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1 Patologia do concreto armado 1.1 Fundamentos da patologia das construgées O estudo das falhas construtivas é feito pela ciéncia experimental denominada “patologia das construcdes”, que envolve conhecimentos multidisciplinares nas diversas areas da engenharia. A Escola Politécnica da USP define patologia das construgdes como o estudo das origens, causas, mecanismos de ocorréncia, manifestagdo e consequéncias das situacdes em que os edificios ou suas partes apresentam um desempenho abaixo do minimo preestabelecido. Entende-se como o “minimo preestabelecido” a eficiéncia e durabilidade dos materiais e técnicas construtivas necessdrias para assegurar a vida Util de uma edificacao. Normalmente, tais condigdes sao previstas em normas técnicas, especificagdes, ensaios de resisténcia etc. E importante ressaltar que a identificagéo das origens dos problemas patoldgicos permite, também, detectar para fins judiciais quem cometeu as falhas. Ou seja, se os problemas tiveram origem na fase de projetos, os projetistas falharam; quando a origem esta na qualidade do material, 0 erro é dos fabricantes; se, na etapa de construgao, se trata de falhas que envolvem mao de obra e fiscalizagao, ou ainda omissao do construtor; se na etapa de uso as falhas poderao ser decorrentes da operagéo e manutencao. 1.2 Causas patolégicas do concreto As causas patoldgicas do concreto podem ser divididas em dois grupos: a) Grupo I - causas fisicas As causas fisicas da deterioracao do concreto podem ser subdivididas em duas categorias: * desgaste superficial (ou perda de massa) por causa da abrasdo, da erosdo e da cavitagao; e * fissuracéo em razao de gradientes normais de temperatura e umidade, pressdes de cristalizagéo de sais nos poros, carregamento estrutural e exposicéo a extremos de temperaturas, tais como congelamento ou fogo. b) Grupo II — causas quimicas AS causas quimicas da deterioragéo do concreto podem ser subdivididas em trés categorias: * hidrdlise dos componentes da pasta de cimento por agua pura; trocas idnicas entre fluidos agressivos e a pasta de cimento; * reagdes causadoras de produtos expansiveis, tais como expansdo por sulfatos, reagao Alcali-agregado e corrosdo da armadura no concreto. 1.3 Patologia nas estruturas de concreto 1.3.1 Fissuragao Os problemas patoldgicos nas estruturas de concreto geralmente se manifestam de forma bem caracteristica, permitindo assim que um profissional experiente possa deduzir qual a natureza, a origem e os mecanismos envolvidos, bem como quais sao as provaveis consequéncias, Um dos sintomas mais comuns é 0 aparecimento de fissuras, trincas, rachaduras e fendas, definidas da seguinte forma: a) Fissura: abertura em forma de linha que aparece nas superficies de qualquer material solido, proveniente da ruptura sutil de parte de sua massa, com espessura de até 0,5 mm. b) Trinca: abertura em forma de linha que aparece na superficie de qualquer material Solido, proveniente de evidente ruptura de parte de sua massa, com espessura de 0,5 mma 1,00 mm. c) Rachadura: abertura expressiva que aparece na superficie de qualquer material sdlido, proveniente de acentuada ruptura de sua massa, podendo-se “ver” através dela e cuja espessura varia de 1,00 mm até 1,5 mm. d) Fenda: abertura expressiva que aparece na superficie de qualquer material sdlido, proveniente de acentuada ruptura de sua massa, com espessura superior a 1,5 mm. Algumas das causas mais usuais do fissuramento das estruturas sdo: cura mal realizada — ressecamento; * retracdo; variacdo de temperatura; « agressividade do meio ambiente; * carregamento; * erros de concepcao; * mau detalhamento do projeto; * eros de execucao; « recalques dos apoios; * acidentes. 1.3.2 Ressecamento do concreto Apés Os primeiros dias da concretagem, 0 concreto nao experimenta nenhuma retracdo. Ela se manifesta sete dias depois, aproximadamente. Durante a cura, tem lugar um autoaquecimento que ocorre desde o inido da pega do cimento. A temperatura eleva-se, ocorre 0 aquecimento do ntideo da peca, com valor superior ao de sua parte externa. A figura a seguir mostra fissuras por ressecamento em uma laje nervurada. As fissuras seguem a armadura principal. Ja a seguinte figura mostra uma laje macica e as fissuras nao sao retilineas. ae Cn LS As fissuras provocadas por ressecamento manifestam-se durante as primeiras 6 e 18 horas. Para evitar o fissuramento por ressecamento, as superfides conaretadas devem ser protegidas e umedecidas imediatamente apds ser executadas. 1.3.3 Retragao O concreto experimenta um aumento de volume, quando umedecido, e uma retragao durante 0 processo de cura. A retracéo aparece quando a porcentagem de dqua interna diminui, sendo esta mais intensa em tempo seco e quente. E de maxima importancia o grau de umidade do meio ambiente para o desenvolvimento da retragdo. O processo de retracdo estende-se de 2 a 3 anos, provocando tensdes de tracéo, quando as deformacées sao impedidas por forcas externas ou internas, originadas das armaduras. A retragdo da origem a tensdes de compressdo no interior da peca e de tracdo na superfide. Nas vigas que possuem varios vos, as fissuras de retragéo manifestam-se nas proximidades dos apoios, especialmente se eles sao fixos. Nos muros de concreto diretamente apoiados no solo, as fissuras aparecem em razéo da resisténcia oferecida pelo atrito do concreto com o solo, conforme a figura a seguir, | 1 | ‘ | | | EZ Quando se trata de peca fortemente armada, a resisténcia oferecida pela armadura intervém no fendmeno de fissuramento e o encurtamento global pode resultar insignificante. Em lajes, as fissuras de retracdo sao frequentes, principalmente se elas nao possuem elementos de enrijecimento, como vigas paralelas a armadura. AS seguintes figuras mostram fissuras de vigas e pérticos provocadas por retracdo. | 1.3.4 Carregamento Uma peca estrutural pode fissurar em consequéncia dos seguintes tipos de esforgos provocados por carregamentos: a) Tracéo axial: fissuramento bastante regular, sempre perpendicular as armaduras, atravessando toda a secdo, conforme figura a seguir. - - LEEETL ULE ELL Et b) Compressdo axial: os pilares de concreto armado, submetidos a compressao axial, rompem com caracteristicas bem definidas, como os corpos de prova, de acordo com a seguinte figura. LE ll c) Compressao excéntrica: as pegas submetidas ao efeito de compressdo excéntrica e flambagem apresentam, geralmente, fissuras com as caracteristicas mostradas na figura a seguir. d) Flexao: as fissuras de flexéo sdo as mais conhecidas e faceis de identificar Além disso, So sempre perpendiculares as armaduras, conforme as figuras a seguir. j a IViga_|Lajes amadas em uma direcao lLajes amadas em duas diregoes e) Cisalhamento: as fissuras de cisalhamento, provocadas pelo esforco cortante, sao indinadas e surgem inicialmente nas proximidades dos apoios, manifestando-se também na parte média das vigas. Séo geralmente causadas pela deficiéncia das armaduras de cisalhamento. Ver a figura que segue. Fissura de cisalhamento em uma viga f) Torcdo: as fissuras de torgéo podem aparecer em vigas de bordo, por excessiva deformabilidade da laje; também s&o originadas de cargas excéntricas em viga ou em vigas que servem de engaste para marquises. Tais fissuras aparecem simultaneamente em todas as faces livres da peca estrutural com desenvolvimento helicoidal, de acordo com a figura a seguir. Fissura de cisalhamento em uma viga 1.4 Conceituacao dos danos mais comuns nas estruturas Além da fissuragdo, os fatores relacionados anteriormente podem causar os seguintes danos as estruturas de concreto armado. 1.4.1 Carbonatacao Uma das causas mais frequentes da corrosaéo em estruturas de concreto armado, a carbonatacao é a transformacéo do hidrdxido de calcio, com alto pH, em carbonato de ilcio, que tem um pH mais neutro. A perda de pH do concreto representa um problema, pois em seu ambiente alcalino (pH variando de 12 a 13), as armaduras estado protegidas da corrosdo. Entretanto, com um DH abaixo de 9,5, inicia-se 0 processo de formagao de células eletroquimicas de corrosdo, fazendo surgit, depois de algum tempo, fissuras e desprendimentos da camada de cobrimento. A existéncia de umidade no concreto influencia bastante 0 avango da carbonatacgao. Outros fatores que também contribuem para que o fendmeno se desenvolva com mais rapidez séo a quantidade de CO) do meio ambiente, a permeabilidade do concreto e a existéncia de fissuras. 1.4.2 Desagregacao E a deterioracao, por separacio de partes do concreto, provocada, em geral, pela expansao por causa da oxidacdo ou dilatagéo das armaduras, e também pelo aumento de volume do concreto quando este absorve dgua. Pode ocorrer também por causa das movimentacées estruturais e choques. 1.4.3 Disgregacao Caracteriza-se pela ruptura do concreto, em especial nas partes salientes da estrutura. O concreto disgregado geralmente apresenta as caracteristicas originais de resisténcia, porém no foi capaz de suportar a atuacao de esforcos anormais. 1.4.4 Segregacao E a separacio entre os elementos de concreto (brita e argamassa), logo apds o langamento. 1.4.5 Perda de aderéncia Pode ocorrer entre a armacao e o concreto ou entre concretos. A perda de aderéncia entre o concreto e 0 aco ocorre geralmente nos casos de oxidacado ou dilatacéo da ferragem. 1.4.6 Corrosao das armacées A porosidade do concreto, a existéncia de trincas e a deficiéncia no cobrimento fazem com que a armacéo seja atingida por elementos agressivos, acarretando, desta maneira, a sua oxidacdo. A parte oxidada aumenta o seu volume em cerca de, aproximadamente, ito vezes e a forca da expansdo expele o concreto do cobrimento, expondo totalmente a armadura a acéo agressiva do meio. A continuidade desse fenémeno acarreta a total destruicéo da armagao, conforme mostra a figura a seguir. Estribos y Fissura —/ Barra de armacao 1.4.7 Corrosao do conareto O concreto, mesmo sendo bastante resistente quando de boa qualidade, esta sujeito a sofrer danos em presenga de agentes agressivos. Normalmente, 0 concreto mais atacado é 0 de ma qualidade, permeavel, segregado etc. Os agentes dcidos, os sulfatos, 0 coro e seus compostos, os nitratos e nitritos séo os principais fatores destrutivos do concreto. Mesmo a agua totalmente pura, como é o caso da dgua de chuva, pode atacar 0 concreto por meio da infiltragéo e do actimulo ao longo do tempo. 1.4.8 Calcinagao Eo ressecamento das camadas superficiais do concreto por causa da ocorréncia de incéndios. 1.4.9 Reatividade alcalisilica (RAS) A RAS é uma reacao quimica que ocorre entre a silica existente em determinados tipos de agregados utilizados no concreto e o dlcali (pode ser o de sddio ou de potdssio) presente na parte de cimento. Provoca trincas de grande magnitude na superficie das estruturas. Genericamente, é disposta no sentido longitudinal da pega, interconectada por finas trincas aleatérias transversais. Este tipo de patologia foi identificado pela primeira vez em 1937 como um sério problema para barragens, pontes e pavimentos de rodovias. No Brasil, diversas barragens e pontes apresentam os sintomas da RAS, algumas ja em estagio avancado. 1.4.10 Eflorescéncia O fendmeno da eflorescéncia resulta da dissolugéo dos sais presentes na argamassa e seu posterior transporte pela agua através dos poros até a superficie da argamassa. Durante o citado transporte ocorre o aumento da concentracéo dos sais soltiveis da argamassa na solucéo, provocando o processo de cristalizagéo dos sais. Pode-se dizer entdo que a eflorescéncia é um depdsito de sais acumulado sobre a superficie das argamassas, de composicdo e aspecto varidveis de acordo com o tipo de sal depositado. Encrada de gua na agamassa de protegio Mecinica Saida de dgua, caregando os sais solves da argamassa, com formagio da cistalizaqio Eflorescénca” 5 Quando se trata de uma peca de concreto na posigéo horizontal (laje), com impermeabilizagao deficiente, existe maior probabilidade de ocorrer a eflorescéncia por causa da umidade de infiltragdo. 1.5 Causas mais frequentes, consideracées normativas Adiante, seque uma relacéo de algumas causas e de que forma as normas témicas, se respeitadas, podem evitar as diversas patologias nas estruturas de concreto. 1.5.1 Exsudagao do concreto De acordo com a NBR 12655:2006, o profissional responsdvel pela execugéo deve escolher o tipo de concreto, consisténcia, dimenséo dos agregados e demais propriedades de acordo com o projeto e com as condigées de aplicacao. Deve também verificar e atender a todos os requisitos da norma. O trago determinara a qualidade de acabamento e poderé minimizar a ocorréncia de outras patologias, tais como a exsudacao da dgua de amassamento. 1.5.2 Baixo teor de cimento Segundo a NBR 12655:2006, se dosado empiricamente, deve atender a um consumo minimo de 300 kg por metro ctibico de concreto para a classe C10. O cimento utilizado deve atender as normas respectivas e possuir 0 selo de qualidade da Associagéo Brasileira de Cimento Portland — ABCP. 1.5.3 Areia contaminada com matéria organica A NBR 7211:2005 determina os limites maximos aceitaveis de substancias nocivas, como, por exemplo, 3% de torrées de argila, 3% de materiais finos e 10% de impurezas organicas para agregados mitidos (areia).. 1.5.4 Excesso de agua de amassamento De acordo com a NBR 6118:2003, a relacdo dgua/cimento em massa deve ser de 0,65, no maximo, 0 que equivale dizer que para um saco de cimento a maxima quantidade de agua deve ser de 32 litros, levando-se em conta a melhor condicéo de agressividade na qual o concreto ficara exposto, 1.5.5 Falta de cura A NBR 14931:2003 alerta para os cuidados com a retirada de formas e cura do concreto enquanto nao atingir 0 endurecimento satisfatorio - para evitar a perda de agua de exsudacaéo e assegurar uma superficie com resisténcia adequada - e aponta que elementos estruturais de superficie devem ser curados até que atinjam resisténcia caracteristica 4 compressao de no minimo 15 MPa. 1.5.6 Aplicagao de concreto vencido A NBR 7212:1984 fixa que o tempo para aplicagéo do concreto dosado em central deve ser de, no maximo, 150 minutos ou 2h30, salvo condic&es especiais, tais como uso de aditivos retardadores, refrigeracdo e outras, em funcao das quais os prazos de transporte e descarga do concreto podem ser alterados. 1.5.7 Agua de amassamento contaminada A NM 137:97 especifica os critérios minimos de qualidade da agua de amassamento do concreto e argamassas — entre esses critérios, 0 pH deve estar compreendido entre 5,5 9, e 0 teor de residuos sdlidos de, no maximo, 5 000 x 10% g/cm3. 1.6 Ensaios destrutivos e nao destrutivos Muitas vezes, além da andlise visual, faz-se necessdria a realizacéo de ensaios destinados a fornecer informagées relacionadas as condigdes de resisténcia e ruptura de componentes da estrutura vistoriada, além de maior conhecimento sobre o solo de fundacao. A decisdo da realizagéo ou nao de ensaios fica a cargo do engenheiro responsavel pela elaboragao do laudo pericial. Os ensaios mais conhecidos nas estruturas de concreto e alvenaria sdo os seguintes: a) Nao destrutivos: « esclerometria; * carbonatacao; * controle de fissuras com selos de gesso au vidros; ultrassonografia; * gamagrafia; * prova de carga; e * medigdes de deformacées e recalques. b) Destrutivos: resisténcia 4 compressao axial em testemunhos retirados da estrutura; resisténcia a tracéo em testemunhos retirados da estrutura; * mddulo de deformacao do concreto e de argamassas; reconstituicao do trago de concreto e de argamassa; * massa especifica, permeabilidade e absorcao de agua; « teor de doretos; « determinacao do escoamento a tracéo em amostras de armadura retiradas da estrutura; « determinacéo do potencial de corroséo de amostras de armadura retiradas da estrutura; resisténcia a compressao de tijolos e blocos individuais; e resisténcia 4 compressdo de prismas de tijolos e blocos. 1.7 Fissuras nas estruturas de concreto As fissuras sao fendmenos prdprios e inevitaveis do concreto armado e que podem se manifestar em cada uma das trés fases de sua vida: « fase plastica; * fase de endurecimento; e * fase de concreto endurecido. 1.7.1 Fissuras causadas por recalques das fundagées De forma geral, os recalques nos pilares \geram fissuras de abertura variavel nas vigas ligadas a eles, sendo estas aberturas maiores na parte superior das vigas. As fissuras decorrentes dos recalques \dependem da magnitude destes. 1.7.2 Fissuras causadas por corrosdo da armadura fy ) ‘As fissuras causadas pela corrosdo da armadura tendem a aparecer ao longo das barras em processo de oxidacao. 1.7.3 Fissuras devidas as cargas estruturais a) Fissuras causadas por esforco de tracéo — \ i ‘As fissuras causadas por esforgos de tracdo ‘sdo, em geral, ortogonais a diregao do ‘esforgo e atravessam toda a secdo. O material conareto é muito suscetivel a esse ‘tipo de fissura, pois a resisténcia a tracao \deste material 6 muito pequena. b) Fissuras causadas por esforco de compressao ©) Fissuras causadas por esforco de flexéio | 7S d) Fissuras causadas por esforco cortante L \] 1.8 Fissuras nas paredes de alvenaria 1.8.1 Fissuras verticais a) Fissura vertical — carga vertical ‘As fissuras Causadas por esforgos de icompreensdo sao, em geral, paralelas a direcéo do esforgo, Quando o concreto é muito heterogéneo, as fissuras podem cortar-se segundo angulos agudos, As fissuras devidas ao esforco de compreensdo se fazem visiveis com esforcos inferiores a0 ide ruptura, e aumentam de forma continua. Elas comegam no bordo tracionado das pecas e avancam em direcao a linha neutra. Este tipo de fissura tem abertura variavel: ‘sao mais abertas no bordo tracionado da 'segdo e vao diminuindo de abertura a medida que chegam perto da linha neutra. ‘As fissuras causadas por esforgo cortante 'sdo, em geral, inclinadas (entre 30 e 45, ‘aproximadamente), atravessam toda a pega, e sao localizadas préximas aos apoios \dos elementos (regides de forga cortante grande). U Hy Fissuras verticais em paredes de alvenarias, por causa da atuacdo de carga vertical luniformemente distribuida, b) Fissura vertical — dilatagdo térmica Fissuras verticais em alvenarias junto a \cobertura, provocadas pela dilatagao ‘térmica da laje de cobertura que traciona as paredes. C) Fissura vertical — movimentagdes térmicas Fissuras em muros de alvenaria causadas por movimentacGes térmicas. 1.8.2 Fissuras horizontais a) Fissura horizontal - movimentacao higroscépica b) Fissura horizontal — movimentacéo térmica C) Fissura horizontal — retragéo Fissura horizontal causada por movimentacdo higroscépica, geralmente nos ‘trechos mais submetidos a agaéo da umidade (as fiadas mais imidas apresentam maior expansdo em relagao as demais fiadas). Fissuras horizontais de cisalhamento, icausadas pela movimentacao térmica da laje de cobertura; as fissuras sao mais acentuadas no topo das partes. 1.8.3 Fissuras indinadas Fissuras provocadas pela retracao por secagem de lajes de concreto armado, em igeral nas paredes externas enfraquecidas por aberturas de janelas e portas. a) Fissuras inclinadas por recalque diferencial Fissuras inclinadas causadas por recalques diferenciais nas fundacdes (heterogeneidade do solo). b) Fissuras em paredes — carregamento desbalanceado Paredes com carregamentos desbalanceados| sobre sapatas corridas: fissuras de \cisalhamento no trecho mais carregado e fissuras de flexao sob as aberturas. ) Fissuras em paredes — carregamento uniforme Hethedddbdds d) Fissuras por viga em balango A SAA al Configuracao tipica de fissuras em paredes jcom aberturas de portas e janelas, submetidas a carga uniformemente \distribuida e com inexisténcia ou deficiéncias| ide vergas e contravergas. Fissuras inclinadas nas alvenarias provocadas pela flexao de vigas em balango. e) Fissuras por deformacdo de lajes e vigas Fissuramento em painéis de alvenaria \causado pela excessiva deformacao de lajes le vigas. A configuracéo varia em fungao dos \valores das flechas desenvolvidas. f) Fissuras por carga concentrada ssmconents Fissuras inclinadas provocadas pela aco de \cargas concentradas diretamente sobre a alvenaria. 1.9 Questées resolvidas de concursos 1) (CESPE/DFP/PERITO/ENGENHARIA CIVIL/2004) Sabe-se que os edificios estao sujeitos a patologias de origens diversas, como fissuras, trincas, eflorescéncias, entre outras. A identificagéo, os métodos de andlise e as solugdes para cada tipo de problema sdo, em geral, diferentes. A respeito de patologias das obras de engenharia civil, julque os itens a seguir. (A) A exsudacao pode ser identificada por meio do aparecimento de aqua na superficie logo apés a pega do concreto. (B) A deformacao da argamassa de assentamento em paredes submetidas a uma carga vertical uniformemente distribuida é uma das possiveis causas de fissuras verticais em alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto. (C) A infiltragdo de agua por condensacgao ocorre devido a absorgéo de umidade em fase gasosa. Gabarito comentado (A) Errado. A exsudacao ocorre antes da pega do concreto. Segregacao e exsudacdo: a segregacdo é definida como a separagao dos componentes do concreto fresco de tal forma que sua distribuicéo néo seja mais uniforme. Existem, basicamente, duas formas de segregacao. A primeira, tipica de concretos pobres e secos, ocorre quando os gréos maiores do agregado tendem a separar-se dos demais durante as operagées de langamento com energia demasiada ou vibragao excessiva. A segunda, comum nas misturas muito plasticas, manifesta-se pela nitida separacéo da pasta da mistura, sendo também conhecida por exsudacéo. A exsudacdo é uma forma particular de segregacao, em que a agua da mistura tende a elevar-se a superficie do concreto recentemente langado. Esse fendmeno é provocado pela impossibilidade de os constituintes sdlidos fixarem toda a dgua da mistura e depende, em grande escala, das propriedades do cimento. Como resultado da exsudacéo, tem-se o aparecimento de dgua na superficie do concreto apds este ter sido langado e adensado, além do surgimento e da manifestagéo de intimeros outros problemas como o enfraquecimento da aderéncia pasta/agregado (zona de transicéo), aumento da permeabilidade do concreto e, se a agua for impedida de evaporar, pela camada que Ihe é superposta, poderd resultar em uma camada de concreto fraca, porosa e de pouca durabilidade. A segregacdo e a exsudacéo podem ser reduzidas ou eliminadas por meio de um controle maior da dosagem e de métodos de langamento e adensamento do concreto mais eficientes e bem executados, Tempo de pega: nos manuais de concreto é muito comum a referéncia aostem-pos de pega e em todo ensaio de cimento chega a ser quase obrigatéria a determina-cdo destes tempos. A norma brasileira NBR NM 65:2003 — Cimento Portland — Determinagaéo do tempo de pega, utiliza a pasta de consisténcia normal (NM 43:2002) e 0 aparelho de Vicat. Também define no item 3.1 0 conceito de tempo de inicio de pega: “E, em condigées de ensaio normalizadas, o intervalo de tempo transcorrido desde a adicdo de Agua ao cimento até o momento em que a aguiha de Vicat correspondente penetra na pasta até uma distancia de (4 + 1) mm da placa base”. Ja para o fim de pega, 0 item 3.2 define que este tempo ocorre quando a agulha estabiliza a 0,5 mm na pasta. Na pratica, os tempos de pega referem-se as etapas do processo de endurecimento, solidificagdo ou enrijecimento do cimento e, em consequéncia, do concreto. (B) Correto. A figura a seguir mostra a fissuragéo causada pelo carregamento distribuido. TT Ty TOT Ht q Fissuras verticais em paredes de alvenaria, i } por causa da atuacdo de carga vertical | | uniformemente distribuida. ) \ \ (C) Correto. A infiltragio de agua por condensaco ocorre por causa da absorcao de umidade em fase gasosa. 2) (CESPE/DFP/PERITO/ENGENHARIA CIVIL/2004) Sabe-se que edificios estao sujeitos a patologias de origens diversas, como fissuras, trincas e eflorescéncias. A identificagdo, os métodos de analise e as solugdes para cada tipo de problema sao, em geral, diferentes. No que refere a esse assunto, julgue os itens a seguir. (A) A desagregacao do concreto é caracterizada pela ruptura do mesmo. (B) Um dos principais métodos de ensaio destrutivo em concreto armado fundamenta-se no uso de esderdmetros. (C) A ocratizacéo é um sistema de fechamento de trincas executado por meio de grampos, Gabarito comentado (A) Correto. Ha a ruptura do concreto. Desagregacao: é a deterioracio, por separacao de partes do concreto, provocada, em geral, pela expansao por causa da oxidacao ou dilatacdo das armaduras, e também pelo aumento de volume do concreto quando este absorve agua. Pode ocorrer também por causa das movimentagées estruturais e choques. (B) Errado. A esclerometria é um ensaio nao destrutivo. (C) Errado. Ocratizacao é um sistema de fechamento de trincas que envolve a aplicagao de substancias que reagem com o cimento formando compostos mais estaveis ao ataque e que obstruem as poros. Outros métodos que empregam o mesmo principio: fluatagéo e silicatizagéo 3) (CESPE/DFP/PERITO/ENGENHARIA CIVIL/2004 — REGIONAL) Quando ocorre 0 ingresso de dgua, pura ou com ions _agressivos, oxigénio e didxido de carbono no concreto, a durabilidade desse material é extremamente afetada. Com relacao a alguns mecanismos de transporte desses fluidos no concreto (permeabilidade), julgue o item subsequente. (A) A permeabilidade do concreto é reduzida quando se aumenta o tempo de hidratacao do material ou a relagéo agua/cimento. Gabarito comentado (A) Errado. A permeabilidade do concreto é reduzida com a diminuicéo do fator agua/cimento. Os fons cloreto podem ser transportados no conareto por meio dos seguintes mecanismos: absorc¢ao capilar, difusdo, permeabilidade ou migracao iénica por agéo de um campo elétrico. A cada um dos mecanismos e agGes corresponde uma dimensao e distribuicaéo ideal das poros nos quais a penetragdo é maior. Algumas das varidveis mais importantes que influenciam na penetracao e difusdo de ions cloreto no concreto séo relacionadas a seguir: a relacdo agua/cimento; a porosidade; a permeabilidade; a resisténcia a compressao axial; a finura, a natureza e a dosagem de cimento ou adigdes minerais; € «a duracdo e as condicdes de cura. Permeabilidade é entendida como a propriedade que governa a velocidade do fluxo de um fluido para dentro de um material sdlido. Os coeficientes de permeabilidade do concreto para gases e vapor d’4gua so muito menores que para a agua. Normalmente, a medida desse coeficiente para concreto é feito com aqua. A pemmeabilidade do concreto depende do tamanho, distribuigéo e continuidade dos poros da pasta, da permeabilidade dos agregados, da zona de transigéo pasta/agregado, do lancamento, adensamento e cura. Os tipos de poros que podem existir no concreto sao poros na pasta (de gel e capilar) e os poros de ar. Os poros de ar, que em geral sao grandes, devem-se a defeitos de execugéo do concreto. A permeabilidade 6 mais afetada pelo ntimero e dimensdes dos poros grandes que pelos poros pequenos. Pesquisas comprovam que o decréscimo do fator agua/cimento implica a diminuicaéo da permeabilidade e porosidade do concreto, 4) (ESAF/CGU/AFC/2008) Na execugéo de reforgo do embogo para evitar a ocorréncia de fissuras, realizado em geral no primeiro pavimento sobre pilotis e nos tltimos pavimentos, podem ser utilizados reforgos do tipo argamassa armada e reforco do tipo ponte de transmissdo. E incorreto afirmar que: (A) O reforco tipo ponte de transmissao necessita de espessura maior que o reforgo tipo argamassa armada. (B) No reforgo tipo ponte de transmissao, a tela é fixada pelas bordas. (C) No reforco tipo argamassa armada, a tela de ago galvanizado é colocada apds chapar a primeira camada de argamassa. (D) No reforco tipo ponte de transmissdo, utiliza-se fita de polietileno na interface concreto/alvenaria. (E) Na regiao da lamina plastica, a tela néo deve entrar em contato com o revestimento. Gabarito comentado Resposta: letra A. O reforgo tipo ponte de transmissdo nao necessita de espessura maior que 0 reforco tipo argamassa armada. As demais opcées (b, c, d, e) estao corretas. As telas de reforco sao exigidas quando a espessura do revestimento de argamassa é igual ou superior a 5 cm, Neste caso, 0 mercado disponibiliza telas em diversos materiais, tais como: telas metalicas eletrossoldadas com malha 25 x 25 mm, telas metalicas entrelacadas do tipo “viveiro”, telas plasticas e telas de fibra de vidro revestidas de poliéster, com malha 9 x 9mm. Qualquer que seja a opgéo, existem duas formas de colocé-las no revestimento: * junto ao chapisco, sendo por isso classificada como ponte de transmissao. no meio da argamassa, compondo assim uma argamassa armada. 1) Ponte de transmissdo. Este tipo de reforgo requer espessura minima do embogo de 20 mm. Depois de executado o chapisco, é necessdrio fixar a tela de aco galvanizado na superfide de concreto ou de alvenaria. A tela deve ser fixada pelas bordas, por meio de fixadores como grampos, chumbadores ou pinos. Aplique a argamassa sobre o conjunto, fazendo com que a tela fique imersa no revestimento. Fixagao do pino com pistola. Tada fixada. 2) Argamassa armada Este tipo de reforco necessita espessura minima do embogo de 30 mm, com tela centralizada em relagéo a espessura. Geralmente, é utilizada em regides onde a argamassa tem espessuras acima de 50 mm. Para inserir o reforco de tela, 6 necessario executar uma camada inicial com cerca de 15 mm a 25 mm de espessura, comprimindo e alisando a argamassa. Depois, coloque a tela de aco galvanizado e comprima-a fortemente contra a argamassa. Na sequéncia, execute o restante da camada de argamassa (de 15 mm a 25 mm) e prossiga com 0 acabamento. Atela deve estar localizada no meio da camada do revestimento de argamassa. Aplicacéo da 2a camada Nivelamento da 2a Vista de tela posicionada camada de argamassa. dentro da argamassa, (UNIVERSA/PODF/PERITO/ENGENHARIA/2012) Texto para responder as questies 5 e 6. As fissuras podem ser consideradas como a manifestacéo patolégica caracteristica das estruturas de concreto, sendo mesmo o dano de ocorréncia mais comum e aquele que, @ par das deformagdes muito acentuadas, mais chama a atencdo de leigos, proprietarios e usuarios af incluidos, para o fato de que algo de anormal esta acontecendo. E interessante observar que, no entanto, a caracterizacdo da fissuracaio como deficiéncia estrutural dependeré sempre da origem, da intensidade e da magnitude do quadro de fissuragéo existente, posto que o concreto, por ser material com baixa resisténcia a tracao, fissurara por natureza, sempre que as tensées trativas, que podem ser instaladas pelos mais diversos motivos, superarem a sua resisténcia Ultima a tracao. Ao se analisar uma estrutura de concreto que esteja fissurada, os primeiros passos a serem dados consistem na elaboragéo do mapeamento das fissuras e em sua Classificagdo, que vem a ser a definicéo da atividade ou nado delas (uma fissura é dita ativa, ou viva, quando a causa responsavel por sua geracaéo ainda atua sobre a estrutura; e sera inativa, ou estdvel, sempre que sua causa se tenha feito sentir durante certo tempo e, a partir de entdo, tenha deixado de existir). Classificadas as fissuras e de posse do mapeamento, pode-se dar inicio ao processo de determinacéo de suas causas, de forma a poderem ser estabelecidas as metodologias e poder se proceder aos trabalhos de recuperacao ou de reforgo, como a situacao o exigir. Vicente Custédio Moreira de Souza e Thomaz Ripper. Patologia: recuperacao e reforco de estruturas de concreto. Sao Paulo: PINI, p. 58-9 (com adaptacGes). 5) A viga de concreto armado a sequir apresenta fissuracéo com disposicdo helicoidal. O tipo de solicitagéo que provoca fissuras com esse mapeamento é ofa) (A) flexao. (B) puncionamento. (C) esforco cortante. (D) torcéo. (E) compressao. Gabarito comentado Resposta: letra D. Numa viga de concreto armado, submetida a um momento de torgéo, as trajetdrias das tensdes principais desenvolvem-se segundo uma curvatura helicoidal em torno da viga. Tensdes devidas a torcéo: a) tensdes de cisalhamento; 'b) tenses prindipais de tracao e icompressao; € \c) trajetéria helicoidal das fissuras. De acordo com a NBR 6118:2003, as aberturas das fissuras néo devem ultrapassar: 0,2 mm para pegas expostas em meio agressivo muito forte (industrial e respingos de maré); «0,3 mm para pecas expostas a meio agressivo maderado e forte (urbano, marinho e industrial); «0,4 mm para pecas expostas em meio agressivo fraco (rural e submerso). 6) A figura ao lado representa a face inferior de uma laje de concreto armado, apoiada nos quatro bordos sobre vigas. De acordo com a conformacéo das fissuras, assinale a alternativa que apresenta a razao para a fissuragao. (A) Esmagamento do concreto, em fungéo da reduzida espessura da laje para combater os momentos negativos. (B) Retracao do concreto. (C) Armadura insuficiente para combater os momentos positivos. (D) Armadura insuficiente para combater os momentos volventes. (E) Puncionamento proximo aos apoios. Gabarito comentado Resposta: letra A. A disposigao das fissuras indica que houve um esmagamento do concreto em razéo do carregamento da laje apoiada nos quatro bordos sobre as vigas. 7) (UNIVERSA/PCDF/PERITO/ENGENHARIA/2012) A figura representa uma parede de alvenaria externa de uma resisténcia térrea que apresentou fissuragdo horizontal em sua base. Assinale a altemativa que apresenta 0 provavel principal motivo da aparigao das fissuras. pees (A) Atuacéo de cargas concentradas no topo da alvenaria. (B) As fiadas inferiores encontram-se mais sujeitas 4 umidade, apresentando uma expanséo maior do que a das fiadas superiores (movimentacdes higroscdpicas diferenciadas). (C) A deformacao da viga baldrame é inferior a deformacao da viga superior. (D) As deformagées da viga baldrame e da viga superior sdo aproximadamente iguais. (E) Auséncia de vergas nas aberturas de vaos das paredes adjacentes. Gabarito comentado Resposta: letra B. A fissura horizontal ocorre em razéo das movimentagdes higroscépicas. Os principais tipos e causas provaveis de fissuras nas alvenarias estao listadas na tabela a sequir: Fissura vertical Fissura horizontal (ete bie) Deformagdo da argameassa de assentamento em paredes submetidas a uma caga vertical uniformemente distribuida. Movimentagao higrasadpica da alvenaria, prindipalmente no encontro de alvenarias (Cantos) e em alvenarias extensas. Retrago por secagem da alvenaria, principalmente em pontos de concentracio de tens&es ou segco enfraquecida, Expansdo da argamassa de assentamento (interacao sulfato—cimento, hidratagao retardada da cal). |Alvenaria submetida a flexocompressao por causa de deformagies excessivas da laje. Movimentagao térmica da laje de cobertura (deficiéncia de isolamento térmico, Icom a ocotréncia de fissuras no topo da parede, decorrentes da dilatacéo da laje \de cobertura). |Expansdo da argamassa de assentamento (interagao sulfato-cimento, hidratagao retardaca da cal), Expansao da alvenaria por mavimentacao higroscdpica, em geral nas regides sujeitas a agéo constante de umidade, principalmente na base das paredes. Retragao por secagem da laje de conceto armado, que gera fissuras nas lalvenarias, principaimente nas externas enfraquecidas por vaos (janeles). Fissura inclinada Fissura na laje mista de forro da cobata Recalques diferenciais, decorrentes de falhas de projeto, ee do kno freatico, heterogeneidade do solo, influéncia de fundagoes vizinhas. ‘Atuagdo de cargas concentradas diretanente sobre a alvenaria, em razao da inexisténcia de coxins ou outros dispositivos para distribuiggo das cargas. Alvenarias com inexisténcia ou defidénda de vergas e contravergas nos vaos de portas e janelas. Carregamentos desbalanceados, prindipalmente em sapatas corridas, ou vigas baldrames excessivamente flexiveis. Movimentagdo térmica de platibanda, ocorrendo fissuras horizontais e indinadas nas extremidades da alvenaria. Movimentagao térmica, gerando fissuras no encontro dos elementos caramicos Icom as vigas pré-mokdadas.

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