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Perspectivas, S ã o Paulo,

3: 29-50, 1980

A A N T R O P O L O G I A E OS D I L E M A S D A E D U C A Ç Ã O
I. Margaret Mead e a Educação. II. A África convida a pensar
sobre a Educação. III. Repensando a Educação.
Silvia Maria Schmuziger de Carvalho *
Oswaldo Martins Ravagnani * *
Najla Lauand * * *

PERSPECTIVAS/17

CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N . A Antropologia e os di-


lemas da Educação. Perspectivas, São Paulo, 3: 29-50, 1980.

RESUMO: Tentativa de avaliação da contribuição que o estudo de outras


culturas pode oferecer para se repensar a E d u c a ç ã o na sociedade moderna, a
E d u c a ç ã o no Brasil de hoje. Revisão crítica da obra de Margaret Mead, como
representando a maior contribuição da Antropologia americana voltada para o
estudo das relações entre E d u c a ç ã o , Cultura e Personalidade. Os dilemas da Edu-
cação na África, a partir de um conto de Munanairi. Algumas considerações sobre
os pontos fundamentais a serem repensados e o significado de "tradição".
U N I T E R M O S : Antopologia; e d u c a ç ã o ; Margaret Mead e sua obra. "Tradi-
ção" na África e no Brasil.

I. MARGARET MEAD E ras que não a nossa, privilegie posssivel-


A EDUCAÇÃO mente a contribuição dela neste campo.

Podem os estudos antropológicos Margaret Mead (****) sempre pro-


contribuir para esclarecer e recolocar curou utilizar seus conhecimentos de
outras culturas para formular considera-
sob novos enfoques a problemática an¬
ções críticas sobre a cultura e civilização
gustante da educação na sociedade mo-
ocidental, e apontar novas possiblidades
derna ocidental?
e soluções.
Claro que sim. Assim como o po-
dem a Psicologia, a Sociologia e outras Via na observação do processo edu-
Ciências Humanas, embora o fato da cativo e na análise das transformações
Ciência Antropológica lidar há mais tem- que ocorrem na criança e em relação a
po, tradicionalmente, com outras cultu- ela, desde a primeira infância até a ma-

* Professor Livre Docente do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia do Insti-


tudo de Letras Ciências Sociais e Educação — Campus de Araraquara, UNESP.
** Professor Assistente Doutor do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia
do Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação — Campus de Araraquara, UNESP.
*** Professor Assistente Doutor do Departamento de Lingüística do Instituto de Letras,
Ciências Sociais e Educação — Campus de Araraquara, UNESP.
a
**** É muito vasta a obra de M . Mead. Na 2. edição de (8) constam 58 títulos
de obras suas. E ela não parou de escrever até sua morte, ocorrida recentemente.

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CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N . A Antropologia e os dile-
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turidade, a melhor maneira de se estudar conmoción, sino que Ias condiciones cul-
uma cultura. turales la hacen a s í . . . " (4:241). En-
E é nesta perspectiva que sempre tretanto esta era a situação do adoles-
orientou suas observações entre povos cente de sua sociedade. A o analisá-la
"primitivos", estabelecendo a seguir pa- descobre duas causas principais: presen-
ralelos entre as culturas estudadas e a ça de normas antagônicas e a crença de
cultura ocidental ou, mais particularmen- que cada indivíduo deve realizar suas es-
te, a cultura norte-americana. colhas e que estas lhe são de vital im-
Em 1924 voltava de Samoa, onde portância, como seleção de emprego, fu-
estivera durante 9 meses. Dois anos de- tura profissão, marido ou esposa, partido
pois começou a escrever seu primeiro l i - político, etc. E estas escolhas devem ser
vro, publicado em 1928 com o título feitas muito cedo, sem que tenham sido
Coming of age in Samoa. Neste livro preparados para fazê-los com liberdade.
estuda os problemas da adolescência em A família quase sempre impõe suas
Samoa. Em suas conclusões tece conside- idéias ao adolescente, ou pressionando-os
rações sobre as diferenças entre a menina através da concessão de dinheiro, caindo
samoana e a norte-americana. por terra esta autoridade quando obtém
Mead ficou impressionada com a a independência econômica (4:245-6),
homogeneidade da cultura nativa, homo- ou por pressões emocionais, ameaçan-
geneidade essa que, observa ela, resulta do-os de perderem sua simpatia e apoio
numa sociedade sem conflitos, enquanto caso sigam outros ideais (4:248).
a norte-americana, heterogênea, apre-
sentava tantos conflitos, frustrações, neu- Preocupada com esses problemas
roses, desentendimentos, etc. (*). No Mead procura uma maneira de educar os
entanto diz que 'nos hallamos frente a jovens tentando reduzir seus problemas
una encrucijada y debemos decidimos a e ao mesmo tempo preservando sua indi-
avançar hacia una heterogeneidad más vidualidade, baseada no que aprendera
ordenada, o retiramos assustados hacia em Samoa. Assim, escreveu que "es ne-
un padrón único que desperdiciará nueve cessário orientar todos nuestros esfuerzos
décimos de Ias potencialidades de la es-
educativos a adiestrar a nuestros niños
pécie humana para que podamos gozar
para Ias elecciones que deveran abordar.
una seguridad demasiado cara. Tenemos
oportunidad de concebir, y empezar a La educación, en el hogar aún más que
construir sobre la base de tal concepción, en la escuela, en vez de constituir la de¬
un mundo que será tan nuevo, por la fensa especial de um régimen, una tenta-
ordenada interación de los múltiples do- tiva desesperada por formar un hábito
nes del hombre, como lo es el actual por mental particular, que resista todas Ias
la utilización tecnológica de los recursos influencias exteriores, debe ser una
físicos" (4:27). preparación para esas mismas influen-
De seu estudo sobre os samoanos cias. Tal educacion debe prestar
concluiu que "la adolescência no es ne- mucha mayor atención de la que hasta
cessariamente un período de tension y ahora se ha concedido a la higiene men-

(*) "Si tomamos cinco sociedades como datos en todo el problema de la homo-
geneidad contra la heterogeneidad, de los modelos únicos para todos contra una tolerância
cultural de la diversidad, o qué descubrimos? Cuando una sociedad es homogénea, los
conflictos, Ias confusiones de una sociedad heterogénea están ausentes." (4:24)

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tal y física. L a niña, para poder escoger rigidez dos programas fascista e comu-
sensatamente, debe ser sana mental y nista, o primeiro como padronizador da
corporalmente, . . . Mas importante aún "personalidade de homens e mulheres
resulta el que esta niña del futuro posea como claramente contrastantes, comple-
un espiritu amplio . . . Debe enseñarse a mentares e opostos" (15:295), o segun-
Ias ninas como pensar, no qué pensar . . . do não reconhecendo "qualquer distinção
Debe enseõarseles que se los cuales es na personalidade aprovada de ambos os
sexos" (15:295).
chos caminos, ninguno de los cuales es
obliagtorio en sí, y que solamente a ellas
cabe la responsabilidad de elegir . . . pa- "Uma civilização . . ., aconselha ela,
gamos harto caro por la nuestra hetero- poderia evitar de guiar-se por categorias
génea y rapidamente cambiante (civili- como idade ou sexo, raça ou posição he-
reditária numa linha familial e, em vez
zación) . . . En tal lista de precios, debe-
mos contar nuestros benefícios cuidado- de especializar a personalidade ao longo
samente . . . y en primer lugar considere- de linhas tão simples, reconhecer, treinar
mos esta possibilidad de eleción,... e dar lugar a muitos talentos tempera-
(4:251-2) mentais diferentes. Poderia construir so-
bre as diferentes potencialidades que ela
tenta agora artificialmente extirpar em
Mesmo sete anos mais tarde (Sex algumas crianças e criar em outras"
and temperament in three primitive so- (15:301).
cieties (*), esta contribuição crítica é
ainda bastante formal e tímida. Em 1935
E conclui:
(por ocasião da primeira edição do l i -
vro), Mead sentia naturalmente sua pró-
"Se quisermos alcançar uma cultu-
pria cultura, ou melhor, a civilização
norte-americana a que pertencia, como ra mais rica em valores contrastantes,
revolucionária e libertadora (* *). Per- cumpre reconhecer toda a gama das po-
cebendo claramente o mecanismo através tencialidades humanas e tecer assim uma
do qual a sociedade molda a personali- estrutura social menos arbitrária, na qual
dade de seus membros, ela vê na socie- cada dote humano diferente encontrará
dade americana a inversão de certos pa- um lugar adequado" (15:303).
drões tradicionais europeus. Ela fala des-
ta sociedade com um misto de entusias- O prefácio à edição de 1950 nos
mo pela democracia, no estilo de "O pe- mostra a mesma atitude otimista e, em
queno Lord", e de crítica à ambigüidade 1963, o entusiasmo da autora é um re-
da situação americana, que ela opõe à flexo das recentes conquistas espaciais,

(*) É provavelmente a obra de M.Mead mais conhecida no Brasil.


(* *) "Por ser o condicionamento social o determinante, foi possível à América, sem
um plano consciente, mas nem por isso menos seguro, inverter, em parte, a tradição européia
da dominação masculina e preparar uma geração de mulheres que regulam suas vidas
pelos padrões de suas professoras e de suas mães agressivas e orientadoras. Seus irmãos
andam aos tropeções numa vã tentativa de preservar o mito da dominação masculina numa
sociedade onde as moças passaram a considerar este predomínio como seu direito natu-
ral."(15:293-4). Revolucionárias também são, para a época, as próprias observações da
antropóloga, denunciando como falsa a opinião geralmente aceita de que o temperamento
estaria ligado ao sexo, sendo consequentemente inato.

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com encantadora ingenuidade (*). mercantiles, la amistad se emplea


para el comercio y no se conoce
Num livro anterior, Growing up in praticamente nada que signifique
New Guinea, (**) Margaret Mead traça hacer el amor. E l hombre ideal
um curioso paralelo entre a sociedade de Manus no tiene ocio; se halla
Manus e a dos Estados Unidos: siempre en actividad, tratando de
convertir en diez sartas de con-
"Igual que en este país" (E.U.A.), chas monetarias las cinco que
"no se ha pasado en Manus de tiene en su poder." (11:13).
la etapa primaria de ganarse la
vida a la menos inmediata de A autora chega a mostrar desapon-
vivir la vida como una arte. Igual tamento por não encontrar entre as crian-
que en los Estados Unidos, se ças nativas os jogos e fantasias que ca-
respecta el trabajo y se juzga el racterizam a criança civilizada:
hombre según su habilidad y su
éxito económico. E l soñador que "Ese grupo de niños tiene plena
se aparta de las tareas de la pes- libertad para jugar durante todo
ca o del mercado y que por con- el dia; pero desgraciadamente pa-
seguinte sólo puede hacer una ra los teorizadores, sus juegos
pobre exhibición en la próxima son semejantes a los de pequeños
fiesta, es despreciado por inepto. perrillos o gatitos. No contando
Los manus no tienen artistas, pe- con la ayuda de las ricas suges-
ro, a semejanza de los norte- tiones que los niños de otras so-
americanos, compran los arte- ciedades reciben en sus juegos de
factos de sus vecinos, pues son la admirada tradición de los adul-
más ricos que éstos. Conceden tos, viven una infancia estúpida,
poca importancia a las artes del desprovista de interés, retozando
ocio, a la conversación, al alegremente hasta quedar agota-
relato de leyendas, a la mú- dos, para echarse luego y perma-
sica, a la danza, a la amistad y necer inertes, sin aliento, hasta
al amor. L a conversación tiene descansar lo suficiente para vol-
un propósito determinado, los ver a retozar." (11:13)
relatos son breves y mui poco
estilizados, el canto es para los
Sempre influenciada pela psicolo-
momentos de aburrimieto, la dan-
gia (***) e expoente da escola america-
za sirve para celebrar convenios
na da cultura e personalidade, a antro-

( * ) "Desde que este livro foi escrito, passamos a considerar-nos, talo seriamente
quanto possível, uma espécie de criaturas vivas, num universo que pode conter outras
espécies de criaturas vivas, talvez mais inteligentes do q¡ue nós. Essa possibilidade acrescenta
novo sabor à exploração de nossas próprias potencialidades — como membros de uma
espécie, incumbida de preservar um mundo ameaçado. Cada diferença é preciosa e deve
ser cuidada com carinho." (Em fevereiro de 1962, o primeiro "astronauta" americano,
John Glenn, revidava as façanhas russas do ano anterior, realizadas por Gágarin e Titov.)
(**) Usamos a versão castelhana (11). Margaret Mead estudou os Manus (ilhas do
Grande Almirantado) logo depois de seu trabalho de campo em Samoa.
(***) Veja-se, na referida obra, o apêndice "El método etnológico em la Psicologia So-
cial" (11:175-182).

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póloga continua a buscar modelos ou ciative or the exercise of power


contra-modelos "primitivos" para os over persons, a faith in an orde-
processos educacionais de seu tempo e red universe, weak emphasis upon
de sua sociedade: rising in status, and a high de-
gree of security for the indivi-
" . . . teorias que sirven de base dual."
a la creación de planes educa-
cionales y de escuelas de psico- Observe-se que as sociedades com-
logia." (11:178). paradas representam culturas que estão
em maior ou menor contato com a civili-
Assim, num exaustivo trabalho pu- zação, além de possuírem economias dife-
blicado em 1937 (7), procura avaliar as rentes, baseadas em gêneros de vida
tendências cooperativas, competitivas e diferentes. Percebe-se que a antropóloga
individualistas de 13 sociedades (Manus, pretende deduzir, a partir de uma maior
Kwakiutl, Ifugao, Bachiga, Ojibwa, Es- ou menor ênfase dada à competição (em
kimo, Arapesh, Maori, Dakota, Bathon- oposição à cooperação) — e como se
ga, Zuni, Samoa e Iroquesa), visando uma esta ênfase fosse uma decisão consciente
classificação das mesmas (p.461). Ten- dos membros da tribo — outras carac-
ta apanhar num sumário (p.497 e segs.) terísticas da sociedade. Encontramos aí,
os principais determinantes referentes ao portanto, novamente, a pressuposição de
"desenvolvimento do ego" e à "seguran- que é a educação que conduz a essas di-
ça", responsáveis pela formação do cará- ferenças e que pode, portanto, alterá-las.
ter nessas sociedades. As conclusões
principais deste levantamento, à p.511, Mead parece prever, num artigo so-
são: bre a educação em Bali (6) onde fez
trabalhos de campo em 1936-39, a im-
"There is a correspondence portância que assumiria o psicodrama
between: a major emphasis upon como terapia moderna, ao observar como
competition, a social structure o teatro permite à criança balinesa, re-
wich depends upon the iniciative primida a ponto de nunca reagir, segundo
of the individual, a valuation of a autora, um meio de expansão, por
proterty for individual ends, a sin- transferência, de seus impulsos agres-
gle scale of succes, and a strong sivos (*).
development of the ego. There is
a correspondence between: a Em plena guerra (1942) publica
major emphasis upon coopera- And keep your powder dry, defendendo
tion, a social structure which does com muita veemência, frente ao mito
not depend upon individual ini- ariano, o ideal anti-racista (**).

(*) "But day after day, as the child is prevented from fighting, he sees magnificent
battles on the stage, and the children are part of the crowd that streams down to the
river bank to duck some character in the play. He sees the elder brother — who must
always be deferred to the real life — insulted, tricked, defeated, in the theater. When his
mother teases him in the eerie, disassociated manner of a witch, the child can also watch
the witch in the play . . .(6:44).
(**) "Just because we repuiate with all our strenghts the ideas that man's manners
or his moral, lor his IQ, or his capacity for democratic behavior, might be limited by

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É a defesa da democracia, a con- Não questiona muito o abismo que


denação do nazismo. E é óbvio que a separa ideal de real e nem percebe que
exaltação da democracia, nesse ano mes- o bem-estar geral do povo americano se
mo em que o conflito se estendia, era fez, como em todas as terras colonizadas,
feita com todo o fervor de uma america- no mínimo, às custas dos povos nativos
na que se declara acima de tudo uma vencidos e despojados.
cidadã responsável perante sua socieda-
de (*), compartilhado com a Amé- E, contudo, percebe que, neste mo-
rica (do Norte) a responsabilidade de do de vida em que o "sucesso" (***) é o
— nada mais, nada menos — "reorgani- objetivo permanente, ele é obtido esta-
zar" o mundo de após guerra. belecendo uma "pecking order" e que
uma maneira alternativa para "subir"
Aliás, o etnocentrismo da antropó- consiste simplesmente em arranjar alguém
loga é tão grande que ela imagina a de- que seja considerado inferior (mais po-
mocracia americana como uma forma bre, negro, estrangeiro, etc.) (****).
rara e única de governo, suprema cria-
ção de um povo que, se não for salva, No que diz respeito à educação, isto
talvez nunca mais floresça à face da significa a valorização tão só do futuro,
Terra (**). do que é novo. Do professor americano
o aluno não espera a transmissão das
Na análise que ela faz da cultura tradições, do conhecimento acumulado
americana, ou melhor, da "estrutura do das gerações, mas a fórmula para ven-
cer na vida.
caráter americano", enfatiza particular-
mente os valores da liberdade e do su- E Mead não acrescenta o óbvio:
cesso aberto a todos, a crença geral de não se trata de educação, trata-se de pre-
que todos nasceram iguais, e de que paro técnico para a luta individualizada
existe uma estreita conexão entre virtude em que vencerá o mais esperto, o mais há-
e sucesso. bil em passar os outros para trás *****.

( * ) Ela mesma confessa que, ao analisar a própria cultura, lhe é difícil manter a
mesma imparcialidade (um mínimo de envolvimento pessoal) com que estuda culturas
primitivas (5:4), pois "we are our culture" (5:21).
( ** ) Vale até a pena transcrever.
"But once let the light of freedom be put out all over the world, and there is
no garantee that it would ever spontaneously burst into lovely light again. Democracy is an
invention, like fire and language and marriage. We have no record of the thousand small,
unoted circunstances and usages which fathered it; we have no proof that it would
necessarily ever apear on the of the earth again."(5:191-2).
( *** ) A essência mesma do puritanismo: "God prospered the good man." (5:195).
( **** ) Parece também que o americano nega suas origens (de imigrante, todo ele sen-
do terceira geração, "third generation", como ela mesma observa) e que, a medida em que
galga posições, reproduz os ideais aristocráticos e "snobes" da velha aristocracia, justamente
contestados pela ideologia democrática, na origem.
***** Como não existe já outro ideal a não ser este sucesso, para os que fracassam
sobra a vergonha, o sentimento de frustração que — diz Margaret Mead — marcou toda
uma geração de pais americanos quando da depressão de 1929 (5:199). E Mead não
percebe que a tão decantada liberdade, a liberdade americana é, em última instância, a
mais vil dependência, a dependência de um status econômico que se conquista no "vale-tudo",
numa luta desigual.

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Também em Cultural patterns and formação, publicado em 1949, faz uma


technical change (trata-se de um manual comparação da sociedade norte-america-
preparado pela World Federation for na com as sete culturas que estudou nas
Mental Health — Federação Mundial ilhas do Pacífico, quanto à herança física
para a Saúde Mental), Margareth Mead e às experiências sexuais comuns entre
se preocupa em apontar a responsabili- homens e mulheres. Sempre voltada para
dade de educar os outros povos, ensinar- a educação, analisa todo o ciclo de vida
lhes as técnicas modernas, hábitos de do norte-americano, da concepção ao
higiene profiláticos (a começar do hábito casamento, tentando explicar seus papéis
de ferver a água), tudo isso, natural-
sexuais relacionando-os à experiência in-
mente — ela o crê possível — preser-
fantil. Responsabiliza os pais por obriga-
vando-se a integridade cultural daqueles
rem seus filhos e filhas a se adaptarem
entre os quais se introduz as mudanças:
a padrões dentro dos quais sofriam é se
"Education is needed in all these encontravam pouco à vontade. Afirma
areas to cope with and repair the des- que cada família é um caso e que cada
truction already introduced; and beyond pessoa tem uma experiência de vida pró-
this, to make it possible for the people, pria, daí a ênfase que coloca na liberda-
if they choose, to take their place in the de plena de cada indivíduo. Insiste mais
community of nations, and to take ad- uma vez no prejuízo da sociedade quan-
vantage of the progress of science and do distribui seus papéis segundo a cate-
technology in improving their standard goria sexual(*). Pensa que: "Uma vez
of living" (10:253). que é impossível afirmar ser tão impor-
Como se vê, Mead ainda acredita, tante aproveitar os dotes femininos e tor-
no fundo, na superioridade do Homem ná-los úteis a ambos os sexos de for-
Ocidental, colocando-o, não só como mo- ma transmissível, como foi possível aos
delo a ser seguido por uma humanidade dotes masculinos construir uma civiliza-
saída da 2a. Guerra Mundial, mas tam- ção baseada neles, estamos em condi-
bém como orientador desta humanidade ções de enriquecer nossa sociedade"
que ela supõe, inclusive, capaz de fazer (13:287) (* *). Continua deste modo
"sua escolha" de acordo com o que ela coerente com seu ponto de vista de 15
mesma, Margareth Mead, pensa. anos atrás em Sexo e Temperamento.
Em toda a sua obra, na realidade, Mead vê outra vez na educação uma das
transparece, a esperança de se mudar o maneiras de corrigir as distorções, for-
mundo, salvar o mundo, aperfeiçoar a mando uma juventude plena, não com-
democracia, repensando a educação. prometida com a atual distribuição dos
papéis sociais, em que cada indivíduo
Assim, em Macho e fêmea — um desabroche segundo suas tendências e
estudo dos sexos num mundo em trans-

(*) "Quando uma atividade, na qual ambos poderiam contribuir — e provavel-


mente todas as atividades complexas aqui se enquadram — está limitada a um sexo,
perde-se uma rica qualidade diferente para esta atividade. Uma vez que uma atividade
complexa é definida como pertencente a um sexo, a entrada do outro torna-se difícil e
comprometedora". (13:281).
(* * ) Nesta mesma página volta a salientar que "Podemos construir uma sociedade
inteira, usando tanto os dotes específicos de um sexo quanto aqueles compartilhados por
ambos — usando os dotes de toda a humanidade".

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maneiras de ser (*). No prefácio à edição A "descontinuidade" que marca a


Apollo de 1967, passados 18 anos, a civilização, da experiência na escola ao
autora reconhece que houve grandes mu- "ingresso" efetivo na vida (contraste este
danças na sociedade norte-americana e que encontra um paralelo na vida dos
diz: "Tudo isto tem repercussão na rela- Manus, como ela já observara em 1929),
ção homem-mulher .O homem está sen- é agora analisada com mais profundidade.
do cada vez mais atraído para as funções Observa que as potencialidades desperta-
domésticas e é possível que seus novos das pela educação são passivas e inúteis
penteados e roupas sejam uma rebelião sem um ambiente cultural em que pos-
contra a domesticidade (ou contra a guer- sam florescer.
ra). As mulheres estão sendo compelidas
para o mundo do trabalho e para uma É bem a possibilidade de realização
competição cada vez mais agressiva por plena, a longo prazo, do espírito de co-
companheiros . . . É possível que em meio munidade, a condição que deixa de se
a todas estas mudanças, a individualidade reproduzir com o advento do capitalis-
volte a ter uma chance de aparecer. E mo. A cultura manus de 1929 revela já
homens e mulheres possam voltar a pen- então transformações devidas à situação
sar em si próprios como pessoas pri- de contato com os civilizados, e outras,
meiramente, e como membros de um sexo muito mais profundas e transtornantes, de-
secundariamente" (13:7). vidas às imposições da própria adminis-
tração colonial (entre estas, o fim das
Tendo voltado às ilhas do Grande guerras entre as aldeias).
Almirantado em 1953, Mead publica New
lives for old (**), em que observa as Mead lamenta justamente que os
transformações que ocorreram entre os sentimentos tão generosos, comunais, que
Manus, desde 1928. Segundo a antro- os Manus têm oportunidade de desenvol-
ver quando crianças, não se mantenham
póloga, esta sociedade estava reagindo de
no mundo dos adultos, em que se busca
forma altamente satisfatória frente à rá- uma sobrevivência em termos de acumu-
pida aculturação. lação individual e egoísta (***).
No entanto, Mead confessa que ela Todas as críticas que se seguem, no
mesma já não tem mais o otimismo de texto, à administração americana, são
1929, a fé de que o fracasso de uma ge- acompanhadas de observações cautelosas
ração possa ser facilmente compensado, de que os mesmos erros se encontrarão
num segundo momento, pelas gerações também cometidos no Leste. Ela chega
novas. mesmo a sugerir que maus exemplos de

(*) "Nessa visão das possibilidades de que a educação infantil num sistema educa-
cional benigno possa eliminar grande parte dos distúrbios e maus funcionamentos encontrados
no mundo moderno deve ser temperado com exigências profundas de métodos cultural-
mente adaptados para conciliar e atender as discrepâncias biológicas". (13:13).
(* *) Finda a 2a. guerra mundial, o interesse dos E U A pelas ilhas do Pacífico, arreba-
tadas ao expansionismo japonês, torna-se naturalmente maior ainda.
*** Curiosa é a observação que a antropóloga faz, em nota de rodapé (14:154-155),
a respeito da alteração referente à expressão "comunal sentiments": "In the original this
word read "communistic" where I used the term in its old descriptive sense before it had
politically loaded".

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desertores comunistas poderiam induzir a Continuities in cultural evolution


erros na política externa americana (*). inclui a análise de um movimento messiâ-
nico entre os Manus (ilhas do Grande
Não consegue formular, contudo, a
Almirantado). Mead havia feito um es-
partir daí, nenhuma crítica mais abran-
tudo da personalidade do líder Paliau, em
gente. Não percebe que o espírito de
1954.
competição, do individualismo, são a
própria essência do sistema capitalista. Afinal, os estudos de aculturação
A medida em que este se implanta e se levaram os antropólogos americanos a
desenvolve, mais se fortalece o espírito uma retomada do enfoque diacrônico e,
competitivo e individualista. conseqüentemente, a estudos neo-evolu-
cionistas.
Poucos anos mais tarde, num apên- O livro é uma tentativa de avaliar
dice a uma re-edição de Cooperation and o significado da evolução cultural, sua
competition among primitive peoples direcionalidade, as condições de "parti-
("Appraisal 1961"), a terminologia usa- cipação consciente no processo evolucio-
da revela a permanência da forte in- nário". Para Mead, é ainda uma tarefa
fluência da psicanálise nos trabalhos de dos E . U . A . , como líder do mundo
Mead. Comenta o ressurgimento de uma ocidental, "livre", encontrar a forma ade-
linha evolucionista, macrocultural, na quada de dirigir essa evolução, que ela,
Antropologia, com os enfoques de White aliás, não restringe tão somente ao cul-
e Steward. Estes não privilegiam os es- tural.
tudos de personalidade, alegando não se Ela que, em 1942, apresentava e
tratar de uma variável relevante do es- defendia, como um dos ideais máximos
tudo da mudança cultural, o que Mead da cultura americana, a crença de que
naturalmente contesta. Ante o ressurgi- todos nascemos iguais, e que é, portan-
mento, nos Estados Unidos, de certos to, a educação recebida que nos torna
estudos anacrônicos, pretendendo encon- diferentes, preocupa-se agora com a for-
trar determinantes genéticos para padrões mação de elites, quase nos moldes da
de conduta(**), é evidente que os traba- "science-fiction", elites que seriam en-
lhos de Mead e da escola "personalidade carregadas de ordenar e resguardar tudo
e cultura" continuam atuais e impor- o que a humanidade realizou em maté-
tantes, pelo simples fato de partirem da ria de conhecimento, pensamento, tec-
velha premissa democrática do 'todos nologia e ciência em geral, para o caso
nascem iguais". da catástrofe final (***).

( * ) "In turn, ther is a persistent danger that, spawred from the experiences of psy-
chological warfase which were developed during World War II, tutored and advised in method
by deserters from the communist apparatus, we may adopt some of the same devices for
examples, offering the world health, education, and technical assistance, not because we
have a system within which we are willing to share all members of the human race,
but because it will provide us with allies against our enemies". (14:456-7).
( ** ) That the problem is still a lively one is attested to by the recent claims of such
an eminent biologist as H . J . Muller, that traits like cooperativeness are genetically deter-
mined, a claim which flies in the face of our available cultural evidence on the extend
to wrich such behavior is dependent upon socio-cultural forms". (7:525).
(***) "The task would have to be carried out by clusters of men and women with
fertile and imaginative minds, different kings of competency and experience, drawn from
the humanities as well as from the physical, biological, and social sciences, working in
cooperative situations, inculding field station in various parts of the world." (8:289).

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CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N . A Antropologia e os dile-
mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

Em 1969, na Conferência de Hous- de aprender esta diferencia y de enseñar-


ton, sobre a Ética na Medicina e a Tec- la — son algo que, a la luz de lo que
nologia, embora abordando fundamental- sabemos hasta este momento acerca de
mente temas médicos, como o aborto e os la evolución humana, podemos conside-
transplantes de coração, Mead volta a rar como intrínseco a la raza humana.
insistir no problema educacional. Mas já Ustedes saben que cada vez que hay una
não se refletem em suas palavras a in- revuelta, los jóvenes nos perguntan:
gênua sugestão de que a cultura ame- — Que papel juega la conciencia? . . "
ricana ou a civilização ocidental se pode- (12)
ria tornar mais rica se admitisse uma
gama maior de "talentos temperamen¬ Um ciclo de conferências subordi-
tais" ou uma liberdade maior de expres- nadas ao tema "Man and nature", tam-
são do corpo. bém de 1969, resultou em um livro pu-
blicado pela primeira vez no ano seguin-
Agora se trata de algo muito mais te. Nele Margareth Mead recoloca e apro-
sério. Trata-se de constatar a falência funda o problema da necessidade de uma
total da própria educação americana e conscientização urgente que possa evitar
ocidental: "Podemos educar a los jóve- o apocalipse nuclear: "No basta ningún
nes de nuestros dias que están preocupa- programa espurio que prometa la evasión
dos por la Bomba y su significado. No mediante la conquista espacial, ninguna
saben nada acerca de la Bomba y lo doctrina acerca de un Dios que destrui-
que ella significa porque no conocen na-
ria a los muchos para salvar los pocos,
da al respecto. Tienen miedo de volar
ninguna persistencia del optimismo ciego.
en pedazos porque eso es todo lo que
E l profeta que omite plantear una alter-
les han enseñado. No se les enseña nada
acerca del cambio que tuvo lugar en la nativa viable y sin embargo predica la
responsabilidad del hombre hacia el hecatombe,, forma parte de la trampa
mundo cuando apareció la Bomba. No que postula. No sólo nos muestra prisio-
se les dice que, por primera vez en la neros de una espantosa trampa de factu-
historia, contamos con la possibilidad ra humana o de factura divina, de la
de evitar la guerra. Solamente se les está cual no hay escapatoria, sino que tam-
enseñando algo que es absolutamente bién debemos oír día por medio los dis-
contemporáneo, sin mencionar el pasado cursos en los que describe cómo la tram-
para nada. . . . Creo que todo lo que pa se cierra inexorablemente. L a raza
sabemos hasta este momento acerca de humana, tal como está criada, educada y
la evolución humana sugiere que la ca- ubicada actualmente, no es capaz de
pacidad del hombre para elegir, para de- escuchar semejantes profecías. De modo
cir que un camino es correcto y otro que algunos individuos bailan y otros se
no, es un aspecto esencial de la natura- inmolan como teas humanas; algunos
leza humana y de su participación en consumen drogas y ciertos artistas vuel-
el proceso de la evolución. Esto no signi- can su creatividad en series de manchas
ca que haya que expresarlo en términos distribuidas al azar sobre un fondo blan-
religiosos. Se lo podría expresar en tér- co. Es posible que los que están preo-
minos biológicos. E l contenido cambia, cupados sean muy pocos, y que por su
pero creo que la creencia fundamental número reducido no puedan adoptar las
de que algunas cosas están bien y otras
medidas necesarias para salvarnos. A
están mal y la possibilidad y capacidad
menos que haya una dotación suficiente

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mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

de estos hombres, estamos condena- dutivo de seu grupo, ainda se servirá


dos" (9:27). desse mesmo sistema de referências para
se orientar nas novas experiências.
Após este breve apanhado das te- "Ao menino Arapesh ensinam os
ses principais de M.Mead, gostaríamos pais: — Quando você viajar, em qualquer
de abordar alguns aspectos que, a nosso casa onde houver uma irmã da mãe, ou
ver, ela não explorou como poderia ter do pai, ou prima ou sobrinha por afini-
explorado. dade, aí poderá dormir com seguran-
Inicialmente, uma referência a um ça. . . " (15:68, 114).
aspecto da educação que se poderia cha- A língua contém, além disso, termos
mar de técnico. Outro aspecto é o do que correspondem antes a uma situação
conceito de infância. de idade do que a categorias de paren-
tesco, o que permite a ampliação
O problema de como se aprende nas do mundo de relações na comunidade
sociedades "primitivas" possivelmente não para além dos vínculos estabelecidos pe-
foi por ela enfatizado porque as diferen- lo parentesco.
ças certamente lhe pareceram óbvias de-
mais: necessariamente, na sociedade com- Assim, entre os Manus, Margaret
plexa, há de aparecer um hiato entre en- Mead observou que "los adultos suelen
sino e ação, teoria e prática. No entanto, interpelar a las niñitas con el nombre de
na situação atual, estocamos conhecimen- "Ina" y a los niñitos con el de "Ina" o
tos técnicos e acumulamos teorias sem de "Papú". Los pequeños repiten "Ina"
ao menos saber se algum dia elas serão o "Papú" según el caso, estabeleciendo
postas em prática, transformadas em relaciones de reciprocidad que no están
ação. incluidas en el sistema de parentes-
co" (11:32).
Nas sociedades tribais a educação A terminologia de parentesco é,
informal se manifesta nas atitudes do pois, um sistema de orientação e de in-
cotidiano, mais talvez do que na expo- tegração do indivíduo na comunidade.
sição verbal, nas palavras ditas com a Não é, contudo, o único, ainda que possa
finalidade explícita de educar. O modelo ser o mais importante.
é a sociedade vivente e convivendo é
Aprender fazendo, parece ser, mais
que se aprende a viver nela. Não que as
palavras não tenham importância. Mas comumente, o método empregado pelas
elas não se antecedem no tempo à espera sociedades simples, para transformar
de aplicações futuras. crianças em membros responsáveis.
Assim, Margaret Mead observa entre os
A criança nativa que muito cedo é Manus:
obrigada a distinguir toda uma compli- "En realidad no se les enseña a na-
cada terminologia de parentesco, está dar. Los más pequeños imitan a sus her-
apreendendo ao mesmo tempo os direitos manos un poco mayores, y después de
e deveres que já são dela e que já está forcejar y de andar a los tumbos en
observando. Saberá a quem pode pedir una profundidad de agua que les llega
comida, com quem pode contar espon- hasta la cintura, se lanzan a bracear por
taneamente, com quem deverá desde lo- su cuenta. L a firmeza de las piernas, en
go unir seus esforços. Quando crescer e tierra, coincide con el dominio de la
se tornar um membro plenamente pro- natación" (11:27)

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mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

É como se a vivencia antecedesse a se treina já aos 3-4 anos, com arco e


instrução e as palavras só servissem, a flecha por ele mesmo confeccionados, se
posteriori, para interiorizá-la melhor. Na as crianças nadam nos rios e lagos (se,
realidade, experiências e palavras são como em Manua, impulsionam seus mi-
concomitantes, se completam (*)• núsculos barcos e exploram as lagunas e
ilhotas, em aventuras reais que as nossas
O mais curioso é que, comparando- crianças só vêem em filmes), se vão bus-
se nossa sociedade atual às sociedades car frutos no mato pululante de sons e
simples, parece haver uma inversão de de vida, a que atividades lúcidas diferen-
concepções com referência ao período tes elas deveriam ainda se dedicar?
da infância.
Na história de nossa própria socie-
A ausência de brincadeiras, de jo- dade ocidental, as crianças camponesas
gos, entre as crianças, que Mead estra- não conheciam muitos brinquedos e isto
nhou em Manua, não parece se restrin- não queria dizer que, em condições pré-
gir tão somente a esse povo nativo. Rela- capitalistas, tinham uma infância "estú-
tivamente escassos são também os brin-
pida" ou triste.
quedos e jogos apontados pelos etnólo-
gos entre crianças indígenas brasileiras. A infância como período distinto, es-
Bonequinhas de barro, chamadas pecialmente voltado, em parte para uma
Licocós entre os Karajás (2), ou brin- aprendizagem escolar e, completamente,
quedos de madeira, aparecem em algu- para atividades lúdicas, só começa a se
mas tribos (**). Quanto a brincadeiras destacar para a nobreza, a partir do sé-
específicas de crianças, poucas são regis- culo XIV- Amplia-se para um número
tradas (1). Nimuendajú descreve uma maior de crianças com a ascensão da
brincadeira chamada "Ladrões de ju- burguesia, principalmente durante o sé-
rumum" entre os Xerente (17) e Theo- culo X I X (19), ao mesmo tempo que,
dor Koch-Grünberg registrou entre os para a população urbana pobre surge
Tukano, como brinquedos de crianças, o uma infância explorada e miserável que
pião (popóa) e a matraca de cascas de Dickens tão bem retratou.
sementes vazias (3:274). É comum
também, e não só entre nossos indígenas,
o jogo de figuras feitas com fios esten- II. ÁFRICA C O N V I D A A PENSAR
didos entre os dedos das mãos, o mes- SOBRE EDUCAÇÃO
mo que Margaret Mead encontrou en-
tre os Manus sem lhe ter dado desta- Num artigo sobre os ensinamentos
que (11:23). das escolas iniciáticas dos Bantu, Jac-
queline Roumeguère-Eberhard (18) nos
Mas, se a indiazinha começa, desde mostra como, entre os Venda (e outros
cedo, a tomar conta dos irmãozinhos, povos da área bantu) se concebe a in-
tem ela necessidade de bonecas? Se o fância. Trata-se de um período em que
menino luta ritualmente com seus pares, as crianças aprendem a ver as coisas "co-

(*) Em Bali, M.Mead observa algo semelhante: 'Verbal directions are meager;
children learn form the feel of other people's bodies. . . " (6:43).
(* *) Na verdale, parece que em algumas tribos sua adoção se deve a contatos com
a população neo-brasileira.

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mo elas são", e este nível elementar (*) é tão desequilibrado, tão pouco humano
de conhecimento superficial ou "leve" é que, nas classes média e alta se tenta
exatamente o único conhecimento aces- proteger a criança contra o exterior, na
sível — assim dizem os Bantu — ao ho- casa e nas escolas, através de mitos e
mem branco. fantasias cuja realização ela não verá ao
Enquanto as nossas classes média e se tornar adulta. Estas fantasias se des-
alta idealizam o período da infância pedaçam, assim mesmo, ao menor con-
como uma vivência de lindas fantasias, tato com a realidade envolvente (até
a infância da criança na cultura bantu através da televisão dentro do refúgio
tradicional é a vivência real. Natural- domiciliar), muito antes de se atingir a
mente, antes da ocidentalização da vida, puberdade. A criança das classes des-
a criança não precisava recorrer a pro- protegidas e que, como a criança "primi-
gramas de televisão e a sofisticados l i - tiva" e camponesa medieval, vive o mun-
vros didáticos para saber que a vivência do do real, vive-o como ele realmente é,
do real pode ser tão ou mais maravilhosa entre nós: injusto, cruel, desequilibrado.
que outra qualquer. Os evadidos da Febem simplesmente re-
produzem a violência do mundo dos
É durante as longas cerimônias pu- adultos.
bertárias que rapazes e moças bantu
aprendem os valores sociais dos conhe- Nas escolas, há muito tempo que
cimentos que já adquiriram, como téc- se nota a indecisão de se saber o que en-
nicas da atividade cotidiana (**): apren- sinar. Deve-se simplesmente ensinar téc-
dem porque são importantes para o nicas, manter as crianças ocupadas, final-
bem-estar e a sobrevivência do grupo mente profissionalizá-las? Ou deve-se,
como um todo, no presente e no futuro. apesar de tudo, optar ainda (como se
Este é o conhecimento das leis (milayo) já nem valesse mais a pena . . . ) por um
e nele se espelha uma verdadeira Antro- conhecimento das Humanidades para que
pologia social nativa (***). O nível mais — numa ocasional e rara conjuntura fu-
alto da iniciação bantu, que pode ser tura — algum dia as novas gerações
definido como de compreensão filosófica consigam descobrir soluções para um
do Homem e da Natureza, busca respos- mundo a beira do abismo?
tas para questões de certa forma análo-
gas às formuladas pela própria Antro-
pologia filosófica (****). Parece que dilemas semelhantes en-
frentaram as nações africanas que, há
O que acontece, em vez disso, na pouco, obtiveram sua independência po-
nossa sociedade atual? O mundo do real lítica.

( * ) Grifo nosslo. N ã o vai aqui nenhum menosprezo ao conhecimento científico oci-


dental, mas é sempre bom lembrar que uma atitude mais humilde de nossa parte se torna
cada vez mais urgente.
( ** ) O menino já sabe atirar com o arco, abater uma árvore, seguir os rastros
dos animais; a menina já sabe pilar o grão, buscar água, carregando a vasilha sobre a
cabeça, cultivar o campo. Para os Venda, contudo, a criança ainda não sabe verdadeiramente:
está apenas ensaiando.
( " * ) É o conhecimento chamado de "inteligente", "esclarecido". Nas escolas de pu-
berdade, aprende-se a "significação" do que se faz.
(****) É o conhecifento profundo chamado "o saber verdadeiro" "ku tiva" resultado
de uma reflexão dialética sobre o Homem e o Universo.

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A escola da missão, e, em seguida, se prepará-los para o mundo moderno


um sistema educacional mecanicamente no qual iriam viver.
transplantado da Europa substituíram o
ensinamento tradicional das escolas pu- Para o primeiro, contratou um pre-
bertárias e das associações religiosas na- ceptor vindo de um país bastante indus-
trializado, de tradições pedagógicas an-
tivas.
tigas- Este, tendo percebido que seu alu-
Com o novo sistema de ensino, im- no tinha dificuldade em seguir seu racio-
puseram-se os valores do "progresso", da cínio, que era o de um estrangeiro, con-
modernização e, através deles, alimen- cluiu que o rapaz não era inteligente e
tando as desigualdades sociais, a su- se restringiu então a fazê-lo decorar os
jeição econômica, mais fortalecida ainda textos dos manuais, sem saber se ele os
na fase neo-colonialista, com a indepen- compreendia. Naturalmete, era bastante
dência política. civilizado para fazer uso de uma palma-
A preocupação da burguesia euro- tória; empregou, contudo, ainda outro
péia com educação, acenando às gera- método, igualmente eficaz. Prometeu ao
ções novas com diplomas de profissões menino que lhe concederia um belo di-
liberais, com a possibilidade destas vi- ploma que testemunharia sua instrução.
rem a constituir uma elite de "white Pois não deixava deter seus receios de
collars", naturalmente tem como contra- que a instrução do aluno passasse desa-
partida a desvalorização do trabalho agrí- percebida, de modo que um diploma se-
cola e braçal. Estes ficam relegados, em ria uma útil confirmação de seu traba-
muitas regiões até o século passado, aos lho.
escravos e, depois à mão-de-obra nativa
semi-escrava e à população pobre em Finalmente, o rapaz não se conten-
geral, dos bolsões pouco capitalizados. tou em obter o diploma, copiou também
a indumentária de seu preceptor e, às
"Civilizar-se", "receber educação", vezes para completar, carregava um
passa a ser sinônimo de repúdio à vida grande guarda-chuva preto.
camponesa, deixando o caminho livre pa-
ra a penetração da empresa capitalista Mas então achou que possuía muita
instrução para ajudar seu pai nos simples
moderna.
trabalhos da roça e se foi para a cidade.
E, quando finalmente se desfaz a Lá, teve a surpresa de descobrir que seu
miragem de um mundo em que o tra- diploma era insuficiente para lhe con-
balho "indigno" seria feito tão somente seguir um bom emprego de escritório.
pela máquina, quando os diplomas já Encontrou também centenas de rapazes
não dão mais emprego, o que fazer? que, como ele, estavam munidos do mes-
mo diploma, mas não haviam conseguido
Esta indagação é o tema de um con- emprego-
to de Munanairi publicado em Presence
Africaine: O pai, homem ponderado, não fi-
cou satisfeito com a instrução que ha-
via recebido seu primeiro filho. Sabia
AS SEMENTES V I V A S que seu país devia a maior parte de suas
riquezas àqueles que, nas fazendas e nas
Um pai tinha três filhos. Desejava minas, trabalhavam duramente. "Que
dar-lhes uma boa educação que pudes- acontecerá", pensava ele, "se todos os

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filhos deste país obtiverem diplomas, afetavam a maior parte de nossas pala-
adotarem para se vestir uma moda es- vras e nossos atos. Em nossos dias, te-
trangeira, e fugirem para as cidades?" mos medo de não estarmos atualizados.
Esforçamo-nos em copiar os estrangei-
Por isso decidiu enviar seu segun- ros mas, enquanto não tivermos mais fé
do filho para uma escola de agricultura, em nós mesmos, não saberemos distin-
onde aprenderia modernos métodos de guir o que é bom do que é mau. Copia-
criação de animais e de cultivo. Este remos dos outros de preferência as más
filho não teve, portanto, a sorte de es- coisas ao invés das boas. Que tipo de
tudar, de obter um diploma, de aprender comunidade construiremos assim?"
a trajar-se segundo a "moda" européia.
Trabalhou, contudo, na escola de agricul- "Tuas idéiais são penetrantes- Que-
tura, e aí aprendeu como cultivar melhor res encarregar-te da educação de meu
o café e como conseguir maior produ- terceiro filho?", perguntou o pai.
ção de leite. Quando terminou seus es- "Sou incapaz de encher teu filho de
tudos, foi contratado por uma compa- conhecimentos e de muní-lo de um di-
nhia que vendia material agrícola aos ploma para ingressar na vida. E , se eu
cultivadores. Ficou contente por ter en- fosse capaz disso, eu não o faria; mas
contrado um bom emprego nessa firma contentar-me-ia com despertar nele pro-
estrangeira, mas seu pai lastimou que fundos anseios e um espírito criador."
não o ajudasse mais nos serviços da
roça. "Faze como te aprouver. Quero que
tuas convicções sejam as de meu filho",
"Que deverei fazer para que meu respondeu o pai entusiasmado.
terceiro filho tenha vontade de perma-
necer em casa e de melhorar a vida em "Jamais", exclamou o sábio, "ten-
nossa aldeia?" perguntou a seus amigos. tarei fazer uma pessoa partilhar de mi-
"Se todo o resultado da instrução é tão nhas convicções. Isto seria destruir seu
somente ensinar a nossos filhos a buscar espírito, moldá-lo como um oleiro molda
o êxito pessoal, sem jamais se preocupa- a argila. Formando as pessoas desta ma-
rem com a prosperidade da comunidade, neira, nós lhes damos uma alma de es-
podemos perder todas as nossas esperan- cravo, qualquer que seja o mérito das
ças de que nosso país algum dia pro- idéias das quais nós os tornamos escra-
grida. Quando nossos antepassados vi- vos. A liberdade não tem nada a ver com
viam em tribos, a ajuda mútua ocupava a independência política. A liberdade é
um grande lugar na vida. Não havia, uma maneira de "viver".
então, mendigos e ninguém roubava o
"Mas então, se ninguém exerce
que fosse dos seus!"
controle sobre mim, eu sou livre, não
é?", perguntou, curioso, o pai.
Um dia, um sábio oriundo de uma
aldeia vizinha explicou ao referido pai: "Tu tens tua terra e a exploras
— "Não é uma cabeça cheia de conhe- como te apraz; declaraste, contudo, que
cimentos que decide a conduta da vida gostarias que um filho teu te ajudasse a
de um homem; é a sua maneira de ser, fazê-la prosperar. Desejadas também ver
suas crenças, suas esperanças, seus re- teus filhos contribuírem para a prosperi-
ceios. Antigamente temíamos os feiticei- dade da aldeia. Se fosses livre, terias dito:
ros e os maus espíritos. Esses temores posso fazer tudo isto sozinho. É somen-

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te quando se tem a certeza íntima de viver segundo suas convicções mais ele-
possuir ou de poder conhecer o que é vadas."
necessário para que a vida seja tal qual O sábio incumbiu-se, então, da edu-
se deseja, sem ser obrigado a aprender cação do terceiro filho. Não recorreu
coisa alguma dos outros, que se pode nem à palmatória, nem aos exames. Co-
dizer que se é realmente livre. Quando meçou por contar ao menino casos
pensares por ti mesmo, quando não mais relativos à história de sua tribo, aventu-
absorveres com avidez todas as idéias ras apaixonantes e belas lendas. O ra-
dos outros, quando fores incapaz de re- paz descobriu, admirado, quanto se orgu-
jeitar idéias de outros simplesmente por- lhava da coragem e da sabedoria de seus
que não te agradam, e souberes examinar antepassados. O sábio ensinou ao menino
cada idéia com um espírito aberto, jul- que muitas ervas e remédios empregados
gando-a segundo o melhor sistema de re- pelos seus, tinham sido adotados pelos
ferência que conheças, retirando dela o médicos de países industrializados. Ele
que ela oferece de aproveitável para tua o ensinou a fabricar uma flauta de bam-
vida, então, e somente então, começarás bu e a tirar dela música, assim como
a ser verdadeiramente livre." faziam os antigos. Como o menino co-
meçasse a pensar que descendia da maior
'Eis aí algo bem difícil", replicou tribo de toda a África, seu preceptor pôs-
pensativamente o pai. "Há muitas coisas se a lhe falar da grandeza das outras
de que não estou seguro- Quando eu era tribos. O menino sentiu-se orgulhoso de
estudante, meus professores me ensinavam pertencer ao conjunto dos povos africa-
que todas as pessoas de nosso povo ti- nos de culturas diversas-
nham modos de pensar e de agir errados
e atrasados. Não sei mais o que devo crer Quando o menino começou a pen-
nem a que santo recorrer". sar que os Africanos eram muito supe-
riores a todos os outros povos, o sábio
"Eu sei", respondeu o sábio, sonha- narrou-lhe as histórias dos povos da Eu-
dor. "Desse mal sofre a nossa gente. ropa e da Ásia. Pouco a pouco, o me-
Estamos perdidos entre dois mundos. nino compreendeu que todas as tribos,
Nosso mundo de outrora está deslocado. todas as comunidades possuem sua
Ele não está de acordo com a vida atual grandeza peculiar. Quando começamos a
que muda rapidamente demais; os sis- crer na grandeza dos outros, ganhamos
temas e os modos de vida estrangeiros em sabedoria e em profundidade, pois à
não correspondem de maneira alguma às nossa própria força juntamos a dos
nossas necessidades. De certa maneira, outros.
estamos perdidos na noite, sem que a Um dia, o rapaz formulou esta
lua ou as estrelas possam nos guiar queixa: "Gosto de tuas histórias. Elas
numa direção que tivéssemos escolhido me dão vontade de compreender o mun-
livremente, sem sabermos que direção se- do inteiro e de simpatizar com ele. So-
guir. Se desejares que eu me ocupe da mente, não posso me lembrar de todos
educação de teu filho, eu o ajudarei a os fatos. Sem eles, como poderei ter ins-
encontrar o caminho que seguirá em sua trução? Preciso anotá-los."
vida. Não lhe indicarei meu caminho, "Não te atormentes, meu jovem.
mas ajuda-lo-ei a descobrir o que con- Quando enterras na terra uma semente
vier à sua natureza, o que o levará a ela cresce, mesmo se não deixas um mar-
desenvolver o melhor de sí mesmo e a ca no lugar onde a plantaste. Se eu se-

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meio em ti sementes vivas, elas germi- Um dia, chegou aos ouvidos deles
narão. Se estiverem mortas, todas as no- a notícia de que uma viúva que possuía
tas, todas as marcas do mundo, de nada três filhos e vivia numa aldeia vizinha,
te adiantarão. Muitos alunos armazenam havia recusado se casar, segundo o cos-
fatos, para passar nos exames e os es- tume, com o irmão mais novo de seu
quecem logo depois. É o que se chama falecido marido. Ela quase não recebia
— erradamente — instrução, em certos ajuda de seus vizinhos. No dia seguinte,
países." ao nascer do sol, o sábio e o aluno se
puseram em marcha, em direção ao sítio
O sábio pediu ao pai um pequeno
dela, munidos de enxadões e sementes,
pedaço de terra e, com a ajuda do filho,
pois estava na época de semear. No ter-
ele o semeou. Estudaram os livros em
ceiro dia, duas novas pessoas chegaram
que estavam consignados os novos méto-
para ajudar. Á noitinha, o sábio e o
dos de cultura, e fizeram experiências
menino foram convidados a partilhar da
com mais e menos sombra, com água e
refeição na aldeia. Terminada a ceia, o
estéreo. Observaram todas as transfor-
sábio se pôs a narrar histórias sobre o
mações, o desenvolvimento de suas plan-
passado de suas tribos; contou como seus
tas, e tomaram notas a respeito. O meni-
antepassados haviam socorrido a todas as
no aprendeu a medir com precisão, a
pessoas na necessidade, mesmo aos que
fazer gráficos e a utilizar a aritmética pa-
não respeitavam os costumes.
ra estabelecer comparações. Quanto mais
observava, mais se admirava de constatar
quantas coisas lhe haviam escapado, no Antes que ele tivesse acabado a se-
seu ambiente costumeiro. Com o peque- gunda história, um dos mais prósperos
no pedaço de terra, o menino começou agricultores exclamou: "Vou ajudar a
a pensar de maneira científica, a se disci- viúva a explorar sua terra até que seus
plinar no exame das coisas, a criticá-las e filhos estejam na idade de fazê-lo. Já é
a analisá-las. tempo de fazermos renascer o que há de
bom nas nossas tradições. Do contrário
Graças às descobertas que o sábio ficaremos cada vez mais fracos. Este há-
o fez realizar, percebeu que poderia co- bito de esperar que estrangeiro e governo
nhecer, decifrando os mecanismos secre- resolvam nossos problemas, impede nosso
tos da vida que o cercava, aventuras desenvolvimento."
tão apaixonantes quanto as que conhece-
ria percorrendo o mundo. As proezas
arquitetônicas das formigas, a vida comu- III. REPENSANDO A EDUCAÇÃO
nitária das abelhas, e a maneira como Nas sociedades "primitivas" a soli-
as coisas na natureza agem umas sobre dariedade se estende pela rede do pa-
as outras — plantas, climas, terra, ani- rentesco, de tal forma que, no final das
mais e homens — tudo isso representava contas, a aldeia inteira é abrangida (ou
o mesmo que viagens a reinos desconhe- por laços de sangue ou por alianças).
cidos. O termo "parente" refere-se, assim, a
Quando o menino descobriu as ma- um número muito maior de pessoas que
ravilhas e o mistério da natureza, e da na nossa concepção ocidental.
comovente beleza desta, passou a fazer Contudo, o autor do conto propõe
sua arte e sua música, ele começou a uma extensão maior ainda da solidarie-
visualizar o passado, através dos grandes dade, reforçando a passagem da tribo pa-
sábios de diversos países. ra nação.

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CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N. A Antropologia e os dile-
mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

Quando se nota, então, que uma Evidentemente, para as sociedades


privatização do espaço, corresponde à africanas isto significa reconstruir o equi-
uma involução dos interesses, centraliza- líbrio perdido entre o homem e a Natu-
dos na família nuclear ou, pior ainda, reza, ainda que possivelmente com o au-
no indivíduo, constituem um problema xílio de técnicas mais complexas, mais
(uma esécie de empobrecimento ou alie- sofisticadas. Voltar a sentir, contudo, a
nação), isto não quer dizer que, para a necessidade fundamental deste reequilí-
sociedade, seria melhor que as pessoas brio antes de apelar, cegamente, a estas
não tivessem famílias, mas sim que a so- técnicas modernas (diga-se de passagem,
lidariedade deveria, numa sociedade sa- de resultados nem sempre testados ou
dia, ter uma extensão muito mais ampla. devidamente divulgados). Ressuscitar as
A reciprocidade característica das velhas formas de solidariedade e partilha,
sociedades primitivas deveria ser também levadas agora para além das fronteiras
a característica dominante de qualquer do parentesco. Enfim, reorganizar o es-
organismo que aspirasse à qualificação pírito comunitário em termos de nação,
de "social". Não se trata, naturalmente, em termos de África, em termos de uma
de uma extensão da terminologia de pa- verdadera irmandade de povos.
rentesco, mas da extensão da reciproci- Na nossa sociedade (no Brasil), a
dade em sí. Quando os Manus chamam primeira questão que se coloca é, pois,
às crianças de "Ina" ou "Papu", esta- que raízes, que tradição devemos buscar.
belecem ao mesmo tempo um processo Não há de ser, evidentemente, a tradi-
de reciprocidade. Os cultos religiosos ção dos senhores de engenho, de minas
modernos têm procurado incentivar em e de cafezais: estes não a tinham nem
seus seguidores este sentimento de reci- mesmo no sentido pedante e espúrio da
procidade, de fraternidade. Dar-se as palavra. Representavam simplesmente a
mãos durante a missa parece ser um bom autoridade, o poder garantido pela força
começo como gesto simbólico, desde que das armas. Deveram ao índio e ao negro
simultâneo com um processo de reci- quase todos os elementos culturais que
procidade. lhes permitiram sobreviver nos trópicos,
além da própria subsistência e da riqueza
A solidariedade para o qual Muna- que lhes adveio pelo trabalho e suor
nairi apela é a solidariedade da comu- alheios, dos escravos e (por breves
nidade, aldeia nativa ou camponesa. Seu lapsos de tempo) da parentela pobre de
espaço vital é a terra possuída pelo povo. camponeses de Portugal que para cá se
Como Margaret Mead bem o per- transladaram-
cebeu em New lives for old, só pode Temos que buscar essa tradição,
haver verdadeiramente progresso para a portanto, nas camadas populares, nos
população nativa, se a comunidade não ideais comunitários das reservas indíge-
se desintegrar- nas (*), dos quilombos, da organização
O que nos diz Munanairi? democrática dos primeiros imigrantes,
Que devemos redescobrir a tradi- nos mutirões e na solidaredade dos "par-
ção, as raízes. ceiros do Rio Bonito" . . .
( * ) Comunidades essas que muito ao contrário do que disse o ministro Andreazza
(Folha de São Paulo, 4/1/80), não representam "nações dentro da Nação": são muito
mais Brasil do que a "Jari" de D. Ludwig, a King's Ranch e outras propriedades multi-
nacionais, estas sim constituindo nações estrangeiras dentro do território brasileiro e em
detrimento deste.

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mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

forma de aprendizaje cofigurativo a par-


Curiosamente, Margaret Mead, que tir de los pares, los compañeros de jue-
descobre que o aparecimento de uma gos, los condiscípulos y compañeros
"comunidade mundial" é a mais impor- aprendices. Ahora ingresamos en un pe-
tante das novas condições que desenca- ríodo, sin precedentes en la historia, en
dearam a revolta dos jovens em todo o el que los jóvenes asumen una nueva
mundo (9:101), não parece perceber autoridad mediante su captación prefigu-
que essa comunidade mundial de que ela rativa del futuro aún desconocido"
fala é uma pseudo-comunidade (a "aldeia (9:35).
global" da T V ) , e que é justamente a Apesar da cultura ocidental de ho-
constatação da não-realização do ideal je, corresponder, pois, à que ela chama
de comunidade humana que impede a fé de "pré-figurativa", Margaret Mead dis-
dos jovens no que lhes é, tradicional- tingue nela certos grupos que se enqua-
mente, ensinado. E os jovens sabem que dram entre as culturas "pós-figurativas".
esta realização seria possível, se os es- na tipologia estabelecida. Trata-se de
forços não fossem canalizados para algumas seitas religiosas, e ela cita como
outros fins (a corrida armamentista, o exemplos duas seitas menonitas (os
lucro desordenado e esterilizador), para Hutteritas e os Amish), os Dunkhards,
uns poucos já muitos ricos. os Dukhobors e os Sikhs.
Assim sendo, a tentativa feita pela Sabemos que as seitas nascentes, tal
antropóloga para explicar a problemáti- qual os imigrantes em países estranhos,
ca educacional de hoje como uma "rup- restabelecem o comunitarismo, ao menos
tura generacional" fica nos limites de durante os primeiros tempos (*). Res-
uma análise um tanto mecanicista. tabelecem, portanto, o igualitarismo, a so-
Para ela, correspondem a passado, lidariedade interna, não raro também a
presente e futuro, três tipos diferentes de propriedade comum do solo. As seitas
cultura: "postfigurativa, en la que los nascentes, às vezes também tentam res-
niños aprenden primordialmente de sus tabelecer, no plano do real, um equilí-
mayores; cofigurativa, en la que tanto los brio entre o Homem e a Natureza: os
niños como los adultos aprenden de sus Amish praticam a rotação de culturas,
pares, prejigurativa, en la que los adultos Peter Verigin pregava a seus seguidores
también aprenden de los ninños — son dukhobors (**) a adoção do vegetaria-
un reflejo del período en que vivimos. Las nismo e um estrito pacifismo.
sociedades primitivas y los pequeños re- Essas sociedades parecem a Marga-
ductos religiosos e ideológicos son prin- ret Mead pós-figurativas porque obede-
cipalmente postfigurativos y extraen su cem a um modelo repetitivo (***).
autoridad del pasado. Las grandes civili- Mas, note-se bem: tornam-se "pós-
zaciones, que necesariamente han desa- figurativas" após terem alcançado este
rollado técnicas para la incorporación del reequilíbrio. Em sua origem mesmo, to-
cambio, recurren tipicamente a alguna das essas seitas são profundamente re-

(*) Evidentemente, não se trata de restabelecer um equilíbrio com a Natureza, a não


ser que se o entenda no sentido estrito de reequilíbrilo para o país de origem dos imigrantes.
No país de destino, muito pelo dontrário, certos imigrantes estabeleceram atividades verda-
deiramente predatórias.
(**) Seita religiosa camponesa da Rússia czarista, que rejeitava toda autoridade de
fora e que contava com Tolstoi entre seus defensores.
(***) Culturas que "extraen su outoridad del pasado". Mas, que passado?

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volucionárias: os Sikhs, do Penjab what they seriously..." p.47). Quan-


Oriental, são contra o próprio sistema to ao equilibro em sentido mais lato,
de castas, afirmando a absoluta igualda- conclui o artigo com a observação seguin-
de de todos (isto em época anterior à te: "The culture contains — or did con-
administração inglesa). E não se trata tain until the recent upheavals about
tão só de re-equilíbrios simbólicos. E m which we know little — ritual solutions
todos os casos, procura-se uma reforma for the instabilities it created, and the
de base, por assim dizer: são o comuni- people, on their little island, were safe.
tarismo e o cooperativismo que se ins- But it was the safety of a tightrope dan-
talam. cer, beautiful and precarious." (6:15) *
Só não funcionam a longo prazo
Como se apresentam essas condições
porque o sistema capitalista envolvente
em nossa sociedade, e até que ponto a
ou desintegra as comunidades, comba-
nossa cultura diverge fundamentalmente
tendo-as como subversivas, ou as trans-
das que Mead chama de "pós-figurati-
forma em excentricidades turísticas-
vas"?
É, pois, porque o mundo humano
O igualitarismo interno — tão apre-
está ou parece estar em relativo equilí-
goado pela democracia na forma de opor-
brio, que o modelo pode ser repetitivo,
tunidades iguais para todos — revelou-se
isto é, que a geração nova aceita os va-
inviável dentro do sistema capitalista,
lores transmitidos.
caracterizado pela competição desenfrea-
Que tipo de equilíbrio? Voltamos da. Contudo, a nível individual, as pes-
a frisar: por um lado, o equilíbrio interno, soas conseguem dramatizar o equilíbrio,
baseado num igualitarismo, por outro, o geralmente optando por uma das duas
equilíbrio com o Universo, real na me- justificativas: ou admitem que todos os
dida em que o sistema econômico tem que se esforçaram realmente como eles
condições de se auto-reproduzir em se próprios acham que fizeram, conseguiram
tratando de comunidades, e dramatizado progredir, e justificam o fracasso dos
por cerimônias das mais diversas, que outros pela recíproca (isto é, os que não
dificilmente mascaram, contudo, por conseguiram não se esforçaram, portanto
muito tempo a realidade, quando o dese- não conseguiram porque não quiseram);
quilíbrio com a Natureza e na sociedade ou acreditam que as injustiças sejam repa-
se instala, com a penetração do capita- radas na vida além-túmulo. De certa for-
lismo. ma, enquanto as pessoas continuarem
acreditando nessas variáveis, o sistema
Margaret Mead se apercebeu bem econômico mais desequilibrado da histó-
dessas duas coordenadas do equilibro em ria da Humanidade, com suas mudanças
Bali. Quanto ao equilíbrio interno, a caleidoscópicas muito mais aparentes que
despeito do sistema de castas, ela nota reais, continua se mantendo.
que todos os balineses são atores, e ato-
res importantes, ainda que procedentes O equilíbrio com o Universo, além
de castas inferiores ("prince and peasant, de ser dramatizado numa vida além-tú-
very gifted and slightly gifted, all do mulo, é ainda trazido para o presente,

(*) Compare-se com concepções semelhantes de equlíbrio e ordem cósmica e hu-


mana, na cultura medieval conforme 19:163, nota 3.

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CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N . A Antropologia e os dile-
mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

ainda que não o seja por cerimônias e encontramos nas ruas congestionadas,
ritos ou prescrições religiosas. apesar dos minhocões, anéis e avenidas
Não é só um corpo de bailarina ba- largas, se apresentam já nas calçadas
linesa que sabe tecer a ordem universal. limpas frente às mansões e casas da clas-
Se percorrermos os setores diferenciados se alta e média: jardins cuidados, grama
do nosso próprio modo de produção e certinha, aparada, plantas ornamentais
atentarmos para os pequenos detalhes obrigadas a crescerem dentro de normas
do cotidiano, teremos a surpresa de cons- pré-estabelecidas.
tatar que o equilibro aparece dramatiza-
do nos mínimos detalhes em todos eles. Enfim, a ordem se encontra no se-
Nas empresas modernas, agro-pe- tor de consumo em toda sua plenitude,
cuárias, fábricas, a arquitetura revela um a nível doméstico; a dona de casa se
cuidado imenso em modelos harmonio- esforçando para que seu pequeno uni-
sos e repetitivos e, mais do que isto verso particular seja, não só o "repouso
ainda, justamente no equilíbrio em ci- do guerreiro", "um refúgio contra a inva-
mento e metal do própro desequilíbrio. são do mundo", mas também e princi-
Ao ver pela primeira vez Brasília ou palmente um mundo em que as coisas
qualquer maquete de uma maravilha ar- estão em equilíbrio, cada qual em seu
quitetônica moderna, quem não se es- lugar. Em oposições neutralizadas de-
panta ao ver como massas tão grandes e frontam-se, num canto da sala, a repro-
pesadas (que, pela lógica, pela lei da dução de uma Madona de Luini e um
gravidade, deveriam desabar) se mantêm profeta em pedra sabão; no outro, flores
graciosamente equilibradas como aves de Hong-Kong e uma garrafa de areias
petrificadas ao alçarem vôo? coloridas do Ceará, obras perfeitas que
substituem quem as produziu, A pre-
Por jardins e canteiros floridos pas- sença do artesão, se tolerada, mascara na
sam operários limpos e uniformizados, uniformidade dos barros de Vitalino, a
tudo certinho, funcional, como deve ser fome e a sede: a miséria se torna inócua
num universo em equilíbrio. e não agride mais ninguém . . .
Harmonia e equilíbrio também espe-
lham as lojas, a propaganda, os vende- A ordem se preserva.. . mas estes
dores- Harmonia e equilíbrio, se não os não são os caminhos da educação.

PERSPECTIVAS/17

CARVALHO, S . M . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, D. Anthropology and the di-


lemmas of education. Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980.

ABSTRACT': An attempt at evaluation about the contribution of study of


other cultures toward rethinking education in modern society, specifically in Brazil
today. Critical revision of Margaret Mead's work, as the most representative of
American Anthropology studies concerning relations between Education, Culture and
Personality. The dilemmas of education in Africa through a tale of Munanairi.
Some considerations about fundamental points to be rethought and the meaning of
"tradition"-

U N I T E R M S : Anthropology; education; Margaret Mead and her work. ""Tra-


ditions in Africa and in Brazil.

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CARVALHO, S . M . S . ; RAVAGNANI, O . M . ; LAUAND, N . A Antropologia e os dile-
mas da E d u c a ç ã o . Perspectivas, S ã o Paulo, 3: 29-50, 1980

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