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Compreendendo Birras e choros

a infância aos dois e três anos

Compreendendo a infância
é uma série de pequenos
textos escritos por
experientes terapeutas
de crianças na Inglaterra,
para ajudar a esclarecer
os sentimentos e visões
de mundo infantis e
adolescentes e assim
auxiliar os pais, familiares
e profissionais.

Folhetos eletrônicos em
português disponíveis
em www.usp.br/ip. Clique
em Laboratórios e em
seguida em Laboratório
de Estudos da Família,
Relações de Gênero e Há um longo caminho desde ser um bebê Tem sentimentos que ainda não domina sozinho
Sexualidade. Ou em sem birra ou choro. Ele luta para descobrir quem
indefeso até ficar mais independente, aos três
Serviços e em seguida em é e o que sente a respeito das pessoas que
ou quatro anos, pronto para ir para a creche
Serviço de Atendimento a cuidam dele – por que as ama em determinado
ou para a escola. Pode ser uma jornada de
Famílias e Casais. momento e as odeia no próximo. Não pode
descobertas empolgantes – mas pode parecer
simplesmente pedir sua ajuda. Em vez disso,
também uma jornada tortuosa, tanto para implica com você com exigências contraditórias,
Este folheto foi
você quanto para seu filho. porque ele se sente assim: indefeso e confuso.
originalmente publicado À medida que a idade de dois anos fica próxima, As crianças reagem de modo muito diferente
pelo Child Psychoterapy as crianças querem participar do que está aos triunfos e obstáculos do seu segundo ou
Trust. acontecendo ao seu redor – explorando e terceiro ano de vida, portanto precisam de
Folders disponíveis brincando, observando e imitando os outros, diferentes tipos de apoio de seus pais.
em inglês em: www. falando as primeiras palavras. Agora já se sentem
understandingchildhood.net como pessoas em um mundo interessante
que partilham com outras pessoas, e querem O mandão
participar. Algumas crianças não suportam se sentirem
www.understanding pequenas e indefesas. Elas não aceitam que
Childhood.net Como é ter dois ou três anos existem coisas com as quais não podem lidar.
Para contornar o fato e tentar fazer com que
Coordenação da tradução Seu filho de dois anos está descobrindo todos
os outros – não elas - se sintam pequenos,
brasileira: Laboratório de os tipos de coisas que não pode ou não deve
elas podem assumir a posição de mandonas e
Estudos da Família, Relações fazer. Ele disputa uma batalha constante entre
ser tão convincentes que, como pais, às vezes
de Gênero e Sexualidade do seus intensos desejos, esperanças e receios.
Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo.
chegamos a acreditar que elas não precisam de nós, A criança muito apegada
ou podemos ficar tão irritados que temos vontade de
Algumas crianças parecem dizer: “Eu preferiria
“colocá-las no devido lugar”.
continuar pequeno”. Uma criança que é muito apegada
Mas crianças mandonas com dois anos de idade na
e temerosa pode se tornar um fardo para os pais, e de
verdade precisam de alguém que lhes ofereça amor e
uma maneira diferente daquela que é mandona.
cuidados, mesmo quando parecem não necessitar disto.
Como pais, precisamos ter a segurança de ver as
coisas caminhando de forma geral na direção correta.
O birrento Portanto, um comportamento “de nenê” é difícil de
Muitas crianças de dois ou três anos desenvolvem todo tolerar, porque nos preocupa e nos leva a crer que as
tipo de manias e rituais, que repetem com insistência. Do coisas estão regredindo. É também bastante exaustivo
ponto de vista dos pais, pode parecer tolice e até tirania, não saber se o que você tem em mãos é um bebê ou
mas qual é o ponto de vista de uma criança pequena? uma criança crescida.
Todos esperam nesta Quando você passa a achar que não está conseguindo
fase que as crianças fazer as coisas direito, é bem provável que o seu filho
deixem de ser bebês esteja se sentindo muito perdido também.
e se tornem mais
independentes. Mas O medroso
elas podem achar Novas situações podem ser assustadoras. As crianças
que os adultos estão com dois ou três anos às vezes sentem medo de novas
sempre interferindo situações, principalmente se acharem que isto significa
e mandando nelas. que serão deixadas com outras pessoas. Vale a pena
Quando insistem em sermos honestos sobre novas situações – tais como o
usar algo estranho, nascimento de um bebê ou a mudança de escola – para
ou em fazer coisas em que não sejam surpreendidos ou sintam-se traídos.
uma sequência diferente e Dê-lhes todo o tempo necessário para se ajustarem e
própria, as crianças talvez aceite um certo nervosismo. Prepare-se para levar seu
estejam tentando fazer filho a sério se ele realmente sentir que não está pronto
com que você reconheça que fazem suas próprias para uma nova etapa.
escolhas e têm suas próprias preferências. Mas algumas das coisas que apavoram estão dentro
Às vezes ajuda ceder com calma em relação a coisas deles. É nessa idade que as crianças começam a se
que não têm muita importância. Assim as crianças queixar de sonhos maus ou terrores noturnos. Às vezes
terão a chance de aprender, quando também tiverem os sonhos podem estar ligados a eventos preocupantes
que ceder. E, é claro, haverá diversas ocasiões em que do dia, mas com frequência surgem de sentimentos
terão vontades impossíveis de realizar, ou perigosas. que a criança tem.
Sempre haverá oportunidades para que elas aprendam Talvez você nunca saiba de fato o que os preocupa, mas
a respeito do significado da palavra “não”, e para que é bastante confortador para uma criança que ainda
você aprenda a lidar com as lágrimas. não entende seus sentimentos ter um adulto tentando
Às vezes certa birra tem a ver com preocupações que ajudá-la a compreender.
seu filho não consegue expressar ou contar para você.
A determinação dele em evitar certos objetos ou
Os acessos de raiva
situações pode ser a maneira que ele tem de controlar
seus medos. Seu filho está lidando com sentimentos fortes o dia
O que de fato preocupa as crianças pode não ter todo. Se nisto estão conseguindo certa estabilidade,
nenhuma conexão óbvia com as coisas que as deixam então estão se saindo bem - mas existirão ocasiões em
irritadas – mas é mais fácil controlar o que você que perderão o controle.
deixa sua mãe colocar no prato do que controlar as
ansiedades que você não compreende.
Os medos tendem a ir e vir, mas se o comportamento Folheto útil para a compreensão da infância
de seu filho se tornar especialmente difícil, vale a pena Ciúmes entre irmãos
pensar se ele está passando por algum tipo de stress.
Quando seu filho tiver um acesso de raiva, pense que ele Como os pais podem lidar?
está tentando demonstrar o que sente internamente
Lidar com os acessos de raiva de seu filho não
no momento em que não consegue mais lidar com a
significa tentar pará-los ficando zangados. No calor
situação. Pode ser simplesmente exaustão, ou porque
do momento, é fácil ficar tão zangado quanto o filho,
se sente sobrecarregado. As crianças não fazem isto
e gritar com ele também. Não se espera que os pais
apenas para chamar atenção. Elas têm esses acessos
sejam perfeitos, mas espera-se que consigam controlar
porque não conseguem expressar em palavras o que
seus próprios sentimentos quando os sentimentos do
sentem. Elas gritam e jogam-se para todo lado porque
filho ficam fora de controle.
acham que estão por explodir.
Como pais, sentimo-nos impotentes, constrangidos ou
Provavelmente estão com raiva e também com medo,
expostos quando nossos filhos têm acessos de raiva
porque sua ira parece tão forte e perigosa que eles
em público. Mesmo em casa, haverá momentos em
perdem a noção de papai e mamãe como aqueles que
que ultrapassarão nossos limites.
estão lá e podem ajudar e ser amigos.
É importante ser firme, mas também é importante ter
As crianças não precisam que você lhes traga uma
compreensão e tolerância. Simplesmente pedir para
solução, ou que tente suborná-las com presentes
a criança se comportar não lhe dá a capacidade de
(embora todos já tenham tentado isso alguma vez).
controlar seus sentimentos. Elas só podem aprender
O que elas realmente precisam é ver que você pode
devagar como compartilhar com outras crianças ou
se sentir zangada ou desamparada, mas que ainda
aceitar as pessoas dizendo “não”.
assim irá mantê-las seguras, cuidando para que não se
As crianças aprendem pelo exemplo, portanto
machuquem - que você irá cuidar de si mesma e delas,
aprendem que é possível estarmos angustiados e com
e que continuará amando-as.
raiva sem termos um acesso de ira quando tentamos
É mesmo um problema? lidar com nossas frustrações ou preocupações.

Às vezes os pais acham que os acessos de raiva de seu Beirando o limite das forças
filho não são do tipo que vai desaparecer. As crianças
Algumas vezes os pais sentem que não vão conseguir
podem parecer incansáveis e destruidoras, como se
continuar. Podem ficar assustados, temendo machucar
não gostassem de nada. E – o mais doloroso de tudo
o filho fisica ou emocionalmente.
– os pais nessa situação podem achar que existe uma
Você pode achar que não está recebendo apoio ou
barreira entre eles e a criança.
ajuda suficientes. Você pode estar com preocupações
Se você tiver preocupações como estas, é importante
demais no seu colo, sentir-se mal e em depressão. Se
pedir a ajuda de um especialista. Não é uma boa ideia
você achar que isto está acontecendo com você, pelo
deixar as coisas como estão, aguardando que elas
bem de seu filho e o seu próprio, procure ajuda para
melhorem com o tempo.
descobrir o que está errado.

Algumas dicas práticas

• Conte até 10 antes de fazer qualquer Pode ser “da boca para fora”, mas ele não sabe
coisa, a não ser que seu filho esteja disso.
fazendo algo perigoso ou possa se
• Não acredite que seus filhos crescerão e se
acidentar.
tornarão monstrinhos. Acessos de raiva de
• Não se deixe levar a uma discussão uma criança com dois ou três anos logo, logo
sobre o que começou tudo – ele está desaparecem – mas lentamente. Pode levar
aquém de qualquer argumentação. dois ou três anos.
• Não exija dele mais do que ele pode dar. • Tente lembrar-se de que nesses acessos eles
estão aprendendo lições importantes sobre
• Evite comentários que apenas o
si mesmos – e vocês todos estão praticando
magoarão – tais como ameaças de ir
para a chegada da adolescência!
embora de casa, ou de que irá matá-lo.

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