Você está na página 1de 20

O que é o princípio da insignificância?

Princípio da Insignificância ou Bagatela. Um dos princípios que


vem ganhando força na doutrina e, sobretudo, na nossa
jurisprudência é o princípio da insignificância ou também
chamado princípio da bagatela. Para este princípio, o Direito
Penal não deve se preocupar com condutas incapazes de lesar o
bem jurídico.

Princípio da Insignificância ou Bagatela. Originário do Direito


Romano, e de cunho civilista, funda-se no conhecido brocardo de
minimisnon curat praetor (o pretor não cuida de coisas pequenas).
Isso significa que o Direito não deve preocupar-se com condutas
incapazes de lesar o bem jurídico.

Crime de bagatela é o crime de menor conteúdo ofensivo. É


aquele de ínfima relevância penal, seja por haver desvalor na
conduta do agente, seja por haver desvalor no resultado.

O princípio da insignificância é originário do Direito Romano, e foi


reintroduzido no sistema penal por Claus Roxin, na Alemanha, no
ano de 1964. Fundado no brocardo minimis non curat praetor,
sustenta que quando a lesão é insignificante, não há necessidade
de aplicação de uma pena, pois não se trata de fato punível.
Súmula 599 do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública”. COMENTÁRIOS: ... Não é pelo fato de alguém ter cometido
um crime sem agredir ou ameaçar outra pessoa que sua conduta pode ser
considerada irrelevante para o Direito Penal.

Súmula 599 do STJ: Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes


contra a Administração Pública

COMPARTILHAR

118421

Súmula 599 do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes


contra a Administração Pública”.
COMENTÁRIOS:

Já tivemos a oportunidade de tratar do princípio da insignificância em


diversas infrações penais. A causa excludente da tipicidade material tem
sido recorrentemente aplicada pelos tribunais superiores em diversas
situações nas quais estejam reunidos a mínima ofensividade da conduta
do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica
causada.

No geral, os tribunais têm considerado a atipicidade material nos delitos


tributários, nos crimes ambientais em que a conduta provoque baixo
impacto negativo no meio ambiente e nos crimes patrimoniais cometidos
sem violência ou grave ameaça a pessoa e em circunstâncias nas quais a
conduta não se revele particularmente grave. Furto qualificado,
apropriação indébita majorada, receptação qualificada e estelionato
previdenciário, por exemplo, têm sido considerados palcos inadequados
para a insignificância porque suas circunstâncias são consideradas por
demais reprováveis.

Nota-se, portanto, que a insignificância depende de determinadas


condições que, para além da inexistência de agressão física ou psíquica,
revelem a inofensividade da conduta num sentido amplo. Não é pelo fato
de alguém ter cometido um crime sem agredir ou ameaçar outra pessoa
que sua conduta pode ser considerada irrelevante para o Direito Penal.
Afinal, há crimes que não envolvem nenhum perigo direto à integridade
física de alguém, mas que se revestem de especial gravidade.

No âmbito dos crimes contra a Administração Pública, a orientação


majoritária dos tribunais superiores vem no sentido de que o princípio da
insignificância é inadmissível, justamente porque, nesses casos, não está
em pauta apenas o prejuízo patrimonial que a conduta pode causar, mas
também a moralidade administrativa. Não obstante algumas decisões
isoladas – como aquela na qual o STF se posicionou favoravelmente à
aplicação do princípio da insignificância num caso de peculato em que o
agente público subtraíra um farol de milha que guarnecia uma motocicleta
apreendida (HC 112.388/SP, DJe 14/09/2012) –, a maior parte das
decisões é francamente contrária à insignificância.

Agora, para dirimir definitivamente qualquer dúvida, o STJ editou a


súmula nº 599, segundo a qual “O princípio da insignificância é inaplicável
aos crimes contra a Administração Pública”.

Um alerta, no entanto, é necessário: embora o texto da súmula se refira


genericamente aos crimes contra a Administração Pública, parece-nos que
sua incidência deve se concentrar nos crimes funcionais. Em primeiro
lugar, porque é no entorno desses crimes que a moralidade administrativa
é mais atingida. E, em segundo lugar, porque há ao menos um crime
contra a Administração Pública – cometido por particular – em que tanto
o STJ quanto o STF admitem a insignificância: o descaminho.

Com efeito, esses tribunais aplicam o princípio da insignificância àquelas


situações em que as mercadorias apreendidas são em pequena
quantidade, com valores ínfimos e sem destinação comercial. Em virtude
do baixo valor dos tributos incidentes sobre tais bens, o Fisco não
promove a execução de seus créditos, utilizando-se do já conhecido
argumento de que a instauração de um processo executivo fiscal, diante
de um valor irrelevante a ser recebido, não será compensada no momento
do pagamento. A divergência se limita ao valor máximo do tributo
sonegado: a) STF: considera-se o valor de R$ 20 mil, previsto no artigo 20
da Lei 10.522/02, atualizado pelas portarias 75/12 e 130/12 do Ministério
da Fazenda; b) STJ: a insignificância só se aplica se o valor questionado for
igual ou inferior a R$ 10 mil, pois o Judiciário deve seguir os parâmetros
descritos em lei federal, e não em portaria administrativa da Fazenda
Federal.

Princípio da insignificância no Direito Penal: conceito, natureza


jurídica, origem e relações com outros princípios
Alexandre Cesar dos Santos
O princípio da insignificância, na seara penal, afasta a tipicidade material do
fato, o que retira a conduta do âmbito de proteção do Direito Penal, uma vez
que o fato é formalmente tipico, pois se amolda na figura típica, mas não
material típico.
1. Conceito e natureza jurídica do princípio da insignificância

Ao tentar conceituar o princípio da insignificância, a doutrina aborda,


geralmente, conjuntamente a sua natureza jurídica, o que se justifica o
tratamento concomitante dos conceitos.

O princípio da insignificância, na seara penal, é um preceito que reúne


quatro condições essenciais para ser aplicado: a mínima ofensividade da
conduta, a inexistência de periculosidade social do ato, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão provocada.

Em poucas palavras, o conceito do princípio da insignificância é o de


que a conduta praticada pelo agente atinge de forma tão ínfima o valor tutelado
pela norma que não se justifica a repressão. Juridicamente, isso significa que
não houve crime algum.

A doutrina majoritária assevera, que a natureza jurídica do princípio da


insignificância, na seara penal, é afastar a tipicidade material do fato, o que
retira a conduta do âmbito de proteção do Direito Penal.

O tipo penal, na concepção de Welzel, não é uma descrição


“avalorada”, mas uma seleção das condutas que supõem uma infração grave,
insuportável da ordem ético-social da comunidade. (WELZEL, apud PRADO,
2001, p. 58).

Para o doutrinador Rogério Greco (2006, p. 93) o legislador pode criar


os tipos penais incriminadores, quando ultrapassados os óbices fornecidos
pelos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social.
Conforme o eminente autor, sob o enfoque minimalista, em uma visão
equilibrada do Direito Penal, somente os bens jurídicos mais importantes, que
sofrem os ataques mais lesivos e inadequados socialmente, é que devem ser
objeto de proteção do Direito Penal.

Assim, após ser o bem jurídico a ser protegido pelo tipo penal, fica ao
intérprete, operadores do direito, analisar a infração penal criada, ajustá-la ao
raciocínio minimalista, afastando a tipicidade das condutas que atingem de
forma mínima ou insignificante os bens jurídicos protegidos. (GRECO, 2006, p.
94).
Neste contexto, para que o juízo de tipicidade tenha efetiva
insignificância, por sua aceitação social ou pelo dano irrelevante, deve-se
entender o tipo na sua concepção material, como algo dotado de conteúdo
valorativo, e não apenas sob o seu aspecto formal, de cunho eminentemente
diretivo. (LOPES, 2000, p. 117).

No mesmo sentido, Carlos Vico Mañas (1994, p. 52) consigna que a


concepção formal do tipo não satisfaz a moderna tendência de reduzir ao
máximo a área de influência do Direito Penal diante do seu caráter subsidiário.

Como os tipos penais são conceitos abstratos, é impossível evitar que


sua previsão legal tenha alcance maior que o desejado, motivo pelo qual são
limitados pelos tipos permissivos, como as causas de justificação. (MAÑAS,
1994, p. 53).

Ainda assim, alguma conduta socialmente adequada ou insignificante


pode ser alcançada pelo tipo legal do crime, não se podendo exigir que o
agente esteja amparado por alguma causa excludente de ilicitude ou de
culpabilidade para que sua conduta não configure crime.

Neste contexto, são as palavras de Carlos Vico Mañas (1994, p. 53)


“seria fazer com que uma pessoa que age de acordo com os padrões vigentes
na sociedade em que vive tenha que se justificar acerca de uma conduta
desprezada ou até aceita pelos outros”.

Para evitar tais situações, procura-se atribuir ao tipo penal, além do


sentido puramente formal, um caráter também material. Desse modo, para que
o comportamento humano seja típico, não basta ajustar-se formalmente a um
tipo legal de delito, devendo, também, ser materialmente lesivo aos bens
jurídicos, ou ética e socialmente reprováveis.

Neste sentido, são basilares as palavras de Carlos Vico Mañas (1994,


p. 53-54):

O juízo de tipicidade, para que tenha efetiva


significância e não atinja fatos que devem ser estranhos ao
direito penal, por sua aceitação pela sociedade ou dano
social irrelevante, deve entender o tipo na sua concepção
material, como algo dotado de conteúdo valorativo, e não
apenas sob seu aspecto formal, de cunho eminentemente
diretivo.

Para dar validade sistemática à irrefutável conclusão


político-criminal de que o direito penal só deve ir até onde
seja necessário, não se ocupando de bagatelas, é preciso
considerar materialmente atípicas as condutas lesivas de
inequívoca insignificância para a vida em sociedade.

A concepção material do tipo, em conseqüência, é o


caminho cientificamente correto para que se possa obter a
necessária descriminalização de condutas que, embora
formalmente típicas, não são mais objeto de reprovação
social, nem produzem danos significativos aos bens
jurídicos protegidos pelo direito penal.

Portanto, o princípio da insignificância surge para evitar que os tipos


penais abarquem os comportamentos que não provocam prejuízos relevantes
para o corpo social. Em outras palavras, ele atua como instrumento de
interpretação restritiva do tipo penal, com o significado sistemático e político-
criminal de expressão da regra constitucional do nullum crimen sine lege, o que
revela a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal. (MAÑAS, 1994, p.
56).

Neste sentido, Cezar Roberto Bitencourt (2003, p. 19) afirma que a


tipicidade penal exige que a ofensa aos bens jurídicos protegidos tenha alguma
gravidade, pois nem toda ofensa a bens ou interesses é suficiente para
configurar o injusto típico. Assim, pelo princípio da insignificância, também
chamado de princípio da bagatela por autores como Klaus Tiedemann, deve
haver uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta a ser punida
e a intervenção estatal. Nesse diapasão, há condutas que se ajustam ao tipo
penal formalmente, mas não apresentam relevância material, razão pela qual
se deve afastar prontamente a tipicidade penal, porque não houve lesão ao
bem jurídico protegido.

Entretanto, Cezar Roberto Bitencourt alerta que a aplicação do


princípio da insignificância não pode caracterizar invasão da função que o
Poder Legislativo tem de selecionar os bens jurídicos que devem ser tutelados
pelo Direito Penal. Desse modo, o fato de determinada conduta constituir
infração de menor potencial ofensivo não significa que sobre ela deva incidir o
princípio da insignificância.

Várias condutas de menor gravidade, como a lesão corporal leve, por


exemplo, já foram valoradas pelo legislador, que estabeleceu as
conseqüências decorrentes da sua prática. Nos dizeres de Bitencourt, “os
limites do desvalor da ação, do desvalor do resultado e as sanções
correspondentes já foram valoradas pelo legislador”, motivo pelo qual as ações
que lesarem tais bens são social e penalmente relevantes (BITENCOURT,
2003, p. 19).

Por sua vez, Paulo Queiroz (2002, p. 97) assevera que:

(...) ainda que se pretenda limitar a intervenção


penal a um mínimo necessário, vale dizer, ainda que se
queira circunscrever a atuação penal aos ataques mais
intoleráveis aos bens jurídicos importantes, a formulação
prévia e abstrata de tipos penais não terá o condão –
precisamente porque concebida e realizada abstratamente –
de afastar de sua incidência fatos que, analisados
concretamente, possam não assumir a dita significação
penal que o legislador buscou reprimir por essa via extrema.

2. Origem do princípio da insignificância

A doutrina tem divergido sobre a origem do princípio da insignificância.


De fato, diversos autores afirmam que o referido princípio tem suas raízes no
direito romano, em que vigorava a máxima contida no brocardo minima non
curat praetor.

Nesse sentido, Ivan Silva (1994, p. 87) assevera que parte da doutrina
defende que o princípio da insignificância já vigorava desde o direito romano, já
que o pretor, via de regra, não se ocupava das causas ou delitos de bagatela,
aplicando o brocardo latino já mencionado (minima non curat praetor).

Então, Ivan Silva (1994) conclui que embora a formulação


contemporânea do princípio da insignificância seja atribuída a Roxin, a sua
origem está no direito romano, por meio dos brocardos minima non curat
praetor, ou de minimis non curat praetor ou, ainda, de minimis praetor non
curat.

Assim, há, sobre o tema, duas correntes: a primeira que sustenta a


existência no brocardo no direito romano antigo, já exposta acima, e outra que
nega sua existência naquele direito. A corrente que nega a origem romana do
princípio da insignificância tem duas vertentes, uma defendida por autores
como Maurício Ribeiro Lopes, e outra sustentada por Luis Guzmán Dalbora,
entre outros. (SILVA, op. cit, p. 88)

A doutrina de Mauricio Antonio Ribeiro Lopes critica o entendimento de


que o princípio da insignificância já vigorava no Direito romano, ao argumento
de que lhe falta especificidade, já que servia para justificar a ausência de
providências do pretor no direito civil, muito mais do que na esfera penal.

Ribeiro Lopes (2000, p. 41-42) afirma que:

O Direito Romano foi notadamente desenvolvido


sob a óptica do Direito Privado e não do Direito Público.
Existe naquele brocardo menos do que um princípio, um
mero aforismo. Não que não pudesse ser aplicado vez ou
outra a situações de Direito Penal, mas qual era a noção
que os romanos tinham do princípio da legalidade? Ao que
me parece, se não nenhuma, uma, mas muito limitada, tanto
que não se fez creditar aos romanos a herança de tal
princípio.
Para Ribeiro Lopes, o princípio da insignificância tem sua origem no
pensamento liberal dos jusfilósofos do Iluminismo, a partir da evolução e do
desdobramento do princípio da legalidade. Por sua vez, Guzmán Dalmora nega
a origem do princípio da insignificância no direito romano ao argumento de que
a máxima minima non curat praetor não existia no direito romano antigo, tendo
como fonte o pensamento liberal dos juristas renascentistas. (LOPES, op. cit.,
p.41).

A negação da origem romana do brocardo minima non curat


praetor teria dois fundamentos: o desconhecimento dos juristas romanos
antigos sobre a idéia de insignificância, e a sua ausência nas compilações dos
principais glosadores.

Para o mestre Ivan Silva (op.cit., p. 92), seja adotando o entendimento


de Ribeiro Lopes, para quem o princípio da insignificância teve sua origem da
evolução do princípio da legalidade pelos jusfilósofos do Iluminismo, seja
aceitando a posição de Guzmán Dalbora, que o considera como restauração
do brocardo minima non curat praetor formulada pelo pensamento liberal e
humanista dos juristas renascentistas, “resta patente que sua origem não pode
ser romana, pois seu significado coaduna-se melhor com o raciocínio jurídico
dos juristas humanistas que lutavam contra o absolutismo e severidade da lei
penal”.

Ultrapassada a controvérsia sobre a origem romana do princípio da


insignificância, a maioria dos autores entende que o princípio da insignificância
surgiu na Europa, após as duas grandes guerras mundiais, e atribuem a Claus
Roxin a idéia e a formulação inicial do princípio.

Conforme leciona Ivan Silva (op. cit, p. 87) o recente aspecto histórico
do princípio da insignificância é devido a Claus Roxin, que em 1964 o formulou
como base de validez geral para a determinação do injusto, a partir da máxima
latina minima non curat praetor.

No entanto, embora a formulação atual do princípio seja atribuída a


Roxin, Ivan Silva assevera que são encontrados vestígios do princípio da
insignificância na obra de Fran von Liszt, que em 1903 afirmava que a
legislação do seu tempo fazia uso excessivo da pena, e indaga se não seria o
caso de restaurar a antiga máxima latina minima nin curat praetor.

No mesmo sentido, Mauricio Antonio Ribeiro Lopes (2000, p. 42) afirma


que o princípio da insignificância ou criminalidade de bagatela, como
denominado pelos alemães, surgiu na Europa como problema de índole geral e
progressivamente crescente, a partir da primeira guerra mundial. Ao final da
segunda grande guerra, em decorrência das circunstâncias socioeconômicas
conhecidas, houve um notável aumento dos delitos de caráter patrimonial e
econômico, sendo a maioria deles marcados pela característica de consistirem
em subtrações de pequena relevância, daí a nomenclatura “criminalidade de
bagatela”.
Ribeiro Lopes (2000, p. 86) atribui a Claus Roxin a primeira menção ao
princípio da insignificância como princípio aplicado ao direito penal. Para ele, o
princípio permite na maioria dos tipos fazer-se a exclusão, desde o início, dos
danos de pouca importância.

O doutor Luiz Flávio Gomes (2008) afirma que desde 1970, em razão
da obra Política Criminal e Sistema Del Derecho Penal, de Claus Roxin,
concebe-se que todas as categorias da estrutura do delito que, entendido como
fato punível, exige conduta, tipicidade ofensiva, antijuridicidade, culpabilidade e
punibilidade, não podem mais ser interpretadas formalmente, literalmente,
devendo ser levados em conta os princípios político-criminais na aplicação do
Direito Penal. Assinala ainda Doutor Luiz Flávio Gomes que o princípio da
insignificância, que já era aplicado no direito romano, foi recuperado depois da
segunda guerra mundial por Claus Roxin, e vem sendo amplamente
reconhecido pelos juízes e tribunais.

Por sua vez, Rogério Greco (2006, p. 94) afirma que, embora haja
divergências doutrinárias quanto à origem do princípio da insignificância,
havendo quem afirme que ele já vigorava no direito romano, a “criminalidade de
bagatela” surgiu na Europa, como um problema crescente a partir da primeira
guerra mundial. Após a segunda grande guerra, houve um notável aumento
dos delitos de caráter patrimonial e econômico, quase todos marcados pela
característica de consistirem em subtrações de pequena relevância, daí a
primeira nomenclatura doutrinária de “criminalidade de bagatela”.

Para Rogério Greco (2006, p. 94) o desenvolvimento do princípio da


insignificância é atribuído principalmente a Claus Roxin. No mesmo sentido,
Cezar Roberto Bitencourt e Luiz Regis Prado reiteram que o princípio da
insignificância foi cunhado pela primeira vez por Claus Roxin, em 1964, que o
repetiu em sua obra Política Criminal y Sistema del Decrecho Penal, partindo
do adágio latino minima non curat praetor. (BITENCOURT e PRADO, 1996, p.
87).

Ao tratar da interpretação dos tipos, sob o ângulo do princípio nullum-


crimen, Claus Roxin afirma que ela deve ser restritiva, realizada em função da
Constituição e da natureza fragmentária do Direito Penal, mantendo íntegro
somente o campo de punibilidade indispensável para a proteção do bem
jurídico. Para tanto, são necessários princípios regulativos, como da
adequação social e o da insignificância.

Conclui-se que, embora vários autores afirmem que o princípio da


insignificância remonta ao direito romano, a maioria da doutrina atribui a Claus
Roxin a sua idealização e formulação.

3. Princípio da insignificância e sua relação com outros princípios

O princípio da insignificância tem intima relação com diversos princípios


do Direito Penal. De fato, conquanto seja correlato a outros princípios, o
princípio da insignificância com eles não se confunde, conforme teceremos,
sem esgotar o tema, se restringindo aos princípio da intervenção mínima ou da
subsidiariedade, princípio da fragmentariedade e o princípio da adequação
social.

O princípio da insignificância tem uma relação estreita com o princípio


da intervenção mínima ou da subsidiariedade. Com base em tais princípios, o
Direito Penal só é chamado a atuar em última instância, quando as demais
áreas do Direito não puderem proteger o bem jurídico. O Direito Penal deve ter,
portanto, caráter subsidiário, ou seja, só se devem criminalizar aquelas ações
que não puderem ser solucionadas pelos outros ramos do Direito. O princípio
da intervenção mínima está relacionado com o processo legislativo a ser
observado na elaboração das leis penais, conforme assevera Cássio Prestes, o
Direito Penal só é aplicado, então, quando todos os ramos do Direito falham. É
o que se denomina de Direito Penal como ultima ratio, como última barreira do
sistema jurídico. (PRESTES, 2003, p. 25).

Atualmente, no Brasil, em razão do desrespeito ao princípio da


intervenção mínima, tem havido um grande descrédito do Direito Penal, já que
com a criminalização de inúmeras condutas, desacompanhada de uma
capacidade da máquina estatal para atender a este aumento de demanda, o
Direito Penal passa a valer apenas para aqueles que cumprem a lei, atuando
de forma simbólica na medida em que neles se reforça a necessidade de
obediência ao Direito.

Pelo princípio da fragmentariedade, que é uma complementação do


princípio da intervenção mínima, o Direito Penal só deve proteger os bens
jurídicos mais importantes, das condutas mais lesivas mais graves. Para Ivan
Silva, o princípio da fragmentariedade serve de fundamento para o princípio da
insignificância “ à medida em que este só permite a apenação de condutas
típicas que materialmente lesionem o bem atacado”. (SILVA, 2004, p. 124).

Por sua vez, o princípio da adequação social determina que só há


tipicidade quando há relevância social. Assim, se a conduta é socialmente
adequada, a sua tipicidade é excluída pela relevância social. De acordo com
Rogério Greco (2006, p. 90) o princípio da adequação social serve tanto para
orientar o legislador quando da criação ou revogação das figuras típicas, como
também de instrumento para a interpretação dos tipos penais existentes.

Na lição de Assis Toledo, Welzel considera que o princípio da


adequação social bastaria para excluir certas lesões insignificantes, motivo
pelo qual Claus Roxin propôs a introdução de outro princípio no sistema penal
para a determinação do injusto, que atuaria igualmente como regra auxiliar de
interpretação. Este princípio é denominado princípio da insignificância, que
permite, na maioria dos tipos, excluir os danos de pouca importância.

Para Assis Toledo (1994, p. 133) os princípios da adequação social e


da insignificância se completam e se ajustam à concepção material do tipo de
injusto.
Nas palavras de Assis Toledo, “pelo princípio da insignificância, o
direito penal só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico.
Não deve ocupar-se de bagatelas”. (Idem).

Assis Toledo observa que a gradação quantitativa e qualitativa do delito


permite que o fato penalmente insignificante seja excluído da tipicidade penal,
mas pode receber tratamento adequado, se necessário, como ilícito civil ou
administrativo, por exemplo, quando assim exigirem os preceitos legais ou
regulamentares extra penais. (TOLEDO, 1994, p. 134).

Conclusão

Assim, o princípio da insignificância tem sido vastamente aplicado pela


doutrina e pela jurisprudência pátrias como uma forma de excluir do âmbito do
Direito Penal as condutas que, embora formalmente se ajustem ao tipo penal
previsto, não causam dano ou lesão significativos ao bem jurídico protegido.
Desse modo, pelo princípio da insignificância, fatos que aparentemente se
subsumem a figuras típicas penais, somente possuem uma tipicidade formal,
sendo que a tipicidade material só seria alcançada com a ocorrência de ofensa
grave ao bem jurídico.

REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral,


volume 1. 8 ed. Saraiva, São Paulo: 2003.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 17 ed. São Paulo:


Saraiva, 2008.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 4 ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 1984.

FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

FILHO, Francisco Bissoli. Estigmas da criminalização: dos


antecedentes à reincidência criminal. Florianópolis: ed. Obra Jurídica, 1998.
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; GOMES, Abel
Fernandes.Temas de direito penal e processo penal. Rio de janeiro:
Renovar. 1999.

GOMES, Luiz Flávio. Princípio da insignificância e outras excludentes


de tipicidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos de. Direito


Penal, volume 2, parte geral. São Paulo: Ed.Revista dos Tribunais, 2007.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume 1. 9


ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.

_______________. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão


minimalista do Direito Penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006.

LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípio da insignificância no


Direito Penal: análise à luz das Leis 9.099/95 (Juizados Especiais
Criminais), 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro) e da jurisprudência
atual. 2 ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2000.

MAÑAS, Carlos Vico. O princípio da insignificância como


excludente da tipicidade no Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1994.

MARTINS, Tiago do Carmo. Contrabando e Descaminho e o Princípio


da Insignificância.

MIRABETE, Julio Fabbrini . Código de Processo Penal Interpretado.


5, ed. São Paulo: Atlas, 1997.
PEDROSO, Fernando de Almeida. Processo Penal - O Direito de
Defesa: Repercussão, Amplitude e Limites, ed. Forense, 1 ed., 1986.

PRESTES, Cássio Vinicius D. C. V. Lazzari. O princípio da


insignificância como causa excludente da tipicidade no Direito Penal. São
Paulo: Memória Jurídica, 2003.

QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário do direito penal:


lineamentos para um direito penal mínimo. 2ª ed. Belo Horizonte, Del Rey,
2002.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro:


Lumen Juris, 2010.

ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico penal. Trad. Luís


Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

SILVA, Ivan Luiz. Princípio da Insignificância no Direito


Penal. Curitiba: Ed Juruá, 2004.

SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Curso de direito processual pena.


Teoria (constitucional) do processo. Rio de janeiro: Renovar, 2008.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal.


São Paulo: Saraiva, 1994.

WELZEL, Hans. O novo sistema jurídico-penal. Tradução, prefácio e


notas de Luiz Regis Prado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de
Direito Penal Brasileiro. Parte Geral. Volume 1. 5 ed. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2004.

Publicações periódicas (Artigos de revistas ou disponíveis em meio


eletrônicos)

Acórdão. Princípio da insignificância. Atipicidade. Parâmetros e


critérios. Material da 1ª aula da Disciplina Princípios constitucionais penais e
teoria constitucionalista do delito, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu TeleVirtual em Ciências Penais - Universidade Anhanguera- Uniderp
|REDE LFG.

BITENCOURT, Cezar Roberto; PRADO, Luiz Régis. Princípios


fundamentais do Direito Penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano
4, n. 15, jul.-set. 1996, p. 81-88.

BRUTTI, Roger Spode. O princípio da insignificância frente ao


poder discricionário do delegado de polícia. Jus Navigandi, Teresina, ano
11, n. 1230, 13 nov. 2006 . Disponível
em: <http://jus.com.br/revista/texto/9145>. Acesso em: 05 jan. 2012

Furto de algumas peças de roupa. Princípio da insignificância.


Objetos de pequeno valor, porém relevante. Inaplicabilidade do princípio
da insignificância. Material da 1ª aula da Disciplina Princípios constitucionais
penais e teoria constitucionalista do delito, ministrada no Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Ciências Penais - Universidade
Anhanguera- Uniderp |REDE LFG.

LUISI, Luiz. O princípio da insignificância e o Pretório Excelso.


Boletim IBCCRIM, ano 6, fev. 1998, p. 227.

MAHMOUD, Mohamad Ale Hassan. O princípio da insignificância e o


crime continuado, sob uma angulação processual. Boletim IBCCRIM, Rio
de Janeiro, RJ, ano 15, n. 182, p. 14-15, jan. 2008.
GOMES, Luiz Flávio. Delito de Bagatela: Princípios da
Insignificância e da Irrelevância Penal do Fato. Revista Diálogo
Jurídico. 2001, p. 08. Disponível em: <http://www.direitopublico.com.br>
Acessado em: 11 de outubro de 2010

GOMES, Luiz Flávio. O Direito Penal antes de depois de Roxin.


Disponível em: http://www.blogdolfg.com.br. Acesso em: 12 abril 2009. Material
da 1ª aula da Disciplina Princípios constitucionais penais e teoria
constitucionalista do delito, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
TeleVirtual em Ciências Penais - Universidade Anhanguera- Uniderp|REDE
LFG.

OLIVEIRA, Marcelo Ristow de. Direito penal: o princípio da


insignificância no STF. Disponível em: www.jus2.uol.com.br. Acesso em:
5.5.2009. Material da 1ª aula da Disciplina Princípios constitucionais penais e
teoria constitucionalista do delito, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu TeleVirtual em Ciências Penais - Universidade Anhanguera-
Uniderp|REDE LFG.

PELUSO, Vinicius de Toledo Piza. A objetividade do Princípio da


Insignificância. Boletim IBCCRIM, ano 9, n. 109, dez. 2001, p. 11-13.

Princípio da insignificância em crimes militares. Material da 1ª aula


da Disciplina Princípios constitucionais penais e teoria constitucionalista do
delito, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em
Ciências Penais - Universidade Anhanguera-Uniderp|REDE LFG.

REIS, André Wagner Melgaço. Princípio da Insignificância no Crime


de Descaminho à Luz da Jurisprudência do STJ e do STF. Um Breve
Estudo Acerca da Aplicação. Revista Magister de Direito Penal e Processual
Penal, n. 20, out.- nov. 2007, p. 10-14.

ROCHA, Sabrina Araújo Feitoza Fernandes. O princípio da


insignificância: uma visão do princípio observado sobre a estrutura do
conceito de culpabilidade. Revista da ESMAPE, Recife, PE, v. 10, n. 21, p.
515-539, jan- jun. 2005.



 Assuntos relacionados
 Direito Penal mínimo
 Direito Penal

Autor

Alexandre Cesar dos Santos


Delegado de Polícia Civil do Estado de Alagoas. Professor de Direito Penal da
Faculdade da Cidade de Maceió (FACIMA) . Bacharel em Direito pela
Universidade Federal de Pernambuco- UFPE (2006). Pós-graduado em
Ciências Penais pela Universidade Anhanguera-Uniderp - LFG. Especialista em
Direitos Humanos e Segurança Pública pela Universidade de Federal de
Rondônia/SENASP. (Delegado de Polícia do Estado de Rondônia 2011-2014).

Textos publicados pelo autor

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende
de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os
textos são divulgados na Revista Jus Navigandi.
Publique no Jus
Artigos, monografias, notícias, petições, pareceres, jurisprudência etc.
Comentários

Comentar
Regras de uso

 0

Felipe Rodrigues 18/05/2018 19:45


Em primeiro lugar gostaria muito agradecer pela disponibilidade aqui
encontrada para meus estudos.
Em segundo lugar parabenizar o autor do texto, que esta me ajudando muito a
aprender e conhecer sobre o assunto, no qual estou realizando um trabalho
sobre o tema e está me sendo muito útil.

LIVRARIA


Manual Prático da Administração Pública
Comprar
R$ 135,00

Direito Administrativo - Doutrina e Prática
Comprar
R$ 108,00


Direito Sumular STF
Comprar
R$ 208,00


Improbidade Administrativa - Teoria e Prática
Comprar
R$ 238,00

JUS LIVRARIA

DELAÇÃO PREMIADA - ASPECTOS JURÍDICOS

Comprar

R$ 68,00

Receba os melhores artigos do Jus no seu e-mail


Qual sua profissão?

Advogado Correspondente jurídico Estagiário Outros

Cadastrar

 ARTIGOS

 PETIÇÕES

 JURISPRUDÊNCIA

 PARECERES

 NOTÍCIAS

 DÚVIDAS

 ADVOGADOS

 LIVRARIA

 Fale Conosco

 Pergunte

 Publique

 Anuncie
 Ajuda

 Privacidade

 Quem Somos

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem


autorização.

Precisa de Advogado?

Para qual cidade você deseja atendimento?


×

Continuar

Você também pode gostar