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1. Definição da Hermenêutica
1
Novo Michaelis Dicionário Ilustrado, São Paulo: Melhoramentos, vol. IV, 7ª edição, 1961, pp. 673
2
BUENO S., Minidicionário da Língua Portuguesa, São Paulo: Lisa, 6ª edição, 1992, pp. 342
3
Terry vem a definir hermenêutica como hermenêutica geral tendo em vista que: “Esses princípios gerais são igualmente aplicáveis
a interpretação da bíblia como a todos os demais livros e, com muita propriedade se designa o nome de hermenêutica geral”.
TERRY M. S., Hermenêutica Bíblica, México: Casa Unida de Publicaciones & Buenos Aires: La Aurora, 2ª ed., 1924, pp. 38
tem regras, e essas regras podem ser classificados em um sistema ordenado. É
considerada uma arte, pois a comunicação é flexível e, portanto, uma aplicação
mecânica e rígida de regras, que por vezes, irá distorcer o verdadeiro significado de uma
comunicação. Para ser um bom intérprete deve-se aprender as regras de hermenêutica,
bem como a arte de aplicar essas regras.4 A teoria hermenêutica é por vezes dividida em
duas subcategorias: a hermenêutica geral e especial. Hermenêutica geral é o estudo das
regras que regem a interpretação do texto bíblico. Inclui os tópicos de interesse
histórico-cultural, contextual, léxico-sintática, e analisa teológica. Hermenêutica
especial é o estudo dessas regras que se aplicam a gêneros específicos, como parábolas,
alegorias, tipos e profecia.
4Virkler,H. A., & Ayayo, K. G. (2007). Hermenêutica: princípios e processos de interpretação bíblica.
2nd ed., Grand Rapids, MI: Baker Academic, P. 16
5Paul Ricoeur dá uma definição alternativa de hermenêutica. Para Ricoeur hermenêutica é: “...a teoria das
operações da compreensão em sua relação com a interpretação dos textos. A idéia diretriz será, assim, a
de efetuação do discurso como texto”. RICOUER P., Interpretação e ideologias: organização, tradução e
apresentação de Hilton Japiassu, Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S/A, 1990, pp. 17
6 ALMEIDA A., Manual de Hermenêutica Sagrada, São Paulo: CEP, 1957, pp. 11
estava sendo lido. O leitor era um funcionário da corte etíope de Candace, rainha da
Etiópia (Atos 8.27). No caminho de volta para a Etiópia, ele foi acompanhado por
Felipe, a quem Deus disse para atender o funcionário (vs. 26-29). Felipe iniciou uma
conversa com o homem, fazendo-lhe uma pergunta de uma questão de interpretação da
Bíblia. “Você entende o que está lendo?” (v. 30) O diretor financeiro respondeu: "Como
posso entender, a menos que alguém me explique?” (v. 31) Convidando Felipe a se
juntar a ele na carruagem, o Africano perguntou se o profeta Isaías (em Isaías 53.7-8)
estava falando sobre si mesmo ou alguém. Sua pergunta revelou a sua necessidade de
ajuda na interpretação da passagem. Felipe explicou que a passagem se refere a Jesus.
Como resultado da conversa o Africano aceitou o Senhor como seu Salvador.
Este diálogo no deserto aponta duas coisas. Em primeiro lugar, ver as palavras
em uma página da Bíblia, não significa necessariamente que o leitor apreenda seu
significado. Observar o que a Bíblia diz é o primeiro de vários passos no estudo da
Bíblia.7 É importante saber o que o texto afirma, na verdade. Mas isso pode às vezes
levar a perguntas sobre o significado do que é lido. Muitas pessoas, ao ler trechos da
Bíblia, ficam confusos sobre o seu significado ou ficam com uma falsa
compreensão.Em segundo lugar, o incidente entre o evangelista e o eunuco revela que a
orientação adequada pode ajudar outros a interpretar o que lêem na Bíblia. A pergunta
de Felipe, “Você entende o que está lendo?” implicava que o leitor provavelmente não
entendia, mas que era possível compreender. Na verdade o pedido do tesoureiro de
alguém para explicar a passagem para ele era uma admissão da parte dele que ele não
poderia compreender corretamente a passagem por ele mesmo e que sentia a
necessidade de ajuda na interpretação.
Vários meses após Neemias completar a reconstrução dos muros de Jerusalém e
os israelitas haviam se estabelecido em suas cidades, Esdras, o escriba leu para eles “O
Livro da Lei de Moisés” (os cinco primeiros livros da Bíblia). Como o povo estava
reunido diante da Porta das águas em Jerusalém (Ne 8.1). Esdras leu a lei perante a
congregação e diante de todos os que eram capases de a entender. Ele a leu desde o
amanhecer até o meio dia (v. 3). Os levitas também leram em voz alta a partir da Lei ,
deixando claro e dando o significado de modo que as pessoas pudessem entender o que
estava sendo lido (vs. 7-8). Como resultado, as pessoas estavam alegres, porque só
agora entendiam as palavras (v. 12).
7
Campbell, D. K. (1991). Prefácio. Em C. Bubeck Sr. (Org.), Principios Básicos da Bíblia Interpretação: Um Guia Prático para
Discovering verdade bíblica. Colorado Springs, CO: David C. Cook. p. 9,10 tradução minha
1.1.1. Por que a interpretação da Bíblia é importante?
A interpretação da Bíblia é essencial para se compreender e ensinar a Bíblia
corretamente. Ten-se que saber o significado da Bíblia antes que se possa saber a sua
mensagem para hoje. Sem hermenêutica (a ciência ea arte de interpretar a Bíblia), o
intérprete dá um salto e ignora passos indispensável no estudo da Bíblia. O primeiro
passo, a observação, “O que ela diz?” O segundo passo, interpretação, “O que
significa?” A terceira etapa, reflecção “como isto se aplica as vida contemporânea” e a
quarta etapa; a aplicação, “Como isso se aplica a mim?”
Interpretação é talvez o mais difícil e destes quatro passos e a que mais consome
tempo. E, no entanto cortar o estudo da Bíblia nesta área pode levar a erros graves e
resultados defeituosos. Algumas pessoas com conhecimento de causa “distorcem a
Palavra de Deus” (2 Cor. 4.2). Alguns até "distorcem" as Escrituras “para sua própria
destruição” (2 Pedro 3.16). Outros, sem saber, caminham para longe da Bíblia com
interpretações defeituosas. Por quê? Por causa da atenção inadequada aos princípios
envolvidos na compreensão das Escrituras. Nos últimos anos, temos visto um grande
aumento de interesse no estudo informal da Bíblia. Muitos grupos pequenos se reúnem
semanalmente em casas ou em igrejas para discutir a Bíblia, o que significa e como ele
se aplica. As pessoas desses grupos sempre estão, com o mesmo entendimento da
passagem estudada? Não necessariamente. Alguns podem dizer: “Para mim, este
versículo significa isto”, e uma outra pessoa no grupo pode responder: “Para mim o
verso não significa que; isso significa que este.” Estudar a Bíblia desta maneira, sem
diretrizes hermenêuticas adequadas, pode levar a confusão e interpretações que ainda
estão em direto conflito.
Será que Deus pretendia que a Bíblia fosse tratada dessa maneira? Se ela pode
ser usada para significar qualquer coisa que se quiser, como pode ser um guia
confiável?
interpretações conflitantes de muitas passagens são abundantes. Por exemplo,
uma pessoa lê João 10.28: “Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; e
ninguém pode arrebatá-las da Minha mão”, e entende que o verso parece estar
ensinando sobre a segurança eterna. Outros lêem o mesmo verso e explicam que,
embora ninguém pode arrebatar um cristão da mão de Deus, o crente pode afastar-se da
mão de Deus pelo pecado persistente. Algumas pessoas sugerem que a declaração de
Paulo em Colossenses 1.15 que Cristo é "o Primogênito de toda a criação" significa que
Ele foi criado. Outros entendem que o verso está dizendo que como um filho
primogênito de uma família Ele é o herdeiro. Alguns cristãos praticam o chamado falar
em línguas, com base em 1 Coríntios 12-14. Outros lêem os mesmos capítulos e
entendem que esta prática era apenas para a Era Apostólica e não para hoje. Alguns
leram Naum 2.4, “Os carros de assalto pelas ruas, correndo para trás e para frente
através dos quadrados”, e concluíram que este versículo estava profetizando o tráfego
de automóveis pesados nas nossas cidades hoje. Na parábola do Bom Samaritano
(Lucas 10.25-37), alguns têm procurado dar um “espiritual”, que significa a passagem
por explicar que a pousada para a qual o samaritano levou o homem ferido representa a
igreja e que a duas moedas de prata dadas ao hospedeiro representam as duas
ordenanças da Ceia do Senhor e água do batismo.
O líder Mórmon Brigham Young justificou ter mais de 30 esposas, apontando
para o fato de que Abraão teve mais de 1 esposa, a saber, Sara e Hagar. A prática
Mórmon de ser batizado por parentes mortos e outros baseia-se, eles argumentam, em 1
Coríntios 15.29. Algumas pessoas lidam com cobras venenosas, com base em sua
leitura de Marcos 16.18. Se as mulheres devem ensinar aos homens é baseada em como
se interpreta 1 Coríntios 11.5; 14.34-35; e 1 Timóteo 2.12. Alguns ensinam que
apresentar o reinado de Cristo no céu significa que Ele não vai estabelecer um reinado
de 1.000 anos sobre a terra depois de seu retorno. Outros, porém, dizem que a Bíblia
ensina que Cristo, embora reinando sobre o universo agora, irá se manifestar no seu
reino de uma forma física, quando Ele governar como o Messias sobre a nação de Israel
sobre a terra no Milênio.
Todos estes e muitos outros, são questões de interpretação. Obviamente estes
vários pontos de vista conflitantes demonstram que nem todos os leitores estão seguindo
os mesmos princípios para a compreensão da Bíblia.8
A falta de hermenêutica adequado também levou a Bíblia a ser altamente
abusado e caluniada. Mesmo alguns ateus procuraram apoiar as suas posições,
referindo-se ao Salmo 14.1 “Não há Deus”, Obviamente, eles negligenciaram como
essas palavras são introduzidas: “Não há Deus” Diz o tolo em seu coração”. Você pode
fazer a Bíblia dizer o que quiser, alguns argumentam. E no entanto, como muitas das
mesmas pessoas dizem: "Você pode fazer Shakespeare dizer o que quiser"?9 Claro que
8
Campbell, D. K. (1991). Prefácio. Em C. Bubeck Sr. (Org.), Básico da Bíblia Interpretação: Um Guia Prático para Discovering
verdade bíblica. Colorado Springs, CO: David C. Cook. p. 10 tradução minha.
9
Campbell, D. K. (1991). Prefácio. Em C. Bubeck Sr. (Org.), Básico da Bíblia Interpretação: Um Guia Prático para Discovering
verdade bíblica. Colorado Springs, CO: David C. Cook. p. 11 trad. Minha.
é verdade que as pessoas podem fazer a Bíblia dizer o que quiserem, desde que elas
desconsiderar abordagens normais de comprensão de documentos escritos.
A interpretação da Bíblia é essencial como um passo além de Observação.
Quando muitas pessoas se aproximam da Bíblia, eles saltam da observação para a
aplicação, pulam o passo essencial de interpretação. Isso é errado porque a interpretação
estálogicamente após a observação. Ao observar que a Bíblia diz, você sonda; na
interpretação, você medita. A observação é a descoberta; A interpretação é direção.
Observação significa descrever o que está lá, e interpretação é decidir o que significa. O
primeiro é para explorar, o outro é para explicar.
É observando o que se vê no texto bíblico, que, em seguida, deve-se lidar com
isso (2 Tim. 2.15) corretamente. O particípio "corretamente manipulado"
(incorretamente traduzido na versão King James "maneja bem") traduz a palavra
“orthotomounta” grego. Esta combina duas palavras que significam "em linha reta"
(orto) e "cortar" (Tomeo). Um escritor explica o significado desta da seguinte forma:
“Porque Paul é um fabricante de tendas, ele pode ter usando uma expressão
que ligada ao seu negocio. Quando Paulo fez tendas, ele usou certos padrões.
Naqueles dias tendas eram feitas de peles de animais em uma espécie de
retalhos. Cada peça teria que ser cortado e se encaixar corretamente. Paulo
estava simplesmente dizendo: "Se alguém não cortar os pedaços direito, o
todo não se encaixará corretamente." É a mesma coisa com as Escrituras. Se
a pessoa não interpretar corretamente as diferentes partes, toda a mensagem
não virá corretamente. No estudo da Bíblia o cristão ao interpretá-la deve
cortá-la em linha reta. Ele deve ser mais preciso ... e preciso.”10
10
Ibid.
incluindo a disciplina espiritual, na qual procura-se colocar em prática o que se lêr e
entende.
O Coração apropriação, não apenas dirige a apreensão, é o verdadeiro objetivo
do estudo da Bíblia. Só desta forma podem os crentes crescerem espiritualmente. A
maturidade espiritual, em que nos tornamos mais semelhantes a Cristo, não trata apenas
de saber mais sobre a Bíblia. Ele vem de saber mais sobre a Bíblia e aplicá-lo às nossas
necessidades espirituais. Este era o objetivo de Paulo, que ele podesse incentivar e
ensinar os outros para que eles pudessem tornar-se maduros em Cristo (Col. 1.28). E
Pedro escreveu que deve-se "desejar puro leite espiritual, para que por ele [possa-se]
crescer em [nossa] salvação" (1 Pedro 2.2). Paulo escreveu que "o conhecimento incha"
ensoberbece (1 Cor. 8.1). Jesus disse aos líderes judeus de sua época, "Vocês estudam
diligentemente as Escrituras" (João 5:39). Mas então Ele acrescentou que seu estudo era
de nenhum valor, porque eles se recusaram a vir a Ele para ter a vida (v. 40).
Uma das passagens clássicas sobre a inspiração das Escrituras é 2 Timóteo 3.16.
E, no entanto a maior parte desse verso, juntamente com o seguinte verso, fala da
utilidade da Escritura. É para ser usado para "ensinar, para repreender, para corrigir,
para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra." Uma coisa é ler 2 Timóteo 1: 9, notando que Deus "nos
chamou a uma vida santa", e entender que a santidade é uma vida de pureza e santidade,
tornada possível pela obra santificadora do Espírito Santo. Mas é outra coisa lidar com o
pecado em nossas vidas de modo que estamos de fato levando uma vida santa. Uma
coisa é estudar o que as Escrituras dizem sobre o retorno de Cristo em passagens como
1 Tessalonicenses 4.13-18 e 1 Coríntios 15.51-56. Mas é outra coisa construir e se
mover além desses fatos, a ponto de amar Seu aparecimento (2 Tim. 4.8), isto é,
desejando e antecipando sua vinda, e continuando firme em servir ao Senhor (1 Cor.
15.58).
A interpretação da Bíblia, então, como o segundo passo no estudo da Bíblia é
absolutamente essencial. Interpretação é fundamental para a aplicação. Se não
interpretar corretamente, podemos acabar por aplicar a Bíblia de forma errada. Como
você interpreta muitas passagens tem um efeito direto sobre a sua conduta e a conduta
de outras pessoas também. Por exemplo, se um pastor interpreta certas passagens
dizendo que o novo casamento é aceitável após o divórcio, então que influencia tem
sobre a forma como ele aconselha divorciados sobre um novo casamento. Se um pastor
entende 1 Coríntios 11.3-15 para ensinar que as mulheres devem usar véu na igreja,
então sua interpretação afeta o que ele ensina sua congregação.
Se o aborto é certo ou errado, como encontrar a vontade de Deus, como levar uma vida
significativa, como ser um marido ou esposa ou pai eficaz, como reagir ao sofrimento,
todos estes dependem e se relacionam com a hermenêutica e como você interpreta
vários passagens. Como um escritor bem colocou, "Interpretar a Bíblia é uma das
questões mais importantes para os cristãos de hoje. Ela está por trás do que nós
acreditamos, como vivemos, como chegaremos juntos, eo que temos para oferecer ao
mundo."
AT NT
Benefícios terrenos Benefícios celestes
Imagens e sombras Substância
Letra exterior (que não é o AT) Espírito (Jr 31.31-34)
Escravidão Liberdade
Uma nação Todas as nações
11CALVINO J., As Institutas, vol. IV, São Paulo: CEP, 1989, pp. 215-229
12
As diferenças entre os Testamentos existem e isso ninguém questiona. A
principal diferença ainda apontada por Calvino é em relação ao grau de clareza quanto
a Jesus Cristo e o reino de Deus. Contudo, vale lembrar que essas diferenças apontadas
por Calvino entre AT e NT são apenas na forma de administrar a aliança e não na
substância da aliança da graça, propriamente dita.13
13
CALVINO, As Institutas, vol. IV, pp. 215
14
Ibidem, pp. 194
15
BOOTH R. R., Children of the Promise: The Biblical Case for Infant Baptism, New Jersey: P&R Publishing, 1995, pp. 20
16
Para uma boa argumentação em prol de demonstrar ao leitor atual a necessidade de se utilizar o NT grego no ministério pastoral
ver BLACK D. A., Using New Testament Greek in Ministry: A Practical Guide for Students and Pastors, Grand Rapids: Baker
Books, 1999. Para Agostinho as línguas também exercem um papel importante, senão, sine qua non, para o bom intérprete. Ei-lo
em suas próprias palavras: “O melhor remédio contra o desconhecimento dos signos próprios é o conhecimento das línguas. Os que
conhecem o latim, aos quais tentamos instruir agora, necessitam, para conhecer as Sagradas Escrituras, do Grego e do Hebreu.
Poderão assim recorrer aos originais sempre que a imensa variedade dos tradutores latinos ofereça qualquer dúvida” Ainda em outro
lugar continua: “...mas por causa das discrepâncias dos tradutores, que é necessário, conforme se disse, o conhecimento das
mencionadas línguas. AGOSTINHO S., Textos de Hermenêutica, Portugal: res, pp. 57-58, 62-63. A respeito da importância das
Este termo é derivado de duas palavras: O verbo que significa “narrar,
conduzir, tirar, guiar, liderar, exprimir em palavras” mais a preposição “para fora
de” ou apenas “de” indicando procedência ou origem, portanto, dá a ideia
de “expôr; tirar; tirar e/ou trazer para fora; extrair; relatar; explicar”.17 É possível
dizer assim que a exegese () é a tarefa de tirar para fora o sentido de um texto,
ou ainda, a sua respectiva narração e explicação.
Dessa forma, tendo como base a análise etimológica do termo, a exegese
significa a ciência de interpretação. Uma boa exegese se preocupa tanto com o aspecto
histórico quanto teológico do texto.18 Nesse momento, a pergunta que fica sobre nós é:
Qual a relação da hermenêutica com a exegese? São duas ciências idênticas? Se forem
diferentes, qual é essa diferença? A hermenêutica é a disciplina teológica que se
preocupa com a correta interpretação das Sagradas Escrituras. A boa hermenêutica é a
mãe de uma boa exegese, ou seja, a hermenêutica precedea exegese, e a exegese é o
alicerce básico para a verdadeira exposição do texto sagrado. Há uma sequência no
estudo de um texto sagrado para a sua boa interpretação.
línguas originais Spinoza diz: “Em primeiro lugar deve permitir compreender a natureza e a linguagem em que os livros da Escritura
foram escritos e que os seus autores estavam acostumados a falar, pois torna-se assim possível examinar todos os sentidos que um
texto pode ter de acordo com o uso comum. (...) ...é por isso que o conhecimento da língua hebraica é necessário antes de tudo o
mais, não apenas para compreender os livros do Antigo Testamento que foram escritos nessa língua, mas igualmente os do Novo
que embora difundidos em outras línguas estão, sem dúvida, cheios de hebraísmos”. AGOSTINHO, Textos de Hermenêutica, pp.
118. Atémesmo Spinoza demonstra a sensatez de buscar ajuda nas línguas originais para ter melhores ferramentas na sua busca pela
verdade.
17
Observamos que o substantivo não ocorre no Novo Testamento, entretanto, encontramos o verbo seis vezes
no Novo Testamento nas seguintes passagens: Lc 24.35; Jo 1.18; At 10.8; 15.12,14; 21.19. Para um estudo mais profundo sobre o
uso da exegese no estudo de passagens bíblicas ver FEE G. D., New Testament Exegesis: A Handbook for Students and Pastors,
Philadelphia: The Westminster Pres, 1983
18
FEE, New Testament Exegesis, pp. 41
19
Para uma defesa clássica da intenção autorial ver HIRSCH E. D., Validity in Interpretation, New Haven: Yale University Press,
1967.
planta. Note como ele afirma: “Eu sou a verdadeira, e meu Pai é o lavrador” (Jo 15.1).
Significaria isso que a profissão de Deus Pai é ser lavrador ou ainda que Cristo é uma
planta com seus galhos e folhas? O que deve ser levado em consideração é qual teria
sido a intenção de Cristo ao dizer isso, e ainda, qual teria sido também a intenção do
apóstolo João ao relatar isso em seu livro? Cristo, logo adiante, afirma ainda: “Eu sou a
videira, vós as varas...” (Jo 15.5). Significaria “literalmente” que os seus filhos são
pedaços de pau? O intérprete das Escrituras precisa considerar sempre qual teria sido a
intenção de Cristo ao afirmar isso. Uma explicação mais clara e compatível com o
contexto joanino é que os filhos de Deus são totalmente dependentes do Senhor da
Igreja e que suas atividades desfrutam da companhia de Cristo. O homem não
conseguirá jamais viver autonomamente em relação a Deus (Sl 145.15,16, At 17.25-28,
2 Tm 4.10). Essa é a interpretação literal da passagem.
A interpretação literal tem a ver com a possibilidade ou não do intérprete vencer
todas as distâncias hermenêuticas para se chegar a intenção do autor bíblico. Agostinho
reconheceu a validade e importância de se distinguir os aspectos envolvidos na
literalidade da interpretação das Escrituras bem como a possibilidade real de conseguir
com isso chegar a intenção autoral.20
A respeito da possibilidade ou não de se chegar a intenção autoral, Baruch
Spinoza (1632-1677) afirma:
Quando lemos um livro que contém coisas incríveis e
incompreensíveis ou um livro escrito em termos extremamente
obscuros, senão sabemos quem é o seu autor, em que tempo e
ocasião foi escrito, é em vão que procuraremos o seu sentido
autêntico. Na nossa ignorância de todas estas circunstâncias não
podemos de modo nenhum saber qual era totalmente (in totum)
a intenção do autor.21
Quando Spinoza retrata dessa forma, deixa transparecer que alguém, no caso em
relação à Escritura, teria escrito algo tão obscuro que seria impossível saber qual a
intenção de seu autor. Ora, é bem possível retirar de um texto as informações
necessárias para reconstruir ainda que parcialmente o background que o levou àquela
escrita.
O problema com Spinoza é a tentativa de negar que aquilo que Deus deixou
obscuro em algum lugar deve ser interpretado à luz daquilo que o próprio Deus deixou
claro em outro. Spinoza chega a afirmar em relação à Escritura que: “... em muitas
20
AGOSTINHO, Textos de Hermenêutica, pp. 59-60.
21
Ibidem, pp. 129, ênfase minha.
passagens o sentido da Escritura é inteiramente desconhecido ou adivinhamo-lo sem
qualquer certeza”.22
22
AGOSTINHO, Textos de Hermenêutica, pp. 130, ênfase minha.
23
GREIDANUS, Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, pp. 135. Para ver mais sobre a intenção do autor ver
GREIDANUS S., O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo: Interpretando e Pregando Literatura Bíblica, São Paulo: ECC,
2006, pp. 116-117, 135-149
O que torna, às vezes, a Escritura um livro tão difícil de entender é justamente a
sua Antigüidade. Lembre-se que o Pentateuco foi escrito por Moisés a
aproximadamente 1400 a.C. Já o último livro da Escritura foi escrito pelo apóstolo João
em meados do ano 90 d.C. Conseqüentemente, alguns livros foram escritos por volta de
3400 anos atrás, e o último deles por volta de 1900 anos atrás. É necessário o estudo
sistemático da Escritura, por meio do uso constante dos princípios da hermenêutica
bíblica para transpor algumas distâncias, entre elas:
24
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2004, p. 25.
25
HALL C. A., Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja, Viçosa: Ultimato, 2000, pp. 42
26
Ibidem, pp. 43
Recordemo-nos que a Bíblia foi escrita em uma língua diferente do português.
Isso equivale a dizer que existem expressões idiomáticas e peculiaridades próprias da
língua (hebraico, grego e aramaico) e que são estranhos a outras línguas.
Superficialmente é possível ver algumas peculiaridades próprias de algumas das línguas
em que a Bíblia foi escrita como:
Se já não bastasse a Bíblia ter sido escrita em uma língua diferente da ocidental,
essas línguas estão praticamente mortas atualmente. Isso complica ainda mais o acesso
às particularidades da língua para uma compreensão maior do texto sagrado. E também
a maneira de se expressar. Veja-se que, dificilmente, nas conversas informais existe
comumente o uso de parábolas, linguagem proverbial, entre outros.
27
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã,
2004, p. 24
Eu gostaria de propor que a verdadeira chave do nosso problema é outra
distinção, mais fundamental: não a dicotomia exegese/aplicação, mas o reconhecimento
de que a Bíblia é tanto um livro divino como humano.28
A Escritura é um livro humano porque certamente fala na linguagem humana, o
que equivale a dizer que a mesma é compreensível ao raciocínio e a língua. Ela não foi
dada em uma língua que não existe para os homens, e que os mesmos para chegarem a
um entendimento da mesma, necessitam única e exclusivamente de uma obra
miraculosa do Espírito Santo29 na vida dos seus leitores. Como corpo literário deve ser
interpretado como qualquer outro livro.
28
SILVA M., A Função do Espírito Santo na Interpretação Bíblica, São Paulo: Fides Reformata, vol. II,
nº 2, 1997, pp. 93 Com relação ao estudo das Escrituras sempre há o perigo de se estudá-la sem levar em
consideração o seu bojo de pressuposições acumuladas no tempo e na história. Isso devido à
progressividade da revelação. Por isso Terry adverte: “A hermenêutica tende a estabelecer os princípios e
regras que são necessários para revelar o sentido do que está escrito. Seu objetivo é elucidar tudo o que
está obscuro ou mal definido, de maneira que, mediante um processo inteligente, todo leitor possa dar
conta da idéia exata do autor”. TERRY, Hermenêutica Bíblica, pp. 10
29
Sobre esta questão do papel do Espírito Santo na hermenêutica bíblica, ler o artigo de SILVA, A
Função do Espírito Santo na Interpretação Bíblica, pp. 89-96
30
Atos redentores esses que foram decididos antes que houvesse mundo. Um
dos textos sagrados que “deixam escapar” essa realidade está justamente quando Deus
responde a oração do rei Ezequias a respeito da crise que seu governo enfrentava,
dizendo: “Acaso não ouviste que já há muito dispus eu estas cousas, já desde os dias
remotos o tinha planejado? Agora, porém, as faço executar, e eu quis que tu reduzisses
a montões de ruínas as cidades fortificadas” (2 Rs 19.25).
31
Para se ver com mais profundidade algumas implicações da rejeição em se abordar a
Escritura considerando-a um livro divino-humano ver GREIDANUS, O Pregador
Contemporâneo e o Texto Antigo, pp. 196-226
O erro conceitual é a origem de todos os problemas. Eles são, normalmente,
apresentados ao homem de forma sutil como se fosse verdade. O apóstolo Paulo adverte
para a artimanha dos homens a induzir os outros ao erro (Ef 4.14). Jesus chega mesmo
a advertir que os falsos profetas apresentam-se disfarçados (Mt 7.15), parecendo aquilo
que não são (Pv 13.7). Paulo afirma que o erro parte de pessoas preocupadas
exclusivamente com as coisas terrenas (Fp 3.19), tentam se passar por mestres (1 Tm
1.7), apegando-se a aspectos externos da vida que não servem para transformar o
coração humano e que ele chama de aparência de sabedoria (Cl 2.20-23).
A Hermenêutica e a Bíblia
Há mais de cinco séculos em primeiro lugar na lista dos livros mais impressos,
traduzidos, vendidos, lidos e comentados do mundo, a Bíblia, livro sagrado do judaísmo
e do cristianismo, inaugurou a invenção da tipografia por Johannes Gutenberg, em
1450, e desde então seu texto já foi impresso em mais de 300 idiomas e suscitou a
publicação de milhares de obras de divulgação, interpretação ou comentário. Desde os
primeiros textos, escritos em rolos de papiro, até às modernas edições comentadas do
século XX -- ao longo de cerca de trinta e cinco séculos --, o texto bíblico manteve uma
surpreendente vitalidade e alimentou a fé de muitos povos e nações. Essa força decorre
do permanente diálogo entre o livro, que interpela a consciência dos homens, e os
homens, que o interrogam em busca de respostas a suas indagações transcendentes. A
Bíblia é uma coleção de textos, divididos em duas partes: o Antigo ou Velho
Testamento, reunido por etapas nos dez séculos anteriores ao nascimento de Jesus
Cristo; e o Novo Testamento, escrito durante o século posterior a sua morte. A palavra
"testamento" (testamentum na tradução latina da Vulgata) traduz o grego diatheke, que
por sua vez é tradução do termo hebraico berith, "aliança". O uso do termo diatheke
testamentum nos Evangelhos (p. ex. Lc 20,22) e nas Epístolas (p. ex. Rm 9,1-11; Hb 8 e
9), que aludem a textos como Gn 9 e 15 e Ex 24, 8, estabelece uma unidade espiritual
entre os escritos cristãos e a coleção judaica.
Além desses livros, existem outros, que formam a chamada literatura inter-
testamentária, e englobam:
(1) Os Livros Apócrifos – alguns deuterocanônicos (ou seja, de canonicidade
só reconhecida posteriormente) para a Igreja Católica; outros, canônicos
para a Igreja Ortodoxa; e ainda outros não-canônicos para o judaísmo e o
protestantismo;
Hermenêutica Rabínica
A Hermenêutica Protestante
Hermenêutica Católica
O primeiro passo da nova exegese da Igreja Católica foi dado por Pio XII, em
1943, com a encíclica DIVINO AFFLANTE SPIRITU, na qual aprovou a teoria dos
vários gêneros literários da Bíblia. Depois, em 1964, Paulo VI aprovou um estudo de
uma comissão bíblica alicerçado no método histórico-crítico.
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LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 160.
Após concluir este capítulo, você deve ser capaz de identificar os pressupostos
exegéticos mais importantes e princípios encontrados em cada um dos seguintes
períodos de interpretação bíblica.
Ao longo dos séculos desde que Deus reveladas nas Escrituras, tem havido uma
série de abordagens ao estudo da Palavra de Deus. Mais intérpretes ortodoxos têm
enfatizado a importância de uma interpretação literal, pelo que significa interpretar a
Palavra de Deus a maneira como se interpreta a comunicação humana normal. Outros
têm praticado uma abordagem alegórica, e outros ainda têm olhado para letras e
palavras individuais como tendo significado segredo que precisa ser decifrado. Mais
recentemente, alguns intérpretes têm questionado quem ou o que controla toda a
empresa hermenêutica e se é mesmo possível determinar o significado.
Uma visão histórica dessas práticas nos permitirá superar a tentação de acreditar
que o nosso sistema de interpretação é o único sistema que já existiu. Uma compreensão
dos pressupostos de outros métodos fornece uma perspectiva mais equilibrada e uma
capacidade de diálogo mais significativo com aqueles que acreditam diferente.
Hermenêutica rabínica
Midrash comes from the Hebrew verb darash meaning to search. Midrash, then,
speaks of an inquiry or an exposition. Midrashic interpretation included a variety of
hermeneutical devices that had developed considerably by the time of Christ and
continued to develop for several centuries thereafter. The primary goal of midrash was
to highlight and explain the relevance of scriptural teaching in new and changing
circumstances.
Rabbi Hillel, whose life precedes the rise of Christianity by a generation or so, is
credited with developing the basic rules of rabbinic exegesis, which emphasized the
comparison of ideas, words, or phrases found in more than one text, the relationship of
general principles to particular instances, and the importance of context in
interpretation.
Rabino Hillel, cuja vida precede a ascensão do cristianismo por uma geração ou
mais, é creditado com o desenvolvimento das regras básicas da exegese rabínica, que
enfatizou a comparação de idéias, palavras ou frases encontradas em mais de um texto,
a relação de princípios gerais a instâncias específicas, bem como a importância do
contexto na interpretação.
Alegórica exegese alegórica foi baseada na ideia de que, sob o significado literal
das Escrituras estava o verdadeiro significado. Historicamente, alegoria tinha sido
desenvolvido pelos gregos para resolver a tensão entre sua tradição religiosa e
mitológica sua heritage.11 filosófica Porque os mitos religiosos continha muito que era
imoral ou inaceitável, filósofos gregos alegorizado essas histórias; ou seja, os mitos
eram para ser entendido não literalmente, mas como histórias cuja verdade real estava
em um nível mais profundo. Na época de Cristo, os judeus que queriam manter-se fiel à
tradição do mosaico e ainda adotar a filosofia grega foram confrontados com uma
tensão similar. Alguns judeus resolvida esta alegorizando a tradição mosaica. Philo
(cerca de 20 aC-AD 50) é bem conhecido nesta matéria.