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E Book Modelagem Escoamentos Turbulentos PDF
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E-book Modelagem de Escoamentos Turbulentos
Sumário
1 Introdução .......................................................................................................... 3
1.1 Processos de Transição de Camada Limite ............................................... 4
2 Modelagem do processo de transição em engenharia ......................................... 9
2.1 Simulação via DNS ou LES .................................................................... 10
2.2 Modelos de duas equações a baixo Reynolds ......................................... 12
2.3 Modelos de transporte de instabilidade en .............................................. 14
2.4 Correlações a partir de dados experimentais........................................... 16
3 Formulação do modelo de transição ................................................................. 20
3.1 A relação entre Reν e Reθ na camada limite laminar ............................... 22
3.2 A Equação da Intermitência.................................................................... 28
3.3 A Equação de ................................................................................ 35
3.4 Interação com o modelo de turbulência .................................................. 40
3.5 Aspectos numéricos e de aplicação ........................................................ 43
4 Resultados do modelo de transição .................................................................. 43
4.1 Influência de Tu da corrente livre na transição ....................................... 44
4.2 Influência de λθ na transição ................................................................... 45
4.3 Perfil S809 e turbina NREL Fase VI ....................................................... 47
4.4 Cilindro e crise do arrasto ....................................................................... 52
4.5 O Eurocopter .......................................................................................... 55
5 Conclusão ......................................................................................................... 56
6 Agradecimentos ............................................................................................... 57
7 Referências ....................................................................................................... 57
1 INTRODUÇÃO
Ainda hoje a modelagem de escoamentos turbulentos é vista como um
problema em aberto na engenharia (SILVA FREIRE, MENUT e SU, 1998).
Apesar de termos à disposição técnicas que resolvem escoamentos turbulentos
em todos os seus detalhes com excelente precisão (DNS) (SCHUMANN, 1974),
(COLEMAN e SANDBERG, 2010), seu custo computacional é proibitivo para
aplicações industriais. Técnicas que não fornecem um nível de detalhamento tão
elevado, mas capturam a parte mais significativa do escoamento turbulento (as
maiores escalas turbulentas) também estão disponíveis (LES) (PIOMELLI,
1999), (SILVA FREIRE, MENUT e SU, 1998), porém, na grande maioria dos
casos de interesse industrial, o interesse do engenheiro está focado em valores
médios (de perdas de carga, taxas de transferência de calor, arrasto, sustentação,
etc.) e na obtenção desses valores no menor tempo possível (muitas vezes com
fortes limitações de poder computacional disponível). É essa necessidade do
engenheiro, de obter os dados que lhe interessam, com razoável precisão, no
menor prazo e menor custo possível, que torna a abordagem média de Reynolds
(RANS - Reynolds-Averaged Navier-Stokes) atualmente a mais empregada na
indústria.
Uma vasta literatura sobre o tema de modelagem RANS de escoamentos
turbulentos está disponível, porém, na própria dedução da grande maioria dos
modelos empregados na indústria, se parte do princípio que o escoamento é
turbulento em todo o domínio de cálculo (em toda a região de interesse na
simulação). A questão é que, por mais que a grande maioria dos escoamentos
sejam de fato turbulentos, pode haver regiões nesses escoamentos, inclusive de
tamanho considerável, que apresentem escoamentos laminares. Isto é
particularmente o caso em escoamentos externos, como mostrado na Fig. 1,
onde a partir do ponto de estagnação no bordo de ataque de uma geometria
sempre se tem a formação de uma região de camada limite laminar (mesmo
com altos graus de turbulência na corrente livre, externa à camada limite). Essa
região de camada limite laminar pode ser muitas vezes desprezível (seu
comprimento ser muito menor do que o comprimento do corpo sobre o qual o
escoamento ocorre), porém, em alguns casos, essa região pode ser bastante
significativa. Neste segundo caso, o uso de modelos clássicos na simulação
desses escoamentos irá incorrer em erros consideráveis na previsão dessas
grandezas médias de interesse.
Gradientes de pressão;
Rugosidade da parede;
Curvatura de linhas de corrente (da superfície);
Número de Mach;
Sucção ou sopramento de parede;
Aquecimento ou resfriamento da parede.
(1)
Transição induzida por separação: Esse modo ocorre quando uma camada
limite laminar descola da superfície e forma uma bolha de separação. A
transição ocorre então na forma de uma transição de camada de
cisalhamento livre na região da bolha de separação. A camada limite
(eventualmente, dependendo da geometria) recola na parede já plenamente
turbulenta. A Figura 5 mostra um esquema do processo onde xS é o ponto
(2)
, (3))
a gradientes de pressão elevados. Além disso, esses modelos não são capazes de
prever a transição induzida por outros fatores, como a separação da camada
limite laminar (LANGTRY, 2006) ou escoamento cruzado. Pela falta de
independência entre a formulação do modelo de turbulência e do modelo de
transição, a inclusão de mais informações oriunda de dados experimentais (via
correlações de critérios de transição) no modelo é bastante complexa.
Figura 3 - Variação dos perfis de energia cinética turbulenta na camada limite passando
pelo processo de transição no modelo de Lam-Breshorst. Adaptado de
(SCHMIDT e PATANKAR, 1991).
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
Conforme pode ser visto na Eq. (12), Reν é baseado na magnitude local do
tensor taxa de cisalhamento e na distância normal à parede mais próxima y.
Para o caso de uma camada limite laminar com λθ = 0, o perfil de
velocidades obtido (PRITCHARD, 2011) supondo o escoamento de ar sobre
uma placa plana é mostrado na Fig. 12. Calculando a derivada da velocidade
desse perfil são gerados os gráficos da Fig. 13.
Usando essa derivada e a função mostrada na Eq. (12) se chega à
distribuição de Reν ao longo da camada limite mostrada na Fig. 14. Uma análise
simples da Eq. (12) e da Fig. 13 torna o resultado mostrado na Fig. 14 esperado.
Como y = 0 na parede, logo Reν também se anula nessa região. Quando y → δ
tem-se du/dy → 0 fazendo com que Reν = 0. Assim é esperado que esse perfil
apresente um valor máximo dentro da camada limite. Conforme a camada limite
avança na direção do escoamento, o perfil mantém sua forma, sendo apenas
escalonado conforme se vai para posições mais a jusante.
(13)
Figura 5 - Perfil de Reν escalonado por 2.193 (equivalendo à Reθ) em três posições x
sobre uma placa plana. Comparação com o valor de Reθt mostrado como a
linha vertical.
Figura 6 - Perfil da razão Reν/(2.193 Reθ) na camada limite laminar, dada pela solução
de Blasius, para três posições na direção x. Com esse escalonamento
todos os perfis são coincidentes.
Figura 7 - Variação da razão entre Reν e Reθ com o fator de forma H. Adaptado de
(LANGTRY e MENTER, 2009).
(14)
(15)
(16)
(17)
(18)
(19)
(20)
entre 0 e 1. Essa função foi criada na verdade para resolver um problema das
primeiras versões do modelo γ-θ. Nessas versões, quando o processo de
transição iniciava, o perfil de velocidades começava a ser alterado pelo efeito da
transição e com isso o valor de Reν era reduzido, fazendo com que a produção
de γ cessasse (congelando o processo de transição desse ponto para jusante).
Para corrigir esse problema foi desenvolvida a função Fonset3, que passa a ter seu
valor de 1 na região laminar da camada limite, reduzido gradualmente (com o
aumento da razão de viscosidade RT, mostrada na Eq. (20), permitindo que,
mesmo com uma redução de Reν o processo de transição continue.
Figura 9 - Gráfico das funções Fonset, Fonset1 e Fonset2 para Reθc = 456 (Reνc = 1000) e
Fonset3 = 1.
Uma análise adicional que pode ser feita da aplicação desse critério usando
a função Fonset é de que, como a avaliação dessa função é feita localmente, esse
valor varia ao longo da altura da camada limite. Isso pode ser melhor verificado
através do perfil de Reν escalonado para x = 10m da Fig. 16. Nesse perfil,
apenas a porção dele que tem valor maior que 465 irá satisfazer esse critério
(região central). Portanto, é nessa zona que se inicia a transição e a produção de
γ. As porções superior e inferior da camada limite nessa posição não irão ativar
a produção de γ, recebendo γ apenas por difusão da camada de produção.
Conforme o escoamento avança uma porção maior da camada limite satisfaz o
critério de transição e a porção restante recebe γ por difusão.
Isso acaba sendo um ponto positivo do modelo γ-θ já que, como citado em
(LANGTRY e MENTER, 2009), ao menos em transição em bypass, a região de
valores mais altos de Reν na camada limite corresponde bem à zona de pico de
crescimento de perturbações quando atingida a instabilidade da camada limite
laminar.
O valor de Reθc, usado na Eq. (17) é obtido através de uma correlação
dependente de . é o número de Reynolds baseado na espessura de
quantidade de movimento no início efetivo da transição. Sua obtenção será
discutida mais adiante no texto. Essa correlação foi obtida através de ajuste de
uma curva comparando resultados de simulação numérica com dados
experimentais. Essa função era a primeira de três que não estavam publicadas
até o trabalho de (LANGTRY e MENTER, 2009). As Equações (21, 22)
mostram a função obtida.
(21)
(22)
(23)
(24)
(25)
(26)
(27)
(28)
(29)
(30)
(31)
Nota-se também na Eq. (31) que existe uma faixa de valores que γseparation
pode apresentar, 0 ≤ γseparation ≤ 2. Dessa forma o termo de produção de energia
cinética turbulenta do modelo de turbulência associado pode ser aumentado em
até 100% de seu valor original.
A função Freattach é mostrada na Eq. (32). Essa função desativa a
intermitência aumentada quando a produção de κ gera valores altos de μT, que
se reflete em uma alta razão de viscosidades (novamente calculada usando a
Eq. (20)).
(32)
3.3 A EQUAÇÃO DE
Como apresentado anteriormente, uma das principais dificuldades da
implementação de um modelo baseado em correlações empíricas para modelar a
transição em códigos modernos de CFD é o fato de que informações de fora da
camada limite (Tu e λθ) influenciam a transição da camada limite.
Essa transferência de informações da corrente livre para a camada limite foi
a primeira das operações não-locais que se precisou contornar para desenvolver
um modelo de transição baseado nas correlações empíricas.
A solução para essa questão no modelo γ-θ foi o uso de uma equação de
transporte para o número de Reynolds baseado na espessura de quantidade de
movimento que marca o início efetivo da transição: . Essa equação de
transporte é mostrada na Eq. (35).
(35)
(36)
(37)
(38)
função máximo e da função Fwake são mostrados nas Eqs. (39-43). Na Eq. (39)
se calcula usando o valor de local o valor da espessura de quantidade de
movimento θ. A Eq. (40) é uma relação entre θ e a espessura da camada limite
local, δ. Essa relação é obtida através do cálculo dessas espessuras para uma
camada limite laminar sem gradiente de pressão usando o perfil de Blasius
(WHITE, 2005), (SCHLICHTING e GERSTEN, 2000). Na Equação (41) se
calcula uma espessura sobre a qual efeitos de esteira devem ser considerados.
(39)
(40)
(41)
(42)
(43)
(44)
(45)
(46)
(47)
(48)
(49)
(50)
(51)
Com esses valores calculados, utilizam-se as Eqs. (52, 53) para obtenção de
. Nota-se nas Eqs. (52, 53) um tratamento da influência de λθ similar ao de
Abu-Ghannam & Shaw (mostrado nas Eqs. (10, 11)).
(52)
(53)
(54)
(55)
(56)
(57)
Observa-se na Eq. (57) que existem dois limites claros para o termo de
dissipação de κ modificado. O primeiro limite é quando a intermitência é muito
baixa (como γeffective = 0 na camada limite laminar) na qual o coeficiente que
multiplica o termo de dissipação original, Dκ, é de 0,1. Assim, mesmo sem que
haja produção de energia cinética turbulenta ainda se tem 10% do termo
original de dissipação. Isso faz com que ainda se tenha algum efeito de
dissipação da energia cinética turbulenta dentro da camada limite laminar, que
elimina a influência de κ que vem da corrente livre por difusão. O outro limite é
quando a intermitência é alta (γeffective ≥ 1) no qual, mesmo para casos de
transição por separação da camada limite laminar (γeffective > 1), o coeficiente que
multiplica o termo original de dissipação é igual a 1. Dessa forma em casos
onde ocorre a transição em uma bolha de separação o termo de produção é
amplificado, mas o termo de dissipação se mantém limitado. Obtém-se então o
efeito de aumento rápido de κ esperado.
Uma última correção é necessária na primeira função de ligação do modelo
SST. Essa função, chamada no modelo SST de F1, faz a transição entre os
modelos κ-ω e κ-ε, usados em regiões de parede e de corrente livre,
respectivamente. F1 tem o valor de 1 na região de parede e de 0 na região de
corrente livre. Essa função foi desenvolvida para lidar com camadas limites
turbulentas e, quando aplicada em camadas limites laminares pode ter seu valor
alterado para 0 ainda dentro da camada limite. A solução para esse problema é
simples, bastando manter o valor da função de ligação em 1 dentro da camada
limite laminar, o que é feito utilizando a função de ligação modificada ,
mostrada na Eq. (58).
(58)
(59)
(60)
dados experimentais. Isto mostra que a forma escolhida para tratar esse tipo de
situação, do uso de γeffective, funcionou conforme esperado.
Figura 3 - Perfil aerodinâmico S809 para aplicação em turbinas eólicas com eixo
horizontal. Adaptado de (LANGTRY, GOLA e MENTER, 2006).
(61)
Uma bateria de simulações desse caso, variando ReD. Foi realizada com o
modelo SST e com o modelo γ-θ. A comparação dos resultados está na Fig. 32.
Observa-se que, para uma mesma faixa de ReD, a simulação com o modelo SST
prevê um valor baixo de coeficiente de arrasto, CD, com queda suave. Nas
simulações com o modelo γ-θ os valores de CD são comparáveis aos dados
experimentais e a queda na ocorrência da transição da camada limite é bastante
abrupta, reproduzindo a crise do arrasto. A pequena diferença no valor de ReD
na qual ocorre essa queda é perfeitamente aceitável, uma vez que mesmo em
dois experimentos distintos é difícil reproduzir esse valor crítico ReD.
(62)
4.5 O EUROCOPTER
O último caso a ser discutido aqui é a simulação do Eurocopter
(LANGTRY, 2006). Esse caso é o estudo dos coeficientes de arrasto e
sustentação de uma estrutura de um helicóptero (sem rotor e pás). Esse caso não
é usado como validação do modelo, pela ausência de dados experimentais, mas
demonstra a aplicação do modelo γ-θ em um caso industrial.
A Figura 33 mostra o resultado de duas simulações idênticas exceto por
uma usar o modelo SST (esquerda) e outra o modelo γ-θ (direita).
6 AGRADECIMENTOS
O autor agradece a ESSS Ltda. e os colegas de empresa pelo apoio no
desenvolvimento desse texto, a UNISINOS e ao comitê organizador da IX
Escola de Primavera de Transição e Turbulência pelo convite imensamente
lisonjeiro.
7 REFERÊNCIAS
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through intermittent to laminar. International Journal of Thermal Sciences,
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