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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

GOLDSCHMIDT
VERSUS
GOLDSCHMIDT

LEITURA DOGMÁTICA E
LEITURA GENÉTICA

Harry Edmar Schulz

Texto elaborado em Outubro de 2012


1
São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

Prefácio
O presente texto decorre de um exercício
acadêmico feito no contexto de disciplina de Estudo
Dirigido de Filosofia 3, no curso de Filosofia da
Universidade Federal de São Carlos. A sua inclusão na
série de textos do projeto “Humanização como ferramenta
de aumento de interesse nas exatas” decorre da proposta
contida no texto original, de defender uma metodologia de
leitura de sistemas filosóficos. Nesse caso, expõem-se duas
metodologias e discorre-se sobre as mesmas. Esse tipo de
abordagem, que envolve aplicação, é altamente interessante
ao projeto mencionado.

Embora as metodologias sejam dirigidas ao


texto filosófico, a sua possibilidade de aplicação a textos
técnicos das exatas cria um viés interessante, que se
adiciona à análise das estratégias de transmissão de idéias
do autor lido.

Interessantemente, o texto também permite ao


leitor inserir-se no contexto filosófico de “metodologia”,
que difere do contexto científico. Um método, segundo o
autor lido, interroga o texto. A interrogação pode ser feita
com dois objetivos distintos, mas sugere-se não arrolar um
conjunto de normas dogmáticas, o que coloca o leitor como
um intérprete cujo “método” deve ser a descoberta do
método do autor, sem se fixar a normas “arroladas como
normas”, mas a uma norma comportamental ou postural.

O “método” proposto emana do texto como


uma postura de leitura pré-condicionada do leitor.

Ao final do texto original, o autor introduz


conceitos não aventados na leitura do texto como um todo.
Esses conceitos são utilizados para expor um problema não
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resolvido e para indicar a sua possível solução. A leitura do


texto original é interessante para localizar esses diferentes
momentos na proposição do autor original.

Para comparações ou comentários, por favor


entrar em contato com o presente autor, através de
heschulz@sc.usp.br, ou harry.schulz@pq.cnpq.br.

Harry Edmar Schulz


São Carlos, 18 de Outubro de 2012
Projeto: Humanização como ferramenta de
de aumento de interesse nas exatas

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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

Sumário
1 - Introdução:.............................................................(6)
2 - Leitura propriamente dita:...................................(6) .

2.1 - Goldschmidt 1:..................................................(6)


2.2 - Goldschmidt 2:..................................................(8)
2.3 - Goldschmidt 3:................................................(10)
2.4 - Goldschmidt 4:................................................(13)
2.5 - Goldschmidt 5:................................................(14)
2.6 - Goldschmidt 6:................................................(15)
2.7 - Goldschmidt 7:................................................(17)
2.8 - Goldschmidt 8:................................................(18)
2.9 - Goldschmidt 9:................................................(20)
2.10 - Goldschmidt 10:.......................................... (21) .

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2.11 - Goldschmidt 11:...........................................(24)


2.12 - Goldschmidt 12:...........................................(24)
2.13 - Goldschmidt 13:...........................................(26)
2.14 - Goldschmidt 14:...........................................(28)
2.15 - Goldschmidt 15:...........................................(30)
2.16 - Goldschmidt 16:...........................................(32)
2.17 - Goldschmidt 17:...........................................(33)
2.18 - Goldschmidt 18:...........................................(34)
2.19 - Goldschmidt 19:...........................................(35)
3 - Resumo e Considerações Finais:.........................(37)
4 - Posfácio:................................................................(41)
5 - Referências Bibliográficas:..................................(42)

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Objeto de estudo: Tempo


histórico e tempo lógico na
interpretação dos sistemas
filosóficos.
Autor: Victor Goldschmidt.

1 - Introdução:
A proposta apresentada no contexto disciplinar
do “Estudo Dirigido de Filosofia 3”, no curso de Filosofia
da Universidade Federal de São Carlos, foi de aplicar o
método descrito por Goldschmidt ao texto por ele gerado. A
metodologia adotada no presente texto, no cumprimento
dessa tarefa, foi a leitura de segmentos sucessivos do texto,
efetuando-se tentativamente uma análise conforme a
proposta do próprio autor. Também essa análise foi
segmentada, de acordo com as partes lidas.

Note-se que esta metodologia de leitura está


sendo recorrentemente seguida nos textos que compõem
aqueles elaborados no âmago do projeto “Humanização
como ferramenta de aumento de interesse nas exatas”. No
presente texto, entretanto, não se apresenta o resumo de
cada segmento, feito pelo leitor, à guisa de economia de
espaço.

2 - Leitura propriamente dita:


2.1 - Goldschmidt 1:
Parece que haveria duas maneiras distintas de
interpretar um sistema; ele pode ser interrogado, seja sobre
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sua verdade, seja sobre sua origem; pode-se pedir-lhe que


dê razões, ou buscar suas causas. Mas, nos dois casos,
considera-se ele, sobretudo, como um conjunto de teses, de
dogmata. O primeiro método, que se pode chamar
dogmático, aceita, sob ressalva, a pretensão dos dogmas a
serem verdadeiros, e não separa a léxis (A. Lalande) da
crença; o segundo, que se pode chamar genético, considera
os dogmas como efeitos, sintomas, de que o historiador
deverá escrever a etiologia (fatos econômicos e políticos,
constituição fisiológica do autor, suas leituras, sua biografia
intelectual ou espiritual etc.). –

HES1: No primeiro contato com Goldschmidt,


o leitor pode entender que o autor apresenta a possibilidade
de interpretação de “um sistema”, aqui colocado de forma
indefinida (“um”) permitindo inferir que haja mais sistemas
que possam ser analisados e, em adição, permitindo inferir,
ainda que tangencialmente, que esse texto se coloca em um
momento histórico em que essa discussão de abordagens
pudesse ser entendida pelos leitores. Em outras palavras,
em havendo um público alvo (leitores que se interessam por
sistemas), eles teriam um volume de informações que
permitiria entender que há diferentes maneiras de conduzir
uma leitura acerca desses sistemas.

O texto informa que o autor localizou duas


maneiras de leitura, resumidamente identificadas como
interrogações feitas sobre a “verdade (razões, dogmático)”
ou sobre a “origem (causa, genético)”. Em se aplicando
essa divisão ao seu próprio texto, portanto, seria preciso
interrogar o texto quanto a sua verdade ou a sua origem, de
forma que uma ou outra metodologia de leitura pudesse ser
convenientemente seguida.

Considerando o primeiro parágrafo deste HES1,


e considerando que uma causa genética seria as leituras

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efetuadas pelo autor de um sistema, pode-se talvez aventar


a possibilidade de que o texto de Goldschmidt tenha sido
escrito porque o autor leu textos explicitando diferentes
sistemas, ou porque leu diferentes sistemas. Com esse
conjunto de informações, então, verificou que a leitura
poderia seguir pelo menos duas diferentes vertentes
(apontadas explicitamente no presente texto) e, com base
nesta observação acerca de suas leituras (geneticamente,
por conseguinte), abordou a própria questão da forma de
conduzir uma leitura. Em sendo o caso, tem-se uma causa
genética para a confecção deste texto.

Por outro lado, o autor pode ter apresentado este


texto na forma de uma tese a ser defendida genericamente,
sem a necessidade de sistemas anteriores, ou sem a
necessidade de um sistema a ser analisado, mas em
considerando que se possa imaginar que algo como um
sistema venha a ser proposto e que se possa efetuar uma
leitura do mesmo buscando a verdade que o autor (desse
“eventual” sistema) procurou desvendar ou demonstrar.
Nesse caso, não importam suas leituras anteriores (mesmo
dos sistemas, tomando conhecimento de sua existência) ou
sua biografia intelectual (o que o teria direcionado para este
questionamento), mas o seu arrazoado em si.
Eventualmente o termo “léxis” corrobore esta visão, se
entendido como termo utilizado pelos lógicos para designar
uma proposição que se enuncia sem que seja afirmada nem
negada a sua verdade, bem como o termo “crença”. Em
sendo este o caso, tem-se uma análise dogmática.

2.2 - Goldschmidt 2:
O primeiro método é eminentemente filosófico:
ele aborda uma doutrina conforme a intenção de seu autor
e, até o fim, conserva, no primeiro plano, o problema da
verdade; em compensação, quando ele termina em crítica e
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em refutação, pode-se perguntar se mantém, até o fim, a


exigência da compreensão.

HES 2: O autor coloca o método dogmático


como “eminentemente filosófico”, o que exigiria talvez ter
definido o que seja algo “tão” filosófico, e mesmo o que
seria “menos” filosófico. Caminhando entre os textos de
diferentes autores, permito-me por vezes perguntar o que
seria mesmo este “filosófico” (mas entendo antes como
uma possível limitação pessoal, e não necessariamente dos
textos lidos). Ao informar que este método aborda uma
doutrina conforme a intenção do autor, considerando o
problema da verdade, uma margem para uma dúvida talvez
tenha sido lançada: ao fazermos esse exercício (de nos fixar
na intenção do autor) não devemos nos reportar ao conjunto
de informações disponíveis ao autor quando efetuou seu
estudo? Em outros termos, não devemos nos reportar ao seu
tempo (uma vez que o volume de informações que
dispomos ao longo do tempo sempre nos coloca
“correções” para as “verdades” antes assumidas?).
Utilizando um exemplo que, talvez, não seja feliz, pode-se
lembrar que, em suas meditações, Descartes busca provar a
existência de Deus e a diferença entre a constituição da
alma e do corpo. Suas motivações induziram-no às
reflexões, e essas motivações, salvo melhor juízo, estavam
vinculadas ao seu momento histórico. Em outros termos,
provar suas afirmações podia ser importante no seu
momento histórico. Essas mesmas questões são conduzidas
hoje? O presente momento histórico aponta para a
relevância deste tipo de questionamento? A resposta talvez
seja: “parece que não”. Pode-se talvez aventar que as suas
conclusões, tomadas em si próprias, apenas considerando os
argumentos sem causas, seriam extra-temporais no tocante
ao seu conjunto assumido de restrições (mas isso apenas
poderia ser dito até o momento presente - a temporalidade
continua atuando) e que a sua verdade foi atingida naquele

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momento, segundo aquelas restrições assumidas. Mas,


nesse caso, não estamos justamente confirmando que o
questionamento é vinculado a um momento, ou pelo menos,
a um momento do autor? (E, portanto, a leitura estaria
sendo genética?). Sendo assim, pode-se efetuar uma leitura
do texto de Goldschmidt que seja apenas dogmática?

Admitamos que a “verdade” almejada pelo


autor seja atemporal, enquanto respeitadas as restrições
assumidas. Nesse caso, Goldschmidt apresenta seu texto, no
qual crê permitir analisar a leitura de algo que seria um
sistema, que está aqui sendo exemplificado como o seu
próprio texto, e no qual se está também buscando a verdade
almejada pelo autor. Em outras palavras, a presente leitura
seria conduzida desvinculada de qualquer momento
histórico ou causa bibliográfica e intelectual para o texto
lido. O texto “existe” e exprime a busca de uma verdade.
Em efetuando esta leitura, e em entendendo a mensagem de
Goldschmidt, sua “verdade” atemporal teria sido
compreendida. Isto seria a litura dogmática.

Note-se que a busca de uma verdade expressa


no texto é plausível. A “existência” do texto, sem causas
em leituras prévias (por exemplo, porque essas seriam uma
causa genética), é que causa certa estranheza. Ademais, não
parece claro que essa busca de causas poderia prejudicar a
busca da verdade do autor.

2.3 - Goldschmidt 3:
A interpretação genética, sob todas as suas
formas, é ou pode ser um método científico e, por isso,
sempre instrutivo; em compensação, buscando as causas,
ela se arrisca a explicar o sistema além ou por cima da
intenção de seu autor; ela repousa freqüentemente sobre
pressupostos que, diferentemente do que acontece na
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interpretação dogmática, não enfrentam a doutrina estudada


para medir-se com ela, mas se estabelecem, de certo modo,
por sobre ela e servem, ao contrário, para medi-la.

HES 3 - Uma curiosa série de afirmações foi


feita: uma interpretação genética é científica. A busca das
causas pode levar a uma explicação distante da intenção do
autor, pode estar baseada em pressupostos e não enfrenta a
doutrina “medindo-se com ela”, mas a “mede”. Pode-se
inferir, salvo melhor juízo, que se sugere que uma
interpretação científica não “atinge” a idéia em debate.
Adicionalmente, um método científico considera
“pressupostos” e não estaria indo ao “embate” com a
doutrina, mas a estaria julgando.

Aqui vale talvez defender a denominada


“posição científica”:

1 – Buscar as causas pode economizar muito


tempo e esforço eventualmente gasto acerca de pretensos
conceitos complexos, cuja causa principal seja histórica e
não filosófica. Não se está dizendo que se admite de
antemão que hajam causas históricas para as teses de um
sistema, mas pode ser que hajam, e, nesse caso, é melhor
conhecê-las do que desconhecê-las. A menos que a
ignorância acerca da realidade na qual se move o autor e o
sistema seja desejada.

2 – Reconhecer que em alguma tese de um texto


há causas externas, temporais, efêmeras, também faz com
que não seja necessário considerar algo como “se esses
contornos fossem de fato válidos, a doutrina seria aplicável
em situações similares” ou coisas do gênero. Assim, não há
necessidade de dispender esforços “medindo-se com uma
doutrina” que está circunscrita a contornos que passam a ser

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conhecidos através de um método “científico”. Entretanto,


isto não impede que se efetue o exercício de buscar a
“verdade” do autor circunscrito ao seu universo,
estabelecido pelos contornos que assumiu.

3 – Sobre “medir” a doutrina: parece que emitir


juízos é uma característica do ser pensante. Emitir juízos
exige estabelecer uma base que habilite esse julgamento.
Em que medida uma base científica seria prejudicial à
emissão de um juízo não parece, nesta leitura, estar
aclarado na sequência de proposições do autor. Novamente
fica a ressalva de que eventualmente pode-se estar
desejando a ignorância acerca do meio, o que pelo menos
soa estranho em uma discussão acerca da verdade de um
sistema.

4 – Foi dito que o método científico está


frequentemente baseado em pressupostos. No que tange a
esta leitura, esta afirmação pediria uma justificação (não
fornecida), uma vez que a postura dogmática aceitou a
presença da “crença” para o autor, que, salvo melhor juízo,
também se baseia em pressupostos. Assim, o autor pode ter
suas teses repousadas em crenças, mas o intérprete não
pode adotar um método científico, porque ele estaria
“frequentemente” baseado em pressupostos. Goldschmidt
não exemplifica, nem argumenta em defesa da tese de que a
leitura científica de fato usa de pressupostos. É um
aforismo: “a leitura científica frequentemente se baseia em
pressupostos”. O que leva a essa conclusão? Esta parte do
texto não é convincente.

Note-se que o presente texto (de Goldschmidt),


se escrito a partir do conhecimento de um rol de sistemas
que, analisados segundo uma postura que visa sua
compreensão, leva à proposta classificatória de dois tipos
de análise, também aplicou um método científico.

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2.4 - Goldschmidt 4:
Enfim, o método dogmático, examinando um
sistema sobre sua verdade, subtrai-o ao tempo; as
contradições que é levado a constatar no interior de um
sistema ou na anarquia dos sistemas sucessivos, provêm,
precisamente, de que todas as teses de uma doutrina e de
todas as doutrinas pretendem ser conjuntamente
verdadeiras, "ao mesmo tempo".

HES 4: O autor admite, neste parágrafo, que as


contradições internas a um sistema existente, ou no
contexto de um conjunto de sistemas sucessivos, repousam
na sua pretensão de “verdade conjunta”. Isso é admitido
como atemporal, dizendo que a pretensão de verdade é
independente do tempo. Note-se que isto é a descrição de
uma limitação do método dogmático. Não se trata da
descrição de uma qualidade: a busca da verdade. Pelo
contrário, mostra que a não consideração do tempo cria
uma anarquia.

Sobre o presente texto: seria o caso, para


utilizar o método dogmático, de aceitar que a busca da
verdade almejada por Goldschmidt seja o objetivo a
perseguir nessa leitura. Seus argumentos, entretanto, podem
envolver incongruências internas que necessitam ser
aclaradas. Assumindo que possa haver a leitura de “seu
sistema” eventualmente imaginado sem vínculo a uma
realidade externa, esta leitura talvez seja livre de
incongruências. O sistema se “auto-sustentaria”,
independente das influências externas (históricas, etc.).

Mas como o seu texto pretende ser aplicado à


realidade, ou seja, ele propõe uma metodologia para
sistemas já existentes, sistemas que são diferentes entre si e

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que povoam a realidade dos pensadores, essa independência


já estaria comprometida.

2.5 - Goldschmidt 5:
O método genético, pelo contrário, põe, com a
causalidade, o tempo; além disso, o recurso ao tempo e a
uma "evolução" permite-lhe, precisamente, explicar e
dissolver essas contradições. – Ora, a história da filosofia,
assim como Husserl o exigira da própria filosofia, deveria,
e ao mesmo tempo, ser "ciência rigorosa" e, entretanto,
permanecer filosófica. M. Guéroult, comentando a obra de
E. Bréhier, lembrou, não faz muito, que "a história da
filosofia é, antes de tudo, filosofia, mas que ela não tem
valor para a filosofia senão permanecendo intransigente
sobre a verdade histórica". – É para a elaboração de um
método, ao mesmo tempo, científico e filosófico, que
quereriam contribuir as notas seguintes.

HES 5 – Goldschmidt apresenta agora uma


vantagem do método genético. Ele dissipa as contradições
ao considerar um tempo e uma evolução. Note-se que as
observações bibliográficas, se fossem entendidas como
parte da biografia intelectual do autor ou de suas leituras,
não poderiam ser consideradas, rigorosamente, na discussão
de um método que pretenderia ser puramente dogmático. A
biografia intelectual e a leitura prévia não poderiam
direcionar este texto, uma vez que se estaria caminhando
em direção à “suspensão dos valores de verdade”, por se
vincular o texto à história do autor ou da sociedade
(admitindo, evidentemente, que apenas a causa externa
estaria sendo aventada na formação de uma tese). Por outro
lado, sem haver uma comprovação do valor de verdade das
palavras emitidas por outros autores, as referências passam
a ser meras “manifestações de opiniões”. O fato de um
excerto de outro texto ter sido mencionado não implica
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imediatamente em aceitação de sua mensagem como uma


“verdade” que sustente o presente texto. Em suma, essas
referências, sem verificação de sua verdade, em uma
análise dogmática, não são relevantes. Adicionalmente, o
fato de o autor inserí-las mostra que usa de artifícios
“biograficamente intelectuais” e “de leitura” em sua
argumentação, que, conforme afirmado em Goldschmidt 1,
aponta para uma ferramenta genética.

A proposta do autor, após essas observações


que apontam uma série de incompatibilidades em se utilizar
apenas um método dogmático ou um método genético, é
um método misto – filosófico e científico. Então há um
terceiro método de leitura, que é proposto pelo autor nesta
altura do texto.

Dizer que um método eminentemente filosófico


deve ser ciência, mostra que, ou não há contradição entre
ambos, ou se busca a dissolução de um paradoxo. Nesse
caso, inicialmente os métodos são apresentados como
excludentes, e, introduzindo o tempo no texto de
Goldschmidt, posteriormente são apresentados como não
excludentes (um método ao mesmo tempo científico e
filosófico, nas palavras do autor).

2.6 - Goldschmidt 6:
A filosofia é explicitação e discurso. Ela se
explicita em movimentos sucessivos, no curso dos quais
produz, abandona e ultrapassa teses ligadas umas às outras
numa ordem por razões. A progressão (método) desses
movimentos dá à obra escrita sua estrutura e efetua-se num
tempo lógico. A interpretação consistirá em reapreender,
conforme à intenção do autor, essa ordem por razões, e em
jamais separar as teses dos movimentos que as produziram.
Precisemos esses diferentes pontos.
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HES 6 – O autor explicita o que entende por


filosofia: explicitação e discurso. A “ordem das razões” é
apontada como geradora de um movimento que dá estrutura
ao texto, conferindo-lhe, adicionalmente, um tempo lógico.
Isto lembra M. Guéroult, mas este vínculo bibliográfico é
estranho de ser aventado em uma análise dogmática, uma
vez que corresponderia a um vínculo genético (note-se,
mais uma vez, que a biografia intelectual do autor não seria
relevante na análise puramente dogmática, conforme
Goldschmidt 1). Assim, dogmaticamente deve-se
desconsiderar este eventual vínculo e considerar apenas o
movimento de um texto, com sua ordem das razões, como
sendo relevante. Mas sendo conhecedor desses termos em
outros autores, que os definiram, isto implicaria então em
desconsiderar que Goldschmidt transitava entre idéias já
lançadas por outros no meio no qual atuava. A leitura a ser
feita deveria desconsiderar o conhecimento prévio também
do leitor que se debruça sobre este texto, ou seja, o
intérprete deveria desconsiderar o seu próprio trânsito no
tema – do contrário estaria inserindo um desvio genético.
Não parece que o presente texto permita esse tipo de
postura (aplicando Goldschmidt a Goldschmidt), nem a
análise do autor estaria apontando para isto.

Assim, ainda poderia haver a possibilidade de o


método proposto por Goldschmidt não ser aplicável a
Goldschmidt (neste texto ou em parte dele), ou, o que é
mais plausível a partir da proposta de um método misto, ao
mesmo tempo científico e filosófico, de que a análise
dogmática admite ferramentas genéticas. Nesse caso, todo o
cabedal de conhecimentos prévios do autor, bem como o
seu momento histórico para a apresentação de sua tese,
podem ser relevantes na análise de seu texto. Ou seja, não
há contradição no uso de ferramentas genéticas na análise
“dogmática”, ou, melhor, na análise mista. Note-se que
conhecer a realidade na qual se movem autor e sistema não

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impede de estudar o movimento interno do sistema, com


suas proposições, argumentos e conclusões. Pelo contrário,
pode deixar claro porque uma determinada tese despontou
como relevante, gerando uma necessidade da análise de seu
conteúdo de verdade no movimento do texto.

2.7 - Goldschmidt 7:
A filosofia é explicitação. Que esta explicitação
proceda de uma "intuição original", que haja, por trás do
que está "desenvolvido e exteriorizado", "um núcleo, uno,
simples, voluntário e livre que lhe (ao historiador) revelará
um sujeito", é coisa que se pode, certamente, conceder. Mas
tendo o filósofo pretendido dar-nos um pensamento
desenvolvido, o ofício do intérprete não pode consistir em
reduzir à força esse desenvolvimento a sua fase
embrionária, nem em sugerir, por imagens, uma
interpretação que o filósofo julgou dever formular em
razões. O primeiro motor de um sistema, que se chame
intuição, sujeito,* pensamento central, não permaneceu na
inação.

HES 7 – Curiosamente o autor coloca o esforço


de um eventual intérprete de uma “intuição original”
explicitada filosoficamente como “reduzir à força esse
desenvolvimento a sua fase embrionária...O primeiro
motor...não permaneceu na inação”. Subentende-se que o
autor critica esta posição de um eventual intérprete e,
evidentemente, também o leitor assim fará. Mas a pergunta
que se pode fazer aqui é se de fato há ou haverá um
intérprete que se esforçará em reduzir à incompreensão ou à
sua origem mais remota aquilo que um autor pretendeu
transmitir. Qual é a vantagem em deturpar uma idéia? Se se
assume que o pensador original agiu com honestidade ao
transmitir suas idéias, não é mais adequado também
assumir que o intérprete está agindo com honestidade nos
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seus esforços de interpretação do autor? Não é honesto


verificar a causa da tese, em sendo esta externa,
independente da discussão em torno de seu conteúdo de
verdade?

No texto de Goldschmidt está-se procurando


efetuar uma leitura conforme as suas sugestões. Em
nenhum momento pretende-se gerar uma situação de inação
para seu pensamento. Esta afirmação surge então como
estranha, parecendo antes que Goldschmidt se utiliza de
uma caricatura de um intérprete. Por outro lado, o uso de
imagens é intenso na Filosofia, sendo curiosa a crítica ao
seu uso por um intérprete que seriamente busca transmitir o
entendimento de uma passagem (desde os pré-socráticos,
com suas luzes, passando por Platão, com suas alegorias –
vide caverna, por exemplo – até Sartre – pródigo em
imagens, os filósofos usam de paráfrases sensoriais para
explicar o não-sensível – porque limitar seu uso a um
intérprete?)

2.8 - Goldschmidt 8:
Reduz-se ele a isso, cada vez que se toma um
sistema assim, às avessas; ora, a intuição, tão bem
denominada "original", tendeu, quanto a ela, a explicitar-se.
Além disso, recorre-se a uma causa inteligível que teria isto
de paradoxal, que, permanecendo oculta, como é preciso,
aos olhos do filósofo, se entregaria ao intérprete. É que,
tanto aqui como em outras pesquisas etiológicas, o
intérprete se coloca acima do sistema e, em relação ao
filósofo, ao invés de adotar primeiramente a atitude de
discípulo, faz-se analista, médico, confessor. O sistema,
entretanto, não é escrito para fornecer sintomas e índices
destinados a uma desvalorização radical, em troca de sua
causa produtora oculta, que eles teriam permitido inferir,

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mas, inversamente, para mostrar e para fazer compreender


as produções desta causa, qualquer que seja ela.

HES 8 – Salvo melhor juízo, o autor critica a


posição do intérprete que sugere conhecer uma “causa
necessariamente oculta aos olhos do filósofo”. Parece que
mais uma vez o intérprete é colocado caricatamente como
“pretendendo-se superior”, ou algo que caminhe nesse
sentido. Novamente, salvo melhor juízo, o autor defende
uma causa oculta que gera algo que se deve compreender
(causa esta que o intérprete caricaturado erroneamente
pretende inferir). Nesse caso, aplicando essa interpretação
ao próprio texto de Goldschmidt, a causa deste “sistema de
leitura” poderia estar oculta. Todavia, em estando oculta,
como se poderia inferir que se trata de uma proposta de
diferenciação entre as maneiras de ler uma doutrina? É
possível interpretar o seu texto como não possuindo uma
causa aparente? Isto seria um tanto estranho e é-se induzido
a concluir que não. Em outros termos, seu texto tem uma
causa: um sistema, mesmo eventual, mesmo ainda a existir,
necessita de uma leitura.

Nesse caso, talvez se esteja extrapolando a


possibilidade de paralelismo entre um texto aplicativo
(como este de Goldschmidt em sua totalidade) e um
sistema. Eventualmente um sistema possa induzir a esta
interpretação de uma causa oculta, (invisível ou
indescritível? – pergunta nossa), da qual se pode observar a
produção e, adicionalmente compreendê-la (note-se que não
se está defendendo esta postura, mas apenas evidenciando
uma eventual dificuldade de aplicação do texto de
Goldschmidt a ele mesmo).

Uma segunda interpretação talvez seja: o autor


de um sistema pode apresentar a sua ordem de razões
sujeita a uma causa externa, mas não reconhecível por ele

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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

(como deve ser, caso contrário poderia estar suspenso o


valor de verdade de sua tese) por estar imerso na própria
realidade/causa. Usando um exemplo: o peixe não vê a
água porque está imerso nela. Qualquer movimento deste
peixe ocorrerá neste meio, sem que ele vincule
racionalmente ambos. Portanto, a ordem de razões de um
autor pode ter uma estrutura que não toma conhecimento da
causa da tese. Mas não se pode afirmar que o seu
conhecimento por um intérprete posterior venha prejudicar
a própria tese.

Interessantemente, a possibilidade de uma


produção sem causa remeteria (talvez se possa adjetivar
como “naturalmente”) a uma analogia com ensinamentos
religiosos nos quais a causa oculta (invisível ou
indescritível?) das coisas do mundo seriam os deuses, mas
que permitem observar a produção (o próprio mundo) e
entende-lo (a partir dos sistemas religiosos em pauta).

2.9 - Goldschmidt 9:
Ora, as asserções de um sistema não podem ter
por causas, tanto próximas quanto adequadas,¨ senão razões
conhecidas do filósofo e alegadas por ele. É possível, sem
dúvida, colocar, na origem de um sistema, qualquer coisa
como um caráter inteligível; mas, para o intérprete, esse
caráter somente é dado no seu comportamento e nos seus
atos, isto é, nos seus movimentos filosóficos e nas teses que
eles produzem. O que é preciso estudar é essa "estrutura do
comportamento", e referir cada asserção a seu movimento
produtor, o que significa, finalmente, a doutrina ao método.

HES 9 – O autor fala que as razões devem ser


conhecidas pelo filósofo e retoma a idéia de que a estrutura
do comportamento é relevante. Assim, a impressão de
defesa de uma causa necessariamente oculta ao filósofo
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

poderia ser colocada como contraditória à presente


passagem. Mas ter razões conhecidas não implica em não
ter causa para apresentar as razões, apenas que essas razões
não são vistas com o seu vínculo à causa. Note-se que
Goldschmidt diz que as teses apresentadas são produzidas
nos atos do sistema, sendo o sistema apresentado pelo autor
(que pode ser movido por uma causa não reconhecida). Na
argumentação de Goldschmidt as razões do filósofo estão
independentes da causa e não seria desejável reconhecê-la
como relevante ao sistema em uma análise de um
intérprete. A releitura de ambas as passagens, entretanto,
pode ainda suscitar este caráter eventualmente contraditório
na interpretação possível. Assim, esta característica é
mencionada aqui.

Em seu texto, então, a argumentação de


Goldschmidt conduz à defesa da “estrutura do
comportamento”. A leitura, por conseguinte, tem este
caráter dogmático em meio à sua realidade genética.
(Considera-se aqui a última linha de Goldschmidt 5)

2.10 - Goldschmidt 10:


Doutrina e método, com efeito, não são
elementos separados. O método se encontra em ato nos
próprios movimentos do pensamento filosófico, e a
principal tarefa do intérprete é restituir a unidade
indissolúvel deste pensamento que inventa teses, praticando
um método. Quando um autor consagrou a seu método uma
exposição teórica, é preciso evitar interpretar esta última
como um conjunto de normas dogmáticas, a serem
classificadas ao lado dos dogmas propriamente ditos. Pode-
se generalizar, a esse respeito, o que Descartes diz de seu
próprio método, que "ele consiste mais em prática que em
teoria" (a Mersenne, março de 1637); e quando, a propósito
dos "Ensaios desse método", Descartes precisa "que as
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

coisas que eles contêm não puderam ser achadas sem ele, e
que se pode conhecer por eles o que ele vale", é preciso
acrescentar que, sem eles, nem mesmo se pode conhecer o
que ele é. Inversamente, tampouco se conhecem as teses, se
abstraídas do método de que resultam.

HES 10 - Afirma-se: Doutrina e método são


indissolúveis e “a principal tarefa do intérprete é restituir a
unidade indissolúvel deste pensamento que inventa teses,
praticando um método”. Nesse caso, aplicando essa idéia ao
presente texto, pode-se dizer que a “doutrina” do autor é a
leitura dogmática e genética (filosófica e científica) de seu
texto e que é este método que deve ser aplicado (ver última
linha de Goldschmidt 5).

Afirma-se: É preciso evitar interpretar a


exposição teórica como um conjunto de normas
dogmáticas, classificadas com os dogmas. Mas porque não
fazer isso? Como entender um método se não se
estabelecem suas regras? Que método é esse que não pode
ser descrito? Cientificamente, classificam-se coisas e
regras. Da leitura do texto, nesta passagem, parece que
filosoficamente isto não é aceitável (salvo melhor juízo).

Verifica-se que novamente o autor utiliza


referências bibliográficas que atestam o seu momento de
leitura, o seu conjunto de informações consideradas
relevantes. Uma pergunta que surge dessas referências é:
poderiam outras informações iniciais levar a outras
conclusões? Não se pode descartar essa possibilidade, e,
nesse caso, o autor se movimenta de acordo com o seu
reservatório de conhecimentos aceitos. Nesse caso, não se
pode dizer que não seja possível efetuar uma análise
desvinculada de causas externas, mas pode-se aventar a
possiblidade de ser uma análise eventualmente fútil, porque
essas causas sempre estarão presentes na própria

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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

argumentação do autor. Em outros termos, o autor é o


vínculo entre o sistema e o momento histórico no qual este
foi apresentado. Sem o autor, naquele momento histórico,
não haveria o sistema tal qual foi apresentado. Note-se que
não aceitar essa afirmação implica em se ter possibilidades
alternativas como: 1) Não haveria qualquer sistema, 2) O
mesmo sistema existiria independentemente do autor.

O primeiro caso não se observa. Têm-se vários


sistemas e provavelmente outros serão propostos. O
segundo caso sugere que a verdade se impõe independente
do autor. Nesse caso, não precisaria ter havido Kant, porque
o sistema que ele criou seria apresentado por outro. O
mesmo se pode falar de Descartes e de todos os filósofos
que geraram sistemas próprios. Parece também que esta
afirmação não se verifica, porque mesmo os que aceitam os
diferentes sistemas os explicam de maneiras diversas (ver
os diferentes comentadores).

Presentemente está-se entendendo que o


conjunto de conhecimentos de Goldschmidt e seu momento
histórico foram relevantes para que o texto por ele
apresentado tenha as características internas observadas.
Assim, observa-se que o movimento de seus argumentos
permite uma leitura dogmática, e que suas inserções
bibliográficas denotam as influências genéticas. Nas
influências genéticas está a causa do movimento do texto,
que é analisado de forma dogmática, mostrando que essas
influências que geram o texto não impedem a sua análise
interna. Eventualmente o intérprete não terá acesso às
causas, ou mesmo o autor não as conhecerá como causas
genéticas, porque para ele trata-se de ordenar razões
segundo a sua intuição original. Por conseguinte, o
intérprete pode também seguir o movimento do texto sem
atingir suas causas.

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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

2.11 - Goldschmidt 11:


A pesquisa, em matéria de filosofia, não
procede somente da verdade, mas faz corpo com ela.
Assim, para compreender uma doutrina, não é suficiente
não separar a léxis da crença, a regra, de sua prática; é
preciso, após o autor, refazer os movimentos concretos,
aplicando as regras e chegando a resultados que, não por
causa de seu conteúdo material, mas em razão desses
movimentos, se pretendem verdadeiros. Ora, esses
movimentos se nos apresentam na obra escrita.

HES 11 – Entende-se que não sendo apenas a


verdade a causa da pesquisa filosófica, o autor esteja
reafirmando a possibilidade de uma leitura mista. O autor
menciona a aplicação de regras ao refazer os movimentos
concretos do texto lido. Mas o que são as regras não está
necessariamente claro. Entende-se que seja a leitura
dogmática/genética proposta no final de Goldschmidt 5.
Não obstante, a valorização dos movimentos aponta para
uma leitura dogmática nesta parte de seu texto.

2.12 - Goldschmidt 12:


Seria ainda separar método e doutrina o achar
na obra um método somente de exposição, e não de
descoberta. Mas, na oposição entre esses dois métodos,
pensada até o fim, ou bem os dois termos acabam por
coincidir, ou então o último destrói-se por si mesmo,
porque sustentar, com E. Le Roy, que "a invenção se
cumpre no nebuloso, no obscuro, no ininteligível, quase no
contraditório", é dizer que ela não é, de modo algum, um
método. E é possível, sem dúvida, na exegese dos sistemas,
dedicar-se à reconstituição de uma tal "invenção", isto é,
abandonar o filosófico pelo psicológico e pelo biográfico, e
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

as razões pelas causas. Sem dúvida, é preciso também


reconhecer que um autor possui, sob certa forma, idéias,
antes de poder pensar em expô-las. Mas essas idéias não
terão sua forma certa, sua descoberta não estará
propriamente concluída senão com o traço final da obra.
Crendo o contrário, corre-se o risco de ceder à ilusão
retrógrada denunciada por Bergson; admite-se que uma
doutrina preexiste à sua exposição, qual um conjunto de
verdades inteiramente constituídas e indiferentes a seu
modo de explicitação (e não se deve ter o temor de precisar:
à sua expressão verbal). Mas a opinião não se confunde
com a ciência; a tese simplesmente "descoberta", isto é,
entrevista e que flutua livremente diante do espírito, não
estará inventada, de verdade, senão quando for "exposta",
isto é, "encadeada por um raciocínio" (Menão, 98 a). "Este
ensaio", escreve Condillac, "estava acabado, e, entretanto,
eu ainda não conhecia, em toda a sua extensão, o princípio
da ligação das idéias. Isso provinha unicamente de um
fragmento de cerca de duas páginas, que não estava no
lugar onde deveria estar" (Essai sur l’orig. des conn. hum.,
II, II, 4).

HES 12 – O autor repele a possibilidade de não


haver um método. Também repele a possibilidade de haver
idéias concluídas senão com a conclusão de uma obra. O
autor fixa essa conclusão à expressão verbal. Note-se que
não se está falando apenas do pensamento criativo, mas da
gênese do pensamento criativo. Creio que aqui no máximo
se pode opinar sobre tal tema (pelo menos, HES apenas se
admite uma opinião no presente momento). No que tange
ao volume de informações contido no texto e no
reservatório de conhecimentos de HES até o presente
momento, nem este breve comentário, nem Goldschmidt,
possuem base para discursar com propriedade sobre o que
seria a gênese do pensamento criativo. Nesse caso, o ensaio
abandona a sua característica objetiva e transita pelo reino

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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

da opinião. Infere-se, das afirmações feitas, que uma tese


estará inventada apenas após a sua exposição verbal (infere-
se escrita). Entretanto, poderiam haver idéias filosóficas
que se originaram da experimentação física, ou biológica,
ou química, ou política, ou social, enfim, emana do texto a
impressão de ter havido uma abordagem superficial deste
tema, havendo a necessidade de uma discussão mais
profunda caso se queira um argumento mais sólido. Ao
mencionar suas referências bibliográficas, que atestam um
estado precedente à sua análise, Goldschmidt fornece em si
próprio o exemplo de que há uma interdependência entre o
desenvolvimento do raciocínio que aqui apresenta e sua
própria história (intelectual, se assim se quiser exprimir).
Ou seja, pode-se sugerir mais uma vez, nesta altura do
texto, que análise dogmática e genética caminham juntas.

2.13 - Goldschmidt 13:


Os movimentos do pensamento filosófico estão
inscritos na estrutura da obra, nada mais sendo esta
estrutura, inversamente, que as articulações do método em
ato; mais exatamente: é uma mesma estrutura, que se
constrói ao longo da progressão metódica e que, uma vez
terminada, define a arquitetura da obra. Ora, falar de
movimentos e de progressão é, a não ser que fique em
metáforas, supor um tempo, e um tempo estritamente
metodológico ou, guardando para o termo sua etimologia,
um tempo lógico. Em nada se cede, com isso, a um
"psicologismo" qualquer. O tempo necessário para escrever
um livro e para lê-lo é medido, sem dúvida, pelos relógios,
ritmado por eventos de todos os tipos, encurtado ou
alongado por toda espécie de causas; a esse tempo, nem o
autor nem o leitor escapam inteiramente, assim como aos
outros dados (estudados pelos métodos genéticos) que
condicionam a filosofia, mas não a constituem. Porém,
como escreve G. Bachelard, "o pensamento racional se
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

estabelecerá num tempo de total não-vida, recusando o


vital. Que a vida, por seu lado, se desenvolva e traga suas
necessidades, é, sem dúvida, uma fatalidade corporal. Mas
isso não suprime a possibilidade de retirar-se do tempo
vivido, para encadear pensamentos numa ordem de uma
nova temporalidade". Esta "temporalidade” está contida,
como cristalizada, na estrutura da obra, como o tempo
musical na partitura.

HES 13 – O autor parece estar afirmando que


há um tempo próprio inerente a uma obra humana, relativo
ao seu desenvolvimento, movimento ou estrutura. Salvo
melhor juízo, esse tempo se encontra nas obras derivadas
do pensamento humano: artes e ciências, por exemplo. O
próprio autor menciona a música como um exemplo.

O texto de Goldschmidt possui esse tempo


próprio, esse desenvolvimento/ acompanhamento de seu
raciocínio. Mas isso não implica que a análise desse tempo
seja independente de sua genética. O autor menciona que os
dados genéticos condicionam a Filosofia, mas não a
constituem. Isto também ocorre com as ciências, onde se
reconhece sem preconceitos que o tempo no qual uma
descoberta científica ocorreu condiciona a descoberta e a
sua própria aplicabilidade momentânea. De forma geral, as
ciências “evoluem” e suas “verdades” são vistas como
vinculadas aos contornos então reconhecidos como
relevantes. Posteriormente refutações e correções são
apresentadas, evidenciando-se aquilo que não estava
evidente no momento da criação do modelo. Novos
contornos são colocados para novas aproximações e
modelos, sempre sabendo que também esses serão
refutados e corrigidos futuramente.

A afirmação de que dados genéticos são


condicionantes é relevante. No caso das ciências, o grau de

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São Carlos, 2012.
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conhecimento atingido em determinado momento permite


que uma resposta seja atingida, ou uma proposição
diferente seja apresentada. As conclusões de qualquer
desenvolvimento científico são utilizadas de acordo com o
seu universo de aplicação. E são válidas nesse universo.
Assim, as conclusões da mecânica newtoniana continuam a
ser válidas e verdadeiras em nosso dia-a-dia. O
eletromagnetismo é aplicado na sua forma clássica e a ótica
geométrica permite a produção das lentes de nossos óculos,
binóculos, telescópios, enfim, do aparato ao nosso alcance.
Não obstante, em um universo quântico ou relativístico-
quântico, uma mecânica mais geral deve ser usada, o que
não invalida a primeira nem generaliza o uso da segunda.
Apenas enfatiza o seu caráter complementar, quando os
contornos são definidos.

Assim, espera-se que os dados genéticos sejam


considerados mesmo na Filosofia, porque permitem
entender as condições de contorno utilizáveis em um
sistema. Isto não implica em condenar sistemas ao
ostracismo devido as suas incoerências, quando vistos à luz
de sistemas pretensamente mais gerais. Seria o mesmo que
abandonar a mecânica Newtoniana e resolver problemas
comuns de engenharia utilizando a mecânica quântico-
relativística. O bom-senso evidentemente impede esta ação.

2.14 - Goldschmidt 14:


Admitir um tempo lógico é bem menos
formular uma teoria, por sua vez, dogmática, que uma regra
de interpretação, de que é preciso, ao menos, assinalar
algumas aplicações. Essa regra, em primeiro lugar,
concerne à própria exegese dos métodos. Refazer, após o
autor, os movimentos de que a estrutura da obra guarda o
traçado, é repor em movimento a estrutura e, desse modo,
situar-se num tempo lógico. Assim, o movimento inicial do
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

método cartesiano dá às duas primeiras Meditações sua


estrutura; esta estrutura, da maneira mais aparente,
exprime-se no fato que há duas; a razão deste fato é que,
para cumprir esse movimento, é preciso tempo. Descartes
escreve sobre a dúvida universal: "Eu não pude (entretanto)
dispensar-me de dar-lhe uma Meditação inteira; e eu
gostaria que os leitores não empregassem apenas o pouco
de tempo necessário para lê-la, mas alguns meses, ou, ao
menos, algumas semanas, a considerar as coisas de que ela
trata, antes de passar adianta", e, sobre o modo de conhecer
o espírito: " É preciso examiná-lo frequentemente e
considerá-lo longamente… o que me pareceu uma razão
suficientemente justa para não tratar outra matéria, na
segunda Meditação" ( Seg. Resp., com.). Esse tempo, sem
dúvida, varia segundo o leitor; ele dura "alguns meses" ou
"algumas semanas". Mas a estrutura das Meditações é dada
objetivamente, o método que a subtende tem pretensões a
um valor universal, e o tempo onde se desenvolve esse
método é um tempo lógico, apreendido pelo leitor-filósofo,
ainda que esse leitor, se ele se chama Pedro, possa gastar
com isso menos tempo físico que se ele se chama Paulo. O
erro de interpretação, que Descartes censura em Gassendi,
consiste em arrancar a dúvida universal ao movimento
estrutural e ao tempo lógico. No método platônico, o quarto
e o último movimento caracterizam-se não somente por sua
certeza, seu desembaraço, mas, ainda, de uma maneira
correspondente, pelo pouco tempo que ela supõe .

HES 14 - O autor exemplifica erros e propostas


de acertos a partir das primeiras duas meditações de
Descartes, agora associando um tempo lógico ao tempo de
correta compreensão da leitura de Descartes. O autor fala
de semanas ou meses, ou seja, o tempo físico necessário ao
entendimento do movimento do texto, ainda que
informando não ser este tempo relevante. Interessantemente
havia inicialmente a compreensão de que o tempo inerente

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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

ao texto estava vinculado ao próprio movimento do texto,


portanto sendo desnecessária uma menção de uma
correspondência aos dias, semanas ou meses, ainda que
ilustrativa. Colocando Pedro e Paulo com diferentes
características “temporais”, pode-se aventar que
Goldschmidt implicitamente retorna às características
fisiológicas do leitor, ou à sua história intelectual, ou às
suas leituras, que são componentes genéticas. Esta
passagem, se não teve esta intenção, parece reforçar a idéia
de que o texto deve ser lido de forma dogmática. Esta
ressalva é feita no sentido de que se reconhece que pode ser
necessária uma releitura para captar a verdadeira intenção
de Goldschmidt (no sentido de aplicar Goldschmidt a
Goldschmidt).

2.15 - Goldschmidt 15:


Em certas filosofias, o método em ato, não
somente se move num tempo lógico, mas mantém relações,
implícitas ou explícitas, com uma doutrina do tempo em
geral; isto, tentaremos mostra-lo alhures, acontece em
Bergson, aquilo, nos Estóicos. De um modo mais geral,
repor os sistemas num tempo lógico é compreender sua
independência, relativa talvez, mas essencial, em relação
aos outros tempos em que as pesquisas genéticas os
encadeiam. A história dos fatos econômicos e políticos, a
história das ciências, a história das idéias gerais (que são as
de ninguém) fornecem um quadro cômodo, talvez
indispensável, em todo o caso, não-filosófico, para a
exposição das filosofias; eis aí, escreve E. Bréhier, "o
tempo exterior ao sistema" . – A biografia, sob todas as
suas formas, supõe um tempo vivido e, em última instância,
não-filosófico, porque é o autor da biografia, não autor do
sistema, que comanda seu desenrolar-se; mas o sistema,
qualquer que seja seu condicionamento, é uma promoção;
como diz M. Guéroult, a propósito de Fichte: "Bem se pode
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

(pois) transpor na ordem do especulativo o que se passou na


alma do filósofo"; seguindo-se o caminho inverso, impõe-se
ao sistema uma desqualificação. É bastante notável que seja
Bergson quem tenha afirmado a independência essencial de
uma doutrina em relação ao tempo histórico em que ela
aparece. "Tais ucronias fazem ver o que é essencial num
pensamento filosófico é uma certa estrutura". Pondo em
primeiro plano "a preocupação pela estrutura" que, para
citar ainda E. Bréhier, "domina decididamente a da gênese,
cuja pesquisa tantas decepções causou" , a interpretação
metodológica pode, pelo menos, quanto a seu princípio,
pretender-se "científica"; além disso, do mesmo modo que
as outras exegeses científicas, às quais ela não visa
substituir-se, ela supõe um devir, mas que seja interior ao
sistema, e busca as causas de um doutrina, aquelas pelas
quais o próprio autor a engendra, diante de nós.

HES 15 - O autor menciona referências


bibliográficas que ilustram sua posição. Mas ao dizer que o
que é essencial ao pensamento filosófico é que possua certa
estrutura apenas afirma uma necessidade inerente a
qualquer transmissão de idéias. Há que haver uma estrutura.
Isto não é prerrogativa do pensamento filosófico. O
pensamento científico tem que ter uma estrutura. O
pensamento artístico tem que ter uma estrutura. Seu próprio
texto deve ter uma estrutura. E ele a tem. Na presente
passagem, contradizendo a última linha de Goldschmidt 5,
o autor defende que a análise dogmática é aquela que deve
ser feita. Se isto convence ou não o leitor após buscar
compreender a proposta mista anteriormente colocada,
depende da interação do leitor com seu texto. As
deficiências para a transmissão de idéias podem se localizar
tanto no autor, como no leitor. Eventualmente, deficiências
na estrutura do texto produzem deficiências na sua
interpretação. Goldschmidt quis ou não defender a leitura
mista? Se sim, porque agora valoriza a leitura dogmática?

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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

Se não, porque apresentou a última linha de Goldschmidt


5? Em nenhum momento o autor refutou sua busca por um
método “ao mesmo tempo” científico e filosófico.

2.16 - Goldschmidt 16:


Filosófica, ela o é, na medida em que tenta
compreender um sistema, conforme à intenção de seu autor.
Indo mais além, ela poderia fornecer indicações, ao menos,
para o que concerne ao problema da verdade formal de uma
doutrina. – Que os movimentos filosóficos se cumpram
num tempo próprio, isso significa, essencialmente, que a
filosofia é discurso, que a verdade não lhe é dada em bloco
e de uma só vez, mas sucessivamente e progressivamente,
isto é, em tempos e em níveis diferentes. Se assim é, não
parece, então, que se possa exigir de um sistema, o acordo
simultâneo, resultando de uma conspiração intemporal, de
seus dogmas considerados, unicamente, em seu conteúdo
material. É o mesmo desconhecimento do tempo lógico que
está na raiz destas duas exigências, a nosso ver, ilusórias:
medir a coerência de um sistema pela concordância,
efetuada num presente eterno, dos dogmas que o compõem,
e realizar o esforço filosófico por uma intuição única e
total, estabelecendo-se, também ela, na eternidade.

HES 16 - Salvo melhor juízo, o autor defende


que não há verdade atemporal no movimento interno de um
sistema (anteriormente foi utilizado o momento histórico
nas argumentações, mas FORA do sistema – ou a
temporalidade, como um exemplo de influência genética –
ver HES2, onde isso foi utilizado no comentário). Na
presente argumentação, é dito que se pode estar seguindo
uma “conspiração intemporal” ao propor um acordo
simultâneo de suas conclusões. Entende-se que essa
argumentação se localize “dentro” do sistema, ou seja, as
teses podem ser aceitas ou refutadas no “desenrolar” das
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São Carlos, 2012.
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argumentações, mas não precisam ser concomitantemente


verdadeiras.

Após as afirmações de Goldschmidt 16 não se


pode afirmar que essa conclusão possa ser aplicada ao
presente texto, a menos que se possa considerar que a
análise Dogmática e a análise Genética possam coexistir na
argumentação, porém em tempos diferentes no contexto de
“seu sistema”.

2.17 - Goldschmidt 17:


O "pleroma" das filosofias jamais poderá
constituir-se pela concordância intemporal dos dogmas; eis
aí o contra-senso fundamental de toda tentativa de
ecletismo. Para constituí-lo solidamente, seria preciso
unificar os diferentes tempos lógicos, mas sem recorrer ao
tempo histórico (que não pode contê-los), nem a um tempo
universal à maneira hegeliana (que os desregra e esmaga).
Este tempo único englobante, não se pode conceber ele
senão à maneira da idéia kantiana, tentando-se, unicamente,
transpondo uma indicação dada por Bergson, restituir
fragmentos dele que sejam comuns a duas consciências
(filosóficas) "suficientemente aproximadas umas das
outras", para ter "o mesmo ritmo de duração" (Durée e
Simultanéité 2, pág. 58); tais comparações, institui-las-á o
historiador, sem levar, necessariamente, em conta o tempo
histórico, entre pensadores cujo "comportamento" filosófico
ofereça estruturas aparentadas. As pesquisas sobre as
"formas de pensamento", ou "estudos arquitetônicos" vão
nesse sentido.

HES 17 – (pleroma – plenitude, totalidade dos


poderes divinos) O autor menciona uma possibilidade de
unificação dos tempos de diferentes sistemas apenas sob
condições especiais. Para tanto, utiliza uma menção da
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

“duração” de Bergson, um conceito de difícil aplicação,


ainda mais em se visando uma aplicação metodológica. A
duração possui sentidos como “o intervalo entre duas
apreensões do espaço” e “uma noção de eternidade”.
Entretanto, utilizar um conceito externo ao próprio
desenvolvimento das idéias do presente texto, conferindo a
este conceito a possibilidade de ser um elemento de
unificação dos tempos que estão em discussão, torna o
próprio texto vinculado ao seu ambiente. Goldschmidt cita
Bergson, no que tange à passagem em que a duração é
mencionada. Em outras palavras, as leituras efetuadas por
Goldschmidt tornam-se relevantes na sequência de suas
propostas, não sendo explicadas em seu texto, mas
remetendo o leitor às referências originais. O seu texto,
portanto, remete ao seu entorno, ou á sua biografia
intelectual.

No caso do texto de Goldschmidt, não se trata


de compará-lo a outros textos similares, que possuem
“durações” próprias e, através dessas durações, unificá-los.
Nesse caso, o texto não se aplica à análise de Goldschmidt.
Pode-se, como já foi mencionado, considerar tempos
diferentes dentro do próprio texto, onde a leitura mista é
sugerida, mas havendo momentos em que a leitura
dogmática desponta como defendida.

2.18 - Goldschmidt 18:


O problema da verdade material dos dogmas,
considerado em si mesmo, não está, com isso, resolvido.
Mas, pelo menos, parece que não se pode ele colocar em si
mesmo e separadamente; toda filosofia é uma totalidade,
onde se juntam, indissoluvelmente, as teses e os
movimentos. Esses movimentos, efetuando-se num tempo
lógico, implicam memória e previsão; mesmo se eles se
apresentam como rupturas, são feitos em conhecimento de
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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

causa; são decisões ("batalhas", dizia Descartes); o que, ao


mesmo tempo, mede a coerência de um sistema e seu
acordo com o real, não é o princípio de não contradição,
mas a responsabilidade filosófica.

HES 18 – Há uma assunção de que há aspectos


não resolvidos na discussão efetuada. O princípio da não-
contradição não é indicado como relevante para a “medida”
da coerência de um sistema, mas a “responsabilidade
filosófica” seria relevante. O que seria esta
“responsabilidade filosófica” não foi de fato definido,
ficando sua interpretação ligada à “interpretação que o
leitor fizer do texto apresentado”. Assim, discussões podem
ser geradas em torno deste termo que, de certa forma,
conclui o pensamento do autor sem comprometê-lo com
algo conhecido, mas lançando essa conclusão no
entendimento da “responsabilidade filosófica”.

Acerca da filosofia ser uma totalidade, onde se


juntam teses e movimentos, havendo rupturas “com
conhecimento de causa”, havendo decisões, mostra uma
proposta de fechamento poética, algo dramática. Mas ao
agir assim, coloca ao leitor as rupturas e os movimentos
com um “conhecimento de causa”, precisamente uma causa
anteriormente refutada, ou colocada como não relevante ao
desenvolvimento da ordem das razões do autor de um
sistema. Assim, sem explicitar o que pretende com o
“conhecimento de causa”, Goldschmidt dá um fechamento
paradoxal ao seu texto, remetendo ainda, como já
mencionado, os aspectos não resolvidos para uma
indefinida “responsabilidade filosófica”.

2.19 - Goldschmidt 19:


É o que explica o recurso necessário, da parte
do historiador, à obra assumida. Seja qual for o valor dos
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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

inéditos, eles não são, enquanto concebidos num tempo


unicamente vivido, construídos no tempo lógico, que é o
único a permitir o exercício da responsabilidade filosófica.
Notas preparatórias, onde o pensamento se experimenta e se
lança, sem ainda determinar-se, são léxis sem crença e,
filosoficamente, irresponsáveis; elas não podem prevalecer
contra a obra, para corrigi-la, prolongá-la, ou coroá-la;
muito freqüentemente, não servem senão para governá-la,
e, desse modo, falseá-la. Ora, o historiador não é, em
primeiro lugar, crítico, médico, diretor de consciência; ele é
quem deve aceitar ser dirigido, e isso, consentindo em
colocar-se nesse tempo lógico, de que pertence ao filósofo a
iniciativa.

HES 19 – Uma conclusão específica do último


parágrafo é: “o intérprete deve aceitar ser dirigido”.

A conclusão mais geral do autor parece ser de


que a obra estabelece uma “verdade inerente a ela”. Mesmo
informações incompletas do autor não podem ser usadas,
porque poderão falsear a obra pronta.

Assim, o presente texto deve ser entendido, se


aplicado a ele o método proposto, como contendo uma
verdade em si. Não cabe ao intérprete mais do que ser
dirigido. Nesse sentido, o texto apresenta-se como
propondo um método dogmático e genético (ao mesmo
tempo), mas seguramente defende o uso do método
dogmático em passagens posteriores a esta afirmação. A
leitura feita buscou inicialmente seguir o método misto. Os
movimentos do autor foram seguidos (e comentados). O
ambiente genético foi reconhecido, principalmente no
tocante as suas referências bibliográficas e ao remeter a
metodologia para fora do próprio texto, ao mencionar a
duração de Bergson.

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São Carlos, 2012.
Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas
Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

De forma geral, o autor argumenta


exemplificando com os textos que possuía à época. Suas
idéias serão indubitavelmente lidas e, nesse ler, suas
referências serão mencionadas. Nesse contexto de leitura, o
autor teve uma inspiração independente da sua história, ou
motivada pela sua história? O seu texto foi condicionado
pelo momento vivido, mas a sua inspiração teria sido
possível em outro momento? Sua construção (seu
movimento) e sua conclusão seriam as mesmas em outro
tempo? Talvez não, e, nesse caso, parece que a verdade
pode ser talvez melhor aproximada em se considerando a
análise dogmática em conjunto com a análise genética.

Se, por outro lado, o movimento do texto não


depender do autor, de seus conhecimentos aceitos, e puder
ser entendido como detentor de uma busca de verdade que
leva a mesma conclusão, independente de seus caminhos,
então a análise puramente dogmática é possível. Entretanto,
é necessário, antes, mostrar que um sistema independe do
seu autor, que o autor não representa um vínculo entre o
sistema e seu momento histórico e que o sistema se
formaria mesmo na ausência daquele autor.

3 - Resumo e Considerações Finais


O texto comenta que o “movimento do texto” é
o método do autor. A interpretação é reaprender.
Mas, nessa definição de interpretação, esse
reaprender depende do leitor, ou, em outras palavras, cada
leitor reaprenderá a sua maneira, uma vez que cada leitor
possui uma carga própria de conhecimento prévio que
permitirá a apreensão das idéias do autor. Apesar de lançar
a responsabilidade de “reaprender” sobre o leitor,
subordina-se o método do leitor ao método do autor, que,
por sua vez, estando vinculado ao autor, é um método
próprio. A “tarefa” do leitor intérprete passa a ser definida
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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

como a restituição da unidade de um pensamento que


inventa teses praticando um método.

Utilizando outras palavras, o inventar remete


imediatamente à capacidade criativa de cada autor. Essa
capacidade é “pessoal e intransferível”, sendo, portanto,
cada método criativo inerente a cada autor. Assim, então,
parece que o leitor intérprete deve tentar entender o
processo criativo do autor lido (o movimento do autor em
seu texto). Pode-se questionar se isso é um método, uma
vez que se trata de entender um método criativo pessoal a
partir de uma leitura condicionada pelo reservatório de
conhecimento pessoal do leitor. Nesse caso, é a postura do
leitor que deve ser de subordinação.
Valorizar a subordinação também pode induzir
a se entender a proposta como a negação da possibilidade
de interpretação com a emissão de um juízo. Nesse caso, é
uma defesa de uma leitura que acompanhe
incondicionalmente o sistema conforme proposto pelo
autor. Mas essa defesa não precisa ser feita, se aceitamos
que o sistema se aplica no contexto de seus contornos. Ele
já existe segundo esses contornos, defendido pelo seu autor.
Mas é a interpretação considerando causas e a possibilidade
de justificação dos contornos aquela que permite ir além
desses mesmos contornos e, portanto, gera a possibilidade
de evoluir no pensamento de forma global.
Alguns passos do texto são aqui resumidos e,
eventualmente, analisados.

1 – O autor apresenta uma hipótese: há dois


caminhos que podem ser seguidos pelo intérprete de
sistemas: análise dogmática e análise genética.

2 – O autor vincula a análise dogmática a um


tempo lógico e a análise genética ao tempo físico.

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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

3 – O autor explicita características da análise


dogmática, com sua busca da verdade do autor, seu
desvinculo do tempo real, colocando como regra (ao que
parece) o estudo da "estrutura do comportamento" do texto,
seu movimento, sua argumentação.

4 – O autor explicita que a análise genética


retira incongruências derivadas da análise dogmática ao
inserir o tempo e a evolução.

5 – O autor propõe um método ao mesmo


tempo científico e filosófico.

6 – Resumindo radicalmente, parece que a


consequência de uma análise puramente dogmática é que,
dado um autor e os limites que ele impõe a seu sistema, o
valor de verdade de suas conclusões é dado pelo sistema
propriamente dito.

7 – Embora não se possa inferir isso


imediatamente do texto, porque uma análise mais
abrangente é necessária, parece que a análise inserida no
texto do autor, ou no sistema estudado, vinculado aos seus
contornos, torna os sistemas incomparáveis. Não se pode
afirmar isso com a breve leitura efetuada. Assim, a leitura
contínua deste texto e de comentadores deverá permitir
concluir mais adequadamente acerca deste ponto. Em
termos de ciência, entende-se que o momento histórico
condiciona as propostas de um ou outro modelo, podendo
haver correções e apresentações de modelos mais gerais,
daí condicionados pelo momento histórico dessa nova
apresentação. Mas geralmente os modelos científicos são
entendidos como complementares, e não excludentes. A
leitura do texto de Goldschmidt não transmitiu essa idéia de
complementaridade aos sistemas filosóficos. Contudo faz-
se a ressalva aqui de que isso pode ser decorrente do

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São Carlos, 2012.
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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

aspecto pessoal do leitor: a sua biografia intelectual ainda


pode estar necessitando de insumos que permitam atingir
um reservatório de conhecimentos específicos que o
habilitem ao reconhecimento da complementaridade, se
assim de fato está expressa pelo autor.

8 – O texto de Goldschmidt se refere a outros


autores, mostrando que há um conhecimento evolutivo
utilizado na construção de suas idéias, conhecimento este
gerado por outros autores. Nesse sentido, o texto mostra
que uma idéia depende do meio no qual é gerada. Embora o
autor mencione que a genética condiciona a Filosofia, mas
não a constitua, a leitura efetuada pode conduzir à
conclusão de que as análises dogmática e genética seriam
interdependentes ou complementares.

9 – O autor não permite, entretanto, uma


conclusão definitiva como aquela apresentada em 8. Suas
últimas linhas mencionam um “conhecimento de causa”
(anteriormente não considerado relevante) e remetem a uma
“responsabilidade filosófica” indefinida a resolução do
problema da “verdade material dos dogmas”. Tanto a
“responsabilidade filosófica” como a “verdade material”
são expressões apenas usadas em Goldschmidt 18, isto é, no
final do texto. Esta menção tardia, sem vínculo com o texto
propriamente dito, conferem mais “teatralidade” a este
final, de certa forma frustrando o leitor honestamente
interessado na discussão acerca da leitura a ser efetuada em
textos filosóficos.

10 – Repetindo uma conclusão final já expressa


desta forma, tem-se que, se o movimento do texto não
depender do autor, de seus conhecimentos aceitos, e puder
ser entendido como detentor de uma busca de verdade que
leva a mesma conclusão, independente de seus caminhos,
então a análise puramente dogmática é possível. Entretanto,

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é necessário, antes, mostrar que um sistema independe do


seu autor, que o autor não representa um vínculo entre o
sistema e seu momento histórico e que o sistema se
formaria mesmo na ausência daquele autor.

Uma análise do sincretismo entre o tempo


histórico e o tempo lógico pode ser eventualmente
elaborada a partir da aplicação da fórmula recorrente: “só se
poderá aplicar Goldschmidt em Goldschmidt em havendo
antes Goldschmidt”.

Finalmente, menciona-se uma análise histórica


(portanto genética) feita acerca de um texto de Nietzsche,
no qual também despontam esforços de entender o
movimento dado pelo autor mencionado às suas idéias.
Entende-se que essa análise pode ilustrar a presente
discussão. Ver Schulz (2011).

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Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

4 - Posfácio:
O texto de Goldschmidt é interessante para
leitura no contexto do Projeto Humanização como
ferramenta de interesse de aumento nas exatas, porque visa
discutir formas de leitura de sistemas no contexto
filosófico. Isto conduz o leitor do texto a uma visão crítica
acerca de si mesmo enquanto interagindo com textos
filosóficos. Nesse sentido, o autor da presente análise
também refletiu sobre a leitura essencialmente voltada á
filosofia, que os textos dessa área merecem. Entretanto,
mesmo sabedor de que há comprometimento da
abrangência filosófica que poderia usufruir dos textos lidos,
o objetivo inicial deste projeto deve ser mantido, sob a pena
de dispersão e perda de coerência no esforço empreendido
para adquirir ferramentas de transmissão de idéias
complexas. Nesse sentido, no que tange à transmissão de
sua idéia, Goldschmidt oscila entre uma proposta mista e
uma (aparente) convicção de leitura dogmática. Por
conseguinte, uma melhor clareza acerca daquilo que
pretende com o artigo seria desejável. Também a
conclusão, que remete a novas “teses” (se assim se pode
dizer), ou idéias, quais sejam a da responsabilidade
filosófica e da verdade material dos dogmas, emprestam
uma indefinição na finalização da proposta. De forma geral
a leitura é agradável e coloca a questão de que a análise
genética não é suficiente no estudo de um texto. Isto é
utilizável também para os textos científicos, onde o
momento histórico condiciona, mas não impede o estudo da
teoria proposta em seu universo.

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5 - Bibliografia:
Goldschmidt, Victor. Tempo histórico e tempo
lógico na interpretação dos sistemas filosóficos: A religião
de Platão. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1963. pp.
139-147. Texto indicado no curso de Filosofia e obtido de
http://www.jcrisostomodesouza.ufba.br/goldsc.html

Schulz, Harry Edmar. Nietzsche e a doutrina do


objetivo da vida, Projeto Humanização como ferramenta de
aumento de interesse nas exatas, 2011, Texto obtido de
http://stoa.usp.br/heschulz/files/3255/18262/Nietzsche+e+a
+doutrina+do+objetivo+da+vida.pdf

Imagem da capa:

O tabuleiro de xadrez apresenta dois peões, peças de igual


peso, representando o embate entre as duas visões
colocadas por Goldschmidt. A dúvida que aparece em cada
peão aponta para a incerteza acerca do método mais
adequado.

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