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Kalinca da Silva Oliveira1, Patrícia Sauer1, Luiz Carvalho2, José Luís Schifino Ferraro2, Márcia
Keller Alves2
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Faculdade de Nutrição, PUCRS; 2 Clínica Nutrissoma Profissionais de Nutrição
Resumo
O excesso de gordura é um dos maiores problemas de saúde em muitos países,
principalmente os industrializados, pelo fato de atingir um elevado número de pessoas e
predispor o organismo a vários tipos de doenças e à morte prematura. Indivíduos com excesso
de peso apresentam sofrimento psicológico decorrente de problemas relacionados à
discriminação e ao preconceito social quanto a sua condição. Logo, estes pacientes tendem a
consumir mais alimentos em situações de estresse emocional, como ansiedade e quando estão
sob algum tipo de tensão. Neste trabalho, a obesidade foi classificada de acordo com o Índice
de Massa Corporal dos pacientes, e para tal, avaliou-se clinicamente a relação entre o peso e a
altura de cada indivíduo. A análise da relação entre ansiedade, tensão emocional e consumo
alimentar nestes pacientes foi feita através de questionário.
Introdução
A obesidade emergiu nas últimas décadas do século XX como uma epidemia, em
países desenvolvidos e vem aumentando sua incidência nos países em desenvolvimento, não
estando limitada a uma região, país ou grupo racial/étnico. É um fenômeno mundial que afeta
todos os níveis sócio-econômicos e é resultante da ação de fatores ambientais (hábitos
alimentares, atividade física e condições psicológicas) sobre indivíduos geneticamente
predispostos a apresentar excesso de tecido adiposo (Popkin, 1998). A diferença básica entre
obesidade e excesso de peso (sobrepeso) é que no primeiro caso o peso corporal como um
todo excede a determinados limites e no segundo caso é a condição na qual apenas a
quantidade de gordura corporal ultrapassa os limites desejados (Guedes, 1995).
O indivíduo obeso apresenta sofrimento psicológico decorrente tanto dos problemas
relacionados ao preconceito social e à discriminação contra a obesidade, como das
Metodologia
No momento da consulta, cada paciente preencheu um questionário padrão da clínica
Nutrissoma sobre seus hábitos alimentares. Os aspectos comportamentais em relação ao
consumo alimentar em situações de ansiedade e tensão destes pacientes foi traçado a partir da
análise de perguntas que fazem parte deste questionário, em que o paciente expõe de maneira
objetiva o seu comportamento frente a estas situações.
Para a classificação de obesidade, utilizou-se a medida de Índice de Massa Corporal
(IMC), definido pelo peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados (WHO,
1998). Fez-se a subdivisão de obesidade em diferentes graus (I, II e mórbido) de acordo com a
classificação sugerida pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome
Metabólica (ABESO). A avaliação antropométrica (peso e altura), a fim de obter os dados
para o cálculo do IMC, foi feita pelos nutricionistas da clínica.
Os dados foram organizados em uma tabela e para a análise estatística foi utilizado
software SPSS 16.0.
9,58% têm obesidade grau II e 3,83% têm obesidade mórbida. Pouco mais da metade dos
pacientes com sobrepeso (54,14%) dizem ser ansiosos. Entre os pacientes obesos, os grupos
que mais referem sofrer de ansiedade são os grupos com obesidade grau II e mórbidos, em
que, respectivamente, 70,90% e 68,18% dos pacientes dizem-se ansiosos.
Também foi traçado o perfil dos pacientes que responderam a questão sobre seu
comportamento alimentar quando sob tensão emocional (se come mais, menos ou igual). Dos
528 pacientes, 67,80% têm sobrepeso, 20,26% têm obesidade grau I, 8,52% têm obesidade
grau II e 3,40% têm obesidade mórbida. Em relação ao comportamento alimentar verificou-se
que a maior parte dos pacientes (69,31%) come mais quando está sob tensão emocional. Este
comportamento aumenta de modo proporcional ao aumento de peso, de modo que 67,03%
dos pacientes com sobrepeso responderam que comem mais, enquanto que 88,88% dos
obesos mórbidos deram a mesma resposta.
Conclusão
Neste estudo, encontramos uma relação entre ansiedade, tensão emocional e consumo
alimentar em pacientes com excesso de peso. Ou seja, pacientes com sobrepeso e obesidade
em sofrimento psicológico (ansiosos ou sob tensão emocional) tendem a comer mais. Este
comportamento pode estar alimentando um ciclo vicioso: sofrimento psicológico versus
comer mais versus aumento de peso versus mais ansiedade e tensão emocional (e assim por
diante). Com isso, concluímos que o tratamento destes pacientes deve incluir não somente a
terapia nutricional, mas também auxilio psicológico, que pode ser oferecido através de uma
equipe multidisciplinar.
Referências
ABESO – disponível em http://www.abeso.org.br/.
FAITH, M.S., ALLISON, D.B, GELIEBTER, A. Emotional eating and Obesity: Theoretical considerations and
practical recommendations. In: Dalton S. Overweigth and weight management. Maryland: Aspen Publishers;
1997.
POPKIN, B.M.; DOAK CM. The obesity epidemic is a worldwide phenomenon. Nutrition Reviews. Vol. 56, Nº
4 (1998), pp. 106-14.
STUNKARD, A.J.; WADDEN T.A. Psychological aspects of severe obesity. American Journal of Clinical
Nutrition. Vol. 55, Nº 2 (1992), pp. 524S-32S.