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RADIAÇÃO SOLAR

e
CONVERSÃO
FOTOVOLTAICA DA
ENERGIA SOLAR
Apostila editada a partir de textos de trabalhos, teses e
dissertações do Grupo de Energia Solar da UFRGS.
Porto Alegre, 2010.
Organizadores:
Arno Krenzinger
Cesar Wilhelm Massem Prieb
Fabiano Perin Gasparin
Rafael Haag

Com a colaboração do texto de:


Airton Cabral De Andrade. Jean Marc Stephane Lafay
Aryston Luis Perin. Mário Henrique Macagnan
Daniel Sampaio Figueira. Oscar Daniel Corbella
Felipe Barin Pozzebon. Paulo Otto Beyer
Fernando Luis Treis Roberto Zilles
Jean De Dieu Minsongui Mveh
1. Radiação Solar

1.1 O Sol

O Sol é a principal fonte de energia para o nosso planeta. Quase toda a


energia disponível na Terra provém do Sol. O Sol é basicamente uma enorme esfera de
gás incandescente, em cujo núcleo acontece a geração de energia através de reações
termonucleares. Sua estrutura, apesar da complexidade, pode ser considerada como
composta pelas principais regiões: o núcleo, zona radiativa, zona convectiva, fotosfera,
cromosfera e coroa (ou às vezes chamada de corona), como é mostrado na Figura 1.1.

Figura 1.1: Estrutura do Sol.

O núcleo, com temperatura de cerca de 10 milhões de graus kelvin, é a região


mais densa e onde a energia é produzida por reações termonucleares. Logo acima se

1.1
encontra a zona radiativa, onde a energia produzida no núcleo é transferida para as
regiões superiores através da radiação.
A zona convectiva, possui este nome em função dos processos de convecção que
dominam o transporte de energia das regiões mais internas do Sol para a superfície
solar.
A fotosfera, primeira região da atmosfera solar, com 330 km de espessura e
temperatura de 800 K, é a camada visível da nossa estrela mais próxima. Esta zona tem
a aparência da superfície de um líquido em ebulição, repleta de bolhas, que são
chamadas de grânulos fotosféricos. Estes grânulos têm em torno de 1500 km de
diâmetro e duram cerca de 10 minutos cada. Estas zonas granulares representam os
processos convectivos do gás quente, que emerge da camada convectiva para a
fotosfera. As regiões mais escuras entre os grânulos são zonas onde o gás mais frio e
mais denso escorre novamente para o interior do Sol. A fotosfera é a fonte da maior
parte da radiação visível que é emitida pelo Sol. Um dos fenômenos fotosférico mais
notável é o das manchas solares, que são regiões mais frias que a fotosfera solar,
possuindo uma temperatura de cerca de 3800 K na região central chamada de umbra e
pouco mais elevada na parte periférica denominada de penumbra. As manchas solares
são indicadoras da intensa atividade magnética presente no Sol e seguem um ciclo de
onze anos em que o número de manchas varia entre máximos e mínimos. Este ciclo
provoca alterações na radiação emitida pelo Sol e também apresenta conseqüências no
nosso planeta, alterando o comportamento da atmosfera terrestre.
A cromosfera do Sol normalmente não é visível, porque sua radiação é muito
mais fraca do que a da fotosfera. A temperatura na cromosfera varia de 4300 K na sua
base a mais de 40000 K a 2500 km de altura. Durante um eclipse solar, quando a Lua
esconde o disco da fotosfera, a cromosfera pode ser observada por alguns instantes e
apresenta-se com uma coloração avermelhada. Isto é devido ao fato que o espectro da
cromosfera é constituído de linhas de emissão brilhantes, originadas por gases a alta
temperatura que compõe a cromosfera. Uma das linhas de emissão mais brilhantes é
conhecida como linha de Balmer Hα, no comprimento de 656,3 nm, que no espectro
solar normal aparece como uma linha de absorção. Na cromosfera se observa também
estruturas chamadas de espículas, que são jatos de gás que se elevam até 10 mil km
acima da borda da cromosfera, e duram apenas poucos minutos. Observadas durante um
eclipse, aparecem como pequenas nuvens vermelhas na atmosfera solar.

1.2
A camada mais externa e rarefeita da atmosfera solar é chamada de coroa.
Apesar do brilho da coroa solar ser equivalente ao da lua cheia, ela somente é
visualizada na ocorrência de um eclipse em virtude do alto brilho da fotosfera.
O espectro emitido pela coroa solar mostra linhas muito brilhantes, produzidas
por átomos de ferro, níquel, neônio e cálcio altamente ionizados. Estes elementos
tornam-se ionizados devido à alta temperatura presente nesta região do Sol, que pode
atingir mais de 1 milhão de graus kelvin. Acredita-se que esta elevada temperatura tem
origem no transporte de energia por correntes elétricas induzidas através de campos
magnéticos variáveis. É nesta região que emana o vento solar, um fluxo contínuo de
partículas carregadas que é liberado pela atmosfera solar e que durante períodos de
intensa atividade do Sol atinge a alta atmosfera terrestre provocando o surgimento das
auroras polares, fenômenos luminosos e excitação e desexcitação dos átomos de
oxigênio.
Em função dos gradientes de temperatura encontrados na atmosfera solar e a
presença de várias linhas de emissão e absorção, pode-se apenas aproximar o
comportamento da radiação emitida pelo Sol ao de um corpo negro de temperatura
próxima de 5800 K. A partir da potência (energia/tempo) recebida no topo da atmosfera
terrestre, que é próxima de 1400 W/m2, determina-se a luminosidade do Sol por unidade
de área em 4 x 1026 watts. Este valor é equivalente a mais de 10 milhões de vezes a
produção anual de petróleo da Terra. Anteriormente, acreditava-se que a energia do Sol
era originada na combustão, mas foi apenas em 1937 que o físico Hans Albrecht Bethe
propôs a teoria que é aceita atualmente. Segundo ela, a energia é liberada em reações
termonucleares, onde quatro prótons são fundidos em um núcleo de hélio, com a
liberação de energia. O Sol tem reserva de hidrogênio suficiente para alimentar essas
reações nucleares por mais 5 bilhões de anos. As principais características do Sol estão
descritas na Tabela 1.1:

Tabela 1.1: Principais características do Sol


Massa 1,989 x 1030 kg
Raio 696.000 km
Densidade média 1409 kg m-3
Densidade central 1,6 105 kg m-3
Distância 1 UA ou 1,499 108 km
Luminosidade 3,83 1033 ergs/s

1.3
Temperatura efetiva 5785 K
Temperatura central 1 x 107 K
Composição química principal Hidrogênio = 92%
Hélio = 7,8%
Oxigênio = 0,061%
Carbono = 0,039%
Nitrogênio = 0,0084%
Período rotacional no equador 25 dias
Período rotacional na latitude 60° 29 dias

1.2 Geometria Sol-Terra

A relação Sol-Terra é mostrada esquematicamente na Figura 1.2.

Figura 1.2: Relação entre Sol e Terra.

A Terra gira ao redor do Sol descrevendo uma órbita elíptica na qual o Sol ocupa
um dos focos, tal como se vê na Figura 1.3. Como a excentricidade da elipse é muito
pequena, a posição do Sol é praticamente o centro de um círculo e a órbita é quase
circular.

1.4
O plano que contém esta órbita é chamado eclíptica e o tempo que a Terra tarda
em percorrê-la é um ano. A excentricidade desta órbita é tal que a distância entre o Sol e
a Terra varia 1,7%. Esta excentricidade pode ser calculada da seguinte maneira:

Eo = 1, 00011 + 0, 034221 cos Γ + 0, 00128 senΓ + 0, 000719 cos 2 Γ + 0, 000077 sen2 Γ


(1.1)

onde Eo é chamado fator de correção da excentricidade da órbita terrestre. Nesta


equação Γ, em radianos, é chamado ângulo do dia e é representado por:

Γ = 2 π ( d n − 1) / 365 (1.2)

onde dn é o número do dia do ano no calendário Juliano, variando de 1 (1° de janeiro)

até 365 (31 de dezembro). Outra equação mais simples é dada da seguinte maneira:

Eo = 1 + 0,033 cos[ ( 2πdn / 365) ] (1.3)

A Equação 1.3, apesar da sua simplicidade, pode ser utilizada na maioria das
aplicações de engenharia.

Figura 1.3: Movimento da Terra ao redor do Sol.

1.5
A uma distância de uma unidade astronômica (UA), que é a distância média
entre o Sol e a Terra e que equivale a 1 UA=1,49x108 km, o Sol subentende um ângulo
de 32'.
A Terra, por sua vez, gira ao redor de um eixo central, chamado eixo polar,
completando uma volta por dia (sucessão dia-noite). Este eixo gira ao redor da normal
ao plano da eclíptica com um ângulo constante e igual a 23,45°, conforme pode ser
observado na Figura 1.4.

(a) (b)

Figura 1.4: (a) Rotação da Terra em torno de seu eixo polar. A linha vertical é perpendicular ao
plano da eclíptica. (b) Considerando a Terra como referência, observa-se a inclinação entre o
plano da eclíptica (caminho do Sol) e o equador como constante.

Desta forma, e de acordo com as Figuras 1.5 e 1.6, o ângulo formado entre o
plano equatorial e a linha que une os centros da Terra e do Sol muda continuamente
(sucessão das estações do ano). Este ângulo é conhecido como declinação solar, δ, e
pode ser estimado pela seguinte equação, com um erro inferior a 3':

δ = 0, 006918 − 0, 399912 cos Γ + 0. 070257 senΓ − 0, 006758 cos 2 Γ


(1.4)
+0, 000907 sen2 Γ − 0, 002697 cos 3Γ + 0, 00148 sen3Γ
sendo δ dado em radianos. Este ângulo vale zero nos equinócios de primavera e outono,
23,45° no solstício de inverno e -23,45° no solstício de verão.

1.6
Figura 1.5: Posições da Terra em torno do Sol ao longo do ano. Para uma melhor visualização
as relações de tamanho entre o Sol e a Terra estão fora de escala.

(a) (b) (c)


Figura 1.6: Movimento da Terra ao redor de seu eixo: (a) Julho é verão no hemisfério Norte e
inverno no hemisfério Sul, (b) Março ou Setembro, (c) Dezembro é verão no hemisféro Sul e
inverno no hemisfério Norte.

Durante um dia (24h) a variação máxima da declinação (que acontece nos


equinócios) é menor que 0,5° podendo-se considerar, portanto, como constante ao longo
do dia.
Esta expressão, da mesma forma que a Equação 1.1, leva em conta que a
velocidade angular da Terra no seu passo sobre a eclíptica é, de acordo com a lei de
Kepler, variável. Isto é, os planetas percorrem áreas iguais em tempos iguais. Para a
maioria das aplicações de engenharia, a aproximação de que a Terra gira ao redor do Sol
numa órbita circular e com velocidade constante é suficiente. Desta forma, a declinação

1.7
solar pode ser determinada pela seguinte expressão (este mesmo raciocínio produziu a
Equação 1.3):

⎡ 360 ⎤
δ = 23,45 sen⎢
⎣ 365
( d n + 284) ⎥, em graus

(1.5)

1.2.1 Hora solar

A hora solar é o tempo especificado em todas as relações envolvendo a posição


do Sol em um determinado momento. Está baseado no movimento angular aparente do
Sol através do céu, onde o meio dia solar é a hora em que o Sol cruza o meridiano do
observador.
A hora solar não coincide com a hora oficial do lugar (hora do relógio). Para
calculá-la é necessário aplicar dois fatores de correção: o primeiro é um fator constante
que considera a diferença de longitude entre o meridiano do observador e o meridiano
no qual a hora oficial está baseada e considerando que o Sol leva quatro minutos para
cruzar 1° de longitude. O segundo fator de correção é chamado equação do tempo, o
qual considera a perturbação na taxa de rotação da Terra, a qual afeta o tempo que o Sol
cruza o meridiano do observador.
A hora solar (também chamada tempo solar verdadeiro) está relacionada com a
hora oficial da seguinte maneira:

TSV = TO + 4( Lst − Lloc ) + E t (1.6)

onde TO é a hora oficial, Lst é a longitude padrão, Lloc é a longitude local e Et a


equação do tempo. Deve ser notado que a correção de longitude é positiva se a
longitude local está à leste da longitude padrão e negativa se está à oeste.
A equação do tempo, Et, é mostrada na Figura 1.7 e é calculada pela seguinte
equação:

E t = ( 0, 000075 + 0, 001868 cos Γ − 0, 032077 senΓ − 0, 014615 cos 2 Γ


(1.7)
−0, 04089 sen2 Γ )( 229 , 18)

1.8
Nesta equação, o termo entre parênteses da esquerda representa a equação do
tempo e o termo multiplicador da direita a conversão para minutos.

1.2.2 Posição do Sol em relação a uma superfície horizontal

Uma forma de representação clássica do céu consiste em imaginar uma esfera


com a Terra fixa no seu centro, tal como se mostrou na Figura 1.4(b).
Esta esfera é chamada esfera celeste e cada um de seus pontos representa uma
direção do céu vista desde a Terra. A intersecção desta esfera com o plano do equador
terrestre define o equador celeste e os pontos de intersecção com os eixos polares
definem os pólos celestes.

Figura 1.7: Variação anual do valor da equação do tempo.

O movimento da Terra ao redor do Sol pode ser descrito, desta maneira, como o
movimento do Sol ao redor da Terra seguindo o maior círculo que forma um ângulo de
23,45° com o equador celeste (a eclíptica). Desta forma, o Sol descreve diariamente e
ao redor da Terra, um círculo cujo diâmetro varia dia a dia, sendo máximo nos
equinócios e mínimos nos solstícios, de acordo com a representação da Figura 1.8.
Para calcular a radiação solar que atinge uma superfície horizontal na Terra, é
necessário estabelecer algumas relações geométricas entre a posição do Sol no céu e as

1.9
coordenadas desta superfície na Terra. Para isto, utilizaremos a Figura 1.8 como
referência.
A vertical (normal) de um lugar (observador) na Terra intersecta a esfera celeste
em dois pontos, chamados zênite e nadir. O ângulo que forma esta reta com o plano do
equador celeste é chamado latitude geográfica, φ, sendo positiva ao norte e negativa ao
sul deste plano.
O horizonte do observador é o círculo máximo na esfera celeste cujo plano passa
através do centro da Terra, normal a uma linha unindo o centro da Terra e o zênite. O
ângulo de zênite, referido como θz a partir de agora, é o ângulo entre o zênite local e a
linha que une o observador e o Sol. A altitude solar, α, (também chamada elevação
solar) é a altura angular do Sol acima do horizonte celeste do observador. Este ângulo
nada mais é que o complemento do ângulo de zênite.
O ângulo de azimute solar, γs, é o ângulo (no zênite local) entre o plano do

meridiano do observador e o plano do círculo máximo que passa através do zênite e o


Sol. Este ângulo é positivo à oeste e negativo à leste (sul igual a zero), variando assim
entre 0° e ±180°.

1.10
Figura 1.8. Caminho do Sol através do céu, visto por um observador no ponto de intersecção
dos eixos.

Figura 1.9: Esfera celeste e coordenadas do Sol relativas a um observador na Terra, no ponto O.

O ângulo horário, ω, é o ângulo (medido no pólo celeste) entre o meridiano do


observador e o meridiano do Sol, valendo 0° ao meio-dia (TSV) e desde aí, muda 15°
por hora.
Para uma dada posição geográfica e na ausência de uma atmosfera refrativa, as
relações geométricas entre o Sol e uma superfície horizontal são as seguintes:

cos θ z = sin δ sin φ + cos δ cos φ cos ω = sin α (1.8)

sin α sin φ − sin δ


cos γ s = (1.9)
cos α cos φ

1.11
onde θz é o ângulo de zênite, em graus; α é a altitude solar (α=90-θz); ω é o ângulo

horário, meio-dia igual a zero e manhãs negativo; γs é o ângulo de azimute solar, sul

zero e leste negativo e δ é a declinação solar, positiva ao norte, em graus.


Estes ângulos podem ser visualizados de uma forma mais simples na Figura
1.10.

Figura 1.10: Definição dos ângulos de zênite θz e azimute γs. DAN é o desvio azimutal do
Norte, um ângulo azimutal com referência no Norte em vez do Sul.

Para encontrar ωs, o ângulo de nascimento do Sol, basta resolver a Equação 1.8

para θz = 0. Desta maneira:


− sin φ sin δ
cos ωs = (1.10a)
cos φ cos δ

1.12
ω s = cos −1 (− tan φ tan δ ) (1.10b)

Deve-se notar que o ângulo de nascimento do Sol é igual ao ângulo do pôr-do-


sol, excetuando-se o sinal. O número de horas de sol do dia, Nd, é igual a 2⏐ωs⏐ e das

Equações 1.10a e 1.10b, obtemos:

2
Nd = cos−1 ( − tan φ tanδ ) (1.11)
15

1.3 A constante solar e a distribuição espectral da radiação


extraterrestre

A intensidade e a variação da energia irradiada pelo Sol produzem efeitos diretos


e indiretos sobre vários processos atmosféricos e biológicos no nosso planeta. Em todas
as aplicações onde está envolvida a energia proveniente do Sol, o conhecimento sobre
as características espectrais da radiação solar extraterrestre é de vital importância.
Os primeiros detalhes sobre o espectro solar foram descritos por Joseph Von
Fraunhofer em 1814. Fraunhofer identificou 574 linhas de absorção no espectro solar e
é considerado o pioneiro na espectrometria estelar. Samuel Pierpot Langley também
desempenhou um importante papel na identificação do espectro solar. Durante três
décadas Langley dedicou-se ao estudo da radiação solar e no inicio do século XX
publicou os primeiros dados precisos sobre a distribuição espectral da radiação solar
entre 300 e 5300 nm, sendo capaz de determinar a posição espectral e a intensidade
relativa de mais de 700 linhas do espectro solar. As medidas realizadas por Langley
eram efetuadas em locais elevados, na tentativa de minimizar os efeitos causados pela
atmosfera terrestre. Somente no início dos anos setenta foram obtidas as primeiras
medidas com uso de foguetes, permitindo eliminar grande parte da imprecisão gerada
pela interferência atmosférica. Em anos recentes, satélites equipados com instrumentos
extremamente sensíveis e estáveis, posicionados em órbitas além da atmosfera terrestre,
revelaram o comportamento da emissão solar em regiões do espectro que até então não
haviam sido medidas na superfície do planeta em função da opacidade da atmosfera.
Também foi constatado após poucas décadas de constante monitoramento a bordo de
vários satélites que o termo “constante solar”, SC (W m-2), deveria ser revisto, pois a

1.13
emissão solar eletromagnética possuía variações ao longo do tempo. Este termo era
adotado para a denominação da radiação solar incidente em um plano perpendicular ao
feixe solar a uma distância de uma unidade astronômica (1 UA = 149 x 106 km) do Sol.
A determinação da “constante solar” e suas possíveis variações teve um
interesse considerável no inicio do século vinte e motivaram o trabalho de pioneiros no
campo da radiação solar como Langley e Abbott. Atualmente o termo “constante solar”
é melhor definido por irradiância solar extraterrestre total (W m-2) abreviada na
literatura por TSI (do inglês Total Solar Irradiance). A palavra “constante solar” deve
referir-se apenas ao valor médio ao longo de vários anos da TSI. Na Figura 1.11 é
observado a variação da TSI durante um período de aproximadamente 30 anos medida
através de vários instrumentos a bordo de satélites. Observa-se a correlação entre a
variação do número de manchas solares e o valor da TSI.

Figura 1.11: Irradiância solar extraterrestre total (TSI) medida através de vários instrumentos no
espaço durante aproximadamente 30 anos (1980-2009). O número médio de manchas solares é
mostrado na parte inferior do gráfico.

O valor da TSI é influenciado diretamente pelo ciclo solar de 11 anos. Quando


um novo ciclo solar é iniciado e a atividade solar aumenta, a TSI sofre grandes

1.14
alterações. Manchas solares tendem a reduzir o valor da TSI, enquanto outros
fenômenos na atmosfera solar como fulgurações e fáculas provocam um aumento no seu
valor. A variação da TSI também acompanha o período de rotação solar médio de 27
dias. Usando os valores suavisados pelo período de 27 dias, é obtido um valor médio
de 1366,1 W m-2 e uma variação média de 1,1 W m-2, ou seja, 0,08% em relação ao
valor médio. Esta intensidade está de acordo com o valor da constante solar que foi
padronizada pela ASTM (American Society for Testing and Materials) igual a 1366,1
W m m-2 e apenas 0,9 W m-2 menor que o valor de 1367 W m-2 recomendado pela
Organização Meteorológica Mundial (WMO) em 1981.
Estudos teóricos e experimentais revelam que a maior variação da radiação
solar ocorre no segmento extremo do ultravioleta (abaixo de 200 nm). A variabilidade
nesta parte do espectro eletromagnético aumenta consideravelmente com a redução do
comprimento de onda, ao ponto onde a relação entre o máximo e mínimo da irradiância
solar atinge um fator de 100 em 0,5 nm. Na região de maior interesse para estudos na
área de energia que compreende o segmento do ultravioleta até o infravermelho
próximo (300-4000 nm), a variabilidade da irradiância solar total em condições de fraca
atividade solar possui uma amplitude muito pequena (0,1%). Esta variação é da ordem
da precisão dos instrumentos utilizados para a sua medida. No entanto, deve ser
salientado que a variabilidade do espectro solar extraterrestre não deve ser desprezada
em certos comprimentos de onda específicos, principalmente no visível e no
infravermelho próximo. Estes comprimentos de onda correspondem às linhas de
absorção existentes na atmosfera solar, como a linha Ca K em 393,5 nm e a linha He em
1083 nm. Nesta última, a amplitude de variação ao longo do ciclo de atividade solar
pode ser maior que 200%.

1.4 Distribuição espectral da irradiância solar extraterrestre

O espectro da radiação solar extraterrestre cobre um intervalo de comprimentos


de onda desde 0,2 até 25μm. A intensidade da radiação varia com o comprimento de
onda, conforme foi comentado anteriormente, devido principalmente às diferenças de
temperatura de cada região do Sol. Esta relação funcional entre intensidade e
comprimento de onda é chamada distribuição espectral. O espectro solar extraterrestre
no intervalo de comprimentos de onda de 0,2 a 2,5μm é mostrado na Figura 1.12.

1.15
Esta distribuição espectral é muito similar à do espectro de um corpo negro a
5900 K, também representado na mesma figura. Na Tabela 1.2 é apresentada a
distribuição do espectro solar extraterrestre em diferentes bandas de cores.
Aproximadamente a metade da energia solar se encontra na região do visível e quase a
mesma quantidade se encontra no infravermelho.

Figura 1.12: Distribuição espectral da radiação extraterrestre AM0 em vermelho, AM1 em azul
e distribuição espectral de um corpo negro a 5900 K mostrada em verde.

Tabela 1.2 Divisão do espectro solar em bandas de cores e regiões de energia.


Cor λ, μm Irradiância, W m-2 Porcentagem da Isc

Violeta 0,390 - 0,455 108,85 7,96


Azul 0,455 - 0,492 73,63 5,39
Verde 0,492 - 0,577 160,00 11,70
Amarelo 0,577 - 0,597 35,97 2,63
Laranja 0,597 - 0,622 43,14 3,16
Vermelho 0,622 - 0,770 212,82 15,57

Ultravioleta < 0,4 109,81 8,03


Visível 0,390 - 0,770 634,40 46,4
Infravermelho > 0,770 634,40 46,4

1.16
Desta forma, aproximadamente 95% da energia do Sol está dentro do intervalo
0,3-2,4 μm, 1,2% no intervalo < 0,3 μm e 3,6% no intervalo > 2,4 μm.

1.5 Componentes da radiação solar

A atmosfera terrestre é formada, basicamente, por uma mistura de gases, água -


nos três estados - e por pequenas partículas suspensas, chamadas aerossóis. Essa
configuração provoca grandes alterações na radiação solar. De fato, em certos
comprimentos de onda observam-se fortes atenuações, relacionadas com a atuação de
um ou mais componentes atmosféricos. Por esta razão, é possível decompor a radiação
incidente na superfície terrestre, num dado plano, em duas componentes: direta e difusa.
Em termos geométricos, pode-se dizer que a radiação direta provém unicamente
do disco solar, chegando ao solo sem ter sofrido mudança de direção além da refração
atmosférica. A radiação difusa provém de toda abóbada celeste, excluindo o disco solar.
Portanto, é a radiação solar recebida numa superfície horizontal num ângulo sólido 2π -
com exceção do ângulo sólido subentendido pelo Sol, como pode ser observado na
Figura 1.13. Com a soma dessas duas componentes, obtém-se a radiação total ou global.

Figura 1.13: Radiação direta e radiação difusa.

Em muitas circunstâncias, como por exemplo, nas aplicações fotovoltaicas, é


importante conhecer o espectro da radiação solar, ou seja, a distribuição da energia total

1.17
que incide sobre uma unidade de área em função do comprimento de onda. Nestes
casos, estuda-se a irradiância espectral solar. A irradiância mede a densidade do fluxo
de radiação que incide sobre uma superfície, podendo ser definida como a taxa de
energia solar incidente numa superfície por unidade de tempo e por unidade de área.
Portanto, tem como unidades W/m2. A irradiância depende da orientação da superfície
sobre a qual a radiação incide. Para uma determinada intensidade de radiação, a
irradiância é proporcional ao co-seno do ângulo entre a direção do fluxo e a direção da
normal a superfície na qual incide o fluxo.

1.6 Massa óptica de ar

O comprimento relativo do caminho percorrido pelo raio solar através da


atmosfera é chamado “massa de ar” (m). Usando uma definição mais criteriosa, a massa
de ar é definida como a razão entre a massa de uma determinada substância no caminho
óptico do feixe incidente e a massa da mesma substância no caminho óptico vertical,
como descrito pela Equação 1.12:

∫ ρdl
m= 0

≅ sec( Z ) (1.12)
∫ ρdz
0

onde m é a massa de ar; ρ é a densidade do meio, dl é o caminho óptico de integração e


Z é o ângulo zenital.
A densidade multiplicada pelo elemento de distância representa a massa da
substância em uma coluna de área unitária, ou seja, a massa óptica. O limite inferior da
integração corresponde à superfície terrestre e o superior ao topo da atmosfera. É
importante observar que a Equação 1.12 aplica-se apenas para um feixe monocromático
de radiação, pois a refração depende do comprimento de onda. Quando a trajetória da
radiação vai desde o zênite até o nível do mar, o valor da massa de ar é um, ou AM1,
enquanto que fora da atmosfera a massa de ar é zero ou AM0. Para ângulos zenitais do
Sol menores que 75° a massa de ar pode ser aproximada pelo valor da secante de Z.
Uma representação para três valores distintos de massa de ar é mostrada na Figura 1.14.

1.18
Figura 1.14. Exemplo de três valores distintos de massa de ar; AM 1, AM 1,5 e AM 2. Para
cada massa de ar é mostrado o respectivo ângulo zenital do Sol (Z).

Muitos modelos simples de transmitância atmosférica adotam apenas uma


única expressão de massa óptica de ar para todos os processos de extinção na atmosfera.
A massa óptica absoluta pode ser definida por:

−1 / 2

ρ ⎧⎪ ⎡ ⎛ ρ ⎞⎤⎛ sin( Z ) ⎞ ⎫⎪
2

mabs = ρ0 ∫ ⎨1 − ⎢1 + 2(n0 − 1)⎜⎜1 − ⎟⎟⎥⎜ ⎟ ⎬ dh (1.13)


0
ρ0 ⎪⎩ ⎣ ⎝ ρ 0 ⎠⎦⎝ 1 + h / rt ⎠ ⎪⎭

onde h é a altitude local; ρ é a densidade do ar na altitude local; ρ0 é a densidade do ar


ao nível médio do mar; n0 é o índice de refração do ar, no comprimento de onda de 700
nm, ao nível médio do mar; Z é o ângulo zenital e rt representa o raio médio da Terra. A
Equação 1.13 pode ser aplicada para qualquer constituinte atmosférico, desde que o seu
perfil de distribuição vertical seja conhecido com exatidão. Uma expressão para
determinação da massa óptica de ar mais compacta é definida como:

[
mi = cos( z ) + ai1 Z ai 2 (ai 3 − Z ) i 4
a
]
−1
(1.14)

onde z é a altitude local, mi são as diferentes massas ópticas para os processos de


extinção que seguem: mR (Rayleigh), ma (aerossóis), mn (NO2), mo (ozônio), mg (mistura
uniforme de gases) ou mw (vapor de água), Z é o ângulo zenital, e os coeficientes aij

1.19
estão mostrados na Tabela 1.3, juntamente com os valores de mi para Z=90°, que
apresentam uma grande dispersão entre 16,6 e 71,4. A Equação 1.14 Deve ser
empregada quando é necessário conhecer a massa de ar com boa precisão para elevados
ângulos zenitais, pois nestes casos, o cálculo da massa óptica de ar deve ser associado a
uma correção do ângulo zenital solar aparente, ou seja, o ângulo que é originado em
função da refração atmosférica que altera a posição real do disco solar. A Figura 1.15
mostra a variação do valor de massa de ar para diferentes constituintes atmosféricos
quando o ângulo zenital solar é maior que 78°.

Tabela 1.3: Coeficientes para massa óptica de ar aplicados na Equação 1.14


Processo de extinção ai1 ai2 ai3 ai4 mi para Z=90°
Rayleigh 4,5665 x 10-1 0,07 96,4836 -1,6970 38,136
Ozônio 2,6845 x 102 0,5 115,420 -3,2922 16,601
NO2 6,0230 x 102 0,5 117,960 -3,4536 17,331
-1
Mistura uniforme de gases 4,5665 x 10 0,07 96,4836 -1,6970 38,136
Vapor de água 3,1141 x 10-2 0,1 92,4710 -1,3814 71,443
Aerossóis 3,1141 x 10-2 0,1 92,4710 -1,3814 71.443

Figura 1.15: Variação do valor de massa de ar para diferentes componentes atmosféricos para
ângulo zenital acima de 78°.

1.7 Atenuação atmosférica da radiação solar

Existem, basicamente, dois processos físicos envolvidos na atenuação da


radiação solar: absorção e difusão. O espalhamento e a reflexão são casos particulares
do processo de difusão, que devido à grande importância desempenhada na construção
do modelo teórico são identificados e estudados separadamente. É óbvio que todos esses

1.20
processos podem ocorrer simultaneamente, para um determinado componente
atmosférico ou mesmo para um certo grupo de componentes, por exemplo: as nuvens,
além de refletir, absorvem e espalham a radiação incidente. De acordo com a
importância desempenhada e com os objetivos a serem atingidos, o modelo empregado
pode enfatizar apenas o processo mais significativo, desprezando os demais.
A absorção ocorre quando as partículas que compõem a atmosfera terrestre
removem uma parte da energia incidente e a convertem em energia interna. Em
conseqüência, ocorre um aumento na movimentação dessas partículas ou de seus
componentes, por exemplo, átomos e elétrons. O processo de absorção molecular
depende do estado de energia da molécula, sendo a radiação absorvida durante a
transição de um estado de energia para outro. Esse processo ocorre somente para
comprimentos de onda discretos. Dessa forma, cada gás atmosférico absorve radiação
em determinados comprimentos de onda, sendo transparente para os demais. Por isso
são chamados de absorvedores seletivos.
O espalhamento é um caso particular de difusão da radiação que,
geralmente, está associado às posições irregulares das partículas num gás. O processo
pode ser pensado como se parte da radiação incidente fosse, momentaneamente,
capturada e, em seguida, emitida em todas as direções, sem alteração do comprimento
de onda. Esse processo se repete, ou seja, a radiação espalhada por uma molécula pode
ser novamente espalhada por outra, dando origem ao que se chama de múltiplos
espalhamentos. Na atmosfera, o espalhamento ocorre quando a radiação incide nos
aglomerados - formados por flutuações ocasionais da densidade - de moléculas de ar.
Como a radiação é enviada em todas as direções, resulta que parte da radiação difusa
retorna ao espaço, enquanto outra parte, proveniente de todas as regiões do céu, atinge o
solo. Muitos fenômenos são observados devido ao espalhamento atmosférico. Por
exemplo, a claridade do dia se deve a esse tipo de difusão da radiação. Na ausência de
atmosfera, o céu teria aspecto completamente diverso: seria totalmente negro, exceto
nas posições ocupadas pelos astros. O azul do céu se deve à existência de pequenas
partículas que difundem maiores proporções de radiação nesse intervalo de
comprimento de onda.
Quando o céu está nublado, a atmosfera passa a conter uma grande quantidade
de água e, portanto, uma grande quantidade de partículas difusoras maiores. Essas
partículas se caracterizam por difundir proporções aproximadamente iguais para todos
os comprimentos de onda, causando superposição entre as cores. Como conseqüência, a

1.21
abóbada celeste torna-se branca; pela mesma razão são brancas as nuvens e a luz que
atravessa um nevoeiro. As mudanças diárias no aspecto de uma mesma paisagem se
devem, em grande parte, ao processo de espalhamento. Além disso, é o espalhamento
atmosférico que limita o alcance da visão de objetos distantes, observados por meio de
instrumentos ópticos como lunetas de grande alcance.
A reflexão difusa é observada sempre que a radiação encontra alguma superfície
irregular e é espalhada em determinadas direções, que variam de acordo com as
irregularidades da superfície e com o ângulo de incidência da radiação. O solo, embora
não sendo um componente atmosférico, desempenha um papel relevante na
determinação da radiação difusa. De acordo com o tipo de cobertura característico da
superfície a ser estudada - neve, areia, floresta, etc. - e mesmo da região - proximidade
de uma superfície com água, um rio, por exemplo - , uma quantidade maior ou menor de
radiação será refletida. As nuvens são os componentes atmosféricos responsáveis por
esse tipo de difusão da radiação solar; sua importância pode ser melhor percebida nos
dias em que o céu se encontra completamente nublado. Nessas condições, uma grande
quantidade da radiação incidente é refletida pelas nuvens, retornando ao espaço.
Na Figura 1.16, é observada a importância dos processos de absorção e de
difusão sofridos pela radiação solar, através da representação do balanço global da
energia solar recebida pelo planeta durante um ano. A radiação solar média recebida
anualmente pela Terra é representada por 100 unidades. Dos 100% recebidos, 35%
retornam ao espaço por algum processo de difusão (7% pelo espalhamento atmosférico,
24% devido à reflexão das nuvens e 4% por reflexão da superfície) e 65% é absorvido
(17,5% pela atmosfera e 47,5% pelo solo).

. Figura 1.16: Balanço global da radiação solar.

1.22
1.8 Determinação da irradiância solar na superfície

A irradiância extraterrestre, Ion, em uma superfície normal aos raios do Sol é:

I&on = I&sc Eo (1.15)

Pela observação da Figura 1.10, a irradiância pode ser determinada da seguinte


relação:

I&o = I&on cosθ z , Wm-2 (1.16)

onde θz é o ângulo de zênite do Sol.

A irradiação Io durante um período de tempo de uma hora centrado no ângulo


horário ωi é dada por :

I o = I sc Eo ( sinδsinφ + cosδ cos φ cosωi ) (1.17)

com cuidado de expressar aqui ISC em unidades de energia, não de potência.

A irradiação extraterrestre diária em uma superfície horizontal, Ho, desde o


nascer do sol, ns, até o pôr-do-sol, ps, é calculado da seguinte maneira:

Ho = ∫n I o dt
ps
(1.18)
s

que resulta em:

Ho =
24
π
[
I sc Eo ωs ( sinδsinφ ) + ( cosδ cos φsinωs ) ] (1.19)

com ωs, o ângulo horário do pôr-do-sol, expresso em radianos. Na Tabela 1.4 se pode

encontrar os valores de Ho para os doze meses do ano e para algumas latitudes


(hemisfério sul). Esta tabela foi construída utilizando-se dias médios de cada mês, de
acordo com a Tabela 1.5. O dia médio é aquele que apresenta valores de Ho idênticos ao
valor médio mensal, Ho.

1.23
Tabela 1.4: Variação da irradiação extraterrestre diária em uma superfície horizontal,
Ho (MJm-2 dia-1).
Latitude (Sul)
Mês 0° 15° 30° 45° 60° 90°
Jan 36,32 40,87 43,04 42,89 41,05 43,32
Fev 37,53 39,83 39,57 36,84 32,07 27,06
Mar 37,90 37,14 33,85 28,28 20,83 5,49
Abr 36,75 32,99 27,08 19,45 10,75 0,00
Mai 34,78 28,92 21,42 12,91 4,47 0,00
Jun 33,50 26,76 18,68 10,02 2,15 0,00
Jul 33,89 27,57 19,76 11,19 3,07 0,00
Ago 35,56 30,89 24,29 16,28 7,66 0,00
Set 37,07 35,03 30,62 24,16 16,09 0,69
Out 37,34 38,42 36,95 33,07 27,16 17,86
Nov 36,47 40,28 41,66 40,66 37,83 37,96
Dez 35,74 40,91 43,80 44,44 43,61 47,66
Media 36,07 34,97 31,73 26,68 20,56 15,00

Tabela 1.5: Dias médios e declinações características


(irradiação extraterrestre diária idêntica ao valor médio mensal).
Mês Data δ, graus Número do dia, dn

Jan 17 -20,84 17
Fev 14 -13,32 45
Mar 15 -2,40 74
Abr 15 +9,46 105
Mai 15 +18,78 135
Jun 10 +23,04 161
Jul 18 +21,11 199
Ago 18 +13,28 230
Set 18 +1,97 261
Out 19 -9,84 292
Nov 18 -19,02 322
Dez 13 -23,12 347

1.24
1.9 Posição do Sol para superfícies arbitrariamente inclinadas

Na maioria das aplicações práticas da energia solar é necessário determinar a


posição do Sol com respeito a uma superfície inclinada. A orientação desta superfície se
descreve mediante seu ângulo de inclinação, β, em relação à horizontal e o ângulo de
azimute da superfície, γ, que é o afastamento, em relação ao meridiano local, da
projeção da normal da superfície no plano horizontal. O ângulo β está representado na
Figura 1.17, sendo que esta figura está contida no plano do ângulo de azimute da
superfície.

Figura 1.17. Posição do Sol relativa a uma superfície inclinada.

O ângulo de incidência, θs, é formado pela normal à superfície e o vetor Sol-

Terra. Este ângulo é calculado da seguinte maneira:

1.25
cos θ s = sin δ sin φ cos β − sin δ cos φ sin β cos γ + cos δ cos φ cos β cos ω
(1.20a)
+ cos δ sin φ sin β cos γ cos ω + cos δ sin β sin γ sin ω

ou

cosθ s = cos β cosθ z + sinβsinθ z cos( γ s − γ ) (1.20b)

Para uma superfície orientada ao equador, a equação (1.1a) pode ser simplificada
utilizando-se a representação da Figura 1.18.

Figura 1.18. Demonstração da equivalência entre os ângulos θz e θs.

Esta figura mostra que uma superfície localizada em uma latitude φ e inclinada β
graus da horizontal e orientada ao equador é paralela a uma superfície horizontal
localizada em uma latitude (φ-β), isto é, o ângulo θs em uma latitude φ é igual ao ângulo

θz em uma latitude (φ-β). Da Equação 1.17a resulta que:

cosθ s = sinδsin( φ − β ) + cosδ cos( φ − β ) cosω (1.18)

1.26
Da mesma forma que encontramos o ângulo de nascimento do Sol, ωs, para uma

superfície horizontal, podemos encontrar ωs', chamado ângulo de nascimento do sol

para uma superfície inclinada. Isto é obtido da Equação 1.18 fazendo-se θs=90°:

ωs ' = cos−1 [ − tanδ tan( φ − β ) ] (1.19)

Desta equação se pode considerar três casos particulares:

i) nos equinócios, δ=0 e da Equação 1.19:

ω s' = π / 2 (1.20)

Ou seja, o ângulo de nascimento do sol é independente da latitude e da inclinação.

ii) durante o inverno, δ >0, resultando em ωs > ωs'. Isto significa que o Sol surge antes

para uma superfície horizontal que para uma superfície inclinada.

iii) durante o verão, δ<0, resultando, matematicamente, que o Sol surge para uma
superfície inclinada antes que para uma horizontal. Como isto não é possível
fisicamente, estabelece-se uma expressão geral para ωs':

ωs ' = min{cos−1 ( − tanδ tan φ ) ,cos−1 [ − tanδ tan( φ − β ) ] } (1.21)

onde min significa o valor mínimo.

1.10 Relação entre horas de Sol e radiação global diária

O número de horas de Sol corresponde ao tempo durante o qual a radiação direta


é maior que um certo valor para que seja registrada. Para grandes escalas de tempo e
valores médios mensais de vários anos pode-se observar que existe uma correlação entre
o número de horas de Sol e a quantidade de radiação global incidente em um ponto.

1.27
Em muitos lugares o número de horas de Sol (n), medido com os heliógrafos, é o
único dado que se registra, sendo então necessário conhecer as correlações entre este
número e a radiação global diária (H), ainda que estes valores somente possam ser
utilizados como valores médios mensais.
Os pesquisadores Prescott e Col propuseram a utilização da seguinte equação

H / Ho = a + b (n/ Nd) (1.22)

onde H é a radiação solar global diária em média mensal, Ho é a radiação solar


extraterrestre (diária em média mensal), n é o número de horas de brilho solar e Nd é o
número máximo de horas de sol, ou seja, a duração do dia.
Os valores dos parâmetros a e b variam, segundo o lugar e suas características,
numa faixa entre 0,17 - 0,32 e 0,37 – 0,69 respectivamente. Utilizando valores de
irradiação global horizontal diária em média mensal e insolação medidos em 17
estações, foram encontrados os seguintes valores para o Estado do Rio Grande do Sul: a
= 0,23 e b = 0,46.

1.11 Radiação global diária sobre superfícies horizontais

A radiação difusa diária (Hd) incidente numa superfície correlaciona-se com a


radiação global (H) que incide na mesma, através do índice ou coeficiente de
transparência atmosférico diário (Kt), que se define como:
Kt = H / Ho (1.23)

Os pesquisadores Collares-Pereira e Rabl propuseram a seguinte expressão


analítica que correlaciona estes valores conforme o coeficiente de transparência
atmosférico:

0,99 para Kt = 0,17


1,188 – 2,272 Kt + 9,473 Kt2 para 0,17 < Kt < 0,75
Hd /H -21,856 Kt3 + 14,648 Kt4
(1.24)
-0,54 Kt + 0,632 para 0,75 < Kt < 0,8
0,2 para Kt ≥ 0,8

1.28
A radiação direta diária (Hb) obtém-se como a diferença entre a radiação global e a
radiação difusa:
Hb = H –Hd (1.25)

1.12 Radiação global horária sobre superfícies horizontais

Assim como no caso da radiação diária, a radiação difusa horária (Id) incidente em
uma superfície se relaciona com a radiação global horária (I). Neste caso, utiliza-se o
índice de transparência atmosférico horário kt, que se entende como o quociente entre a
radiação global horária e radiação extraterrestre horária. A expressão usada divide o céu
em três tipos, segundo o valor de kt :

= 1,0 – 0,09 kt 0 ≤ kt ≤ 0,21


Id / I = 0,9511 – 0,160 kt + 4,388 kt² (1.26)
0,22 ≤ kt ≤ 0,8
- 16,63 kt³+ 12,336 kt4
= 0,165 kt > 0,8

O valor obtido para Id não é muito exato, já que é difícil fazer a previsão somente
com o valor da radiação global; o mesmo ocorrerá usando qualquer das outras
correlações.
A radiação direta se obtém com a diferença entre a radiação global e a radiação
difusa:

Ib = I – Id (1.27)

1.13 Radiação global sobre superfícies inclinadas

A radiação global diária incidente sobre uma superfície inclinada pode ser
calculada como a soma das parcelas horárias da radiação global.

Hβ = Σ I β (1.28)
horas

onde I β pode ser obtida como a soma horária da radiação direta, difusa e refletida

1.29
I β = Ibβ + I dβ + I rβ (1.29)

Conhecendo a radiação direta sobre uma superfície horizontal pode ser calculada
a radiação direta sobre uma superfície inclinada através da seguinte expressão:

I bβ = Ib rb (1.30)

onde rb é um fator de conversão geométrico dado por:

rb = cos θs / cos θz (1.31)

onde θs e θz são dados, respectivamente, pela Equações 1.10a e 1.8.


A radiação refletida pelo solo que incide em uma superfície pode ser calculada
considerando uma reflexão isotrópica ou anisotrópica. Segundo a primeira, a quantidade
de radiação diária refletida pela terra que incide em uma superfície inclinada, pode ser
obtida com a expressão:

Irβ = I ρ (1-cosβ) / 2 (1.32)

sendo ρ o albedo da superfície refletora.


Finalmente, a radiação difusa que provém do céu pode ser calculada utilizando
um modelo semi-empírico, o qual se baseia na análise das três componentes da radiação
difusa, e assume uma irradiância constante sobre todo o céu exceto em um disco em
torno ao Sol e uma banda no horizonte, onde os valores da irradiância difusa são
incrementados. A magnitude deste incremento é considerada como uma função de três
parâmetros que descrevem a condição do céu em cada instante.
A forma deste modelo é dada pela equação:

⎡ ⎛ cosθ s ⎞ ⎤
I dβ = I d ⎢ 0,5(1 + cos β ) ( 1 − F1 ) + F1 ⎜ ⎟ + F2 sen β ⎥
⎣ ⎝ cosθ z ⎠ ⎦ (1.33)

Os coeficientes F1 e F2 são coeficientes que levam em conta o brilho


circumsolar e horizontal, que são função de três parâmetros que definem as condições

1.30
do céu, ângulo de zênite, a claridade ε e o brilho Δ , obtidos através das equações
empíricas:

F1 = F11 ( ε ) + F12 ( ε ) Δ + F13 ( ε )θ z (1.34)

F2 = F21 ( ε ) + F22 ( ε ) Δ + F23 ( ε )θ z (1.35)

I d ⋅ ma
Δ= (1.36)
I on

I d + I bn
ε= (1.37)
Id

onde Idβ é a irradiância difusa inclinada, Id é a irradiância difusa horizontal, ma a massa


de ar, Ib a irradiância direta normal e Io a irradiância extraterrestre, também normal.
Os coeficientes F11, F12, etc. são função do ε , e para diferentes faixas do mesmo
os valores recomendados são os mostrados na Tabela 1.6.

Tabela 1.6: Coeficientes “F” para determinação da radiação difusa através do modelo de
Perez.
Faixa de ε F11 F12 F13 F21 F22 F23
1 a 1,056 -0,042 0,55 -0,044 -0,12 0,138 -0,034
1,0561 a 1,253 0,261 0,559 -0,243 -0,019 0,083 -0,081
1,253 a 1,586 0,481 0,46 -0,354 0,077 0,006 -0,116
1,5861 a 2,134 0,825 0,187 -0,532 0,172 -0,05 -0,151
2,1341 a 3,23 1,102 -0,299 -0,586 0,35 -0,398 -0,171
3,231 a 5,98 1,226 -0,451 -0,617 0,444 -0,949 -0,073
5,981 a 10,08 1,367 -0,838 -0,655 0,431 -1,75 0,094
10,08 a ∞ 0,978 -0,812 -0,393 0,335 -2,160 0,106

1.31
2. Instrumentação para medida da radiação solar

2.1 Sensores de radiação

A medida da radiação solar disponível na superfície da Terra é essencial para um


grande número de aplicações além, naturalmente, dos sistemas solares onde é
fundamental. Esta informação também é utilizada para a modelação do rendimento
energético de edificações, modelos climáticos, agricultura, etc. A medida da radiação
solar em alguns pontos da superfície terrestre permite o desenvolvimento de modelos
empíricos que possibilitam a predição da energia solar disponível em muitos outros
lugares que não dispõem destas medidas.
O principal componente de um radiômetro (instrumento destinado à medida da
energia radiante do Sol ou outra fonte qualquer) é o sensor, também denominado de
detector. Os detectores utilizados em radiômetros solares são classificados como
calorimétrico, termomecânico, termoelétrico e fotoelétrico.
Os sensores calorimétricos são compostos basicamente por uma superfície
metálica com excelente condutividade térmica que é revestida por uma pintura preta
não-seletiva com alta absorção. Toda a energia radiante incidente na superfície é
praticamente convertida em calor que é medido para a determinação da quantidade de
energia incidente.
Os sensores termomecânicos se baseiam na deformação sofrida por uma lâmina
metálica quando exposta à radiação solar. Geralmente se emprega duas lâminas, uma
revestida por uma pintura preta com alta absorção e outra com pintura refletora. A
lâmina preta é exposta ao Sol enquanto a outra é mantida isolada dos raios solares. A
diferença de temperatura e coeficiente de dilatação térmica provoca uma deformação
nas lâminas. Esta distorção é transmitida ópticamente ou mecanicamente para um
indicador calibrado e informa a quantidade de radiação incidente no sensor.
Os sensores termoelétricos são constituídos por um par metálico de materiais
distintos com os seus extremos conectados. Quando há uma diferença de temperatura
entre as duas junções, surge uma força eletromotriz, que é proporcional à diferença de
temperatura e depende das características dos metais utilizados. Instrumentos destinados

2.1
à medida da radiação solar que adotam estes tipos de sensores geralmente empregam
uma combinação de cobre-constantan, sendo que apenas uma das junções é exposta ao
feixe solar. A tensão presente nos terminais de um sensor termoelétrico é muito baixa,
por isso, costuma-se associar vários sensores em série para obtenção de uma tensão
mais elevada. Este arranjo de vários sensores termoelétricos é denominado de
termopilha.
Os sensores fotovoltaicos estão dentre os sensores fotoelétricos mais
empregados para medida da energia solar. Um dispositivo fotovoltaico é composto por
um material semicondutor, geralmente silício. Um átomo de silício possui quatro
elétrons de valência formando uma estrutura cristalina contendo outros quatro átomos
na sua vizinhança. Quando uma impureza é adicionada nesta estrutura, como, por
exemplo, um átomo de fósforo, arsênio ou antimônio que possuem cinco elétrons de
valência, o elétron em excesso pode ser facilmente liberado tornado-se um elétron
condutor. Um semicondutor com excesso de elétrons é denominado de semicondutor
tipo N. Quando é adicionada à estrutura cristalina uma impureza como alumínio, boro
ou índio, que possui três elétrons na banda de valência, cria-se uma lacuna nesta
estrutura. Um semicondutor com estas características é chamado de tipo P. Quando há a
união destas duas junções é formado um semicondutor do tipo P-N. A incidência de
uma radiação luminosa com energia capaz de remover elétrons de ligação nas
proximidades da junção P-N provoca um contínuo movimento dos elétrons e lacunas
em excesso, ocasionando o surgimento de uma corrente elétrica. A utilização de
sensores fotovoltaicos apresenta várias vantagens em relação aos demais tipos de
sensores, entre elas destacam-se o baixo custo, tempo de resposta extremamente rápido
(cerca de 10 μs), elevada corrente de saída, proporcionalidade entre a corrente de saída
e a radiação incidente e baixa degradação ao longo do tempo. Apesar destas
características favoráveis, os sensores fotovoltaicos possuem algumas limitações. A
principal é originada na resposta espectral seletiva deste tipo de sensor. Este fator está
relacionado com o tipo de semicondutor utilizado. A Figura 2.1 apresenta a curva de
resposta espectral de um sensor de silício. Observa-se na Figura 2.1 que a resposta do
sensor fotovoltaico de silício é extremamente pequena para comprimentos de onda
abaixo de 400 nm e maiores que 1100 nm possuindo uma resposta máxima em torno de
950 nm. Esta característica de resposta espectral seria insignificante caso a distribuição
espectral da radiação solar fosse constante. No entanto, é conhecido que a distribuição
espectral da radiação solar que atinge a superfície terrestre é variável e depende da

2.2
elevação solar, turbidez atmosférica, quantidade de água precipitável, entre outros
diversos fatores.

Figura 2.1: Resposta espectral típica de um fotodiodo de silício empregado em radiômetros


solares.

O erro na determinação da irradiância solar em função da limitada resposta


espectral do sensor de silício pode ser da ordem de 5 % para medidas realizadas em
situações extremas, ou seja, entre o céu limpo e totalmente encoberto por nuvens. Por
outro lado, a medida do albedo através de um instrumento com sensor seletivo pode
acarretar um erro elevado. Isto se deve às características espectrais usualmente presentes
nos diferentes tipos de superfícies.

2.2 Medida da componente direta: pireliômetros

A medida precisa da componente direta da radiação solar teve um considerável


interesse no século 19. Esta motivação surge na busca da determinação da constante
solar e sua variação ao longo do tempo. A medida da componente direta da irradiância
solar geralmente é obtida através de um instrumento denominado pireliômetro. Este
instrumento possui um campo de visão bastante estreito com intuito de receber apenas a
radiação emitida pelo disco solar. O pireliômetro possui um mecanismo para
acompanhamento do Sol que pode ser manual ou automático. Um grande número de

2.3
instrumentos dedicados à medida da irradiância solar direta foram desenvolvidos nos
dois últimos séculos.
Herschel desenvolveu em 1825 o primeiro instrumento usado para medir o
aquecimento causado pela radiação solar. Este instrumento denominado de actinógrafo
era composto por um termômetro com um extenso tubo preenchido por um líquido com
coloração azul escuro para uma melhor absorção da radiação solar. Este medidor era
exposto à luz solar por 1 minuto, após este período a radiação era bloqueada por um
anteparo pelo mesmo tempo, ao final deste período, o anteparo era retirado e o medidor
era novamente iluminado pelo Sol. A leitura obtida pelo termômetro durante estas
etapas era relacionada com a energia recebida pelo Sol. Apesar de extremamente
rudimentar este medidor serviu como base para os instrumentos mais precisos que o
sucederam.
As primeiras medidas absolutas da constante solar foram realizadas na França
em 1837, por Pouillet, com auxílio de um pireliômetro por ele desenvolvido. Este
instrumento é constituído por dois discos. Um destes discos contém água no seu interior
e possui a face superior pintada de preto e pode ser orientado diretamente para o Sol. O
outro disco possui as mesmas dimensões, mas possui uma superfície prateada e polida,
visando diminuir a absorção da radiação solar. Conhecendo a capacidade calorífica do
disco com água é possível determinar a quantidade de energia solar absorvida pela face
enegrecida por meio de um termômetro. Desta forma é calculada a potência média por
unidade de área da radiação solar incidente.
No início do século 20, Charles Greeley Abbot construiu um pireliômetro
absoluto que se tornou o primeiro radiômetro padrão de referência reconhecido
internacionalmente. Este instrumento construído por Abbot, utiliza um fluxo de água
destilada para remover o calor gerado pela absorção de energia solar em um absorvedor
de forma cônica, cujo o seu interior é pintado com tinta preta de alta absorção. A
superfície cônica é instalada dentro de um tubo colimador e mantida isolada
térmicamente por meio de um recipiente evacuado. A variação da temperatura da água é
medida através de um termômetro diferencial de platina. Dentro da superfície cônica
absorvedora há uma resistência que é aquecida fazendo passar por esta uma corrente
elétrica. A determinação da intensidade de radiação solar é feita produzindo-se o seu
bloqueio na entrada do tubo colimador e medindo-se a potência elétrica necessária para
provocar a mesma elevação de temperatura da água. Este pireliômetro é denominado de
absoluto, pois determina diretamente a quantidade de energia recebida do Sol.

2.4
Abbot também desenvolveu o pireliômetro de disco de prata. Neste instrumento
o sensor é composto por um disco de prata onde é inserido o bulbo de um termômetro.
Para assegurar um bom contato térmico entre o disco de prata e o termômetro, a região
de contato entre estas duas superfícies é preenchida com mercúrio líquido. O disco de
prata é pintado com tinta preta altamente absorvedora e alojado dentro de um tubo
colimador com isolação térmica. Após um determinado intervalo de tempo de
incidência da radiação solar sobre o disco (cerca de um minuto), a entrada do tubo
colimador é bloqueada e é realizada a medida da razão de crescimento e decréscimo da
temperatura do disco. A partir de dados sobre o coeficiente térmico específico do
instrumento empregado, determina-se a intensidade da radiação solar incidente.
Quase na mesma época em que Abbot desenvolvia seu pireliômetro, Knut
Ångström1, na Suécia, construiu o primeiro medidor verdadeiramente preciso para
medida da radiação direta normal. Este pireliômetro utiliza duas pequenas lâminas de
manganin cobertas por uma tinta escura e colocadas lado a lado no fundo de um tubo
colimador.
Um sistema de bloqueio da radiação solar incidente é instalado na parte superior
do tubo colimador de tal forma que apenas uma das duas lâminas é atingida pela
radiação solar, enquanto a outra lâmina é aquecida através da passagem de uma corrente
elétrica contínua. Cada lâmina possui termopares que estão fixados na sua parte inferior
e ligados a um galvanômetro. Uma chave permite inverter o papel desempenhado pelas
lâminas, deste modo, pode-se determinar com bastante exatidão a corrente média
necessária para que ambas as lâminas estejam em equilíbrio térmico. A potência elétrica
fornecida à lâmina nesta situação terá o mesmo valor da intensidade da radiação solar
incidente e haverá uma indicação nula de corrente no galvanômetro. Este pireliômetro
de compensação elétrica mostrado na Figura 2.2 é um instrumento absoluto de medida
da radiação solar, pois não exige outro pireliômetro como referência para a sua
calibração.

1
Knut Ångström (1857-1910) era filho do famoso astrônomo e físico sueco Anders
Jonas Ångström (1814-1874) que leva seu nome na unidade usualmente empregada para
medida de comprimento de onda. Anders Ångström (1888-1981), filho de Knut
Ångström, desenvolveu as formulações para o cálculo de turbidez atmosférica e
correlações de irradiância com dados de insolação solar.

2.5
Figura 2.2: Fotografia do pireliômetro absoluto desenvolvido por Knut Ångström.

Após a metade do século 20, surgiram os primeiros pireliômetros de cavidade


ativa absolutos. Este tipo de instrumento foi desenvolvido para medidas extremamente
precisas da intensidade da radiação solar no solo e fora da atmosfera terrestre. A
precisão deste tipo de pireliômetro situa-se entre 0,2 e 0,3 %, sendo adotado como
referência para a calibração de outros pireliômetros dedicados às medidas sistemáticas,
chamados de operacionais. O pireliômetro operacional mais conhecido é o Eppley
Normal Incidence Pyrheliometer, abreviado por NIP. A Figura 2.3 apresenta o
pireliômetro Eppley NIP. Este pireliômetro operacional é constituído por um tubo
colimador de bronze pintado internamente de preto. Uma série de diafragmas alojados
no interior do tubo colimador limitam o campo de visão deste instrumento em cerca de
5°. O sensor utilizado é composto por uma termopilha com 15 junções de bismuto-prata.
Esta termopilha apresenta um tempo de resposta da ordem de 20 segundos. Um disco
instalado na abertura superior do pireliômetro Eppley pode acomodar até três filtros,
sendo que os mais utilizados para medida da irradiância solar são os Schott OG1, RG2 e
RG8.

2.6
Figura 2.3: Fotografia do pireliômetro NIP produzido pela empresa Eppley.

2.3 Medida da componente global e difusa: piranômetros

A irradiância solar global é medida através de radiômetros com campo de visão


hemisférico (dentro de um ângulo sólido de 2π sr). Este tipo de instrumento é chamado
de piranômetro. . Este instrumento também pode ser utilizado em posição inclinada e
neste caso recebe uma parte da radiação refletida pelo solo. Geralmente são empregados
sensores baseados no princípio termoelétrico, termomecânico e fotovoltaico.
Diferentemente dos pireliômetros que utilizam tubos colimadores, os piranômetros
possuem seus sensores instalados de tal modo que estes sejam capazes de receber a
irradiância solar emitida por todo o hemisfério celeste.
O primeiro piranômetro foi desenvolvido pelo físico inglês H. S. Callendar, em
1898. O sensor utilizado neste medidor é constituído por quatro redes de fios de platina,
associadas em pares, sendo que duas pintadas de preto para uma melhor absorção da
radiação solar enquanto as outras duas redes de fios apresentam uma superfície
altamente refletora em virtude das características dos fios de platina. Estas redes situam-
se no interior de um bulbo de vidro onde é feito vácuo para assegurar um bom
isolamento térmico. A diferença de temperatura entre as duas redes de fios gera uma
tensão elétrica que é proporcional à intensidade da radiação solar incidente. A medida
da irradiância global é efetuada por meio de um medidor de corrente, e as quatro redes
de fios são associadas em uma configuração de ponte de Wheatstone.
Atualmente existe uma grande quantidade de modelos de piranômetros. Os mais
conhecidos são produzidos pela empresa Eppley e são divididos em dois tipos; o
modelo Black and White, B&W, e o Precision Spectral Pyranometer, PSP. Estes dois
tipos de piranômetros utilizam sensores termoelétricos. O piranômetro Black and White
da Eppley possui os setores brancos cobertos por sulfato de bário e os escuros por tinta

2.7
preta tipo black velvet da empresa 3M. O hemisfério é feito com vidro especial (Schott
WG295) que apresenta uma transmitância aproximadamente constante entre 285 e 2800
nm. Este piranômetro possui um circuito de compensação térmica que assegura uma
estabilidade na sensibilidade do instrumento para uma faixa de temperatura ambiente
entre -20 e + 40°. A Figura 2.4 apresenta alguns modelos de piranômetros.
Há também um grande número de piranômetros que utilizam dispositivos
fotovoltaicos como sensores. Apesar da resposta espectral limitada apresentada por
estes tipos de piranômetros sua utilização é compensada pelo baixo custo, resposta
virtualmente instantânea e alta corrente de saída. Este tipo de sensor exige o uso de um
dispositivo difusor, pois geralmente os detectores empregados (células fotovoltaicas,
fotodiodos, etc.) possuem um campo de visão com resposta reduzida em relação às
termopilhas.

Figura 2.4: Alguns exemplos de piranômetros. Em cima um piranômetro Eppley PSP e o


mesmo em plataforma móvel com orientação programável. Abaixo à direita um piranômetro
fotovoltaico e à esquerda um piranômetro tipo Black & White com anel de sobra .

2.8
A medida da componente difusa da irradiância solar pode ser efetuada utilizando
dois instrumentos; um piranômetro para determinação da componente global e um
pireliômetro que mede a componente direta. A parcela difusa da irradiância pode ser
encontrada pela relação:

E difusa = E global − E direta (2.1)

Esta técnica envolve o uso simultâneo de dois instrumentos e também devido ao


alto custo de um pireliômetro a componente difusa da irradiância solar é determinada
através de um piranômetro equipado com um sistema capaz de bloquear o feixe
luminoso emitido diretamente pelo disco solar. Normalmente emprega-se um anel de
sobra que está posicionado paralelo ao plano equatorial e possui uma inclinação com
respeito ao zênite igual à latitude local. Para acompanhar a variação da declinação solar
é necessário um ajuste diário da posição do anel de sombra. O anel de sombra deve ser
pintado de preto fosco para minimizar os efeitos de reflexões múltiplas. Pelo fato de
bloquear uma parcela da componente difusa presente no campo de visão obscurecido
pelo anel de sombra é necessário aplicar um fator de correção para compensar este
efeito. Devido a anisotropia da irradiância difusa, esta correção torna-se bastante
complexa.
A duração da luz do Sol é definida como o intervalo de tempo no qual o disco
solar não é obstruído por nuvens. É, talvez, o tipo de medida de radiação mais antiga e
inúmeros dispositivos foram desenvolvidos nos últimos 160 anos para este fim. Estas
medidas são importantes por duas razões: a duração da luz solar, ou percentagem da luz
solar possível, é um dos parâmetros primários para a caracterização do clima em uma
determinada região. A segunda é que este dado pode ser utilizado para a estimativa do
fluxo total de radiação solar numa superfície horizontal para locais onde as medidas
piranométricas não são efetuadas.
A popularidade destes instrumentos reside na sua simplicidade, conveniência e
baixo custo. A quantidade medida por estes registradores é o tempo, geralmente
expresso em décimos de hora (0,1 hora) na qual a intensidade da radiação solar direta é
suficiente para ativar o registrador.
Talvez o instrumento mais conhecido seja o registrador Campbell-Stokes, que
consta basicamente de uma esfera de vidro que atua como uma lente esférica para

2.9
concentrar os raios de sol em uma superfície côncava, o foco, onde se coloca uma tira
de papel. Quando a intensidade da radiação ultrapassa certo nível, o papel queima
produzindo uma marca. A Figura 2.5 mostra um registrador Campbell-Stokes.

Figura 2.5: Heliógrafo Campbell-Stokes

Estes instrumentos, entretanto, apresentam graves problemas de precisão. Um


deles é que não são suficientemente sensíveis para responder às baixas intensidades de
radiação, como ocorre nos primeiros minutos do amanhecer e nos últimos do entardecer.
Outro problema é a dificuldade para definir o limite inferior preciso do fluxo de
irradiância direta que marcará legivelmente a tira de papel. Em condições extremas de
céu claro, atmosfera seca e uma tira de papel seca, este nível estaria em torno de 70
Wm-2 enquanto numa situação oposta, o nível aumenta num fator de 4. Um nível médio
estaria em torno a 210 Wm-2.
Outro tipo de instrumento utilizado é o actinógrafo que registra de forma
mecânica em um papel de gráfico o desenvolvimento da intensidade da radiação solar
ao longo do dia. A Figura 2.6 mostra um actinógrafo. A cúpula de vidro que recebe a
radiação abriga um par bimetálico que responde à variação de temperatura produzida
pelos raios solares. A imprecisão é grande porque este instrumento necessita freqüentes
calibrações e depende das condições locais de temperatura e umidade.

2.10
Figura 2.6: Imagem de um actinógrafo.

2.4 Instrumentos para medida espectral da irradiância solar

Há inúmeras aplicações nas áreas de engenharia, meteorologia, entre outras,


onde o conhecimento sobre a distribuição espectral da irradiância solar é requerido. Isto
pode ser alcançado empregando-se espectrorradiômetros de elevado custo ou com
auxílio de instrumentos simples e comparativamente baratos dotados de filtros seletivos,
por exemplo, pireliômetros e piranômetros.
Alguns pireliômetros utilizam sensores com estreita resposta espectral que
geralmente coincide com bandas onde há forte absorção por constituintes atmosféricos,
como ozônio e vapor de água. A constante de calibração destes instrumentos é realizada
geralmente empregando-se o método de Langley que consiste em realizar a medida da
irradiância solar direta para diversos valores de massa óptica de ar em períodos onde
não haja turbulência atmosférica, ou seja, em dias de grande transparência do céu. A
Figura 2.7 mostra o radiômetro com anel de sombra rotativo desenvolvido no
Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Este
instrumento possui cinco canais seletivos (375, 525, 625, 820 e 920 nm) com largura de
banda entre 10 e 30 nm. Além destes sensores seletivos há também um sensor de silício

2.11
com resposta espectral entre 300 – 1100 nm. O anel de sombra possibilita medir a
radiação global e difusa. A componente direta da radiação é encontrada a partir das
componentes obtidas.

Figura 2.7: Fotografia do espectroradiômetro com anel de sombra rotativo desenvolvido no


Laboratório de Energia Solar da UFRGS. Este instrumento possui cinco canais seletivos e um
sensor de silício de banda larga.

Os espectrorradiômetros se destinam à medida espectral da irradiância solar em


uma ampla faixa do espectro. Alguns modelos são capazes de mensurar isoladamente as
componentes global, difusa e direta, sobre uma superfície horizontal ou perpendicular
ao feixe solar, como o modelo RSS produzido pela empresa Yanke Environmental
Systems. Este dispendioso instrumento (preço estimado em US 100.000,00) é
apresentado na Figura 2.8.

2.12
Figura 2.8: Espectrorradiômetro modelo RSS produzido pela empresa YES. Este
espectrorradiômetro possui um anel de sombra rotativo para medida espectral das componentes
global, direta e difusa da irradiância solar.

Os espectrorradiômetros são baseados em módulos monocromadores que


utilizam prismas ou redes de difração. Espectrorradiômetros de grande precisão
tipicamente utilizam um arranjo de prismas e/ou redes de difração associadas a um
conjunto de lentes, especialmente os destinados à medida de irradiância solar em
segmentos onde a emissão solar é tênue, como na região do ultravioleta e infravermelho
distante. Após o feixe solar ser decomposto espectralmente ele é enviado até um
conjunto de sensores que pode ser composto por um elevado número de fotodiodos de
silício. Espectrorradiômetros produzidos antes do avanço da microeletrônica, utilizavam
válvulas fotomultiplicadoras como sensor da radiação solar, apesar da vantagem da sua
elevada sensibilidade (cerca de 1000 vezes superior ao fotodiodo) e maior resposta no
segmento ultravioleta, estas válvulas multiplicadoras apresentavam uma série de
inconvenientes, como necessidade de fonte de alimentação de alta tensão, instabilidade

2.13
espectral, fragilidade, entre outras. Atualmente, espectrorradiômetros empregam um
arranjo com um grande número de fotodiodos, montados sobre o mesmo substrato
semicondutor, assegurando uma excelente estabilidade espectral. A Figura 2.9 mostra a
imagem do espectrorradiômetro portátil SPEC-PAR/NIR da empresa APOGEE. Este
espectrorradiômetro é capaz de caracterizar a irradiância solar entre 350 - 1000 nm com
resolução aproximada de 4 nm usando um arranjo de 2048 pixeis. Observa-se a unidade
detectora com o difusor de teflon que é conectada ao instrumento através de uma fibra
óptica.

Figura 2.9: Fotografia do espectrorradiômetro portátil modelo SPEC-PAR/NIR produzido pela


empresa APOGEE. Este espectrorradiômetro realiza medidas radiométricas entre 350 e 1000
nm.

Devido ao elevado preço e dificuldades apresentadas na sua operação,


principalmente em função do delicado sistema óptico, algumas técnicas buscam
caracterizar o espectro solar a partir de dados obtidos por piranômetros que empregam

2.14
um baixo número de filtros seletivos. A resolução espectral neste caso é dependente do
número de filtros utilizados. A Figura 2.10 mostra um exemplo de medida realizada por
um piranômetro que emprega seis filtros.

Figura 2.10: Distribuição espectral da irradiância solar obtida através de um piranômetro que
emprega seis filtros seletivos.

2.5 Medida da radiação através de satélites

Satélites geoestacionários continuamente monitoram a atmosfera e a cobertura


de nuvens sobre o nosso planeta com uma resolução de aproximadamente 1 km na
região do visível. Estas informações podem ser utilizadas para gerar mapas de alta
resolução sobre a irradiância na superfície da Terra. Em comparação com medidas
realizadas no solo, irradiâncias derivadas de dados de satélite, os resultados obtidos a
partir de dados de satélites mostram-se mais precisos que interpolações geradas através
de dados medidos por estações distantes além de 25 km.
Os valores de irradiância solar determinados por medidas efetuadas por satélites
são derivados a partir de modelos que empregam os dados recebidos como cobertura de
nuvens, valor de albedo e intensidade de radiação medida em diferentes canais seletivos

2.15
do próprio satélite. Outras informações como altitude e turbidez atmosférica também
são empregadas nos modelos.
A precisão e confiabilidade destes modelos estão fortemente associadas à
determinação, a partir de imagens de satélite, do índice de cobertura de nuvens que é o
principal fator de modulação da irradiação solar que incide na superfície do planeta e a
principal fonte de erro nas estimativas obtidas com o uso de modelos de transferência
radiativa.
O coeficiente de cobertura efetiva de nuvens, abreviado por CCI (do termo em
inglês Cloud cover index) em um determinado pixel da imagem, em um dia e horário
específicos, é determinado a partir do valor de radiância visível do pixel medido pelo
satélite (Lr) e dos valores de radiância visível associados às condições de céu claro (Lclr)
e céu encoberto (Lcld) para o mesmo pixel, conforme descrito na Equação 2.2.

Lr − Lclr
CCI = (2.2)
Lcld − Lclr

A determinação dos valores de Lclr e Lcld pode ser realizada a partir da análise
espacial e/ou temporal das imagens obtidas por satélite. As técnicas desenvolvidas
podem ser separadas em dois grupos: i) técnicas que estabelecem valores limiares para a
detecção de nuvens e trabalham pixel a pixel da imagem de um ou mais canais
espectrais do satélite e ii) técnicas que analisam propriedades estatísticas das radiâncias
visível e/ou infravermelha em grupos de píxeis ou segmentos de imagens.
Uma técnica de valores limiares bastante utilizada adota os valores mínimo e
máximo de radiância visível para determinação de Lclr e Lcld, respectivamente. Como o
albedo de superfície e as propriedades atmosféricas variam no decorrer do ano devido à
geometria Sol/Terra e devido a alterações de propriedades e características da cobertura
do solo, os valores extremos de radiância medidos por satélite devem ser corrigidos ou
sua aplicação deve ser limitada temporalmente. Quando a determinação dos valores
extremos é limitada em um intervalo de tempo específico, os valores de Lclr e Lcld são
válidos apenas para esse período que deve ser definido de forma tal que o albedo de
superfície não apresente uma variação significativa e as diferenças na geometria do
sistema Sol/Terra/Satélite sejam pequenas a fim de que apresente pouca influência na
variabilidade da radiância visível medida pelo satélite.

2.16
A adoção de valores extremos de radiância visível para a determinação do
coeficiente de cobertura efetiva de nuvens apresenta alguns inconvenientes. A
dificuldade primária deste método reside no fato de que no intervalo de tempo
necessário para garantir a ocorrência de pelo menos uma situação sem contaminação de
nuvens no pixel da imagem podem ocorrer muitos fenômenos que geram um valor de
radiância menor do que o valor correspondente à condição céu claro. Sombras
produzidas por nuvens (“broken clouds”), movimentos do pixel causados por incerteza
da navegação, variações na estrutura da vegetação devido a variações de umidade são
exemplos de eventos que podem reduzir os valores radiância observados por satélite
para um pixel da imagem. Quanto maior o intervalo de tempo utilizado para a obtenção
do valor mínimo de radiância visível, maior a probabilidade de ocorrência de um dos
eventos de “ruído” atmosférico ou radiométrico, ou seja, o uso de um intervalo de
tempo grande aumenta a sensibilidade do método a eventos raros e adiciona um erro
sistemático na determinação da radiância de céu claro.
Outro fator de grande importância é a ocorrência de nebulosidade por períodos
maiores do que o intervalo de tempo utilizado no método. A ocorrência de
nebulosidade persistente é comum em regiões sob o efeito da zona de convergência
intertropical, por exemplo, nas florestas tropicais como a Floresta Amazônica e na
região do Atlântico Sul.
De modo similar, a falta de ocorrência de nuvens durante o intervalo de tempo
adotado para a determinação do valor de Lclr, também, acarretará imprecisão na
determinação do índice de cobertura de nuvens. Na região semi-árida nordestina
caracterizada pela baixa precipitação anual, a persistência de céu claro ocorre ao longo
do ano e produz valores irreais de cobertura de nuvens que, quando usados como dado
de entrada em modelos de transferência radiativa, produzem valores subestimados de
irradiação solar na superfície.
O projeto SWERA (INPE/CPTEC e LABSOL-UFSC) elaborou em 2006 um
mapa bastante detalhado apresentando características sobre a distribuição da radiação
solar no território brasileiro a partir de dados de satélites. O modelo utilizado para a
elaboração destes mapas é baseado no método de “Dois-Fluxos” e foi denominado de
BRASIL-SR. O modelo assume que fluxo de radiação solar no topo da atmosfera está
linearmente distribuído entre as duas condições atmosféricas extremas céu claro e céu
encoberto. Este modelo também assume a existência de uma relação linear entre a

2.17
irradiância global na superfície e o fluxo de radiação refletida no topo da atmosfera, de
modo que se pode escrever:

Φ g = Φ 0 {(τ clear − τ cloud ).(1 − CCI ) + τ cloud } (2.3)

onde Φg é fluxo de radiação solar incidente na superfície, Φ0 é a radiação incidente no


topo da atmosfera, τclear e τcloud são as transmitâncias atmosféricas. Em resumo, a
radiação solar incidente na superfície é estimada a partir de duas componentes
independentes: a primeira componente corresponde à condição de céu claro, τclear, e a
segunda refere-se à condição de céu encoberto, τcloud. As duas componentes podem ser
estimadas a partir de parametrização dos processos físicos bem conhecidos que ocorrem
na atmosfera utilizando dados climatológicos e a aproximação de Dois-Fluxos para
solução da equação de transferência radiativa. A natureza aleatória do fluxo de radiação
solar em qualquer condição de nebulosidade é incluída no modelo através do coeficiente
de cobertura de nuvens (CCI). Um exemplo de resultado obtido por esta metodologia é
apresentado na Figura 2.11.

Figura 2.11: Mapa da radiação solar média anual para superfícies inclinadas no território
brasileiro produzido pelo projeto SWERA.

2.18
3. Softwares para análise da Radiação Solar

3.1 Introdução

Os pesquisadores do Laboratório de Energia Solar da UFRGS, tendo em vista a


demanda por métodos de manipulação de dados de radiação solar, tanto para fazer uma
estimativa da irradiação solar distribuída em base horária para diversas orientações de
superfícies, quanto para estimar a probabilidade seqüencial destes dados e estudar
efeitos espectrais, desenvolveram programas computacionais para facilitar os cálculos
necessários para diversas finalidades. Estes programas podem ser obtidos do site do
Laboratório de Energia Solar procurando pelo LINK SOFTWARES e depois
selecionando o download desejado. Os programas estão preparados para operar com
sistema operacional Windows XP e podem não funcionar adequadamente com
computadores operados com Windows Vista. Os programas de interesse neste setor são:
• RADIASOL (versão anterior)
• SEQMETBR
• RADIASOL 2
• ESPECTRO

3.2 Programa RADIASOL

Para fazer o DOWNLOAD do software (Figura 3.1), procure o endereço


www.solar.ufrgs.br escolhendo os links
SOFTWARES,
logo RADIASOL
e Download do programa RADIASOL
ou ainda diretamente por ftp://ftp.solar.ufrgs.br/progs/radiasol.zip

3.1
Figura3.1: Imagem de abertura do programa RADIASOL

O arquivo ZIP deve ser expandido e o programa SETUP vai instalar o


RADIASOL no seu microcomputador. Este programa foi elaborado utilizando dados
gravados em formato MicroSoftACCESS. Em função da configuração do Windows de
seu computador poderá ocorrer algum efeito com o qual o programa não rode
imediatamente, neste caso entrar em contato pelo e_mail arno.krenzinger@ufrgs.br.
Depois de entrar no programa, procure acionar a AJUDA pelo menu (?) indicado
na Figura 3.2. Através do arquivo de AJUDA o procedimento de utilização do programa
fica mais claro.

3.2
Figura 3.2: Interface principal do programa RADIASOL, mostrando um gráfico da distribuição
de radiação solar ao longo de um dia típico de abril para Porto Alegre. Indica-se acesso à
AJUDA.

O programa RADIASOL utiliza dados em média mensal de diversas estações


para convertê-los em dados horários prováveis e com incidência sobre uma superfície
em um plano inclinado de qualquer orientação. O programa permite examinar gráficos
de radiação horária incidente e copiar as planilhas para trabalhar posteriormente com
outros programas. A Figura 3.3 mostra um exemplo de resultado em planilha para dias
típicos de um ano.

Figura 3.3: Dados de irradiação solar horária para dias típicos de cada mês do ano.

Como exemplo, podemos indagar qual é a energia solar que se espera (em
média) receber entre 10h e 12h em uma parede de 4 m² voltada para Leste, em Rio
Grande, no dia 02 de março. Para solucionar abre-se o RADIASOL escolhendo a
estação "Rio Grande", ajusta-se o ângulo de inclinação para 90º, o Desvio Azimutal do
Norte para 90º (ver que indique Leste) e o mês de MARÇO e a data para dia 02/03. O
gráfico de linhas, representando a irradiância ao longo do dia, aparece na Figura 3.4.
Seleciona-se agora a apresentação de TABELA (ícone de planilha) e o resultado é o
mostrado na Figura 3.5. Para visualizar toda a planilha é utilizado o ícone da planilha,
resultando na Figura 3.6. A irradiação indicada no horário da 10:30 corresponde da hora

3.3
entre 10h e 11h (306Wh) e a irradiância no horário das 11:30 corresponde à hora entre
11h e 12h (258Wh). O total das duas horas será, portanto: 564Wh/m², que, para 4 m²
corresponde a 2256 Wh ou 8121 kJ.

Figura 3.4: Exemplo de utilização do RADIASOL: cidade-Rio Grande,


parede vertical voltada para Leste, dia 02/03.

Figura 3.5: Idem ao visto na Figura 3.4, mas com opção de tabela.

3.4
Figura 3.6: Tabela destacada do exemplo.

O programa RADIASOL contém um sistema capaz de sintetizar dados de


radiação solar em seqüências. Para produzir estes dados o programa faz uso de
modernas tecnologias de manipulação de dados estocásticos que propõe seqüências de
dados muito parecidas com seqüências naturais e estão baseadas apenas em dados
médios mensais. Na barra de menu do Radiasol aparece a opção ESTOCÁSTICOS, que
permite gerar e visualizar seqüências diárias e horárias de 10 anos de radiação solar.
Esta opção, no entanto, foi aperfeiçoada para gerar arquivos para programas de
simulação, e os procedimentos melhorados estão inseridos no programa SEQMETBR e
utilizados no programa RADIASOL 2, assim, para utilização de sequencias horárias de
dados recomenda-se a utilização direta do programa RADIASOL 2.

3.3 Programa SEQMETBR

O programa SEQMETBR foi desenvolvido para suprir a necessidade de


pesquisadores que necessitam dados seqüenciais. Seu nome é derivado de "sintetizador
de SEQüencias METeorológicas para o BRasil". Este programa usa a mesma técnica do

3.5
programa Radiasol na parte da radiação solar, com exceção de que gera apenas um ano
de dados. Por outro lado, incorpora um sintetizador de dados de temperatura ambiente.
O resultado é gravado em um arquivo, que pode ser manipulado de forma externa por
um usuário com experiência com programação, ou simplesmente ser importado por um
programa de apresentação de gráficos. A interface do programa é vista na Figura 3.7.

Figura 3.7: Interface do programa SEQMETBR

Quando o mouse é arrastado sobre o mapa, os gráficos vão indicando os valores


de temperatura, umidade e radiação. Para visualizar e trabalhar com mais detalhe, clique
sobre um dos pontos vermelhos no mapa do Brasil, selecionando apenas um Estado. No
exemplo da Figura 3.8, o Estado selecionado é o Rio Grande do Sul. Ficam marcados
em amarelo os pontos, correspondentes do Banco de Dados, que contém todos os dados.
Em vermelho aparecem pontos que não estão com todos os dados completos. O usuário
pode então completar estes dados se ele dispõe de uma fonte segura de informação, bem
como inserir novos pontos criando novas estações com todos os dados.

3.6
Figura 3.8: Selecionado o Estado do Rio Grande do Sul.

Para obter dados para um determinado ponto geográfico, marcado pela posição
do mouse, o usuário deve optar por utilizar dados originais de MAPAS ou utilizar uma
interpolação com os dados do Banco de Dados, como é mostrado na Figura 3.9.

Figura 3.9: Selecionado os mapas no programa.

A sintetização de dados de radiação e temperatura, por um ano em seqüências


horárias, é realizada clicando o botão confirmar. Uma opção de gravar os dados em um
arquivo permanente é oferecida, mas não é necessário gravar para prosseguir a
simulação. Também pode aparecer uma mensagem informando que não foi gerado o
arquivo de dados e que procure repetir a operação, isto ocorre quando o desvio dos
valores sintetizado com relação aos reais tem um valor maior que o admissível.
Para inserir uma estação nova no banco de dados do programa SEQMETBR,
primeiro deve-se selecionar o Estado, então posicionar o mouse sobre a área de interesse

3.7
e clicar. A seguir deve-se pressionar o botão Entrada Manual de Dados, com o que
aparecerá uma tela como na Figura 3.10, onde se digita o nome da nova estação e
verifica-se se os dados realmente correspondem ao que se deseja. Observe que os dados
mudam conforme se clica em "capturar pelos mapas" ou "capturar pela
interpolação". Depois de selecionados os dados, clica-se sobre o botão INSERIR, e
uma nova estação será inserida no banco de dados, aparecendo um ponto amarelo
correspondente no mapa.

3.3.1 Capturar pelos mapas

O programa incorpora uma matriz (invisível ao usuário) construída a partir da


extração das informações das cores dos Mapas Climáticos do INMET. A informação da
radiação solar é obtida pela conversão dos dados originais de insolação em radiação por
regressão linear.

Figura 3.10. Tela para realizar a entrada manual de dados meteorológicos.

Há uma versão modificada do programa SEQMETBR embutida no software


RADIASOL2. Os mapas com base em dados de insolação foram substituídos pelos
dados correspondentes aos mapas gerados pelo projeto SWERA (Solar and Wind

3.8
Energy Resource Assessment), que proporcionam valores de irradiação solar global
horizontal em média mensal, calculados a partir de imagens obtidas por satélites.

3.3.2 Capturar pela interpolação

Com a interpolação selecionada, o cálculo dos valores dos dados climáticos é feito
pela média ponderada dos valores que existem nas localidades pertencentes ao banco de
dados. Esta média é feita utilizando apenas as três localidades mais próximas ao ponto
representado pelo mouse e de forma que o peso seja inversamente proporcional à
distância. Cada variável é tratada de forma separada. Assim, os dados de uma variável
climática podem ser o resultado de um conjunto de 3 cidades que não necessariamente
sejam as mesmas consideradas para outro dado. Quando uma nova estação é inserida no
banco de dados, ela passa a integrar o banco com a mesma hierarquia dos dados
existentes anteriormente e, portanto, a ser considerada na interpolação de outros pontos.
Deve-se ainda selecionar o valor do albedo, o ângulo do desvio azimutal e a
inclinação do módulo, para somente depois prosseguir com o cálculo da seqüência
meteorológica. As interfaces da Figura 3.11 mostram aspectos destes ajustes.

Figura 3.11: Ajustes para Desvio Azimutal do Norte, Inclinação e Albedo do Solo.

Finalmente, clicando no botão CONFIRMAR, o processo de cálculo e gravação


de dados inicia. Terminado o processo, a janela ao lado aparece, possibilitando fazer
uma cópia do arquivo. Cada vez que é gerado um arquivo, os resultados são gravados
com o nome DadosClima.met , gravando encima dos dados anteriores, no sub-diretório
DADOS. Por isto é importante produzir uma cópia do arquivo para futura utilização,
como é mostrado na Figura 3.12.

3.9
Figura 3.12: Caixa para confirmar a gravação do arquivo climático.

O arquivo em formato texto tem um cabeçalho de duas linhas e uma seqüência


de dados conforme mostra a Figura 3.13. Os dados são separados por vírgulas, sendo os
3 primeiros o mês, o dia e hora, seguidos da Irradiação Horizontal em Wh, da Irradiação
Inclinada em Wh, do fator modificador devido ao ângulo, do co-seno do ângulo de
incidência da radiação direta, da velocidade de vento em m/s, da temperatura ambiente
em ºC e da temperatura do ambiente onde pode estar o reservatório de água.

"nome = Porto Alegre Azimute = 0 Inclinação = 45 Latitude = -30,02 Longitude = 5122,"


"mes","dia","hora","Rad_Horiz","Rad_Inclin","Modific","Cos(Inc)","Vel_Vento","TempAmb","TempTank"
1,1,0,0,0,0,0,3.2383,20.9316714211246,22.1141110859285
1,1,1,0,0,0,0,4.009146,20.6270008219376,21.961775786335
1,1,2,0,0,0,0,2.070387,20.122150842947,21.7093507968397
1,1,3,0,0,0,0,1.515326,20.8457167018191,22.0711337262758
1,1,4,0,0,0,0,2.044522,20.5476900231307,21.9221203869316
1,1,5,44.77374,35.29185,.5634902,.211162,.6148942,19.9075128489098,21.6020317998211
.........................

Figura 3.13: Dados gravados no arquivo DadosClima.met

O fator modificador devido ao ângulo é um fator de degradação de eficiência


decorrente da perda de eficiência de um coletor solar com o aumento de reflexão dos
vidros com o ângulo de incidência. No caso foi calculado pela relação entre a
transmitância de um vidro com incidência inclinada e com incidência perpendicular. A
velocidade do vento é gerada de forma aleatória, não tem valor técnico ou científico.
Está no programa apenas como reserva técnica para futuros aperfeiçoamentos do
mesmo. A temperatura do ambiente onde pode estar o reservatório da água é calculada,
a cada hora, como a média aritmética entre a temperatura ambiente daquela hora e a
temperatura média do dia. É um valor mais "amortecido" do que a temperatura
ambiente.

3.10
Como exemplo de resultados obtidos, o gráfico da Figura 3.14 mostra a
irradiação solar horária e a temperatura ambiente reproduzida por um programa gráfico,
entre os pontos 4000 e 4200 de uma seqüência de um ano (8760 pontos).

50 1000

40 800

IRRADIÂNCIA (W/m²)
)

30 600
(
p

20 400

10 200

0 0

4000 4040 4080 4120 4160 4200

Figura 3.14: Exemplo de resultado do programa SEQMETBR, 200 pontos em seqüência de


um total de 8760 pontos gerados.

3.4. Programa RADIASOL 2

Atendendo à demanda por um programa que utilizasse uma interface de mapa


para chegar ao local de onde se necessitasse estudar a radiação solar, foi preparado um
programa misturando um pouco do SEQMETBR com o programa RADIASOL. O
programa chamado RADIASOL2 pretende substituir o programa RADIASOL
realizando tarefas similares, mas a partir dos dados sintetizados pelo mecanismo do
SEQMETBR.
O programa RADIASOL2 permite ao usuário selecionar o local e o método de
obtenção dos dados climáticos médios. Há três opções: digitar dados obtidos de uma
fonte confiável, obter dados por interpolação dos dados do banco de dados embutido no
programa e obter dados a partir dos mapas disponibilizados pelo projeto SWERA.

3.11
Como explicado no texto de “ajuda” do software, o RADIASOL 2 (assim como
o Radiasol e o SEQMETBR) não é um programa fonte de dados meteorológicos ou
climáticos, apenas ajuda a lidar com dados que o próprio usuário deve inserir no
programa. Apenas para facilitar a utilização enquanto o usuário ainda não dispõe dos
dados mais específicos, o programa disponibiliza dados em média mensal para permitir
a sintetização das sequências.
Para mostrar os dados de irradiação em média mensal sobre um plano inclinado,
diferentemente do programa Radiasol (versão anterior), o RADIASOL 2 faz a média
dos dados estocásticos obtidos de forma horária, mantendo coerência entre os dados
seqüenciais e os dados médios, mas permitindo certas assimetrias na distribuição
horária média ao longo do dia.
Os dados horários são sintetizados ao longo de um ano, tentando fazendo com
que a média de irradiação para cada mês seja parecida com a média mensal utilizada
para alimentar o programa. Desta forma os dados devem ser encarados como dados
típicos, e não extremos. Isto porque os dados médios inseridos para dar início à
sintetização em geral correspondem à uma média de vários anos e não uma média
mensal referida a apenas um ano.
A Figura 3.15 mostra a interface da seleção do estado do Brasil para inicial o
programa RADIASOL 2. Arrastando o mouse pelo mapa do Brasil é possível ver uma
estimativa das diferenças climáticas. Clicando em um círculo vermelho se seleciona um
estado.
A Figura 3.16 mostra a interface com o estado da Bahia selecionado.
Exatamente como no programa SEQMETBR, os pontos representam localidades que
constam do Banco de Dados, podendo-se inserir novas localidades, ou editar os dados a
qualquer momento. Selecionando a cidade de Salvador e clicando em CONFIRMAR,
são gerados os dados seqüenciais e apresentados em gráfico em função do tempo,
conforme exibe a Figura 3.17. Este gráfico pode ser examinado com facilidades de
diversas modalidades de ZOOM e deslocamento vertical e horizontal. Também é
possível alternar entre dados de radiação solar e temperatura ambiente.
Na parte inferior da imagem apresentada na Figura 3.17 aparecem opções de
continuidade do programa. Uma delas é a opção de gráficos de barras, que permite realizar
médias mensais diárias e horárias. Ao selecionar esta opção, uma janela como a que aparece na
Figura 3.18 é exibida.

3.12
Figura 3.15 Interface da seleção do estado do Brasil no programa RADIASOL 2.

Figura 3.16 Interface de seleção da localidade e orientação.

3.13
No caso da Figura 3. 18 são apresentados dados diários em média mensal para cada mês
do ano, mas selecionando um determinado mês se visualizam os dados de cada componente
organizados (Figura 3.19) como média horária ao longo de um dia.

Figura 3. 17 Gráfico seqüencial de dados de irradiação horária.

Figura 3.18 Gráfico da irradiação diária em média mensal.

3.14
Figura 3.19 Gráfico da irradiação horária em média mensal.

Os dados exportados podem ser utilizados pelo usuário em outros programas ou planilhas de
cálculo comerciais, já que são gravados em formato acessível como dados separados por
vírgula.

3.5. Programa ESPECTRO

O programa ESPECTRO - Espectro Solar foi concebido como parte do pacote


SOLARCAD, é um software onde são gerados os espectros solares da radiação direta e
difusa sobre um plano horizontal, a partir de dados atmosféricos informados pelo
usuário. Informando dados como temperatura, umidade relativa, bem como a
localização a data e o horário, obtém-se o espectro solar incidente, o programa também
calcula a integral sobre esta curva, informando a radiação total incidente em W/m2. O
usuário pode entrar com uma função de transmitância ou refletância via tabela ou
mouse, jogar o espectro solar contra elas e obter o espectro refletido ou transmitido,
assim como a radiação total transmitida ou refletida. Junto com o software são

3.15
instaladas algumas informações com as tabelas de transmitância e refletância de alguns
materiais.
O programa ESPECTRO foi elaborado no Laboratório de Energia Solar da
UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul .
A Tabela 3.1 mostra a lista de parâmetros solicitados pelo programa, sendo que
os ângulos Azimutal e Zenital são calculados pelo programa a partir dos dados de tempo
(data e hora) e da latitude. Como alguns destes parâmetros podem ser de difícil
obtenção, o programa sugere valores típicos para começar a trabalhar. A Figura 3.20
mostra a interface gráfica onde os parâmetros são ajustados e o gráfico do espectro solar
é apresentado.
Tabela 3.1 Parâmetros necessários para o programa Espectro Solar
Altura da camada de ozônio Albedo de Superfície
Coeficiente de Aerossóis Albedo de Espalhamento
Temperatura Ambienete Ângulo Azimutal
Umidade Relativa Ângulo Zenital
Hemisfério (Norte ou Sul) Mês
Visibilidade Dia
Altitude Local Hora
Latitude Minuto

Figura 3.20 Janela principal do programa Espectro Solar.

3.16
O programa ESPECTRO funciona da seguinte maneira: dados determinados parâmetros
atmosféricos, é possível estimar o grau de absorção da atmosfera para determinados
comprimentos de onda. O programa parte de um espectro típico da radiação solar direta fora da
atmosfera e calcula a absorção e a dispersão da luz, gerando espectros resultantes separados em
radiação difusa e radiação direta. A integral destes espectros produz um valor estimativo de
radiação difusa e direta que, somados, dão a radiação global. O programa apresenta de forma
gráfica os espectros das componentes difusa e direta e sua soma no gráfico da distribuição
espectral de radiação global. Mostra também a distribuição espectral da radiação extraterrestre
normal e horizontal. A interface de opções de qual gráfico será representado aparece na Figura
3.21, sendo (a) para seleção com “check list” e (b) para opção na barra de ferramentas.

(a) (b)
Figura 3.21 Opções de escolha do espectro a ser representado.

Para facilitar a utilização destes dados em interação com diferentes materiais, o


programa permite que se entre com dados de refletividade ou transmissividade espectral
de qualquer material e produz, numericamente, um espectro da radiação solar refletida
ou transmitida por estes materiais, bem como sua integral. Assim é possível estudar os
efeitos que determinados materiais podem produzir em componentes de sistemas de
conversão da energia solar. Operações entre as funções geradas permitem ampliar os
resultados possíveis (ver Figura 3.22)

3.17
Figura 3.22 Operações entre funções permitem calcular efeito de mais de um material refletindo
ou transmitindo a radiação solar.

3.18
4. CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

4.1 EFEITO FOTOVOLTAICO

Efeito fotovoltaico é o nome dado a transformação direta da luz em energia elétrica. O


dispositivo utilizando para este fim são as células fotovoltaicas ou também chamadas células
solares. Neste processo, são utilizados materiais semicondutores como o silício, o arseneto de
gálio, telureto de cádmio, disseleneto de cobre e índio entre outros.
Não é nosso objetivo aqui estudar com profundidade os fenômenos físicos que regem o
funcionamento das células solares, matéria que exigiria uma certa familiaridade com a física do
estado sólido e de componentes eletrônicos. Uma explicação simplificada e qualitativa é,
entretanto, fundamental para a aceitação do fenômeno e compreensão dos efeitos provocados por
modificações externas. A seguir será apresentada uma tentativa de expor o efeito fotovoltaico
que ocorre nas células da forma mais simples possível, limitando os exemplos ao silício
monocristalino (por ser o material mais usado para fabricação de células), mas lembrando que
com outros semicondutores ocorrem situações semelhantes.
O silício (Si) é um material com uma densidade atômica de 5 x 1028 átomos por metro
cúbico. Cada átomo de Si possui quatro elétrons na camada eletrônica mais externa (material
tetravalente, portanto). Na forma cristalina, o Si preenche até o número "ideal" de oito elétrons
nesta camada, compartilhando cada um de seus quatro elétrons de valência com outros quatro
átomos de Si, como pode ser observado na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Representação esquemática das ligações covalentes em um cristal de silício.

4.1
Cada um destes átomos, por sua vez, compartilha um de seus elétrons com o primeiro
átomo, formando assim uma rede tridimensional de átomos onde todos os elétrons estão ligados.
Isto indica que uma rede ideal deste material seria um isolante elétrico, dada a ausência de
elétrons livres para a condução elétrica. O silício, no entanto, é classificado como um
semicondutor porque, à temperatura ambiente, uma pequena fração de seus elétrons escapa das
ligações interatômicas e passa a integrar um grupo de elétrons com energia maior que os elétrons
de ligação e que se distribuem pelo cristal com movimentos aleatórios em todas as direções, os
elétrons livres. A cada elétron que se libera de suas funções de ligação, corresponde uma ligação
incompleta, uma região em que um átomo se vê cercado por apenas sete elétrons, havendo assim
uma "lacuna" ou posição de ligação não preenchida por um elétron.
A fração de elétrons livres no silício à temperatura ambiente é de 7 x 10-14 . Havendo
5x1028 átomos por metro cúbico e quatro elétrons de valência por átomo, haverá 1,4x1016
elétrons livres e igual número de lacunas por metro cúbico. Quando um campo elétrico é
aplicado ao cristal, circulará neste uma corrente causada parcialmente pela aceleração dos
elétrons livres na direção do campo e parcialmente pelo deslocamento dos elétrons de ligação,
que saem dos átomos com a camada de valência completa para as lacunas existentes, deixando
assim novas lacunas para que um processo sucessivo de transferências eletrônicas se desenvolva.
O deslocamento de elétrons de ligação entre átomos vizinhos pode ser descrito, da mesma forma,
por um "movimento" das lacunas no sentido contrário. Diz-se assim que o processo de condução
elétrica em um semicondutor se dá por uma corrente de elétrons e uma "corrente de lacunas",
atribuindo-se uma carga positiva às lacunas que se deslocam no sentido contrário aos elétrons.
Se uma pequena fração, por exemplo, uma parte por milhão, de átomos com cinco
elétrons de valência (pentavalentes) for introduzida na rede cristalina do Si, substituindo átomos
deste na mesma proporção, então haverá, depois de estabelecidas as ligações com seus quatro
vizinhos, um quinto elétron não ligado. Este elétron tenderia a orbitar em torno da região do
átomo pentavalente, porém estaria tão fracamente ligado nesta órbita que a própria energia
térmica à temperatura ambiente lhe daria condições de se libertar desta ligação e integrar o grupo
dos elétrons livres. Se for considerada uma dopagem de 5x1022 átomos de fósforo (P) por metro
cúbico num cristal de Si, uma densidade igual de elétrons passaria a integrar o grupo dos elétrons
livres. Note-se que uma dopagem em uma fração da ordem de um milionésimo de átomos
pentavalentes implica em um aumento do número de elétrons livres na ordem de um milhão de
vezes, com a conseqüente alteração drástica na condutividade do semicondutor.

4.2
Se, por outro lado, uma fração similar de átomos trivalentes como os de Boro (B) for
introduzida num cristal de silício, haverá um aumento da ordem de um milhão de vezes na
densidade de lacunas do cristal, sendo então a condutividade por lacunas predominante.
Os cristais dopados com átomos pentavalentes (também chamados de doadores de
elétrons) são chamados de semicondutores do tipo N e os dopados com átomos trivalentes
(também chamados aceitadores de elétrons) são denominados semicondutores do tipo P.
O efeito de profundas modificações no comportamento eletrônico dos cristais com
pequenas dopagens de impurezas demonstra que nos processos de fabricação de dispositivos
eletrônicos é necessário utilizar semicondutores previamente purificados a um alto grau.

Figura 4.2 – Diagrama esquemático de uma estrutura cristalina de silício dopado a fim de
produzir semicondutores do tipo N e do tipo P.

Um mesmo cristal pode abrigar uma região dopada do tipo P em contato com uma
região dopada do tipo N. Na interface das duas regiões haveria uma difusão de elétrons da região
N para a região P e uma difusão de lacunas da região P para a região N, devido aos fortes
gradientes de concentração. Em conseqüência desta difusão, a região N próxima à interface
ficaria com deficiência de elétrons, isto é, ficaria com cargas positivas, e a região P próxima à
interface ficaria com cargas negativas. Esta polarização de cargas elétricas gera um campo
elétrico interno no material, o qual origina uma força elétrica que se opõe à força de difusão
original. No equilíbrio, a corrente devida ao campo formado compensa a corrente devida à
difusão que flui no sentido oposto, tornando nula a corrente através da interface. O campo
elétrico formado existe apenas na região das junções e seu alcance define a "zona de depleção",
cuja largura depende das dopagens do lado N e do lado P.

4.3
Figura 4.3 – Representação esquemática de um junção PN

O dispositivo eletrônico de junções mais simples e mais conhecido é o diodo retificador.


Ele opera deixando fluir a corrente em um sentido e impedindo-a no sentido inverso. Quando
uma fonte externa é ligada com seu terminal positivo no lado P e seu terminal negativo no lado
N, o campo elétrico externo diminui o efeito do campo elétrico local da junção, retirando a
mesma do equilíbrio, pois as forças de difusão ultrapassam as forças do campo local, e os
elétrons fluem com facilidade da região N para a região P. Se os terminais da fonte externa
forem ligados da forma contrária, o campo elétrico externo contribui com o campo da junção
tendendo a impulsionar elétrons da região P para a região N. Os elétrons da região P, entretanto,
são escassos e geram apenas uma corrente mínima conhecida como "corrente de saturação
reversa". A característica tensão x corrente é descrita pela equação:

I = Io [ exp { eV /(mkT)}-1 ] (4.1)

cuja demonstração pode ser obtida em qualquer livro sobre dispositivos eletrônicos. Io é a
corrente de saturação reversa, V a tensão aplicada, k a constante de Stefan-Boltzmann, T a
temperatura do cristal e m um fator com valor entre 1 e 2 (2 para tensões muito baixas e
tendendo a 1 para tensões acima do "joelho" da curva). A Figura 0.4 representa a Equação 1 e é
chamada "característica no escuro" de um diodo semicondutor.

4.4
Figura 0.4 – Curva característica de um diodo.

Observa-se que quando uma junção P-N é iluminada, a curva característica se desloca
como indicado na Figura 4.5.

Figura 4.5 – Curva característica I-V de um fotodiodo de Si sob iluminação

O fato de aparecer uma tensão nos terminais do diodo iluminado foi denominado efeito
fotovoltaico, e a explicação do fenômeno é possível com considerações da mecânica quântica. A
luz é constituída de fótons, que podem ser absorvidos por elétrons que estejam participando das
ligações (elétrons de valência) entre os átomos de silício. Quando um elétron absorve um fóton,
passa a um estado de energia igual à que tinha anteriormente mais a energia do fóton, o que

4.5
implica na sua liberação, criando assim um elétron livre e uma lacuna onde havia antes uma
simples ligação entre átomos. Denomina-se este fato de geração de um par elétron-lacuna a partir
de um fóton. Os elétrons gerados na região P serão acelerados pelo campo elétrico localizado na
região da junção para o lado N. As lacunas geradas na região N tendem a cruzar a junção para o
lado P, como pode ser observado na Figura 4.6.

Figura 4.6 - Geração de fotocorrente

Ocorre assim um desequilíbrio nas correntes da junção que transferem uma diferença de
potencial para os terminais do dispositivo. Se o circuito externo é fechado por um fio, uma
fotocorrente passa a circular e se mantém enquanto incidir luz sobre a junção. Quando a
polarização do diodo é reversa (positivo do lado N), é fácil entender a corrente que circula no
sentido reverso se for lembrado que, no escuro, esta corrente é pequena por escassez de elétrons
no lado P e que, em condições de iluminação, os elétrons no lado P são gerados por fótons
incidentes.
Também é fácil prever uma proporcionalidade entre a corrente reversa e a intensidade de
luz, já que a última determina o número de fótons incidentes e o número de pares elétrons-lacuna
gerados (e, portanto, a corrente) depende deste fato.

4.2 CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

As células fotovoltaicas são os dispositivos conversores de energia radiante em energia


elétrica que funcionam segundo o efeito fotovoltaico. Na sua grande maioria, as células usadas
em aplicações comerciais podem ser encaradas como diodos de junção PN de grande área. As
células fotovoltaicas podem ser divididas quanto à estrutura de ligação dos átomos dos quais são

4.6
constituídas. Desta forma a estrutura atômica pode ser do tipo cristalina ou do tipo amorfa. A
estrutura cristalina pode ser ainda monocristalina ou multicristalina.
Quanto ao material utilizado para a fabricação das células, este pode ser composto por
ligas, como sulfeto de cádmio e arsenieto de gálio entre outros ou por apenas um elemento como
o silício, germânio ou selênio. Na parte frontal das células é acrescentada uma camada de um
material, geralmente TiO2 ou SiO2, a fim de minimizar as perdas por reflexão. A Fig. 4.7
apresenta uma representação de uma célula de silício típica. Normalmente a camada de Silício
tipo N tem uma espessura compreendida entre valores da ordem de 0,3 μm até 1 μm enquanto a
camada de silício tipo P apresenta uma espessura de aproximadamente 300 μm.

Figura 4.7 - Representação de uma célula fotovoltaica de silício

(adapatado de CRESESB, 2006).

A eficiência da conversão da energia solar em energia elétrica através do efeito


fotovoltaico em uma célula está limitada por uma série de fatores e este limite é da ordem de
25% para células de Si sem concentração da radiação solar (com concentração pode atingir
32%). Os principais fatores que geram esta limitação são os seguintes:
1. Perdas por reflexão na superfície (que podem ser reduzidas pelo uso de
camadas anti-reflexivas);
2. Perdas por seletividade - apenas parte dos fótons disponíveis pode ser
aproveitada;

4.7
3. Perdas pela utilização parcial da energia dos fótons na criação dos pares
elétron-lacuna;
4. Perdas pelo não aproveitamento de todos os pares elétron-lacuna e pela
recuperação somente parcial da energia destes portadores;
5. Perdas pelos efeitos de resistência série e paralela, contatos, etc.
O segundo fator, as perdas por seletividade, tem origem em dois efeitos: os fótons com
energia menor que a necessária para liberar elétrons de valência da sua ligação entre átomos de
silício não são aproveitados e os fótons com energia maior que a necessária são absorvidos ao
longo da profundidade do cristal e podem atravessá-lo sem ser absorvidos. Como conseqüência
destes efeitos e outros fatores de funcionamento, as células de Si são insensíveis à luz fora da
banda visível e infravermelho próximo.
A resposta espectral de uma célula convencional de Si pode ser vista na Erro! Fonte de
referência não encontrada.4.8 A não coincidência dos máximos das duas curvas infelizmente
reduz a quantidade de energia aproveitável. Existe a alternativa de outros materiais que podem
alcançar eficiências mais altas, porém sua tecnologia não tem ainda a estabilidade obtida pelas
células de silício.

4.8
1200 1.2

Irradiância Espectral Solar Global (W . m -2 . μm)


1000 1.0

800 0.8

Resposta Relativa
Curva 1 - Resposta espectral da célula
Curva 2 - Espectro solar (AM 1,5 G)

600 0.6

400 0.4

200 0.2

0 0.0

0.5 1.0 1.5 2.0 2.5


Comprimento de Onda (μm)

Figura 4.8 – Resposta espectral de uma célula de silício


A radiação solar provoca a separação dos portadores de carga, como descrito
anteriormente, e o surgimento de uma corrente caso exista um aparelho de consumo ligado. As
perdas ocasionadas pela recombinação, pela reflexão e pelo sombreamento entre os contatos
frontais, ocorrem na célula solar. Além disso, uma grande proporção da energia de radiações de
onda longa e curta não pode ser aproveitada. Uma outra parte da energia não aproveitada é
absorvida e transformada em calor. As perdas individuais de uma célula solar de silício
cristalino, são dadas no seguinte balanço energético:
100% energia solar irradiada
- 3,0% reflexão e sombreamento dos contactos frontais
- 23,0% relativo a insuficiente energia do fóton na radiação de onda longa
- 32,0% relativo ao excedente de energia do fóton na radiação de onda curta
- 8,5% devido a recombinação
- 20,0% gradiente elétrico numa célula, especialmente na região da barreira de
potencial
- 0,5% resistência em série (perdas térmicas da condução elétrica)
= 13,0% energia elétrica utilizável

4.9
O material mais utilizado para a fabricação de células fotovoltaicas é o silício. Ele não é
encontrado na natureza como um elemento químico puro, mas um composto química em forma
de dióxido de silício. Para a obtenção do silício, em primeiro lugar é necessário separar o
oxigênio não desejado do dióxido de silício. Para conseguir isto, a areia de sílica é aquecida e
fundida num cadinho, junto com pó de carvão. Durante este processo é criado o silício
metalúrgico, com uma pureza de 98 %.
No entanto, 2 % de impurezas no silício é demasiado para aplicações eletrônicas. É
apenas admissível um bilionésimo por cento. Por este motivo, o silício em estado bruto é ainda
purificado através de um processo químico. É cuidadosamente depositado num forno com ácido
clorídrico. Como resultado, são produzidos as substâncias hidrogênio e triclorosilano. Este
último é destilado em várias e sucessivas etapas, durante as quais é reduzida a percentagem de
impurezas em cada estágio da destilação. Quando se consegue a percentagem de pureza
necessária, o triclorosilano é reduzido a silício com a ajuda do hidrogênio a 1.000 ºC. Este silício
de elevada qualidade pode agora ser processado de diferentes modos, como por exemplo para
produzir células monocristalinas ou células policristalinas.

4.2.1 Células de silício monocristalino  

O processo de Czochralski (processo de extração de cadinho), foi estabelecido para


produzir silício monocristalino para aplicações terrestres. Durante este processo, o núcleo do
cristal, que é uma semente de silício cristalino com uma orientação definida, é imerso num
banho de silício fundido (ponto de fusão de 1.420ºC) e retirado do banho enquanto roda
lentamente. Deste modo, podem ser produzidos cristais únicos redondos com um diâmetro de
trinta centímetros e vários metros de comprimento. Os monocristais cilindricos podem ser
estriados em barras semiquadradas e depois cortados em lâminas de 0,3 mm (wafer). Durante o
processo de estriagem dos monocristais e de corte das pastilhas, perde-se uma grande parte do
silício em forma de pó de serragem. A partir das pastilhas já com impurezas positivas, a fina
camada com impurezas negativas é produzida com difusão de fósforo, a temperaturas de 800-
1.200 ºC. Depois de unir a camada de contato posterior, as pastilhas são equipadas com contatos
elétricos e com uma camada de anti-reflexão na parte frontal.

4.10
O processo de zona flutuante consiste noutro processo de produção de silício
monocristalino, sendo utilizado para a produção de células solares de maior pureza e de maior
eficiência.

Eficiência: 15 – 18 % (silício de Czochralski)


Forma: São produzidas células redondas, semi-quadradas ou quadradas, dependendo da
quantidade que é estriada do cristal único. As células redondas são mais baratas do que as semi-
quadradas ou as quadradas, uma vez que se perde menos material durante a sua produção. No
entanto, raramente são utilizadas em módulos padrão devido ao menor aproveitamente do espaço
no módulo fotovoltaico. Para módulos especiais, utilizados em sistemas de integração em
edifícios, para os quais é desejável algum grau de transparência, ou para sistemas solares
domésticos, as células redondas poderão constituir uma boa alternativa.

Tamanho: Majoritariamente 10x10 cm ou 12,5x12,5 cm, diâmetro 10, 12,5 ou 15 cm.


Espessura: 0,3 mm.
Estrutura: Homogênea.
Cor: Gama de azul-escuro para preto (com Anti-reflexão), cinza (sem Anti-Reflexão).
Fabricantes de Células: Astro Power, BP Solar, CellSiCo, Eurosolare, GPV, Helios, Isofoton,
RWE Solar, Sharp, Shell Solar, Solartec, Telekom-STV.

Figura 4.9 - Célula quadrada, semi-quadrada e redonda de silício monocristalino

4.2.2 Célula de silício policristalino 

O processo de produção mais comum para o silício policristalino é o de fundição de


lingotes. O silício em estado bruto é aquecido no vácuo até uma temperatura de 1.500 ºC e
depois arrefecido na direção da base do cadinho, a uma temperatura aproximada de 800 ºC. São

4.11
assim criados os blocos de silício de 40x40 cm com uma altura de 30 cm. Os blocos são primeiro
serrados em barras e depois em pastilhas com uma espessura de 0,3 mm. Durante o corte,
perdem-se partes do silício na forma de pó de serragem. Depois da introdução de impurezas de
fósforo, a camada posterior de contato é unida à pastilha. Por último, os contactos elétricos são
fixados no lado frontal juntamente com uma camada de anti-reflexão (AR)

Eficiência: 13-15 % (com AR).


Forma: Quadrada.
Tamanho: 10x10 cm, 12,5x12,5 cm e 15x15 cm.
Espessura: 0,3 mm.
Estrutura: Durante a fundição do bloco, formam-se cristais com várias orientações. Os cristais
individuais podem ser facilmente vistos na superfície (padrão estrutural semelhante a cristais de
gelo), devido ao efeito criado pela diferente reflexão da luz.
Cor: azul (com AR), cinza prateada (sem AR).

Fabricantes de células: BP Solar, Eurosolare, ErSol, GPV, Kyocera, Photowatt, Q-Cells, RWE
Solar,Sharp, Shell Solar, Sunways.

(a) (b) (c)

Figura 4.10 - Células de Silício policristalino- (a) sem camada AR.

(b) com camada AR. (c) com AR e contatos elétricos

4.2.3 Células de filmes finos 
 
Células de filmes finos são resultado das investigações feitas para possibilitar a produção
de células confiáveis utilizando pouco material semicondutor, e que seja plausível a produção em
grande escala, com custos mais baixos de produção e, em conseqüência, da energia gerada.

4.12
Os dispositivos de filme fino produzem tensão mais elevada que os monocristalinos e
policristalinos, e os módulos podem ser feitos com menos de 28 células; além de apresentarem
tamanhos e formas livres, podendo adaptar-se a superfícies como telhas, janelas, etc.
Entre os materiais trabalhados figuram diferentes semicondutores, e o tratamento consiste na sua
deposição em camadas finas na superfície, da ordem de poucos micrometros. Na Figura 4.11 se
mostra uma célula flexível desenvolvida na University of Linz (Austria).
O silício amorfo é um destes materiais e caracteriza-se por ter maior desenvolvimento na
área, ainda que não apresente o mesmo nível de confiança nem de estabilidade que as células
cristalinas; mas junto aos outros materiais, tem o futuro assegurado, por permitir a fabricação de
produtos de baixo custo em grande escala e permitir sua deposição sobre diferentes superfícies.
Neste tipo de tecnologia também se encontram os filmes finos de telureto de cádmio (CdTe),
disseleneto de cobre e índio, e disseleneto de cobre, gálio e índio (CIS e CIGS) (Rüther, 2004).

Figura 4.11 Célula flexível de silício amorfo.

TABELA 4.1 Eficiencias depois da estabilização de módulos de silício amorfo.


Company Stabilised efficiency (%) Device configuration
/ (aperture area)
BP Solar 8.1%/(0.36 m 2) a-Si/a-SiGe tandem on glass

BP Solar 7.6%/(0.74 m 2) a-Si/a-SiGe tandem on glass

Fuji Electric 9.0%/(0.32 m 2) a-Si/a-SiGe tandem on plastic

Intersolar ,-~4.5-5.0%/(0.m302 ) Single junction on glass

Iowa Thin ~4.5-5.5%/(0.45 m 2) Same gap tandem on plastic


Films

Kaneka 8.1%/(0.41 m 2) Single junction on glass

Kaneka ~10%/(0.3 7 m 2) a-Si//zc-Si tandem on glass

Phototronics ,-~6.0-6.5%/(0.5m52 ) Same gap tandem on glass

Sanyo 9.3%/(0.51 m 2) a-Si/a-SiGe tandem on glass

United S o l a r 10.1%/(0.09 m 2) Triple junction on steel foil

United Solar 7.9%/(0.45 m 2) Triple junction on steel foil

4.13
Figura 4.12 Célula de múltiplas camandas de a-Si.

A célula de separação espectral mostrada na figura 4. 12 é construída por diversas células de


silicio amorfo (p-i-n) separadas cada uma com uma diferente caracteristica de resposta spectral.
Assim a célula multicamadas United Solar pode aproveitar melhor a energia incidente e atingir o
record de eficieência medido no National Renewable Energy Laboratory (NREL) para células de
a-Si de pequena area -- 13 percent.

4.2.4 Células orgânicas e de corantes. 
Também conhecidas pela sigla DSC (Dye-Sensitized Solar Cells - células solares
sensibilizadas por corantes) essas células solares foram inventadas pela equipe do professor
Michael Gratzel, na Suíça, nos anos 1990 - por isso, também são conhecidas como células
solares Gratzel. Uma célula solar Gratzel é composta por uma camada porosa de nanopartículas
de um pigmento branco, o dióxido de titânio, coberta por um corante molecular que absorve a
luz solar, como a clorofila nas folhas verdes.
O dióxido de titânio revestido com pigmento é imerso em uma solução eletrolítica, e
um catalisador à base de platina completa a estrutura. Como em uma célula eletroquímica
convencional - uma pilha alcalina, por exemplo - dois eletrodos (o anodo de dióxido de titânio
e o catodo de platina na célula Gratzel) são colocados em cada um dos lados de um condutor
líquido (o eletrólito).
A luz solar passa através do catodo e do eletrólito e, em seguida, retira elétrons do
anodo de dióxido de titânio, que é um semicondutor e fica na parte inferior da célula. Esses
elétrons viajam ao longo de um fio a partir do anodo até o catodo, criando a corrente elétrica.

4.14
Desta forma, a radiação solar é convertida em eletricidade. A maioria dos materiais usados
para construir esta célula solar são de baixo custo, de fácil fabricação, e são flexíveis,
permitindo a integração dos painéis solares em uma grande variedade de objetos e materiais.
As células de corante ainda não atingiram um nível comercial devido à sua baixa
eficiência e pouca durabilidade (eficiência pode chegar a 6 ou 7%, mas duram muito menos
que uma célula de silício amorfo).

Fig. 4.13 Células sensibilizadas por corantes.

De forma similar, as células orgânicas são geralmente constituídas por um polímero


condutor e um material receptor de elétrons, como o fulereno (C60). A eficiência desses
dispositivos ainda é bem mais limitada do as células de corante, principalmente devido à baixa
absorção de luz pela camada ativa e a baixa mobilidade dos transportadores de cargas.

4.3 CIRCUITO EQUIVALENTE DA CÉLULA FOTOVOLTAICA

Como existe, para alguns profissionais da área de eletrônica, facilidade de


raciocinar sobre circuitos equivalentes e muito maior familiaridade com as curvas de
diodos no escuro, é de interesse representar a célula como um circuito equivalente. A
Figura 4.3.1 mostra o circuito equivalente simplificado de uma célula fotovoltaica. A fonte de
corrente representa a corrente fotogerada IL, enquanto que ID é a corrente que circula através do
diodo.

4.15
I
+
IL ID

Figura 4.3.14- Circuito equivalente simplificado de uma célula fotovoltaica.

Do circuito da Figura 4.3.14 tem-se que:

(4.3.2
I = IL − ID
)

A corrente que flui através de um diodo, em função da tensão, pode ser descrita pela
equação (4.3.3), a qual pode ser encontrada em diversas bibliografias de física do estado sólido.

⎧ ⎡ eV ⎤ ⎫
I D = I 0 ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ (4.3.3
⎩ ⎣ m k Tcel ⎦ ⎭ )

onde I0 é a corrente de saturação reversa do diodo no escuro, V é a tensão aplicada aos terminais
do diodo, e é a carga do elétron, m é o fator de idealidade do diodo (entre 1 e 2 para o silício
monocristalino), k é a constante de Boltzmann e Tcel é a temperatura absoluta da célula
fotovoltaica.
Assim tem-se que a corrente da célula fotovoltaica, em função da tensão, pode ser
expressa por:
⎧ ⎡ eV ⎤ ⎫
I = I L − I 0 ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ (4.3.4
⎩ ⎣ m k Tcel ⎦ ⎭ )

A partir da equação (4.3.4), verifica-se que na condição de curto-circuito (V = 0) a


corrente do dispositivo é a própria corrente fotogerada e que, se a célula for colocada em circuito
aberto (I = 0), ela se autopolarizará com uma tensão tal que a corrente de polarização equilibre a
fotocorrente. Esta é a chamada tensão de circuito aberto.
Em uma célula real existem outros efeitos que resultam na alteração do circuito
equivalente da figura anterior para o circuito da Figura 4.15, onde é incluída uma resistência

4.16
série RS, representando a resistência efetiva da célula, e uma resistência paralela RP, associada às
correntes de fuga. Este circuito equivalente também é válido para módulos fotovoltaicos, como
será visto posteriormente.
I
RS

+
IL ID IP

RP V

Figura 4.3.15- Circuito equivalente uma célula fotovoltaica

Deste modo tem-se a seguinte equação:

I = IL − ID − IP (4.3.5
)

O termo IP representa as correntes de fuga, principalmente pelas bordas da célula e


decorrentes de microfissuras e imperfeições do material.
Assim, a equação Erro! Fonte de referência não encontrada., depois de efetuadas
as devidas substituições, pode ser escrita como:

⎧ ⎡ e (V + I RS ) ⎤ ⎫ V + I RS
I = I L − I 0 ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ − (4.3.6
⎩ ⎣ m k Tcel ⎦ ⎭ RP )
onde RS é a resistência série e RP é a resistência paralela.

A resistência série RS é devida à própria resistência do semicondutor dopado, à resistência


da grade metalizada da face frontal e à resistência dos contatos, necessários para circular a
corrente da célula. A resistência paralela Rp tem sua origem nas imperfeições da união P-N ou no
material que constitui a célula, ou ainda nas bordas da mesma, e é responsável pela existência de
fuga de corrente. Nesta equação existem cinco parâmetros (RS, Rp, I0, IL e m) a serem
determinados para uma célula, a partir dos quais se obtém a curva I-V completa.

No caso de um módulo fotovoltaico com apenas células conectadas em série, à


equação (4.3.6) é acrescentado um termo que representa o número de células conectadas em

4.17
série, resultando na equação Erro! Fonte de referência não encontrada.. Aqui RS e RP
representam as resistências série e paralela totais do módulo.

⎧ ⎡ e (V + I RS ) ⎤ ⎫ V + I RS
I = I L − I 0 ⎨exp ⎢ ⎥ − 1⎬ − (4.3.7
⎩ ⎣ N S m k Tcel ⎦ ⎭ RP )

onde NS é o número de células associadas em série.


Para a resolução da equação Erro! Fonte de referência não encontrada. deve-se
determinar os valores de IL, I0, Rs, Rp e m a partir de valores de fácil quantificação, como os
dados especificados nos catálogos fornecidos pelos fabricantes de módulos, os que geralmente
são : tensão de circuito aberto (Voc), corrente de curto circuito (Isc), tensão no ponto de máxima
potência (Vmp), corrente no ponto de máxima potência (Imp). Estes dados podem ser dados para
condições padrão de operação, definindo-se estas para irradiância e temperatura os valores de
1000 W/m² e 25 ºC respectivamente e uma massa de ar 1.5 (NBR12137/MB3478), ou para
temperatura das células em condições de operação nominal (NOCT) correspondentes a
irradiância de 800 W/m², temperatura ambiente de 20 ºC e velocidade do vento de 1 m/s.
Na condição de curto circuito, a tensão nos terminais do módulo é nula, e considerando que

⎡ ⎛ IR ⎞ ⎤ ⎛R ⎞
IL >> I0. ⎢exp⎜ S
⎜ ⎟⎟ − 1⎥ e que a relação ⎜⎜ S ⎟⎟ é muito pequena, pode-se demonstrar a que a
⎣ ⎝ Vt ⎠ ⎦ ⎝ Rp ⎠
equação (4.3.7) ficará:

ISC = IL (4.3.8
)

onde ISC é a corrente de curto-circuito do módulo. Esta aproximação é aceita pela maioria dos
autores e foi demonstrada sua validade (Rauschenbach, 1980).
No caso em que o módulo fotovoltaico não está conectado a carga alguma, a corrente nos
seus terminais é nula. Se o módulo permanece em circuito aberto, este se polariza em uma tensão
chamada de tensão de circuito aberto (VOC), na qual a corrente fotogerada é compensada quase
⎛ Voc ⎞
em sua totalidade pela corrente de polarização do diodo. Assim, levando em conta que ⎜ ⎟é
⎜ R ⎟
⎝ p ⎠
⎛V ⎞
muito menor que IL , e I0 exp ⎜⎜ OC ⎟⎟ , a equação para a tensão de circuito aberto terá a forma:
⎝ Vt ⎠

⎛I ⎞
Voc = Vt ln⎜⎜ L + 1⎟⎟ (4.3.9
⎝ I0 ⎠ )

4.18
Os módulos fotovoltaicos podem estar polarizados entre o ponto de curto-circuito e circuito
aberto, em um ponto que vai depender do valor da carga elétrica conectada nos seus terminais.
Se para essa carga, o módulo está fornecendo a sua máxima potência, se diz que está operando
no seu ponto de máxima potência, obtendo-se assim valores de tensão e correntes tais que seu
produto seja máximo. Estes valores são denominados respectivamente, tensão de máxima
potência (Vmp) e corrente de máxima potência (Imp). Neste ponto, demonstra-se que (Krenzinger,
1993):
Vmp − I mp RS
RP =
I0 ⎡ ⎛ Vmp + I mp Rs ⎞⎤
⎢(I mp Rs − Vmp )exp⎜⎜
(4.3.10
⎟⎟⎥ + I mp )
Vt ⎣⎢ ⎝ Vt ⎠⎦⎥

A equação Erro! Fonte de referência não encontrada. fornece o valor de Rp em função


de Rs, e pode ser substituída na equação Erro! Fonte de referência não encontrada.,
considerando os valores de tensão e corrente como se fossem os do ponto de máxima potência.
Assim será possível isolar Rs , resultando que:

⎧ ⎛ Vmp ⎞ ⎫
⎪ ⎜⎜ ⎟⎟ − RS ⎪
⎪ ⎝ I mp ⎠ ⎪
⎪ ⎬
RS = ⎨ ⎡ I 0 ⎤ ⎡ ⎛ Vmp + I mp ⋅ RS ⎞⎤ ⎪
⎪ ⎢ ( I mp ⋅ RS ) ⎥ ⋅ ⎢exp ⎜ ⎟ ⎥ + I mp ⎪
⎪ ⎣ Vt ⎦ ⎢⎣ ⎝ Vt ⎠ ⎥⎦ ⎭ (4.3.1
⎪ )

⎪⎧ ⎡ ⎛ Vmp + I mp ⋅ RS ⎞ ⎤ ⎪⎫ Vmp
⎨ I L − I mp − I 0 ⋅ ⎢ exp ⎜ ⎟ − 1⎥ ⎬ −
⎢⎣ ⎝ Vt ⎠ ⎥⎦ ⎭⎪ I mp
⎩⎪

Esta equação pode ser resolvida pelo método de Newton-Raphson e, transladando o


resultado à formula de Rp , obtém-se este valor no ponto de máxima potência. Os valores de Rs e
Rp são então considerados como constantes para qualquer ponto da curva característica I-V e
para qualquer valor de irradiância e temperatura.
Até aqui foi visto como determinar os valores de IL, I0, Rs e Rp a partir dos valores de ISC,
Imp, VOC e Vmp em condições standard de medida. Falta determinar o valor do fator de idealidade
do diodo (m), que, pela teoria dos semicondutores cristalinos, tem valores entre 1 e 2.

4.19
Para escolher o parâmetro m poderia ser utilizada uma expressão empírica que relaciona m
com o fator de forma da curva I-V.
I mpVmp
m = 2.8 − 2.3 (4.3.12
I scVoc )

Para condições diferentes da standard, calcula-se Isc e Voc, mantendo constante m, Rs e Rp,
segundo:
G
I SC = I scs [1 + α (Tc − 298 K )] (4.3.13
1000 W m − 2 )

⎛ G ⎞
Voc = Vocs + N s β (Tc + 298 K ) + Vt ln⎜⎜ −2
⎟⎟ (4.3.14
⎝ 1000 W m ⎠ )

onde α é o coeficiente de variação relativa de Isc com a temperatura e β é o coeficiente de


variação de Voc com a temperatura para uma célula.
Os coeficientes de temperatura dependem principalmente do material e não tanto do
método de fabricação, resultando em pequena variação entre distintos módulos.

4.20
 

5. MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

5.1 ASSOCIAÇÃO DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS

Células fotovoltaicas podem ser associadas em série, em paralelo ou simultaneamente em


série e paralelo. Em todos estes tipos de associações, problemas oriundos da não identicidade das
células e do seu funcionamento em situações não desejadas, aparecem e podem ocasionar sérios
danos aos componentes da associação. Para minimizar e até mesmo evitar estes danos, em
associações que envolvam um grande número de células, faz-se necessário o uso de dispositivos
de proteção tais como diodos bypass e de bloqueio, conectados em pontos estratégicos.
A seguir, são apresentadas as principais características das diferentes associações de
células fotovoltaicas e procedimentos utilizados para a sua proteção.
O método utilizado para a associação de células pode ser estendido para associações de
módulos fotovoltaicos.

5.1.1 Associação série de células fotovoltaicas

Atualmente, a grande maioria dos módulos fotovoltaicos são montados para operarem
com tensão nominal de 12 V. Dependendo do tipo de células que os constituem, apresentam mais
ou menos células associadas em série. Entre os tipos de células mais utilizados estão a de silício
monocristalino (módulos com 30 a 36 células), silício policristalino (geralmente módulos com
36 células) e silício amorfo (módulos de 27 ou 28 células).
Em sistemas fotovoltaicos é freqüente utilizar-se componentes elétricos de consumo que
apresentam tensões nominais de 12, 24 ou 48 V. As tensões de 24 V e 48 V são obtidas
associando-se em série um maior número de células fotovoltaicas.
A Figura 5.1 apresenta o circuito elétrico de N células associadas em série.

5.1
R

Figura 5.1- Associação de células em série

Como principais características de uma associação série, tem-se que a corrente que
circula por uma célula é a mesma que circula pelas demais células associadas e a tensão, nos
extremos da associação, é dada pela soma das tensões de cada célula.

5.1.2 Associação série de células fotovoltaicas idênticas


Sempre que se deseja associar células fotovoltaicas em série, é conveniente que as
mesmas apresentem curvas características I-V o mais semelhantes possível. Processos de seleção
de células permitem que se tenha lotes com células muito parecidas, as quais podem ser
consideradas como idênticas.

Supondo que as N células mostradas na Figura 5.1sejam idênticas, tem-se que a tensão de
circuito aberto da associação VOCA é igual a N vezes a tensão de circuito aberto VOCCN de uma
célula qualquer, visto que todas elas apresentam uma mesma tensão de circuito aberto. Logo,
VOCA = VOCC1 + VOCC2 + ..... + VOCCN

onde VOCA é a tensão de circuito aberto da associação e VOCCN é a tensão de circuito aberto da
célula N e sendo
VOCC1 = VOCC2 =...... = VOCCN
tem-se que
VOCA = N S ⋅ VOCC1 = N S ⋅ VOCC2 = ...... = N S ⋅VOCCN

onde Ns é o número de células fotovoltaicas associadas em série.


Quando os extremos da associação são conectados entre si, através de um condutor com
resistência elétrica nula, tem-se uma situação de curto-circuito, no qual a tensão da associação é
nula e a corrente que circula pelas células é denominada de corrente de curto-circuito da
associação ISCA.
Como as células são idênticas, apresentam mesma corrente de curto-circuito e, portanto,
pode-se dizer que
5.2
I SCA = I SCC1 = I SCC2 =...... = I SCCN
onde ISCA é a corrente de curto-circuito da associação e ISCCN é a corrente de curto-circuito da
célula N.
Para qualquer outro ponto de operação da associação, diferente dos pontos de circuito
aberto e curto-circuito, a tensão da associação, para um determinado valor de corrente, é dada
como sendo a soma das tensões de cada célula. Para esta corrente da associação IA, tem-se que
VA = VC1 + VC2 +...... VCN
onde VA é a tensão da associação e VCN é a tensão da célula N.
Na Figura 5.2 são mostradas as curvas características I-V de uma das células
fotovoltaicas associadas e a curva da associação das N células idênticas.

Figura 5.2 - Curva característica I-V de N células fotovoltaicas idênticas associadas em série.

Observa-se que, para qualquer carga que seja conectada nos extremos da associação,
todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica.
O ponto P2 indica o ponto de máxima potência da associação no qual se tem que
VmpA = VmpC1 + VmpC2 + ...... + VmpCN

onde VmpA é a tensão do ponto de máxima potência da associação e VmpCN é a tensão do ponto de
máxima potência da célula N

5.3
e sendo
VmpC1 = VmpC2 = ...... = VmpCN

tem-se portanto que


VmpCA = N S ⋅ VmpC1 = N S ⋅ VmpC2 = ...... = N S ⋅ VmpCN

e
I mpA = I mpC1 = I mpC2 = ...... = I mpCN

onde ImpA é a corrente do ponto de máxima potência da associação e ImpCN é a corrente do ponto
de máxima potência da célula N.

5.1.3 Associação série de células fotovoltaicas não idênticas

Células fotovoltaicas que apresentam curvas características I-V não idênticas, quando
associadas em série, podem funcionar em pontos de operação que prejudicam o desempenho de
toda a associação. Situações não desejadas, como a de sombreamento de células e curto-circuito
da associação podem danificar células e, em determinadas situações, até tirar de funcionamento
o sistema de geração de energia elétrica.
Considerem-se, para efeito de análise do comportamento de células fotovoltaicas não
idênticas associadas em série, duas células idênticas e uma terceira com menor eficiência.
Na Figura 5.3 são mostradas as curvas características I-V da célula menos eficiente (1),
da curva resultante da associação das duas células idênticas (2) e da associação (3).
Observa-se que no ponto P1, a associação encontra-se em circuito aberto (IA = 0) com
uma tensão VOCA igual a soma das tensões de circuito aberto de cada célula, de tal modo que
VOCA = VOCC1 + VOCC2 + VOCC3

À medida que a carga ligada nos extremos da associação aumenta (R tendendo a zero), o
seu ponto de operação começa a deslocar-se em direção ao ponto P4.
Enquanto a corrente da associação é menor que a corrente de curto-circuito de cada
célula associada (região entre os pontos P1 e P3), todas as células comportam-se como geradores
de energia elétrica.

5.4
Figura 5.3 – Curva Característica I-V de células fotovoltaicas não idênticas associadas em série

No ponto P3, a célula de menor eficiência encontra-se em curto-circuito, apresentando


tensão nula nos seus terminais e, portanto, não funcionando nem como gerador, nem como carga.
Neste ponto, a tensão da associação é dada apenas pela soma das tensões das células idênticas e
mais eficientes, que continuam comportando-se como geradores.
Quando pela associação circula uma corrente maior que a corrente de curto-circuito da
célula menos eficiente (região entre os pontos P3 e P4), esta comporta-se como uma carga para as
demais células que ainda apresentam corrente de curto-circuito maior que a corrente da
associação.
Finalmente, quando a associação opera em curto-circuito (ponto P4), sua tensão é nula e a
soma das tensões das duas células mais eficientes é igual, em módulo, a tensão sobre a célula
menos eficiente.
Para VA = 0
VA = 0 = VC1 + VC2 + VC3
tem-se que
VC2 + VC3 = − VC1
Isto equivale a dizer que toda a potência gerada pelas células mais eficientes é dissipada
na célula menos eficiente.
Caso tenha-se uma associação com N células conectadas em série, a potência gerada por
(N-1) células pode estar sendo dissipada em uma única célula menos eficiente, sombreada ou
danificada, a qual se encontra reversamente polarizada. Tal situação faz com que estas células

5.5
operem em pontos de temperaturas mais elevadas que as demais células, podendo ocorrer danos
parciais ou até mesmo irreversíveis à célula e, conseqüentemente, à associação.

5.1.4 Associação paralelo de células fotovoltaicas

Sistemas fotovoltaicos são projetados para atender às necessidades de tensão e corrente


elétricas de uma determinada carga. À medida que esta carga vai aumentando, é exigida do
sistema uma corrente elétrica de maior intensidade.
Para suprir esta necessidade de corrente, muitas vezes torna-se necessário associarem-se
módulos fotovoltaicos em paralelo, visto que a corrente que cada módulo individualmente pode
fornecer ao sistema é da ordem de poucos Ampères.
A Figura 5.4 apresenta o circuito elétrico de N células fotovoltaicas, associadas em
paralelo, fornecendo energia elétrica para um resistor de resistência elétrica variável.

Figura 5.4 - Associação em paralelo de N células fotovoltaicas

Entre as principais características de uma associação em paralelo de células fotovoltaicas,


tem-se que a corrente da associação é igual à soma das correntes que circulam por cada uma das
células associadas e a tensão é a mesma sobre todas as células.

5.1.5 Associação paralelo de células fotovoltaicas idênticas

Suponha-se que as células fotovoltaicas, apresentadas no circuito da Figura 5.4, tenham


sido escolhidas dentro de um grande lote de células e que apresentem curvas características I-V
muito semelhantes, podendo serem consideradas idênticas.

5.6
Neste tipo de associação, a corrente de curto-circuito da associação ISCA é igual a N vezes
a corrente de curto-circuito de uma qualquer das células, visto que todas células apresentam uma
mesma corrente de curto-circuito. Logo,
I SCA = I SCC1 + I SCC2 +......+ I SCCN
e sendo
I SCC1 = I SCC2 =...... = I SCCN
tem-se que
I SCA = N P ⋅ I SCC1 = N P ⋅ I SCC2 = ...... = N P ⋅ I SCCN

onde NP é o número de células fotovoltaicas associadas em paralelo.


Quando nos extremos da associação não é ligada nenhuma carga (R tendendo ao infinito),
situação de circuito aberto, a corrente da associação é nula e a tensão é igual à tensão de circuito
aberto de uma célula qualquer.
Portanto, para IA = 0 e, sendo
VOCC1 = VOCC2 =...... = VOCCN
tem-se que
VOCA = VOCC1 = VOCC2 = ..... = VOCCN

Para qualquer outro ponto de operação da associação, diferente dos pontos das situações
de circuito aberto e curto-circuito, a corrente fornecida pela associação a uma carga qualquer,
submetida a uma tensão VA, é dada como sendo a soma das correntes de cada célula.
Para VA, tem-se que
I A = I C1 + I C2 +......+ I CN
onde IA é a corrente elétrica da associação e ICN á a corrente elétrica da célula N.

Na Figura 5.5 são mostradas as curvas características de uma das células fotovoltaicas
associadas e a curva da associação das N células idênticas.

5.7
Figura 5.5 Curva característica I-V de N células fotovoltaicas idênticas associadas em paralelo.

Observando a Figura 5.5, verifica-se que, para qualquer carga que seja conectada nos terminais
da associação, todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica.
O ponto P2 da Figura 5.5 indica o ponto de máxima potência da associação no qual tem-
se que
I mpA = I mpC1 + I mpC2 + ...... + I mpCN

e sendo
I mpC1 = I mpC2 = ...... = I mpCN

tem-se portanto que


I mpA = N P ⋅ I mpC1 = N P ⋅ I mpC2 = ...... = N P ⋅ I mpCN

e
VmpA = VmpC1 = VmpC2 = ...... = VmpCN

5.1.6 Associação paralelo de células fotovoltaicas não idênticas

Células fotovoltaicas não idênticas, associadas em paralelo, prejudicam a eficiência do


sistema fotovoltaico, principalmente quando o mesmo funciona em situações tais como a de
circuito aberto ou sombreamento de células.

5.8
Considere-se, para efeito de análise do comportamento de células fotovoltaicas não
idênticas associadas em paralelo, duas células idênticas e uma terceira com menor eficiência
associadas.
Na Figura 5.6 são mostradas as curvas características I-V da célula menos eficiente (1),
da curva da associação paralelo das duas células idênticas (2) e a da associação paralela de todas
as células (3).
I
( 3 ) P1

P2

( 2 )
R

P3
( 1 )

P4

Figura 5.6 - Curva característica I-V de células fotovoltaicas não idênticas associadas em paralelo

Observa-se que no ponto P1, a associação e as células encontram-se em curto-circuito


(VA=0). A corrente de curto-circuito da associação é igual à soma das correntes de curto-circuito
de cada célula, de tal modo que
I SCA = I SCC1 + I SCC2 + I SCC3
À medida que a carga ligada nos extremos da associação vai diminuindo (R tendendo a
infinito), o seu ponto de operação começa a deslocar-se em direção ao ponto P4.
Enquanto a tensão da associação é menor que a tensão de circuito aberto de cada célula
associada (região entre os pontos P1 e P3), todas as células comportam-se como geradores de
energia elétrica.
No ponto P3, a célula de menor eficiência encontra-se em circuito aberto, não circulando
por ela nenhuma corrente e, portanto, não funcionando nem como gerador, nem como carga.
Neste ponto, a corrente da associação é dada apenas pela soma das correntes das células
idênticas e mais eficientes, que continuam comportando-se como geradores.
Quando a tensão da associação for maior que a tensão de circuito aberto da célula menos
eficiente (região entre os pontos P3 e P4), esta comporta-se como carga para as demais células
que ainda possuem tensão de circuito aberto maior que a tensão da associação. Finalmente,
quando a associação opera em circuito aberto (ponto P4), sua corrente é nula e a soma das

5.9
correntes das duas células mais eficientes é igual, em módulo, à corrente que circula pela célula
menos eficiente. Logo, para IA = 0, tem-se que
I A = 0 = I C1 + I C2 + I C3
Portanto
I C2 + I C3 = − I C1
Isto equivale a dizer que toda a potência gerada pelas células mais eficientes é dissipada
na célula menos eficiente. Os mesmos problemas de aquecimento e, conseqüentes danos as
células, observados em associações série, acontecem também em associações paralelo de células
fotovoltaicas.
Caso tenha-se uma associação com N células conectadas em paralelo, a potência gerada
por (N-1) células pode ser dissipada em uma única célula menos eficiente, sombreada ou
danificada.

5.2 CONSTRUÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS (Si)

Em um sistema fotovoltaico os módulos são os elementos responsáveis pela conversão da


radiação solar em eletricidade. A ABNT (NBR10899/TB-328) define o módulo fotovoltaico
como sendo o “menor conjunto ambientalmente protegido de células solares interligadas, com o
objetivo de gerar energia elétrica em corrente contínua”. O conjunto de células conectadas é
encapsulado, de modo a oferecer proteção contra a intempérie (principalmente umidade) ao
mesmo tempo em que possibilita um caminho ótico para a luz que chega até as mesmas. A
maioria dos módulos conta ainda com uma moldura metálica que proporciona a necessária
rigidez mecânica ao conjunto e facilita a fixação do módulo. Módulos com tensão nominal de
12 VDC são constituídos por 30 a 36 células em série. Também são encontrados módulos com
tensões nominais de 6, 24 e 48 VDC e outras maiores.
Na Figura 5.7 é apresentado o corte de um módulo fotovoltaico convencional, mostrando
seus principais componentes:

• Cobertura frontal: usualmente um vidro de com baixo teor de ferro, para reduzir as
perdas por absorção. Um acabamento texturado opcional contribui para minimizar as perdas por
reflexão.
• Encapsulante: polímero termoplástico transparente, eletricamente isolante e resistente à
umidade, à fadiga mecânica e à ação da radiação solar (principalmente raios ultravioleta). O
material mais utilizado é o EVA (etil vinil acetato).

5.10
• Células fotovoltaicas, interconexões elétricas e caixa de bornes: conjunto elétrico do
módulo.
• Cobertura posterior: o material mais comumente empregado é o PVF (fluoreto de
polivinil), comercialmente conhecido por Tedlar, embora existam módulos que utilizem um
segundo vidro.
• Moldura metálica: usualmente de alumínio anodizado, confere rigidez mecânica ao
módulo e facilita sua fixação.

Figura 5.7- Corte de um módulo fotovoltaico

O espaço entre a moldura e o conjunto laminado é preenchido por um perfil de borracha


de silicone, a qual também é empregada na fixação da caixa de bornes à cobertura posterior. O
tempo previsto de vida útil dos módulos fotovoltaicos de silício monocristalino é de pelo menos
20 anos.

5.3 CURVA CARACTERÍSTICA I-V

A ABNT (NBR10899/TB-328) define a curva característica tensão versus corrente


como a “representação dos valores da corrente de saída de um conversor fotovoltaico, em função
da tensão, para condições preestabelecidas de temperatura e radiação”.

A análise da curva I-V é de fundamental importância na caracterização de um


gerador fotovoltaico, pois a partir dela é possível obter os principais parâmetros que determinam
sua qualidade e desempenho.
5.11
A curva I-V de uma célula solar é a resultante da superposição da corrente fotogerada
com a curva do diodo no escuro. A luz tem o efeito de deslocar a curva I-V para o quarto
quadrante (quadrante de geração). A Figura 5.8 representa as curvas de uma célula fotovoltaica
sob diversas condições de iluminação, sendo que a curva (d) mostra a curva I-V sob a forma mais
comumente encontrada, rebatida sobre o eixo das tensões. Uma boa célula de silício cristalino
apresenta, partindo do curto-circuito, uma corrente quase constante, decrescendo levemente com
o aumento da tensão até chegar a um joelho, a partir do qual assume um comportamento de
rápida diminuição, até cortar quase verticalmente o eixo das tensões. A potência fotogerada,
obtida multiplicando-se a corrente pela tensão ponto a ponto, apresenta um máximo nitidamente
localizado próximo ao joelho da curva I-V.

Figura 0.8 - Uma célula fotovoltaica sob diversas condições de iluminação: (a) no escuro a célula tem as
mesmas características elétricas de um diodo. (b) quando a célula é iluminada, sua curva I-V se desloca
para o 4º quadrante. (c) quanto maior a intensidade da radiação, maior é o deslocamento da curva. (d) a
curva é, por convenção rebatida sobre o eixo das tensões, tornando o 1º quadrante o quadrante de geração

A Figura 5.9 apresenta a curva de uma célula fotovoltaica, identificando três pontos
notáveis:

5.12
• Corrente de curto-circuito ISC: corrente que circula por uma célula iluminada quando a
tensão em seus terminais é nula.
• Tensão de circuito aberto VOC: tensão entre os terminais uma célula iluminada quando a
corrente que circula por ela é nula.
• Ponto de máxima potência PM: ponto da curva I-V para o qual o produto tensão x corrente
é máximo.
A tensão de circuito aberto VOC e a corrente de curto-circuito ISC são,
respectivamente, as máximas tensão e corrente possíveis de serem obtidas de uma célula
fotovoltaica. Entretanto, em ambos os pontos, a potência de saída é zero. O fator de forma (em
inglês fill factor= fator de preenchimento) é um parâmetro que, juntamente com VOC e ISC,
determina a máxima potência do módulo fotovoltaico. Matematicamente é definido como a razão
entre a potência máxima e o produto da corrente de curto-circuito e a tensão de circuito aberto.
Graficamente, o fator de forma pode ser definido pela relação entre as áreas A e B da Figura 5.9.

Figura 0.9 - Curvas da corrente (em vermelho) e potência (em azul) de uma célula fotovoltaica em
função da tensão. Na figura também são destacados os pontos de corrente de curto-circuito ISC, tensão
de circuito aberto VOC e máxima potência PM (VMP, IMP) (adaptado de Honsberg e Bowden, 1999).

5.3.1 Efeito da intensidade da radiação solar incidente

A Figura 5.10 representa as curvas características de uma célula mantida a temperatura


constante sob diferentes condições de iluminação. O que se observa é um aumento na corrente de
curto-circuito proporcional à intensidade de radiação solar incidente. A tensão de circuito aberto
varia pouco exceto quando os valores da irradiância são muito pequenos, e VOC decresce
rapidamente até zero nas condições de escuridão.

5.13
Figura 0.10 - Curva característica da célula sob diferentes intensidades de radiação

5.3.2 Influência da Temperatura na Curva I-V

A temperatura é um fator de importante influência na curva característica de um


dispositivo fotovoltaico. A corrente elétrica de curto-circuito aumenta ligeiramente com a
temperatura, para módulos de silício cristalino, segundo um coeficiente (α) que apresenta
valores típicos para o silício de 0,06%°C-1 ou 0,03 mA°C-1 cm-2. O coeficiente da variação da
corrente de curto-circuito com a temperatura é definido pela Equação (0.1). Este aumento de
corrente é devido a uma diminuição da energia do gap do material, expressa pela Equação (0.2):

∂ I SC
α = (0.1)
∂T

aT 2
E g (T ) = E g (0 ) − (0.2)
T +b

onde Eg(T) é a energia do gap do material a uma dada temperatura, Eg(0) é uma energia de
referência e a e b são constantes do material. A Tabela 0.1 apresenta os valores das constantes a
e b e as energias o gap para dois materiais, silício e arsenieto de gálio.
Tabela 0.1- Energia do gap para Si e GaAs com os valores das constantes a e b da Equação (0.2)
(Lasnier, 1990).

Material Eg(0)(eV) a (10-4eV K-1) b (K)

5.14
1,16 7 1100
Si 
1,52 5,8 300
GaAs 

A tensão, por sua vez, apresenta uma variação linear com a temperatura. Tipicamente,
para módulos de silício monocristalino, a tensão decai de acordo com um coeficiente (β) que
apresenta valores da ordem de -2,3 mV/ °C por célula. O coeficiente da variação da tensão de
circuito aberto com a temperatura pode ser definido pela Equação (0.3).
∂ V OC
β = (0.3)
∂T

Esta diminuição da tensão é devida principalmente ao incremento exponencial da


corrente de saturação reversa. Essa corrente é fruto dos portadores de carga minoritários criados
por excitação térmica. A Figura 5.11 apresenta curvas I-V relativas à mesma irradiância, mas em
diferentes temperaturas

.
Figura 0.11 - Curvas características de uma célula para diversas temperaturas

5.15
Figura 0.12 - Variação de ISC e de VOC com a temperatura

5.3.3 Efeitos da resistência série e paralela

Como foi visto na representação da célula por seu circuito equivalente, devem ser
incluídos elementos resistivos em série e em paralelo. A resistência em paralelo é originada por
fugas na superfície das bordas da célula, microdefeitos do cristal que possam ocasionar curto-
circuitos, etc.
O ideal seria que RP tivesse um valor muito elevado, tendendo a infinito. As boas células
de Si monocristalino permitem, com a atual tecnologia de fabricação, que se possa desprezar este
efeito. A resistência em série é devida à resistência do próprio semicondutor dopado, mais a
resistência da grade metalizada e dos contatos necessários para que a corrente flua. O ideal seria
que RS fosse igual a zero, porém o aumento da área de metalização na superfície frontal de uma
célula reduziria na mesma proporção a penetração de luz, sendo necessário um estudo de
otimização no projeto destas grades. A Figura 5.13 exemplifica os efeitos que diferentes valores
de RS e RP causam sobre as curvas de uma célula.

5.16
(a)
(b)
Figura 0.13 - Efeito de Rs (a) e Rp (b) sobre a curva característica

5.3.4 Condições padrão para ensaios de módulos fotovoltaicos

A norma ASTM E-1036 Standard Methods of Testing Electrical Performance of


Nonconcentrator Terrestrial Photovoltaic Modules and Arrays Using Reference Cells define
como condições padrão de teste, para de irradiância e temperatura das células do módulo
respectivamente, os valores de 1000 W/m2 e 25 °C. Quanto à distribuição espectral as normas
ASTM E-891 e E-892 apresentam espectros de referência da irradiância solar terrestre direta
normal e global, com massa de ar 1,5 para uma superfície com inclinação de 37 °. A massa de ar
pode ser definida como a relação entre o comprimento da trajetória efetivamente percorrida
pelos raios solares (radiação direta) na atmosfera até o observador e o comprimento da trajetória
que estes percorreriam se o Sol estivesse no zênite, com o observador ao nível do mar. Uma
aproximação para o valor da massa de ar, válida somente para ângulos menores que 70 °, pode
ser dada pela secante do ângulo de zênite, ângulo compreendido entre as direções do zênite e dos
raios solares.
A norma IEC 1215 Crystalline Silicon Terrestrial Photovoltaic Modules - Design
Qualification and Type Approval também considera os valores de 1000 W/m2 e 25 °C. Normas
brasileiras, como NBR11876/EB2176 Módulos Fotovoltaicos e a NBR12137/MB3478 Módulos
fotovoltaicos - Ensaios mecânicos e ambientais, adotam os mesmos valores.

5.17
6. ACUMULADORES E CONTROLADORES

6.1 BATERIAS

A função destes elementos nos sistemas fotovoltaicos é armazenar a energia produzida pelo
gerador fotovoltaico e entregá-la à carga quando a geração seja nula como à noite, ou
insuficiente como em períodos de baixa irradiância. As baterias podem estar formadas por uma
única célula ou vaso, ou por um grupo delas, conectados em série ou em paralelo, constituindo
assim um sistema de armazenamento eletroquímico completo.
Segundo o tipo de célula que compõe uma bateria, esta pode ser classificada como
recarregável ou não recarregável.
As baterias não-recarregáveis podem ser usadas uma única vez. Estão compostas de células
denominadas primárias que uma vez descarregadas ficam inutilizadas. Usam-se comumente
como fontes de energia de baixa potência, para relógios, calculadoras, etc.
As baterias recarregáveis, compostas por células conhecidas como secundárias, podem ser
carregadas e reutilizadas várias vezes, e servem para aplicações de longos períodos de tempo.
Nos sistemas fotovoltaicos, as baterias de acumulação funcionam continuamente em ciclos de
carga e descarga como resultado da superposição do efeito produzido pela energia diária
fornecida pelo gerador fotovoltaico e a requerida pelo consumo.
Segundo sua aplicação, estas baterias podem classificar se como:
• Automotivas ou “de partida”: são baterias desenhadas para descargas velozes, com
altas taxas de correntes e baixas profundidades de descarga, condições comuns para
partida de motores de automóveis.
• Tração: indicadas para o funcionamento de aparelhos móveis elétricos, são projetadas
para operar em regime de ciclos diários profundos com taxa de descarga moderada.
• Estacionárias: projetadas para ocasiões em que se trabalha com ciclos lentos de carga
/ descarga. Por exemplo, sistemas de backup.

6.1
• Fotovoltaicas: são aquelas pensadas para ciclos diários com taxas de descarga
reduzidas e que devem suportar descargas profundas esporádicas devido a uma possível
falta de geração (condições climáticas).
Segundo sua forma de confinamento do eletrólito, podem ser:
• Abertas, precisam de uma verificação periódica do nível do eletrólito. O eletrólito é
liquido e não está encerrado no separador, motivo pelo qual devem ficar em posição
vertical.
• Seladas, nas quais o eletrólito está confinado no separador ou tem consistência de gel.
Chamam-se também de “sem manutenção”, porque não precisam da adição de água.
As formas de avaliação das baterias recarregáveis são: densidade de energia, volumétrica
ou por peso; eficiência, vida cíclica, taxa de autodescarga, reciclabilidade dos materiais e custo,
termos que serão tratados adiante. A seguir, é dado um enfoque específico aos acumuladores
eletroquímicos de chumbo-ácido (Pb-ácido), por serem estes os mais usualmente utilizados em
sistemas fotovoltaicos autônomos devido a seu baixo custo e disponibilidade no mercado.

6.2 PROCESSOS ELETROQUÍMICOS NOS ACUMULADORES

Os acumuladores são compostos por um ou mais elementos denominados células


eletroquímicas. A célula ou vaso é a unidade básica de uma bateria (Figura 6.1), a qual é
formada por um recipiente onde se encontram dois eletrodos imersos numa solução eletrolítica,
conhecidos como materiais ativos, os que se encarregam da transformação da energia química
em elétrica ou ao inverso segundo estejam em estado de carga ou descarga, produzindo-se
reações químicas reversíveis.
Um dos eletrodos é o pólo positivo (ânodo) que é formado de dióxido de chumbo e o outro
é de chumbo poroso puro sendo o pólo negativo (cátodo). Ambos estão imersos numa solução de
ácido sulfúrico dissolvido em água a 37% (eletrólito), a qual permite a condução dos elétrons.
No processo de descarga, as reações químicas entre o material dos eletrodos e do eletrólito
geram eletricidade, enquanto que no processo de carga, a reação se dá consumindo energia. As
reações químicas que ocorrem no interior deste tipo de acumuladores são as seguintes:
no ânodo

no cátodo
6.2
resultando como reação global

Durante o processo de carga, uma corrente elétrica entra na bateria pelo ânodo, formando
óxido de chumbo (PbO2) no ânodo e chumbo puro (Pb) no cátodo. Neste processo, ácido
sulfúrico (H2SO4) é liberado na solução aquosa (eletrólito), aumentando sua densidade. Já na
descarga, a corrente elétrica sai pelo ânodo, formando sulfato de chumbo (PbSO4) nos dois
eletrodos absorvendo o ácido sulfúrico do eletrólito, com uma correspondente diminuição da
densidade deste último. Assim, é possível determinar o estado da carga de uma bateria de forma
bastante simples, medindo a densidade do eletrólito, ou a tensão em seus pólos.
Na prática, para as baterias carregadas, a densidade do eletrólito varia entre 1,20 e 1,28
g/cm3, os quais correspondem respectivamente a valores, em estado de repouso, entre 2,04 e 2,12
V por célula.

Recipiente

Figura 6.1 - Corte de uma bateria automotiva

6.3 CARACTERÍSTICAS DOS ACUMULADORES

Com respeito às baterias em geral, existe uma série de termos a conhecer que fornecem a
informação de suas principais características.
Autodescarga: define o processo no qual as baterias descarregam gradual e
espontaneamente, quando não estão em uso. As baterias de chumbo-ácido têm uma alta taxa de

6.3
autodescarga mensal, de 5 a 30% de sua capacidade, dependendo da temperatura e composição
da célula, e assim deve-se evitar que as baterias fiquem em repouso por tempos prolongados.

Figura 6.2 - Autodescarga das baterias (Pb-ácido) em função do tempo inoperante.

A palavra capacidade define a quantidade de energia que a bateria pode entregar durante
uma descarga completa, em Ampères-hora. A capacidade é influenciada pela velocidade de
carga e descarga e pela temperatura de operação da bateria. Quanto maior a intensidade de
corrente de descarga, menor é o valor da capacidade da bateria e com menores intensidades de
descarga aumenta a capacidade. Temperaturas baixas reduzem a capacidade e o aumento da
temperatura traz um incremento da capacidade, mas com este incremento de temperatura vem
associada uma perda de água e diminuição da vida útil.

Figura 6.3 - Variação da capacidade da bateria com a corrente de descarga , e com variação de
temperatura.

A capacidade Nominal é o valor da capacidade em Ah, dado pelo fabricante em condições


de operação especificadas.
O Estado de Carga (EC) é definido como a capacidade disponível de carga na bateria,
sendo apresentado como uma porcentagem da capacidade nominal.

6.4
O regime de carga / descarga (Cn) representa a corrente fornecida à bateria para
restabelecer a capacidade máxima em um determinado tempo, ou extraída da mesma a partir da
plena carga para esgotar a capacidade em um determinado tempo. É um valor normalizado para a
capacidade da bateria, e sua expressão é dada pela relação entre a Capacidade Nominal e o
Tempo de Descarga. Este regime poderia ser expresso em ampères, mas o mais normal é
expressar o regime em forma normalizada com a capacidade, ou seja, para n horas de descarga se
representara como Cn. Por exemplo, se uma descarga completa de uma bateria de 100 Ah, com
uma corrente de 20 A, dura 5 horas, então indica um regime de C5.
Descarga é o processo de extrair a corrente de uma bateria através da conversão de energia
eletroquímica em energia elétrica.
O processo de descarga a corrente constante pode dividir-se em 3 zonas das curvas da
Erro! Fonte de referência não encontrada., uma queda brusca da tensão inicialmente, logo se
estabilizando e diminuindo quase linearmente com o tempo e finalmente uma fase em que a
tensão cai rapidamente até um valor que indique que a descarga finalmente chegou ao fim.
Para sistemas fotovoltaicos, geralmente trabalha-se com regimes baixos de corrente, que
correspondem a descargas por mais de 100 horas (C 100).

Figura 6.4 - Curvas de descarga e carga para uma bateria de 12 Volts a 25ºC.

A taxa de descarga/carga é o valor de corrente durante o processo de descarga/carga da


bateria.

6.5
Por Carga entende-se a conversão de energia elétrica em potencial eletroquímico na célula.
Os métodos de carga para aplicações fotovoltaicas são de difícil controle devido à variação de
irradiância solar, mas geralmente os métodos utilizados em laboratório são a corrente constante ,
variando o valor da tensão, ou a tensão constante, variando a corrente.
No processo de carga a corrente constante pode ser dividida em 3 partes fácies de perceber
nas curvas da Figura 6.4 um aumento brusco da tensão inicialmente, logo se estabilizado e
aumentando quase linearmente com o tempo e por último uma fase em que a tensão aumenta
rapidamente até um valor constante. Esta última fase se conhece com o nome de sobrecarga
aonde se produz una gaseificação devido a que parte da corrente é empregada para a
decomposição e liberação de gases (Oxigeno e Hidrogênio) e, por conseguinte, ocorre perda de
água e elevação de temperatura.
A Profundidade de descarga indica a porcentagem da capacidade nominal da bateria que
foi retirada a partir do estado de plena carga. É o valor que complementa o estado de carga.
A Tensão de corte corresponde ao valor de tensão no qual a descarga da bateria é
interrompida. Pode ser função do regime de operação, ou pode ter um valor determinado pelos
fabricantes como tensão de final de descarga, que indica o momento em que danos irreversíveis
podem ser causados à bateria.
Na Figura 6.4 se verifica que o critério de escolha da tensão de corte corresponde ao
“joelho” da curva tensão-tempo e quanto mais rápida a descarga, menor a tensão de corte. Para
sistemas fotovoltaicos dotados de acumuladores de Pb-ácido, costuma-se utilizar para a tensão
de corte o valor de 1,9 Volts/elemento.
Chama-se Ciclo à seqüência de carga-descarga de uma bateria até uma determinada
profundidade.

Figura 6.5. Números de ciclos de uma bateria para diferentes profundidades de

6.6
A Vida útil é o período de tempo no qual uma bateria opera normalmente sob
determinadas condições, mantendo a capacidade e o rendimento. Nas baterias de chumbo-ácido,
costuma-se assumir o fim da vida como o momento em que, estando totalmente carregada, pode
fornecer somente 80% de sua capacidade nominal. A perda da capacidade tem a ver com a idade
(o envelhecimento se relaciona com a temperatura de operação e com a temperatura e a forma de
armazenamento) e com a ciclagem da bateria.
A Eficiência pode ser expressa de duas maneiras diferentes, a eficiência faradaica ou
eficiência energética. A primeira é a relação entre a quantidade de Ah retirada de uma bateria
durante a descarga e quantidade necessária de Ah para restaurar o estado de carga inicial.
Calcula-se como a razão entre a integral da corrente ao longo do tempo de descarga e carga. O
valor é da ordem de 90 – 95 %. Por eficiência energética entende-se a relação entre a energia
retirada da bateria durante o processo de descarga e a energia necessária para restaurar o estado
de carga inicial. O valor é da ordem de 75 – 80 % .

6.4 MODELAGEM DAS BATERIAS

A modelagem das baterias envolve diferentes parâmetros como a capacidade, evolução de


estado de carga e tensão nos terminais em função do regime de corrente e temperatura, etc. O
texto abordado a seguir se refere exclusivamente a baterias de chumbo-ácido.
Encontram-se modelos matemáticos baseados no comportamento interno das baterias,
estudando a composição dos materiais ativos e sua microestrutura, os quais resultam em modelos
muito complexos. Outros tipos de modelos podem ser chamados de "externos" ou "de
simulação" que além de serem mais simples, seus métodos são de fácil implementação em
computadores. Tais modelos apresentam parâmetros gerais comuns a diferentes baterias,
particularizando-se o comportamento de uma determinada bateria a partir do valor da capacidade
nominal.
O modelo elétrico da bateria utilizado nesta dissertação está composto por uma fonte de
tensão ideal (Vi) e uma resistência interna. A resistência interna (Ri) que possui a bateria tem um
comportamento dinâmico ao longo dos processos de carga e descarga, assim a tensão de trabalho
medida nos bornes da bateria tem um comportamento influenciado pelo sentido da corrente da
bateria.

6.7
Vi

Figura 6.6. Circuito elétrico equivalente de uma bateria

Quando a bateria se encontra em repouso, isto é, em circuito aberto, ela tem uma tensão
diferente à de carga ou de descarga. Vários autores fizeram diferentes ensaios mostrando que,
durante interrupções da carga e da descarga a tensão do circuito aberto (VCA) tem uma variação
linear com o estado de carga, sendo que se pode relacionar o valor do estado de carga com a
tensão de repouso como se mostra na Figura 6.7.

13.25
13.00
Tensão de Circuito Aberto (V)

12.75
12.50
12.25
12.00
11.75
11.50
11.25
11.00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Estado de Carga (%)

Figura 6.7. Relação entre o valor do estado de carga e a tensão de circuito


aberto para uma bateria de 12 volts.

A tensão de trabalho da bateria tem um comportamento diferente, dependendo se ela está


em regime de carga ou de descarga e da taxa de corrente.
Durante a carga tem-se:
Vmed = VCA + Ri I c arg a (6.1)

6.8
sendo a corrente de carga da bateria
I carga = I gerada − I cons (6.2)

Para a descarga
Vmed = VCA − Ri I desc arg a (6.3)

sendo a corrente de descarga da bateria


I desc arg a = I cons − I gerada (6.4)

Analisando as equações anteriores pode-se obter uma equação para o processo de carga e
descarga, onde a tensão segue a seguinte expressão:
Vmed = VCA + Ri ⋅ ( I gerada − I cons ) (6.5)

Dado que Ri não é concentrada nem constante ao longo do tempo, a equação (6.5) não é
representativa do que em realidade acontece em uma bateria e, sendo assim, tem apenas um valor
didático. Para a obtenção da tensão de trabalho das baterias aplicou-se o modelo proposto por
Macomber (conforme citado em Wagner, 1991, mestrado www.solar.ufrgs.br) que desenvolveu
duas expressões que consideram a variação da resistência interna de um elemento de bateria com
o estado de carga.
Nos processos de descarga a expressão proposta é:
I desc arg a ⎛ 18,9 ⎞ (6.6)
Vmed = VCA − NV ⎜ + Ri ⎟
C ⎝ % EC ⎠

A constante 18,9 considera o aumento da resistência interna devido à formação de sulfato


de chumbo em ambas as placas. C é a capacidade total da bateria e %EC (varia entre 0 e 100)
representa o estado de carga. Ri é a resistência interna dada por:
Ri = 0,15 NV (1 − 0,02 (T − 25) ) (6.7)

sendo T a temperatura do lugar onde se encontra a bateria, e NV o número de vasos da bateria.


Durante a carga a expressão proposta é a seguinte:
I c arg a
⎛ 18,9 ⎞ (6.8)
Vmed = VCA + NV ⎜ + Ri ⎟
C ⎝ 114.2 − % EC ⎠

6.9
Macomber propõe um valor constante de VCA, mas e mais conveniente fazer este valor
variar em função do estado de carga, como se apresentou na Figura 6.7. Para baterias de
diferentes tensões o valor de VCA se pode tomar como base os valores da Figura 6.7 para 6 vasos,
e fazer a relação para um número de vasos diferentes.
Substituindo os valores de Idescarga e Icarga das equações (6.2) e (6.4) nas equações (6.6) e
(6.8), obtem-se que para carga:
I gerada − I consumida ⎛ 18,9 ⎞ (6.9)
Vmed = VCA + NV ⎜ + Ri ⎟
C ⎝ 114.2 − % EC ⎠

e para descarga
I consumida − I gerada ⎛ 18,9 ⎞ (6.10)
Vmed = VCA − NV ⎜ + Ri ⎟
C ⎝ % EC ⎠

Para o caso em que a bateria não esteja alimentando nenhuma carga, ou seja que esteja em
circuito aberto, a tensão de trabalho será igual a de repouso.
Vmed = VCA (6.11)

Este modelo é linear e assim não reflete o que acontece no começo da carga ou descarga
da bateria, o que para um modelo em base horária não tem um efeito considerável, tendo em
vista que a variação acentuada, nestes eventos, acontece em tempos bem menores que uma hora.
Também não se leva em conta o estado de sobrecarga.
Dados obtidos da aplicação deste modelo, para uma simulação anual que não apresenta falhas,
são apresentados na Figura 6.8, com as correspondentes energias consumidas , geradas e cortes
pelo uso de controlador de carga.

6.10
15 Tensão da bateria 250
14.5 Consumo 230
Energia dos panéis 210
14
190

Potencia (W e W/m²)
13.5 170
Tensão (V)

13 150
130
12.5
110
12 90
11.5 70
50
11
30
10.5 10
10 -10
1 48 95 142 189 236 283 330 377 424 471 518 565 612 659 706
Horas

Figura 6.8. Tensão obtida pelo modelo de Macomber nos terminais da bateria para o mês de junho na
cidade de Porto Alegre, para uma carga diária constante de 775 Wh/dia.

Este modelo possui sua fácil implementação computacional e bom comportamento no


acompanhamento da curva de carga e descarga da bateria. Outro modelo utilizado para simular o
comportamento das baterias de chumbo-ácido é o modelo apresentado por Copetti et ali (1993),
que reúne simplicidade e exatidão suficientes para representar o comportamento de baterias
estacionárias com carga e descarga em regimes constantes. Moura (1996), tomando como base o
trabalho de Copetti, desenvolveu um modelo com novos parâmetros para baterias automotivas,
mas ainda comprovado apenas em regimes de carga e descarga constantes. Uma comparação do
comportamento destes modelos é mostrada na Figura 6.9.

Figura 6.9 Curvas de descarga (a) e carga (b) com ajuste de modelos para
carga normalizada a 25ºC. (Moura, 1996-mestrado www.solar.ufrgs.br)

É importante ter em conta a correção (FC) da capacidade em função da taxa de descarga e


temperatura. Na legislação brasileira para baterias automotivas, a Associação Brasileira de

6.11
Normas Técnicas (ABNT, NBR 5376) estipula como capacidade real a capacidade em um
regime de descarga de 20 horas (C20)
Tendo em conta a o tempo de descarga e a capacidade da bateria dada pelo fabricante para
condições diferentes às estipuladas pela norma, pode-se determinar a taxa de descarga (Ii).

Capacidade( Ah) (6.12)


Ii =
Tempo de desca rga (h)

(6.13)
FC =
1,25
(1 + 0.07 ⋅ ΔT )
1 + 0,22 (I / I i )
0,9

onde a fração I / Ii faz referência à corrente de descarga relativa ao regime de descarga dado
pelo fabricante e a taxa de descarga real, e ΔT é o desvio da temperatura nominal de 25ºC. A
equação (6.13) é a sugerida por Moura e modificada para taxas de descarga diferente da
condição padrão. Para levar em conta estas variações com a temperatura se aceita a hipótese de
que a bateria esteja à temperatura ambiente.
A capacidade corrigida (C’) fica:
C’ = C. FC (6.14)

6.5 REGULADORES OU CONTROLADORES DE CARGA

A energia elétrica proveniente do gerador fotovoltaico alimenta o consumo e o excesso de


energia carrega o acumulador. Os reguladores são elementos essenciais nesta operação, pois
possibilitam a correta administração do fluxo de energia dentro do sistema, protegendo o
acumulador das situações extremas de funcionamento, independentemente do tamanho ou
configuração do sistema e das possíveis mudanças sazonais no perfil de consumo e na
temperatura, contribuindo para aumentar a vida útil das baterias. São conhecidos também como
Reguladores de Carga ou Reguladores de Tensão.
Alguns controladores monitoram o funcionamento do sistema fotovoltaico e acionam
alarmes se ocorrer algum problema. É possível também acoplar ao controlador um sensor de
temperatura para compensar a variação do valor dos parâmetros com a temperatura.

6.12
O controlador de carga deve permitir o ajuste dos seus parâmetros e a escolha do método
de controle para adaptá-los aos diferentes tipos de baterias.
No momento de especificar um controlador de carga, devem conhecer-se as características
da bateria e o regime operativo do sistema; depois, determinam-se a tensão e corrente de
funcionamento do sistema.
Os reguladores trabalham tomando como base os valores de tensão instantâneos nos
terminais da bateria. Os fabricantes fornecem geralmente os limites de aplicação do controlador,
como correntes de carga, temperaturas de operação, perdas, etc.
A tensão da bateria varia lentamente em função do estado de carga e com isto, se a
descarga da bateria deve ser limitada em uma determinada porcentagem, resultará difícil
determinar um único valor de tensão que represente este estado de carga. O fato será ainda mais
difícil se forem considerados os efeitos de envelhecimento, temperatura, etc. Variações bruscas
de corrente também produzem modificações na tensão da bateria, difíceis de prever.
Outro problema consiste em determinar o ajuste ideal do set point indicativo da tensão de
desconexão (LVD, low voltage disconection). Se o valor é fixado em uma pequena profundidade
de descarga, provavelmente a vida útil da bateria se prolongará, mas freqüentemente o
controlador poderá interromper a energia que alimenta a carga sem que seja realmente
necessário. No caso contrário, se aumentar a profundidade de descarga, poderá haver diminuição
da vida útil da bateria.
Os controladores de carga classificam-se em dois tipos fundamentais, em paralelo ou série.

6.5.1 Reguladores tipo paralelo

Os reguladores tipo paralelo (Figura 6.10) mantém constante a tensão da bateria no estado
final da carga. São conhecidos também como reguladores tipo shunt, e consistem em
dispositivos eletrônicos ou relés eletromecânicos que desligam ou reduzem o fluxo de corrente
para a bateria quando está totalmente carregada, com o qual uma fração da corrente gerada pelo
arranjo é desviada através de um dispositivo conectado em paralelo com a bateria, e assim só
uma pequena parte desta corrente continua carregando a bateria. Alguns também possuem um
interruptor que controla a descarga da bateria.
Interruptor para sub-descarga

6.13
Figura 6.10. Diagrama esquemático de um regulador tipo paralelo.

A quantidade de corrente a desviar depende do limite de tensão da bateria. O regulador


shunt se comporta como uma carga variável que faz manter constante o valor limite da tensão na
saída do arranjo. Os controladores shunt são geralmente projetados para aplicações com
correntes menores que 20 ampères.

6.5.2 Reguladores tipo série

Os reguladores tipo série (Figura 6.11) funcionam como um elemento de controle que
desconecta o arranjo fotovoltaico quando a bateria está completamente carregada (interruptor
série). Quando o estado de carga da bateria diminui, o regulador detecta e volta ao seu estado
ativo.

Interruptor serie Interruptor para sub-descarga

Figura 6.11. Diagrama esquemático de um regulador tipo série.

Um bom regulador em série torna desnecessária a instalação de diodos de bloqueio, já que


o interruptor série pode ser deixado aberto durante a noite, evitando as perdas da bateria durante
a noite. Este tipo de controladores produz uma queda de tensão da ordem de 0,3 volts.

6.5.3 Autorregulação
Como forma opcional de regulação, os próprios módulos podem ser utilizados como
dispositivo regulador, prescindindo de um dispositivo especial, o que simplificaria o desenho do
sistema. Os módulos, assim chamados módulos autorreguláveis, devem ser dimensionados com
um determinado número de células, por exemplo 30, de tal modo que a região sensitiva de tensão
dos módulos coincida com a região crítica das baterias, quando estão praticamente carregadas.
Em módulos com menor número de células, quando as baterias alcançam o estado de carga entre
90 e 100%, o ponto de trabalho do gerador se translada para além do joelho da sua curva
característica I-V e, em consequência, é gerada uma corrente cada vez menor, desta forma sendo

6.14
possível conseguir manter a carga idônea sem produzir evaporação. Este efeito pode ser mais
acentuado quando aumenta a temperatura, a qual diminui o valor da tensão de circuito aberto do
gerador. Na prática, seu funcionamento é influenciado pelas condições de temperatura, tamanho
da instalação, capacidade do acumulador, etc., que faz com que muitas vezes não funcione como
seria esperado.
O sistema de autorregulação pode ser o meio menos efetivo para extrair energia do
gerador fotovoltaico, já que as exigências de tensão das baterias forçam a operação do gerador a
maior porte do tempo longe do ponto de máxima potência.

6.5.4 Modelagem do controlador de carga

No programa de simulação, o regulador está dividido em dois elementos, ainda que na


realidade ambos estejam na mesma caixa: o regulador de carga e o regulador de descarga.
O regulador de carga está definido por duas tensões: VMc que desliga as baterias do painel
se a tensão delas resulta maior que este valor e Vmc que volta a ligá-las quando a tensão da
bateria é menor que este valor (Figura 6.12 (a)). Estas tensões podem ser fixas ou dependentes da
temperatura, sendo definida por:

VMc = P1 + P2 (T-25) e Vmc = P3 + P4 (T-25)


Conectado

Conectado

Carregando Descarregando
Es ta do do a c iona dor

Es ta do do a c iona dor
Desconectado

Desconectado

Vm c VM c Vm d VM d
Tens ã o da bate ria (V) Tens ã o da ba te ria (V)

(a) (b)
Figura 6.12. Representação das tensões de corte dos controladores de carga.
a) para carga b) para descarga.

onde os parâmetros P1, P2, P3, e P4 provêm dos bancos de dados ou são introduzidos pelo
usuário.

6.15
O regulador de descarga está também definido por Vmd que desliga as baterias do consumo
se a tensão delas é menor que este valor, e VMd que volta a ligá-la quando a tensão da bateria é
menor que este valor (Figura 6.12 (b)). Também as tensões poderão ser fixas ou dependentes da
temperatura, sendo definidas no programa de igual maneira que as equações do regulador de
carga.
Resulta conveniente a divisão do regulador de carga em dois componentes porque existem
reguladores que não proporcionam a proteção à descarga e o regulador de carga poderia ser
definido em um sistema como um elemento de proteção do inversor ou outro elemento do
sistema.

6.6 CONVERSORES CC/CC

No mundo das máquinas de corrente alternadas, os transformadores são os dispositivos


mais simples, robustos e confiáveis que existem. São empregados quando é necessário converter
os valores de tensão e corrente, associados a uma determinada potência, em outros de valor
distinto. A conversão é efetuada com rendimento muito elevado de forma que, desconsiderando-
se as perdas, se a tensão é aumentada, a corrente diminui na mesma proporção e vice-versa.
De certo modo, pode-se dizer que o conversor CC/CC é o equivalente em corrente
contínua aos transformadores. Entretanto, contrastando com a simplicidade destes, os
conversores CC/CC são equipamentos complexos, que funcionam convertendo a tensão contínua
em alternada e transformando-a novamente em contínua. Em sistemas fotovoltaicos são
empregados em algumas situações especiais, tais como seguidores do ponto de máxima potência,
ou quando a tensão de alimentação de um determinado equipamento é diferente da tensão do
sistema.
O conversor CC/CC pode ser redutor ou elevador de tensão dependendo se a tensão de
saída é menor ou maior que a de entrada.

Figura 6.13– Diagrama de blocos de um conversor CC/CC

6.16
6.6.1 Seguidores do ponto de máxima potência

Em sistemas em que o gerador fotovoltaico é conectado diretamente à carga, por exemplo


os sistemas de bombeamento de água, o ponto de trabalho (intersecção das característica I-V do
gerador e da carga) dificilmente coincidirá com o ponto de máxima potência dos painéis, o que
implica em sub-utilização dos painéis fotovoltaicos. Para evitar estas perdas, podem ser
utilizados conversores CC/CC entre o gerador e a carga, os quais convertem a potência de
entrada (Pe=Ve.Ie) a uma potência de saída (Ps=Vs.Is) num nível de tensão adequado. Estes
conversores são conhecidos como seguidores do ponto de máxima potência (MPPT).

Figura 6.14– Conversor CC/CC como seguidor do ponto de máxima potência (MPPT)

Como se observa na Figura 6.14, a tensão na entrada Ve ou na saída Vs é medida pelo


sistema de controle. Se esta tensão se desvia do valor ótimo, o fator de transformação k do
conversor CC/CC será ajustado pelo sistema de controle. Para um conversor ideal:
Vs/Ve = k
Is/Ie = 1/k
O princípio de funcionamento do conversor ideal é mostrado na Figura 6.15.
Considerando uma carga resistiva, a figura mostra os diferentes pontos de trabalho que operam
no ponto de trabalho T1. Como se pode observar, a potência correspondente P1 é notavelmente
inferior à máxima que pode proporcionar o gerador (ponto T2) o qual, portanto, estaria
subutilizado. Com o conversor, o ponto de operação da carga desloca-se para T3, situado sobre a
curva isopotência P2, a qual intercepta o ponto de potência máxima (Pmax) do gerador.

6.17
Figura 6.15 – Princípio de funcionamento de um seguidor do ponto de máxima potência: pontos de
trabalho sem (T1) e com conversor (T2). As hipérboles (linhas tracejadas) são o lugar geométrico dos
pontos P=VI =constante

6.18
Como a curva I-V do gerador é variável em função da radiação e da temperatura dos
painéis, o fator k das equações deve ser continuamente adaptado.
A conveniência na utilização de seguidores do ponto de máxima potência limita-se aos
casos em que o ganho de energia na carga permita o retorno econômico do investimento. Há
algum tempo, em sistemas com baterias isto só era possível para aqueles com capacidade de
geração superiores a 10 ou 20 kWp e em sistemas para acionamento direto de motores, este
limiar situava-se em torno de 1 kWp, mas com novos sistema eletrônicos mais baratos estes
limites estão diminuindo.

6.6.2 Conversores CC/CC para cargas de diferentes tensões de funcionamento

Existem algumas aplicações nas quais é preciso alimentar várias cargas e ocorra a não
coincidência das tensões de funcionamento do equipamento e do sistema. Nestes casos o uso de
um conversor CC/CC pode ser indicado. Tomar tensões parciais do grupo de baterias não seria
conveniente, pois a circulação de corrente entre seus elementos encurtaria a vida útil das
mesmas. O conversor CC/CC transformaria a tensão contínua em tensão alternada, mediante um
inversor, e logo a tensão seria elevada ou reduzida através de um transformador até o valor
adequado, para então ser convertida em contínua. Na Figura 6.16 pode-se observar um sistema
fotovoltaico a 24 V com uma saída de 12 V.
O uso de conversores CC/CC permite que a descarga das baterias se realize por igual e
também que se consiga uma tensão totalmente estável no equipamento a ser alimentado.

Figura 6.16– Conversor CC/CC no circuito fotovoltaico

6.19
7. INVERSORES OU CONVERSORES CC/CA

Eventualmente as cargas de uma instalação fotovoltaica trabalham em corrente alternada, e


por isso deve-se incluir um dispositivo que converta a corrente contínua (CC) que sai do painel
ou bateria em corrente alternada (CA), tarefa realizada por um inversor.
Os inversores operam comumente com tensões de entrada de 12, 24, 48 e 120 volts em CC
entregando na saída tensões da ordem de 120 ou 240 volts em CA.
Existem comumente dois tipos de inversores: os estáticos (estado sólido) e os
eletromecânicos (rotativos). Os conversores rotativos, para a mesma potência de saída, não são
tão eficientes como os inversores eletrônicos, e as partes móveis necessitam de manutenção
periódica; atualmente é rara sua utilização em sistemas fotovoltaicos.
O inversor estático utiliza dispositivos semicondutores que comutam a entrada CC,
produzindo uma saída CA de freqüência determinada.
Para aplicações de baixa potência (até 5 kW) geralmente usam-se inversores monofásicos e
para potências maiores recomendam-se inversores trifásicos. A escolha de um inversor é uma
questão importante, pois tem relação com o desempenho, confiabilidade e custo do sistema
fotovoltaico. Deve-se ter em conta que os inversores acrescentam complexidade ao sistema, mas
podem facilitar a instalação elétrica e permitem o funcionamento de aparelhos elétricos
convencionais: televisores, geladeiras, vídeos, eletrodomésticos, etc.
Nos sistemas de maior potência, maior será a vantagem de usar inversores, pelo fato de que
esta opção diminui a seção dos cabos para a ligação de cargas a distâncias longas. Isto acontece
uma vez que nos circuitos de CA as tensões de operação são mais elevadas e conseqüentemente
com correntes menores.

7.1 CARACTERÍSTICAS DOS INVERSORES

Critérios de Qualidade para um Inversor


Os inversores devem ser robustos e confiáveis. Isto não apenas aplica-se ao inversor, é
extensivo para os dispositivos elétricos que atuam como cargas. Considerando isto, inversores
com onda de tipo senoidal pura com a baixa distorção harmônica total é, geralmente, a melhor
opção, garantindo um bom funcionamento com segurança e eficiência, evitando uma possível
redução na vida útil das cargas.
Embora inversores com onda de tipo retangular, quadrada, ou onda senoidal modificada
raramente são utilizados em SFA, alguns fabricantes ainda oferecem estes dispositivos
procurando os clientes que buscam uma solução mais barata, e onde não seja realmente
necessária uma onda tipo senoidal (cargas resistivas). Para construir inversores com onda
senoidal é comum utilizar a tecnologia PWM, que utiliza dispositivos eletrônicos que trabalham
modulando a largura de pulsos de uma onda quadrada obtendo assim uma seqüência que
reproduz o perfil de tensões de uma onda senoidal com pequena distorção (Figura 7.1(b)). A
forma da onda geralmente é uma indicação da qualidade e custo do inversor. Ela depende do
método de conversão e filtragem utilizado para eliminar os harmônicos indesejáveis resultantes
da conversão.
Outro aspecto importante que determina a qualidade dos inversores é a eficiência de
conversão. Nos inversores a eficiência não é constante e seu valor depende da potência extraída
pelos artefatos de consumo (carga). Muitos fabricantes confundem seus clientes anunciando a
eficiência na carga nominal ou na máxima eficiência, mas esconde o fato que sob cargas de baixa
potência seus dispositivos apresentam eficiências baixas. Inversores para SFA devem possuir
uma eficiência de pelo menos de 95 % quando submetido a uma demanda igual a sua potência
nominal, como também para demandas de potência baixas. Para os usuários de sistemas com
necessidades variáveis de potência, altas eficiências em baixas potências são importantes.

200 Onda Senoidal 200 Onda Senoidal


Onda Quadrada PWM
Onda Retangular

100 100
Tensão (V)

Tensão (V)

0 0

-100 -100

-200 -200
0 4 8 12 16 20 0 4 8 12 16 20
Tempo (m s) Tem po (ms)
(a) (b)

Figura 7.1. Tipos de onda de saída de conversores CC/CA. (a) Onda quadrada, retangular e
senoidal, (b) Onda senoidal e ajuste através de PWM.

Outro parâmetro importante a ser considerado é a potência que o dispositivo demanda em


condições de standby. A economia de energia em standby pode, no momento de dimensionar o
projeto, reduzir a capacidade de geração do arranjo fotovoltaico, com a conseqüente redução de
custo de vida do sistema. Alguns inversores também integram um controlador de carga que
protege a bateria das prejudiciais sobrecargas o sobredescargas.
Todo inversor deve tolerar quedas de tensão provisórias abaixo das tensões mínimas.
Estas condições ocorrem quando correntes de alta intensidade são demandadas
instantaneamente, como quando aparelhos com motores elétricos exigem uma corrente elevada
em curtos períodos de tempo antes de entrar em regime nominal de trabalho. Alguns dos
modelos podem tolerar correntes instantâneas até 3,5 vezes mais altas que a nominal. A
tendência do mercado é que inversores com potências nominais acima de 1500 W são projetados
para trabalhar em SFA possuam iguais características que os inversores para SFCR, incluindo a
monitoração do sistema, datalogger, MPPT e gerenciamento inteligente da demanda. Os
inversores menores ainda são relativamente simples. A razão é que o mercado de pequeno-porte
é o segmento com a maior quantidade de concorrentes. Desta forma, o preço é a arma principal
das companhias que lutam por clientes. A maioria dos inversores no mercado, por razões de
segurança, possuem uma isolação galvânica entre a bateria e a saída em CA. Sem isolação
galvânica, nos pólos da bateria poderia ter-se o mesmo potencial que na saída do inversor. Esta
isolação é realizada através de um transformador, que em alguns casos utiliza uma baixa
freqüência (BF) de transformação ou uma alta freqüência (AF). Inversores que funcionam
utilizando BF custam geralmente mais porque precisam mais ferro no núcleo do transformador e
mais cobre nos enrolamentos, mas geram um sinal de saída mais estável e uniforme, melhorando
a reprodução da onda senoidal.
A tensão de entrada de inversores varia desde 12 V até 360 V e suas tensões de saídas
podem ser 120V, 240V ou 380 V, tanto em uma como em três fases. Em alguns casos estes
dispositivos possuem também a opção de trabalhar como controlador de carga e MPPT.
Para especificar um inversor, é preciso considerar a tensão de entrada CC e a tensão de
saída CA; também se deve ter em conta as exigências da carga ao inversor, em função da
potência, variação de tensão, freqüência e forma de onda. Outras características a considerar-se
nas especificações de um inversor são as seguintes:
Forma de onda, geralmente indica o tipo de inversor segundo as características da tensão
CA produzida. As formas de onda mais comuns são a quadrada, a quadrada modificada ou
retangular e a senoidal.

Eficiência na conversão de potência, entendendo-se eficiência como a relação entre a


potência de saída e a potência de entrada do inversor. A eficiência de inversores varia com o tipo
de carga. Em cada caso, deve-se verificar se o equipamento utilizado para a medição é o
adequado, já que a forma da onda pode gerar erros nas medições. A eficiência dos inversores
varia geralmente de 50 a 95 %, tendendo a diminuir quando estão funcionando abaixo da sua
potência nominal.
Potência nominal de saída: indica a potência que o inversor pode prover à carga. Um
inversor deve ser especificado para fornecer uma potência superior às necessidades máximas das
cargas, a fim de ter em conta um aumento da potência solicitada. Porém, para otimizar a
eficiência de operação é recomendável escolher uma potência nominal que seja próxima à
potência total necessária para alimentar as cargas, mas segundo os inversores testados por Couto,
2000, e apresentados na Figura 7.2, a maioria deles apresentam características inferiores às que o
fabricante anuncia.

Tabel 7.1. Características dos inversores apresentados na Figura 7.2

Código do Inversor e Pot. Nominal


Forma de Onda (W)
AC-200 (Retangular) 200
MS-300 (Quadrada) 300
MT-1200 (Quadrada) 1200 (VA)
SM-500 (Quadrada) 500
SE-600 (Senoidal) 600
100
90

80
70

Rendimentto (%)
60

50
MT -300
40
AC-200
30
SM-500
20 MT -1200
10 SE-600

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Pot. de Saída / Pot. Máx. (%)

Figura 7.2. Curvas de eficiência para inversores de diferentes tipos de onda


com carga resistiva (Couto, 2000- mestrado www.solar.ufrgs.br).

Taxa de utilização: é o número de horas que o inversor poderá fornecer energia operando
com potência máxima; às vezes, se o inversor exceder este valor, produzir-se-ão falhas no
sistema.

Tensão de entrada: é função da potência nominal fornecida pelo inversor às cargas CA.
Geralmente, a tensão nominal de entrada do inversor aumenta com o aumento da demanda de
carga. A tensão de entrada CC pode ser abastecida por baterias, que deverão ser compatíveis
com os requisitos de entrada do inversor. Se a bateria se descarrega e a tensão diminui abaixo do
valor mínimo especificado, alguns inversores desligam-se automaticamente.

Tensão de saída é regulada na maioria dos inversores, e sua escolha depende da tensão de
funcionamento das cargas.

Regulação de tensão indica a variação de amplitude permitida na tensão de saída. Os


melhores inversores terão uma tensão de saída praticamente constante para uma ampla faixa de
cargas.

Freqüência do sinal de saída: os aparelhos são fabricados para operar em uma


determinada freqüência, que é geralmente 60 ou 50 Hz.
Os SFA com inversores são certamente mais caros, mas tornam possível a utilização
de uma variedade maior de dispositivos elétricos. Em países desenvolvidos, como os EUA,
Europa, ou Austrália, sistemas com alimentação em CA têm-se tornado há muito tempo o tipo de
instalação padrão para aplicações autônomas. Atualmente os países em desenvolvimento estão
seguindo o mesmo caminho para a consolidação de projetos de eletrificação rural. No Brasil, o
governo impulsionou um ambicioso programa de eletrificação, “Luz para Todos” (2007) que tem
como objetivo instalar aproximadamente 120.000 SFA na Região Amazônica e todos os sistemas
serão equipados com inversores.
Os SFA, que antigamente só forneciam energia para pequenos consumidores, estão
transformando seu perfil e fornecendo energia para instalações que demandam consumos
maiores, como em hospitais em locais remotos, para o funcionamento de máquinas de pequeno
porte, assim como para sua instalação em mini-redes, sendo necessário inversores que forneçam
potências elevadas.

Modelo matemático do Inversor

Os modelos de inversores procuram representar através de uma equação matemática


a potência de saída em função da potência de entrada, para poder prever o rendimento do
inversor em função da carga. Em geral, trata-se de modelos matemáticos que procuram associar
seus parâmetros com as diferentes perdas de potência que ocorrem no inversor.
O inversor tem influência notável no rendimento e confiabilidade do sistema
fotovoltaico, além de aumentar seu preço. Pode gerar interferências eletromagnéticas e distorção
harmônica no sinal alternado. Entre os fatores que podem afetar o rendimento do inversor em
instalações fotovoltaicas se destacam o tipo de consumo, o perfil das cargas e a temperatura de
trabalho.
Nos sistemas fotovoltaicos autônomos as cargas geralmente são variáveis
apresentando potências instantâneas de valores longe da potência nominal do inversor. Além
disso, algumas cargas podem ter baixos valores do fator de potência (com elevado componente
reativo), o que diminui notavelmente o rendimento do inversor.
Outro fator importante é a variação da tensão de entrada do inversor. Em instalações
fotovoltaicas autônomas, os inversores estão alimentados por baterias cuja tensão varia segundo
o estado de carga, a temperatura e o regime de corrente de descarga, que pode ser
significativamente diferente e agravar também o rendimento do inversor.
Modelos Polinomiais

Os primeiros modelos matemáticos para inversores eram modelos polinomiais,


representados por equações do 2º ou 3º graus, para a potência de saída (Psaída) do inversor em
função da potência de entrada (Pentr).

Psaida ═ C0 + C1 Pentr. + C2 Pentr.2 (7.1)

O modelo da Eq. (7.1) representa o comportamento do inversor, bastando ajustar os


parâmetros C0, C1 e C2 para cada inversor, sem considerar os processos que ocorrem.
O modelo proposto por Jantsch (1992) para calcular a eficiência foi adotado neste
trabalho, e também é uma equação de segundo grau, mas está escrita de maneira normalizada
com relação à potência nominal do inversor.

P' saída
η inv = (7.2)
K 0 + K 1 P' saída + K 2 P ' saída
2

Psaída
P' saída = (7.3)
Pnom

onde Pnom é a potência nominal do inversor, o termo K0 representa o autoconsumo, as quedas de


tensão estão representadas por K1 e as quedas ôhmicas estão representadas por K2. Com a
variação dos parâmetros K se obtém o perfil que apresentam deferentes tipos de inversores. Na
Figura 7.3 apresenta-se o formato da curva de eficiência de um inversor com as respectivas
variações em seu perfil, em função dos valores de Ki adotados.
Os valores de K estão vinculados com a eficiência do inversor para 10, 50 e 100% da
capacidade nominal, com os valores de eficiência para estes pontos se consegue um ajuste dos
valores de Ki. K0 faz variar o formato da curva na zona do joelho, K1 faz variar o formato da
curva em sua altura e K2 faz variar o formato da curva na zona final da curva.
Existem outros modelos, como o apresentado por Keating (1991), que propõe obter a
eficiência do inversor através da interpolação de dados experimentais em uma ampla faixa de
potências. Chivelet (1994) propõe um modelo de inversor baseado em um circuito equivalente.
Este modelo considera também o efeito que as cargas reativas produzem sobre a curva de
eficiência (Figura 7.4).
100
90
K0 K1 K2
80
70
Eficiencia%
60
50
40
30
20
10
-
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
P'saida/Pnom

Figura 7.3. Curva de eficiência do inversor.

Figura 7.4. Curva de rendimento em função da potência alternada na saída para


diferentes fatores de potência

A Figura 7.47.4 foi obtida medindo um inversor fotovoltaico autônomo modelo S-


1200 fabricado por SOLENERSA com cargas reativas para diferentes fatores de potência, pode-
se observar a queda de eficiência pelos equipamentos de baixo fator de potência.
O efeito apresentado nos inversores, devido a cargas reativas, pode ser considerado
dentro do modelo polinomial afetando o valor de K2 por um coeficiente que diminua seu valor
em função da relação entre a componente ativa e reativa.
8. ARRANJOS E SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

8.1 PROTEÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS COM DIODOS

Quando se trabalha com sistemas fotovoltaicos de potências elevadas, faz-se necessário


associar módulos em série e em paralelo a fim de se conseguir valores de tensão e corrente
apropriados para a aplicação que se deseja. As diferenças entre as características elétricas e
possíveis sombreamentos de módulos podem ocasionar danos ao sistema devido ao aquecimento
indevido de células. Para evitar os problemas advindos destas situações indesejadas mas que
ocorrem ao longo da vida útil do sistema, deve-se acrescentar ao sistema dispositivos de
proteção, geralmente diodos, que são colocados em pontos estratégicos com o objetivo de evitar
o aparecimento de pontos quentes nos módulos com conseqüente perdas de potência.
Diodos de bloqueio são utilizados para este fim podendo, em determinados casos, serem
substituídos por fusíveis, conforme sugerido por Wiles e King, 1997.

8.1.1 Diodo de bypass

Em associações série de células fotovoltaicas (módulos), as mesmas estão sujeitas a


funcionarem como carga para as demais células. Neste caso, corre-se o risco de se ter uma tensão
negativa aplicada nos seus extremos que seja maior que a sua tensão de ruptura (breakdown),
ocasionando uma dissipação de potência exagerada sobre ela e, por conseqüência, provocando
um aquecimento que pode causar danos à célula. Esta situação ocorre devido à não identicidade
ou por sombreamento de células.
Conectando-se em anti-paralelo com os extremos das células um diodo conhecido como
diodo de bypass, nestas situações, o mesmo encontra-se diretamente polarizado e, portanto,
permitindo que por ele circule corrente. Assim sendo, a célula em questão não gera energia
elétrica, mas também não se comporta como carga para as demais células. Se a célula for
idêntica às demais e não estiver sombreada, o diodo bypass encontra-se reversamente polarizado,
não permitindo que por ele circule corrente. Este diodo bypass deve ser capaz de conduzir toda a
corrente gerada pela associação série e sua tensão limiar de condução deve ser a menor possível.
Na prática, não se colocam diodos bypass em paralelo com cada célula associada, mas
sim com grupos delas. A Figura 8.1 mostra como são ligados os diodos bypass em módulos
fotovoltaicos (associações de N células em série) disponíveis no mercado.
8.1
Figura 8.1- Ligações de diodos bypass em módulos fotovoltaicos

Em módulos fotovoltaicos com diodos bypass ligados de forma entrelaçada, se tem


disponível apenas um valor de tensão nominal para o módulo, por exemplo 12 V, e nos outros
módulos dois valores de tensão (6 V e 12 V).

8.1.2 Diodo de bloqueio

Sistemas fotovoltaicos constituídos por vários ramos em paralelo, ramos estes


constituídos por N módulos associados em série, podem ser protegidos contra correntes reversas
dos outros ramos através de diodos de bloqueio conectados em série em cada um dos ramos.
Essa corrente reversa é causada pela diferença de tensão dos ramos devido às situações
indesejadas já citadas anteriormente.
O ramo que apresenta uma menor tensão fica sujeito a funcionar como carga para os
demais ramos. Desta forma, parte ou toda a corrente gerada pelos ramos que apresentam maior
tensão fluirá pelo ramo de menor tensão, ocasionando um aquecimento neste último ramo e
perda de potência do sistema. O uso de diodos de bloqueio ligados em série com os módulos de
cada ramo, conforme é mostrado na Erro! Fonte de referência não encontrada., evita o
aparecimento de correntes reversas.

8.2
Figura 8.2 - Associação em paralelo de módulos fotovoltaicos com diodos de bloqueio

Os diodos de bloqueio ocasionam uma queda de tensão menor que 1 V (valor este que
depende do tipo de diodo utilizado), o que pode ser importante em sistemas de menor porte. Para
reduzir significativamente esta queda de tensão, pode-se substituir o diodo de bloqueio por
fusíveis. Com o fusível, as células do módulo do ramo de menor tensão não correm o risco de
serem danificadas mas não se evita a perda de potência do sistema visto que por este ramo
circulará uma corrente reversa.
Quando a energia elétrica do sistema fotovoltaico é armazenada em baterias, pode-se
utilizar um diodo de bloqueio com o seu cátodo ligado no terminal positivo do banco de baterias,
com o objetivo de não permitir a sua descarga em períodos de escuridão ou de baixa radiação
solar (células fotovoltaicas comportando-se como diodos polarizados diretamente). O
inconveniente desta solução é que se tem, nos períodos em que o sistema está gerando energia
elétrica, uma perda de potência que é dissipada no próprio diodo de bloqueio. Além disto, a
aplicação do diodo também é questionada, pois a queda de tensão que ele provoca durante o dia
proporciona uma perda de energia que pode ser, em determinados casos, maior que a perda de
energia durante a noite sem a sua presença.
Com o objetivo de minimizar estas perdas, podem-se utilizar diodos do tipo Schottky, os
quais apresentam uma queda de tensão, quando polarizados diretamente, na ordem de 0,2 V. Em
sistemas que operam com tensões superiores a 24 V, torna-se necessário utilizar diodos de
junção P-N que suportam tensões reversas maiores, embora provoquem uma perda de potência
maior, pois a queda de tensão quando em polarização direta é na ordem de 0,7 V (diodos de
silício).

8.1.3 Ligação de diodos de proteção em sistemas fotovoltaicos

8.3
A proteção de módulos fotovoltaicos que compõem um sistema faz-se preferencialmente
com o uso de diodos de bypass e de bloqueio, evitando assim o aparecimento de pontos
excessivamente quentes nos módulos, o que poderia vir a prejudicar o funcionamento do sistema.
Quando se tem módulos associados em série, a proteção é feita colocando-se em anti-
paralelo com cada módulo um diodo de bypass. Para módulos (ou fileiras de módulos)
associados em paralelo, liga-se em série com cada módulo (ou fileira) um diodo de bloqueio.
Em sistemas que utilizam um número maior de módulos, tendo-se associações em série e
em paralelo, a proteção dos módulos é conseguida utilizando-se, simultaneamente, os diodos de
bypass e de bloqueio.
A Figura 8.3 mostra como devem ser ligados os diodos de proteção em um sistema
composto por módulos ligados em série-paralelo.

Figura 8.3 – Associação em série-paralelo de módulos fotovoltaicos com diodos de proteção

8.2 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS AUTÔNOMOS


Os Sistemas fotovoltaicos autônomos (SFA) são aqueles não conectados à rede elétrica
de distribuição de energia. Eles são geralmente menores que os sistemas conectados à rede
elétrica (SFCR), e assim são comuns em áreas rurais. Os módulos fotovoltaicos são
frequentemente montados no solo uma vez que espaço não representa um empecilho. Pode-se
classificá-los em três tipos principais:
Sistemas em corrente contínua somente (Figura 8.4)
Sistemas fornecendo corrente alternada por meio de um inversor (Figura 8.5)
Sistemas híbridos: diesel, eólico ou hidrelétrico (Figura 8.6)
As principais aplicações são:
Eletrificação rural em países em desenvolvimento;
Pequenos sistemas de iluminação até sistemas de alimentação para hospitais e escolas;
8.4
Sistemas de telecomunicação isolados;
Sinais de trânsito e iluminação, onde a extensão da rede teria custos maiores;
Sistema de alimentação sobressalente;
Alimentação de habitações e construções em locais remotos;
Sistemas de bombeamento de água.

Figura 8.4 – Sistema fotovoltaico autônomo apenas em corrente contínua

Figura 8.5 – Sistema fotovoltaico autônomo com inversor

8.5
Nos sistemas fotovoltaicos autônomos (SFA) a energia flui desde a fonte (gerador FV)
até um conjunto de cargas (demanda) através da bateria (dispositivo de armazenamento). No
caso em que a fonte de energia não consiga suprir a carga demandada, a bateria é quem se
encarrega disto. A falta de simultaneidade entre demanda e geração implica a necessidade de
avaliar a melhor estratégia entre fornecimento e demanda de energia. Estes cálculos podem ser
realizados, estimativamente, através de métodos simples, ou existem programas computacionais
que apresentam estratégias para atingir este objetivo mediante diferentes metodologias. Para o
dimensionamento e a análise de sistemas fotovoltaicos, atualmente existe uma grande variedade
de softwares, que vão desde pacotes com cálculos simples até programas sofisticados de
simulação.

Figura 8.6 – Sistema híbrido fotovoltaico-eólico.


Notas: Dependendo da localização geográfica do sistema e do clima da região, as duas fontes podem ser
complementares, por exemplo, a energia pode ser fornecida em maior parte pela turbina eólica durante o
inverno, e pelos módulos fotovoltaicos no verão.

No momento de dimensionar um sistema fotovoltaico os principais parâmetros a serem


considerados são: o recurso energético disponível na região em questão e a demanda de energia
que deve ser alimentada com o sistema. Sendo assim, não apenas devem-se considerar os

8.6
componentes do sistema, mas também a radiação solar, a tensão da instalação e quantidade de
energia demandada ao longo do ano. Os sistemas fotovoltaicos autônomos são normalmente
compostos por três partes básicas: o gerador fotovoltaico, os elementos de condicionamento de
potência e proteção, e as baterias que armazenam a energia.
O sistema de geração é formado por módulos fotovoltaicos responsáveis pela conversão
de energia solar em energia elétrica. O subsistema de condicionamento e controle de potência
pode ser formado pelo controlador de carga, o inversor, e o seguidor do ponto de máxima
potência (MPPT), estes elementos são encarregados de controlar a energia enviada às cargas e ao
sistema de armazenamento. Este último é geralmente composto por baterias de chumbo ácido. A
existência ou não de algum destes elementos depende do tipo de sistema.

Os módulos em arranjos fotovoltaicos de sistemas autônomos são geralmente


configurados para fornecer tensão em corrente contínua de 12 V, 24 V e em sistemas maiores
48 V. Isto significa que os módulos são conectados em série para obter a tensão desejada.

13.2 Inversores para sistemas autônomos


Em sistemas fotovoltaicos autônomos, o armazenamento da energia é feito por meio de
baterias, e é possível utilizar esta energia em corrente contínua. A fim de ser capaz de utilizar a
tensão convencional em corrente alternada 127 / 220 V AC, utiliza-se um inversor que em alguns
casos pode possuir controlador de carga integrado. O objetivo dos inversores é possibilitar a
operção de um grande número de dispositivos, de ferramentas elétricas aparelhos domésticos e
eletrônicos.
Os seguintes requisistos são importantes em um inversor:
- Saída com tensão alternada senoidal constante e frequência estável;
- Elevada eficiência de conversão, mesmo em situação de demanda parcial
- Alta capacidade de resistir a sobrecargas na energização e partida de cargas
- Tolerância contra flutuação da tensão das baterias
- Modo de stand by econômico com detecção automática de carga
- Proteção contra curtos circuitos na saída
- Alta compatibilidade eletromagnética (boa supressão de interferência eletromagnética EMI)
- Baixo conteúdo de harmônicos
- Proteção contra sobretensões
- Operação bidirecional, isto é, conversão de AC para DC possível, permitindo a carga de
baterias a partir de geradores AC, se necessário.

8.7
Três tipos diferentes de inversores dominam o mercado:
1. Onda senoidal
Os requisitos para um bom inversor são melhores contemplados por este tipo. Estes
dispositivos trabalham com o princípio de modulação da largura de pulso (PWM) e são
adequados mesmo para equipamentos eletrônicos sensíveis. Comparados com inversores
de onda quadrada, possuem custo mais elevado como resultado da maior complexidade
dos circuitos.
2. Onda senoidal modificada
Atende uma grande parte dos requisitos necessários, mas não todos. Como a tecnologia
dos inversores de onda senoidal evolui muito, os principais fabricantes estão
descontinuando sua fabricação. Antes de utilizá-los, é conveniente verificar a
compatibilidade com as cargas utilizadas.
3. Inversor de onda quadrada
Os inversores de onda quadrada são muito comuns e baratos. A corrente alternada é
chaveada em 50 ou 60 Hz, com características de onda quadrada e elevada utilizando um
transformados para a tensão desejada, 127 ou 220 V. Normalmente são muito
ineficientes, inadequados para algumas cargas (motores por exemplo) e podem danificar
equipamentos sensíveis.

8.3 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ELÉTRICA

8.3.1 Introdução
Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) não utilizam armazenamento de
energia, pois toda a geração é entregue diretamente na rede. Este sistema representa uma fonte
complementar ao sistema elétrico de grande porte ao qual está conectado. Todo o arranjo é
conectado em inversores onde a saída é diretamente conectada na rede. Estes inversores devem
satisfazer as exigências de qualidade e segurança para que a rede não seja afetada.
Os SFCR podem ser montados em basicamente duas maneiras: instalados diretamente no
ponto de consumo do usuário final, tais como os instalados em telhados, ou como uma grande
central fotovoltaica. Os SFCR superaram os sistemas fotovoltaicos autônomos (SFA) como
maior setor no mercado global de energia fotovoltaica em 2000 (Solarbuzz, 2004a; IEA-PVPS,
2004a)
Uma típica instalação de SFCR está ilustrada de forma esquemática na Figura 8.7, para
ilustração dos componentes deste sistema. Esta figura não deve ser utilizada para o projeto de
8.8
uma instalação específica, os aspectos de dimensionamento são particulares para cada sistema,
mas dá um exemplo do diagrama de um sistema.
Os sistemas fotovoltaicos podem ser utilizados de diversas maneiras em uma construção:
1. Arquitetonicamente pode ser instalado para simultaneamente gerar eletricidade e servir
de telhado, janelas, paredes, etc
2. Gerenciamento da demanda em horários de pico durante o dia
3. Sistema suplementar para alimentar ventiladores, bombas e outros equipamentos
utilizados durante o dia como condicionadores de ar.

Figura 8.7– Exemplo de um SFCR

8.3.2 Opções de Instalação de Arranjos Fotovoltaicos

Há diversas maneiras de instalar um arranjo fotovoltaico em uma residência. A maioria


dos sistemas fotovoltaicos (SF) possui potência nas condições de teste padrão (Irradiância 1000
W/m2, Temperatura 25 °C e AM 1,5) entre 50 e 100 W para cada m2 de área de painel, variando
em função das tecnologias existentes e da eficiência dos diversos módulos fotovoltaicos
disponíveis no mercado. Para uma típica instalação de 2 kW será necessária uma área estimada

8.9
entre 20 e 40 m2. A Figura 8.8 fornece uma estimativa da área para a instalação de 1 kWp
levando em consideração diversos tipos de células. Deve-se levar em consideração uma área
extra para instalação e futura manutenção, o que pode aumentar em até 20% a área ocupada pela
instalação.

Material da célula Área estimada para 1 kWp


Silício monocristalino
7 - 9 m2

Silício multicristalino
8 - 11 m2

CIS (cobre – índio – selênio)


11 - 13 m2

TeCd – Telureto de Cádmio


14 -18 m2

Silício Amorfo
16 - 20 m2

Figura 8.8 – Áreas estimadas para a instalação de 1 kWp para células


fotovoltaicas de diferentes materiais

Os módulos podem ser instalados no solo, em postes, diretamente nas paredes da


edificação e em telhados. As diversas opções possuem características próprias que devem ser
consideradas no projeto.

8.3.2.1. Montagem no solo

Este tipo de montagem ilustrada na Figura 8.9 é a forma mais utilizada em grandes
instalações ocupando uma grande área livre. Possui uma estrutura mais robusta, facilidade de
acesso à manutenção e mínima influência do vento. Em áreas urbanas este tipo de instalação tem
8.10
como desvantagem a ocupação de áreas de solo, além de problemas com sombreamento devido a
elementos adjacentes do meio urbano tais como árvores e edificações.

Figura 8.9 – Instalação de sistema fotovoltaico no solo

8.3.2.2 Montagem em postes


Este tipo de montagem é muito utilizado para instalações pequenas, normalmente
autônomas, de até 1 ou 2 m2, pois a montagem pode tornar-se fácil e simples. Estruturas mais
robustas permitem a instalação de sistemas como ilustrado na Figura 8.10. O vento pode afetar a
estrutura que deve suportar os módulos e é fator importante a ser considerado no projeto.

Figura 8.10 – Sistema montado em poste com seguidor

8.3.2.3 Montagem no telhado da edificação


No meio urbano, este é normalmente o local mais conveniente e apropriado para a
instalação de arranjos fotovoltaicos. O arranjo deve ser instalado no telhado respeitando uma

8.11
distância de alguns centímetros entre o telhado e os módulos para permitir o resfriamento. Um
exemplo típico deste tipo de instalação está ilustrado na Figura 8.11.
Dependendo da inclinação do telhado a estrutura de suporte projetada deve ser construída
para adaptar o ângulo de inclinação dos painéis. Caso a estrutura do telhado não tenha condições
de suportar a carga extra, a adaptação pode ser trabalhosa e inviabilizar a instalação.
Considerações quanto à vedação do telhado nos pontos de apoio da estrutura são importantes
para não gerar infiltrações.

Figura 8.11 – Residência com instalação FV no telhado

8.3.2.4 Montagem em coberturas diversas


O arranjo fotovoltaico também pode ser instalado em telhados de estacionamentos, áreas
externas ou quiosques como ilustrado na Figura 8.12. Um fator importante que deve ser levado
em consideração é a estrutura da cobertura que irá suportar os módulos, pois tipicamente os
arranjos fotovoltaicos de silício cristalino possuem entre 10 e 20 kg por m2 , considerando o peso
dos módulos e os suportes necessários. Os catálogos dos fabricantes possuem os dados
dimensionais para utilizar no projeto da estrutura.
Este tipo de instalação tem a vantagem da facilidade do acesso para manutenção quando
comparado à instalação em alturas maiores. Questões estéticas devem ser consideradas no
projeto para a fiação elétrica que está na parte inferior dos módulos.

8.12
Figura 8.12 – Cobertura com arranjo FV instalado

8.3.2.5 Instalações integradas na edificação


Outro tipo de sistema que está em crescente aplicação, é a integração de sistemas
fotovoltaicos na edificação, sistema conhecido como BIPV (building integrated photovoltaics).
Os módulos podem ser integrados diretamente nas paredes, nas janelas ou no telhado da
edificação como pode ser observado na figura 8.13. Nos mercados onde a energia fotovoltaica
está mais difundida, já está disponível no mercado telhas e outros componentes para edificações
com módulos fotovoltaicos incorporados. Há também a opção da instalação de mantas flexíveis
com módulos de silício amorfo para serem incorporadas nos telhados.

Figura 8.13– Edificações com instalação FV integrada no telhado

8.3.3 Conceitos referentes a topologias de Sistemas Fotovoltaicos Conectadas à Rede


Atualmente existem essencialmente quatro topologias de inversores e configurações de
instalações, as quais oferecem boas soluções técnicas, levando em conta as condições locais
individuais [SMA Technologie AG, 2005].

8.13
O inversor central, ilustrado na Figura 8.14, evidencia um tipo de planta onde um único
inversor é instalado com vários painéis de módulos ou strings associados em paralelo e
conectados em sua entrada de corrente contínua, formando um gerador de alta potência (>10
kW). Os inversores centrais oferecem uma alta eficiência e também redução de gastos
específicos. A desvantagem está na adaptação de módulos com características diferentes ou com
defeitos, o que reduz o aproveitamento ótimo de cada painel, diminuindo a eficiência energética
do gerador. A confiabilidade está limitada pela dependência de um único inversor, onde em caso
de falhas do mesmo toda instalação fica comprometida [SMA Technologie AG, 2005].

Figura 8.14 – Inversor Central

O inversor string, ilustrado na Erro! Fonte de referência não encontrada.8.15 é


similar, em termos de campo fotovoltaico, ao inversor central, onde os strings se subdividem. No
entanto, cada string está ligado a um único inversor, e desta forma o mesmo opera em seu ponto
de máxima potência. Esta técnica reduz os acoplamentos defeituosos, diminui as perdas
ocasionadas por sombreamentos e evita as perdas nos diodos de bloqueio. Estas qualidades
técnicas conduzem a uma solução de custo reduzido e aumento de eficiência energética da
instalação, assim como da confiabilidade da mesma [SMA Technologie AG, 2005].

Figura 8.15 – Inversor string

8.14
O inversor multi-string, ilustrado na Erro! Fonte de referência não encontrada.8.16,
permite a conexão de vários strings ou painéis, os quais funcionam no ponto de máxima potência
por meio de um conversor CC/CC em um elemento inversor de corrente contínua em corrente
alternada conectado à rede elétrica. Está técnica utiliza todas as vantagens das demais e pode
funcionar com ótimo rendimento energético. instalações deste tipo estão na faixa de potência
média de 3 até 10 kW [SMA Technologie AG, 2005].
O inversor com módulo integrado, visto na Erro! Fonte de referência não
encontrada.8.17, recebe em sua entrada um único módulo. Esta configuração não produz
nenhum tipo de perda por adaptação e é empregada em baixas potências, de 50 até 400 W. No
entanto, a eficiência deste inversor é menor do que a eficiência do inversor string. Também esta
topologia necessita de cabos maiores na conexão com a rede elétrica, uma vez que os mesmos
são ligados diretamente a ela [SMA Technologie AG, 2005].

Figura 8.16 – Inversor multistring

8.15
Figura 8.17 – Módulos com inversores integrados ou módulos CA

8.3.4 Segurança em SFCR


Diversas questões de segurança são comuns quando se refere aos SFCR, sejam sistemas
integrados à edificação (BIPV), sistemas instalados na edificação ou centrais fotovoltaicas
conectadas à rede.
Os aspectos de segurança que devem ser considerados incluem resistência a incêndio,
correto dimensionamento da fiação, aterramento e segurança contra condições climáticas,
particularmente o vento. A simples desconexão de arranjos com elevadas tensões DC
(tipicamente acima de 200 V) das cargas ou inversores não as torna seguras, uma vez que
permanecem energizadas sempre que estiverem iluminadas. A proteção do lado DC é um assunto
ainda controverso e as normas variam entre os países. Arranjos e inversores sem aterramento
(flutuantes) são comumente utilizados na Europa, porém o aterramento é mandatório nos Estados
Unidos.

8.3.4.1 Islanding
Os SFCR poderiam operar continuamente quando a rede é desligada, e este fenômeno é
conhecido como islanding. Enquanto este fenômeno pode parecer uma vantagem em áreas onde
a confiabilidade da rede elétrica é baixa, ele gera um problema sério para as equipes de
manutenção de linhas de transmissão, que podem ser surpreendidas com uma linha energizada
durante o trabalho. Além disto, se a rede é reconectada durante o fenômeno, isto é, quando o
SFCR estava funcionando, sobrecorrentes transientes podem ocorrer afetando o inversor.
Há duas maneiras básicas para controlar o fenômeno de islanding, via inversor ou via
rede de distribuição. A técnica que utiliza o inversor envolve a detecção de variação da tensão e
frequência da rede ou aumento de componentes harmônicos ou ainda monitorando a impedância
da rede. O código da Alemanha para sistemas monofásicos menores que 5 kW recomenda dois
mecanismos independentes, um deles com uma chave mecânica, como um relé, empenhado em
monitorar a impedância da rede e a frequência.
Enquanto a capacidade instalada de SFCR for pequena, o problema é melhor gerenciado,
porém com uma alta participação de SFCR no futuro, um método de proteção ativo poderá ser
necessário, uma vez que métodos passivos não são efetivos para manter condições da rede
perfeitamente balanceadas. Problemas podem potencialmente surgir se um grande número de
inversores em uma seção da rede interferirem-se mutuamente no momento de medir as condições

8.16
da rede. A legislação anti-islanding de cada país especificamente devem ser consultadas na hora
de projetar sistemas.
A proteção pode ser feita com um dispositivo de chaveamento eletromecânico, ou com
uma isolação galvânica (um transformador, por exemplo) caso o inversor tenha um sistema que
não possa fornecer energia a uma rede não energizada. Chaves semicondutoras podem ser
aceitáveis em casos onde haja isolação galvânica. Proteção anti-islandind passiva e ativa são
necessárias para prevenir a situação onde o fenômeno pode ocorrer devido a diversos inversores
fornecendo tensão um para o outro. A desconexão deve ocorrer em até 2 s (dependendo da
legislação) a partir do início da condição de islanding.

8.17

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