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NATAL

NO
TEATRO
Personagens:

Homem 1
Homem 2
Homem 3
Mulher 1
Zelador ( Jesus)
Mãe
CENA I

Quatro pessoas entram em um local que parece estar


abandonado na noite de Natal para se abrigar da chuva.
Tudo às escuras. Os quatro usam lanternas. Na verdade a
cena estará acontecendo na plateia e com a cortina do
teatro fechada. Iluminação com lanternas.

HOMEM 1 – Que lugar é este?


MULHER 1 – Parece um galpão.
HOMEM 2 – No centro da cidade?
MULHER 1 – Sei lá se é o centro. Essa tempestade me fez
andar por horas.
HOMEM 2 – Seja lá o que for parece estar abandonado.
HOMEM 1 – Estranho.
MULHER 1 – O que?
HOMEM 1 – A porta não estar trancada.
MULHER 1 – Não estava?
HOMEM 1- Não.
HOMEM 2 – Por que alguém deixaria a porta aberta de um
lugar como esse?
ZELADOR – Mas não está abandonado.
HOMEM 1- Quem falou?
HOMEM 2- Quem está ai?
MULHER 1 – O som veio de lá.
HOMEM 1 – Iluminem pra lá
ZELADOR – Boa noite.
HOMEM 3 – Quem é você?
TODOS – E quem é você?
MULHER 1 – Não sabia que estávamos em quatro.
HOMEM 3- Vi que não me viram e resolvi ficar quieto. Não
pretendia mesmo ficar muito tempo. Apenas até a
tempestade passar.
ZELADOR- Sejam bem vindos.
MULHER_ Bom, mas que lugar é este e quem é o senhor?
HOMEM 1 – Exato.
ZELADOR- Espero que estejam bem e sem roupas
molhadas. Só temos figurinos aqui.
HOMEM 2 – Figurinos? Então é mesmo um teatro?
ZELADOR – Sim.
HOMEM 1 – E por que está abandonado?
ZELADOR – Não está abandonado. Apenas não funciona
mais.
MULHER 1 – E por quê?
ZELADOR – As pessoas perderam o interesse talvez.
HOMEM 3- Pelo teatro?
ZELADOR – Não apenas pelo teatro. Por tudo que exija
uma participação real. Hoje todos resolvem tudo no celular,
no computador.
Mulher 1 – Conheço este lugar. Já cantei muito aqui.
Homem 1 – Você era atriz?
MULHER – Não eu participava do coral. Aliás, eu e minha
filha. Havia dois grandes corais. Um adulto e outro infantil.
Sempre nessa época tínhamos apresentações louvando o
natal.
HOMEM 3 – Eu com certeza nunca pisei aqui.
MULHER 1 – Faz muito tempo. Mais de dez anos com
certeza.
ZELADOR – Era muito bonito.
MULHER 1- Você estava aqui? Não me lembro de você.
ZELADOR – De um modo ou de outro sempre estive aqui.
Sobretudo nas apresentações natalinas. Você e sua filha
cantavam muito bem.
MULHER 1 – Desculpe, não quero parecer indelicada, mas
como num coro de mais de 30 pessoas alguém pode saber
quem está cantando melhor ou pior?
ZELADOR – Eu sempre ouvia cada um de vocês.
MULHER 1 – Tem um ouvido absoluto?
ZELADOR- Podemos chamar assim.
MULHER 1- Parece que foi ontem. A cortina se abria e lá
estávamos todos, os adultos e as crianças, cantando,
cantando... (cortina se abre e começa o coral)

CENA II

ZELADOR – O que faz aqui meu jovem? Não parece estar


fugindo da tempestade. Pelo menos não desse tipo de
tempestade.
HOMEM 3 – Que quer dizer com isso?
ZELADOR – Você estava ai o tempo todo e ficou bem
quieto.
HOMEM 3 – Como eu disse não pretendia ficar muito
tempo.
ZELADOR - Porque não? Hoje é Natal.
HOMEM 3 – Desculpe, mas não gosto de Natal. Bom, é a
vida. Alguns gostam outros não.
ZELADOR – Ivan o Natal é uma data especial quer
gostemos dela ou não.
HOMEM 3 – Como sabe meu nome?
ZELADOR – Você deve ter dito.
IVAN – Não, eu não disse.
ZELADOR – Por que não gosta do Natal?
IVAN- Bom, já que essa tempestade nos impede de sair eu
vou lhes contar....
FLASH BACK:
MÃE: Filhinho eu sei que hoje é véspera de natal, mas
preciso ir trabalhar e vou levar o seu irmãozinho.
IVAN – Ta bom mãe, mas traz um carrinho de lembrança
pra mim?
MÃE: Você sabe como está a nossa situação filho, a mãe
não tem dinheiro, e você já tem seis anos, que tal um
caderno para começar a se preparar para o futuro?
IVAN – Não Mãe, eu quero um carrinho senão nem quero
nada, eu prometo que divido com meu irmãozinho.
MÃE: Até a noite filho vou ver o que consigo para nós meu
filho. (sai)
MÃE – Cheguei filho.
IVAN – Ué, cadê sua corrente com aquela medalha de
Santo Antonio?
MÃE: Vamos conversar sobre isso.
IVAN: Trouxe meu presente? Cadê meu irmão?
MÃE: Escuta filho, preciso te contar uma coisa.
IVAN – Então me da primeiro o presente.
MÃE – Abra a mão. (coloca um pingente e fecha a mão
dele)
IVAN – Cadê meu carrinho? Não gostei dessa corrente, tu
sabe que eu não gosto e nem uso, quero meu presente de
natal como nos outros anos, disse pros meus amigos que
ia ganhar.
MÃE – Ivan escuta, você sabe que não tenho condições de
criar os dois com a minha condição financeira, e da forma
que fiz foi o melhor para todos.
IVAN - O que a senhora fez?
MÃE – Deixei seu irmão em um orfanato para adoção. Faz
dois anos que procuro emprego e não encontro nada.
IVAN – E se ele não for adotado?
MÃE – Me desculpe não ter condições financeiras melhor
para manter todos nós juntos.
IVAN – Eu não acredito nisso, eu vou adotar ele então, eu
posso trabalhar.
MÃE– Você tem que estudar meu filho para ser alguém na
vida.
IVAN – Mãe eu Juro por meu irmãozinho que vou
conquistar coisas suficientes para nunca mais precisar
abandonar ninguém, mas vou odiar o natal por ter marcado
essa tragédia.
MÃE – Filho estou envergonhada, me perdoe.
IVAN – Eu vou me tornar o homem mais rico do bairro não
importa como, pode escrever.
ZELADOR: E conseguiu
IVAN: Sim consegui. Posso continuar?
ZELADOR: Claro, me desculpe.
MÃE: Filho, o que faz do lado de fora nessa tempestade?
Venha vamos entrar. Coloque roupas quentes. Faz tempo
que não conversamos direito... Tens procurado por seu
irmão?
IVAN – Porque todo natal tu vens aqui? É para me lembrar
daquele dia? Veja, agora tenho meu império comercial, eu
já era capaz, sempre fui, porque não acreditou em mim?
MÃE – A que preço? Você não tem paz! Você não
conquistou nada honestamente, quantas pessoas fizeste
sofrer por causa do dinheiro?
IVAN – Cala a boca que moral você tem? Saia da minha
casa.
MÃE – Nós somos iguais, você me abandonou para
conquistar bens materiais, e eu abandonei seu irmão para
dar uma vida melhor a vocês. Quem você acha que tem
mais moral?
IVAN – Eu não me importava com o dinheiro só queria
estar junto com a minha família, mas ok, a senhora pode
ficar aqui estou de saída.
MÃE – Meu filho está chovendo muito. Para onde você vai?
IVAN – Vou bater o recorde de pior natal da terra.
MÃE – Filho eu te amo, vamos ficar juntos temos um ao
outro volte!
ZELADOR: E ai você entrou aqui.
IVAN: Sim.
HOMEM 1: Desculpe mas...
IVAN: Sim.
HOMEM 1: Você disse medalha de Santo Antônio?
IVAN: Sim, minha mãe deixou com meu irmão na porta do
orfanato, pelo que sei.
HOMEM 1 – Você lembra dessa medalha?
IVAN: Claro.
HOMEM 1: Era como esta aqui? (mostra)
MÃE: Meu Deus.
IVAN: Mãe!!!
HOMEM 1: Mãe?
MÃE: Meu filho...
IVAN: Filho? Mas então...
HOMEM 1: Quando eu era bem pequeno fui deixado num
orfanato, mas a única coisa que sei do que aconteceu para
eu viver sem família, é de uma carta que dizia que minha
mãe voltaria para me buscar. Mas os anos foram passando
e eu esperando esse dia chegar, mas não chegou...Tudo
que me restou foi essa corrente a medalha de Santo
Antônio.
Porem, até hoje não sei o paradeiro de ninguém. Não sei
nada, não sei se um dia poderei encontrar minha mãe e
meu irmão mais velho. Eu era pequeno, mas me lembro
deles!
No abrigo não posso mais ficar, completei dezoito anos e
essa é a idade limite para se permanecer lá. Tive que sair e
desde então não encontro um lugar, mas continuo com a
mesma esperança de encontrar minha família, apesar de
não entender a razão de ter sido deixado naquele lugar.
Eu amo minha mãe e meu irmão, preciso deles e o que
mais queria era encontra-los. Nem sei se consigo
reconhecê-los... Mas seu pudesse fazer um pedido, seria:
ter uma morada e ter uma ceia de natal com minha família.
Sou julgado por viver nas ruas, dizem que eu deveria
trabalhar, mas ninguém quer empregar quem vive na rua,
acham sempre que sou drogado ou que vou roubar. As
pessoas nem param pra nos ouvir, é deprimente, sabe? Sei
que se encontrasse minha família tudo seria diferente.
MÃE: (Abraça o Homem 1) Filho me perdoa.
IVAN: Ivo? É ele?
MÃE: Sim, estamos juntos novamente e dessa vez para
sempre.
IVO: Meu Deus, esse será o melhor Natal da minha vida.
IVAN: Da minha também. (Olha para a mãe) Da nossa
vida.
Abraçam-se.
ZELADOR: Como veem o Natal é sempre mágico. Basta
acreditar.
IVAN: Obrigado. Se não fosse esse lugar aberto acho que
nunca encontraria meu irmão. Muito obrigado mesmo.
ZELADOR: Agradeça ao Natal.

CENA III

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