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Teoria da harmonia na música popular:

uma definição das relações de combinação entre os acordes na harmonia tonal


Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas

Nota introdutória
Esse texto foi formalmente escrito nos primeiros anos da década de 1990, mas as
concepções do que aqui se apresenta devem ser situadas a partir de meados de 1980.
Assim, podemos olhar agora para esse texto, companheiro e velho amigo, como um
documento que retrata algo do ambiente daqueles anos: certo jeito de pensar, falar e de
escrever sobre música que ficou um tanto para trás, mas que, em alguma medida, ainda
ecoa por aí. Certo tipo, certa quantidade e certa qualidade de informações e uma maneira
também datada de interpretá-las. De lá para cá, muitas águas rolaram, e o estágio e
contexto em que se encontra a nossa disciplina no Brasil hoje, mudou bastante. Atualmente
temos acesso a um sem número de informações que, por inumeráveis razões, dificilmente
teríamos naqueles anos. Mas o mais interessante a ser notado ao folhearmos um texto como
esse é que, em tão curto espaço de tempo, nossa disciplina se renovou profundamente,
desenvolveu um sem numero de novas concepções e entendimentos, soluções musicais,
ferramentas e práticas teóricas que naqueles anos nem poderíamos sonhar. E isso nos
permite vivenciar uma pequenina dose dessa experiência do longo tempo histórico da teoria
e da arte da harmonia tonal que, de fato, é um conhecimento que não se fixa e sempre
encontra razões e recursos para se reinventar.

Frente a isso, um texto escrito é uma dificuldade. Ele não muda, não se reinventa, não
se atualiza, não se corrige, não se complementa, não contempla as novas questões que
foram se colocando. Não dá uma chance para que possamos conversar sobre nossa arte
em outros termos. Fica lá paradão, monolítico, inalterável e indiferente a tudo o que já
se passou e a tudo o que está se passando. E essa dura característica de letra inerte se
mantém nessa nova versão digitalizada, esperando que possamos todos encontrar meios
inteligentes e criativos de amolecer, relativizar e reviver e que, o ato de ler ou reler
essas formulações tão datadas, possa de alguma maneira significar para todos nós uma
oportunidade produtiva de atualização.

Esse texto sempre foi um trabalho em progresso e, apesar da forma impressa insistir em
desmentir isso, nada nele jamais se fixou e jamais se acomodou totalmente.
Ingenuamente, até um tempo atrás nutri a ambição de conseguir terminá-lo, passar a
limpo, revisar, corrigir, complementar. Hoje acho necessário pensar a harmonia em uma
outra perspectiva. Os assuntos da harmonia não vão terminar. Acredito que não seja
possível alcançar uma visão totalizadora definitiva desse conhecimento. Para isso seria
necessário fixar essa arte e cultura em algum ponto e proibir todos os músicos do
planeta de, a cada instante, inventar e reinventar um novo acorde ou uma nova maneira
de combiná-los, proibir toda nova maneira de perceber e qualquer nova maneira de
explicar e aprender harmonia. Mas isso, evidentemente, não interessa. A harmonia não é
uma coisa que possa ser suficientemente descrita. Acredito agora que os textos sobre
harmonia são mais ou menos como diários da vida. Podemos relatar o que conseguimos
ver, tocar, ouvir, pensar, relacionar, associar, recolher, aprender, apreender, dialogar
com outros textos, outros diários, podemos nos dedicar muito e ter realmente uma
experiência plena e infinitamente bela com essa arte, com esse ofício. Mas é só isso,
embora isso não seja pouco, só é mais uma coisa sobre a qual não podemos ter a posse.

Se por um lado a imobilidade desse texto traga insatisfações e frustrações constantes,


por outro, a existência desse trabalho, desde sua aparição, sempre foi e continua sendo
um meio inacreditável de fazer amigos. Por meio desse estudo, ou por causa dele, pude
conhecer incontáveis pessoas de lugares que nunca estive e que provavelmente nunca
conheceria. Pude trocar idéias, ouvir opiniões, conhecer outras histórias, outras
concepções e maneiras de tocar, de ouvir, de pensar e de agir. Enfim, a lição de
harmonia foi carregando consigo uma outra aprendizagem, igualmente sem fim, que é a
grande lição da própria vida. Principalmente por isso é gratificante a aparição dessa
versão digital, mais ágil e de circulação mais fácil e barata. Sou grato por isso à Áurea
Demaria Silva e ao Silas Marçal Júnior que tiveram a paciência e a boa vontade de
viabilizar a digitalização do material.

Unicamp, segunda-feira, 10 de setembro de 2oo7


Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas
Udesc

e-mail: c2sprf@gmail.com

Informações curriculares:
http://lattes.cnpq.br/2347390919495199

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