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Estudo de traçado 1

Capítulo III. Estudo do Traçado de Uma Rodovia

Traçado de uma rodovia: é a linha que constitui o projeto


geométrico da rodovia em planta e em perfil (representa
espacialmente a rodovia).

Diretriz de uma rodovia: é um itinerário, compreendendo


uma ampla faixa de terreno, ao longo da qual se possa
lançar o traçado da rodovia.

1ª fase: Reconhecimento

Definição: é a etapa dos estudos de traçado que tem por


objetivo a escolha da diretriz que permita o lançamento do
melhor traçado, técnica e economicamente viável.

 Pontos obrigados de condição – pontos a serem


obrigatoriamente atingidos (ou evitados) pelo traçado,
por razões de ordem social, econômica ou estratégica,
tais como cidades, vilas, povoados, áreas militares,
instalações industriais, áreas de reserva e outras a
serem atendidas ou não pela rodovia.

 Pontos obrigados de passagem – pontos a serem


obrigatoriamente atingidos pelo traçado da rodovia por
razões de ordem técnica, face à ocorrência de
condições topográficas, geotécnicas, hidrológicas e
outras que possam determinar a passagem da rodovia,
tais como locais mais convenientes para as travessias
de rios, acidentes geográficos e locais de ocorrência de
materiais.
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Figura 1. Pontos obrigados em um traçado

Processos de reconhecimento

a) exame de mapas e cartas da região nas escalas


1:50.000 ou 1:100.000, contendo: localização de vilas,
povoados, cidades, acidentes geográficos, rios e cursos
d´água, estradas e rodovias, além de limites políticos e
curvas de nível;

b) inspeção local, que dá ao projetista um conhecimento


pormenorizado das condições da área a ser atingida pelo
traçado, quanto ao uso do solo, ocorrências de materiais
aproveitáveis, potenciais problemas ambientais etc.;

c) sobrevôo da região: principalmente em áreas não


ocupadas e/ou de difícil acesso;
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d) exame de fotografias aéreas: permite visualizar a


configuração geral do terreno, uso do solo, cobertura
vegetal etc.

e) levantamentos de dados sócio-econômicos e de


demanda: visando as avaliações econômico-financeiras,
para a escolha de alternativas de traçado.

Atividades complementares: identificar e assinalar


características de interesse para a definição da diretriz,
tais como:
 Classificação orográfica da região (plana, ondulada
ou montanhosa);
 Uso do solo, incluindo ocupações urbanas,
instalações e respectivas toponímias (nomes como
são conhecidas);
 Áreas com restrições ambientais (reservas
ecológicas, áreas indígenas, sítios arqueológicos e
outras);
 Acidentes geográficos, rios, lagoas, quedas d´água;
 Tipos de solos, ocorrências de materiais, cobertura
vegetal;

Escala do ante-projeto - planta: 1:20.000 e perfil: H-


1:20.000 e V - 1:2.000.

2ª fase: Exploração

Objetivo: levantamento detalhado da faixa de terreno


contendo a diretriz, visando à obtenção de uma planta plani-
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altimétrica, com precisão topográfica, tendo por base uma


poligonal.

Instrumentos utilizados: teodolitos, miras, trenas, balizas,


estações totais, GPS etc.

Procedimento:

 Definição da poligonal (pelos seus vértices, ângulos de


deflexão e extensão de seus lados), materializada por
piquetes no terreno, com um prego na cabeça;

 Estaqueamento dessa poligonal de 20 em 20m a partir


da origem, inclusive os vértices, nivelando-a, tendo por
base uma referência de nível (RN);

 Levantamento plani-altimétrico das seções transversais


do terreno em cada estaca, numa faixa de 50 a 100m
de largura, para traçado das curvas de níveis de metro
em metro. (Escalas: 1:100 ou 1:200);

 Definição do projeto da rodovia sobre esta poligonal


nas escalas H-1:2.000 e V-1:200.

Fatores Influentes na Escolha do Traçado

Topografia: o relevo do terreno é importante na escolha do


traçado, que define o movimento de terra, o que geralmente
representa uma parcela importante de custo na construção.

 Terreno plano: quando a topografia da região é


suficientemente suave, de forma a permitir um projeto
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com boas condições de visibilidade, pequeno


movimento de terra e sem necessidade de obras caras.

 Terreno ondulado: quando o terreno natural possui


inclinações não muito fortes e/ou algumas escarpas
ocasionais que exigem um movimento de terra médio.

 Terreno montanhoso: quando a topografia apresenta


mudanças significativas nas elevações do terreno,
sendo necessários grandes movimentos de terra e,
algumas vezes, túneis e viadutos para obter-se um
perfil aceitável para a estrada.

Condições geológicas e geotécnicas:


- as categorias dos materiais (1ª, 2ª ou 3ª) definem o
custo de escavação;
- a contenção de taludes ou a estabilização de aterros
sobre solos moles podem exigir obras caras.

Hidrologia: evitar traçados que atravessem rios e


córregos para evitar pontes e galerias; se inevitáveis,
procurar os locais mais estreitos possíveis.

Desapropriações: evitar construções, leteamentos etc.

Interferências no ecossistema: procurar reduzir ao


máximo os impactos ambientais provocados por erosões,
desmatamentos, assoreamentos de cursos d´água etc.
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Cálculos da poligonal

Uma vez definida no terreno uma poligonal, ela fica


analiticamente definida com as medições dos seus
alinhamentos, dos ângulos de deflexão nos vértices e os
azimutes.

Para caracterizar a posição de qualquer ponto dessa


poligonal, dois cálculos básicos devem ser feitos: o
cálculo dos azimutes dos alinhamentos e o cálculo das
coordenadas dos vértices (ou de outros pontos da
poligonal).

 Cálculo de azimutes

O ângulo de deflexão em um vértice é a medida do


quanto se está desviando quando se passa do
alinhamento anterior para o seguinte, podendo ser uma
deflexão à direita ou à esquerda, conforme o sentido no
desvio da trajetória.

Na Figura 2, o ângulo I1 é a deflexão à direita no vértice


V1 e o ângulo I2 é a deflexão à esquerda no vértice V2.

Figura 2. Deflexões e azimutes


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Na mesma figura, o ângulo indicado como Az0-1 é o


azimute do alinhamento V0-V1, sendo o azimute de um
alinhamento o ângulo entre o sentido norte e este
alinhamento, contado no sentido horário, podendo variar
entre 0 e 360°.

Tem-se então: Az1-2 = Az0-1 + I1;


Az2-3 = Az1-2 – I2.

Regra geral: Numa poligonal orientada, o azimute de um


alinhamento é sempre igual ao azimute do alinhamento
anterior, mais (ou menos) a deflexão: mais, quando for à
direita, e menos quando for à esquerda.

 Cálculo das coordenadas

Dada uma poligonal orientada, referida a um sistema de


eixos cartesianos, onde o eixo das ordenadas coincida
com a orientação norte (N) e o eixo das abscissas
coincida com a orientação leste (E), podem-se determinar
analiticamente as coordenadas cartesianas de quaisquer
pontos da poligonal, uma vez conhecidas as coordenadas
de um de seus pontos, os comprimentos dos
alinhamentos, e os azimutes
desses alinhamentos.

Supondo na Figura 3 conhecidas


as coordenadas absolutas XA e
YA do ponto A, pode-se calcular
as coordenadas absolutas XB e
YB do ponto B, como segue:
Figura 3. Coordenadas
absolutas
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XB = XA + LAB.sen(AzA-B);
YB = YA + LAB.cos(AZA-B).

Os comprimentos das projeções do alinhamento AB


sobre os eixos coordenados são as coordenadas relativas
do segmento AB.

Regra geral: numa poligonal orientada, as coordenadas


absolutas de um vértice são iguais às coordenadas
absolutas do vértice anterior mais (ou menos) as
respectivas coordenadas relativas.

Referências:

01. LEE, S. H. Introdução ao Projeto Geométrico de Rodovias. Editora da UFSC,


Florianópolis, 2005.
02. PIMENTA, C. R. T. e OLIVEIRA, M. P. Projeto Geométrico de Rodovias.
Editora RiMa Editora, São Carlos, 2001.

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