilhoso: ele inclui todos em sua graga e exclui, no julgamento, somente aqueles que desprezam essa graca. Deus ja aceitou todas as pessoas, antes de qualquer resposta de nossa parte, mas nem todos aceitam esse favor divino. Os salvos respondem em fé As muliiformes gragas de Deus, enquanto os condenados as rejeitam. Por causa da obra de Cristo, Deus aceita a todos. Somente aqueles que se recusam accitar a graca de Deus sao rejeitados. A Grande Inversao Jesus realmente pregou a condenagio ao inferno, mas nado para 0s grupos de pessoas que as autoridades religiosas esperavam. Em lugar disso, ele deu esperanga para aqueles que eram considerados excluidos do banquete, enquanto punha em divida a seguranga da- queles que j4 se achavam participantes. Muitos judeus pensavam que estariam no banquete messianico simplesmente pelo fato de serem judeus, Alguns criam que poucas preciosas pessoas seriam salvas e que Deus estava muito satisfeito.com issei(vejao apocrifo 4 Esdras 7: 55-61). A luz disso, nao é surpreendente que alguém perguntasse a ~~ Jesus: “Sao-poucos os-que siio salvos?” (1.¢"13:.23), Ao ingés de — responder a questao, Jesus conclama aqueie homem que fez a per- ginta a certificar-se se ele mesmo esta salvo. Ao invés de dizer-lhe quantos, Jesus fala sobre quem sera salvo (wy. 24-30). Ao fazer isso, Jesus novamente usa a figura de uma festa. Na cultura do antigo Oriente Préximo, era costume que o anfi- tri4o fechasse a porta, logo que todos os convidados ja estivessem dentro da casa. Nesta parabola, quando algumas pessoas chegam depois que a porta ja esta fechada, elas batem e pedem para entrar. O dono da casa replica que nao as conhece. Elas afirmam que ele deveria conhecé-las, pois “comiamos e bebfamos na tua presenga, e ensinavas em nossas ruas” (v. 26). Novamente, 0 dono da casa protesta que ele nao as conhece ¢ lhes diz para sair. Robert Farrar Capon explica: “A terrivel Sentenga ... ‘nunca vos _ conheci’ é simplesmente a verdade acerca da condigio delas. Ele nao diz: ‘Nunca vos chamei’. Ele nao diz: ‘Nunca vos amei’. Ele nao diz: 38 Eaqueles que nunca ouviram? ‘Nunca vos trouxe para junto de mim’, Ele somente diz: ‘Nunca conheci vocés — porque vocés nunca se preocuparam em conhecer- me.’ Jesus continua a declarar que alguns de seus ouvintes ficarao muito perturbados quando virem o banquete messianico acontecendo \¢om a presenga dos patriarcas e dos profetas, mas eles mesmos excluidos. B, se isso nao fosse suficientemente ruim, Jesus diz que pessoas vito dos quatro cantos da terra para juntar-se 4 festa, en- quarite sera recusada admissao aqueles que pensavant ter edlireito de eiitrar.. Ele conclui dizendo que os ultimos serao og pelgeetros € os jirimeirox serdo os tltimos. Essa parabola deve ter sido muito chocante aos ouvintes de Jesus. Era inimaginavel que eles seriam excluidos de jantar com o Messias na vida futura. Esse mesmo choque devem ter sofrido os espectadores, em Mateus 8, onde Jesus, impressionado com a fé do centuriao, diz que nao havia encontrado tamanha fé em nenhum israelita (v. 10). Entao ele continua dizendo que muitos virao de todo o mundo ao banquete messianico, enquanto as autoridades judaicas serao exclui- das. Até aqueles que profetizam, expulsam deménios e fazem mila- gres podem nao ser admitidos (veja Mt 7: 21-23). _os inclui eos aceita. Quando as ovelhas sao separadas dos cabritos, _ parece que as ovelhas estéo um pouco surpresas de que elas tenham servido ao Scnhor (Mt 25: 31-46). As ovelhas sio aceitas pelo pastor porque confiam nele e manifestam aquela confianga em atitudes. No entanto, ha aqueles que créem que, sem divida, sio membros do reino; afinal, dizem as palavras certas ¢ praticam as atitudes “ corretas. Mas Jesus diz 0 contrario do que eles esperavam ouvir. Ele causa uma interrupgaéo abrupta 4 auto-seguranca daquclas pessoas ao oferecer esperanga para aqucles que anteriormente eram considera- dos excluidos. Especialmente cristaos conservadores precisam ouvir esta mensagem — nés geralmsente nfo aplicamos esses textos a nés mesmos. Ao invés disso, os utilizamos para excluir outros, especial- mente os ndo-evangelizados, da graga de Deus. Inchisivismo 39 O ensino de Jesus sobre os “poucos” ocorre no contexto do tema da inversio e nao deveria ser interpretado como que ensinando que @ maioria da raga humana acabaré no inferno. Na verdade, quando consideramos que, et alguns outros lugares, ele diz que “muitas” pessoas de “todas ag nagdes” serao aceitas no reino (ME 8: 11; 22: 10; 25: 32; Le 13: 29; 14: 23), que ele comparou o reino dos céus a um campo de trigo em que havia também joio (Mt 13: 24~ 30)3 © que Apocalipse 5: 9 e 7: 9 falam de uma vasta multidao, parece que o céu nao terd falta de populacao.! 40 Bom Pastor, que sacrificou sua vida pelas ovelhas bem como pelos cabritos, disse: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.” (Jo 12: 32). Jesus separara as ovelhas dos cabritos, mas nao devemos transformaro Bom Pastor num lobo. Além disso, o Pai do Pastor é 0 Deus que “ama tanto o mundo”, “deseja que todos sejam salvos”, mostra compaixaéo aos homens pecadores ¢ se humilha ao convidar todos indiscriminada- mente para tomar parte da vida eterna que ele graciosamente oferece. Eu tenho procurado mostrar que os textos que falam “dos pou- cos” se harmonizam com isso ¢, assim, nado excluema esperanga maior para os nao-evangelizados. Na verdade, os textos se encaixam bem como uma chamada para que aqueles que ja deveriam estar num relacionamento mais préximo com Deus se entreguem aele para esse fim. Além disso, as parabolas que-estao no contexto dessas passagens.— - retratam Deus em papéis familiares humanos. Deus €, na verdade, —unr pai; rei; juiz-e-pastor;-mas-ele-esté- muito-além-das-manifestages—— humanas tipicas desses papéis. Seus caminhos nao s4o nossos cami- nhos porque Deus ama seus inimigos, perdoa pecadores ¢ se humilha ao convidar as massas As festas divinas. Deus inclui todos na graga antes que haja uma exclus&o no julgamento. Deus aceita todos os pecadores, Infclizmente, ha aqueles que querem admissio A sua propria maneira. Havera julgamento e exclusdo, mas nao porque os excluidos nunca haviam sido incluidos. Deus concede graca inclusiva a todos os impios e requer somente que confiem que foram accitos por Ele. A amplitude do amor e da misericérdia de Deus em relagio aos pecadores é absolutamente surpreendente — verdadeiramente seus caminhos nao sao os nossos caminhos.'° 40 E aqueles que nunca owviram? Inclusivismo Portanto, Deus é generoso em sua misericérdia. Mas como exa- tamente Deus mostra essa graga redentora aqueles que morrem sem nunca ter ouvido as boas-novas de Jesus, o Salvador? Se Deus ama os nao-evangelizados e deseja sua salvagéo, ha uma maneira para que sejam salvos? De acordo com 0 ponto de vista inclusivista,'® o Pai estende a mao aos nao-evangelizados tanto através do Filho como do Espirito via revelacdo geral, consciéncia e cultura humana. Deus nao se deixa ficar sem testemunha perante qualquer povo. A salvagdo somente se torna possivel para os nao-evangelizados mediante a obra redentora de Jesus, mas Deus aplica essa obra até mesmo aos que desconhecem a expiagio. Deus faz isso se as pessoas responderem em fé confiante 4 revelagdo que elas tem. Em outras palavras, pessoas ndo-evangeli- zadas podem ser salvas com base na obra de Cristo se responderem em fé ao Meus que as cxid,_ ~ O Principioda ke =. - e que a fé envolve creraie eur exe SOME a alardoador dos que o buscam (11: 6). Se-me fesié- pis a para. réSumir todo o ensino biblico sobre fé, eu diria que te vols ‘has elementos: verdade, confiangca e atitude praiiga-AA ith chats a algumas verdades sobre Deus, venham elas gia PHBH Guts obra de Deus na criagdo. Fé significa que a pessoa responde em confianga aquele que esta reve- lando a verdade. Se as pessoas genuinamente confiam em Deus, procurardo sustentar isso em suas vidas. E ridiculo dizer: “Eu confio em Deus, mas nio desejo colocar essa confianga em atitude pratica na minha vida”. A fé biblica significa que nds cremos na verdade que Deus revela, confiamos que Deus tem em mente nossos melhores interesses e agimos baseados na verdade que temos. A maioria dos cristaos nao tem problemas com essa compreensio do que é fé. Contudo, surgem diferengas quanto ao que uma pessoa tem de saber a fim de adentrar numa relagao salvifica com Deus. Alguns cristéos sustentam que somente um conhecimento completo da vida e obra expiatéria de Jesus pode salvar. Mas, é realmente o Inclusivismo a conhecimento que nos salva, ou é Deus? Deus & quem salva e Ele faz isso a despeito dos diversos entendimentos teolégicos das pessoas. Pessoas sao accitaveis a Deus se elas respondem em fé, nao impor- tando quo limitado seja seu conhecimento. Deus julga as pessoas com base na luz que elas tem ¢ em como elas respondem a essa luz. O presbiteriano J. Gresham Machen disse: “Ninguém sabe quao pouco uma pessoa possa crer e ainda ser salva”. Uma vez alguns amigos ¢ eti estavamos pescando num grande lago, quando veio uma forte tempestade. Fomos para a margem, onde felizmente encontramos um velho abrigo. Embora estivesse trancado, pudemos esperar a tempestade passar sob a protegio da varanda. A varanda daquele abrigo serviu-nos, embora nao soubéssemos quem 0 construira ou a quem pertencia. Se 0 Espirito Santo guia os nao-evan- gelizados para um reftigio, com certeza se beneficiardo disso, mesmo que tenham de ficar s6 na varanda. Hi, no entanto, aqueles que créem que “varandas” sao insuficien- tes para salvagao. A fim de ser salva, dizem, a pessoa tem de conhecer fatos hist6ricos, tais como a ressurreigdo de Jesus dentre os mortos, ¢ entender doutrinas como a expiago. Essa maneira de pensar mostra uma definigo intelectual da fé. A fé é vista, principalmente, como uma questao de compreender certas doutrinas, ao invés de cultivar uma relagéo de confianga com Deus. Esse erro de compreensao do que é a f€ biblica tem algumas afinidades com 0 gnosticismo, onde a salvagéo € alcangada mediante um conhecimento especial que 0 iniciado recebe. Tal visio de fé implicaem que estamos numa situagao de ignorancia e isso s6 é resolvido quando aprendemos certas verda- des — salvagéo pelo conhecimento. Um problema maior para esse entendimento de fé é a salvagio daqueles que viveram antes de Jesus e imediatamente depois dele, Os que fazem uma abordagem restritiva geralmente consentem na salva- gao daqueles que viveram antes de Jesus, mas argumentam que, a partir dos tempos de Jesus, é necessario saber sobre ele a fim de ser salvo. Judeus tementes a Deus e gentios que tenham morrido dez minutos ap6s Jesus morrer, mas que nao tinham conhecimento da- quele fato, ou entao nao tinham nenhuma compreensao-de seu valor expiat6rio, sao assim deixados numa situacio lamentével — condena- dos ao inferno por nao viverem o tempo necessario para a teologia 42 E aqueles que nunca ouviram? crista ter-se desenvolvido!'® Mas, se admitimos que tais pessoas sio exceg6es, entao por que os demais nio-evangelizados também nado sdo excegdes? . De modo algum sou contra o conhecimento; na verdade, minha _ definigéo de fé 0 inclui. A questdo é 0 grau de conhecimento necessa- rio para entrar numa relagao de confianga (salvifica) com 0 Deus da graga. O pimigitma central da salvagao nao é 0 conhecimento de Deus, mas fé em Deu Ter uma atitude correta para com Deus € muito mais importante do que informagao doutrinaria. E possivel que os néo-evangelizados scjam reconciliados com Deus através da obra de Cristo, mesmo que nao saibam sobre Jesus. Eu classifico essas pessoas como “crentes” em Deus, enquanto que aqueles que sabem acerca de Jesus e tém fé em Deus através dele sao chamados “cristaos”. A despeito dessa distingéo, ha continuidade entre crentes e cristaos, e € para isso que nos voltamos agora. Os Crentes Pré-messidnicos Embora no curso do Antigo Testamento seja dada uma informa- cio progressiva sobre o Messias que estava para vir, a maioria dos crentes judeus nao entendia que o Messias traria expiagao, tampouco olhavam para o Messias como o ponto convergente de sua fé. Antes, cles “invocavam ao Senhor”, que lhes provia perdao. Esses crentes nao conheciam a Deus tanto, quanto os cristaos, nem sua seguranga do amor divino era tao sdlida. No entanto, eles podiam entrar numa relagao de confianga com Deus exatamente como os cristaos fazem hoje, porque o mesmo Deus é 0 ponto convergente de fé para os crentes ¢ para Os cristaos. Abraao, por exemplo, confiou que Deus lhe daria um filho em sua velhice, e somos informados de que Deus declarou Abrado justo : por causa disso (Gn 15: 6). Gidedo confiou que Deus estaria com ele na batalha, enquanto Sansao pediu que Deus 0 ajudasse a destruir um templo. Esses homens de fé (Hb 1) tinham diferentes informagées sobre Deus, de modo que o que eles criam tinha variacdes. Mas, embora o contetido de sua fé variasse, todos eles criam num mesmo Deus. O apdstolo Paulo enfatiza essa verdade em Romanos 4, onde afirma que crentes tais como Abra&o e Davi foram justificados pela fé e, portanto, estao salvos, porque é o mesmo Deus que prové Inclusivismo 43 salvagao para todas as pessoas, nio importando quando ou onde viveram. Os cristaos, naturalmente, tém a extraordindéria béngao de saber que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos para nossa justifi- cagaéo — algo que nem Abrado nem Davi sabiam. A histéria da conversao de Cornélio, de crente a cristao, em Atos 10 ilustra essas idéias. Cornélio era um soldado romano, descrito como alguém que temia a Deus, dava esmolas e orava continuamente (wv. 1-2). Na verdade, 0 anjo enviado a ele informa que Deus considera suas oragées e esmolas como uma oferta memorial (v. 4)! Deus ama esse crente ¢ deseja que ele passe a compartilhar das béncaos de se conhecer ao Jesus ressurreto, de modo que ele instrui Cornélio a mandar chamar 0 apéstolo Pedro, que lhe trara as boas-novas sobre o que Deus tem feito em Jesus. Pedro tem um problema com essa idéia, pois cle nao cré que gentios possam tornar-se cristaos sem que primeiro se tornem segui- dores do judaismo. Mas, através dessa experiéncia, Deus 0 capacita a dizer: “Reconhego, por verdade, que Deus nao faz acepgao de pessoas; pelo contrario, em qualquer nagio, aquele que o teme e faz 0 que € justo Ihe € aceitavel” , (vv. 34-35). Pedro, agora, vé que Deus abre seus bragos para aceitar todos aqueles que confiam nEle e procuram segui-lo como melhor saibam fazé-lo. O expositor biblico G. Campbell Morgan disse, comentando essa passagem: “Nenhum homem sera salvo porque entende a doutrina da expiagao. Ele é salvo nao por entendé-la, mas porque teme a Deus, e pratica justiga” !? Alpuns se opGem a que recorramos as experiéncias de crentes tais coma Abraio ¢ Cartélio, porque eles nao sao exemplos de pessoas completamente nio-evangelizadas; eles tinham uma revelagéo espe- cial lintitada de Deus que a maioria dos ndo-evangelizados nao tém. Atos 11:14 é.normalmente citado para apoiar esse argumento: “[Pe- dro] te diré palavras mediante as quais serds salvo, tu e toda a tua casa”, Mas as Escrituras freqiientemente falam de salvacgio em termos de passado, presente e futuro. Paulo pode dizer aos cristaos romanos, por exemple, que eles aguardam sua salvacdo, embora sendo ja salvos. Considerando isso, Pedro foi enviado a Cornélio para informa-lo como sua futura salvagéo fora consumada, através de Jesus, sobre quem os profetas falaram. Além disso, embora Cornélio fosse um crente, € possivel que pelo menos alguém em sua casa aincla nao fosse. a4 Eaqueles que nunca ouviram? Por isso, Pedro foi enviado com a mensagem do Evangelho, através do qual toda sua casa se converteu. Cornélio era um crente salvo antes que Pédro chegasse, e ele recebeu as béngéos que advém de um , telacionamento com Jesus; alguns em sua casa eram néo-crentes antes que Pedro viesse, mas receberam salvacdo por ouvir o evangelho. a Além disso, a Biblia nao contém nenhum simples exemplo de crentes. sem qualquer contato com a revelagao especial pela simples razao de que suas narrativas sao somente sobre aquelas pessoas que entraram em contato com a atividade especial de Deus na histéria humana. O que estou fazendo é aproveitando a continuidade do testemu- nho de Deus e a fé humana entre crentes pré-messianicos e cristaos e estendendo essa continuidade aos nio-evangelizados. O teélogo batista A. H. Strong afirmou essa continuidade, quando escreveu: “Os patriarcas, embora nao tivessem conkecimento de um Cristo pessoal, foram salvos por crerem em Deus até onde Deus se revelara a eles; e os que sao salvos entre os gentios, devem, semelhantemente, ser salvos por se langarem, como pecadores desamparados, ao plano de misericordia de Deus, visto como sombra na natureza e providén- cia””. Crentes tais como’ Abraio estavam situados antes de Cristo quanto as informagées de que dispunham sobre o Messias, contudo Deus aceitou sua resposta cheia de f€. Os néo-evangelizados de hoje sias, também antes de Cristo e podem ainda vir 4 fé ém Deus através de Sew testemunho-na-criacto-e-de-Suas-relag6 es-providenciais-cons—— eles. Cornélio nao estava condenado ao inferno antes que Pedro chegasse, assim como também nao estao os nao-evangelizados. Mas assim como Cornélio e toda sua casa passaram a patticipar das béngaos de Cristo depois de Pedro, também deverfamos procurar levar a vida crista aos crentes ndo-evangelizados. Em seqtiéncia, no livro de Atos, Lucas ilustra esses mesmos pontos em sua narrativa da pregagao de Paulo em Atenas (cap. 17). Lucas gasta muito tempo nesse discurso (embora provavelinente ele 0 tenha condensado), pois ele assinala os contornos da pregagio de Paulo aos gentios. Assim como Pedro, Paulo entende que Deus esta trabalhando entre os nio-evangelizados, no entanto ainda quer que yenham a fé em Cristo, Paulo reconhece que os filésofos atenienses Inclusivismo 45 estao buscando a Deus e que, em muitos aspectos, estéo no caminho certo. Ele € capaz de achar pontos em que concorda tanto com os fil6sofos esticos quanto com os epicureus.””Deus é conhecido deles, diz ele, através da criagao ¢ através de suas acbes providenciais entre a humanidade. Por causa dessa revelagio, Deus espera que os homens O encontrem, pois Ele est perto de todos (v. 27). De forma interessante, Paulo nao se refere ao Antigo Testamen- to em seu discurso. Ele faz citagdés somente de poetas pagaos e usa as idéias e o vocabulério da filosofia grega em sua tentativa de alcangar essas pessoas. Nao obstante, todos os argumentos de Paulo podem ser encontrados no Antigo Testamento, porque ha afinidades entre reve- lagao geral e especial. Mas os atenienses nao estao certos em tudo, pois Paulo 6 critico de alguns aspectos do culto popular. Na verdade, os epicureus e alguns dos fildsofos estdicos concordavam com Paulo em sua oposigéo aos idolos, enquanto outros estéicos discordavam. Anteriormente, Paulo havia dito que aquilo que os atenienses adoravam sem conhecer, ele iria explicar-lhes mais completamente (v. 23). Contrariamente ao que alguns dos filésofos pensavam, Paulo nao se vé, absolutamente, como que introduzindo uma nova divindade, pois Deus tem agido entre essas pessoas e algumas delas tém reconhecido esse envolvimento divino. a iC ao-evangelizados nao adorem a_Deus, embora alguns sim. Ao contrario, sua atitude & reconhecer que alguns estao adorando ao Deus verdadeiro, embora sem conhecimento com- pleto, enquanto outros nao estao, absolutamenie, adorando ao Deus verdadeiro, O Evangelho ¢ importante para ambos os grupos. Paulo continua dizendo que Deus nao levou em conta a ignorancia dessas pessoas € agora as chama para arrepender-se e abragar o Evangelho. Este é, a propésito, exatamente o mesmo modelo de pregagao que Paulo usou quando se dirigindo aos judeus. Agora que Jesus jé veio, as coisas antigas passaram, tanto o culto oferecido mediante a revelagdo geral quanto o decorrente das instrugées leviticas. Deus agora quer que todos, no Filho, experimentem vida. Agora que a tevelagéo mais completa esté aqui ¢ a expiacao foi feita por todos, Deus deseja que tanto judeus como gentios experimentem um rela- cionamento mais completo, satisfatério e abengoado com ele através do Jesus ressurreto. 46 E aqueles que nunca ouviram? Paulo é tao bem sucedido em sua pregagéo em Atenas como foi crm ontros lugares, pois alguns aceitam a Cristo (inclusive um reinbré do conselho do governo, v. 34}, alguns rejeitam 0 evange- iho, & outros dizem que querem ouvir mais. Em Atenas, Paulo. eneoritra crentes que se tornam cristaos, n0-crentes que se tornam cristtias ¢ alguns que zombam. Todavia, o ponto basico sustenta que Deus deseja que crentes, sejam judeus ou gentios, tornem-se cristaos. Revelacao Geral e Providéncia Neste ponto, chegamos a umia linha diviséria entre minha com- preensao e a dos outros dois autores deste livro. Eles nao concordam que Deus concederia salvagao a alguém que nao tivesse conhecimento acerca de Jesus. E comum as pessoas dizerem que ha informagéio suficiente na ordem criada (revelagaéo geral) para condenar as pessoas, mas nao suficiente para salva-las. Este argumento envolve dois erros sérios. Primeiro, a revelaciio, quer na Biblia quer na criagao, nem condena nem salva. E Deus quem condena e salva. E Deus pode agir por qualquer meio que e/e ache apropriado a fim de alcangar aqueles a quem ama. Segundo, dizer que o Deus conhecido através da criagao condena, enquanto o Deus_conhecido através da Bibtia salva, soa __como se houvesse dois deuses — um condenando € 0 outro salvando. Mas ha apenas um Deus, cujo Espirito Santo esta ativamente buscan- do os perdidos, onde quer que estejam. Deus tem dado a todas as pessoas um testemunho de si mesmo como criador (SI 19; Rm 1: 20). Ele colocou sinais nos céus (Dt 4: 19) e estabeleceu estagdes para a humanidade para que pudéssemos busca-lo e encontra-lo, embora nao esteja longe de nés (At 14: 17; 17: 26, 27). Deus tem agido na histéria néo somente como Criador mas também como sustentador, cuidando da criagdo e provendo o que é necessdrio. Os profetas do Antigo Testamento declararam que os israelitas, que receberam revelagéo especial, néo eram os tinicos por quem Deus promovera um éxodo (Am 9: 7) ou providenciara terra (Dt 2: 5, 9, 21-22). Deus estava agindo fora das fronteiras de Israel, pois estava preocupado com outros povos também. Na verdade, Deus estava agindo através de Israel para concretizar o ato de redengao Inclusivismo at (Jesus) que providenciatia o fundamento para a salvagio do mundo inteiro. Mas isso nao anula os atos redentores de Deus em outros lugares. Ha pessoas nao-evangelizadas, mas isso no significa que ndo sao alcangadas por Deus. Deus nao limita sua bondade a nds pelo conhe- cimento que temos dEle. Alguns entenderao erroneamente isso, achando que quer dizer que as pessoas podem salvar-se por sua prépria forga de vontade ou atitudes, portanto deixe-me esclarecer algumas coisas. Primeiro, nin- guém vem a Deus sem a obra do Espirito Santo. O Espirito esta agindo no mundo, convencendo as pessoas do pecado e procurando conver- ter seus corag6es pecaminosos a Deus. Quer as pessoas tenham a revelacao pela criagdo ou pelas Escrituras, € o mesmo Espirito que as guiaa Deus, seja pelo conhecimento do Jesus histérico ou pela criagao e providéncia. Segundo, nao é a nossa prépria justiga que conta, mas a de Cristo. Contudo, a justiga de Cristo nao nos é creditada porque concordamos com algum conhecimento. Antes, é atribuida a nds tendo por base a fé em Deus, seja esse Deus conhecido como Criador ou como o Encarnado. O Espirito Santo procura desenvolver fé em nds sem considerar 0 tipo de revelagao que temos. Terceiro, nao estou ignorando 0 fato de que os nao-evangelizados sao-pecadores-que-se-desviaram-de-Deus._O Espirito-Santo-deseja. trazer de volta pecadores — comegando com 0 arrependimento. Nao esta além da sabedoria ou do poder do, Espirito alcangar pecadores. Pedro e Paulo notaram que havia gentios que louvavain ao Deus verdadeiro, a despcito do fato de que alguns deles tinham um conhe- cimento limitado do Antigo Testamento, enquanto outros permane- ciam completamente sem revelagao especial. Em seu livro O Fator Melquisedeque, 0 missionario antrop6logo Don Richardson documen- ta numerosos casos de grupos de povos entre os quais Deus vinha agindo i forma redentora, mesmo antes da chegada de missiondrios cristaos.”* Ble chama essa sua compreensao basica de “Fator Melqui- sedeque”. Melquisedeque era um rei-sacerdote pagio, a quem Abrado pagou dizimos; ele pronunciou uma béngio sobre Abrado. E fascinante que a narrativa de Génesis descreve Melquisedeque como Inclusivismo 49 Ogrande escritor cristao C. S. Lewis concordou com essas opinides. Ele achava que os que se entregam em fé aquele que esta por detras de toda verdade ¢ bondade serdo salvos, mesmo que nada saibam sobre Jesus. “Ha”, disse ele, “pessoas em outras religides que estao sendo guiadas pela influéncia secreta de Deus para se concentrarem naqueles pontos de sua religiao que estao de acordo com o Cristianis- mo, € que assim pertencem a Cristo sem o saber”.”* Em outro lugar ele escreveu: “Eu acho que toda-oracao que é feita sinceramente, mesmo a um falso deus [...] aceita pelo Deus verdadeiro e que Cristo salva muitos que nao acham que o conhecem”.2> Em suas bem conhecidas Crénicas de Narnia, Lewis conta sobre um homem chamado Emeth (verdade), que havia sido criado num pais onde o principal deus chamava-se Tash. Emeth lutou contra o pais de Narnia, cujo Deus era Aslan (figura de Cristo), o qual Emeth achava ser do mal. Através de uma série de circunstAncias, Emeth tem uma visdo do deus Tash e percebe que Tash é 0 maligno. Impelido pela visdo, ele vagueia pelos bosques. La Aslan 0 encontra, e acontece - 0 seguinte,didlogo: “Aj de mim, Senhor! Nao sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash.” prestado a Tash, eu o considero como 10 servico prestado a ________ mim... por sermos 0 oposto.um do outro.é.que tomo para———__ mim os servigos que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tao diferentes, que nenhum servigo.que seja vil pode ser prestado a. mime nada que nao geja‘vil pode ser feito para ele. Portanto’se qualquer bomem jurar em nome de Tash, e guardar o juramento por ‘amor a sua palavra, na verdade jurou‘em ‘meu ‘nome, mesmo sem saber, ¢ eu € que: o-recompensarei. E; s¢.um homem cometer alguma crueldade em meu nome; emtio, embora tenha pronunciado*o-nome de: Asian, € a “Tash que esta servindo e é Tash quem aceita suas obras...” E constrangido pela verdade, acrescentei: “Mesmo as- sim tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida”. “Amado,” falou o Glorioso ser, “nao fora 0 teu anseio por mim, nao terias aspirado tao intensamente, nem por Inclusivismo 49 Ogrande escritor cristao C. S. Lewis concordou com essas opinides. Ele achava que os que se entregam em fé aquele que esta por detras de toda verdade ¢ bondade serdo salvos, mesmo que nada saibam sobre Jesus. “Ha”, disse ele, “pessoas em outras religides que estao sendo guiadas pela influéncia secreta de Deus para se concentrarem naqueles pontos de sua religiao que estao de acordo com o Cristianis- mo, € que assim pertencem a Cristo sem o saber”.”* Em outro lugar ele escreveu: “Eu acho que toda-oracao que é feita sinceramente, mesmo a um falso deus [...] aceita pelo Deus verdadeiro e que Cristo salva muitos que nao acham que o conhecem”.2> Em suas bem conhecidas Crénicas de Narnia, Lewis conta sobre um homem chamado Emeth (verdade), que havia sido criado num pais onde o principal deus chamava-se Tash. Emeth lutou contra o pais de Narnia, cujo Deus era Aslan (figura de Cristo), o qual Emeth achava ser do mal. Através de uma série de circunstAncias, Emeth tem uma visdo do deus Tash e percebe que Tash é 0 maligno. Impelido pela visdo, ele vagueia pelos bosques. La Aslan 0 encontra, e acontece - 0 seguinte,didlogo: “Aj de mim, Senhor! Nao sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash.” prestado a Tash, eu o considero como 10 servico prestado a ________ mim... por sermos 0 oposto.um do outro.é.que tomo para———__ mim os servigos que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tao diferentes, que nenhum servigo.que seja vil pode ser prestado a. mime nada que nao geja‘vil pode ser feito para ele. Portanto’se qualquer bomem jurar em nome de Tash, e guardar o juramento por ‘amor a sua palavra, na verdade jurou‘em ‘meu ‘nome, mesmo sem saber, ¢ eu € que: o-recompensarei. E; s¢.um homem cometer alguma crueldade em meu nome; emtio, embora tenha pronunciado*o-nome de: Asian, € a “Tash que esta servindo e é Tash quem aceita suas obras...” E constrangido pela verdade, acrescentei: “Mesmo as- sim tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida”. “Amado,” falou o Glorioso ser, “nao fora 0 teu anseio por mim, nao terias aspirado tao intensamente, nem por 50 E aqueles que nunca ouviram? tanto tempo. Pois todos encontram o que realmente procu- ram”. ? Para Lewis, Deus salva os naéo-evangelizados de acorde com o principio da fé. Aos que buscam gléria e honra ¢ imortalidade, Deus concedera vida eterna (Rm 2:7). Os Ensinos de Paulo na Epistola aos Romanos Alguns créem que este ponto de vista de que Deus pede alcangar os nao-evangelizados sem os missionrios é excessivamente otimista, dados os ensinos de Paulo em Romanos 1 a 3. Esses criticos afirmam que os n&o-evangelizados poderiam ser salvos se nunca houvessem pecado contra Deus e tivessem vidas moralmente perfeitas. Mas ninguém faz isso— portanto, dizem, os néo-evangelizados néo podem ser salvos. Contudo, isso é uma distorgio do ensino de Paulo na Epistola aos Romanos. Para compreender adequadamente o que Paulo esta dizendo nesta carta, precisamos entender a questao da qual ele estava tratan- do.”” Paulo nao estava, como normalmente se presume, argumentan- do contra pessoas que pensavam que poderiam merecer os céus fazendo boas obras. A teologia judaica nunca exigiu per: feigao | moral como pré-requisito para a salvagao. Ao invés, Paulo estava 0 pensamento tradicional judaico daquela época que separ de gentios, Os judeus rcligiosos se achavam incluidos na graca divina, en- quanto os gentios estavam excluidos. A razio por que eles se consi- deravam “dentro” nao era sua propria bondade mas simplesmente o fato de que Deus os havia escolhido, pela graca, dentre as nages. Como uma resposta fiel @ graga divina, eles deveriam praticar 0 que Deus houvera ordenado. Fazer 0 que Deus havia mandado nao conquistava beneficios diante dEle, mas demonstrava que a pessoa estava inclufda no reino da graca ou inclusa no pacto, Em outras pak MPa, havia alguns “marcos” ou “credenciais” que distinguiam agudios: gue haviam recebido a graga divina daqucles que nao a havidm recebido, ** Todos os grupos sociais tém distintivos qué os caracterizam. Os Escoteiros, por exemplo, tém certas caracteristicas que os diferenciam Inclusivismo 51 dos magons. Ao tempo de Paulo, trés sinais de identificagéio especifi- cos foram escolhidos para marcar a membresia ao pacto: observancia do sdbado, leis quanto aos alimentos e a circuncisao. Nao era o fato de viver dentro dessas fronteiras que oferecia salvagao. Ao contrario, esses eram Os sinais de que ja se havia recebido salvacdo. Os gentios, que viviam fora dessas fronteiras, eram obviamente excluidos da salvagao divina, pois eles nao ostentavam os sinais de identificagio da membresia ao pacto. A maioria dos leitores judeus de Paulo teria concordado entusi- asticamente com o que ele escreveu em Romanos 1: todos os gentios sao pecadores diante de Deus, muito embora Deus tenha-se revelado a eles através da criagdo. Que todos os gentios eram pecadores era um provérbio dentro do judaismo. Gentios ficaram fora do pacto e assim foram excluidos da graca divina. De acordo com 0 pensamento judaico nos dias de Paulo, aquele que desconhecesse os sinais de identificagao préprios nao poderia ser salvo. A tinica possibilidade para os gentios alcangarem a salvagao era obter conhecimento do pacto (Antigo Testamento) e submeter-se a ele. Essa era a razio por que muitos cristaos judeus argumentaram que os gentios primcira- mente tinham de se converter ao judaismo antes que pudessem ser cristaos, “esto além dos marcos que delimitam as fronteiras de Israel como nac¢ao. Além disso, Paulo afirma que o fato de alguém ter os sinais de identificagio de guardar o sdbado e cumprir Icis relacionadas aos alimentos nao garante justificagao diante de Deus. Pois ele argumen- ta, em Romanos 2, que os judeus também sao pecadores diante de Deus, com pacto ou sem pacto. O povo judeu sentia-se seguro de que estava salvo simplesmente porque fazia parte da comunidade do pacto, Paulo, abruptamente, os faz parar, quando diz que, mesmo que eles Liane a revelacao especial, sao pecadores e precisam de um Salvador.” Simplesmente possuir os sinais publicos de identidade nacional nao garante salvagao. Paulo conclui, no capitulo 3, que todos os judeus e gentios pecaram e carecem de um Salvador. Deus providenciou este Salvador 52 Eaqueles que wunca ouviram? na pessoa de Jesus, e é a fé que torna a salvagio possivel a nds. Fé em Deus € 0 tnico sinal distintivo que Paulo ira admitir. O que Paulo escreve contra o exclusivismo judaico é relevante para a questao dos n4o-evangelizados, visto que alguns cristaos decla- ram que somente aqueles que conseguem ter conhecimento das agdes de Deus em Jesus, e dai se tornam membros da igreja visivel, podem ser salvos. Se alguém no possui os distintivos de membresia eclesias- tica, seja batismo ou profissao.de fé, nao pode ser salvo. Mas, tal como a graga de Deus nao pode ser restrita ao Israel étnico, também nao pode ser restrita Aqueles que ouvem sobre Cristo antes de morrer. Assim como a salvagio se estende além das fronteiras daqueles que tém os distintivos da identidade judaica, também se estende além das fronteiras da igreja visivel. Se as pessoas, movidas pelo Espirito de Deus, exercem fé em Deus, nio importa que tipo de revelagdo de Deus tenham, elas estao salvas pelos méritos de Cristo, Para Paulo, nao ha outro Salvador, a nao ser Jesus. Mesmo Abraao, Moisés e Davi receberam a vida eterna mediante 0 sacrificio expiatorio de Jesus, Eles experimentaram a graga divina em seus dias porque Deus sabia como iria lidar com o pecado deles. Nos, seres humanos, incluindo Abraio e Moisés, nao podemos salvar a nés mesmos, pois todos pecamos e somos deficientes em honrar a Deus, ~~ Deus esta derramando*suaira sobre-aimpiodade-humana- (Rav1:-— 18). Mas Jesus morre por nds, os impios (5: 6), e “por um s6 ato de “justiga, veio a graca sobre todos os homens para a justificagao que da — vida” (5: 18). Jesus se torna o representante de toda a raga a fim de conseguir 0 que nenhum de nds poderia: paz € reconciliagéo com Deus. Ao levar nosso pecado sobre si, Jesus se torna o grande pecador. Ele é 0 juiz que é julgado em nosso lugar. A justificagao de todas as pessoas impias, através da obra de Cristo, leva Paulo a ver a humanidade sob um aspecto radicalmente novo. Paulo, agora, entende que Deus ama todos os pecadores, que Deus cuidou do problema de ‘pesado humano através da morte ¢ ressurreicéo de Jesus, e que ayer um pode beneficiar-se dessa obra através da fé em Deus (fini 4: 24-5: 18). Deus esta procurando aqueles que confiarao nele, ¢ gentios podem confiar em Deus, mesmo que contineem desconhecendo a revelacdo especial. Por causa de Cristo, Deus concederd vida eterna a todos que adentrarem num Inclusivismo 53 relacionamento de confianga com Ele, sem levar em conta se sabem acerca do pacto (2: 6-7). 2 Para Paulo, todos os que amam seu préximo demonstram que tém a lei escrita em seus coragGes (2: 14-15) e assim cumprem 0 que Deus desejou (13: 8). Uma fé genuina em Deus se mostra através do amor, tanto a Deus quanto ao proximo. Tais fé e amor nao estio limitados aqueles que estao do lado de dentro das fronteiras vistveis da sinagoga ou da igreja. Novarnente, deve ser emfatizado que tais pessoas nao sao salvas pelas obras, mas pelo Deus misericordioso que i salva todos os que confiam nele. Paulo nunca admitiria que aquela fé e€ amor viessem a existir no coragéo humano, exceto pela graga do Espirito Santo. Quando Paulo fala da “obediéncia da fé” (1:5;16: 26) é sempre como uma resposta a graga divina. Para Paulo, ha somente um Deus (Rm 3: 30), e esse Deus esta relacionado a todas as pessoas como Criador. Ele busca da humani- dade a resposta de criaturas dependentes, e tal f€ é possivel, sob a diregao do Espirito Santo, para judeu e gentio, evangelizado ou ndo-evangelizado. Por que, entéo, Paulo proclama o evangelho aos gentios? Porque Cristo 6a expressdo mais perfeita e Giltima de Deus. A revelacdo de ~._Deus.em Cristo.é maior, mas.na mesma-trajetoria, que-a-revelacdo-de ——- Deus na criagao. No evangelho, experimentamos 0 alvo da criagao, o ~que-Deus pretendeu-desde-o principio. a = Alguns perguntam: “Sc a revelagéo geral pode salvar, por que Deus se deu ao trabalho de providenciar a revelagio especial?” Novamente, a revelagiio. nao salva — Deus é quem salva. Além disso, como foi dito antes, o cristao desfruta de muitas béngios as quais 0 crente nao experimenta. Embora se possa ir andando de Brasilia a Sao Paulo, ha muitos beneficios em ir de avido. Outros objetam que Paulo diz, em Romanos 3, que todos sao pecadores e, portanto, qualquer esperanga para os nao-evangelizados esta eliminada. Mas, se Paulo quer dizer 14 que todos aqueles mencio- nados nos dois primeiros capitulos esto fora das fronteiras da salva- cao, entao surge um problema sério. Se Paulo quer dizer que nem judeus e nem gentios foram salvos antes de Cristo, entao, obviamente, 5d E aqueles que nuncé susirtim? nem mesmo pessoas como Davie Abraio foram salvas, Naturalmen- te, ninguém aceita essa conclusao. Eu acho interessante que pessoas sejam tao inclinadas a usar Romanos 1 a 3 para eliminar a esperanga para os ndo-evangelizados (visto que todos eles sao pecadores), mas nao se dispdem a aceitar a conclusao de que, visto que Paulo incluiu toda a raga humana em sua argumentagao, qualquer esperanga para judeus que viveram antes do Messias também é climinada. A questao nao € se as pessoas podem ser salvas por obter perfeigéo moral. A questao, antes, é se Deus concede aos pecadores — nessa condigéo de pecadores — uma oportunidade para salvagao. E melhor entender que Paulo esta argumentando contra 0 exclu- sivismo judaico, dizendo que tanto judeus como gentios estao no mesmo barco do pecado. Por conseguinte, Deus pode salvar os que se encontram no navio que esta afundando da mesma maneira — pela fé. Nds ja discutinwes o principio da fé que Paulo 2 para argumentar que os judews queviverain antes do Messias for; pela fé, independentemseiiie de distiativos sociais. O principio tt permite a Paulo dizer qt i#xite eaves como gentios sao salvos pela fé, nao importando o tipsey evivelacao de que disponham. Havia, obviamente, judeus que viveram antes do Messias que tinham fé em Deus.(Rm_4), ¢ Paulo sugere que ha gentios nado-evangelizados que _ também.tém fé em Deus, embora o que eles bam sobre Deus esta liméiads-A-obra-divina-na-criagdo_e. providéncia (2:_6-16). Entao,._ cheganias a dois grupos de pessoas: (1) aqueles que conhecem a Deus, quer pela revelagio geral quer pela especial, contudo se recusam a confiar em Deus e (2) aqueles que conhecem a Deus, seja pela revelacao geral seja pela especial, e que realmente confiam em Deus. Por causa da cruz de Cristo, todos os que tém f¢ em Deus sao salvos, sejam eles judeus que viveram antes do Messias, gentios nao-cvange- ‘ lizados ou cristaos. Em Romanos, Paulo diz que Deus mostra miseri- cordia a quem Ele deseja (9: 18), e, para nossa alegria, ele declara que Deus é “misericordioso para com todos” (11: 32). Alguns cristios tém dificuldade em aceitar isso porque implica em que pessoas que nao exibem os néeessaxi6s sinais distintivos podem ser salvas. Como podem pessous-ser Salvas, eles perguntam, se nao falam sobre “nascer de novo”, #4¢@ YA A igreja ou nao sao Inclusivismo 55 batizadas? Muitos consideram estes como sendo os sinais distintivos apropriados que demonstram que uma pessoa é salva. Evangélicos enfatizam a importancia de uma profissao de fé verbal. Na verdade, dizer as palavras certas — “Jesus, eu te aceito como meu Salvador” — funciona como uma liturgia ou cerimOnia religiosa que nos permi- te, publicamente, distinguir quem esta inclufdo de quem esta excluido da graca divina. Pelo uso de tais sinais distintivos, alguns eslao certos de que sao ovelhas, nao cabritos, ¢ conseguiram atravessar a porta estreita, Esse pensamento reflete exatamente 0 ponto de vista contra 0 qual Paulo estava argumentando com tanta veeméncia. Para Paulo, nenhum sinal distintivo piblico garante que uma pessoa esteja num relacionamento correto com Deus. Fé é 0 tinico sinal distintivo que Paulo admite. E fé pode ser exercida tanto por judeu quanto por gentio, por evangelizados e nao-evangelizados. Eas criangas? Pode parecer estranho pensar em Deus salvando pessoas com base na obra de Cristo, quando elas nem mesmo'sabem acerca dessa obra. Mas uma reflexdo de momento ird revelar que a maioria dos cristaos prontamente admite que pessoas sejam salvas sem que te- nham conhecimento de Jesus. Praticamente todos os cristéos hoje afirmam que as criangas e pessoas menlalmente incapazes que m0 __tem sao salvas por Cristo, mesmo que nada sai re Jesus e nao exergam fé nele, Lembre-se de que em toda a Histéria os inclices de mortalidade infantil so extremamente altos. A maioria dos nascidos morreu ainda muito jovem; a maior parte por causa de doengas, mas muitos também por causa de infanticidio ¢ de aborto. A maioria dos cristaos acredita que todos estes sdo salvos, embora nada saibam sobre Cristo. Portanto amaioria da raga humana est salva, apesar de ndo conhecer a Cristo ou de exercer fé nele. Estou sugerindo que ampliemos este mesmo tipo de raciocinio para incluir os adultos naéo-evangelizados que respondem a Deus cm f€. Nés ja temos um precedente na salvagao daqueles que morrem na infancia. Seré que Deus ama as pessoas adultas ndo-evangelizadas menos que as criangas? 56 E aqueles que nunca ouviram? Duas objegdes sao levantadas contra o argumento inclusivista. A primeira formula uma distingaéo entre a capacidade intelectual das criangas e¢ as de adultos nao-evangelizados. Adultos nao-evangeliza- dos tém a capacidade de oferecer uma resposta ao evangelho, se 0 ouvirem, enquanto as criangas nao dispdem dessa capacidade. Ra- mesh Richard diz que Deus salva as criangas, mas nao adultos nao- evangelizados, porque as criancas sao “incapazes de aceitar salvagéo em qualquer momento em suas vidas”. As criangas sao fisica e mentalmente “incapazes” de responder ao evangelho. Contudo, eu afirmo que adultos nao-evangelizados também sao fisica e mental- mente “incapazes” de responder ao evangelho, se morrerem antes que missiondrios cheguem até onde eles estao; sio mentalmente incapazes de exercer fé em Jesus, porque nunca ouvem sobre ele. Afinal, mesmo no ponto de vista restritivista, entre os “incapazes de accitar salvacaéo”-s¢incluem os adultos nao-evangelizados, pois se diz que Deus nao pode usar a revelacdo geral para salvd-los. Eles estao completamente fora da esfera da salvagio. Se, como os restritivistas professam, ha duas categorias de pessoas que sao salvas (1) aqueles que colocam sua fé em Jesus e (2) aqueles que sao incapazes de responder a Jesus — entao por que nao incluir pelo menos alguns adultos nao-evangelizados no segundo grupo? Isso nos leva A segunda objegao: a afirmativa de que adultos sao ~__ Culpattos cto “pecacto atmal emquanty as crkanyas sav cmripattas apenas —_—do-“pecado-original*-o-qual-Deus-nao-leva-em-conta—por-causa-de— Cristo. Mas, se Deus nao leva em conta o pecado original devido a ® Jesus, entao por que ele nao pode aplicar a expiacac aos arhaltes nio-evangelizados que tém fé em Deus? Embora ef ianecgam sem conhecer a expiagao, o Deus que m salvos pode redimir pecadores com base na justica dé Criste., Vamos mais fundo nesta questao quando reconhecemos que nem todos os cristaos estiveram sempre inclinados a admitir a salvagao de criangas que morrem. Pensadores como ‘Agostinho sustentavam que somente criangas batizadas poderiam ser salvas.2"O que tera alterado 0 panorama teolégico, levando 4 aceitacgéo de que todos os que morrem na infancia tém a vida eterna? Uma mudanga na teologia da natureza de Deus. Entendia-se que Deus cra um Deus irado que Inclusivismo 57 odiava pecadores, mas decidiu salvar alguns deles para demonstrar sua benevoléncia. Felizmente, a teologia finalmente voltou ao seu ancoradouro biblico, onde Deus é verdadeiramente justo e condena 0 pecado, mas ama todos os pecadores € envia o Filho que expia seus pecados. A teologia do amor radical de Deus pelos pecadores — inclusive criangas pecadoras — aniquilou a teologia de um Deus parcimonioso, levando-nos a entender que Deus deseja a salvacao até do menor destes. Esta € a teologia que venho usando — uma teologia que afirma as terriveis realidades do pecado, mas também sustenta o poder de Deus de triunfar sobre o pecado ao providenciar redengao para os pecadores. Deus odeia 0 pecado, que destrdi os seres que Ele criou, pois o amor nao pode parar e ficar assistindo a pessoa amada se arruinar. O amor divino detesta a corrupgdo do pecado, mas também motiva a Deus para redimir a situagio. E este Deus que torna a salvagio universalmente disponivel a Abraéo, a J6, a criangas que morrem e ao restante dos nao-evangelizados. Missoes Mas se os nao-evangelizados podem ser salvos sem 0 trabalho dos missionarios, por que deverfamos apoiar miss6es? A tini¢a razao para ~ missGes nao é que as pessoas nao podem ser salvas a menos que ougam o evangelho pregado por outro ser humano? Sera que qualquer outro ~—pontode vista nao corta otrervo principal damotivaciotnisstonatia? —— Nao. John R. W. Stott, um grande preletor contemporaneo na area de missGes, escreve: Nunca fui capaz de imaginar (como alguns missiondrios evangélicos tém feito) a viséo aterrorizante de milhdes que nao somente estao perecendo mas irao, inevitavel- mente, perecer. Por outro lado... eu nao sou e nao posso ser um universalista. Entre esses extremos, eu nutro a esperanga de que a maioria da raga humana sera salva. E tenho uma sdlida base biblica para essa opiniao.>! Embora Stott afirme a esperanga maior, ele tem mantido de forma consistente alta atividade em missées. Isso também era verdade para os pais da igreja, tais como Clemente de Alexandria e Origenes, 58 Eaqueles que nunca ouviram? bem como para John Wesley. Eles sustentavam a esperanga maior e, no entanto, foram trés dos mais fervorosos e reflexivos cristéos quan- do se tratava de persuadir nao-cristaos a virem a fé em Cristo. O ponto de vista restritivista (de que todos os néo-evangelizados : estao condenados) por tanto tempo tem sido proclamado como a tinica motivagao para missGes que muitos cristaos desconhecem que esta ndo era a motivagéo de muitos dos grandes missionarios na historia. Nao estou sugerindo que o perigo da condenagao seja des- cartado como uma razao para evangelismo, mas missGes tém mais de uma base de sustentagdo. E como uma mesa que nao se sustenta com uma perna s6. Quando missGes é apoiada somente com a “perna” restritivista, a mesa cai sob o peso do problema do mal. Se Deus quer que todos sejam salvos, mas ninguém pode ser salvo exceto aqueiés que ouvem sobre Cristo, entéo Deus nao pode salvar aqueles a quem ele deseja. Além disso, se a salvacao é inteiramente dependente da pregagao humana, entao algumas pessoas sofrerao a condenagao eterna devido & omissio e A desobediéncia de cristéos. Ge siitras -— palavras, a condenagao de, tais.pessoas é o resultado do Bead de mom cristos. Mas justiga divina-tss5? Sera que isso revela a nés o Begs que procura a tnica ovet#e, perdida? Diante de tais problemas, “mesa” missiondria precisa de novos pontos de apoio, co — ——Feliamente,-hé_alguns_outtos fortes pontas de apa % sustentacgéo 4 motivaca is imeiro, € peiitipalmente, Jesus nos ordena ir (Mt 28: 18- 20). Em ‘segundo lugar, mdz, que temos: experimentado o amor de Deus no Filho, através do Espirito, deveri- amos descjar-compartilar as béncaos da vida crista com os que a desconhecem. Terceiro, ha, naturalmente, pessoas que nao sio cren- tes em Deus, ¢ elas precisam ouvir sobre Cristo para que possam vir a conhecer o amor de Deus. Finalmente, embora os crentes néo-evan- gelizados receberdo a vida eterna por causa da obra de Cristo, Deus quer que eles experimentem a plenitude de vida que veio no Pente- coste. Um relacionamento com 0 Senhorressurreto concede uma vida espititual muito mais rica do que aquela que pode ser obtida através apenas do conhecimento do Criador. Os cristaos possucm as béngados messianicas da seguranga da salvacao, bem.como a revelacao ultima de quem Deus é e do que Deus deseja. Além disso, cristéos tém o beneficio da comunhdo na comunidade crista. Estas sao razdes mais ae Inclusivismo 59 que suficientes para se desejar que crentes ndo-evangelizados se tornem cristaos. A salvagao que Jesus prové é, afinal, nao simplesmen- te para o gozo eternal, mas também para a vida abundante agora. Talvez uma analogia iré ajudar. O que farfamos se soubéssemos acerca dé um grupo de pessoas que nao tivessem agua potavel e estivessem sofrendo de diarréia ¢ desidratagao. E sc soubéssemos que poderiam viver, apesar desse problema? Estarfamos, entao, livres da obrigagao de ajuda-los agora? Seriamos justificados se nos sentasse- mos e ficdssemos de bracos cruzados enquanto eles estavam sofren- do? Acho que nao. Temos amplas raz6es para levar a necessdria tecnologia para eles agora, mesmo que sobrevivam sem ela. Conclusao Acabo de examinar as bases para uma esperang maior e um modo especifico no qual o desejo de Deus de salvar tedos os homens pode ser realizado. O ponto de vista defendido é que Deus ama todos os pecadores e deseja que sejam salvos. Todos os que sao salvos sio redimidos somente por causa da obra de Cristo. Baseado na obra _ expiatéria de Jesus, Deus aceita todos os que exercem fé nelé, sem levar em consideragdo até que ponto vai o conhecimento dessas pessoas. Tanto os argumentos biblicos como os teolégicos foram - -. examinados, embora nao se tenha proposto nenhuma “prova” irrefu- ‘lave. Tudo que sé atirma ¢ que o inchusivismo prove uma solida ——— ——estritturaparaselidarconro-problemasoteriolégico-do-mal-(o-desting——— dos nao-evangelizados). A solugao inclusivista 24 problema nado ¢, absolutamente, nova; tem sido defendida na tistéria por alguns dos maiores pensadores cristéos — pessows tao diversas como Justino Martir, Abelardo, Eras- mo, Zwinglio, Jehan Wesley, William Shedd, A. H. Strong, Karl Rahner, C. S. Lewis e Wolfhart Pannenberg. O inclusivismo tem defensores dentro das diversas confissdes eclesidsticas: batistas, lute- tanos, wesleyanos, presbiterianos, quacres ¢ catélicos romanos. Além disso, o inclusivismo tem representantes que vém de diferentes cor- rentes teolégicas (tais como calvinistas e arminianos). Na verdade, o inclusivismo “provavelmente representa a abordagem que esta mais proéxima de um consenso entre pensadores cristéos atualmente”.>” Muitos cristéos devotos em toda a histéria, e procedentes de uma 60 E aqueles que nunca ouviram? vasta gama de tradigdes e teologias, téza dchado que o inclusivismo éa melhor solugao para este aspecto dy préblema do mal. Deus esté convidando uma grande multid4o para as bodas do Cordeiro. B 0 Rei que prepara a lista de convidados; e, se a parébola do casamento do filho do rei est4 nos indicando algo, aprendemos que Deus convida a todos indiscriminadamente. Muito embora nem todos aceitem o convite, esperamos ansiosamente que 0 salao de festa esteja cheio de convidados procedentes de toda tribo e nagao. Réplica a Sanders Gabriel Fackre John Sanders faz um esforgo extenuante a fim de produzir uma defesa convincente do inclusivismo, Estamos em débito para com ele por nos ter antecipado seu trabalho, bem como pela maneira justa como ele idealizou e fez introdugao deste livro. Contudo, ele nao me persuadiu sobre os méritos do inclusivismo. E eu me preocupo com as similaridades entre seu ponto de vista e o pluralismo religioso esposado nos circulos liberais protestantes e catdlicos romanos nos quais convivo. Inicio minha réplica citando alguns pontos em comum que tenho com Sanders: 1-a) Ele esta certo em sua tentativa de encontrar uma alternativa as opinides restritivistas correntes; 2-a) Ele esta certo ao encarar de frente o fato de que bilhdes de pessoas no planeta, enquanto viverem, nunca ouviram e nunca iro ouvir o evangelho; 3-a) Ele esta certo em resistir aos pontos de vista de nossa sociedade secular e pluralista de que nés, cristéos, devemos abando- nar agora nossas afirmag6es acerca da exclusividade de Jesus Cristo como 0 tnico salvador. Sanders mantém o “escandalo da singularida- de” com respeito 4 pessoa de Cristo (Cristo como verdadeiramente Deus, bem como verdadeiramente homem) ea obra objetiva de Cristo (0 papel fundamental de Cristo em revelar quem é Deus e também sua importancia como tnico reconciliador). 62 E aqueles que nunca ouviram? 4-a) Ele esta certo ao contestar a idéia de que a revelacao geral 6 Gtil apenas para condenar pecadores. Ela tem um propésito maior na sustentagéo da criagao sob o pacto feito com Noé. Mas também ha sérios problemas aqui. 1-b) Em seus t6picos iniciais sobre o Novo Testamento, Sanders faz uma boa defesa exegética de uma “esperanga maior” e do amor incansdvel de Deus em procurar os pecadores, mas as passagens discutidas (0 filho prodigo, 0 banquete messidnico, as ovelhas e os cabritos) nao tém nada a ver com o ponto especifico de sua tese de que Deus oferece um convite 4 salvagao através da revelacio geral. Tampouco a referéncia do Antigo Testamento ao Faraé. Com respei- to ao Fara6, Deus usa poderes, pessoas ¢ eventos na histéria mundial para todos os propésitos divinos (por exemplo: Assiria como 0 “cetro” da “ira de Deus” — Is 10: 5), mas nao ha base nas Escrituras para se argumentar que aos reis assirios e egipcios que Deus usou foi ofere- cida salvagao pessoal por essa razao. 2-b) Jofo 3: 16 declara que Jesus Cristo veio para que nés nao perecéssemos, mas tivéssemos vida eterna por crer nEle. Esta afirma- cao corajosa do modo como se dé a salvacao pessoal é encontrada em todo o Novo Testamento, como mostro em minhas citagdes (pag. 164). No Novo Testamento e na tradigao crista classica, crer nao € uma confianca genérica em Deus, mas uma confianga em Cristo e em sua obra salvifica. A definig&o padrao de fé na teologia crista inclui trés coisas: (J notitia, o conhecimento intelectual acerca de Jesus Cristo; {J assensus, a entrega de nossas vontades a Jesus Cristo; (2) fiducia, a confianga de nossos coragSes em Jesus Cristo. A 46 global, holfstica, nao elimina nenhuma dessas dimens6es. Naturalmente aqueles que enfatizam apenas um conhecimento men- tal c transformam a fé em uma série de enunciados e proposigdes infrutiferas deveriam ser criticados como reducionistas, como San- ders faz corretamente. Mas é igualmente errado reduzir a fé a um “principio de fé” universal sem conhecimento de Cristo. Um ponto de vista popular na tcologia contemporanea é chama- dg d.*#pressivismo experiencial”. TSustenta que o sagrado pode ser Réplica a Sanders/Fackre 63 experimentado de forma salvifica por qualquer pessoa, embora pode ser que esteja expresso numa variedade de diferentes modos religio- sos ou mesmo humanisticos. Sanders evita esta acomodagao a moder- na ideologia pluralista por sua firme énfase 4 encarnagao e expiagio. Enquanto’ diverge quanto 4 cristologia € sotcriologia objetiva, ele contudo se alinha ao pluralismo quanto a soteriologia subjetiva, climi- nando a necessidade de uma fé pessoal em Cristo para salvacao. Isso nao é “parada cardiaca cristolégica”, mas “parada cardiaca soteriolé- gica”. 3-b) Apesar da discussao de Sanders de um “prinefpio da fé” que éuma “confisaga” que nao requer “informagao” sobre Deus — “Deus nao limita sua bondade a nds pelo conhecimento que temos dele” — em suas ilustragGes, clandestinamente, ele admite a necessidade de algum conhecimento salvifico — 0 conhecimento de um Deus pessoal. Isso contradiz 0 refrao confianga-sem-conhecimento e também limita asalvagao a religides que ensinam a fé em um Deus pessoal, excluindo, através disso, as centenas de milhGes que adotam o Budismo, o Confucionismo, etc, religides que ndo sao tefstas. Como pode ser isso consistente, e como pode ser isso “inclusivismo”? O Escandalo da Singularidade O tedlogo catélico romano Karl Rahner é conkecitlo pelo seu ensino do “cristianismo anénimo”. Esta idéia tem muitos paralelos com 0 inclusivismo de John Sanders. Rahner sustenta a eseandatosa singularidade da pessoa e obra salvifica tnicas de Cristo. Além disso, ele evita a acusagiio de que ensina a salvagéo pelas obras ao afirmar que uma graga universal (com sua fonte invisivel na pessoa e obra de Cristo) pode — com alguma cooperagao — criar uma “fé implicita” dentro de pessoas bondosas que nao conhecem a Cristo. Elas podem ser salvas pela graga, através dessa fé implicita, tornando-se por esse meio “cristaos andnimos”. Rahner tem sido criticado por lagar as pessoas e trazé-las para o Cristianismo sem a permissao delas. Mas ha um problema muito mais profundo aqui. Tem a ver com a omissdo de alguns capitulos da hist6ria biblica. Depois que Deus amorosamente criou 0 mundo, a Queda levou a raga humana a degradagao. Perdemos nossa capacidade de conhe- 64 E aqueles que nunca ouviram? cer e amar a Deus como deverfamos. O ponto central da histéria da salvacgao — desde a eleigio de Israel, passando pela vinda de Deus em Crisfo, até o nascimento da igreja e o dom da fé — é restaurar-nos a Deus através de uma graca salvifica especial. Para antecipar isso, a fim de sustentar o mundo até o advento dessa graga, da qual estava alheio, Deus deu a todas as pessoas uma graga comurm no pacto feito com Noé. Esta graga preservadora e preparadora nao substitui a torrente da graga especial — a graga-da histéria da salvagdo que, por definigao, é explicita, sabendo quem € seu Redentor. Este é 0 “escdndalo da singularidade” em seu sentido mais profundo, e razao por que 0 Cristianismo tem sido, sempre, uma ofensa 4 razéo humana (“os gregos”) e uma pedra de tropego aos moralistas (“os judeus” — 1 Co 1: 23). Estes capitulos na histdria biblica — a Queda e a Graca salvifica de Cristo/fé — nao parecem justos pelos padrées eruditos modernos, especialmente quando ha tantas pessoas sdbias e boas por ai que nunca ouviram sobre Jesus! Na verdade, tal confianga na sabedoria ¢ virtude humanas é uma das convicgées do periodo do Iluminismo da historia moderna e a razio por que tantas pessoas, hoje, se ofendem diante das afirmagées cristis da singularidade de Jesus. ~ - -Karl Rahner,-apesar-de toda- sua-driedoxia,-estd-refletindo a — — influéncia do Tuminismo. Enquante cristao$ aaGnimos nao conhecem ~“sen “Salvador absolute”; podem esti ainie hen diante-de-~Deus-—— auxiliados por uma graga universal. Falta aqui o realismo da Reforma sobre nossa Queda universal: nada em nds — por nossos préprios esforcos, ou em cooperacdo com a graga comum — pode salvar nossas almas, tao somente Cristo, conhecido somente pelas Escrituras, dado somente pela graga, recebido somente pela fé - ensinos basicos da Reforma. Sem divida, Rahner esta certo de que o Cristianismo nao pode ser irracional ou imoral e, portanto, deve haver uma sabedoria e justiga em qualquer entendimento que tenhamos acerca do destino dos bilhdes que nao sao alcangados pela mensagem de Cristo enquan- to vivem. Mas 0 prego disso nao pode ser o de eliminar da hist6ria crista o escndalo da singularidade quanto ao livramento da alma do pecado e da morte, livramento este que é inseparavel do conhecimen- Sanders/Fackre 65 tc eda. confianga no ato salvifico de Deus e de Sua revelagdo em Jesus Cristo. Sanders deve responder a duas quest6es-chaves, se cle pretende defender sua verso evangélica do “Cristianismo anénimo” de Rahner: (y como ele evitou a manipulagao da histéria biblica que é evidente no “Cristianismo andénimo”? (CY onde esta a seriedade da Reforma sobre nossa Queda universal que desqualifica qualquer experiéncia humana como salvifica, a nao ser a palavra de Cristo a pecadores perdoados? Lidando com textos do Antigo Testamento Sanders da atengao a textos do Antigo Testamento que sugerem a aplicagao da obra salvifica de Cristo aquelés que nao conhecem a Jesus Cristo. Eu tenho duas respostas 4 maneira como cle trata esses textos. . Primeira: sob o verbete salvagdo, a Concordance de Cruden apresenta dois significados: “[1] Preservagéo dianie do problema ou pezigo. [2] Livramento do pecado e de suas conseqiiéncias”. As 58 citagoes do Antigo Testamento que aparecem caem principalmente, ao-exclusivament Judeus individualmente, ¢ mesmo daqueles que estao fora de Israel) ~—de-seus inimigos, das misérias, da opressao, da tristeza. Isso nao ¢ livramento do pecado, mas livramento da dor. A categoria 1 tema ver com coisas deste mundo — salvagio horizontal, por assim dizer — niio com a salvagao vertical da categoria 2, salvagio de um pecador diante do julgamento de Deus. Deus realmente livra pessoas das dificuldades bem como do pecado, e nado somente judeus e cristaos. Tal livramento pode vir aqueles que vivem sob 0 sinal do arco-iris, 0 pacto com Noé. Pela graga, eles podem ser salvos da “dificuldgcle e do perigo”. Portanto, a “graga comum’”, neése Ultimo caso, nog, é dada para que tenhamos mais do que simplesmente a condenacéa de. pecado, mas é insuficien- te para trazer a salvacdo do pecado. Segunda: uma longa tradigdo no Cristianismo afirma a salvagao pessoal daqueles que tém a fé “abraaniea’*, baseada na profunda 66 E’aqueles que nunca ouviram? discussao de Paulo em Romanos 4. Aqui, portanto, est4 um reconhe- cimento da justificagéo pela fé antes do conhecimento de Cristo. Mas esta fé tem a ver com a resposta as acGes salvificas de Deus entre um povo escoliido onde a palavra de misericérdia é dada e ouvida de modo singular. Isto é £€ no curso da histéria da salvagao, nado um “principio de fé” generalizado. Como se relaciona a fé abrafimica 4 fé em Cristo? Temos de ler tanto o texto de Romanos 4 como a referéncia aos crentes do Antigo ‘Testamento canonicamente, com atengao especial em manter juntas averdade de que “se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coracao, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serds salvo” (Rm 10: 9) com a expressao “todo o Israel sera salvo”, (Rm 11: 26). Os pais da igreja antiga (Justino, Irineu, Clemente de Alexandria, Origenes, Hipdlito e outros) que ensinayam que os judeus crentes — Os pattiarcas — irao aprender, no mundo dos mortos, que o seu Salvador era Cristo, estavam no caminho certo. Eles foram antigos expocntes da perseveranga divina. Neste caso, contudo, a doutrina nao tinha nada a ver com o evangelho pregado pela primeira vez aos nao-alcangados, mas com o conhecimento de que a pessoa e obra de Jesus Cristo séo a fonte da fé abradmica. John Sanders esta certo no que ele afirma — a centralidade da -——-encarnagiie-e-expiagdo-e-a-vontade universal de-Deus-de-salvar-Eu— creio que ele esta errado_no que cle nega; pois 5a salvacado_pessoal 6... inscparayel da confissio de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Réplica a Sanders Ronald H. Nash Esta réplica ao capitulo de John Sanders sobre 0 inclusivismo comega com um apelo urgente ao Ieitor para ignorar o restante deste material até que, primeiro, tenha lido meu longo capitulo sobre o estritivismo. Ha duas raz6es para isso. O espaco limitado que cada um de nds tem para elaborar a réplica significa que as informacées importantes de que vocé precisa para avaliar o inclusivismo aparecem sSomente em meu capitulo mais extenso. Segundo, vocé seri incapaz de entender os pontos mais importantes desta réplica, a menos que tenha lido, primeiro, minha andlise mais completa no outro capitulo. ~ ~Porisso eu-coloco no-mew texto alguns i — ~Porisso eu:coloco no-mew texto alguns nao deveria prosseguir na [eitura até compictar o estudo do outro ~~“capittilo mais longo que éscre r wk ok Oinclusivismo é uma teoria engragada. Quanto menos vocé sabe sobre ele, mais atraente ele parece. Mas, quanto mais perto vocé chega dele, mais dbvias se tornam suas Jacunas c imperfeicdes. O capitulo de John Sanders sugere sua aversio para com os cristaéos que enfatizam aimportancia do con hecimento; ele as chama de gnésticos, por causa de uma das mais antigas heresias cristds, Eu. suspeito que ha muitas coisas que ele nao quer que os cristéos saibam sobre o inclusivismo. Eu discordo de qualquer teologia que sugira algo assim: “é feliz quem nao sabe de nada”. Eu creio que devemos saber tuda o que podemos sobre a f€ crista, inclusive o papel absolutamente inevitavel 68 Eaqueles que nunca ouviram? que 0 copkeciniento desempenha nela. Eu também creio que deve- mos saber iucio que podemos sobre religiées nao-cristas, inclusive todos os aspectos dessas religides que tornam tao dificil para seus seguidores na pratica satisfazer as condigdes do proprio Sanders para a salvagao inclusivista. E, finalmente, eu creio que nds temos direito de saber ainda muito mais acerca de elementos do inclusivismo sobre os quais Sanders passa muito rapidamente. Sobre a Forma Como Sanders Maneja as Escrituras O modo seriamente falho com o qual Sanders lida com 0 material do Exodo sobre Farad nao é de forma alguma casual. Talvez seja a parte principal de sua tentativa de invalidar a abundante sustentacio biblica para o restritivismo. Sanders cré que a narrativa do Exodo mostra “que 0 amor € a graca de Deus foram revelados mesmo ao faraé que estava brutalmente oprimindo o povo de Israel”. Na verda- de, Sandérs i insiste, durante toda a confrontagao entre Moisés e Farad, Deus estava fazendo o melhor! para trazer Faraé. 2 uma relagao salvifica consigo. Um exame cuidadoso deste materia! ¢ importante, pois descobriremos que esta nao é a tinica vez em que o tratamento que Sanders da A evidéncia biblica parece suspeito, como se ele estivesse impondo suas teorias 4s Escrituras ao invés de extrai-las da Biblia. Basico aos argumentos de Sanders sobre os melhores esforcos de Deus para salvar Fara é a argumentacao de que a palavra hebraica traduzida por “conhecer” nos capttulos relacionados ao assunto “traz consigo a idéia de um conhecimente pessoal e redentor”. O procedi- mento de Sanders em tuxo isso € um exemplo de uma falacia no estudo de patayras, conhecica como “carregar-palavra”. Isto ocorre toma © signifecade que uma palavra tem em um contexto Pp ‘ocura importar o mesmo significado para um outro bem diferente. E verdade que a palavra hebraica “conhecer” (yadah) pode referir-se a um “conhecimento pessoal ¢ redentor” (veja Jr 31: 34). Mas a palavra certamente nao tem esse significado em todos os contextos. Em nossas passagens no livro de Exodo, a palavra hebraica ki (que) segue o verbo “conhecer” nos trés exemplos que Sanders cita (Ex 7: 5, 17; 8: 10). Esta construgdo indica nado um conhecimento pessoal, mas um conhecimento objetivo do fato. Os versos em questao Réplica a Sanders/Nash 69 nao significam que Deis estava procurando trazer Farad para um relacionamento pessoal com ele, mas que, depois das manifestagées do poder de Deus, Fara6 ira finalmente saber que Javé € 0 verdadeiro Soberano e Senhor. Este é 0 mesmo conhecimento objetivo que pecadores perdidos terao no julgamento final. A idéia de que Deus estava procurando a salvacéo de Faraé esta completamente ausente da narrativa do Exodo. A alegacao de Sanders de que o endurecimento do coragaéo que provinha de Deus significava que Ele estava, de fato, fortalecendo o coragao de Faraé é outro exemplo de “carregar-palavra”. Enquanto 9 verbo usado (hazaq) pode significar “fortalecer”, esse sentido obviamente nao esté presente no contexto. Se Deus houvesse procu- rado fortalecer 0 coragao de Faraé naquele sentido, resultados posi- tivos teriam sido evidentes, Cada circunstdncia do endurecimento do coragao de Farao é precedida de uma declaragao da intencao de Deus de assim o fazer, seguida por um relato do endurecimento, vindo, depois, as alusdes A resisténcia de Faraé aos propositos de Deus. Leitores cuidadosos detectario facilmente as muitas indicagdes do comportamento e comentarios insinceros de Farad. A palavra hazag € claramente usada em Exodo para indicar dureza de coragao. O fato de que os servos de Faraé foram endureci- dos € mesmo assim imploraram a Faraé que libertasse os israelitas nada significa a esse respeito. Eles meramente quiseram ficar livres das pragas. Nao ha nenhum sinal de arrependimento ou de fé por parte deles. Embora as pragas ocorressem com propésitos redentores, esse nao era seu fim tiltimo. Sanders néo entende que a gloria de Deus é 0 alvo de Sua obra. A salvacao dos justos é sempre acompanhada da retribuicdo divina contra os impios. As palavras de Jesus na inaugu- ragao de seu ministério indicam que ele nao tinha vindo para salvar a todos (Lc 4: 24-28). . O comentario de Sanders sobre Jonas omite o ponto principal do versiculo citado. Naturalmente, crentes deveriam procurar evangeli- zar nao-crentes! Nds deverfamos ver todos como “potencialmente eleitos”, visto que somente Deus sabe quem so os eleitos. 70 E aqueles que nunca owviram? Quando Sanders se volta para 0 Novo Testamento, em um esforgo para contradizer a abundancia de textos que ensinam o res- tritivismo, o melhor que #é pede fazer é apelar para pardbolas, como a do filho prédigo ea dag as do filho do rei. Leitores perspicazes irdo reconhecer quio tencienvioso é 0 tratamento que ele da a essas passagens. Estudantes cuidadosos da interpretagao biblica sabem que passagens literais e diddticas t¢m precedéncia sobre parabolas. Uma doutrina esta claramente cm problema se a tinica base para ela vier de textos obscuros ou de parabolas. De igual interesse € a omissio de Sanders por nao disculir as muitas passagens do Novo Testamento que ensinam 0 resttitivismo. Nao tenho consciéncia de us sé lngar em seus escritos onde Sanders se ocupe do texto de Joa “Ouem nele cré [em Jesus] nao é julgado; 0 que nao eré ja eet: Ailgade, gorquanto nao cré no nome do unigénito Filho de Deus”. Panipasce se volta ele, até onde eu saiba, para o texto de 1 Joao 342: “Aguele que tem o Filho tem a vida; aquele que ndo tem o Filho de Deus nao tem a vida”. E meu capitulo sobre 6 sestritivismo contém referéucias a numecrosos outros textos € arguientes. Enquanto estamos ocupados, debatendo qual de nossas trés posiges é a verdadeira, nao vamos presumir que falte ao restritivismo base biblica significativa. Nao vamos tentar descartar todo esse mate- rial por apresentar uma interpretagao questiondével da maneira como Deus tratou com Fara6, juntamente com uma ou duas pardbolas do Novo Testamento. O Papel do Conhecimente na Salvagio Sanders admite que fé deve incluir verdade e conhecimento.2 & impossivel existir fé salvifica sem verdadcira informagdo sobre o objeto dessa fé, neste caso Deus. Nas palavras de Sanders: “A fé genuina em Deus contém alguma verdade sobre Ele, seja tal verdade proveniente da Biblia ou da obra de Deus na criagao.” Isto € bom, enquanto Sanders nao sujeita esta verdade 4 morte por causa de uma infinidade de restrigdes. Sanders, entao, levanta a quest&o de quanta informagdo é neces- sdria numa relagao salvifica com Deus. Visivelmente ansioso para evitar qualquer sugestao de que esse conhecimento deva incluir infor-

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