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PANORAMA DA DESERTIFICAÇÃO NO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Natal – RN
Outubro de 2005
2

Ministério do Meio Ambiente


Fundo Nacional do Meio Ambiente

Governo do Estado do Rio Grande do Norte


Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos – SERHID
Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente – IDEMA

Fundação Grupo Esquel Brasil


Articulação do Semi-Árido – ASA
Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE
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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE


Secretaria de Recursos Hídricos

PANORAMA DA DESERTIFICAÇÃO NO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Natal – RN
Outubro de 2005
4

Coordenação Técnica

Ponto Focal Governamental


Vera Lúcia Lopes de Castro

Ponto Focal Não-Governamental


Emídio Gonçalves de Medeiros

Ponto Focal Parlamentar


Fernando Mineiro

Consultor /Colaborador

Ione Rodrigues Diniz Morais (Consultora)


Elisângelo Fernandes da Silva (Colaborador)
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SUMÁRIO

1 ANTECEDENTES 2
2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO 14
3 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE 18
3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense 18
3.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte 32
3.2.1 Características 33
3.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação 44
3.2.2.1 Áreas Semi-áridas 46
3.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó 48
3.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas 52
3.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas 53
4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS
PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO. 55
5. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS
COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL. 62
REFERÊNCIAS 70
ANEXOS 73
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1 ANTECEDENTES

A segunda metade do século XX e o limiar do século XXI foram marcados por um elevado
estágio de desenvolvimento científico-tecnológico, ampliando-se os horizontes da criação, inovação e
reinvenção do saber-fazer humano. Nesta fase, também foram dilatados o nível e a natureza das ações e
intervenções humanas sobre o meio ambiente, de modo que a exploração dos recursos naturais passou a
registrar maior produção/produtividade, traduzindo-se em maior pressão sobre os mesmos. Assim, a
ampliação de possibilidades criadas pelo meio técnico-científico-informacional é contemporânea à
elevação da magnitude dos problemas enfrentados pela humanidade.
Neste contexto, as relações entre os homens e entre estes e a natureza têm sido presididas
por uma racionalidade economicista, manifestando-se na exploração social (dos homens entre si) e
ambiental (homem x meio ambiente). Em conseqüência, expande-se a degradação social, transformando
pessoas em farrapos humanos, cuja existência se constitui um grosseiro simulacro da vida. A
espacialização deste processo assume a forma de degradação ambiental, cuja feição mais intensa é a
desertificação. Este fenômeno que se revela no desgaste dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação,
da biodiversidade, por conseguinte, da própria qualidade de vida, manifesta-se sobretudo nas regiões
áridas e semi-áridas da Terra. Sobrepondo-se os indicadores sociais a estes recortes, constata-se que
neles há uma expressiva concentração de pobreza e miséria, cujas razões não se fundam em fenômenos
naturais, mas na trajetória histórica. “São mais de 1 bilhão de pessoas vivendo nas terras secas e
utilizando, em termos gerais, sistemas produtivos de baixo nível tecnológico e totalmente
descapitalizados” (PERNAMBUCO, 2001, p. 9), procurando sugar os escassos recursos na luta para
subsistir.
Nos últimos decênios, a expansão e os impactos da desertificação despertaram a
comunidade científica para a necessidade de se aprofundar os estudos sobre o tema e de formular
políticas que tenham como objetivo atuar sobre os agentes desencadeadores e/ou minimizar seus
efeitos.
As preocupações com a desertificação adquiriram proeminência, na década de 1930, em
função da intensa degradação dos solos verificada no meio-oeste americano, conhecida como “Dust
Bowl”, que atingiu uma área de 380.000 km². A ocorrência deste fenômeno motivou os cientistas a
desenvolverem estudos e pesquisas neste campo e a identificarem tal processo como sendo o da
desertificação.
Contudo, foi nos anos de 1970, quando o Sahel africano – região semi-árida abaixo do
deserto do Saara - vivenciou uma grande seca resultando, entre outras conseqüências, na dizimação de
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mais de 500.000 pessoas de fome, que a problemática repercutiu mundialmente (MMA, [199-], p. 2-3).
As precárias e dramáticas situações de vida da população africana, enredadas em secas, fome e guerras,
já vinham chamando a atenção da comunidade internacional desde a década de 1960. Intensos
movimentos migratórios e uma acentuada devastação ambiental pontilhavam o território africano,
especialmente o Sahel, e sinalizavam para a conformação de um quadro sócio-ambiental resultante da
associação entre pobreza, fome e destruição dos recursos naturais vitais como água, vegetação e solo.
A leitura deste processo conduziu à interpretação de que se tratava do fenômeno da desertificação, cuja
face ambiental manifestava-se pela destruição dos recursos naturais; a face econômica revelava-se pela
redução da produção e da produtividade agrícola e a face social mostrava-se através do
empobrecimento da população, expresso no aumento das epidemias e das taxas de mortalidade infantil.
Desta constatação inicial, a comunidade internacional construiu um outro entendimento: o de que o
fenômeno em pauta não se restringia à África, aparecendo nos demais continentes, mais especificamente
nas regiões sob climas áridos e semi-áridos - sujeitos à seca. Neste sentido, a desertificação passou a ser
considerada um problema de escala global e, como tal, tornou-se um tema recorrente na agenda das
organizações internacionais.
Neste cenário, as Nações Unidas patrocinaram as iniciativas primeiras e de maior
envergadura. Sob seus auspícios, em 1972, na Suécia (Estocolmo), foi realizada a Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente Humano, sendo abordada a catástrofe africana decorrente da seca
(1967-1970) e dos problemas de desertificação. As proporções que a problemática assumiu foram
fundamentais para que, nesta Conferência, fosse decidida a realização de um outro evento específico
para abordar a desertificação.
Este ocorreu em 1977, no Quênia (Nairóbi), sob o título de Conferência das Nações Unidas
sobre Desertificação, e resultou “na consolidação do tema a nível mundial”, sendo incluídas no cenário
das discussões as regiões áridas e semi-áridas da Terra e questões pertinentes à relação entre pobreza e
meio ambiente, além da decisão de se elaborar o Plano de Ação Mundial contra a Desertificação
(MMA, [199-], p. 14-15).
Na seqüência dos eventos internacionais com repercussões sobre desertificação, sagrou-se a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Brasil, na
cidade do Rio de Janeiro, em 1992. A Rio 92 ou ECO 92, como ficou conhecida, representou um
marco nas discussões e ações sobre o tema, tendo em vista a consolidação e aprovação de cinco
documentos relacionados ao ambiente: Carta da Terra, Convenção do Clima, Convenção da
Biodiversidade, Declaração de Princípios sobre Florestas e Agenda 21. Este último é considerado por
muitos ambientalistas como o principal documento assinado pelas autoridades mundiais nesse evento e
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conforme registra textualmente “está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo,
ainda, de preparar o mundo para os desafios do próximo século”.
Na Agenda 21, em seu Capítulo 12 (1997, p. 183), encontra-se sistematizada uma definição
para o termo desertificação, assim expressa: “a desertificação é a degradação do solo em áreas áridas,
semi-áridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de
atividades humanas”. A degradação da terra é entendida como correspondente à degradação dos solos,
dos recursos hídricos, da vegetação e da biodiversidade, significando, por fim, a redução da qualidade
de vida das populações afetadas (MMA, 2004, p. 4). Como resultado da implementação da Agenda 21,
merece ser ressaltada a sistematização e aprovação da “Convenção das Nações Unidas para o Combate
à Desertificação nos países que sofrem seca grave e/ou desertificação, particularmente na África”-
CCD, em vigor desde 26 de dezembro de 1996, que representa um progresso em termos de
enfrentamento do problema em níveis nacionais e internacionais.
Tecida no âmbito do entrelaçamento de fatores naturais e ações antrópicas, a desertificação
alastrou-se pelo mundo atingindo cerca de um sexto da população, 70% das terras secas e um quarto da
área do planeta (Agenda 21, 1997, p. 183). Considerando a dimensão e a extensão deste fenômeno é
possível admitir que a sociedade atual vive um momento de extrema periculosidade, posto que o
crescimento demográfico, embora desacelerado, ainda é positivo e se traduz em maior pressão sobre os
recursos naturais.
Embora se tenha conhecimento de que a apropriação das terras pelo homem é um processo
secular, é reconhecível que, na segunda metade do século XX, em decorrência de uma série de fatores
sociais, econômicos, políticos e culturais, a sociedade passou a intervir com maior avidez sobre a
natureza e a exigir vorazmente dos recursos naturais, em muitos casos levando-os à ameaça de
exaustão.
No Brasil, a trajetória da desertificação seguiu basicamente os (des)caminhos trilhados pelo
processo em nível mundial. As referências a uma preocupação com a destruição das matas, remontam
ao século XVIII, mais precisamente ao “ano de 1726, quando o governo colonial criou o cargo de juiz
conservador de matas”, com o objetivo de coibir as ações indiscretas e desordenadas que assolavam as
matas (VILLA, 2000, p. 65 apud MEDEIROS, 2004, p. 22). Fragmento textual extraído de um
discurso proferido por José Bonifácio, na Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império, em
1823, expressa o quão antigo é o problema da degradação no Brasil: “[...] nossas preciosas matas vão
desapparecendo, victimas do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo; nossos montes
e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes, que
favoreção a vegetação, alimentam nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil em menos de
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dois séculos ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Lybia” (BRITO, 1987, p. 57 apud
MEDEIROS, 2004, p. 23).
No decorrer do século XX, importantes contribuições foram dadas por estudiosos como
Phillip Luetzelburg, José Guimarães Duque, Thomas Pompeu de Souza Brasil, Thomas Pompeu de
Souza Brasil Filho, Thomas Pompeu Sobrinho, Carlos Bastos Tigre, Dárdano de Andrade Lima e Lauro
Xavier (MMA, 2004, p. 52). Além destes, há ainda estudos produzidos por Aziz Ab’Saber, Edmon
Nimer, Phillip M. Fearnside, Luciano José de Oliveira Acciolly, Magda Adelaide Lombardo, Alexandre
José Rego P. de Araújo, José Bueno Conti, Benedito Vasconcelos Mendes, entre outros.
Dentre os estudiosos do tema desertificação, merece um realce especial a produção de João
de Vasconcelos Sobrinho, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O referido
professor, além de publicar uma significativa produção bibliográfica nesta área, contemplando
principalmente a Região Nordeste, também atuou na elaboração do Relatório Brasileiro para a
Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação e foi membro da delegação brasileira para a
Conferência em Nairóbi. Entre suas proposições científicas mais relevantes situa-se a teoria dos Núcleos
de Desertificação e a metodologia para identificação de processos de desertificação (VASCONCELOS
SOBRINHO, 2002).
Uma outra importante contribuição ao conhecimento das áreas susceptíveis à desertificação
do Brasil, correspondentes ao bioma Caatinga, foi produzida pelo Conselho Nacional da Reserva da
Biosfera da Caatinga. O Projeto “Cenários para o Bioma Caatinga”, envolve a montagem de um banco
de dados em ambiente SIG, com sistema interativo de consulta, e a elaboração de cenários, a partir do
diagnóstico e da identificação das potencialidades regionais. A publicação dos resultados deste trabalho,
sob o título “Cenários para o Bioma Caatinga”, foi sistematizada em tópicos que tratam das bases para
o desenvolvimento sustentável do referido bioma, do cenário tendencial, do cenário desejável, da
agenda de desenvolvimento sustentável e do diagnóstico. Neste último, são analisados os aspectos do
desenvolvimento regional, caracterizadas as dimensões econômicas, sociais, culturais e ambientais do
bioma caatinga e apresentados os impactos ambientais decorrentes do uso dos recursos naturais e os
impactos das políticas públicas sobre o desenvolvimento do mencionado bioma (BRASIL, 2004). Este
projeto se constitui o maior banco de dados sobre o bioma Caatinga, sendo uma referência para os
estudos que tratem de temas relativos a esta fração do território brasileiro.
Considerando a definição de desertificação, anteriormente exposta, vislumbra-se que uma
significativa parcela do Brasil é passível à ocorrência do fenômeno, mais especificamente, a região
semi-árida nordestina. No Mapa de Ocorrência da Desertificação do Brasil este recorte apresenta áreas
com processos de degradação intensos, muito graves, graves e moderados. As áreas de intensa
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degradação, ou seja, os Núcleos de Desertificação situam-se em Gilbués/PI, Irauçuba/CE, Cabrobó/PE


e na Região do Seridó/RN (MMA, [199-], p. 10-11).
No âmbito dos compromissos firmados pelo governo brasileiro, ao ratificar a Convenção
das Nações Unidas de Combate à Desertificação, foi construído o Programa de Ação Nacional de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN Brasil (MMA, 2004). Norteado pelo
paradigma do desenvolvimento sustentável, conforme explicitado na Agenda 21, este documento
assume relevância “na medida em que faz referência e busca criar condições de prosperidade para uma
região com grandes déficits sociais e produtivos, resultantes de uma história ambiental, social,
econômica e política, que configuram um quadro muitas vezes desolador de pobreza e miséria” (MMA,
2004, p. xxiii). Em termos de território brasileiro, conforme as definições da Convenção, a região em
foco corresponde aos espaços semi-áridos e subúmidos secos do Nordeste e alguns trechos igualmente
afetados pelas secas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Identificados como Áreas
Susceptíveis à Desertificação – ASD, estes espaços estão concentrados na Região Nordeste, abrangem
1.338.076 km², equivalentes a 15,72% do território nacional, abrigam mais de 31,6 milhões de
habitantes (18,65% da população brasileira) e correspondem à circunscrição da Caatinga, um bioma sui
generis.
Tratando-se especificamente da problemática da desertificação no Rio Grande do Norte, é
possível evidenciar na bibliografia pertinente que frações do território estadual já foram inseridas como
representativas deste processo, desde os estudos de Vasconcelos Sobrinho, sobre a ocorrência do
fenômeno no Nordeste brasileiro. Ao desenvolver o conceito de Área Piloto, o mencionado autor
definiu que no Rio Grande do Norte esta seria representada pela Região Fitogeográfica do Seridó,
envolvendo os municípios de Currais Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos Dantas, Caicó,
Jardim do Seridó e áreas de municípios vizinhos (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 60).
Outros trabalhos contemplando o território potiguar sob a ótica da questão da
desertificação e/ou temas correlatos como a seca, a exploração de recursos naturais e o
desenvolvimento sustentável, foram desenvolvidos por vários estudiosos transformando-se em um
importante legado para as gerações atual e futura, dos quais destacamos:

BORGES, A. M. et, alii. Áreas vulneráveis à Desertificação do Rio Grande do Norte. Caderno
Norte-riograndense de temas geográficos, Natal, , v. 4, 1979.
BRASIL; MMA; SERHID. Projeto piloto de combate à desertificação na Região do Seridó, 2001
(partes A e B).
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11

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MEDEIROS, Getson Luís D. de. Mapeamento dos agentes de degradação ambiental do Seridó. In:
Seminário Sociedade e Territórios no Semi-Árido Brasileiro: em busca da sustentabilidade. Campina
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MEDEIROS, Getson Luís Dantas de. A desertificação do semi-árido nordestino: o caso da Região do
Seridó norte-rio-grandense. 2004. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) –
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MEDEIROS, Josemar Araújo de; MEDEIROS, Erivelto Elpídio de. Água: a questão hídrica no Seridó.
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NÉRI, M. S. A. Processo de desertificação: o caso de São José do Seridó. Natal: UFRN, 1982.
PNUD/FAO/BRA/87/007. Diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1994.
PNUD/FAO/BRA/93/033. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Região
do Seridó do RN. [S.l.: s.n.], 1999.
PNUD/FAO/BRA/87/007. Incremento das matas nativas do Seridó do Rio Grande do Norte. [S.l.:
s.n.], 1991; PNUD/FAO/BRA/87/007. Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do RN: v. I
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Diagnóstico; v. 2 – Estratégias, programas e projetos e sistema de gestão. Caicó, set. 2000.
SILVA, Carlos Sérgio Gurgel da. Abordagens sobre o processo de desertificação nos municípios de
Parelhas e Equador no Estado do Rio Grande do Norte: uma avaliação. 1999. Monografia
(Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 1999.
SZILAGYI, Gustavo. Abordagens sobre o processo de desertificação e uma revisão conceitual para o
fenômeno investigado. Monografia (Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 2004.

No âmbito da produção norte-rio-grandense um estudo que se tornou referência foi


produzido por Carvalho; Gariglio; Barcellos (2000) sob o título “Caracterização das áreas de
ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte”. Este trabalho teve como aporte o Plano
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Nacional de Combate à Desertificação – PNCD (1995), no qual o território potiguar foi avaliado sob a
ótica da ocorrência e da intensidade do processo de desertificação. As áreas susceptíveis ao fenômeno
foram classificadas segundo o Grau de Susceptibilidade, em áreas com intensidade muito grave, grave e
moderada (TAB. 01).

TABELA 01
Ocorrência do Processo de Desertificação no Rio Grande do Norte

CLASSE DE ÁREA POPULAÇÃO


INTENSIDADE Km² % Absoluta %
Muito Grave 12 965 24,3 289 767 11,0
Grave 20 545 38,5 591 158 22,5
Moderada 5 120 9,6 215 112 8,2
Total Afetado no RN 38 630 72,5 1 096 037 41,7
Estado 53 307 100,0 2 630 000 100,0
FONTE: PNCD, 1995 apud CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de
desertificação no Rio Grande do Norte, 2000, p. 8.
As informações apresentadas permitem inferir que, possivelmente no início dos anos de
1990, a desertificação já tinha afetado 72,5% do território potiguar, em níveis de intensidade variados e
sinalizavam para estatísticas preocupantes, principalmente em função da representatividade que assumia
as áreas com estágios de ocorrência classificados como grave e muito grave. Um outro aspecto
importante refere-se à abrangência populacional, visto que nas áreas afetadas moravam 41,7% do
contingente estadual, ressaltando-se que, na região com nível de desertificação muito grave, residiam
11% dos potiguares.
A projeção dos dados da desertificação no espaço norte-rio-grandense revela o mapa de
ocorrência do fenômeno, explicitando a classe de intensidade, segundo as regiões afetadas (MAPA 01).

MAPA 01 – Ocorrência de Desertificação no Rio Grande do Norte


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FONTE: CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio
Grande do Norte, 2000, p. 9.

Conforme a representação cartográfica da desertificação no território potiguar, o recorte de


ocorrência muito grave correspondia à Microrregião Homogênea do Seridó (centro-sul do Estado),
inclusive sendo retratada a área de abrangência do Núcleo de Desertificação, compreendido pelos
municípios de Currais Novos, Acari, Cruzeta, Carnaúba dos Dantas, Parelhas e Equador. Em 1989,
com a vigência da nova divisão regional do Brasil, adotada pelo IBGE, este espaço passou a configurar
duas microrregiões geográficas: Seridó Oriental, onde se situa o Núcleo de Desertificação, e Seridó
Ocidental (vide MAPA 02).
O espaço onde a desertificação se manifestava de forma grave era constituído pelas
Microrregiões Salineira Norte-rio-grandense (litoral norte em sua porção centro-oeste), Açu e Apodi
(centro e oeste) e Serra Verde (centro-leste). Com a nova divisão regional, houve um reordenamento
que resultou nas seguintes microrregiões: Mossoró, Chapada do Apodi, Médio Oeste e Vale do Açu,
localizadas na porção centro-oeste, e Litoral Nordeste, Baixa Verde e Angicos, situadas no centro-leste
do Estado.
A circunscrição de ocorrência moderada restringia-se à Microrregião Homogênea Serrana
Norte-rio-grandense, cuja localização corresponde ao extremo sul-oeste do território potiguar.
Mediante a reorganização regional foi dividida em três microrregiões: Umarizal, Pau dos Ferros e Serra
de São Miguel.
14

A identificação dos estudos sobre a desertificação no Rio Grande do Norte denota que a
preocupação com o problema já se fazia presente nos últimos decênios do século XX, sendo
sintomático que, em 1997, tenha sido criado o Grupo de Estudos sobre Desertificação no Seridó –
GEDS. O referido grupo, que envolve diversas instituições, “foi fruto de um processo de reflexão em
torno das questões da seca, das alternativas de convivência com a mesma e do combate direto aos
processos desencadeadores da desertificação” e tem como objetivo fomentar estudos e debates sobre o
tema, articulando ações capazes de promover o desenvolvimento sustentável no Seridó (IDEMA, 2004,
p. 11).
Nesta mesma linha de ação, em 17 de junho de 2004, através de Termo de Cooperação
Técnica e Científica Nº 004/2004, instrumento que visa implantar estratégias para combater e controlar
o processo de desertificação no Estado, a partir da criação de áreas pilotos e ações sincronizadas, foi
criado o Núcleo de Desenvolvimento Sustentável da Região do Seridó – NUDES. O referido Termo foi
celebrado entre a Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Norte, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
a Escola Superior de Agricultura de Mossoró, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis e a Agência de Desenvolvimento do
Seridó. Os signatários do Termo se propõem a desenvolver ações conjuntas, de modo a integrar os
diversos recursos materiais e humanos existentes, bem como toda a experiência e conhecimento
adquiridos sobre o tema.
A criação do NUDES foi idealizada pelo Ministério Público, através do Centro Operacional
às Promotorias de Meio Ambiente (CAOPMA). Os trabalhos de elaboração do plano foram
deflagrados, no início de 2004, através de estudos de viabilidade sócio-econômica e de impacto
ambiental.
O arcabouço de ações desenvolvidas no âmbito do NUDES norteia-se por três vertentes:
educação ambiental, medidas jurídicas de proteção ao meio ambiente e introdução de propostas
econômicas alternativas, que conciliem a preservação ambiental e a geração de renda
(http://www.serhid.rn.gov.br). Nesta perspectiva, objetiva o desenvolvimento de ações visando à
redução dos problemas ambientais, sociais e econômicos numa área geográfica pré-definida.
A área piloto escolhida para implantação deste núcleo, abrange uma extensão de 80 km²,
localiza-se no município de Parelhas, mais especificamente nas comunidades rurais de Cachoeira,
Juazeiro e Santo Antônio da Cobra, inseridas na bacia hidrográfica do Rio Cobra. Conforme
informações obtidas na SERHID, nas três comunidades residem 391 famílias, totalizando 1.567
15

habitantes, e existem nove cerâmicas, sendo uma comunitária, cuja produção é de 28 milheiros de
telha/dia.
As razões que levaram estas comunidades a serem escolhidas residem na conjugação de
alguns fatores, dos quais destacamos: o Município de Parelhas está entre aqueles que o PAN Brasil
relaciona como área piloto para investigação sobre desertificação no Semi-árido brasileiro; constitui-se
o principal produtor de cerâmica do Estado, usando a argila como matéria-prima e a lenha como fonte
de energia; há alguns anos, a problemática da degradação ambiental local é alvo de discussões e
reflexões entre as comunidades rurais e organizações governamentais e não-governamentais, sendo
notável a existência de uma consciência dos danos e dos limites ambientais e de uma tendência ao
associativismo.
No âmbito do NUDES, as principais ações foram desenvolvidas pelo IDEMA e consistiu na
avaliação e monitoramento da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Cobra e na realização de um Curso de
Capacitação em Educação Ambiental, que reuniu professores, representantes das atividades produtivas
locais, das organizações comunitárias e estudantes.
A justificativa para que o Seridó seja o objeto de análise em expressiva parcela da produção
bibliográfica referente à desertificação no Rio Grande do Norte e tenha sido o lócus da criação do
GEDS e do NUDES, fundamenta-se no reconhecimento de que, em nível de Estado, é a região mais
afetada.
A percepção de que a desertificação está relacionada à ocorrência de secas e à forma como
o homem se relaciona com o meio, principalmente para fins de exploração econômica é um forte
indicativo de que, em espaços como o Rio Grande do Norte, torna-se premente repensar as estratégias
de produção e de sobrevivência da sociedade. No cenário de reestruturação produtiva, delineado após a
crise do algodão e da mineração (1970-1980), em que emergiram novos segmentos produtivos
remodeladores da geografia econômica do território, a insurgência e/ou acentuação da degradação
ambiental foi uma forte motivação para se pensar estratégias que viabilizassem o desenvolvimento em
bases sustentáveis.
Nesta perspectiva ressalta-se que, a partir de demandas da sociedade, o Governo assumiu o
compromisso de desenvolver uma política de planejamento regional norteada pelos pressupostos da
sustentabilidade.
Em função de suas particularidades sociais, econômicas, políticas e ambientais coube ao
Seridó a primazia de vivenciar este processo que culminou com a elaboração do Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Seridó - PDSS. O panorama em que germinou a idéia de sua
formulação, entre 1999 e 2000, foi marcado pela acentuação de problemas, com destaque para a
16

escassez d’água. A sociedade, através de suas principais lideranças políticas, empresariais, sindicais e
religiosas recorreram aos representantes do Estado, em suas diversas esferas, reivindicando soluções
para os problemas existentes. Da associação de influências provenientes de uma conjuntura externa,
onde se discutia pobreza e ambiente como facetas de um mesmo processo de degradação da vida
humana e se colocava como paradigma alternativo o desenvolvimento sustentável à atuação local de um
pequeno coro de vozes que pregavam no deserto, chegou-se a uma experiência pioneira e inovadora em
termos de planejamento estratégico participativo.
O PDSS foi elaborado com base em uma metodologia que envolveu a compilação e análise
de dados e documentos extraídos de diferentes fontes, inclusive teses e dissertações que versam sobre a
região; a consulta à sociedade, através de reuniões municipais e sub-regionais, e a realização de
entrevistas com personalidades e lideranças de diversos segmentos da sociedade, conhecedoras da
problemática regional. A coordenação dos trabalhos foi desenvolvida por consultores do Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA.
A adoção desta metodologia de planejamento objetivou possibilitar o envolvimento da
sociedade no processo de construção do seu plano de desenvolvimento. Nesta perspectiva, foram
convidados a participar das reuniões municipais, sub-regionais e regionais os representantes das várias
instituições e organizações públicas e privadas da região que tiveram um importante papel na
identificação dos problemas existentes, na indicação das possíveis soluções, no desvendamento das
potencialidades e na delineação dos cenários desejados, conteúdos informativos que serviram de
subsídios à formulação do plano.
Tendo como base a experiência de planejamento descentralizado e participativo e a adoção
dos princípios do desenvolvimento sustentável, cujas iniciativas devem ser geradoras de uma maior
eqüidade social, um elevado nível de conservação ambiental e uma maior racionalidade/eficiência
econômica, construiu-se um documento estruturado em dois volumes. No primeiro, tem-se um
diagnóstico do Seridó através da caracterização das dimensões ambiental, tecnológica, econômica,
sócio-cultural e política-institucional. Este meticuloso documento, além de uma análise consistente
sobre a região, ainda identifica suas fragilidades e potencialidades. No segundo, são demonstrados
estratégias, programas e projetos por dimensão e o sistema de gestão do Plano, na perspectiva de
apontar diretrizes que permitam a solução dos problemas e/ou delineação dos cenários desejados pela
sociedade. Desta forma, o PDSS se propõe a ser um norteador das ações que conduzirão o processo de
desenvolvimento sustentável e, neste, a dimensão ambiental assume uma expressiva relevância em
função do nível de degradação regional que se situa entre muito grave e intenso.
17

Dando prosseguimento à estratégia de planejamento participativo e descentralizado e


utilizando-se o mesmo arcabouço teórico-metodológico do PDSS, foram elaborados o Plano Regional
de Desenvolvimento Sustentável do Agreste, Potengi e Trairi e o Plano de Desenvolvimento
Sustentável da Zona Homogênea do Litoral Norte. Em fase de conclusão encontra-se o Plano de
Desenvolvimento Sustentável da Região do Alto Oeste.
A adoção desta política de planejamento do desenvolvimento regional está em sintonia com
os novos postulados do desenvolvimento, por ter como referenciais os princípios de uma nova
racionalidade que não se norteia apenas pelos interesses econômicos. Ademais, representa um avanço
em termos de pensar o território estadual a partir de suas especificidades regionais e uma significativa
conquista da sociedade, que se torna co-responsável pela elaboração, execução e gestão do seu plano
de desenvolvimento.
Considerando que a sustentabilidade do desenvolvimento pressupõe a articulação entre as
dimensões econômica, política, sócio-cultural, científico-tecnológica e ambiental e que, no momento
atual, a sociedade e o Governo deixam transparecer o desejo de apoiar os planos já implementados,
implantar os que estão em fase de construção e expandir o processo para as regiões ainda não
contempladas, é possível pensar que a problemática da desertificação no Rio Grande do Norte tenderá a
sofrer um refreamento. Esta possibilidade não poderá ficar inscrita apenas no cenário desejado, mas
deverá se cristalizar através decisões e ações que fomentem o desenvolvimento de tecnologias e
alternativas de recuperação de áreas degradadas e de prevenção e convivência em áreas em processo de
desertificação, de modo que as populações afetadas conquistem o direito de viver de forma digna nestes
lugares, vivenciando a seca, condição que não se pode mudar, sob novas perspectivas de vida derivadas
do saber científico e de novas relações homem x meio.
18

2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO

A CCD (MMA, [199-], p. 9) definiu que “por Desertificação entende-se a degradação da


terra nas zonas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultantes de vários fatores, incluindo as
variações climáticas e as atividades humanas.”
Nas áreas susceptíveis a este processo o clima prevalecente tem entre suas características
marcantes: a ausência, escassez e má distribuição das precipitações pluviométricas, no tempo e no
espaço, ou seja, a ocorrência da seca. A definição deste fenômeno remete a uma ocorrência que se
verifica “naturalmente quando a precipitação registrada é significativamente inferior aos valores
normais, provocando um sério desequilíbrio hídrico que afeta negativamente os sistemas de produção
dependentes dos recursos da terra” (MMA, [199-], p. 9).
Neste sentido, seca e desertificação apresentam-se como fenômenos distintos, mas
estreitamente relacionados. Isto porque nas áreas marcadas pela semi-aridez registra-se um
desequilíbrio entre oferta e demanda de recursos naturais, levando-se em conta o atendimento às
necessidades básicas de seus habitantes (MMA, 2004, p. 3). Nos períodos de seca este descompasso
aumenta, visto que a pressão sobre os recursos naturais se amplia e a intervenção do homem, em geral,
se faz através do uso inadequado do solo, da água e da vegetação. Assim, as variações climáticas e as
atividades humanas se conjugam criando um ambiente favorável à instalação do processo de
desertificação, estabelecendo-se um círculo vicioso de degradação, “onde a erosão causa a diminuição
da capacidade de retenção de água pelos solos, que leva à redução de biomassa, com menores aportes
de matéria orgânica ao solo; este se torna cada vez menos capaz de reter água, a cobertura vegetal
raleia e empobrece, a radiação solar intensa desseca ainda mais o solo e a erosão se acelera,
promovendo a aridez.” No desenrolar deste processo a ação antrópica tem desempenhado papel
fundamental, “acelerando seu desenvolvimento e agravando as conseqüências através de práticas
inadequadas de uso dos recursos naturais” (ARAÚJO et. al., 2002, p. 11).
Aportando-se em Sampaio et. al (2003, p. 24) tem-se que, entre as principais formas de
utilização das terras e possíveis degradações, estão a retirada da vegetação e a prática da agropecuária.
Com relação à retirada da cobertura vegetal, os autores indicam cinco razões principais para o seu
procedimento: a substituição da cobertura vegetal por construções ou sua retirada contínua para a
manutenção de áreas descobertas; utilização do material do solo ou subsolo; a destruição periódica por
fogo; o uso da lenha e a substituição da cobertura original por outra de melhor uso como pastagem.
No que diz respeito à substituição da cobertura vegetal, advogam que isto jamais será
enquadrado como fator da desertificação pelo benefício antrópico que traz e, no caso do semi-árido,
19

não tem impacto significativo. Porém, a leitura difere quando a justificativa é a construção de
reservatórios artificiais. Os de grande porte submergem extensas áreas de cultivo e/ou cidades e
deslocam populações e os de pequeno e médio portes, subtraem áreas de cultivo nos terrenos mais
baixos. Apesar disso, “a possibilidade de degradação deve ser considerada, mas em geral, estas
construções trazem mais benefício que prejuízo, o que é esperado de ações planejadas e de custo alto”
(SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
A retirada da vegetação para fins de exploração do material do solo ou subsolo, típica da
atividade mineira, implica na retirada de areia de construção dos aluviais de beira de rio à remoção de
camadas de terra para acesso a veios de minério. Nas áreas de minas são comuns a formação de
depósitos de resíduos, freqüentemente tóxicos, e a presença de escavações, que parecem rasgar a terra
deixando expostas suas entranhas. A retirada do solo deixa um legado de terras imprestáveis para o uso
agropecuário.
As queimadas, embora tendam a se reduzir, ainda são praticadas, levando à perda de
nutrientes do solo e, dependendo do período em que o solo ficar despido, pode provocar erosão.
O corte da vegetação para lenha, a rigor, não poderia ser considerado como destruição da
vegetação, posto que, se área não for mexida, ocorre a recomposição. O problema se instala quando
não se concede à natureza este tempo para a recomposição e se realiza a queimada, após o desmate,
afetando as espécies vegetais e animais, o solo, enfim, a biodiversidade do lugar.
A substituição da cobertura original por outra com maior produção está ligada,
principalmente, à agropecuária e produz inquestionáveis benefícios, apesar de reduzir a biodiversidade.
Em Sampaio et. al. (2003, p. 27) encontra-se que “a substituição da vegetação nativa por espécies
cultivadas, por si só, dificilmente leva à degradação das terras. Para isto, a agropecuária precisa ser
praticada em condições que levem a outros processos de perda.”
No quesito sobre a agropecuária e a deterioração das propriedades do solo foram
identificados como principais fatores de degradação: a ausência de adubação, justificada pelo risco de
falha das colheitas por falta de chuvas; a perda por erosão, que tende a ser maior mediante a retirada da
cobertura vegetal e nas áreas de declive e o emprego de técnicas incompatíveis de produção.
A projeção deste elenco de fatores da degradação das terras, a partir das formas de uso do
solo, sob o espaço nordestino revela a sua ocorrência, embora existam alguns cuja interferência é mais
aguda e cuja manifestação é intensificada nos períodos de seca. Um exemplo é a utilização dos recursos
de solo para o fabrico de telhas e tijolos no Seridó potiguar, colocada como uma das principais razões
da existência do Núcleo de Desertificação na região (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
20

A identificação das ASD brasileiras, foi estabelecida de acordo com a CCD, que se baseia
na definição de aridez formulada por Thornthwaite (1941). Conforme esta definição, o grau de aridez
de uma região depende da quantidade de água advinda da chuva e da perda máxima potencial de água
através da evapo-transpiração potencial. Em termos de Nordeste, a classificação de susceptibilidade à
desertificação, em função do Índice de Aridez, foi firmada conforme exposto na TAB. 02.

TABELA 02
Classificação de Susceptibilidade à Desertificação, em função do Índice de Aridez

ÍNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE À DESERTIFICAÇÃO


0,05 a 0,20 Muito Alta
0,21 a 0,50 Alta
0,51 a 0,65 Moderada
FONTE: MATALLO JR. Heitor. A desertificação no mundo e no Brasil. In.: SCHENKEL, Celso Salatino; MATALLO
JR. Heitor. Desertificação, 1999, p. 11 apud MMA. Programa de ação nacional de combate à desertificação e
mitigação dos efeitos da seca, 2004, p. 33.

Os estudos realizados para fins de delimitação e caracterização das ASD do Brasil


conduziram à constatação de que, em linhas gerais, abrangem áreas correspondentes à superfície do
Bioma Caatinga. Típica do Nordeste Semi-árido, a vegetação de Caatinga caracteriza-se pelo fenômeno
do xerofilismo. As plantas xerófilas são aquelas que resistem à seca, desenvolvendo um sistema de
elaboração e armazenamento de reservas hídricas para as épocas de escassez, que compreende duas
fases: “uma de intensa atividade vegetativa e outra de dormência; na primeira, a folhagem das árvores e
dos arbustos elabora, por meio da clorofila, da luz solar, do ar e da umidade, as substâncias
alimentícias, com os elementos sugados pelas raízes e aqueles sintetizados nas folhas. Nos meses
chuvosos, há uma elaboração de seiva superior ao consumo e este excesso é depositado nos vasos do
caule e nos ‘xilopódios’ das raízes [...]. Na estação seca [...], a maioria dos vegetais perde as folhas para
economizar água, paralisa a função clorofiliana e o panorama torna-se cinzento, com uma ou outra
planta verde, graças ao controle rígido da transpiração aquosa [...]” (DUQUE, 1964, p. 29). Segundo o
referido autor (1964, p. 39), a Caatinga é um complexo vegetativo sui generis, diferente das
associações vegetais de outras partes semi-áridas do mundo; um laboratório biológico de imenso valor
que urge ser preservado.
Não obstante, é factível de reconhecimento que, assim como a cartografia do Semi-árido se
superpõe a do Bioma Caatinga, também o mapa da desertificação sobre estas se delineia. Nesta
circunscrição, a vegetação de Caatinga e o clima Semi-árido estão em estreita correlação e fazem parte
do enredo histórico da sociedade regional. São os rincões sertanejos, onde vive o povo da seca, mas
21

também de outras tantas características marcantes e particulares, principalmente em termos culturais,


que remetem às origens da nação brasileira.
De acordo com o PAN Brasil (2004, p. 188) a extensão das ASD nacionais corresponde a
1.338.076,0 km² (15,72% do território nacional), abrangendo 11 estados brasileiros. Segundo o Censo
2000, sua população é de 31.663.671 habitantes (18,65% da população do país), dos quais 19.692.480
são moradores urbanos e 11.971.191 são residentes rurais, perfazendo uma taxa de urbanização de
62,19%. A densidade demográfica é de 23,66 hab./km². Interessante registrar que, em 1956, Jean
Dresch observou que as áreas semi-áridas do Nordeste brasileiro estavam entre as mais povoadas do
mundo, registro feito pelo geógrafo Aziz Ab’ Saber, no Congresso Internacional de Geografia,
realizado no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano (MMA, 2004, p. 8).
Os estados brasileiros afetados pela desertificação são: Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, objeto de
análise deste estudo.
22

3 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense

O Rio Grande do Norte possui uma superfície de 52.796,791 km², ou seja, 0,62% do território
nacional. Sua cartografia (MAPA 02), historicamente construída, atualmente comporta 167 municípios
e, de acordo com o Censo 2000 (IBGE, 2000, p. 269), sua população somava 2.776.782 habitantes,
correspondendo a 1,64% da população do Brasil. A distribuição populacional pelo território estadual
indicou que 2.036.673 habitantes residiam em espaços urbanos e 740.109 eram moradores rurais.
Embora apresente elevada taxa de urbanização (73,35%), em seu tecido urbano predominam as
pequenas cidades e ocorre uma concentração demográfica na Região Metropolitana de Natal, que
abriga 1.097.273 habitantes, equivalentes a 39,52% da população potiguar.

MAPA 02 – Divisão Política e Regional do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar do Rio Grande do Norte, 1999.

O quadro natural do Rio Grande do Norte, principalmente os seus aspectos climáticos e sua
cobertura vegetal, são reveladores de características típicas de espaços semi-áridos. Sua trajetória
histórica foi marcada por um processo de ocupação territorial, baseado inicialmente na agricultura e na
23

pecuária, e reorganizado através do desenvolvimento de outras atividades como a produção de sal, a


mineração, a extração da cera de carnaúba, entre outros. Nos últimos decênios do século XX,
principalmente em seu recorte semi-árido, atingido pelas crises do algodão e da mineração, adquiriram
realce outras economias, destacando-se a produção ceramista que obteve significativo crescimento. O
somatório destes processos, acrescido da reestruturação sócio-espacial via concentração demográfica
nas cidades, repercutiu (e repercute) sobre os ecossistemas, especialmente o da caatinga, de modo que
“a vegetação primitiva foi praticamente aniquilada, passando a existir uma vegetação secundária,
apresentando um porte bastante inferior em relação ao passado” (FELIPE; CARVALHO; ROCHA,
2004, p. 42).
A partir do exposto, constata-se que a histórica relação homem x meio, estabelecida desde a
colonização do território, com base na exploração e aproveitamento dos recursos naturais, repercutiu
sobre os seus ecossistemas. Nos dias atuais, a associação entre aspectos naturais e ação antrópica
evidenciam a ocorrência de diferentes níveis de degradação ambiental.
No que se refere às condições climáticas, o Rio Grande do Norte caracteriza-se por
apresentar temperatura média anual em torno de 25,5º C, com máxima de 31,3º C e mínima de 21,1° C,
pluviometria bastante irregular (em termos de quantidade e período) e umidade relativa do ar, com
variação média anual de 59% a 76%. Em decorrência de sua localização geográfica próxima ao
Equador, predominam as elevadas temperaturas, verificando-se entre 2.400 e 2.700 horas por ano de
insolação.
De maneira geral, os tipos de clima que ocorrem no Estado podem ser classificados em
Tropical Quente, Úmido e Subúmido, e Tropical Quente e Seco ou Semi-árido (FELIPE;
CARVALHO, 1999, p. 26) (MAPA 03).
24

MAPA 03 – Tipos Climáticos do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.

O Clima Tropical Quente e Úmido ocorre em uma pequena faixa na porção sul do Litoral
Oriental, que compreende parte da Microrregião Geográfica Litoral Sul, onde se registra uma
pluviosidade média de 1.200 mm anuais. Já o tipo Tropical Subúmido, apresenta uma pluviosidade
média entre 800 e 1.200 mm anuais, e abrange basicamente a Mesorregião Geográfica do Leste
Potiguar, exceto a porção úmida, e as áreas serranas do interior, onde a morfologia do relevo, com suas
expressivas altitudes, influencia as condições microclimáticas, favorecendo à ocorrência de
temperaturas amenas.
O Clima Tropical Quente e Seco ou Semi-Árido domina, de forma quase contínua, todo o
interior do território estadual, chegando inclusive a atingir o Litoral Setentrional. Este tipo climático
caracteriza-se pelas altas temperaturas, escassez e irregularidade das precipitações pluviométricas,
configurando-se como período chuvoso os meses de janeiro a abril. A média de precipitação de chuvas
é variável, podendo situar-se entre 400 e 600 mm, em algumas áreas centrais do Estado, ou atingir
25

índices um pouco mais elevados. As regiões submetidas a este clima são ciclicamente atingidas pelo
fenômeno da seca, quando as precipitações são acentuadamente reduzidas, situação que pode se
estender por alguns meses ou prolongar-se por anos consecutivos.
A análise dos dados demonstra que as áreas sob o domínio do clima Semi-árido, onde
impera a Caatinga hiperxerófila, correspondem basicamente à cartografia das ASD do Rio Grande do
Norte. De acordo com Sant’Ana (2003), a seca “não é ‘causa’ de desertificação, mas pode atuar como
um acelerador dos processos”.
Um outro aspecto interessante a ser ressaltado neste estudo sobre a desertificação,
constituindo-se um quesito diretamente relacionado ao clima, diz respeito aos recursos hídricos
superficiais. Estes são representados, principalmente, pelas bacias hidrográficas constituídas, em sua
maioria, por rios que têm um caráter intermitente e passam boa parte do ano com o leito seco, por
vezes mostrando-se caudalosos nos períodos chuvosos. No Estado, a importância dos rios é
evidenciada historicamente a partir dos registros da ocupação espacial, do papel que desempenharam no
processo de interiorização e na estruturação sócio-econômica do território.
Uma outra referência de águas superficiais são os açudes que, em alguns casos, ao barrarem
os cursos dos rios, permitem a perenização total ou parcial, repercutindo favoravelmente em termos
sociais e econômicos, em nível local/regional. Os açudes também resguardam sua relevância histórica,
inclusive como elemento impulsionador da formação de aglomerados humanos que se transformaram
em cidades.
A malha hidrográfica do Rio Grande do Norte é constituída por 16 bacias com extensões e
níveis de importância sócio-econômica variáveis (ANEXO 01). No quadro geral, as bacias hidrográficas
Piranhas-Açu e Apodi-Mossoró se destacam pela sua extensão, abarcando 60,1 % do território
estadual, e pela importância econômica através do desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias.
Apesar das demais bacias apresentarem circunscrições mais reduzidas, estas também são relevantes para
o abastecimento humano, as práticas agrícolas, a dessedentação animal e as atividades industriais
(MAPA 04)
26

MAPA 04 – Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte

FONTE: Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 17 mai 2005.

As principais bacias do Estado, a do Piranhas-Açu e a do Apodi-Mossoró, atravessam o


recorte semi-árido e devido à escassez e irregularidade das chuvas associada à alta evaporação, que,
provoca a perda de grande parte da água acumulada, apresentam rios intermitentes. O registro de rios
perenes verifica-se apenas na faixa sedimentar costeira do litoral norte, que em função da existência de
fontes, apresenta filetes d’água nos baixos cursos dos rios, e na faixa do litoral leste, onde a influência
do clima úmido, responde pela perenização dos baixos cursos dos rios (IDEMA, 2004, p. 15).
Na Bacia Piranhas-Açu foram cadastrados 1.112 açudes, ou seja, 49,3% dos reservatórios
existentes no Rio Grande do Norte. O volume de acumulação destes açudes corresponde a
3.503.853.300 m³ o que torna esta bacia responsável por 79,6% do volume acumulado no Estado (RIO
GRANDE DO NORTE, [199-], p.21). Ocupa o 1º lugar em número de açudes e em volume
acumulado. Somente a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves apresenta uma capacidade de
acumulação de 2.400.000.000 m³ de água, constituindo-se o maior reservatório norte-rio-grandense,
tendo sido fator primordial à expansão da fruticultura irrigada no Vale do Açu.
A Bacia Hidrográfica Apodi-Mossoró coloca-se na 2ª posição em extensão no Estado
(14.276 km²) e ocupa o 1º lugar quanto ao número de municípios que abrange (52). Em termos de
27

açudagem, o Inventário do Espelho D’água Superficial do Estado do Rio Grande do Norte (IDEC,
1993, p. 24-68), registrando dados relativos aos reservatórios acima de 100.000 m³ em 1992,
contabilizou 615 reservatórios que correspondiam a 27,4% dos açudes potiguares e totalizavam um
volume de acumulação de 443.727.000 m³ de água, ou seja, 11,13% do volume acumulado no Estado.
Dados da SERHID sobre açudes com capacidade superior a 5.000.000 m³ informam que mais 04
reservatórios foram construídos - Passagem (Rodolfo Fernandes), Rodeador (Umarizal), Santa Cruz do
Apodi (Apodi) e Umari (Upanema). No conjunto, estes novos reservatórios apresentam uma
capacidade de acumulação de 921.155.650 m³ de água. Desta forma, é possível considerar que o
volume de acumulação no recorte da bacia foi ampliado, passando para 1.364.882.650 m³ de água,
sendo a Barragem de Santa Cruz do Apodi, com seus 599.712.000 m³, responsável por 43,93% desse
total, e a de Umari, com 292.813.650 m³, por 21,45%.
A geologia do Rio Grande do Norte é basicamente formada pelo embasamento cristalino e
estruturas sedimentares. O embasamento cristalino corresponde a formações geológicas que datam da
Era Pré-Cambriana; conformam terrenos antigos, formados por rochas resistentes como granitos,
quartzitos, gnaisses e micaxistos, onde estão presentes minerais como scheelita, berilo, cassiterita,
tantalita, ferro, micas, ouro, águas marinhas (turmalina), entre outros. Ocupa grande parte do sul e o
centro-oeste do Estado, representando a sua formação geológica dominante. Caracteriza-se por
apresentar baixa capacidade de infiltração/retenção de água que aliada à elevada evapotranspiração
potencial e aos períodos de estiagem, são responsáveis pela intermitência dos cursos d’água. Os solos
derivados dessas rochas são predominantemente rasos, com baixa capacidade de infiltração, alto
escoamento superficial e baixa drenagem natural.
A estrutura geológica sedimentar data da Era Terciária, portanto, corresponde a uma
formação mais recente. No Rio Grande do Norte está representada por formações identificadas como
Calcário Jandaíra, Arenito Açu, Grupo Barreiras e Dunas. Nesta circunscrição geológica situam-se
recursos minerais de expressivo valor econômico, como petróleo e gás natural, além de águas
subterrâneas, calcário e argila.

Em relação aos solos do Rio Grande do Norte observa-se a ocorrência de certa diversidade,
sendo as principais classes assim identificadas: Bruno Não Cálcico, Litólico Eutrófico, Areia Quartzosa,
Latossolo Vermelho Amarelo, Regossolo, Podzólico Vermelho-Amarelo, Vertissolo,
Solonchaks-Solonétzico, Solonetz-Solodizado, Planossolo Solódico, Aluvial, Cambissolo Eutrófico,
Solos Gley, Rendizina e Solos de Mangue (MAPA 05).
28

MAPA 05 – Solos do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 24.

Apesar da diversidade de classes de solos, em que alguns redutos são considerados férteis e
com bom potencial agrícola, em decorrência das características ambientais do território, prevalecem no
Estado os solos rasos, erodidos e de fertilidade mediana. As características gerais dos principais tipos
de solo e suas respectivas áreas de ocorrência constam no ANEXO 02.
A distribuição espacial dos solos demonstra uma variável formação mesmo no domínio da
Caatinga, onde prevalece o clima Semi-árido. Em função da abrangência espacial, destacam-se os solos
Litólicos Eutróficos e os Bruno Não Cálcicos, que apresentam certas restrições ao uso agrícola, por
serem pedregosos, de pequena profundidade e muito susceptíveis à erosão.
Os tipos climáticos associados às formas de relevo e aos diferentes solos, permitem
reconhecer no Estado a existência de sete ecossistemas: Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado, Floresta
das Serras, Floresta Ciliar de Carnaúba, Vegetação das Praias e Dunas e Manguezal (MAPA 06).
29

MAPA 06 – Vegetação do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.

Em termos de Rio Grande do Norte, devido a extensão que ocupa (cerca de 80% do
território), destaca-se o ecossistema da Caatinga, em especial a sua formação florestal hiperxerófila que
recobre aproximadamente 60% do Estado (SEPLAN; IDEC, 1997, p. 23. Além disso, neste trabalho,
em função da relação existente entre o ambiente ecológico da Caatinga e as ASD, optou-se por
delimitar a análise as características do ecossistema mencionado.
O ecossistema da Caatinga é típico do Nordeste Semi-árido, caracterizando-se pelo
fenômeno do xerofilismo, que se refere à capacidade de armazenar água para sobreviver nos períodos
de seca. Devido a este dispositivo natural, a Caatinga muda seu perfil de acordo com a sazonalidade,
exibindo duas paisagens bem diferenciadas. No período chuvoso, suas plantas recobrem-se de folhagens
e se mostram exuberantes o suficiente para, em um verdadeiro emaranhado, produzirem um cenário em
que a tonalidade do verde assume diversas gradações. No período de seca, as plantas perdem as folhas
deixando à mostra seus galhos retorcidos. O tapete verde cede lugar a uma paisagem branca-acizentada
assumindo um certo ar de agressividade, expresso através de plantas aparentemente mortas com
salientes espinhos a desafiar o tempo e o espaço adverso. O significado da palavra caatinga – mato
branco, de origem indígena, remete à aparência que a vegetação assume no período de seca.
30

A despeito de apresentar uma certa uniformização no que diz respeito às diversas formas de
resistência à carência d’água, a Caatinga potiguar apresenta fitofisionomias diferenciadas, decorrentes
do seu porte. A Caatinga hipoxerófila é formada predominantemente por árvores e arbustos; sua
ocorrência é verificada no Agreste e em áreas de clima Subúmido seco e de transição para o
Semi-árido. A Caatinga hiperxerófila caracteriza-se por apresentar uma vegetação de pequeno porte,
seca, rala e resistente a grandes períodos de estiagem, sendo típica de solos pedregosos, rasos e de
pouca fertilidade; é típica das áreas quentes e secas que conformam o semi-árido norte-rio-grandense. A
composição florística desse ecossistema é representada pelas bromeliáceas (caroá, macambira),
cactáceas (xique-xique, facheiro, mandacaru, coroa-de-frade), leguminosas (jurema, sabiá, angico,
catingueira, jucá), euforbiáceas (pinhão bravo, faveleiro, marmeleiro), entre outros. A fauna também é
rica em espécies bem adaptadas às condições locais, destacando-se animais de pequeno porte como o
tatu-verdadeiro, o peba, o preá e o mocó.
Considerando a inter-relação entre clima, solo e vegetação e o fato de que a cobertura
vegetal é a expressão que marca visualmente a paisagem, tem-se que as ASD estão, sobremaneira,
circunscritas ao ecossistema da Caatinga. Segundo Vasconcelos Sobrinho (2002, p. 64), no semi-árido
nordestino, é possível detectar a existência de áreas em desertificação ao se sobrevoar em vôo baixo de
50m a 150m sobre o solo e, em seguida, realizar investigação in loco, posto que elas “apresentam uma
fisionomia denunciadora”: porte reduzido, espécies com sintomatologia de nanismo e concentração
diluída, ou seja, com maior permeabilidade do que nas demais áreas. O registro deste perfil geralmente
coincide com a presença da Caatinga hiperxerófila, cuja área de ocorrência é “presumivelmente
comprometida com o processo de desertificação, o qual se acentua a cada estio anual e principalmente
após cada seca. Quando o período chuvoso volta, verifica-se um esforço de recuperação que nem
sempre é recompensado integralmente. E assim, nesse balanço incerto entre recuperação e degradação,
é difícil descobrir qual a condição que prevalecerá. Mas se o homem interfere negativamente, então é
certo que a desertificação prevalece.”
A equação entre ação humana, degradação e recuperação ambiental tem se mostrado um
dos mais urgentes e imprescindíveis desafios a serem enfrentados pelas populações que vivem nas
regiões susceptíveis à desertificação no planeta. Neste contexto, inclui-se a sociedade nordestina, cujo
território representa as circunscrições das ASD brasileiras, e, nesta delimitação, insere-se o Rio Grande
do Norte.
Decerto a acentuação do quadro de degradação ambiental no Estado está relacionada à
dinâmica sócio-econômico empreendida nos últimos 35 anos. A literatura pertinente aponta que o Rio
Grande do Norte obteve um excelente desempenho econômico, entre 1970-2000, despontando como o
31

Estado que mais cresceu, a partir de 1970, na Região Nordeste. “Este ‘pequeno notável’ teve a façanha
de conseguir a maior taxa de crescimento do PIB do país na ‘década perdida’ e, como tem,
historicamente, uma base econômica pequena, os efeitos dos investimentos tiveram uma capacidade de
dinamismo muito forte.” (CLEMENTINO, 2003, p. 387). A correlação entre a taxa média anual de
crescimento do PIB do país, da região e do estado evidencia a situação anteriormente descrita (TAB.
03).

TABELA 03
Taxa Média Anual de Crescimento do PIB Real do Brasil, Região Nordeste e
Rio Grande do Norte – 1970-1999
TAXA (%)
PERÍODO Brasil Nordeste Rio Grande do
Norte
1970-1980 8,60 8,70 10,30
1980-1990 1,60 3,30 7,4
1990-1999 2,5 3,0 4,1
FONTE: FGV; IBGE.; SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais – Nordeste apud CLEMENTINO, Maria do Livramento
Miranda. Rio Grande do Norte: novas dinâmicas mesmas cidades, 2003, p. 389.

Conforme atestam os números, o desempenho econômico do Rio Grande do Norte foi


expressivo, apesar das fases de crises nacional, motivadas pelo déficit público e hiperinflação, e
internacional, decorrentes de problemas no México, na Rússia e na Ásia. A justificativa para essa
situação encontra-se fundamentada no dinamismo recente, alavancado por novas economias e pela
reestruturação de alguns antigos segmentos. No interstício 1970-1999 a participação do Estado no PIB
do Brasil passou de 0,46% para 1,1% e no PIB do Nordeste oscilou de 4,70 para 6,40. Dentre as
atividades responsáveis por este quadro estão o turismo, o petróleo, a fruticultura e o crescimento dos
setores industriais e de serviços, principalmente, na Região Metropolitana de Natal.
Não obstante, é preciso reconhecer que, embora o desempenho da economia potiguar tenha
atingido índices crescentes, entre 1970 e 2000, perdura no tecido social um estado de pobreza que se
reflete nas precárias condições de vida de parte considerável de sua população, traduzindo-se em um
retrato da própria realidade brasileira.
A falta de alimentação, de trabalho, de moradia são algumas das facetas do universo de
privações que assola milhares de famílias que vivem na pobreza. Esta perversa vivência da escassez, já
não permite mais o discernimento dos problemas, a partir da relação entre causa e conseqüência. Seria a
desocupação ou o desemprego responsáveis pela fome e pela falta de moradia? Mas, como se inserir no
mercado de trabalho, sem ter acesso à educação, saúde e, até mesmo à alimentação? Como suprir as
32

necessidades básicas sem trabalho e renda? Este contexto de múltiplas privações e situações-problemas,
estreitamente articuladas, parece embaçar o cotidiano das pessoas pobres, turvando seus sonhos e
desejos, estabelecendo cercas sociais que delimitam seus espaços de sociabilidade e vivências.
No âmbito deste diagnóstico, tratar da pobreza se faz pertinente como forma de trazer à
tona uma realidade que tem se mostrado, em alguns lugares, articulada à degradação ambiental. Embora
a pobreza esteja disseminada pelo mundo, sua configuração nas regiões áridas e semi-áridas do planeta
evidencia uma cristalina nitidez. Nestas áreas, que enfrentam longos e cíclicos períodos de seca, há
redução da produtividade agrícola interferindo na produção de gêneros alimentícios o que se traduz em
fome, onde já se vive a ameaça de sede. Assim, as nuances da pobreza, que não é causada pelos
fenômenos naturais, são aguçadas e o suprimento das necessidades humanas aumenta a pressão sobre
os recursos naturais, produzindo o seu constante e progressivo desgaste. Desta conjugação entre
degradação social e degradação ambiental têm-se como resposta a manifestação do processo de
desertificação.
O Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil apresenta dados relativos à indigência e à
pobreza. De acordo com o referido Atlas, vivenciavam a condição de indigência a parcela da população
cuja renda domiciliar per capita era equivalente a ¼ do salário mínimo vigente em agosto de 2000. A
pobreza envolvia a fração populacional que tinha uma renda domiciliar per capita correspondente a ½
do salário mínimo vigorante em agosto de 2000. Infere-se, portanto, que a indigência remete-se a uma
classe que vive a pobreza extrema ou miserabilidade.
As referências a estes índices, em termos de Brasil, denotam uma redução na proporção de
pessoas afetadas por estas situações, visto que, a proporção de indigentes passou de 20,24%, em 1991,
para 16,32%, em 2000, e a participação da população em estado de pobreza decaiu de 40,08% para
32,75%, nos anos focalizados. Apesar disso, é preciso atentar que os indicadores ainda permanecem
elevados.
A tendência a declínio também se verificou no Rio Grande do Norte. Em 1991, a população
indigente do Estado equivalia a 34,56% decaindo para 26,89%, no ano 2000. Com relação à
representatividade de pobres no universo populacional, registrou-se um declínio de 61,71% para
50,63%. Entretanto, a soma dos indicadores demonstra que 77,52% dos potiguares, em 2000, viviam
com uma renda domiciliar per capita correspondente a ½ do salário mínimo ou em extrema miséria,
constituindo-se um dado preocupante. A cartografia da pobreza e da indigência dos
norte-rio-grandenses pode ser avaliada nas representações a seguir (MAPA 07 e MAPA 08)

MAPA 07 – Intensidade da Pobreza segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000


33

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas
34

MAPA 08 – Intensidade da Indigência segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas

O mapa da pobreza norte-rio-grandense demonstra a difusão territorial que esta assume,


sendo importante apreender a sua espacialização regional. A despeito da elevada representatividade que
possui na sociedade potiguar, entre os recortes onde a intensidade da pobreza mostra-se menor (38,34 a
48,36) destacam-se o entorno de Natal, alguns municípios próximos à Mossoró e à Região do Seridó.
No outro extremo, onde a intensidade do problema evidencia-se mais fortemente (61,51 a 72,63),
notifica-se a concentração entre os municípios do Alto Oeste e do Agreste Potiguar. A espacialização
da intensidade da indigência, de forma geral, é correspondente ao mapa da pobreza.
Na perspectiva de não restringir a análise apenas a indicadores econômicos, buscou-se
aporte no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que procura retratar além da renda, duas outras
características esperadas do desenvolvimento humano: a longevidade de uma população (expressa pela
esperança de vida ao nascer) e o grau de maturidade educacional (avaliado pela taxa de alfabetização de
adultos e pela taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino). A renda é calculada através do
35

PIB real per capita, expresso em dólares e ajustado para refletir a paridade do poder de compras entre
os países. O IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento humano total) e
estabelece a seguinte classificação: baixo desenvolvimento humano (índices até 0,499); médio
desenvolvimento humano (0,500 a 0,799) e alto desenvolvimento humano (maior que 0,800). O mapa
do IDH do Rio Grande do Norte revela a situação em que se encontra o Estado sob o ponto de vista do
desenvolvimento humano (MAPA 09).

MAPA 09 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M do


Rio Grande do Norte - 2000

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas.

O IDH do Rio Grande do Norte obteve um crescimento positivo passando de 0,604 em


1991 para 0,705 em 2000. Não obstante, ainda permaneceu um índice inferior ao obtido pelo país que
era de 0,696, em 1991, e foi elevado a 0,776 em 2000. Sua posição no ranking entre os estados da
federação oscilou do 20º lugar, em 1991, para o 19º em 2000.
36

No âmbito do território estadual é importante a verificação de que todos os municípios


encontram-se no nível intermediário de desenvolvimento humano e que a amplitude é de 0,544 (Venha
Ver) a 0,788 (Natal). Neste intervalo, conforme mostra o mapa, há uma variação de faixas de
indicadores que, apesar da dispersão espacial, chama atenção pela mancha que produz sob o território
seridoense. Neste, concentra-se 14 municípios (43,75%) dos 32 que obtiveram maior IDH no Rio
Grande do Norte.
Neste ínterim, faz-se mister ressaltar o que ficou evidenciado nas representações espaciais
da pobreza, da indigência e do IDH, em termos de Rio Grande do Norte. A elucidação das referências
positivas projetadas no entorno de Natal e de Mossoró podem ser fundamentadas pelo dinamismo
econômico, pela funcionalidade de suas sedes municipais no sistema urbano estadual, dentre outros
aspectos. Instigante é a situação do Seridó, considerando-se a situação sócio-econômica e ambiental em
que se encontra. A região não se coloca entre os focos dinâmicos recentes da economia estadual e
figura no mapa de ocorrência da desertificação como uma área de degradação muito grave e intensa.
Porém, o aparente paradoxo se desfaz logo que se busca a historicidade da região para desvendar o seu
estágio atual e vislumbra-se que as estratégias sócio-políticas e culturais de décadas passadas são
revitalizadas no presente. Criando, inovando e reinventando o saber-fazer regional, a sociedade vem
construindo cenários de resistência e a atuação de sua representação política tem sido fundamental para
a melhoria dos indicadores sociais, como educação e saúde (MORAIS, 2005, p. 308).
Delineado este perfil sócio-ambiental do Rio Grande do Norte faz-se mister enveredar pela
cartografia da desertificação a partir da caracterização e da delimitação das áreas identificadas como
susceptíveis ao fenômeno.
37

3.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte

As ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 97,6% do território e abrigam 95,6% da


população. Este elevado índice de inclusão dentre as áreas susceptíveis à desertificação decorre da
inter-relação entre o meio natural e o homem, ao longo de séculos de ocupação e exploração do
espaço.

3.2.1 Características

A história da ocupação do território que hoje compõe as ASD potiguares remete à presença
portuguesa nestas terras, cuja intervenção mais efetiva foi deflagrada no final do século XVI, quando
passaram a desenvolver a cana-de-açúcar, no litoral. Nos séculos seguintes, deu-se a apropriação do
espaço interiorano utilizado para a criação de gado, a agricultura de subsistência e, mais adiante, para o
cultivo do algodão. No decorrer dos séculos, outras atividades surgiram como a extração do sal, da
cera de carnaúba, da oiticica e do sisal e a mineração. Além disso, a população cresceu, as cidades se
expandiram e se multiplicaram, estradas foram construídas e muitas alterações foram impressas ao
espaço. Neste processo, elevaram-se as demandas em relação aos recursos naturais, mas também foram
ampliadas as possibilidades de intervenção do homem no espaço através do emprego de tecnologias.
Todavia, especialmente no recorte semi-árido do Estado, já são notáveis os sinais de descompasso entre
os recursos naturais disponíveis e o atendimento às demandas sociais.
Em um passado recente, o território potiguar foi afetado pelas crises da cotonicultura e da
mineração, que desestabilizaram a sua base produtiva (décadas de 1970 e 1980). A emergência de
novas atividades e a expansão de outras já existentes, se encarregaram de refazer a dinâmica econômica
que repercutiu diferentemente sobre as regiões, em função de especificidades locais e conjunturais.
No entanto, em meio ao elenco de atividades desenvolvidas existem algumas que têm se
mostrado extremamente danosas ao meio ambiente, inclusive contribuindo decisivamente para a
acentuação da susceptibilidade à desertificação, tanto nas circunscrições do semi-árido, quanto nas de
clima subúmido seco. Além das atividades econômicas um outro componente a incidir sobre este
processo são as práticas culturais, que estão diretamente vinculadas à forma de produzir e ao cotidiano
das pessoas, por exemplo o desmatamento e a queimada para uso do solo na agricultura e a extração da
lenha para fins domésticos.
38

A partir destes pressupostos e da concepção de que “a desertificação é um processo de


degradação da terra que pode ter múltiplas causas e pode dar lugar a múltiplas conseqüências”, de tal
modo interligadas por mecanismos de retroalimentação que formam círculos viciosos (SAMPAIO et. al,
2003, p. 22), é possível identificar as principais atividades econômicas que, no Rio Grande do Norte,
repercutem sobre o ambiente contribuindo para a sua degradação: a agropecuária, a mineração – com
destaque para a produção ceramista - e a panificação.
A agropecuária é uma atividade secular em terras nordestinas e, por conseguinte, nas
potiguares, sendo desenvolvida desde os primórdios de sua colonização. Dentre as economias
fundadoras do território estão a cana-de-açúcar, a pecuária e a cotonicultura.
A agricultura da cana-de-açúcar localizava-se (ainda localiza-se) na faixa litorânea ou Zona
da Mata, onde anteriormente, havia sido praticada a extração do pau-brasil (GOMES, 1997, p. 23). A
partir desta atividade, o espaço foi sendo pontilhado por engenhos de açúcar e pequenos núcleos
populacionais. Também ocorria neste espaço a agricultura de subsistência. O território da
cana-de-açúcar, em termos de extensão, foi exígüo tendo em vista a estreita faixa de terras cujas
condições eram propícias ao seu plantio. Mas, esta economia foi importante, entre outros motivos, por
definir os primeiros fluxos de exportação do território potiguar e por influenciar o surgimento de
centros urbanos.
Ao longo de sua história, o Litoral Leste tornou-se uma região que tem na produção
agrícola um dos seus aportes e apresenta-se densamente ocupada e urbanizada. Neste sentido,
observa-se que onde antes predominava a Mata Atlântica, recorreu-se à prática do desmatamento para
viabilizar a implantação da monocultura da cana-de-açúcar e a estrutura citadina, com suas derivações,
por exemplo às vias de circulação (estradas).
Possivelmente reside nestes aspectos históricos, a justificativa para que, nos dias atuais,
alguns redutos canavieiros do Estado, localizados ao norte da Mesorregião Leste Potiguar, como
Ceará-Mirim e São Gonçalo do Amarante, estejam entre as ASD norte-rio-grandenses, classificadas
como áreas subúmidas secas. A mesma explicação servirá à compreensão da inclusão dos municípios de
Extremoz, Natal e Parnamirim na Área do Entorno das Áreas Semi-áridas e das Áreas Subumidas Secas
do Estado, sendo também passíveis de afetação pelo processo de desertificação.
A pecuária aparece como a economia fundante do Sertão, responsável pela sua efetiva
ocupação. Considerando a grande extensão do Sertão em relação à Zona da Mata, infere-se sobre a
importância e repercussão que a criação de gado teve em termos de construção do território potiguar.
O Sertão corresponde, basicamente, ao recorte semi-árido onde impera a Caatinga, território dos
currais, hoje identificado como área semi-árida afetada ou susceptível à processos de desertificação.
39

Com a emergência do algodão à condição de cultura de exportação (final do século XIX), o


espaço da fazenda sertaneja foi refuncionalizado passando a se estruturar em torno do histórico binômio
gado-algodão. Após a decadência da cultura algodoeira (década de 1970), a pecuária continuou a ser
praticada e vem demonstrando sinais de incorporação de inovações técnicas que repercutem na
produção e na produtividade. Neste período, a pecuária diversificou-se influenciada pelas políticas de
incentivo à caprinocultura e à ovinocultura, cujos rebanhos obtiveram expressivo crescimento, e a
bovinocultura teve sua produção bifurcada entre o gado de corte e o gado leiteiro, em resposta à
política governamental do Programa do Leite. A agricultura também foi redimensionada e modernizada
em algumas regiões, destacando-se o segmento da fruticultura.
No âmbito da agropecuária faz-se mister atentar que sua inclusão dentre as atividades que
podem contribuir para processos de desertificação deriva da forma como é implementada. De fato, é o
manejo inadequado dos recursos naturais – solo, água e vegetação - para fins de práticas agropecuárias
que torna a atividade degradante. Este processo se materializa através de ações como o desmatamento e
a queimada, (FIG. 01) realizados sem orientação técnica ou planejamento, para cultivos em encostas de
serras, (FIG 02) margens de rios e outros ambientes, incluindo-se aqueles destinados à formação de
pastagens; o superpastoreio, (FIG. 03 e 04) seja em termos de espaço ou tempo; a irrigação, (FIG. 05)
que produziu benefícios, mas sendo realizada de forma inadequada e sem recurso à drenagem gerou o
problema da salinização. Acrescente-se à problemática em foco, o uso indiscriminado e inadequado de
herbicidas.

FIGURA 01 – QUEIMADAS NA FIGURA 02 - DESMATAMENTO DE


SERRA DE SANT’ANA MUNICÍPIO ENCOSTAS NO MUNICÍPIO DE
40

FIGURA 03 – SUPERPASTOREIO FIGURA 04 - SUPERPASTOREIO

FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL


FIGURA 05 – IRRIGAÇÃO NO BRASIL, 2002
MUNICÍPIO DE SAÕ JOÃO DO SABUGI

FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL


BRASIL, 2002

Não é demais enfatizar que a circunscrição das ASD no Rio Grande do Norte corresponde a
97,6% de seu território e que a agropecuária ainda tem um papel importante no quadro econômico,
41

principalmente na porção semi-árida e subúmida seca, apesar da redução de sua participação na


composição do PIB estadual.
Quanto à mineração (FIG. 06) do Rio Grande do Norte também é importante salientar o
seu desenvolvimento há vários decênios, tendo sido emblemática de uma fase próspera do Estado, mais
especificamente da Região do Seridó, entre os anos de 1940 e 1980. Neste período, a exploração da
província scheelitífera curraisnovense “não só colocou este município em posição de primazia (quase
totalidade do mineral produzido e exportado no país) como elevou o Rio Grande do Norte ao patamar
de detentor das maiores reservas e de maior produtor brasileiro” (ALVES, 1997, p.13-15 apud
MORAIS, 2005, p. 171). A produção da scheelita destinava-se principalmente ao mercado externo e
compunha junto com o algodão e a pecuária o tripé de sustentação da economia seridoense. Contudo,
assim como a cotonicultura, esta produção mineira que teve uma singular expressão econômica e
histórica para a sociedade potiguar, especialmente a seridoense, traduzindo-se em uma fase de fausto,
modernização e riqueza, também enfrentou uma crise que a levou à decadência.

FIGURA 06 - MINERAÇÃO LOCALIZADA


NA COMUNIDADE OLHO D’ÁGUA DE
QUINTOS MUNICÍPIO DE EQUADOR

FONTE: ADESE, 2005.

Na tessitura deste enredo de crises, que abalou a economia estadual, novos segmentos de
produção do setor mineral foram surgindo e outros, já explorados, tiveram a oportunidade de se
fortalecer e/ou ampliar. A Avaliação Preliminar do Setor Mineral do Rio Grande do Norte (SEDEC,
2004), documento elaborado com base nas informações do Cadastro Industrial da Federação das
Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN, referente aos anos 2002-2003, e da listagem de
42

processos de licenciamento das atividades de mineração do Instituto de Desenvolvimento Econômico e


Meio Ambiente do Rio Grande do Norte – IDEMA, indica os principais bens minerais e os municípios
que respondem pela Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Estado (ANEXO 03 e ANEXO
04).
Os dados sobre este segmento industrial evidenciam a existência de certa diversidade de
bens minerais sendo explorados, tais como água mineral, areia, argila, brita, cal, calcário, caulim,
feldspato, gemas, sal marinho, tantalita, cerâmica vermelha e cerâmica branca, dentre outros. A
distribuição destas unidades produtivas pelo território abrange as 4 mesorregiões do Estado e 18
microrregiões das 19 existentes, exceto a Microrregião de São Miguel (vide MAPA 02). No entanto, as
informações apontam para a ocorrência de uma concentração em termos de localização geográfica e de
segmento produtivo.
Em termos de concentração geográfica dos estabelecimentos da Indústria Extrativa e de
Transformação Mineral do Estado, destacam-se as mesorregiões Oeste Potiguar (119 unidades) e
Central Potiguar (120 unidades). Esta última tem 104 indústrias (86,6%) localizadas nas microrregiões
do Seridó Ocidental e Oriental ressaltando-se que, nesta, onde existe o núcleo de desertificação, há 95
indústrias de extração mineral.
Considerando o número de indústrias tem-se que, das 350 empresas que constam na fonte
documental, os segmentos mais representativos são o de produção de cerâmica vermelha (141) e o
salineiro (40). O primeiro responde por 40,28% do total de empresas e encontra-se disseminado pelo
território em unidades isoladas ou formando pólos. O segundo é responsável por 11,42% das empresas
e tem como redutos de produção os municípios de Areia Branca, Macau, Grossos, Galinhos e Mossoró,
sendo este último detentor de 21 indústrias das 40 identificadas, ou seja, 52,5% do total.
Nesta geografia da Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Rio Grande do Norte
os dados sobre o segmento ceramista e sobre a Região do Seridó despertam a atenção. De acordo com
o levantamento realizado as empresas do setor encontram-se distribuídas em 35 municípios do território
potiguar e formam três pólos de produção: o da Grande Natal, do Baixo Açu e do Seridó (MAPA 10).
43

MAPA 10 – Municípios produtores de Cerâmica do Rio Grande do Norte

FONTE: SEDEC. Avaliação preliminar do setor mineral do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.

O Pólo da Grande Natal abrange 17 empresas e é composto pelos municípios de Nísia


Floresta, São José do Mipibu, Ceará-Mirim, Ielmo Marinho e São Gonçalo do Amarante, principal
produtor.
O Pólo do Baixo Açu é formado pelos municípios de Itajá, Ipanguassu, Alto do Rodrigues,
Pendências e Açu. Em Itajá estão concentradas 17 empresas das 34 que compõem o pólo e 10 no
município de Açu.
44

No Pólo do Seridó os dados são mais expressivos: das 141 empresas produtoras de
cerâmica do Estado, 66 estão situadas na região (46,8%), dispersas por 14 municípios. Parelhas, com
suas 24 unidades de produção, se destaca como maior produtor do Estado. Em seguida despontam os
municípios de Carnaúba dos Dantas (13), Jardim do Seridó (6) e Cruzeta (6).
Indiscutivelmente, a mineração, praticada de maneira racional e econômica, se constitui uma
atividade básica da economia, que “deve ser operada com responsabilidade social, consolidando-se no
contexto do desenvolvimento sustentável, procurando um equilíbrio sistemático entre o trinômio
homem-recurso natural-território” (SEDEC, 2004, p. 35). Porém, os questionamentos acerca desta
atividade surgem em função de que o seu exercício nem sempre se pauta por estas prerrogativas ou pela
observação da legislação pertinente. Disto resulta que a mineração executada sem um devido
planejamento e sem critérios técnicos e ambientais torna-se uma atividade portadora de expressivo
poder de degradação ambiental.
A assertiva conduz a pensar sobre o desenvolvimento da mineração em um território com
elevada susceptibilidade à desertificação, como é o caso do Rio Grande do Norte, especialmente a
Região do Seridó, principal pólo de produção ceramista do Estado e onde se registram os mais altos
níveis de susceptibilidade (muito grave e intenso), responsáveis pela configuração de um núcleo de
desertificação.
A difusão da produção de cerâmica (FIG. 07 e 08) pelo Seridó coloca-se no contexto de
rebatimento da crise da base produtiva – algodão e scheelita -, insurgindo-se como uma alternativa
capaz de gerar ocupação e renda. Dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial –
SENAI/RN, revelaram que, entre 1989 e 2001, houve um expressivo crescimento do setor ceramista no
Rio Grande do Norte, principalmente, no Seridó. No período em foco, foi registrado um crescimento
relativo deste segmento da ordem de 93,9% no Estado e de 690% na citada região (MORAIS, 2005, p.
293).
45

FIGURA 07 - CERÂMICA FIGURA 08 - CERÂMICA


LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE
CRUZETA CRUZETA

FONTE: ELISÂNGELO, 2004 FONTE: ADESE, 2001


46

Nos principais municípios produtores esta atividade tem sido responsável pela garantia de
trabalho e renda para um grande contingente da população. Mas, se por um lado pode parecer
promissora em termos de mercado de trabalho, por outro, contribui para acentuar a susceptibilidade à
desertificação, tendo em vista a origem da matéria prima argila e a rudimentar tecnologia de produção
que utiliza a lenha como fonte de energia. A fabricação de telhas e tijolos com base na utilização de
recursos florestais e de solos aluviais, antes usados para a lavoura de subsistência e o plantio de
pastagens, tem aguçado os problemas ambientais da região, cujo ecossistema predominante já apresenta
naturalmente tendência a processos de degradação. O uso de argila de açude para fins ceramistas
também tem contribuído para degradar e gerar conflitos em áreas de vazante dos reservatórios, cuja
destinação é a produção de hortifrutiganjeiros e de capim para o gado quando o volume d’água
encontra-se baixo. De acordo com Medeiros (2004, p. 74), a produção ceramista “é considerada pela
maioria dos estudiosos como a atividade que mais corrobora para degradar a região do Seridó
norte-rio-grandense”.
A forma como a produção é realizada recorrendo-se ao desmatamento de áreas recobertas
pela Caatinga, que deixa o solo desnudo, e a extração de argila em recortes férteis que aceleram a
erosão através das crateras que se formam no solo, torna-a um agente incisivo de degradação em um
cenário marcado pela semi-aridez. Outrossim, o baixo nível tecnológico utilizado no fabrico de telhas e
tijolos tem gerado grandes perdas de material que se transformam em resíduo, entulhado nas
proximidades das unidades de produção, denotando uma outra face da agressão ao meio ambiente.
Neste sentido, descortina-se o desafio que a sociedade potiguar precisa enfrentar, tendo em
vista a extensão da atividade mineira e, especialmente a dimensão que a produção de cerâmica assume,
nos dias atuais. Apresentando-se com alguns estabelecimentos dispersos e outros agregados em pólos, a
produção de cerâmica cristaliza a difícil equação entre dividendos econômicos e degradação ambiental.
Neste panorama, porém, há um dado que não se pode negligenciar: 97% das terras do Rio Grande do
Norte são susceptíveis à desertificação e, no Seridó, principal pólo ceramista, há um retrato sem
retoques produzido pela exaustiva intervenção do homem no meio, um legado de degradação que fez a
região ser perfilada entre os núcleos de desertificação do Brasil.
Uma outra atividade econômica que pode ser apontada dentre aquelas cujo
desenvolvimento colabora para a desertificação é a panificação. Embora ainda não se tenha dado
disponível sobre o assunto, é possível vislumbrar uma correlação entre o crescimento das panificadoras
e a elevação das taxas de urbanização, visto que, na atualidade, a quase totalidade dos municípios do
Estado, dispõe deste tipo de unidade industrial.
47

A relação entre esta atividade e o processo de degradação se estabelece a partir do uso da


lenha no processo de produção. Assim, a panificação passa a ser uma atividade humana a gerar pressão
sobre os já comprometidos estoques de vegetação lenhosa do território e, dada a constante e crescente
demanda industrial, inclusive por parte de outros segmentos produtivos, amplia e impulsiona a prática
do desmatamento. Tomando a situação do Seridó como referência, o consumo da lenha por parte das
cerâmicas e panificadoras está implicando na destruição da cobertura vegetal e segundo Medeiros
(2004, p. 82) este processo vem condenando algumas espécies vegetais e animais à extinção, como
exemplo a abelha jandaíra, que faz seu ninho no tronco das árvores. A avidez humana de impor a lei do
machado, faz com que as árvores, redutos de proliferação de vida, tombem e com elas declinem
também as possibilidades de reprodução de algumas espécies animais.
Além destes aspectos, é preciso ainda considerar que a destruição da cobertura vegetal para
se obter a lenha também é realizada para fins de uso doméstico, principalmente nas áreas rurais e com
menor intensidade nas periferias urbanas. Isso reflete a persistência de uma prática sócio-cultural, em
função de baixo poder aquisitivo ou do fator distância, geradores de dificuldades para o uso do GLP.
Alguns dados sobre a extração vegetal no Rio Grande do Norte revelam como esta prática,
a partir de espécies nativas, ainda se mantém viva na sociedade. Em 2002, a produção de carvão vegetal
no Estado foi de 3.058 toneladas, destacando-se os municípios de Baraúna (288 t), Santana do Matos
(275 t) e Caraúbas (225 t). A produção de lenha correspondeu a 1.713.765 m³, tendo como principais
produtores os municípios de Governador Dix-Sept Rosado (129.600 m³), Baraúna (75.192 m³) e Apodi
(67.280 m³) (IDEMA, 2002). Importante o registro de que a extração de lenha se verifica em 166
municípios do Estado e a produção de carvão em 159 deles.
A delineação deste quadro em relação à desertificação no Rio Grande do Norte é uma clara
evidência da inter-relação entre os aspetos naturais e a ação humana no desencadeamento do fenômeno.
Considerando que a degradação da terra é definida como a redução ou perda da capacidade da
produtividade biológica ou econômica e da complexidade das terras e que comporta a degradação do
solo, água e vegetação, verifica-se que, no Estado, algumas práticas como o desmatamento e as
queimadas e o emprego de técnicas agropecuárias inadequadas repercutem sobre o território,
intensificando a susceptibilidade à desertificação.
Nas áreas afetadas pela desertificação as conseqüências se pautam mais pela semelhança das
manifestações que pelas diferenças, evidenciando-se sob múltiplos aspectos e variadas dimensões, de
forma bastante inter-relacionada. Em termos ambientais, os efeitos da degradação ganham visibilidade
através da erosão (FIG. 09 e 10) e salinização dos solos, perda da biodiversidade, diminuição da
disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos, entre outros. Socialmente, os reflexos são sentidos
48

a partir da desestruturação familiar motivada pela necessidade de emigrar para centros urbanos, devido
à perda da capacidade produtiva da terra, o que gera novas demandas sociais e aumenta a pressão sobre
os serviços, principalmente os oferecidos pelo Estado. Na dimensão econômica destacam-se a queda na
produtividade e produção agrícolas, sobretudo a agricultura de sequeiro mais vulnerável aos fatores
climáticos, e a redução da renda e do consumo da população. Acrescente-se a repercussão sobre a
arrecadação de impostos e na circulação de renda decorrente da perda da capacidade produtiva
(IDEMA, 2004, p. 13-14).

FIGURA 09 – EROSÃO DOS SOLOS FIGURA 10 – EROSÃO DOS SOLOS


NO MUNICÍPIO DE LAGOA NOVA NO MUNICÍPIO DE CURRAIS

FONTE: ELISÂNGELO, 2004.

A delineação deste quadro de referências sobre as causas e as conseqüências da


desertificação define a condição do Rio Grande do Norte como área susceptível ao processo, sendo
importante identificar a cartografia que assume em território potiguar.
49

3.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação

Tomando como referência o PAN Brasil (MMA, 2004), que estabelece uma regionalização
em áreas semi-áridas, subúmidas secas e de entorno, segundo os estados, foi possível sistematizar
alguns dados sobre as ASD do Rio Grande do Norte que desnudam a problemática da desertificação,
revelando o quão é preocupante a situação no Estado, em termos de extensão e contingente de
população afetado (TAB. 06).

TABELA 06
Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o PAN-Brasil – 2004

ÁREAS POPULAÇÃO ÁREA (km²)¹


SUSCEPTÍVEIS Urbana Rural Total % Total %
Semi-Árida 1 041 484 521 994 1 563 478 56,3 48 706,01 92,3
Subúmida Seca 104 704 155 586 260 290 9,3 2 396,834 4,5
Do Entorno 834 874 21 705 856 579 30,9 416,165 0,8
ASD do Estado 1 981 062 699 285 2 680 347 96,5 51 519,01 97,6
Estado (total) 2 036 673 740 109 2 776 782 100,00 52 796,791 100,00
FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de combate à
desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.
IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.
IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.
¹ Calculada com base na área territorial oficial, segundo o IBGE.

Considerando a classificação estabelecida no PAN Brasil (MMA, 2004) o Rio Grande do


Norte apresenta 97,6% de seu território incluído nas ASD, estando a parcela mais significativa
classificada nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação. Nos 48.706,01 km² das referidas áreas,
4.093.806 km² apresentam um nível de degradação muito intenso configurando o Núcleo de
Desertificação do Seridó.
O conjunto das ASD no Rio Grande do Norte compreende 159 municípios dos 167
existentes (95,21%) (MAPA 10). Abriga um contingente de 2.680.347 habitantes, dos quais 73,91%
residem em espaços urbanos e 26,08% são moradores rurais. Este universo populacional corresponde a
97,26% do contingente urbano e 94,48% da população rural do Estado.
50

MAPA 10 - Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o Pan-Brasil - 2004

FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de
combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.
51

A cartografia da desertificação no Rio Grande do Norte referenda a correlação estabelecida


entre o fenômeno e a área do ecossistema da Caatinga, ou seja, sob o domínio do semi-árido.
Considerando que em aproximadamente 75% do território estadual o clima predominante é o
Semi-árido e que as ASD também abarcam espaços subúmidos secos e as áreas de entorno, tem-se um
quadro em que apenas 2,4% da superfície potiguar não demonstram susceptibilidade à desertificação.

3.2.2.1 Áreas Semi-áridas

Conforme foi analisado anteriormente, as áreas semi-áridas que conformam as ASD do Rio
Grande do Norte correspondem ao espaço onde predomina o ecossistema da Caatinga e se manifestam
as características climáticas da semi-aridez.
Dentre os 159 municípios que compõem as ASD norte-rio-grandenses, 143 compreendem
as Áreas Semi-áridas e totalizam uma extensão de 48.706,01 km², ou seja 92,3% do território. Nestes
rincões sertanejos moram 1.563.478 habitantes, um pouco mais da metade da população potiguar
(56,3%). Deste universo, 66,61% da população vivem em espaços urbanos.
A tentativa de estabelecer uma correspondência entre este recorte e as divisões regionais do
Estado (vide MAPA 02) permite identificar que dele fazem parte as mesorregiões Oeste Potiguar,
Central Potiguar, Agreste Potiguar e alguns municípios da Mesorregião Leste Potiguar. As
especificidades encontradas nas escalas microrregionais tornam possível admitir que ocorrem diferentes
níveis de degradação.
Entrecruzando a leitura de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000) com a classificação do PAN
Brasil (2004), é possível delinear recortes a partir da intensidade do processo de desertificação.
Assim, dentre as áreas semi-áridas do Rio Grande do Norte, afetadas por este fenômeno, a
porção sul da Mesorregião Oeste Potiguar ou sul-oeste do Estado, onde se situam as microrregiões de
Pau dos Ferros, Serra de São Miguel e Umarizal, apresenta um estágio de degradação moderada.
No outro extremo, registrando níveis de degradação muito grave e intenso, está uma fração
da Mesorregião Central Potiguar, mais especificamente as microrregiões do Seridó Ocidental e Oriental
e os municípios de Jucurutu (Vale do Açu), Florânia, Tenente Laurentino e São Vicente (Serra de
Santana), localizadas na parte centro-sul do Estado, cuja gravidade da situação resultou na identificação
de um núcleo de desertificação, objeto de análise a seguir.
Os demais espaços semi-áridos susceptíveis à desertificação no Rio Grande do Norte foram
parcialmente identificados pelo estudo de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000), de forma que é possível
apontar como áreas de ocorrência grave apenas as microrregiões Chapada do Apodi, Médio Oeste,
52

Mossoró e frações do Vale do Açu (Messoregião Oeste Potiguar); a microrregião Macau (Mesorregião
Central Potiguar); a microrregião de Baixa Verde (Mesorregião Agreste Potiguar) e alguns municípios
da microrregião do Litoral Nordeste (Mesorregião Leste Potiguar).
A análise destes recortes sob a ótica da intensidade da pobreza, da indigência e do IDH-M
mostra um quadro bastante variado. Com relação à pobreza e a indigência, os municípios que
evidenciaram maior intensidade estão situados, principalmente, nas microrregiões de São Miguel, Pau
dos Ferros, Umarizal e Agreste Potiguar. Os índices menos expressivos concentraram-se em municípios
do entorno de Mossoró e das microrregiões do Seridó Ocidental e Oriental. Nos demais espaços, os
indicadores apresentaram uma situação intermediária. Em termos de IDH-M, as situações mais críticas
aparecem na microrregião do Litoral Nordeste e em alguns municípios dispersos pelo território
estadual, pontilhando os espaços regionais. Os índices mais favoráveis se sobrepõem às regiões em que
a pobreza e a indigência registraram menor intensidade.
Nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação norte-rio-grandenses a agropecuária
ainda desempenha um importante papel no tecido sócio-econômico, estando o Seridó entre as principais
bacias leiteiras do Estado; a produção ceramista assumiu expressividade, passando a representar uma
das relevantes fontes de renda, e a urbanização intensificou-se, nos últimos 35 anos, gerando novas
demandas sociais e o aumento da pressão sobre os recursos naturais. Neste recorte inclui-se o núcleo de
desertificação.
53

3.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó

Os núcleos de desertificação correspondem à áreas de amplitude variável onde aparecem


“manchas aproximadamente circulares” e “a fisionomia desértica se imprime mais denunciadora. No
solo todo ou quase todo erodido, onde o horizonte A foi arrastado, ou nunca existiu, a vegetação,
mesmo nos períodos de chuva, se recupera muito escassamente ou não se recupera” (VASCONCELOS
SOBRINHO, 2002, p. 65). São redutos onde a degradação ambiental é maximizada e os efeitos da
conjugação de variáveis naturais e humanas se evidenciam de forma clara, deixando transparecer no
espaço a deterioração das relações sócio-ambientais.
A configuração desses núcleos resulta de um equilíbrio ecológico instável, determinado por
fatores naturais e pela ação humana. No dizer de Vasconcelos Sobrinho (1971 apud 2002, p. 64),
enquanto não há interferência, o periclitante equilíbrio entre flora e fauna e o meio hostil vai se
mantendo a duras penas. “Mas vem o homem e ocupa a área; derruba e queima a cobertura vegetal,
quebrando um dos elos da cadeia de condicionamentos e dá-se a ruptura do complexo: o solo foge
perdendo a fertilidade, assoreando os rios; sua superfície resseca-se e impermeabiliza-se; a cobertura
vegetal perde a pujança e degrada-se; a atmosfera desidrata-se e aquece-se, dificultando as
precipitações; as reservas de água das profundidades do solo minguam, as fontes estacam-se e os rios
tornam-se intermitentes. E, por último, o homem foge.”
Os núcleos de desertificação apresentam um dinamismo próprio, com tendência a de
expansão em detrimento de áreas vizinhas, caso se agucem os processos desencadeadores de sua
formação.
As primeiras referências sobre a formação de núcleos de desertificação no Brasil, mais
especificamente no Nordeste, foram pioneiramente apresentadas por Vasconcelos Sobrinho. Em 1977,
com a colaboração do referido professor, a SUDENE iniciou o estudo das áreas em processo de
desertificação, visando identificar as áreas mais afetadas e selecionar as mais críticas, como áreas piloto,
para efeito de mapeamento. Foram selecionadas seis áreas piloto nos estados do Piauí (Caatinga e
Cerrado), Ceará (Inhamuns), Paraíba (Cariris Velhos), Pernambuco (Sertão Central), Bahia (Sertão do
São Francisco) e Rio Grande do Norte (Seridó). Em 1996 foram realizadas visitas de campo em Gilbués
(PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e Seridó (RN), sendo possível constatar que entre as causas
principais para a intensa degradação dessas áreas estavam o desmate da Caatinga para uso na
agricultura, pecuária e mineração, extração de argila de solos aluviais e retirada de madeira para lenha.
“Essas áreas foram caracterizadas como de alto risco à desertificação, e ficaram conhecidas como
54

núcleos desertificados” (MMA, 2004, p. 17). No Seridó, a extração de argila de solos aluviais, tendo
como destino a produção ceramista, foi apontada como causa principal da desertificação.
Sobre a inclusão do Seridó potiguar como núcleo de desertificação assim se manifesta
Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 68): “No Rio Grande do Norte, quase toda a região
fitogeográfica do Seridó vem sendo submetida a intensos trabalhos de prospecção e mineração, criando
núcleos de desertificação”. O autor salienta que esta atividade, juntamente com as condições climáticas
de baixa pluviosidade, tornam o Seridó um dos exemplos mais graves da presença da desertificação no
Nordeste. Um outro agravante é a produção de cerâmica, cujos efeitos nefastos extrapolam a formação
de crateras para a retirada do barro [argila], grassando pela destruição da cobertura vegetal para
obtenção de lenha a ser usada nos fornos. “O Seridó, principalmente nos municípios de Equador,
Parelhas, Carnaúba dos Dantas e Acari, 104 (cento e quatro) cerâmicas competem entre si pelo volume
de argila retirado do solo para fabricação de telhas e tijolos, incentivadas pela qualidade do barro, que
permite um tipo especial dos artefatos fabricados.”
Considerando que este estudo foi realizado em 1982 e que nos dias atuais (2005) a
produção ceramista é ainda identificada como uma das principais atividades a gerar ocupação e renda
para os seridoenses, sendo ainda marcada pelo emprego de baixa tecnologia, conclui-se que decorreram
23 anos de intensa degradação dos solos e da vegetação em terras seridoenses.
Os dados coletados sobre a área e a população do Núcleo de Desertificação do Seridó,
segundo a regionalização adotada pelo PAN Brasil (MMA, 2004, p. 17), delineiam a extensão territorial
e a abrangência demográfica do fenômeno (TAB. 07).

TABELA 07
Núcleo de Desertificação do Seridó
2005
MUNICÍPIOS ÁREA (km²) POPULAÇÃO
Total % Urbana Rural Total %
Acari 608,565 1,2 8.841 2.348 11.189 0,4
Caicó 1.228,574 2,3 50.624 6.378 57.002 2,1
Carnaúba dos Dantas 245,648 0,5 5.035 1.537 6.572 0,2
Currais Novos 864,341 1,6 35.529 5.262 40.791 1,5
Equador 264,983 0,5 4.324 1.340 5.664 0,2
Jardim do Seridó 368,643 0,7 9.297 2.744 12.041 0,4
Parelhas 513,052 1,0 15.606 3.713 19.319 0,7
Núcleo de Desertificação 4.093,806 7,8 129.256 23.322 152.578 5,5
Estado (total) 52.796,791 100 2.036.673 740.109 2.776.782 100
FONTE: IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.
IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.
55

O Núcleo de Desertificação do Seridó ocupa 4.093,803 km² do território do Rio Grande do


Norte e abriga uma população de 152.578 habitantes. A população urbana residente nas circunscrições
do núcleo corresponde a 84,71% e a população rural a apenas 15,28%. Os sete municípios do Núcleo,
hoje, apresentam como traço marcante o desenvolvimento do setor terciário, com ênfase nos pequenos
negócios urbanos e nos segmentos dos serviços sociais, e das atividades mineiras, com realce para a
cerâmica. O município de maior expressão territorial e demográfica é Caicó.
A localização geográfica do Núcleo de Desertificação do Seridó corresponde ao centro do
Polígono das Secas. Sua fácies ecológica está representada pelo clima muito quente e semi-árido,
passível de estiagens prolongadas; estrutura geológica formada pelo embasamento cristalino (gnaisses,
micaxistos, granitos, etc.); predominância de solos dos tipos Bruno Não-cálcico e Litólicos, que são
rasos e pedregosos, apresentando baixa capacidade de retenção de água e “como espelho do meio”, a
vegetação de Caatinga, que em sua feição arbustiva é baixa, muito aberta e entremeada de herbáceas;
em sua formação lenhosa, onde há espécies arbóreas, é marcada pelo nanismo.
O relevo regional apresenta uma topografia acidentada. As encostas mais acentuadas, com sua
baixa cobertura vegetal e solos rasos, têm apresentado intensos processos de erosão, derivados
principalmente da retirada da cobertura vegetal para lenha.
Apresentando características naturais que refletem uma certa vocação ecológica para a
desertificação, conforme expressão de Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 69), o Seridó, tem
no processo de ocupação territorial, a face da intervenção humana acentuando a predisposição ao
processo.
O desenvolvimento da pecuária extensiva, da agricultura de subsistência nos aluviões e do
cultivo do algodão, inclusive nas encostas de serras, foram atividades que repercutiram sobre o
ambiente, a despeito dos benefícios sócio-econômicos que acarretaram. A efetiva ocupação espacial e o
crescimento demográfico ensejaram a formação de núcleos populacionais – fazendas, vilas e cidades –
passando a demandar o uso da lenha para fins múltiplos, entre eles o uso doméstico, gerando um outro
fator de pressão sobre a vegetação.
Com a derrocada do algodão foi minimizado o desgaste do solo pelas roças. No entanto, a
expansão das atividades ceramista e de panificação intensificou a extração de lenha e a produção de
carvão. Além do impacto sobre a vegetação, a cerâmica também afeta o solo, tendo em vista que a
argila é retirada dos baixios e “assim perde-se parte das áreas mais nobres para agricultura, não só pela
sua condição topográfica, de maior recepção de água, mas por terem os solos mais profundos e de
maior fertilidade” (SAMPAIO et. al., 2002, p. 120).
56

Com o declínio do binômio algodão-gado foi retomada a produção pecuária, com incentivo
governamental, determinando um processo de expansão que incidiu sobre o território, entre outras
formas, através da ampliação das áreas com plantio de capim. Além do rebanho bovino, também
cresceu significativamente o de caprinos e ovinos. A questão do aumento dos rebanhos se torna
problemática mediante a ocorrência de superpastoreio.
Pesquisa realizada por Sampaio et. al (2002, p. 121) aponta para uma contração na área de
lavoura permanente na Região do Seridó, após 1985, que se deve à redução da área plantada com
algodão arbóreo. No entanto, observando que, em 1995-1996, alguns municípios como Carnaúba dos
Dantas, Acari e Parelhas apresentaram reduções maiores que a região, inferiu que “a desertificação
parece, [...], ser elemento agravante da contração da área cultivada com lavoura permanente no
núcleo.” Além da contração na área cultivada, também foi evidenciada queda na produtividade,
destacando-se os municípios de Equador e Parelhas.
Ressalta-se que dos sete municípios do Núcleo de Desertificação, cinco fazem parte do Pólo
Ceramista do Seridó (exceto Equador).
Desta forma, nos municípios que compõem o Núcleo, a prática da agricultura, da pecuária e da
mineração acompanharam o enredo da história regional, mas deixaram como legado um horizonte
turvo, embaçado pela avidez do machado para retirar a lenha e pela fumaça que emana dos fornos das
cerâmicas, onde a argila é transformada em telhas e tijolos, e dos bacuraus ou trincheiras (fornos), onde
a vegetação é queimada para produzir carvão. Assim, impulsionada pelo desmatamento, queimadas e
atividades econômicas desenvolvidas de forma inadequada, as terras vão ficando despidas, expostas ora
ao sol causticante, ora às chuvas torrenciais; a erosão vai rasgando o solo, deixando à mostra suas
entranhas, formando crateras, gerando uma paisagem chocante que se torna ainda mais agressiva
quando se concebe que, embora havendo uma predisposição natural, sua conformação atual foi lapidada
pela ação humana.
Neste cenário, considerando a importância da gestão no âmbito da problemática ambiental,
buscou-se informações a respeito da estrutura institucional dos municípios formadores do Núcleo de
Desertificação, como forma de identificar o tratamento dispensado a dimensão ambiental. De acordo
com os dados fornecidos pelas prefeituras, os municípios de Parelhas, Caicó, Currais Novos, Jardim do
Seridó, Carnaúba dos Dantas e Acari apresentam em sua estrutura administrativa uma Secretaria
Municipal com atuação sobre o meio ambiente, porém, não de forma específica. Geralmente esta
secretaria abrange também a agricultura, o abastecimento e/ou serviços urbanos. Em nível de aparato
institucional do Estado, registrou-se a presença da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural –
57

EMATER nos sete municípios. Em termos de atuação direta do Governo Federal, há um escritório do
DNOCS apenas em Caicó.
As informações obtidas sinalizam para um avanço na estrutura institucional em nível de
municípios. Todavia, é preciso atentar que a gestão ambiental não se faz apenas através da criação de
organismos, mas, principalmente, a partir de decisões e ações aglutinadoras de divergentes interesses,
pautando-se em uma construção social participativa e descentralizada, em que o Estado e a sociedade
compartilhem as responsabilidades sobre o uso e a conservação/preservação dos recursos naturais.

3.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas

Do universo de 159 municípios formadores das ASD do Rio Grande do Norte, apenas 13
(8,2%) compõem as Áreas Subúmidas Secas. São municípios que, de modo geral, localizam-se na faixa
de transição entre o litoral e o sertão, resguardando em sua paisagem traços de uma ou outra região
geográfica, dependendo da sua localização.
A relação entre esta regionalização e a adotada pelo IBGE torna possível a seguinte
identificação: na Mesorregião Leste Potiguar estão Rio do Fogo e Maxaranguape (Microrregião Litoral
Nordeste); Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante e São José do Mipibu (Microrregião Macaíba) e na
Mesorregião Agreste Potiguar situam-se Pedro Velho, Montanhas, Várzea, Judia, Espírito Santo,
Passagem, Brejinho e Monte Alegre (Microrregião Agreste Potiguar).
Sua abrangência territorial é de 2.396,834 km² correspondentes a 4,5% da área total do
Estado. A população residente soma 260.290 moradores, dos quais 40,22% residem em ambientes
urbanos, segundo o Censo 2000.
Nestas áreas há predominância de índices de pobreza e indigência, situando-se em em uma
escala de média a alta intensidade. O IDH-M é variável, sendo ressaltados os baixos indicadores dos
municípios do Litoral Nordeste.
Neste recorte a agricultura e a produção ceramista também são representativas. Nos
municípios litorâneos, a infra-estrutura turística se fortalece e irradia-se pelas áreas adjacentes,
dinamizando a economia.

3.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas


58

As Áreas do Entorno, conforme explicitado no PAN Brasil (2004, p. 19), correspondem


àqueles espaços “também passíveis de afetação por processos similares de desertificação”, sendo a
ocorrência de secas, nestes municípios, uma evidência da expansão do fenômeno.
No Rio Grande do Norte, as Áreas do Entorno correspondem a 416,165 km² e abrangem
os municípios de Extremoz, Natal e Parnamirim, formadores da Microrregião Natal (Mesorregião Leste
Potiguar). Em termos espaciais, ocupa uma pequena fração de 0,8% do território potiguar.
A exígüa participação na escala territorial contrasta com a relevante representação
populacional. Os três municípios possuem 856.579 habitantes ou 30,9% do contingente demográfico
estadual e apresentam uma taxa de urbanização correspondente a 97,46%.
Natal abriga 712.317 moradores, o que equivale a 83,1% dos habitantes das Áreas de
Entorno e 25,65% da população potiguar. Esta concentração populacional tem como explicação o fato
de ser Natal a capital e o principal centro econômico do Estado. Nas últimas décadas seu intenso
crescimento urbano esboçou um processo de conurbação que referendou a criação da Região
Metropolitana de Natal, em 10 de janeiro de 2002, sendo esta formada por oito municípios, entre eles
os três que formam as Áreas de Entorno.
O perfil ambiental deste recorte do território estadual difere daquele predominante na
imensidão sertaneja. É uma região litorânea que tem como características o clima subúmido, os solos
arenosos e uma cobertura vegetal variável - praias e dunas, manguezais e floresta litorânea.
Os municípios das Áreas de Entorno estão entre os que apresentaram os melhores
indicadores sociais de pobreza, indigência e desenvolvimento humano em nível de Estado. Nos últimos
decênios, este recorte está sendo intensamente remodelado em decorrência da expansão do turismo e da
ampliação do setor terciário. Devido a sua dinâmica econômica, esta região tornou-se um pólo de
atração populacional, o que se confirma pelos dados censitários reafirmadores da tendência à
concentração demográfica.
59

4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS


DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO.

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO


Convênios / Recursos
Órgão Gestor
Programas e Envolvidos Período de Fontes de
Item
Estad Financiament
Federal Municipal Nome Atribuição Implementação
Projetos ual o

Financiament
x MMA
Programa Água o U$
1 2004/2007 MMA / SRH
Doce 6.000.000,00
Execução e
x SERHID
operação

R$
Programa de 2003 / 2004
Financiament 16.665.256,71
2 Desenvolvimento x SEAS BIRD
o e Execução R$
Solidário 2005/2006
25.491.000,00

Programa Água de R$ Durante todo o tempo


3 x SERHID Execução Estado do RN
Beber 3.000.000,00 de Governo

Subprograma de
Financiament
Desenvolvimento x ANA
o
Sustentável de
Recursos Hídricos R$
4 1998/2005 BIRD
para o Semi-árido 50.000.000,00
Brasileiro –
PROÁGUA /
x SERHID Execução
Semi-árido
60

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A


DESERTIFICAÇÃO
Convênios
/
Órgão Gestor
Programas Recursos
Item
e Envolvidos Período de Fontes de
Estadua Financiame
Federal Municipal Nome Atribuição R$ Implementação
Projetos l nto
Modelo de
Gestão dos x ANA Financiamento
Serviços de
Saneamento
na Área de
Atuação da x ADESE Execução R$
PROÁGUA
5 Agência de 10.000.000 2003/2007
/ ANA
Desenvolvi ,00
mento
Sustentável
do Seridó -
ADESE -
RN
Plano de
Monitorame
x MMA Financiamento
nto de
Qualidade Durante todo o
R$
6 das Águas tempo de MMA
95.000,00
das Bacias Governo
x IDEMA Coordenação
do Seridó e
do Potengi
(PNMA-II)
Núcleo de
Desenvolvi
mento
Sustentável
- NUDES:
Área piloto R$ Durante todo o
Governo do
7 do Seridó x SERHID Execução 152.167,96 tempo de
RN
nas Governo
comunidade
s rurais de
Cachoeira,
Cobra e
Juazeiro
Plano de
Ação x MMA Financiamento
Estadual de A ser
8 2004/2005 MMA
Combate à orçado
Desertificaç x SERHID Execução
ão
61
62

Convênios Recurso
/ s
Órgão Gestor
Programas Envolvid
Item
e os Período de Fontes de
Estadua Financiame
Federal Municipal Nome Atribuição R$ Implementação
Projetos l nto
Projeto
Manejo x MMA Financiamento
Sustentável 152.365, MMA/FNM
9 2005-2006
de Uso 00 A
EMATE
Múltiplo no x Execução
R
Seridó/RN
Projeto
Recuperaçã x MMA Financiamento
o da Área
300.000, MMA/FNM
10 Desertificad 2005-2006
00 A
a da Bacia
x SERHID Execução
do Rio
Cobra
Levantamen
to da x MI Financiamiento

situação dos
Perímetros
x SAPE Execução
Irrigados 10.774.0
11 2005 MI
dos Estados 00,00
do Rio x DIBA Execução
Grande do
Norte e
Paraíba
Plano
534.443. Estado do
12 Plurianual - x SERHID Execução 2005/2007
000,00 RN
2004/2007
63

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO


Recursos
Órgão Gestor
Convênios / Programas e Envolvidos Período de Fontes de
Item
Feder Estad Municip Financiame
Nome Atribuição R$ Implementação
Projetos al ual al nto
Convênios Firmados pela
Secretaria de Estado do
SETH Governo do
13 Trabalho, da Habitação e da x Financiamento 14.375.509, 2004/2005
AS RN
Assistência Social - 34
SETHAS/RN

Recuperação de áreas x Financiamento


Governo do
14 degradadas no vale do Açu. 2005/2006
RN
SEDE
x Execução
C -

Ordenamento da extração do x DNPN Financiamento


Governo
Quartzito localizado na
15 578.000,00 2004/2007 Federal e
Serra do Poção, município
SEDE estadual
de ouro Branco/RN. x Execução
C

Programa de arranjo
x DNPN Financiamento
produtivo - Estudo dos Governo
16 pegmatitos envolve os 1.000.000,0 2004/2007 Federal e
Estados do Rio Grande do SEDE 0 Estado
x Execução
Norte e Paraíba C

SEDE
x Financiamento
Projeto Gasoduto C
Governo do
17 Açu/Seridó - Orçado no ano 86.636,671, 2004/2007
RN
de 2002 99
Execução

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A


DESERTIFICAÇÃO

Item Convênios / Órgão Gestor Recursos Período de Fontes de


Programas e Envolvidos
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementaç Financia
ão mento

18 Programa de x MDA Financiamento


Desenvolvimento 69.125,00 2005/2006 MDA
Sustentável de x ADESE Execução
Territórios Rurais
64

MDA Financiamento MDA/Pre


19 Programa de Pref. Muni 156.600,00 2005/2006 feitura
Desenvolvimento x x de São Financiamento Municipal
Sustentável de João do e Execução de São
Territórios Rurais Sabugi João do
Sabugi

x MDA Financiamento MDA/Pre


20 Programa de 165.300,00 2005/2006 feitura
Pref. Muni. Financiamento
Desenvolvimento Municipal
x De Serra e Execução
Sustentável de de Serra
Negra do
Territórios Rurais Negra do
Norte
Norte.
21 Programa de x
Formação e FEBRABA Financiamiento
Mobilização Social N 2003/2005 FEBRAB
para a convivência 2.113.339,6 AN/ MDS
com o Semi-Árido: 7
Um Milhão de
Cisternas Rurais -
P1MC
x MDS Financiamento
x SEAPAC Execução

762.167.33
Total dos Recursos 5,67

FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a Setembro de 2005.
RIO GRANDE DO NORTE. SEDEC, SERHID, SEAS, SAPE
SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
65

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS


PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.
Programas Recursos

Programa Água Doce 6.000.000,00

Programa de Desenvolvimento Solidário - 2003/2004 16.665.256,71

Programa de Desenvolvimento Solidário - 2005/2006 25.491.000,00

Programa Água de Beber


3.000.000,00
Subprograma de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para
o Semi-Árido Brasileiro - PROÁGUA / Semi-árido 50.000.000,00
Modelo de Gestão dos Serviços de Saneamento na Área de Atuação da
Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - ADESE - RN 10.000.000,00
Plano de Monitoramento de Qualidade das Águas das Bacias do Seridó e
do Potengi (PNMA-II) 95.000,00
Núcleo de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - NUDES: Área piloto
do Seridó nas comunidades rurais de Cachoeira, Cobra e Juazeiro. 152.167,96

Plano de Ação Estadual de Combate à Desertificação. -

Projeto Manejo Sustentável de Uso Múltiplo no Seridó/RN 152.365,00

Projeto Recuperação da Área Desertificada da Bacia do Rio Cobra


300.000,00
66

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS


PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.
Programa Recursos

Levantamento da situação dos Perímetros Irrigados dos Estados do Rio


Grande do Norte e Paraíba 10.774.000,00
Plano Plurianual - 2004/2007 534.443.000,00
Convênios Firmados pela Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação
e da Assistência Social - SETHAS/RN. 14.375.509,34
Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu. -
Ordenamento da extração do Quartzito localizado na Serra do Poção,
município de ouro Branco/RN. 578.000,00
Programa de arranjo produtivo - Estudo dos pegmatitos envolve os
Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba 1.000.000,00
Projeto Gasoduto Açu/Seridó - Orçado no ano de 2002 86.636.671,99
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais nos
municípios do Seridó 69.125,00
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no
município de São João do Sabugi 156.600,00
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no
município de Serra Negra do Norte. 165.300,00
Programa de Formação e Mobilização Social para a convivência com o
Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais - P1MC 2.113.339,67
Total 762.167.335,67
FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a
Setembro de 2005.
SERHID - Projetos e Programas articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e
Convivência com o Semi-árido Potiguar.
SEAS - Programa de Desenvolvimento Solidário.
SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó
SEDEC - Secretaria de Desenvolvimento Econômico
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
SAPE - Secretaria de Agricultura e Pesca
67

5. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA


ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL.
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

Recuperação de 1.500 sistemas de dessalinização


que não estão funcionando, implantação de 500
MMA / SRH Programa Água Doce novos sistemas de dessalinização, implantação de
22 unidades demonstrativas de criação de peixe e
cultivos de plantas halófitas utilizando água do
rejeito dos dessalinizadores e implantação de 300
unidades produtivas de criação de peixe e cultivo de
plantas halófitas utilizando água rejeito de
dessalinizadores.

Financiamento de subprojetos produtivos, agrícolas


SEAS Programa de e não agrícolas, ligados à produção e que possam
Desenvolvimento Solidário contribuir para melhorar a renda e aumentar o
número de empregos, e subprojetos de
infra-estrutura econômica e social que visam
melhorar as condições de vida da população.

Perfuração, instalação e recuperação de poços;


SERHID Programa Água de Beber instalação convencional, com dessalinizadores
acoplados ou associados a painéis de energia
fotovoltaica.

Subprograma de Gestão de recursos hídricos, obras prioritárias,


ANA/ SERHID Desenvolvimento Sustentável elaboração de estudos e projetos, gerenciamento,
de Recursos Hídricos para o monitoria e avaliação, estruturação dos órgãos
Semi-Árido Brasileiro – gestores comunicação, educação e gestão
PROÁGUA / Semi-árido participativa, e implantação do sistema de outorga e
cobrança pelo uso da água.
68

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

Modelo de Gestão dos Diagnóstico, estudos de alternativas técnicas e


Serviços de Saneamento na projeto básico de abastecimento de água; estudos e
ANA/ADESE Área de Atuação da Agência estimativas para o modelo de gestão dos serviços de
de Desenvolvimento saneamento da zona rural do Seridó do RN.
Sustentável do Seridó -
ADESE - RN

Plano de Monitoramento de Elaboração do Plano Estadual de Monitoramento


MMA/IDEMA Qualidade das Águas das da Qualidade da Água de Bacias Hidrográficas
Bacias do Seridó e do Prioritárias.
Potengi (PNMA-II).

Núcleo de Desenvolvimento Implementação de barragens assoreadoras;


Sustentável do Seridó - diagnóstico ambiental da área, estudo de microbacia
SERHID NUDES: Área piloto do do Rio Cobra, reutilização de águas servidas;
Seridó nas comunidades instalação de dessalinizadores e reutilização dos
rurais de Cachoeira, Cobra e rejeitos para criação de peixes e incentivo à
Juazeiro. utilização de tecnologias voltadas às atividades
econômicas que não contribuam com a aceleração
do processo de desertificação.

Implementação de ações de redução da pobreza e


MMA/ SERHID Plano de Ação Estadual de da desigualdade; ampliação sustentável da
Combate à Desertificação capacidade produtiva; conservação, preservação e
manejo sustentável dos recursos naturais; e gestão
democrática e fortalecimento institucional.
69

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

MMA/ SERHID Projeto Recuperação da Estabelecer áreas de reserva legal em pequenas


Área Desertificada da Bacia propriedades de posse familiar nas comunidades rurais de
do Rio Cobra Cobra, Juazeiro e Cachoeira, localizadas no município de
Parelhas; recuperação da mata ciliar do Rio Cobra numa
extensão de 20,12 Km e atividades direcionadas à educação
ambiental.

Levantamento da situação Implementação de ações de administração, operação e


dos Perímetros Irrigados manutenção; administração e titulação fundiária;
MI/ SAPE dos Estados do Rio Grande recuperação de estruturas elétricas, equipamentos de
do Norte e Paraíba irrigação; implantação de hidrômetros; implantação de
drenagem parcelar; implantação de sistema de automação
com controle central; aquisição e instalação de câmera fria.
-
SEDEC Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu.

O programa é realizado com as famílias da Comunidade


Arapuá - Serra Negra do Norte, onde há um incentivo a
EMATER Projeto Agricultura produção de legumes e hortaliças com técnicas orgânicas e
Orgânica conta com a participação de alunos da rede pública na
construção de uma cerca viva em torno da área do projeto.
70

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações


Retificação e conservação de canais naturais;
Reuso de águas;
Implantação de projetos hidroagrícolas;
Pesquisa de recursos hídricos;
Gestão de recursos hídricos;
Reestruturação organizacional;
Combate à desertificação
SERHID Plano Plurianual - Construção, ampliação e recuperação de adutoras e canais;
2004/2007 Construção, ampliação e recuperação de barragens e açudes;
Pequenos sistemas de abastecimento de água comunitários;
Construção, ampliação e recuperação de poços,
dessalinizadores e cisternas;
Construção, ampliação e recuperação de poços,
dessalinizadores e cisternas;
Operação e manutenção de infra-estrutura hídrica;

Desenvolve atividades de educação ambiental em 21


EMATER / Projeto Agrinho municípios do Estado, contando com a participação de
SENAR e crianças de 1ª a 4ª e 5ª a 8ª Serie das Escolas das
SEBRAE Comunidades Rurais dos municípios envolvidos.
71

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

Realização de 13 oficinas envolvendo 350 agricultores e


familiares, com ênfase na prática do uso sustentável dos
recursos naturais através do manejo adequado das atividades
EMATER Circuito do meio agrícola e pecuária e de extrativismo vegetal. O projeto,
ambiente na Região do nesta primeira etapa, se desenvolve em comunidades rurais
Seridó dos municípios de Caicó, Jardim de Piranhas e Jardim do
Seridó. Após o treinamento os participantes passam a ser
agentes multiplicadores.
MDA/Prefeitur Programa de Readequação industrial de queijeira comunitária e
a Municipal de Desenvolvimento implantação de tratamento de efluentes e resíduos sólidos.
São João do Sustentável de
Sabugi Territórios Rurais
MDA/Prefeitur Programa de Readequação industrial de queijeira comunitária e
a de Serra Desenvolvimento implantação de tratamento de efluentes e resíduos sólidos.
Negra do Norte Sustentável de
Territórios Rurais
Estudo dos peguimatitos envolvendo os Estudos do rio
DNPM/SEDEC Programa de Aranjo Grande do Norte e Paraíba.
Produtivo
- Ordenamento da extração do quartzito na Serra do Poção,
DNPM/SEDEC município de ouro branco/RN
Convênios com
SETHAS Associações Redução da Pobreza Rural
Comunitárias
FONTES: SERHID - Projetos e Programas Articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e
Convivência com o Semi-árido Potiguar
ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó
SEDEC - Secretaria de Desenvolvimento Econômico
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte
72

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA


SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

Articulação e mobilização das instituições estaduais e


Plano Nacional de regionais do Estado do Rio Grande do Norte para a
Combate a realização das oficinas Estaduais para construção do
Desertificação Plano de Ação Nacional de Combate à
Desertificação – PAN/LCD

ADESE/ASA Articulação para o Visita da Ministra do Meio Ambiente Marina Silva


Potiguar lançamento do Para o Lançamento do PAN/Brasil no Estado do Rio
PAN/Brasil Grande do Norte.

Formação do Mobilização social de apoio ao Comitê da Bacia


Comitê de Bacias Piranhas-Açu
do Piranhas/Açu

Parceria junto a Pastoral da Criança, Sindicato dos


Evento em Trabalhadores Rurais da Região, SEBRAE local,
comemoração ao Diocese de Caicó e Associações Rurais, para as
dia Mundial da passeatas em comemoração ao dia mundial da água.
Água

Constituição do Acompanhamento das reuniões de implantação do


NUDES Núcleo de Desenvolvimento Sustentável do Seridó
denominado de NUDES.
73

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

Construção da Carta de Acordo para o


GEF/Caatinga/ADESE
ADESE/ASA Potiguar Elaboração de Acompanhamento de projetos financiados pelo
Projetos Desenvolvimento Solidário
O Seridó no Combate à Desertificação ADESE/Petrobrás
Projeto IICA – Combate à Desertificação na Região do
Seridó do Rio Grande do Norte e do Seridó da Paraíba.

Formação de parcerias junto a Fundação Grupo Esquel Brasil,


Projeto IICA/BID – Instituto Interamericano de Cooperação para a agricultura -
Programa de Combate IICA e a Comissão Ecomônica Para o Desenvolvimento da
a Desertificação América Latina e Caribe - CEPAL/Nações Unidas, no que diz
respeito ao levantamento de indicadores de desertificação na
Região do Seridó (agrícola, agropecuário e socioeconômico).

ADESE/MDA
Programa de Cursos de Aperfeiçomaneto em operacionalização de GPS e
Desenvolvimento Manejo Anima e derivados do Leite
Sustentável de
Territórios Rurais
74

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações


* Mobilizar a sociedade civil para implementação do
programa;
* Criar mecanismos que promovam a participação de
todos os atores envolvidos na gestão do projeto e no
controle social;
* Propiciar o acesso descentralizado à água para
consumo humano a 1.000.000 de famílias -
Programa de Formação e aproximadamente 5.000.000 de pessoas;
SEAPAC Mobilização Social para a * Melhorar a qualidade de vida de 5.000.000 de
convivência com o Semi-Árido: pessoas da região semi-árida, especialmente, crianças,
Um Milhão de Cisternas Rurais mulheres e idosos;
- P1MC * Fortalecer as organizações da sociedade civil
envolvidas na execução do Programa, visando garantir
as condições necessárias ao desenvolvimento eficaz e
eficiente do P1MC;
* Implementar um processo de formação que considere
a educação para a convivência com o semi-árido e a
participação nas políticas públicas;
* Difundir no conjunto da sociedade brasileira uma
correta compreensão do semi-árido brasileiro.

FONTES: ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários


75

REFERÊNCIAS

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Federal, 1997.
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76

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MA/DNPEA-SUDENE/DRN. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do Estado do
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MATALLO JÚNIOR, Heitor. Indicadores de desertificação: histórico e perspectivas. Brasília:
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MEDEIROS, Getson Luís Dantas de. A desertificação do semi-árido nordestino: o caso da região do
Seridó norte-rio-grandense. Mossoró, 2004.
MINISTÉRIO Público do Estado do Rio Grande do Norte. Termo de cooperação técnica e científica
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_____. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca. Brasília,
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MORAIS, Ione Rodrigues Diniz. Seridó norte-rio-grandense: uma geografia da resistência. Caicó: Ed.
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NESI, Júlio de Resende; CARVALHO, Valdecílio Galvão Duarte de. Minerais industriais do Estado
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PERNAMBUCO. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Política estadual de controle da
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PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas
QUEIROZ, Alvamar Costa de. Desertificação, causas e conseqüências. In.: Seminário sobre
desertificação no Seridó – RN, 1997, Currais Novos/RN. Anais... Currais Novos: 1997, p. 1-9.
RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria de Recursos Hídricos. Plano estadual de recursos hídricos:
relatório síntese. [Natal]: s.n., [1999?].
SAMPAIO et. al.. Desertificação no Brasil: conceitos, núcleos e tecnologias de recuperação e
convivência. Recife: UFPE, 2003.
SANT’ANA, Sílvio. Desertificação e mitigação de efeitos da seca: conceitos e documentos
fundamentais. Brasília: Fundação Grupo Esquel Brasil, 2003.
_____. Custo social da desertificação. Brasília: Fundação Grupo Esquel Brasil, 2003.
SCHENKEL, Celso Salatino; MATALLO JÚNIOR, Heitor. Desertificação. Brasília: UNESCO, 1999.
SEDEC. Avaliação preliminar do setor mineral do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.
SEPLAN; IDEC. Plano de desenvolvimento sustentável do RN . Natal, 1997.
SEPLAN; IICA. Plano de desenvolvimento sustentável do Seridó: diagnóstico. Caicó, 2000.
SILVA, Valdenildo Pedro. Das trilhas do gado ao território da cerâmica vermelha:
(des)territorialidade em Carnaúba dos Dantas – RN. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE, 1999.
77

SILVA, Elisângelo Fernandes; NASCIMENTO, Judicleide de Azevedo. Cerâmicas comunitárias em


Cachoeira - Parelhas/RN: desenvolvimento e insustentabilidade. Trabalho Acadêmico (Graduação em
Geografia) – Centro de Ensino Superior do Seridó, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Caicó/RN, 2005.
VASCONCELOS SOBRINHO, João de. Desertificação no Nordeste do Brasil. Recife: UFPE, 2002.
78

ANEXOS

ANEXO 01- Abrangência das Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte – 1998
ANEXO 02 - Principais Classes de Solo do Rio Grande do Norte
ANEXO 03 - Recursos Minerais do Rio Grande do Norte por Municípios e Número de Empresas -
2002-2003
ANEXO 04 - Municípios Produtores de Recursos Minerais por Número de Empresas

ANEXO 05 - Convênios firmados entre a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da


Assistência Social - SETHAS/RN e as Associações Comunitárias do Rio Grande do Norte, no período
de 2004 a 2005, no âmbito das ações comprometidas com a redução da pobreza rural, o abastecimento
d’água (poços, cisternas e açudes), a apicultura, o incentivo a hortas comunitárias, a eletrificação rural e
a energia solar.

ANEXO 06 – Plano Plurianual do Estado do Rio Grande do Norte: Ações sócio-ambientais a serem
desenvolvidas no período 2004 – 2007.

ANEXO 07 - Projetos desenvolvidos pelo Programa Desenvolvimento Solidário no Rio Grande do


Norte através dos FUMACs - 2004 a 2005, no âmbito das ações de abastecimento d’água
(Infra-estrutura, rede de distribuição, construção de cisternas, poços tubulares, adutoras com rede de
distribuição, caixa d'água, recuperação e ampliação de açude, construção de barragens, construção de
passagem molhada)

ANEXO 08 - Projetos desenvolvidos pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários -
SEAPAC no Rio Grande do Norte através do PAPP e do PCPR - 2004 a 2005, no âmbito das ações de
geração de emprego e renda, implantação de hortaliças comunitárias, abastecimento d’água (Poço
tubular, dessalinizador, cisternas de placas, barragens assoreadoras, reforma e ampliação de açudes,
passagem molhada).

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