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1 SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Constituído o Crédito Tributário, este passa a ter presunção de certeza,


liquidez e exigibilidade, fazendo com que o sujeito passivo não possa se abster de
cumprir a obrigação tributária a ele imposta e em caso de descumprimento, gera a
possibilidade da Fazenda Pública, conforme assevera Sabbag, “utilizar os meios
executivos para recebimento judicial do importe tributário correspondente” (2017, p.
1188).

Contudo, existem hipóteses em que a exigibilidade do crédito tributário


pode ser suspensa, conforme o Código Tributário Nacional em seu artigo 151,
alterado pela Lei Complementar nº 104/2001, transcrito in verbis:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

I - moratória;

II - o depósito do seu montante integral;

III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras


do processo tributário administrativo;

IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.

V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em


outras espécies de ação judicial;

VI – o parcelamento.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o


cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação
principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes.

Conforme sintetiza Paulsen (2017, p. 258), as referidas hipóteses levam


em consideração se foi dado prazo para pagamento do tributo ou penalidade, no
caso da moratória ou de parcelamento, se há incerteza quanto à existência do
crédito, por meio de questionamento da certeza, liquidez e exigibilidade do crédito
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tributário através de reclamação por parte do contribuinte ou recurso não apreciado


no âmbito administrativo, ou de suspensão por decisão judicial movida pelo
contribuinte através de mandado de segurança ou qualquer outra ação judicial
pertinente, como a Ação de Repetição de Indébito ou Embargos à Execução por
exemplo, bem como se o crédito está garantido por depósito em dinheiro.

Importante ressaltar que o rol descrito no artigo 151 do CTN é taxativo,


em virtude do disposto no artigo 141 do próprio CTN, o qual determina que “o crédito
tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua
exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais
não podem ser dispensadas”.

Para Harada, “a suspensão da exigibilidade do crédito tributário é sempre


de natureza temporária. A suspensão não importa na desconstituição do crédito
tributário, que continua intacto desde sua constituição definitiva pelo lançamento,
notificado ao sujeito passivo” (2017, p. 398).

Como regra geral, “a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, por


quaisquer das hipóteses do art. 151 do CTN, impede que o Fisco cobre o respectivo
montante do contribuinte e que o considere como simples inadimplente” (Paulsen,
op. cit., p. 266).

Porém, há de se ressaltar que existe a possibilidade de ocorrer algumas


das hipóteses de suspensão do crédito tributário antes do lançamento do respectivo
crédito, conforme exemplifica Alexandre a seguir:

É possível, por exemplo, que seja concedida uma liminar em


mandado de segurança mesmo antes da constituição do crédito.
Nesse caso, a jurisprudência tem afirmado que a autoridade fiscal
não fica impedida de realizar o lançamento, pois o que a liminar
suspende é a exigibilidade do crédito e não a possibilidade de
constituí-lo. (2017, p. 466)
Porém, mesmo que a suspensão do crédito tributário se dê antes do
lançamento, a Fazenda Pública deve efetuar o lançamento, “pois, se as causas de
suspensão fossem impeditivas de lançamento, haveria o risco de o Fisco ver esvair-
se o prazo para a constituição do crédito sem poder tomar qualquer providência por
estar legalmente impedido” (idem, p. 467). Assim, por não suspender o direito do
Fisco de efetuar o lançamento do crédito tributário, a suspensão da exigibilidade não
suspende o prazo decadencial para o lançamento do tributo. Por isso, se faz
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necessário o lançamento do crédito, porém, sem determinação de prazo para o


pagamento, bem como não devem ser definidos encargos decorrente do não
pagamento. Estas informações devem acompanhar o documento que representa a
cobrança do tributo e deve conter a expressão "suspenso por medida judicial".

Ademais, com a incidência de alguma das hipóteses do art. 151 do CTN,


surgem dois efeitos distintos que desobrigam o sujeito passivo de cumprir a
obrigação tributária, o impedimento da cobrança do crédito tributário, caso não
esteja lançado, e a suspensão da exigibilidade do crédito, caso o tributo já esteja
lançado. Tal diferenciação não é feita pelo CTN, o qual cita “causas de suspensão
da exigibilidade do crédito tributário”, todavia é “justificada pelo fato de que somente
se pode suspender o que já estava em andamento, o que, em se tratando de
exigibilidade de crédito tributário, somente se verifica nos casos em que já havia
lançamento definitivo” (ibidem, p. 467). Contudo, em ambos os casos a finalidade é
a mesma: impedir a cobrança judicial do crédito tributário por meio de execução
fiscal.

Neste ponto, há de se fazer uma observação, no caso do inciso III


(reclamações e os recursos, por meio de processo tributário administrativo) e VI
(parcelamento), não comportam impedimento da cobrança do crédito tributário,
apenas suspensão, pois não é possível impugnar administrativamente crédito ainda
não lançado, bem como não se pode parcelar crédito ainda não lançado. A
moratória, mesmo guardando inúmeras semelhança em relação ao parcelamento,
cabe impedimento, pois “a redação do art. 154 do CTN possibilita que a lei
excepcionalmente conceda moratória de crédito cujo lançamento não tenha sido
iniciado” (ibidem, p. 467).

Este é o entendimento do STJ, explicitado através dos acórdãos a seguir:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
IPTU. CONCESSÃO DE LIMINAR EM MANDADO DE
SEGURANÇA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO.
LANÇAMENTO. NÃO IMPEDIMENTO. 1. A jurisprudência desta
Corte orienta-se no sentido de que a suspensão da exigibilidade
do crédito tributário na via judicial impede a prática de qualquer
ato contra o contribuinte visando à cobrança de seu crédito, tais
como inscrição em dívida, execução e penhora, mas não
impossibilita o Fisco de proceder ao lançamento com o
desiderato de evitar a decadência, cuja contagem não se sujeita
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às causas suspensivas ou interruptivas. [...] 2. Agravo regimental


não provido.
(STJ - AgRg no AREsp: 356479 SP 2013/0177391-1, Relator:
Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 05/04/2016,
T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 08/04/2016)
(grifou-se)

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. LANÇAMENTO


POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. PRAZO QÜINQÜENAL.
MANDADO DE SEGURANÇA. MEDIDA LIMINAR. SUSPENSÃO DO
PRAZO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Nas exações cujo lançamento se faz
por homologação, havendo pagamento antecipado, conta-se o prazo
decadencial a partir da ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do
CTN), que é de cinco anos. 2. Somente quando não há pagamento
antecipado, ou há prova de fraude, dolo ou simulação é que se aplica
o disposto no art. 173, I, do CTN. 3. A suspensão da exigibilidade
do crédito tributário na via judicial impede o Fisco de praticar
qualquer ato contra o contribuinte visando à cobrança de seu
crédito, tais como inscrição em dívida, execução e penhora, mas
não impossibilita a Fazenda de proceder à regular constituição
do crédito tributário para prevenir a decadência do direito de
lançar. 4. Embargos de divergência providos.
(STJ - EREsp: 572603 PR 2004/0121793-3, Relator: Ministro
CASTRO MEIRA, Data de Julgamento: 08/06/2005, S1 - PRIMEIRA
SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJ 05/09/2005 p. 199 RDDT vol.
123 p. 239) (grifou-se)

As causas de suspensão de exigibilidade do crédito tributário suspendem


o prazo prescricional do direito de ação de execução fiscal, porquanto é o prazo de
que dispõe o Fisco para a cobrança, “só correndo quando lhe é permitido agir no
sentido de buscar a satisfação do seu crédito” (Paulsen, 2017, op. cit., p. 268).
Outro importante efeito é a possibilidade de emissão de certidão positiva
de débitos com efeitos de negativa (art. 206 do CTN) em nome do contribuinte. Pois,
“o crédito tributário, embora constituído, não pode ser oposto ao contribuinte para
restringir seus direitos e prerrogativas quando esteja desprovido de exigibilidade. Daí
atribuir-se à certidão positiva, nesses casos, efeitos de negativa” (idem, p. 268).
Agora passamos a analisar separadamente cada uma das hipótese
previstas pelo art. 155 do CTN.

1.1 MORATÓRIA
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A moratória, define Harada como sendo “outra coisa não é senão a


dilação do prazo de pagamento de tributo com base na lei” (2017, op. cit., p. 398).
Em consequência disto, Sabbag descreve que “a moratória consiste num acordo
entre credor e devedor, regido pelo indigitado postulado” (2017, op. cit., p. 1198).
Assim, mesmo que exista um acordo entre a Fazenda Pública e o contribuinte, este
se submete as regras impostas por aquele, o que ao nosso ver assemelha-se aos
contratos de adesão do direito público.

A moratória é instituída por lei ordinária, podendo ser específica, a qual


“concedida por lei emanada pela pessoa jurídica de direito público competente para
instituir o tributo, beneficia as pessoas que preencherem determinados requisitos,
cujo direito ao favor será reconhecido por despacho da autoridade administrativa”
(Sabbag, 2017, op. cit., p. 1200), ou geral, “concedida por lei emanada pela pessoa
jurídica de direito público competente para instituir o tributo, protege a generalidade
dos sujeitos passivos, sem necessidade de despacho da autoridade administrativa”
(Sabbag, 2017, op. cit., p. 1200). Esta última pode ainda ser dividida ainda em
autônoma, concedida pelo ente que instituiu o tributo, a qual é a regra, ou
heterônoma, concedida pela União sobre os tributos de competência dos demais
entes federados. Vale destacar que para este tipo de moratória ser concedida a
União deve conceder, simultaneamente, moratória dos próprios tributos federais e
de suas obrigações de direito privado (Sabbag, 2017, op. cit., p. 1201).

A moratória concedida em caráter geral proporciona direito adquirido do


contribuinte dispensando da apresentação de garantias para aquisição do benefício,
já a moratória não gera direito adquirido por força do art. 155, caput, do CTN, e será
revogada de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou
de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para
a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora.
O art. 153 do CTN pressupões determinados requisitos para concessão
da moratória, conforme transcrito in verbis:

Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize


sua concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de
outros requisitos:
I - o prazo de duração do favor;
II - as condições da concessão do favor em caráter individual;
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III - sendo caso:


a) os tributos a que se aplica;
b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a
que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros
à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter
individual;
c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso
de concessão em caráter individual.

O art. 154 do CTN estabelece que, salvo disposição de lei em contrário, a


moratória abrange apenas os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou
do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data
por ato regularmente notificado ao sujeito passivo. Contudo, Alexandre explica que é
possível a “extensão do benefício somente para créditos lançados ou em fase de
lançamento, o que é. razoável, pois a moratória é causa de suspensão do crédito, e
não havendo lançamento não há crédito” (2017, op. cit., p. 1200).

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 11ª. ed. rev. atual. e amp. Salvador:
JusPodivm, 2017.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: DF. Senado,


1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm >. Acesso em 05 set. 2017.

______. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Brasília: DF, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L5172Compilado.htm>. Acesso em 05 set. 2017.

CEARÁ. Constituição (1989). Constituição do Estado do Ceará, 1989. Fortaleza:


INESP, 2016.

AMARAL, Roberto Alexandre do. Análise histórica sobre o REFIS – uma visão
sob o aspecto do CPC 25 – IAS 37. 38 f. Orientador: Prof. João Aristides de
Morais. Monografia (Especialização em Auditoria Interna e Externa) - Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
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HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 26ªed. São Paulo: Atlas. 2017.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 37ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2016.

PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 8ª. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

QUINTANILHA, Gabriel Sant’Anna; PEREIRA, Felipe Carvalho. Mandado de


segurança no direito tributário. 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017.

SABBAG. Eduardo de Moraes. Manual de Direito tributário. 9ª ed. São Paulo:


Saraiva, 2017.

_______. Elementos do Direito tributário. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e


jurisprudência. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

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