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Tenho um sonho: Quero o fim da Imunidade

Parlamentar
Gunnar Ramos Fermino, professor universitário, mestre em Ciências da
Computação
Em 28 de setembro de 2010

Acredito que, todo cidadão de bem desse país já sentiu grande indignação
face às denuncias de falcatruas e corrupções na política nacional. Todos,
pelo menos uma vez na vida, desejaram ver na cadeia aqueles que desviam
o dinheiro do povo para contas particulares ou de grupos políticos.
Sonhamos com o dia em que, pelo menos um político corrupto, devolva,
com juros, o que foi roubado da merenda escolar, da saúde e outros.
Infelizmente, apenas sonhamos, porque no Brasil a maioria das denuncias
acabam apenas em denuncias que, com o tempo acabam esquecidas em
alguma instância de nosso burocrático sistema judiciário até que os agentes
da corrupção não mais sejam alvo da indignação popular e se tornem
novamente “ficha limpa”.

Vários são os fatores que contribuem para a perpetuação da Corrupção e da


Impunidade no meio político Brasileiro, acredito, porém, que o maior deles é
a chamada “Imunidade Parlamentar”. A Imunidade Parlamentar, segundo a
Constituição Brasileira, visa proteger o parlamentar em relação às suas
opiniões, palavras e votos proferidos em razão do exercício ou desempenho
de suas funções legislativas.

A princípio, parecem prerrogativas dignas de tão nobre função, visto que, os


legisladores representam e expressam opinião do povo que os elegeram.
Todavia, o que era para o bem do povo, para proteger a opinião, palavras e
votos, de nossos representantes, transformou-se em escudo e blindagem
para políticos corruptos e mal intencionados. O problema está no fato de
que, após diplomado o parlamentar não pode mais ser julgado pela justiça
comum, quer por crimes morais e/ou materiais cometidos antes ou depois
da diplomação, sendo submetidos a julgamento apenas pelo Supremo
Tribunal Federal - STF, para Deputados Federais e Senadores, ou pelos
Tribunais de Justiça estaduais - TJ, para vereadores e deputados estaduais,
conforme expresso no parágrafo primeiro do Artigo 53 da Constituição
Federal.

A imunidade parlamentar em seu princípio básico, não é má, como visto


acima, todavia essa prerrogativa do cargo tem garantido direito a foro
privilegiado, para casos em que parlamentares, e outros beneficiados pela
imunidade, que tenham cometido crimes comuns, como roubo, desvios de
verbas dentre outros. O problema, na verdade, não é o foro privilegiado,
mas sim no fato de que os tribunais que julgam os detentores de imunidade
têm demonstrado pouca eficácia e eficiência na investigação, julgamento e
condenação das denuncias de corrupção e crimes cometidos por
parlamentares.
Gostaria de deixar claro que, acredito na justiça, na necessidade e utilidade
de nossa Suprema Corte, todavia, eu particularmente, e acredito que
milhares de brasileiros também, não concordam com a forma com que são
escolhidos os membros dos nossos tribunais superiores. O fato é que, tanto
ministros do STF, quanto Desembargadores dos Tribunais de Justiça são
nomeados diretamente pelo presidente da República e Governadores, após
aprovado por Senadores e deputados estaduais ou federais. Vale comentar
ainda que os conselheiros dos Tribunais de Contas, que julgam as contas de
municípios, estados e do governo federal, também são compostos por
conselheiros indicados por governadores e pelo presidente da republica.
Agora julguem cada cidadão brasileiro, parece justo que senadores e
deputados escolham ou indiquem quem os julgarão em possíveis processos
criminais ou civis?

É importante ressaltar que, desde promulgação da Constituição Brasileira


em 1989 o Supremo Tribunal Federal detêm a façanha de ter conseguido
condenar apenas dois parlamentares em toda a sua história recente. Para
os que não tomaram conhecimento dos fatos segue uma rápida descrição:
no dia 13 de maio de 2010 o deputado federal Zé Gerardo (PMDB-CE) foi
condenado a dois anos e dois meses de detenção por crime de
responsabilidade, que foi substituída pelo pagamento de 50 salários
mínimos e prestação de serviços comunitários durante todo o período que
ficaria preso. A segunda condenação é inédita, é histórica e ocorreu no dia
27 de Setembro de 2010, em que o deputado federal José Fuscaldi Cesílio
(PTB-GO), conhecido como Tatico, foi condenado a sete anos de prisão, em
regime semi-aberto, por sonegação e apropriação indébita de contribuição
previdenciária dos funcionários de um curtume. Demorou, mas 2010 foi o
ano histórico para a nossa Suprema Corte.

Há centenas de casos intrigantes devido à prerrogativa da imunidade


parlamentar, mas nenhum deles é tão intrigante quanto o caso do delegado
Álvaro Lins, ex-chefe de Polícia Civil, eleito deputado estadual pelo estado
do Rio de Janeiro e foi acusado no dia 15 de dezembro de 2006 de pertencer
à máfia dos caça-níqueis, e de estar envolvido com contrabando de
equipamentos eletrônicos, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro
para campanha eleitoral. No mesmo dia a Polícia Federal pediu a prisão de
Lins, mas este se apresentou à justiça federal após ter sido diplomado
deputado e, por isso, já havia conseguido a imunidade parlamentar, logo
não mais poderia ser investigado, condenado ou preso pela justiça comum,
pois já havia conquistado direito a foro privilegiado.

É importante destacar aqui que, no Brasil a justiça Federal, por meio de


seus juízes, promotores e delegados tem feito investigações espetaculares e
mostrado em vídeos e áudios para a população brasileira os bastidores da
corrupção e como nosso dinheiro vai para o bolso, meias e cuecas de
políticos corruptos. Ocorre que essas entidades têm sofrido perseguição por
parte dos “blindados” que tentam converter o criminoso em vítima e os
membros da justiça federal em criminosos, apenas porque filmou o
momento da consumação do ato de corrupção sem mandado judicial, ou
porque, através de escutas, gravaram o momento em que grandalhões
“blindados” tramavam seus crimes. Vale ressaltar que, são muitos os
contrários ao poder de investigação do Ministério Público. Urge a
necessidade de nos cidadãos comuns sair em defensa dos membros da
justiça federal ou estadual que se mostrarem imparciais e eficientes na
investigação e na aplicação do direito e da justiça.

Diante do cenário atual, cabe a cada cidadão de bem cobrar os


parlamentares que elegemos ou por meio de projetos de iniciativas
populares, que ministros, desembargadores e conselheiros dos tribunais de
contas sejam escolhidos utilizando como critério principal “o mérito”, ou
seja, por meio de concursos públicos, sem a interferência do parlamento ou
do executivo. E quem sabe em um futuro não muito distante, ainda nessa
geração, possamos esquecer que um dia nesse país aquele que julga foi
escolhido e nomeado por quem poderá vir a ser o julgado.

Vivemos em uma bela democracia, mas queremos mais, queremos uma


pátria que ofereça justiça aos seus filhos. Para isso muitas leis precisam
mudar no Brasil, leis da saúde, educação, segurança, dentre outras. Mas
acreditem se conseguirmos acabar com a “imunidade parlamentar” para
crimes comuns, de forma a que parlamentares, ministros e outros
detentores da imunidade possam ser julgados e investigados como qualquer
cidadão comum, problemas em diversas áreas também acabariam, pois
parlamentares corruptos não mais teriam a segurança de contar com a
blindagem garantida por essa lei e nem com a baixa eficiência de nossos
tribunais superiores.

É possível mudar essa realidade, estamos na eminência do maior pleito


eleitoral da história do Brasil, escolha bem seus candidatos, principalmente
seus deputados e senadores, pois são eles quem propõe e aprovam leis
que podem beneficiar ou prejudicar a população e são eles que fiscalizam as
ações do poder executivo. Nessa eleição não venda seu voto, pergunte ou
procure saber se seu futuro representante na Câmara dos Deputados ou no
Senado Federal é a favor ou contra imunidade parlamentar, verifique o seu
passado e vote contra a corrupção, vote contra a impunidade, vote pelo fim
da imunidade parlamentar.

“O segredo da liberdade está em não se sujeitar à tirania ou a qualquer ameaça ao nosso


estilo livre de viver” (Gunnar Ramos Fermino)

“Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada” (filme: Lagrimas do Sol)

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