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PROMESSA DE DOAÇÃO: AS IMPLICAÇÕES DA CONCEITUAÇÃO

TÉCNICA SOB A REALIDADE SOCIAL E JURÍDICA BRASILEIRA

Os contratos frente ao direito moderno se prestam, em especial, a realizar dois

objetivos: garantir a função social do contrato e permitir a geração e o fluxo de riquezas.

O primeiro significar que os contratos devem produzir efeitos relevantes no meio social,

tendo especial respeito aos princípios constitucional, inclusive as normas fundantes

elencadas no artigo 1° e também do artigo 178 da carta magna. Já o segundo significa a

importância de os contratos possuírem conteúdo econômico, isto é, só nos interessa para

fins de tutela legal do código Civil aqueles contratos que repercutirem na esfera

patrimonial dos contratantes.

Encontra-se entre os contratos dispostos na parte especial do código Civil aquele

que é denominado contrato de doação, trata-se de instrumentos por meio do qual,

conforme artigo 538, "Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por

liberali-dade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra."

Aliás, o contrato de compra e venda não precisa se ver, precisamente, na forma de

um contrato pronto a ser celebrado de forma imediata, já tendo como seu objeto o próprio

bem que será doado.

A sistemática da doação poderá, igualmente ao que ocorre ao contrato de compra

e venda, se perfazer na forma de uma promessa, sendo regulado pelo exposto nos artigos

462 a 466 do diploma civilista. Contudo, ainda geram, em especial no que concerne à

doutrina, dúvidas a respeito da plausibilidade da existência de tal Instituto denominado

de promessa de doação.
Resta-nos, por ora, vir a compreender o que seria o contrato de promessa de

doação. Pelo magistério de Marcos Catalan1, compreende-se conforme promessa de

doação “o contrato por meio do qual alguém promete, no futuro, em razão do advento de

termo ou condição, externalizar sua vontade e concluir contrato de doação”.

Em síntese, ao que fora supracitado, o instituto não foge daqueles que o

originaram, isto é, sua conceituação não se distancia das ideias de doação de contrato

preliminar, contudo, como é observado, a sua eficácia fica submetida a ocorrência de um

determinado evento futuro, trata-se, pois, de um contrato que opera soba existência de

uma condição suspensiva.

Entretanto, ainda há que se ponderar a respeito da possibilidade de exigibilidade

da conclusão do contrato nos casos em que se for adimplida o termo ou condição

suspensiva.

No que concerne ao contrato de doação, é bem sabido de que neste, a Liberalidade

– ou benesse – não é passível de ser exigida pelo donatário, bem como pelo terceiro que

venha a sofrer diretamente os efeitos. A existência de encargos existentes pouco

importam, visto não descaracterizaram a qualidade de liberalidade presente.

Eis o porquê, conforme salienta a lei, haver o roll taxativo que permite a revogação

da doação, da mesma forma também faculta ao doador reaver o bem doado, em caso de

morte do receptor.

1
CATALAN, Marcos. Reflexões acerca da eficácia da promessa de doação no direito brasileiro. Revista
Jurídica (Notadez), n. 402. Editora Síntese, 2011. p. 51 apud in BIAZI, Danielle Portugal de. A promessa
de doação e as controvérsias doutrinárias no Direito Civil brasileiro e comparado. Âmbito Jurídico.
Disponível em < https://goo.gl/Fu9snj>. Acesso em: 10 set. 2018
Contudo, a questão acerca da promessa de doação toma contornos doutrinários

consideráveis, a ponto de inclusive, ter chegado ao STJ para que este “batesse o martelo”

sobre a questão.

Atualmente, perduram as seguintes correntes:

Uma primeira a qual acredita na total nulidade da promessa de doação, justamente

pelo fato de que a sua exigibilidade afetaria, em larga escala, a característica de

liberalidade, resultando na possibilidade uma doação coativa, inclusive por via judicial.

Outra vertente, de cunho mediano nessa temática, acredita ser a promessa de

doação valida, contudo, não há qualquer hipótese para que possa vir a se tornar exigível.

Por fim, uma última corrente, adotada, inclusive pela larga maioria dos tribunais

tupiniquins assim como se perfaz como a corrente dominante nos precedentes do Superior

Tribunal de Justiça é a de possibilidade da exigibilidade da promessa de doação, ainda

que mitigada, quando se tratar pactos envolvendo casamentos, seja a sua celebração ou o

divórcio.2

Acredita-se aqui não restar dúvidas a respeito da plausibilidade, seja da existência

quando da dosagem de efeitos - cláusula suspensiva, exigibilidade – doravante ao fato de

incumbir ao STJ o dever de pacificação da legislação infraconstitucional. Contudo, não

se descarta a possibilidade da discussão ainda perdurar, por longos períodos, nos textos

doutrinários, onde conclusões terminativas são sempre mais difíceis de serem alcançadas.

2
Cf. STJ. Mesmo com separação, promessa de doação de bem, feita em pacto antenupcial deve ser
cumprida. Disponível em < https://goo.gl/N6TrHx>.

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