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“A cultura do poder”

Resenha de O Paradoxo do Poder Americano.

De Joseph S. Nye Jr

Nye se formou na universidade de Princeton, estudou filosofia, politica e


economia na Universidade de Oxford obteve seu PhD em ciência politica pela
Universidade de Harvard. Em 2005 Nye foi considerado um dos dez estudiosos
mais influentes de relações internacionais dos Estados Unidos. Escreveu
diversas obras entre elas esta O paradoxo do poder americano a qual será
nosso objeto de resenha.

O Prof. Joseph Nye divide o seu livro em 5 capítulos

1- O Colosso americano
2- A revolução da informação
3- A Globalização
4- A Frente interna
5- A redefinição do interesse nacional.

Joseph Nye, autor do livro publicado pela Unesp em 2002, intitulado O


paradoxo do poder americano. O livro é uma tentativa de explicar o poder dos
EUA, em toda a dimensão que implica alguns conceitos explicitados abaixo.

O século XX foi marcado por guerras e por eventos com altos números de
mortos: neste século ocorreram a Guerra Fria, as duas Guerras Mundiais, as
bombas atômicas e o holocausto. Tudo isso para que fosse mantido seguro o
interesse nacional por questões políticas e econômicas. Contudo, na década
de 1970 começa a ficar visível que as populações já não aceitavam tantas
perdas justificadas pela manutenção e conquista de poder. A partir dai o apelo
dos países para métodos de conquista bélicos vem perdendo força.

Já no início da segunda década do século XXI, Vê-se claramente que para


garantir suas conquistas e interesses os governos fazem cada dia mais o uso
de uma forma de poder mais branda, teoricamente menos agressiva, porém
muito abrangente e devastadora. Joseph Nye definiu essa maneira de
execução de poder como soft power ou poder brando em oposição ao
chamado hard power ou poder bruto. O poder bruto é o poder usado nas
formas mais tradicionais como dominação militar e econômica. O brando, o
poder exercido através de instrumentos como a cultura. Os Estados Unidos
estiveram envolvidos em vários conflitos, também tomaram parte em outras
disputas na busca de seus interesses internos.

Após o fim da Guerra Fria os Estados unidos ganharam mais espaço dentro
das relações internacionais devido a suas condições econômicas e políticas.
Diversos estudos buscaram compreender como os norte-americanos
conseguiram se destacar tanto no cenário internacional.

Os conceitos de soft e hard power são usados para explicar como os Estados
Unidos constroem sua política externa afetando não somente decisões de
Estados e instituições, mas afetando o indivíduo em sua rotina. Casos como o
ataque ao World Trade Center em Nova Iorque, seguido da invasão americana
do Afeganistão em 2001, trouxeram a questão do poder americano para cerne,
tornando-se assim alvo de várias críticas. Dados que demonstraram que tanto
a invasão do Iraque quanto a do Afeganistão envolveram muitas mortes e
tortura, práticas de hard power que vem sendo cada vez mais condenadas,
deixaram clara a importância do soft power como alternativa na política
externa.

Com um olhar superficial, o soft power pode ser visto como o poder pela
cultura porém a apreensão mais a fundo desse conceito só será possível
quando trabalhados os elementos que compõe esse poder, quais são os
mecanismos que o fazem funcionar e qual o alcance dele. A cultura norte-
americana está presente em todos os países do mundo, ultrapassa barreiras
territoriais e agrada espectadores de diversas nacionalidades. O hard power
tem suas raízes em forças militares e econômicas e é a maneira de execução
de poder mais tradicional, que ameaça e induz o outro de forma direta.
Opondo-se a este, o soft power corre de modo indireto. Seduz e atrai por meio
da venda de valores do país, de ideologias, fazendo com que outros o admirem
por seu estilo de vida, produtos e cultura, conquistando mentes.

O poder exercido de forma bruta, com caráter militar, pode ser encontrado em
ações de diplomacia coercitiva, ou seja, negociações que deixam claras as
condições de ameaça ou também através de alianças militares. No campo
econômico, poder pode aparecer em sanções e subornos. Situações
emblemáticas que ilustram o uso do hard power são as invasões do
Afeganistão e do Iraque ocorridas nos anos 2001 e 2003 respectivamente.
Nestes momentos os Estados Unidos buscaram se impor e conquistar seus
objetivos através da utilização de força bélica, típica da execução de poder
duro. Por outro lado os EUA tem seu soft power presente no mundo em meios
de disseminação de informações como o cinema, a internet, as músicas, os
programas de televisão e os intercâmbios.

As guerras, os ataques armados, as imposições e ameaças estão presentes


desde os primeiros registros da história humana, e exatamente por ser
considerada uma forma mais tradicional de execução do poder, é o mais
conhecido. Por outro lado, o soft power, apesar de não ser considerado tão
tradicional, também ocorre há muito tempo. Já podia ser visto, por exemplo,
após a Guerra Franco-Purssiana, no século XIX, quando o governo francês,
havendo sido derrotado na guerra, lançou uma política de promoção de sua
língua e literatura, fazendo isso através da Aliança Francesa, para que assim
reconquistasse credibilidade, admiração e, consequentemente, cooperação
(NYE, 2002).
O controle sobre a execução do soft power foge às mãos do governo podendo
este ser posto em prática por empresas ou grupos não governamentais (NYE,
2002). O Estado como ator que executa de forma branda seu poder só terá
sucesso na obtenção de seus objetivos, caso adote uma política externa
convidativa. Um artifício fundamental no momento da construção desta política
é se apresentar favorável a valores que já são compartilhados e admirados,
como erradicação da pobreza, disseminação da democracia e promoção da
paz.

No capítulo dois, Joseph Nye Jr. Fala sobre a revolução da informação e trata
das implicações que tem sobre o poder americano. Esta revolução seria
positiva por ser relacionada aos valores americanos, mas altera e descentraliza
a estrutura da política externa norte-americana. O avanço tecnológico na área
da informação altera a natureza da estrutura dos governos e da soberania,
aumenta o papel dos indivíduos não estatais na condução de diversos temas
econômicos e sociais e aumenta a importância do soft power na política
externa (NYE, 2002). A revolução da informação tornou a política mundial mais
complexa, pois afetou as relações de poder entre os estados e favoreceu
aqueles países com maior desenvolvimento das tecnologias da informação.
Dados expostos pelo autor mostram como os Estados Unidos estão
posicionados no contexto da revolução da informação. Para determinar o
impacto da revolução da informação sobre os países, a capacidade dos
americanos, da Grã-Bretanha, da França e da Rússia na destinação desses
investimentos é muito superior às demais nações.

A informação nova está associada ao papel dos pioneiros, responsáveis pela


criação de dos sistemas de informação. Nesse campo, também, os Estados
Unidos estão entre os principais responsáveis pelo desenvolvimento de
sistemas de informação, o que assegura sua liderança e predomínio.
Nye Jr. afirma que o soft power tende a ser cada vez mais decisivo e lista três
condições para um país ser bem-sucedido na posse de soft power: "(1) são
aqueles cujas ideias dominantes e a cultura mais se aproximam das normas
globais prevalecentes (que atualmente enfatizam o liberalismo, o pluralismo e a
autonomia), (2) aqueles que mais acesso têm a múltiplos canais de
comunicação e, portanto, mais influência exercem sobre a formação das
questões e (3) aqueles os quais desempenho interno e internacional lhes
aumenta a credibilidade" ((NYE, 2002 p.123). analisando estas condições, o
autor conclui que os Estados Unidos também seriam líderes mundiais no que
diz respeito à posse de soft power.

No capítulo três, Nye Jr. Faz o uso de uma expressão que pode mostrar de
maneira simplista a condição americana na era da informação global. Ele
afirma que a globalização é "americanização", pois os EUA tomam frente na
revolução da informação e dominam o conteúdo das redes de informação
global criadas no país. Também, os Estados Unidos tem papel central em
todas as dimensões da globalização (militar, econômica, ambiental, social e
cultural). Mas, ao mesmo tempo, estão também expostos em todas essas
dimensões.

Tentando explicar esse paradoxo, Nye Jr. afirma que a globalização seria um
processo caracterizado pela formação de redes de interdependência
estabelecidas entre os países, e que variam com as possíveis dimensões da
globalização. Essas redes produzem efeitos sobre todos os países, inclusive os
Estados Unidos. A dimensão cultural contribuiria para uma compreensão mais
simplista da vulnerabilidade americana e mostraria como a globalização seria
uma "via antiparalela". A cultura popular norte-americana, ao mesmo tempo em
que influencia muitos países, não é bem acatada em outros. A globalização,
portanto não produz homogeneidade cultural, encaminhando a transformação
do mundo de acordo com características da cultura americana. Nye observa
que os imigrantes e as ideias vindas de fora são capazes de modificar essa
cultura, aumentando ainda mais a atração exercida pelos Estados Unidos.
Portanto, a globalização e a revolução da informação revelam novos limites ao
poder dos Estados Unidos ao alterar a própria essência dos estados, da
soberania e do papel do soft power.

O poder americano é ameaçado pela complexidade da distribuição do poder no


século XXI, em que temas importantes escapam ao controle dos estados. Essa
distribuição não está relacionada à aos novos poderes nacionais capazes de
desafiar os Estados Unidos, mas da evolução de novos atores e do
enfraquecimento dos estados nacionais. A influência da revolução da
informação e da globalização limitaria a capacidade do Estado em atingir as
metas internacionais que deseja. Todos os estados perderam parte do poder
para atores não estatais (como empresas e Organizações Não-
Governamentais), dotados de interesses próprios e orientados para a
realização de seus objetivos.

No quarto capítulo Joseph diz que os Estados Unidos foi o país mais poderoso
do mundo na década após a Primeira Guerra Mundial, mas devido as
preocupações internas em 1920 e ao fracasso econômico na década de 1930 ,
os EUA falharam em seu comercio e relações com outros países e devido a
isto os EUA “pagaram o preço” na segunda guerra mundial.

Critica o Congresso estadunidense por querer legislar para o mundo, citando


os embargos ao Irã e Cuba, e ressalta aspectos negativos veiculados no
exterior em relação aos EUA como a pena de morte, a falta de previdência
social, os tiroteios nas escolas e seu mercado implacável. Aspectos que, nem
de longe, arranham o poderio estadunidense.

Nye diz que, a sociedade norte-americana se encontra em um grande dilema


devido em grande parte ao modo como a mídia americana passa como deve
ser a vida do americano, se boa parte do povo acredita que o mundo “real” é
como eles veem na TV fica evidente o porquê da sociedade achar que o país
esta em apuros e alimenta o pessimismo. Faz uma critica direta ao passado
remetendo a grandes batalhas culturais sobre a imigração, escravidão, direitos
civis toda evolução que os Estados unidos já percorreram para chegar onde
estavam.

Aborda de maneira bastante explicativa a maneira como os indivíduos são


alvos de mecanismos de controle e formação ligados à comunicação, assim,
toda a sociedade é controlada e limitada por algo que está sendo exposto nas
relações rotineira, ressalta a importância de explorar o poder brando visto que
cada vez mais o uso do poder bruto tem sido alvo de criticas no contexto
internacional, de modo a diminuir a credibilidade dos Estados Unidos perante o
restante do mundo.

As questões levantadas nos capítulos anteriores demonstram a importância,


que não foi dada pela administração do presidente Bush, de definir o interesse
nacional dos Estados Unidos de uma maneira que responda às preocupações
mais amplas da ordem e da estabilidade mundiais e que vise defender os
valores humanitários e que depende dessa ordem à estabilidade. É necessário
que a política externa norte-americana reveja seu senso de prioridades e
reconheça que existe um interesse dos EUA em preservar o "bem público" de
uma ordem social e econômica internacional estável.

Nye sugere ao decorrer da obra uma revisão da politica externa americana


alimentando a ideia da utilização do poder brando com maior persistência seria
possível obter os mesmos resultados usando aspectos de atratividade cultural
de uma nação, ideais políticos e politicas publicas. Pois ao passo que suas
politicas são legítimas aos olhos das demais sociedades o poder brando
americano iria se intensificar aumentando o poder americano.

No último capítulo do livro, Nye indica o que deveria ser a estratégia central dos
EUA no século XXI: a disponibilidade dos “bens comuns internacionais” e
antecede em sua preocupação com as graves ameaças à sobrevivência e aos
interesses dos EUA representado pelos estados fracassados, que precisam de
uma maior atenção do Governo de Washington. Alarma o Governo norte-
americano para que não tente fazer tudo isoladamente, avisando de que é
perigoso ignorar as preocupações do resto do mundo. Numa comparação,
alerta para a perda de soft power por parte da União Soviética após a invasão
da Checoslováquia, em 1968, apesar do seu poderio militar e económico
continuar a aumentar. As políticas de imposição da URSS utilizando a força
militar infligiram um golpe sério na sua própria imagem e prestígio, da qual não
se recompôs.

Do mesmo modo, os Estados Unidos não podem começar guerras onde lhes
convém, sem correr o risco de alienar uma parte significativa da comunidade
internacional. Nye diz que os efeitos políticos serão em grande medida
contraproducentes.

O paradoxo do poder americano foca no aumento de desafios e explica de


maneira clara que os norte americanos devem assumir um compromisso mais
cooperativo com o resto do mundo, usando para construir sua argumentação
acontecimentos históricos como a ameaça do terrorismo. Argumenta que mais
do que nunca à medida que a tecnologia se propaga e organizações não
governamentais aumentam o seu poder a liderança norte-americana deve
encaminhar-se em conjunto com a comunidade global. Atentos sempre a
mecanismos de solução de problemas como estabilidade financeira
internacional o tráfico de drogas das mudanças climáticas ao terrorismo, o
poder militar e econômico sozinho não garante êxito e casualmente pode vir a
enfraquecer seus objetivos em vez de intensificá-los. Nye diz de maneira
bastante convincente que no novo século os Estados Unidos dependerão
menos das medidas de poder bruto e mais do poder brando.

O autor na totalidade de sua obra por meio de exemplos evidencia fatores prós
e contra as politicas norte-americanas, seguindo uma linha cronológica no
contexto dos EUA.

Possibilita o entendimento de maneira complexa a respeito da supremacia


americana de seus altos e baixos se baseando em conceitos como poder bruto,
poder brando no conceito de Balança de poder, de um contexto histórico ate o
atual dando ao leitor capacidade de analisar diversos dilemas atuais e conflitos
baseando-se na linha de pensamento do autor que sugere fortemente no
decorrer da obra a exploração do uso do Soft power como meio de “solução”
de vários problemas atuais.

Autor da resenha: Jonas Beltramelli Krasilchik

Ra:17078171

Puc Campinas 2017


Fontes

https://www.hks.harvard.edu/about/faculty-staff-directory/joseph-nye

The Paradox of American Power: Why the World’ Only Superpower Can’t Go It Alone Joseph S. Nye Jr.
OXFORD UNIVERSITY PRESS

Nye Joseph S. Paradoxo do poder americano São Paulo: Editora UNESP 2002

The means to success in world politics Soft Power: Por Joseph S. Nye

COMPREENDER OS CONFLITOS INTERNACIONAIS Joseph Nye Jr.

http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0002716207311699

Power and Interdependence in the Information Age Robert O. Keohane and Joseph S. Nye
Jr.Foreign AffairsVol. 77, No. 5 (Sep. - Oct., 1998)

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