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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Pesquisa, Organização e Redação: Dagoberto A F Oliveira


Coordenação Técnica: Prof. Rianei Varjão
Participação Especial: Prof. Nadja Mendonça

ANATOMIA DA DANÇA DE

SALÃO1

1 Atualizado em 28/11/2017
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

SUMÁRIO

PREFÁCIO

AGRADECIMENTOS

INTRODUÇÃO

PARTE l - CONCEITOS GERAIS

CAPÍTULO 1 - CONCEITOS BIODINÂMICOS APLICADOS À DANÇA DE SALÃO


EIXOS ANATÔMICOS DE REFERÊNCIA

Eixo ântero-posterior
Eixo transversal
Eixo longitudinal

PLANOS ANATÔMICOS DE REFERÊNCIA

Plano Sagital
Plano Coronal

CENTRO DE GRAVIDADE E LINHA DE GRAVIDADE NO CORPO HUMANO

Centro de gravidade
Linha de gravidade

BASE DE SUPORTE NO CORPO HUMANO

EQUILÍBRIO

Equilíbrio estável
Equilíbrio instável ou desequilíbrio

FORMAS OU TIPOS DE MOVIMENTO

Movimento linear (movimento de translação)


Retilíneo
Curvilíneo
Movimento angular (movimento de rotação)
Movimento misto ou movimento geral

CAPÍTULO 2 - POSICIONAMENTOS E CONEXÕES

Posição Relativa do Par


Posição Frontal
Positiva
Negativa
Posição Dorsal
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Posição posterior
Posição perpendicular ou oblíqua
Posição simétrica
Positiva
Negativa
Posição fechada
Posição aberta

Conexão do Par
Conexão manual
Conexão paralela
Conexão cruzada

Conexão no abraço
Na posição frontal
Conexão aberta
Conexão fechada
Abraço latino
Abraço em V
Na posição simétrica
Relação positiva
Relação negativa
Conexão visual
Conexão auditiva

Posturas de Transição
Tesoura
Tesoura Invertida
Paralela ou abertura Lateral
Paralela cerrada ou fechada
Cruzada
Posição dos Pés
En dedans ou aduzidos
En dehors ou abduzidos

Relação Dinâmica de Pernas


Relação Paralela
Relação Cruzada

CAPÍTULO 3 - CONDUÇÃO

Resposta por Reação

Resposta por Indução

Resposta por Dedução

Transferência de peso e equilíbrio

CAPÍTULO 4 - MÉTRICA
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Compasso

Ritmo

CAPÍTULO 5 - CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOB O PONTO DE VISTA


CINEMÁTICO

Quanto à Mobilidade
Estacionários
Progressivos

Quanto à Direção
Movimento linear no eixo ântero-posterior
Movimento linear no eixo transversal
Movimento em diagonal e oblíquo
Movimento angular
Movimento misto

Quanto à Composição
Simples
Composto

Quanto às Causas
Ativo
Passivo

PARTE II - MOVIMENTOS BINÁRIOS

CAPÍTULO 6 - MOVIMENTOS BINÁRIOS

Balanço Lateral
Balanço Frente/Atrás
Plano de aula
Preparações
Saída ao Lado e Retorno

PARTE III - PASSOS BÁSICOS ESTACIONÁRIOS

CAPÍTULO 7 - PASSOS BÁSICOS ESTACIONÁRIOS

Básico Lateral ou Chassé


Básico Frente/Atrás
Cruzado

PARTE IV - PASSOS BÁSICOS PROGRESSIVOS

CAPÍTULO 8 - PASSOS BÁSICOS PROGRESSIVOS

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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Caminhada
Trocadilho
Leque

PARTE V - MOVIMENTOS ANGULARES

CAPÍTULO 9 - GIROS

Esse ou Oito
Giro Marcado
Torção
Giro em Debulê

PARTE VI - MOVIMENTOS COMPOSTOS

CAPÍTULO 10 - PASSOS COMPOSTOS COM GIROS

Cruzado com PVV


Trocadilho Composto em Contratempo
Giro por Dentro
Giro por Fora
Giro em Diagonal

CAPÍTULO 11 - TRANSPORTES

CAPÍTULO 12 - PLATAFORMAS

CAPÍTULO 13 - OUTROS MOVIMENTOS COMPOSTOS USUAIS


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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PREFÁCIO

Já decorreu um período razoável desde quando tomamos a iniciativa de desenvolver um


material didático que fosse útil para os amantes da dança de salão. Para ser mais
verdadeiro, tratou-se de uma necessidade pessoal, pois iniciei tardiamente o aprendizado
formal da dança de salão, e sentia a necessidade de entender os movimentos para
melhor assimilá-los.

Após tomar aulas com uma meia dúzia de professores diferentes, optei por preferência,
aliado à conveniência, em concentrar meu treinamento com o Prof. Rianei Varjão em suas
aulas coletivas. Decidi então envidar meus esforços para recuperar o tempo perdido,
adquirindo a coleção completa de vídeos do Prof. José Carlos Valverde no site
dancemais.com.br, e propor ao Prof. Rianei tomar aulas particulares individuais, adotando
como padrão os vídeos adquiridos, vez que isso me proporcionaria revisar livremente as
aulas ministradas. Diria que por um golpe de sorte e coincidência, a sua aluna Nadja
Mendonça estava também iniciando suas aulas particulares, e aceitou, por gentileza e
com extrema boa vontade, compartilhar suas aulas comigo, apesar de encontrar-se
àquela altura em um nível bem superior de aprendizado.

Apesar de já ter iniciado minhas incursões na compreensão dos movimentos da dança de


salão, tudo mudou a partir de um desafio lançado pelo Prof. Rianei em uma de suas aulas
coletivas: desdobrar os movimentos de uma determinada sequência por ele ensaiada na
aula.

Para enfrentar o desafio, recorri aos vídeos já citados, às aulas particulares referidas às
aulas coletivas e participação em congressos e workshops. As aulas particulares
passaram a se constituir um verdadeiro laboratório, onde um debate intenso entre os três
participantes foram abrindo os horizontes para a evolução deste trabalho. A colaboração
intensa e interesse ímpar do Prof. Rianei Varjão foi um diferencial para o nosso progresso
que, diga-se de passagem, não se deu de forma linear, mas com altos e baixos como uma
aventura desafiadora em terreno pantanoso e desconhecido.

.........

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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

INTRODUÇÃO

Anatomia2
Este ensaio faz uma análise minuciosa dos movimentos básicos da Dança de Salão,
utilizando como paradigma o Bolero. Serão demonstrados os seis passos básicos e as
quatro modalidades de giros que, convenientemente combinados, permitem a
estruturação de passos, não só do Bolero como de outros ritmos, feitas as devidas
adequações. Esses seis passos estão na categoria de passos estruturantes, significando
que, utilizados isoladamente ou combinados, compõem o repertório predominante das
danças de salão.

O foco principal deste ensaio é demonstrar como esses passos são construídos,
permitindo ao praticante fazer as suas próprias composições e possibilitar o improviso.
Incluímos também alguns movimentos compostos que se repetem com certa frequência
nas sequências do Bolero, que podem ser executados isoladamente ou como parte de
uma composição mais complexa.

O método predominante adotado é desdobrar cada passo em suas unidades primárias


fundamentais e ir aumentando paulatinamente a sua complexidade. Estão organizados
em rotinas, utilizando uma linguagem direta e resumida, visando facilitar o entendimento.
Pretende-se com esse modelo mostrar as estruturas fundamentais, mas não dispensa a
orientação de um professor.

Enfatizamos fundamentalmente o aprendizado dos movimentos primários que compõem


os seis passos estruturantes, e quatro categorias de giros. Para facilitar o entendimento,
classificamos posições estáticas e dinâmica dos movimentos, dedicando a primeira parte
destes escritos nessas classificações.

Na apresentação das rotinas dos movimentos, sinalizamos ao leitor que esquemas


anteriores estão sendo utilizados nessas construções, possibilitando um acesso rápido
para esclarecimento de eventuais dúvidas. Há também uma preocupação em usar um
vocabulário técnico e formal, possibilitando a visualização do estudante individualmente
ou ser utilizado como instrumento de orientação em aulas práticas.

Como não encontrei publicações sobre o tema, na forma pretendida, construí a estrutura
aqui proposta mediante observações sistemáticas de vídeos, aulas práticas e casais em
bailes. Agreguei a isso o pedido de sugestões a colegas de dança e alguns professores
dentre os quais destaco ... Em síntese, este trabalho emerge de pesquisa sistemática
utilizando os meios e as fontes a que tive acesso. As virtudes credito àqueles que comigo
colaboraram ou serviram como fonte de inspiração, e os defeitos são exclusivamente
devidos às limitações do autor.
................

2Análise minuciosa; exame detalhado; análise crítica; estudo exaustivo. © 2017, Editora
Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE I

CONCEITOS GERAIS

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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 1

CONCEITOS BIODINÂMICOS APLICADOS À DANÇA DE


SALÃO

Este capítulo tem como finalidade apresentar conceito técnicos de uma maneira breve e
superficial, na medida exata do que for necessário para tornar inteligíveis os temas que
serão abordados nesta obra, e que auxiliarão no entendimento de posições e movimentos
adotados na dança de salão. O leitor poderá fazer uma navegação rápida através desses
conceitos para ter uma noção genérica, e a eles retornar para consolidar o seu
entendimento, quando se fizer necessário.

Neste capítulo serão tratados os assuntos relacionados com:

Eixos anatômicos de referência;


Planos anatômicos de referência;
Centro de gravidade e linha de gravidade no corpo humano;
Base de suporte do corpo humano;
Equilíbrio;
Formas ou tipos de movimento.


EIXOS ANATÔMICOS DE REFERÊNCIA ______________________________________

Conhecer os eixos anatômicos de referência do


corpo humano, indicados no quadro ao lado, é
particularmente importante pois a eles
estaremos nos referindo para indicar a direção
do movimento seguindo os eixos “ântero-
posterior” e “transversal”. Quanto ao eixo
“longitudinal” tem sua relevância
principalmente quando tratarmos de equilíbrio e
transferência de peso.

PLANOS ANATÔMICOS DE REFERÊNCIA ____________________________________

A figura abaixo demonstra os planos anatômicos de referência de uma figura humana.


Para o nosso propósito enfatizaremos apenas os seguintes:

• Plano Sagital - Divide o corpo humano no centro, na direção do eixo ântero-


posterior, em lados iguais (direito e esquerdo).


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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

• Plano Coronal - Divide o corpo humano no centro, na direção do eixo transversal,


em partes iguais (frontal e dorsal).

CENTRO DE GRAVIDADE E LINHA DE GRAVIDADE NO CORPO HUMANO_________

Conforme ilustrado na figura ao


lado, o centro de gravidade no
corpo humano situa-se no
tronco, aproximadamente na
altura do umbigo (baricentro). A
linha de gravidade, por sua
vez, é a vertical que passa pelo
centro de gravidade, direcionada
para o centro da terra.






BASE DE SUPORTE NO CORPO HUMANO_____________________________

A base de suporte, como pode ser visto na figura anterior e seguintes, suporta o
peso do corpo que reage à força da gravidade. Ela é delimitada pela área
localizada imediatamente abaixo do campo de alcance da linha de gravidade,
enquanto o corpo não tende a se afastar da posição de equilíbrio estável, como
veremos no tópico seguinte.

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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

EQUILÍBRIO_____________________________________________________________

O equilíbrio, como pode ser visto na


figura ao lado, depende de três fatores:
O centro de gravidade, a linha de
gravidade e a base de suporte.
Importante notar que enquanto a linha
de gravidade incidir sobre a base de
suporte, o corpo se encontra em
equilíbrio estável. Quando a linha de
gravidade está fora da base configura-
se o equilíbrio instável ou
desequilíbrio, o que leva o corpo à
queda provocada pela atração
gravitacional, que nesta situação não
pode ser suportada pela base.

Nesta figura temos a definição


de equilíbrio estável/instável e
como ele atua no corpo humano
no sentido do eixo transversal.

Observe-se que na figura ao lado a


ilustração na parte superior
demonstra o equilíbrio/desequilíbrio
do corpo no sentido do eixo ântero-
posterior, e na parte inferior a área da
superfície de apoio formada pelos pés
em uma posição fechada.


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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Voltaremos a tratar desse tema principalmente nos capítulos dedicados à


condução e ao deslocamento na dança, utilizando os conceitos delineados neste
capítulo.

FORMAS OU TIPOS DE MOVIMENTO_________________________________

Apesar da diversidade de conceitos técnicos sobre formas ou tipos de


movimento relacionados com o corpo humano, entendemos que são
necessários e suficientes apenas os que dizem respeito aos movimentos
linear, angular e geral.

Movimento linear - É o deslocamento em linha, que pode ser tanto


retilíneo como curvilíneo. É também denominado como movimento
de translação.


Movimento angular - É o movimento que se dá em torno de um eixo.


Trata-se de um movimento de rotação.


Movimento geral - É composto pelos movimentos simultâneos de


rotação e de translação. É um movimento misto.

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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 2

POSTURAS E CONEXÕES

A partir deste capítulo os conceitos biodinâmicos vistos no capítulo 1 serão utilizados


complementarmente àqueles por nós instituídos com o intuito de fundamentar o conjunto
de fatores da física envolvidos na dança de salão. O enfoque se concentra nas posições
que o corpo adota individualmente ou reciprocamente em relação ao par e, o que é a
abordagem principal, como o casal se movimenta em sintonia com a música. Em resumo,
nesta parte estaremos fazendo uma análise da dança de salão sob o ponto de vista
cinemático para justificar as posições e movimentos por ela assumidos. Apesar de
estarmos utilizando conceitos técnicos universalmente reconhecidos, procuraremos
manter a linguagem o mais corriqueira possível, considerando a finalidade prática que se
pretende alcançar com este manuscrito.

Analisaremos inicialmente quatro fatores que compõem a relação corporal adotada entre
os pares durante a execução da dança a dois, suficientes para descrever com
objetividade suas posturas, posições e deslocamentos no espaço, e propiciar um exame
acurado de seus mecanismos. Com esses quatro elementos podemos identificar como o
casal está interagindo em determinado momento, seja parado, em transição ou em
movimento contínuo.

A posição estática do casal consideraremos eventualmente como figura3, mesmo


vocábulo também que será utilizado para denominar uma determinada sequência no
contexto de uma coreografia.

A postura4 na dança varia de acordo com o ritmo em execução, mas para efeito de
modelagem estaremos, quando não houver indicação em contrário, tomando como base o
Bolero, a partir do qual pode ser adaptado aos demais ritmos.

Este capítulo discorrerá sobre os seguintes temas:

Posição relativa do par;


Conexão do par;
Posturas de Transição;
Relação dinâmica de pernas.


3Figura de dança: cada uma das posições em que se colocam os pares de uma dança ou
cada uma das sequências dos passos da coreografia.© 2017, Editora Melhoramentos
Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
4Postura: Posição do corpo ou de uma de suas partes, no espaço que ocupa. Maneira de
compor os movimentos do corpo. Aspecto físico. Forma elegante nos passos e no
comportamento - © 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

POSIÇÃO RELATIVA DO PAR5 ______________________________________________

Definiremos a seguir a posição corporal relativa entre os parceiros, independente


de estarem se tocando ou não.

Neste sentido, podem ser adotadas basicamente cinco posições, sendo que as
posições laterais recebem uma denominação complementar segundo o lado em
que o par se posiciona. As posições estão descritas sem levar em consideração
as conexões, que serão objeto de capítulo específico, e ocorrem devido à própria
dinâmica dos movimentos, capturadas como posições relativas de passagem ou
mesmo constituindo figuras que podem ser utilizadas em qualquer ritmo.

Posição frontal - Na posição frontal os dois se encontram


diretamente de frente, um voltado para o outro. Pode se dar
de forma centralizada, face a face, ou deslocada
lateralmente para a direita ou para a esquerda. 





Nesta situação específica, podemos definir uma posição relativa conforme
segue.

• Positiva - Do ponto de vista de cada um, quando o outro


se encontra à sua direita.

• Negativa - Do ponto de vista de cada um, quando o outro


se encontra à sua esquerda.

5Par: Duas pessoas que participam juntas de algo em comum. Cada uma das pessoas
que compõem uma dupla na dança - © 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Posição dorsal - Nesta posição, ao contrário da posição


anterior, o casal está de costas um para o outro, voltados
em direções contrárias.

Posição posterior - Um par situa-se atrás do outro, ou


seja, na parte posterior do outro, e ambos voltados na
mesma direção. Por consequência, quem fica à frente e de
costas para o outro, encontra-se na posição anterior.


Posição perpendicular ou oblíqua - O casal se posiciona de maneira a formar


entre si um ângulo em torno de noventa graus.

Posição simétrica - Posição lateral em que o ombro de um


está voltado na direção do ombro oposto do outro
(ombreada), em linha ou levemente deslocados, voltando-se
o par na mesma direção. Se trocarem de lado, os ombros
continuarão mantendo a mesma relação, ou seja, direito
com esquerdo e vice-versa.

• Positiva - Do ponto de vista do condutor, quando o par se


encontra à sua direita.

• Negativa - Do ponto de vista do condutor, quando o par


se encontra à sua esquerda.

Posição Fechada - Quando o casal está conectado através


do abraço frontal.


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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Posição Aberta - Quando o casal está conectado apenas


pelas mãos.

Nas posições laterais os termos "Positivo" e "Negativo" decorrem de um princípio


algébrico. Em um plano cartesiano o eixo vertical "y" corta o eixo horizontal "x" no
ponto "0" : Logo, todos os números à direita do zero são positivos e à esquerda são
negativos. Ocupando o líder o ponto zero, se o par se encontra à direita do líder a
relação é positiva, se à esquerda, é negativa.

CONEXÃO DO PAR_______________________________________________________

Estaremos adotando um sentido amplo para o vocábulo conectar, ou seja, como


estabelecer conexão entre dois ou mais elementos; ligar, unir; ficar atento ou ligado
ao que ocorre em volta6. Logo, a conexão do casal neste contexto diz respeito a
esse conceito amplo, no seu significado objetivo, quando utilizado o sentido do
tato, e no contexto subjetivo, quando estão envolvidos outros sentidos, todos
atuando em sinergia. Para efeito prático estaremos classificando por tipo, o que
significa tratar cada tipo como uma conexão específica, isoladamente. Quando o
tipo for omitido estaremos nos referindo ao conceito amplo, geral. - A conexão deve
ser entendida tanto no seu significado genérico, como estar ligado7 ou atento, bem
como no seu sentido mais restrito, ou seja, como eles se tocam fisicamente,
segundo o que for apropriado para cada caso em particular.

Na dança de salão os parceiros levam grande parte do tempo em contato físico,


seja através do abraço ou simplesmente segurando uma ou ambas as mãos
reciprocamente, sem descuidar da atenção ou sempre ficando ligado ao que ocorre
entre os dois e à sua volta e, evidentemente, à música que está sendo executada.

A conexão exerce uma influência capital na CONDUÇÃO, tema que será tratado no
próximo capítulo e diretamente associado a este, visto que a qualidade da resposta
à condução depende fundamentalmente da qualidade da conexão.

CONEXÃO MANUAL

As mãos do casal, apenas uma ou ambas, podem ser conectadas direita com
esquerda, ou, direita com direita e esquerda com esquerda. Essas conexões de

6© 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua


Portuguesa
7Ligar: Fazer uma conexão ou relação entre coisas, fatos, pessoas etc., geralmente
obedecendo a um raciocínio lógico. Dar importância ou atenção; fazer caso. © 2017,
Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

mãos costumam ser adjetivadas com expressões retiradas da geometria e de fácil


assimilação conforme segue:

Conexão paralela - Se a mão direita de um segura a mão


esquerda do outro e vice-versa, diz-se que a conexão é
PARALELA, pois se o casal estiver na posição frontal os braços
nunca se encontram ou se cruzam.

Conexão cruzada - Quando a mão direita de um segura a mão


direita do outro e vice-versa. Nesta conexão, nota-se de
imediato que na posição frontal os braços se cruzam, gerando
consequentemente uma configuração CRUZADA.

CONEXÃO NO ABRAÇO

Esta é a conexão básica na dança de salão, que pode ser na posição frontal ou na
posição simétrica. Em ambas a conexão deverá ser JUSTA, ou seja, o casal se
amolda, ajusta anatomicamente, é cingido, estreito, porém suave, gentil, sem
exercer força ou pressão que limite o desempenho do outro. A resposta que
prevalece para a condução decorrente desta conexão será do tipo ação/reação, ou
seja, uma resposta reativa.

O lado da conexão no abraço em que as respectivas mãos se tocam, tendo os


braços ligeiramente estendidos, diz-se “aberta”, e “fechada” no lado em que o
braço de cada um enlaça o corpo do outro.

Abraço na posição frontal, alinhada ou deslocada lateralmente - Nesta


posição o casal encontra-se diretamente um na frente do outro, face a face.
Entretanto, quando deslocado lateralmente, deve-se realizar uma pequena torção
do tronco na direção do par, de forma que os ombros de ambos estejam voltados
um para o outro, evitando a impessoalidade.



No lado da conexão aberta deve-se manter os braços
flexionados, cotovelos formando um ângulo por volta de
noventa graus, a mão esquerda do condutor com a palma
voltada para cima, segurando suavemente a mão direita do
par, sem constrição de dedos, com os punhos posicionados na
altura dos ombros da dama. A palma da mão direita do
conduzido deverá estar voltada para baixo, segurando a mão
esquerda do condutor, sem constrição de dedos. Os punhos,
cotovelos e ombros de ambos devem oferecer certa resistência
recíproca, de forma a mantê-los alinhados com o tronco e
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

assegurar uma resposta adequada do par que recebe o estímulo. Esta é a


conexão principal utilizada no processo da condução.


No lado da conexão fechada o condutor enlaça o par de forma que a sua mão
direita repouse no meio das costas do par, um pouco abaixo do omoplata, com o
cotovelo levantado aproximadamente à mesma
altura. O conduzido, por sua vez, leva o seu braço
esquerdo às costas do condutor acima do seu
braço direito, sem entretanto exercer peso ou
pressão, com a mão colocada na altura do
omoplata, se possível, ou na extensão superior do
seu antebraço, caso nãos seja possível alcançar o
omoplata. Essa conexão não é rígida, ou seja, pode
deslizar ao longo das costas do par no sentido
horizontal, para ajustar a conexão ou como
elemento secundário da condução.


Abraço latino - Abraço na posição frontal estando o líder levemente deslocado


para a esquerda, de forma que a perna direita do líder se posicione entre as
pernas do par e a perna esquerda do par se posicione entre as pernas do líder.
Isto se faz necessário em algumas situações para evitar o encontro de pernas na
execução do passo.


Abraço em “V” - Abraço na posição perpendicular, no formato de “V”, muito


utilizado no Samba e no Tango.


Abraço na posição simétrica - Na relação positiva, o casal


coloca-se lateralmente de forma que o ombro direito do
condutor esteja voltado para o ombro esquerdo do
conduzido, braço esquerdo do condutor pela frente
segurando a mão direita do par e braço direito do condutor
por trás um pouco abaixo do omoplata do par. O par, por sua
vez, coloca o braço esquerdo nas costas do condutor acima
do seu braço direito tentando alcançar a porção esquerda de
suas costas. Esse abraço é utilizado principalmente no
leque. Na relação negativa essas conexões se invertem.
Existem situações, dada a dinâmica da dança, em que se faz
necessário ajustar as conexões de acordo com a manobra
que se está fazendo no momento, podendo assumir outras
configurações.

Na ausência da conexão fechada o contato físico fica restrito às


mãos. Apesar de ser uma conexão mais livre, deve-se ter firmeza
nos pulsos, cotovelos e ombros, uma vez que a característica
principal da condução passa a ser do tipo estímulo/resposta.
Mesmo nesta conexão, estando ela justa, a resposta à condução
pode ser reativa eventualmente.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

A dosagem da firmeza há de ser relativa nos momentos em que se exige


flexibilidade dos braços como nos giros com mãos conectadas ou nos adornos da
dama. Eles não devem estar retesados nem flácidos, de forma a projetar elegância
e demonstrar segurança. Logo, esta conexão denota moderação e equilíbrio, que
se faz sem necessidade de esforço, e pode se dar em qualquer configuração.
Nesta situação prevalece a condução de natureza estímulo/resposta.

Se ambas as mãos do condutor repousarem na cintura do par ou mesmo sem


contato, este estará livre para executar movimentos livres dos braços como
adornos, porém nunca deixados em uma posição baixa ou relaxados.

CONEXÃO VISUAL

Em nenhum momento o casal deve negligenciar a conexão visual. Isso não


significa olhar fixamente para o outro, mas estar constantemente atento ou ligado
ao que ocorre com o seu par e à sua volta, usando com sagacidade a visão
periférica, permitindo decisões rápidas segundo o contexto.

CONEXÃO AUDITIVA

Esta conexão está associada à musicalidade, - tema a ser tratado com ênfase no
capítulo sobre métrica - entendida como a capacidade ou sensibilidade para
apreciar música e deleitar‑se ao ouvi‑la e sentir a cadência ou ritmo melodioso8.
Apesar de estarmos demonstrando os passos nos capítulos próprios dentro de
parâmetros fixos quanto às suas métricas, ao se envolver de forma mais intensa
com a música fica a liberdade de adequar essa métrica para acompanhar as
nuanças de cada frase proposta na trilha musical.

POSTURAS DE TRANSIÇÃO9_______________________________________________

Nesta seção vamos nos referir à postura individual relativamente a como cada um
dos parceiros posiciona suas próprias pernas em um momento de transição, que
pode ou não coincidir com a postura do outro. O termo “postura” é genérico com
relação ao posicionamento do corpo e suas partes no espaço que ocupa, mas
iremos no deter aqui apenas no que tange a posicionamentos específicos das
pernas e dos pés. Em síntese, trata-se da postura individual e pontual relacionada

8© 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua


Portuguesa
9Ação ou efeito de transitar. Estágio intermediário entre uma situação e outra. Mudança
de uma condição a outra - © 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário
Brasileiro da Língua Portuguesa.
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ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

com as próprias pernas em um dado momento, seja na alternância ou pausa entre


movimentos, ou eventualmente parado.

As possibilidade de posicionamento de uma perna com relação à outra ou com


relação ao tronco são restritas, e na dança costuma-se explorar todas essas
possibilidades. Identificar essas posturas é fundamental pois elas surgem
naturalmente em momentos de transição ou mudança do movimento.

Nos momentos de transição convém que o casal esteja com o peso distribuído
igualmente em ambas as pernas, pois daí surgirá o movimento seguinte que pode
exigir uma transferência de peso para deslocamento em qualquer direção, ou seja,
manter a trajetória anterior ou mudar essa trajetória em qualquer outro sentido. Em
um sentido técnico mais restrito, significa manter a linha de gravidade coincidindo
com o eixo anatômico longitudinal. Para tal, deve-se distribuir igualmente o peso da
massa corporal no entorno do centro de gravidade.

Passaremos então a definir essas posturas.

Tesoura - Quando a perna direita estiver à frente como em uma


caminhada, denominamos essa postura como TESOURA. Em
síntese, diz-se quando a perna direita estiver deslocada à frente
com relação à perna esquerda.


Tesoura Invertida - É o inverso da postura anterior, ou seja,


quando a perna esquerda estiver deslocada à frente com
relação à perna direita. 


Paralela ou Abertura Lateral - Conhecida mais como paralela, trata-se de estar


com as pernas levemente abertas, lateralmente.

Paralela cerrada ou fechada - Quando se está com as pernas


fechadas, pés juntos. Esta postura também é conhecida como
“en dedans” (sexta posição do balé).

Cruzada - Quando se posta a perna direita à frente ou atrás da esquerda e vice


versa. Nessa postura convém juntar bem as coxas.

Em qualquer uma das posturas de transição, os pés devem ser posicionados de


maneira a adequar a entrada no movimento seguinte. Na definição das posições
dos pés serão utilizadas expressões de origem francesa aplicadas nas técnicas do
balé. São elas “en dedans”, traduzido literalmente como “para dentro”, e “en
dehors” como “para fora”. Para alcançar essas posições exige-se um movimento
20
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

na perna que pode ser observado simultaneamente na coxa e no pé: a coxa exibe
uma rotação levemente perceptível para um determinado sentido, o que provoca
consequentemente o direcionamento da ponta do pé naquele mesmo sentido. No
sentido anatômico, “en dedans” corresponde a uma adução10, e “en dehors” a uma
abdução11. Essas posições dependem principalmente da direção do movimento
que se pretende fazer no deslocamento seguinte.

Passemos então a definir essas posições dos pés.

Posição dos pés


En dedans ou aduzidos - direcionamento da ponta de um ou ambos os pés para


dentro relativamente ao plano sagital do corpo, mediante rotação da(s) coxa(s) no
mesmo sentido. Essa expressão é também atribuída quando ambos os pés
estiverem juntos (postura cerrada).

En dehors ou abduzidos - direcionamento da ponta de um ou ambos os pés


para fora relativamente ao plano sagital do corpo, mediante rotação da(s) coxa(s)
no mesmo sentido.

Quando o casal encontrar-se em tesoura ou tesoura invertida o usual é que ambos


estejam adotando a mesma postura. A inversão de postura de pernas entre eles
sempre se dá quando um dos dois executar os passos e/ou giros denominados
“cruzado”, “esse”, “torção” e “freio”, - cujas rotinas serão demonstradas em
capítulos próprios - avançar ou recuar pisando com a mesma perna do movimento
imediatamente anterior ou fazer o movimento com o dobro ou metade do tempo
realizado simultaneamente pelo par.

RELAÇÃO DINÂMICA DE PERNAS __________________________________________

Como estamos tratando de posições estáticas ou de transição, fazemos isso


também com referência às pernas, simultaneamente entre os parceiros, ou seja, o
momento em que ambos pisam ao mesmo tempo, identificando em que perna está
ancorado o peso do corpo de cada um naquele momento. Estabelece a alocação
relativa de peso simultaneamente na perna de cada um dos pares em um dado
momento.

Relação paralela - Se o casal estiver parado, ou se durante um movimento no


momento em que tocam o chão, ambos pisarem com pernas opostas, ou seja,
enquanto um pisa com a perna direita e o outro pisa com a esquerda, configura-
se aí uma relação PARALELA.

10Atode mover um membro ou parte dele em direção ao plano médio sagital do corpo
humano. © 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua
Portuguesa
11Movimento que afasta um membro, ou uma parte qualquer, do plano médio que se
supõe dividir o corpo humano em duas metades simétricas. © 2017, Editora
Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa
21
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Relação cruzada - Se ambos pisam a mesma perna ao mesmo tempo, direita


com direita e esquerda com esquerda, a relação é dita CRUZADA.

Por padrão, no passo básico feito pelo casal em posição frontal, enquanto um se
move para a frente com a perna esquerda o outro se move para trás com a perna
direita, cada um pisa com a perna oposta, evitando que as pernas se cruzem ou se
choquem, ou seja, movendo-se paralelamente, portanto em uma relação
PARALELA. Se ambos porém pisarem com a mesma perna, esquerda com
esquerda e direita com direita, as pernas inevitavelmente ou se chocam ou ficam
cruzadas. Por isso, uma relação CRUZADA.


22
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 3

CONDUÇÃO

Nesta parte iremos discorrer sobre condução, pois dela depende a execução correta e
natural dos movimentos da dança, focando principalmente na resposta a cada tipo de
condução. Discorreremos também brevemente sobre equilíbrio, pois ele exerce um papel
fundamental no conceito, e exerce uma influência capital no conforto proporcionado ao
par quando certos princípios são adotados.

O termo “condução” estará sendo usado em sua conotação social, ou seja, como se dá
quando o maître de um restaurante, por exemplo, conduz um casal para a mesa a eles
reservada. Entretanto, estamos usando indiferentemente os vocábulos condução/
condutor, liderança/líder, comunicação/comunicante, proposta/proponente com
significados correlatos, dadas as preferências pessoais de cada um. Nas rotinas
reservadas às demonstrações dos passos optamos pelo termo “proponente”, pela sua
conotação neutra e aplicável a qualquer um dos pares.

Quanto à responsabilidade pela condução total ou parcial, parece-nos depender da


preferência e ajuste entre os casais, segundo suas preferências pessoais. Entretanto, em
nossas descrições, quando não indicado, estaremos pressupondo que a condução é
responsabilidade do cavalheiro. Em qualquer hipótese em nossas rotinas estaremos
tratando como agente a quem é atribuída a função de quem toma a iniciativa da ação ou
de quem a ação se deriva.

Vamos focar, então, nos tipos da resposta adequada a cada tipo de condução, que, por
sua vez, depende diretamente do tipo de conexão adotada no momento da condução.
Para melhor assimilação recomendo rever o conceito de CONEXÃO DO PAR no capítulo
anterior.

Este capítulo tratará dos seguintes temas.

Resposta por reação


Resposta por indução


Resposta por dedução


Transferência de peso e equilíbrio 


RESPOSTA POR REAÇÃO_______________________________________________

Esta é a resposta natural a uma condução que se faz em uma conexão justa.
Significa dizer que se as conexões estiverem justas, como no caso do abraço,
uma determinada ação do líder gera uma reação específica do par em
decorrência direta dessa ação. Ou seja, decorre do princípio da ação versus
reação, não restando ao par um movimento alternativo diferente do esperado,
salvo se houver resistência substancial.
23
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

RESPOSTA POR INDUÇÃO ________________________________________________

Esta modalidade de resposta decorre de um estímulo dirigido pelo líder que induz
a uma resposta esperada do par, ou seja, do princípio estímulo versus resposta.
Ela prevalece quando se tem as conexões abertas, e ocorre com certa frequência
na execução dos giros, tanto da dama quanto do próprio cavalheiro ou de ambos
ao mesmo tempo.

Como exemplo, diremos que por convenção, se o líder ao estar conectado


levantar o braço acima da cabeça do par e imprimir um gesto sutil em um
determinado sentido, o par é induzido a realizar um giro no sentido dessa
indução. Se o braço do líder for levantado sobre a própria cabeça, isso é um
indicativo de que ele próprio irá realizar um giro. Quando o braço é levantado em
um ponto intermediário entre os dois, isso pode ser uma indicação de giro para
ambos, devendo o líder estabelecer uma indicação alternativa para o movimento
simultâneo da dama.

Na condução indutiva nem sempre apenas uma indicação é suficiente,


dependendo da manobra que se pretende realizar, e nesses casos é comum
usar-se também a outra conexão de forma auxiliar.

RESPOSTA POR DEDUÇÃO_______________________________________________

Existem situações em que não há o contato físico ou o contato físico não é firme o
suficiente, exigindo que o casal fique atento ou ligado ao que ocorre com o seu
par e à sua volta. Nestes casos a resposta pode se dar por dedução, decorrente
de um dado gestual, ou gerar um improviso coerente com o gestual livre
executado pelo líder.

TRANSFERÊNCIA DE PESO E EQUILÍBRIO__________________________________

Os deslocamentos implicam em constante alteração na alocação de peso sobre


as pernas. Ter a percepção de onde está alocado esse peso no par, proporciona a
quem lidera no momento emitir o estímulo adequado para o deslocamento
pretendido.

O equilíbrio é uma resposta natural do corpo contrapondo a atração gravitacional


exercida pela Terra. No equilíbrio sempre estão envolvidas duas ou mais forças.
Se estamos em pé, sem apoio, atuam a força gravitacional para baixo e a nossa
força muscular no sentido oposto. Se dois corpos separados se apoiam um no
outro, é necessário que a intensidade da força de ambos sejam iguais para
promover o equilíbrio e anular a força gravitacional que atua sobre eles.

Três elementos são essenciais para a manutenção do equilíbrio: o centro de


gravidade, a linha de gravidade e a base de suporte ou apoio.

24
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO


Na condução o líder aciona esses elementos como instrumentos auxiliares de
comunicação para induzir o par a realizar determinado movimento. A partir de
uma postura de equilíbrio estável, o deslocamento do centro de gravidade
provoca a alocação de menor peso em determinada perna, indicando que essa
perna irá realizar um deslocamento. Se o deslocamento da linha de gravidade
ultrapassar os limites da base, gera-se uma instabilidade em seu equilíbrio,
forçando o deslocamento da perna sem peso no sentido de recuperar o equilíbrio.

É recomendável que nos momentos pontuais em que se atinja uma postura de


transição o peso seja alocado igualmente em ambas as pernas. Nesta posição,
que denominaremos como “neutra”, a linha de gravidade deverá coincidir com o
eixo longitudinal do corpo na vertical. A dinâmica da condução deverá induzir a
transferência de peso necessária e suficiente para definir claramente qual perna
será deslocada primeiro no movimento seguinte.

25
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 4

MÉTRICA

Antes de introduzir o tema sobre movimentos e passos propriamente ditos, discorreremos


de forma superficial porém necessária sobre métrica na música, o que faremos
procurando estabelecer os elos com a dança.

A métrica exige a interação indissociável de dois conceitos musicais, mutuamente


responsáveis pelo conceito de musicalidade. Logo, estaremos tratando separadamente
dos conceitos de compasso e ritmo, combinando-os a fim de desenvolver o conceito de
musicalidade12 aplicado à dança.

Compasso


Ritmo


Musicalidade

COMPASSO_____________________________________________________________

O compasso é definido como o agente métrico do ritmo. É a unidade métrica que


divide a pauta musical em partes iguais, tendo cada unidade separada da unidade
seguinte por uma linha vertical ou barra de compasso. Em dança de salão utiliza-
se quase que exclusivamente o compasso de quatro tempos ou quaternário. Isto
significa que, no geral, os movimentos ou passos são fracionados a cada quatro
tempos, completando-se um ciclo a cada oito tempos ou dois compassos
quaternários. Isso fica mais claro na execução dos passos básicos estacionários,
quando são realizados dois movimentos iguais porém simétricos, cada um com
duração de quatro tempos. Vê-se partituras de samba ora em binário ora em
quaternário. Entretanto, quando em binário não alteram a forma de execução dos
passos, apesar de serem significativos para quem está executando a música
através de partitura.

Tempo, no sentido musical, não guarda qualquer relação com o tempo


convencional, e pode ser escolhida qualquer figura musical para representar a
unidade de tempo, assim como o minuto representa uma unidade de 1/60 de 1
hora. A partir dessa escolhas as demais figura assumem valores relativos tendo
como parâmetro a figura escolhida, conforme vemos na ilustração abaixo. Não
confundir com “andamento”, que corresponde à frequência dos tempos musicais
executadas em 1 minuto. Neste caso, a música é executadas de forma mais lenta
ou mais rápida segundo a frequência adotada.

12Caráter ou qualidade do que é musical. Capacidade, talento ou sensibilidade para


compor ou executar música. Capacidade ou sensibilidade para apreciar música e deleitar-
‑se ao ouvi‑la. Cadência ou ritmo melodioso. © 2017, Editora Melhoramentos Ltda.,
Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa
26
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Para melhor entendimento vamos reproduzir as figuras musicais mais utilizadas


para compor os passos da dança de salão e seus respectivos valores em um
compasso de quatro tempos, ou seja, em 4/4. O algarismo no numerador indica a
quantidade de tempos em cada compasso, enquanto que o algarismo no
denominador indica a figura que corresponde à unidade de tempo, que neste
caso específico trata-se de uma semínima.

Enfatizamos que a figura musical isoladamente corresponde apenas ao tempo


musical por ela representado. Em cada compasso elas são fixadas ora nas linhas,
ora nos espaços intermediários, passando a significar um som específico ou nota
musical (dó-ré-mí-fá-sol-lá-sí) a diferentes alturas (uma oitava, duas oitavas etc.)
e com duração correspondente a seu valor. Apenas por curiosidade,
esclarecemos que nas pautas reproduzidas a seguir, a nota musical é sempre o
“dó”, mas sem qualquer representatividade para as nossas demonstrações.

Esta é uma SEMÍNIMA , e corresponde à unidade de tempo no


compasso 4/4. As demais figuras são múltiplos ou frações da
semínima. Um compasso de quatro tempos pode ser preenchido com
4 semínimas.

A seguir temos uma MÍNIMA, que vale o dobro do tempo da semínima.


O compasso quaternário pode ser preenchido com 2 mínimas.

Esta figura é denominado SEMIBREVE, valendo 4 semínimas. Uma


27
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

única semibreve preenche um compasso quaternário.

Finalmente temos mais uma figura que será também por nós utilizada.
Trata-se de uma COLCHEIA, e vale a metade de uma semínima. São
necessárias 8 colcheias para preencher o compasso 4/4.

Para efeito de ilustração vemos abaixo uma pauta com quatro


compassos, preenchidos com apenas uma das figuras dadas.

Veremos a seguir alguns recursos mnemônicos utilizados para indicar os tempos


que preenchem cada compasso. Apesar de o contratempo ser um conceito
específico na teoria musical, aqui está sendo usado apenas como recurso
mnemônico, não guardando qualquer relação com o conceito estritamente
musical. O seu uso aqui se dá pela conveniência do vocábulo ser constituído por
quatro sílabas, cada uma correspondendo a um tempo. No caso da colcheia, que
vale a metade da semínima, optamos pela expressão francesa “coupé”, que no
balé corresponde a uma transferência de peso, e possui apenas duas sílabas.

Con-tra-tempo (1+1+2 tempos) - Todos os passos básicos estacionários em


seu padrão são executados com essa configuração. Isso indica o tempo de
duração que o pé que está pisando permanece em contato com o solo, ou seja,
sobre o qual repousa o peso do corpo. Assim, temos 1 tempo para a primeira
pisada, 1 tempo para a segunda pisada e 2 tempos para a terceira pisada,
totalizando 4 tempos.

Con-tra-Con-tra (1+1+1+1 tempo) - Essa configuração é típica do passo


denominado “trocadilho”, quando executado de forma contínua. Significa que
cada pisada tem duração de 1 tempo, ou seja, a transferência de peso se dá
em cada um dos tempos.


Tempo-Tempo (2+2 tempos) - Na execução do passo intitulado como “leque”,


essa é a configuração dominante. A duração de 2 tempos denominaremos
como “binário”.

28
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Cou-pé-Cou-pé-Cou-pé-Cou-pé13 - (½ + ½ + ½ + ½ + ½ + ½ + ½ + ½ tempo) -
Apesar de o coupé ser usualmente executado apenas uma vez para
transferência de peso ou, quando efetuado por apenas um dos pares passam
de uma relação paralela para uma relação cruzada e vice-versa, fizemos a
repetição para demonstrar que são necessárias 8 pisadas para preencher o
compasso de 4 tempos. Entretanto a sua utilização quebrando métricas inteiras
possibilita uma grande variedade de combinações.


Outras combinações - qualquer combinação é possível utilizando essas


figuras, desde que em cada compasso seja mantida a regra dos quatro tempos.
Na pauta abaixo está reproduzida, apenas como forma demonstrativa, no
espaço do primeiro compasso a reprodução das pisadas do cavalheiro e no
segundo compasso a reprodução simultânea das pisadas da dama, quando a
partir de uma posição conveniente ambos entrarão no leque saindo de uma
relação paralela de pernas para uma relação cruzada.


Métrica irregular - Tercinas - combinação em que, enquanto um dos pares


executa duas trocas de perna de um tempo cada ou uma troca de pernas em
dois tempos, o outro par faz três trocas de pernas no mesmo período. A
diferença para o coupé é que neste tipo de manobra não há uma troca de
relação paralela para relação cruzada ou vice versa.

Reforçando o que foi acima demonstrado, no Bolero e algumas outras danças de


salão, a regra geral é que dentro de um compasso quaternário os dois primeiros
movimentos do passo tenham a duração de um tempo, enquanto que o terceiro
movimento tenha a duração de dois tempos, completando, assim, quatro tempos
no total, como ficou demonstrado no “con-tra-tempo”.

Já na execução de um “leque”, por exemplo, que dura dois tempos cada


movimento, usa-se a palavra “tempo” para a respectiva marcação. Nos
“trocadilhos” pode-se usar as sílabas “con-tra-con-tra…” (1+1+1+1… tempo)
enquanto em evolução contínua e o padrão “con-tra-tempo” (1+1+2 tempos) na
sua conclusão.

13 Pronuncia-se “cupê”. Expressão retirada do Balé para indicar uma transferência de


peso, em termos genéricos. Na prática sugerida corresponde a pisar duas vezes em um
tempo, alternando as pernas, permitindo passar de uma relação paralela para uma
relação cruzada e vice versa, desde que o par mantenha sua métrica em tempos inteiros.
29
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Eventualmente pisa-se duas vezes em um tempo, quando, por exemplo,


pretende-se fazer uma inversão de perna entrando em uma relação cruzada ou
retornando para uma relação paralela, o que corresponde a duas figuras de
colcheia, valendo cada uma delas a metade de 1 tempo (½ tempo). Nesses casos
estaremos usando, por convenção, a expressão francesa “cou-pé” (cupê),
utilizada no balé para indicar um passo de ligação para transferir o peso do corpo
de uma perna para outra; basicamente, em nosso caso, consiste apenas em pisar
duas vezes no intervalo de 1 tempo. Convencionamos por conseguinte que cada
sílaba da expressão “cou-pé” vale ½ tempo, correspondente a uma colcheia cada
uma.

Torna-se necessário esclarecer que no tempo 4 de cada intervalo, enquanto a


última perna que marcou o tempo 3 permanece apoiada no chão para completar 2
tempos, a perna sem peso se desloca para pisar na contagem seguinte, ou seja,
tempo 1 do compasso seguinte. Esse é o momento a partir do qual se operam as
mudanças de movimento, e talvez por isso seja habitualmente considerada como
uma pausa, o que não equivale a um rígido conceito técnico, apesar de aceitável
pela sua conveniência, e corresponderia à conexão das fases de um passo,
possibilitando o fechamento de um ciclo completo.

De uma maneira geral os passos padronizados têm métrica própria, mas podem
ser executados com métricas diferentes para explorar a musicalidade, a critério
dos dançarinos ou segundo uma coreografia pré-definida.

RITMO__________________________________________________________________

Ritmo é “a sucessão de tempos fortes e fracos que ocorrem alternadamente, com


intervalos regulares, em uma frase musical, um verso etc14; - Ordem e proporção
em que estão dispostos os sons que constituem a melodia e a harmonia; - É a
distribuição ordenada dos valores; - É a relação entre as durações das notas
executadas sucessivamente15”.

O ritmo é marcado principalmente pelos instrumentos de percussão, tendo certa


relevância a bateria, o que possibilita identificar ou diferenciar um bolero de um
samba, um zouk , etc., além de cada ritmo adotar instrumentos específicos para
acompanhar e dar ênfase a trechos da melodia, o que lhes imprime uma matiz
diferenciada. Sob o ponto de vista da teoria musical, o padrão no compasso
quaternário é que o tempo 1 seja forte, o tempo 2 seja fraco, o tempo 3 seja meio
forte e o tempo 4 seja fraco, mas existem exceções que não abordaremos por
entendermos ser desnecessário e irrelevante.

14© 2017, Editora Melhoramentos Ltda., Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua


Portuguesa
15Med,Bohumil - Teoria da Música/Bohumil Med. - 4. ed. rev. e ampl. — Brasília, DF :
Musimed, 1996.
30
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 5

CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOB O PONTO DE VISTA


CINEMÁTICO

Nesta parte serão analisados os movimentos segundo conceitos cinemáticos. Nos


capítulos que descrevem os passos utilizaremos rotinas em esquemas sintéticos e
analíticos seguindo estas referências. Os esquemas analíticos descrevem a rotina dos
movimentos executados em cada tempo do compasso quaternário.

Dependendo do ritmo o corpo assume várias configurações. No Bolero, todavia, é


recomendável que o corpo deva ficar ereto mas de forma natural. Durante o movimento
os ombros não devem realizar movimentos no sentido vertical, devendo os joelhos
exercer o papel de amortecimento mediante pequenas flexões coordenadas, uma perna
de cada vez. Os quadris devem efetuar leves rotações de forma a manter o tronco do
casal alinhado, sempre que estiverem em uma posição frontal.

Cabe observar que, apesar de descrevermos o movimento segmentado em quatro partes,


na prática ele flui de forma contínua sem interrupções, passando despercebida essa
divisão, que se faz apenas por questões metodológicas, segundo os seguintes conceitos:

Mobilidade


Direção


Composição


Causas

QUANTO À MOBILIDADE __________________________________________________

Esta é uma classificação específica para os passos, e leva em conta a


possibilidade de progredir ou evoluir na pista, ou seja, se está limitado a um espaço
restrito ou se é livre o deslocamento ao longo dessa pista.

Passos Estacionários - Os passos estacionários são assim denominados


porque não se deslocam ou progridem livremente pela pista. Tendem a fazer
evoluções em uma área restrita, em movimentos repetitivos, de forma cíclica. Por
exemplo, no passo básico, a partir de uma posição fixa inicial, avança e retorna à
posição inicial, depois recua e retorna à mesma posição inicial, repetindo o ciclo
tantas vezes quanto se queira.

Passos Progressivos - No segundo caso temos os passos progressivos, em que


o casal progride em qualquer trajetória. No passos denominados “leque”,
“caminhada” e “trocadilho reto” por exemplo, o movimento de ambos é sempre em
deslocamento linear ou angular, até onde se queira.

31
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Estamos nos referindo aos movimentos segundo o seu padrão pois, ao se executar
qualquer um deles livremente, pode-se variar a sua métrica e padrões de
movimento, de forma a promover deslocamentos variados, visando principalmente
explorar a musicalidade.

QUANTO À DIREÇÃO_____________________________________________________

O movimento na dança se dá em todas as direções, e fica evidente a utilidade de


se conhecer a forma de dominar esses espaços, que se faz através de movimentos
perfeitamente definidos.

Vamos considerar quatro categorias de movimento quanto à direção, ou seja, se é


para a frente e para trás, lateral direita e esquerda, em uma diagonal com
referência ao parceiro, ou se é angular. Qualquer movimento pode sofrer variações
se houver a necessidade de alteração do roteiro, seja meramente intencional ou
visando evitar obstáculos. Assim, por exemplo, um movimento básico executado
em apenas uma direção pode ser combinado convenientemente por um
deslocamento angular sem alterar as sua característica padrão.

Logo, do ponto de vista cinemático, os movimentos podem então ser classificados


quanto à sua direção em:

Movimento linear no eixo ântero-posterior - pode se dar tanto para a frente


quanto para trás ou em ambas as direções, como se dá, por exemplo, no básico
frente/atrás, podendo ser retilíneo ou curvilíneo. Este é um movimento de
translação.

Movimento linear no eixo transversal - movimento para a direita ou para a


esquerda, ou em ambas as direções como no básico lateral ou chassé, em
trajetória retilínea ou curvilínea. Também um movimento de translação.

Movimento em diagonal ou oblíquo - qualquer movimento que se dê em um


eixo intermediário entre o eixo ântero-posterior e o eixo transversal, em trajetória
linear retilínea ou curvilínea. Como os movimentos anteriores, trata-se de um
movimento de translação.

Movimento angular - movimento de rotação em torno de seu próprio eixo,


podendo variar até 360 graus.


Movimento misto - denominado didaticamente como movimento geral, trata-se


da combinação dos movimentos anteriores executados simultaneamente.

QUANTO À COMPOSIÇÃO _________________________________________________

Quanto à composição, podemos classificar os movimentos, ou mais


especificamente, os passos, em simples e compostos. Uma série de passos
compostos que se sucedem ininterruptamente ou a pequenos intervalos se
32
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

denomina sequência, e cada uma das sequências dos passos em uma coreografia
é denominada figura.

Passo Simples - É constituído por apenas um passo básico executado de forma


repetitiva, sem combinar ou misturar com outros passos básicos ou giros.

Passo Composto - Combinação de dois ou mais passos básicos ou a


combinação de passos básicos com giros.


QUANTO ÀS CAUSAS

O movimento pode ser causado pela aplicação de um impulso em determinado


corpo e será mantido mesmo após cessado esse impulso, até que uma segunda
força altere ou faça cessar esse movimento. Sob esse aspecto podemos classificar
os movimentos como:

Movimento Ativo - Quando exige a aplicação de um impulso ou força, próprio ou


de terceiros, para iniciá-lo ou alterá-lo.

Movimento Passivo - Quando cessada a força que o impulsionou, não oferece


resistência a esse movimento inercial derivado, que por sua vez cessa ou se
altera mediante aplicação de uma nova força ou pela ação natural do atrito.

33
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE II

MOVIMENTOS BINÁRIOS

34
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 6

MOVIMENTOS BINÁRIOS

A partir deste capítulo os movimentos que compõem os passos serão descritos em rotinas
descritas em quadros constituídas por linhas e colunas. Quando a rotina contiver dois
quadros, o primeiro descreve o passo de forma sintética e o segundo analisa as rotinas
individuais de cada sequência indicada na primeira. As colunas indicam o papel de cada
par, denominados de “proponente” e “par” segundo a função que cada um assume no
contexto da condução, e as linhas demonstram o movimento individual e simultâneo de
cada um deles.

O proponente é o responsável pela condução, e o par segue essa liderança. Salvo


indicação em contrário, as colunas podem ser invertidas uma vez que os movimentos são
intercambiáveis, ou seja, o proponente pode executar os movimentos listados na primeira
coluna enquanto o par realiza os movimentos da segunda coluna ou vice-versa.

Vamos recorrer ao conceito de métrica para justificar a seleção dos movimentos neste
capítulo. Como ficou registrado no item a ela relacionado16 , um passo básico estacionário
é executado em oito tempos, isto é, em dois compassos de quatro tempos cada. Em cada
compasso é executado um movimento simétrico ao que é realizado no outro compasso.
Em cada compasso, por sua vez, cada um dos parceiros realiza um movimento simétrico
com relação ao outro. Apesar de estarmos demonstrando métricas padronizadas para os
passos, os dançarinos experientes costumam alterá-las segundo suas preferências e
conveniências.

Consequentemente, um ciclo completo de um passo se dá quando é realizado o


movimento inteiro em dois compassos. Logo, cada compasso corresponde a uma fase
desse ciclo.

Pretende-se então demonstrar neste capítulo, movimentos que têm ciclos diferenciados, e
executados sempre em binário. Trata-se de movimentos que são a raiz dos passos
básicos, e que podem ser executados de forma autônoma como adorno ou movimento de
transição.

Apesar de parecer ao leigo que os passos da dança seja algo complexo, veremos que
toda essa “complexidade” se origina de poucos movimentos básicos e giros
convenientemente combinados. Vamos então iniciar com os movimentos mais
elementares.

Neste capítulo iremos demonstrar:

Balanço lateral.


Balanço frente/atrás.


Preparações.


16 Para uma revisão sobre métrica, voltar ao Capítulo 3 página 13.


35
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Saída ao lado e retorno.

BALANÇO LATERAL______________________________________________________

O “balanço lateral” é uma fase do “básico lateral”, consistindo em um movimento


parcial deste.

Rotina 6.1 - Balanço Lateral


A B

PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa balanço à esquerda (a). 2. Executa balanço à direita (b).
3. Executa balanço à direita (b). 3. Executa balanço à esquerda (a).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) BALANÇO À ESQUERDA b) BALANÇO À DIREITA

Tempo 1 - Abre lateralmente a perna Tempo 1 - Abre lateralmente a perna


esquerda e pisa transferindo o peso para direita e pisa transferindo o peso para
essa perna. essa perna.
Tempo 2 - Junta o pé direito ao pé Tempo 2 - Junta o pé esquerdo ao pé
esquerdo, mantendo o peso na perna direito, mantendo o peso na perna direita.
esquerda.

BALANÇO FRENTE/ATRÁS________________________________________________

O “balanço frente/atrás” é uma fase do “básico frente/atrás”, consistindo em um


movimento parcial deste. Neste movimento pode ser incorporado um cruzado,
como será demonstrado.

Rotina 6.2 - Balanço Frente/Atrás


PROPONENTE 👉 PAR
PAR 👈 PROPONENTE

36
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa balanço por trás (a). 2. Executa balanço pela frente (b).
3. Executa balanço pela frente (b). 3. Executa balanço por trás (a).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) BALANÇO POR TRÁS b) BALANÇO PELA FRENTE

Tempo 1 - Recua a perna direita e pisa Tempo 1 - Avança a perna esquerda e


transferindo o peso para essa perna. pisa transferindo o peso para essa perna.
Tempo 2 - Recua a perna esquerda Tempo 2 - Avança a perna direita
cruzando pela frente até tocar a perna cruzando por trás até tocar a perna
direita, mantendo o peso na perna direita. esquerda, mantendo o peso na perna
O pé esquerdo se desloca mantendo-se esquerda. O pé direito se desloca
próximo ao chão. mantendo-se próximo ao chão.

PLANO DE AULA_________________________________________________________

Os Planos de Aula sugeridos a partir de agora serão oferecidos como sugestão


envolvendo teoria e prática, aplicados às rotinas até aqui demonstradas.

====================================================================

IDENTIFICAÇÃO____________________________________________________

Academia: Dance Fácil


Curso: Dança de Salão
Ritmo: Bolero
Módulo: Fundamental l
Prof: Ingrid Fernandes

TEMA DA AULA_____________________________________________________

Praticar os movimentos primários da Dança de Salão.

OBJETIVOS________________________________________________________

Objetivos Gerais:
- Aprender os dois movimentos mais fundamentais aplicados a qualquer ritmo.


Objetivos Específicos:
- Desenvolver habilidades para executar o balanço lateral e o balanço frontal.
- Aprender como fazer a conexão no abraço frontal de forma eficiente.
- Praticar os movimentos explorando a musicalidade


37
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO__________________________________________

- Fazer exercício do balanço lateral, individualmente.


- Demonstrar a importância da conexão aberta no abraço fechado.
- Executar o balanço lateral a dois, utilizando apenas a conexão aberta,
enfatizando a correção do movimento e da conexão.
- Fazer exercício do balanço frontal, individualmente.
- Demonstrar como se faz a conexão fechada no abraço fechado.
- Executar o balanço frontal a dois, utilizando ambas as conexões, enfatizando a
correção do movimento e da conexão.
- Demonstrar como passar do balanço lateral para o frontal e vice-versa.
- Exercitar individualmente a passagem de um movimento para o outro, nas duas
extremidades (frente e atrás, direita e esquerda).
- Executar a dois a transição do balanço lateral para o frontal e vice-versa,
explorando as variações do exercício anterior.
- Fazer exercício de musicalidade individualmente praticando o balanço lateral.

METODOLOGIA DE ENSINO__________________________________________

Aula expositiva, demonstrativa e interativa, enfatizando:


- A importância dos movimentos primários para o aprendizado consistente da
dança a dois, o que permitirá ao aluno variar o movimento possibilitando realizar
improvisações.
- Como uma boa conexão é fundamental no processo de condução.
- A exploração da musicalidade para tornar mais prazeroso a prática da dança.

AVALIAÇÃO________________________________________________________

- Avaliar individual e coletivamente o progresso dos alunos, orientando no sentido


de aprimorar as técnicas aprendidas.
- Motivar o aluno apontando os pontos positivos observados.
====================================================================

PREPARAÇÕES__________________________________________________________

A preparação é uma postura de transição utilizada para facilitar, possibilitar ou


tornar mais conveniente e funcional a entrada em um novo passo ou sequência
de passos. Regra geral, a preparação quase sempre implica em uma inversão na
direção do movimento.

Rotina 6.3 - Preparação Lateral


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

38
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Faz preparação à esquerda (a). 2. Faz preparação à direita (b).

a) PREPARAÇÃO À ESQUERDA b) PREPARAÇÃO À DIREITA

Tempo 1 - Abre lateralmente a perna Tempo 1 - Abre lateralmente a perna


esquerda e pisa transferindo o peso para direita e pisa transferindo o peso para
essa perna. essa perna.
Tempo 2 - Sem sair do lugar, transfere o Tempo 2 - Sem sair do lugar, transfere o
peso para a perna direita. peso para a perna esquerda.

Rotina 6.4 - Preparação Horária


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Faz preparação à frente (a). 2. Faz preparação atrás (b).

a) PREPARAÇÃO À FRENTE b) PREPARAÇÃO ATRÁS

Tempo 1 - Avança a perna esquerda Tempo 1 - Recua a perna direita virando o


virando o corpo no sentido horário e pisa corpo no sentido horário e pisa
transferindo o peso para essa perna (o transferindo o peso para essa perna (o
corpo deverá ter feito uma rotação de 90° corpo deverá ter feito uma rotação de 90°
assumindo a postura paralela). assumindo a postura paralela).
Tempo 2 - Transfere o peso para a perna Tempo 2 - Transfere o peso para a perna
direita. esquerda.

Rotina 6.5 - Preparação Anti-Horária


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura invertida ou 1. Transição em tesoura invertida ou


cerrada, em posição lateral negativa. cerrada, em posição lateral negativa.
39
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

2. Faz preparação à frente (a). 2. Faz preparação atrás (b).

a) PREPARAÇÃO À FRENTE b) PREPARAÇÃO ATRÁS

Tempo 1 - Avança a perna direita virando Tempo 1 - Recua a perna esquerda


o corpo no sentido anti-horário e pisa virando o corpo no sentido anti-horário e
transferindo o peso para essa perna (o pisa transferindo o peso para essa perna
corpo deverá ter feito uma rotação de 90° (o corpo deverá ter feito uma rotação de
assumindo a postura paralela). 90° assumindo a postura paralela).
Tempo 2 - Transfere o peso para a perna Tempo 2 - Transfere o peso para a perna
esquerda. direita.

SAÍDA AO LADO E RETORNO______________________________________________

A partir de uma posição frontal, o líder executa a manobra da saída ao lado para
possibilitar a migração para uma posição lateral, enquanto que o retorno visa
retornar de uma posição lateral a uma posição frontal. 


Por padrão, mas não necessariamente obrigatório, no bolero a saída ao lado e


retorno é função do cavalheiro, enquanto que no samba esse papel cabe à dama.
No primeiro caso ele se dá quando o cavalheiro recua durante o básico, e no
segundo ele se dá no avanço da dama. Os dois movimentos serão demonstrados
separadamente no formato padrão, durante a execução do básico frente/atrás,
mas figuras podem ser improvisadas segundo a criatividade e conveniência do
casal.

Rotina 6.6 - Saída ao Lado e Retorno por Trás


PROPONENTE 👉 PAR

1. Transição em Tesoura na posição 1. Transição em Tesoura na posição


frontal. frontal.
2. Faz a saída ao lado (a). 2. Continua executando o seu passo sem
alteração.
3. Faz o retorno (b). 3. Continua executando o seu passo sem
alteração.
4. Continua executando o seu passo sem 4. Continua executando o seu passo sem
alteração. alteração.

a) SAÍDA AO LADO b) RETORNO

40
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Tempo 1 - Recua a perna direita cruzando Tempo 1 - Avança a perna esquerda e


por trás e pisa transferindo o peso para pisa à frente do par transferindo o peso
essa perna. para essa perna.
Tempo 2 - Desloca a perna esquerda Tempo 2 - Desloca a perna direita
lateralmente, pisa e transfere o peso para lateralmente, pisa e transfere o peso para
essa perna. essa perna.

Rotina 6.7 - Saída ao Lado e Retorno pela Frente


A B

PROPONENTE 👉 PAR

1. Transição em Tesoura na posição 1. Transição em Tesoura na posição


frontal. frontal.
2. Recua conduzindo o par para para a 2. Faz a saída ao lado (a).
saída ao lado.
3. Transição em Tesoura na posição 3. Transição em Tesoura na posição
frontal lateral. frontal lateral.
4. Avança conduzindo o par para para o 4. Faz o retorno (b).
retorno.

a) SAÍDA AO LADO b) RETORNO

Tempo 1 - Avança a perna esquerda Tempo 1 - Recua a perna direita abrindo


abrindo em diagonal e pisa transferindo o em diagonal e pisa transferindo o peso
peso para essa perna. para essa perna.
Tempo 2 - Junta o pé direito ao pé Tempo 2 - Cruza a perna esquerda pela
esquerdo, pisa e transfere o peso para a frente, pisa e transfere o peso para essa
perna direita. perna.

41
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE III

PASSOS BÁSICOS ESTACIONÁRIOS

42
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 7

PASSOS BÁSICOS ESTACIONÁRIOS

Os passos ditos estacionários têm como característica a execução em torno de um centro


comum, em um movimento repetitivo, sem prejudicar a sua mobilidade no espaço
disponível, que entretanto fica limitada. É permitido pois, ao casal, mediante alterações na
direção do movimento ou na amplitude de abertura das pernas, evoluir livremente na
pista. Este é um movimento linear

Todos os movimentos deste e dos próximos capítulos serão descritos em quatro tempos
cada fase, salvo indicação em contrário, podendo entretanto serem alterados para outras
durações, logo o praticante tenha adquirido a expertise necessária para fazê-lo.

Neste capítulo demonstraremos os passos estacionários, constituído por três passos


básicos simples, no seu formato e métrica padronizados. Variações são permitidas na
medida em que os praticantes o façam com segurança.

Básico lateral ou chassé 17.


Básico frente/atrás.


Cruzado.


BÁSICO LATERAL OU “CHASSÉ”

O chassé é mais conhecido como “dois-prá-lá”. É um movimento linear retilíneo


ou curvilíneo, constituído por duas aberturas laterais alternadas no eixo
transversal, ora para a direita ora para a esquerda, conforme esquema a seguir.

Rotina 7.1 - Básico Lateral (Chassé)


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa o chassé à esquerda (a). 2. Executa o chassé à direita (b).
3. Executa o chassé à direita (b). 3. Executa o chassé à esquerda (a).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

17 Pronuncia-se “chassê”.
43
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

a) CHASSÉ À ESQUERDA b) CHASSÉ À DIREITA

Tempo 1 - Abre lateralmente a perna Tempo 1 - Abre lateralmente a perna


esquerda e pisa transferindo o peso para direita e pisa transferindo o peso para
essa perna. essa perna.
Tempo 2 - Junta o pé direito ao pé Tempo 2 - Junta o pé esquerdo ao pé
esquerdo, transferindo o peso para a direito transferindo o peso para a perna
perna direita. esquerda.
Tempo 3 - Repete o movimento do tempo Tempo 3 - Repete o movimento do tempo
1. 1.
Tempo 4 - Junta o pé direito ao pé Tempo 4 - Junta o pé esquerdo ao pé
esquerdo, mantendo o peso na perna direito, mantendo o peso na perna direita.
esquerda.

BÁSICO FRENTE/ATRÁS

O Básico Frente/Atrás é um movimento linear retilíneo ou curvilíneo, no eixo-


ântero-posterior, ora avançando ora recuando, sempre voltando ao ponto inicial.
O avanço sempre se dará com a perna esquerda. O pé esquerdo, após pisar à
frente, volta retornando à sua posição original. Por sua vez o recuo sempre se
dará com a perna direita. O pé direito, após pisar atrás, volta retornando à sua
posição original. Em suma, na saída ou na mudança do sentido do movimento, o
casal deverá passar por uma tesoura. O básico frente/atrás pode ser executado
encontrando-se o casal em uma posição frontal ou em uma posição frontal lateral.

Rotina 7.2 - Básico Frente/Atrás


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa o vai-e-vem pela frente (a). 2. Executa o vai-e-vem por trás (b).
3. Executa o vai-e-vem por trás (b). 3. Executa o vai-e-vem pela frente (a).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) VAI-e-VEM PELA FRENTE b) VAI-e-VEM POR TRÁS

Tempo 1 - Avança a perna esquerda e Tempo 1 - Recua a perna direita e pisa


pisa transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.

44
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Tempo 2 - Transfere o peso para a perna Tempo 2 - Transfere o peso para a perna
direita, e inicia o recuo da perna esquerda. esquerda, e inicia o avanço da perna
direita.
Tempo 3 - Recua a perna esquerda e pisa Tempo 3 - Avança a perna direita e pisa
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 4 - Pausa e inicia recuo da perna Tempo 4 - Pausa e inicia avanço da perna
direita visando pisar no tempo 1 de (b). esquerda visando pisar no tempo 1 de
(a).

CRUZADO ____________

O básico “cruzado” padrão se faz lateralmente, no eixo transversal, cruzando cada


perna pela frente ou por trás, alternadamente, fazendo uma pequena torção no
tronco visando mantê-los sempre voltados um para o outro. No Bolero, Salsa em
Linha e Soltinho, apenas para citar alguns exemplos, existe uma variação desse
passo que é um movimento composto denominado PVV, o qual demonstraremos
no capítulo próprio.

Rotina 7.3 - Cruzado


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa o cruzado à esquerda (a). 2. Executa o cruzado à direita (b).
3. Executa o cruzado à direita (b). 3. Executa o cruzado à esquerda (a).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) CRUZADO À ESQUERDA b) CRUZADO À DIREITA

Tempo 1 - Abre lateralmente a perna Tempo 1 - Abre lateralmente a perna


esquerda e pisa transferindo o peso para direita e pisa transferindo o peso para
essa perna. essa perna.
Tempo 2 - Sem sair do lugar, transfere o Tempo 2 - Sem sair do lugar, transfere o
peso para a perna direita. peso para a perna esquerda.

45
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Tempo 3 - Cruza a perna esquerda pela Tempo 3 - Cruza a perna direita por trás
frente (ou por trás), pisa e transfere o peso (ou pela frente), pisa e transfere o peso
para essa perna. para essa perna.
Tempo 4 - Pausa e inicia deslocamento Tempo 4 - Pausa e inicia deslocamento
da perna direita lateralmente para pisar no da perna esquerda lateralmente para pisar
tempo 1 de (b). no tempo 1 de (a).

46
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE IV

PASSOS BÁSICOS PROGRESSIVOS


47
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 8

PASSOS BÁSICOS PROGRESSIVOS

Os passos progressivos não têm limitação de movimento, salvo que sua evolução deve
se dar preferencialmente no sentido da ronda. Esse é um movimento que pode ser feito
em todo o espaço da pista, no sentido anti-horário. Uma boa referência individual é que,
para quem avança, o lado esquerdo de seu corpo deverá estar voltado para o centro do
salão. Para quem recua, por sua vez, é o seu lado direito que deverá estar voltado para o
centro.

Neste capítulo demonstraremos os seguintes passos progressivos:

Caminhada.


Trocadilho.


Leque.

CAMINHADA_____________________________________________________________

A caminhada é um movimento linear retilíneo ou curvilíneo, no eixo ântero-


posterior, sempre em progressão. Pode ser realizada em uma posição frontal ou
na posição frontal lateral positiva ou negativa. Há uma variação desse passo,
conhecida como “corte liso”, em que o condutor, saindo de uma posição lateral,
caminha em diagonal com relação ao par, alternando ora pela direita, ora pela
esquerda.

Rotina 8.1 - Caminhada


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa caminhada à frente l (a). 2. Executa caminhada atrás l (b).
3. Executa caminhada à frente ll (c). 3. Executa caminhada atrás ll (d).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) CAMINHADA À FRENTE l b) CAMINHADA ATRÁS l

48
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Tempo 1 - Avança a perna esquerda e Tempo 1 - Recua a perna direita e pisa


pisa transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 2 - Avança a perna direita e pisa Tempo 2 - Recua a perna esquerda e pisa
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 3 - Repete Tempo 1. Tempo 3 - Repete Tempo 1.
Tempo 4 - Pausa e inicia avanço da perna Tempo 4 - Pausa e inicia recuo da perna
direita visando pisar no tempo 1 de (c). esquerda visando pisar tempo 1 de (d).

c) CAMINHADA À FRENTE ll d) CAMINHADA ATRÁS ll

Tempo 1 - Avança a perna direita e pisa Tempo 1 - Recua a perna esquerda e pisa
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 2 - Avança a perna esquerda e Tempo 2 - Recua a perna direita e pisa
pisa transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 3 - Repete Tempo 1. Tempo 3 - Repete Tempo 1.
Tempo 4 - Pausa e inicia avanço da perna Tempo 4 - Pausa e inicia recuo da perna
esquerda visando pisar no tempo 1 de (a). direita visando pisar no tempo 1 de (b).

TROCADILHO____________________________________________________________

O trocadilho é um movimento linear retilíneo ou curvilíneo, executado no eixo


transversal, sempre em progressão. Consiste em se executar cruzados
alternados pela frente e por trás em movimentos contínuos de um tempo cada,
fechando um ciclo dentro de um compasso de quatro tempos. Neste movimento
uma das pernas executa cruzados pela frente e por trás em movimento pendular,
alternando com aberturas laterais executadas pela outra perna que atua como
pivô. A direção do movimento é sempre no sentido contrário ao da perna que faz
o movimento pendular.

Este passo propicia uma variedade de figuras constituídas por movimentos


mistos, tanto em relação paralela quanto em relação cruzada.

O trocadilho é largamente utilizado em passos compostos em uma configuração e


métrica alterados, e isso será demonstrado na seção própria dos passos
compostos.

Rotina 8.2 - Trocadilho


PROPONENTE 👉 PAR

49
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em abertura lateral ou 1. Transição em abertura lateral ou


tesoura. tesoura.
2. Executa trocadilho com direita (a). 2. Executa trocadilho com esquerda (b).
3. Repete a partir do item 2. 3. Repete a partir do item 2.
3. Repete a partir do item 2.

a) TROCADILHO COM DIREITA b) TROCADILHO COM ESQUERDA

Tempo 1 - Cruza a perna direita por trás Tempo 1 - Cruza a perna esquerda pela
(ou pela frente), pisa e transfere o peso frente (ou por trás), pisa e transfere o peso
para essa perna. para essa perna.
Tempo 2 - Abre lateralmente a perna Tempo 2 - Abre lateralmente a perna
esquerda e pisa transferindo o peso para direita e pisa transferindo o peso para
essa perna. essa perna.
Tempo 3 - Cruza a perna direita pela Tempo 3 - Cruza a perna esquerda por
frente (ou por trás), pisa e transfere o peso trás (ou pela frente), pisa e transfere o
para essa perna. peso para essa perna.
Tempo 4 - Repete a abertura do Tempo 2. Tempo 4 - Repete a abertura do Tempo 2.

LEQUE__________________________________________________________________

O leque é um movimento linear retilíneo ou curvilíneo, executado no eixo ântero-


posterior, em progressão. No leque o casal se coloca em posição simétrica,
ombro a ombro, abraço aberto, em uma relação cruzada de pernas. É o único
passo básico que exige, por padrão, uma relação cruzada de pernas.

Tecnicamente o leque corresponde a um balanço lateral em progressão. Cada


movimento tem a duração de dois tempos (binário) e cada ciclo corresponde a um
compasso quaternário.

A exemplo do trocadilho, o leque apresenta muitas variações e combinações. O


passo exige uma preparação em que um dos pares executa um coupé. Essas
manobras possibilitam a passagem da relação paralela para a relação cruzada e
o retorno à relação paralela. Nas rotinas seguintes demonstraremos apenas uma
versão simplificada de entrada e saída, apesar de haver muitas outras opções.

50
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Este passo pode ser executado tanto em uma relação simétrica positiva quanto
negativa.

Rotina 8.4 - Leque


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura. 1. Transição em tesoura.


2. Executa preparação (a). 2. Executa preparação (b).
3. Executa leque (c) 3. Executa leque (d)
4. Repete a partir do item 3. 4. Repete a partir do item 3.
5. Executa saída (e) 5. Executa saída (f).

a) PREPARAÇÃO b) PREPARAÇÃO

Tempos 1 e 2 - Recua a perna direita e


Tempos 1 e 2 - Executa tempos 1 e 2 do
pisa transferindo o peso para essa perna.
PVV pela frente no sentido horário (Rotina
Aguarda 1 tempo mantendo o peso na
6.5.a, pág. 28).
perna direita.

c) LEQUE d) LEQUE

Tempo 1 - Abre lateralmente a perna Tempos 1 - Abre lateralmente a perna


esquerda avançando e fazendo esquerda avançando e fazendo
movimento semicircular rente ao solo e movimento semicircular rente ao solo á
pisa transferindo o peso para essa perna. frente da perna direita do par e pisa
transferindo o peso para essa perna.
Tempo 2 - Junta o pé direito ao pé Tempo 2 - Idêntico ao tempo 2 do líder.
esquerdo, mantendo o peso na perna
esquerda.
Tempo 3 - Abre lateralmente a perna Tempo 3 - Abre lateralmente a perna
direita avançando e fazendo movimento direita avançando e fazendo movimento
semicircular rente ao solo á frente da semicircular rente ao solo e pisa
perna esquerda do par e pisa transferindo transferindo o peso para essa perna.
o peso para essa perna.
Tempo 4 - Junta o pé esquerdo ao pé Tempo 4 - Idêntico ao tempo 4 do líder.
direito, mantendo o peso na perna direita.

51
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

e) SAÍDA f) SAIDA

Tempos 1 e 2 - Avança a perna esquerda Tempos 1 a 4 - Executa trocadilho pela


e pisa transferindo o peso para essa frente no sentido anti-horário (Rotina 7.3.b
perna. pág. 32).

Tempos 3 e 4 - Avança a perna direita e


pisa transferindo o peso para essa perna.

52
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE V

MOVIMENTOS ANGULARES


53
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 9

GIROS

Os giros oferecem uma vasta gama de possibilidades. Podem ser executados


simultaneamente pelo par ou isoladamente, em deslocamento horizontal (progressivo) ou
no lugar (estacionário), no eixo com apenas uma perna (eixo único) ou ambas (eixo
duplo), nos sentidos horário ou anti-horário, e por dentro ou por fora quanto à direção com
relação ao par. Juntamente com os passos básicos podem gerar uma infinidade de
passos compostos.

Neste capítulo demonstraremos os seguintes giros

Esse ou oito.


Giro marcado.


Torção.


Giro em debulê.


Estaremos demonstrando esses giros ora como passos ora como movimentos
independentes, procurando cobrir todas as possibilidades de execução.

ESSE OU OITO___________________________________________________________

O giro no eixo único é denominado “esse” ou “oito”. Pode ser executado com uma
perna ou outra, a partir de uma tesoura ou tesoura invertida, no sentido horário ou
anti-horário. É um movimento binário.

Rotina 9.1 - Esse ou Oito


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura. 1. Transição em tesoura.


2. Executa o esse pela frente no sentido 2. Executa o esse por trás no sentido
horário (a). horário (b).
3. Executa o esse pela frente no sentido 3. Executa o esse por trás no sentido anti-
anti-horário (c). horário (d).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

54
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

a) ESSE PELA FRENTE NO SENTIDO HORÁRIO b) ESSE POR TRÁS NO SENTIDO HORÁRIO

Tempos 1 e 2 - Avança a perna esquerda Tempos 1 e 2 - Recua a perna direita e


e junta o pé esquerdo ao pé direito, junta o pé direito ao pé esquerdo, virando
virando no sentido horário, e pisa à frente no sentido horário, e pisa atrás
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.

c) ESSE PELA FRENTE NO SENTIDO ANTI- d) ESSE POR TRÁS NO SENTIDO ANTI-
HORÁRIO HORÁRIO

Tempos 1 e 2 - Avança a perna direita e Tempos 1 e 2 - Recua a perna esquerda


junta o pé direito ao pé esquerdo, virando e junta o pé esquerdo ao pé direito,
no sentido anti-horário, e pisa à frente virando no sentido anti-horário, e pisa
transferindo o peso para essa perna. atrás transferindo o peso para essa perna.

GIRO MARCADO_________________________________________________________

O giro marcado é um giro de eixo duplo, que se faz marcando no lugar. A rigor não
necessitaria de um esquema, pela sua simplicidade, mas o faremos por questões
metodológicas. Executa-se torcendo uma perna no sentido horário ou anti-horário,
e pisando com a outra, alternadamente, a partir de uma transição em postura
cerrada, podendo executá-lo em métricas variadas, isto é, em “tempo”, “con-tra-
tempo” ou “con-trá” , permitindo o giro do corpo no lugar em amplitudes livres.

Rotina 9.2 - Giro Marcado


a) GIRO MARCADO COM ESQUERDA b) GIRO MARCADO COM DIREITA

Transição em postura cerrada, peso na Transição em postura cerrada, peso na


perna direita. perna esquerda.
Tempos 1 e 3 - Faz torção com a perna Tempos 1 e 3 - Faz torção com a perna
direita no sentido horário (anti-horário), e esquerda no sentido horário (anti-horário),
pisa com o pé esquerdo transferindo o e pisa com o pé direito transferindo o peso
peso para a perna esquerda. para a perna direita.
Tempos 2 e 4 - Faz torção com a perna Tempos 2 e 4 - Faz torção com a perna
esquerda no sentido horário (anti-horário), direita no sentido horário (anti-horário), e
e pisa com o pé direito transferindo o peso pisa com o pé esquerdo transferindo o
para a perna direita. peso para a perna esquerda.

55
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

TORÇÃO__________________________________________________________

Consiste em fazer uma rotação com o tronco, sem retirar os pés do lugar, no
sentido horário ou anti-horário, o que implica em entrelaçar as pernas ou
desenlaçá-las. É um movimento que pode ser executado com métricas variadas. 


Para melhor assimilação do conceito recomenda-se consultar o tópico Transição


“en dedans“ ou “en dehors” no Capítulo l - Posturas de Transição, pág. 8. As
torções podem ser realizadas com ambas as pernas, simultaneamente, ou com
apenas a perna sem peso, direcionando os pés no sentido desejado.

O esquema irá demonstrar como, saindo de uma abertura lateral, faz-se o


entrelaçamento das pernas nos sentidos horário e anti-horário, alcançando-se um
arco de até 180°. Ao desenlaçar pode-se alcançar um arco de até 360°.

Rotina 9.3 - Torção


a) HORÁRIA/ANTI-HORÁRIA b) ANTI-HORÁRIA/HORÁRIA

Transição em abertura lateral paralela. Transição em abertura lateral paralela.


Tempos 1 a 4 - Faz torção de 180º no Tempos 1 a 4 - Faz torção de 180º no
sentido horário. Conclui em uma postura sentido anti-horário. Conclui em uma
entrelaçada (cruzada), perna direita pela postura entrelaçada (cruzada), perna
frente, peso distribuído em ambas as esquerda pela frente, peso distribuído em
pernas. ambas as pernas.
Tempos 1 a 4 - Faz torção de 360º no Tempos 1 a 4 - Faz torção de 360º no
sentido anti-horário. Conclui em uma sentido horário. Conclui em uma postura
postura entrelaçada (cruzada), perna entrelaçada (cruzada), perna direita pela
esquerda pela frente, peso distribuído em frente, peso distribuído em ambas as
ambas as pernas. pernas.

GIRO EM DEBULÊ ________________________________________________________

O giro em debulê é um movimento misto, ou seja, combina o deslocamento linear


retilíneo ou curvilíneo com o movimento de rotação tendo uma das pernas como
eixo. Ele consiste em girar o corpo em bloco, fazendo deslocamento livre em
determinada direção. A rotação poderá ser feita no sentido horário ou anti-horário,
girando pela frente ou por trás.

56
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Rotina 9.4 - Giro em Debulê


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em abertura paralela. 1. Transição em abertura paralela.


2. Executa giro à esquerda sentido horário 2. Executa giro à direita sentido horário
(a). (b).
3. Executa giro à direita sentido anti- Executa giro à esquerda sentido anti-
horário (c). horário (d).

a) À ESQUERDA SENTIDO HORÁRIO b) À DIREITA SENTIDO HORÁRIO

Tempos 1 e 2 - Recua a perna direita Tempos 1 e 2 - Avança a perna esquerda


virando no sentido horário, e pisa com o virando no sentido horário, e pisa
pé direito transferindo o peso para a perna transferindo o peso para a perna
direita. O corpo deverá ter feito uma esquerda. O corpo deverá ter feito uma
rotação de 180°. rotação de 180°.
Tempos 3 e 4 - Avança a perna esquerda Tempos 3 e 4 - Recua a perna direita
virando no sentido horário, e pisa com o virando no sentido horário, e pisa com o
pé esquerdo distribuindo o peso em pé direito distribuindo o peso em ambas
ambas as pernas. O corpo deverá ter as pernas. O corpo deverá ter completado
completado um giro de 360°. um giro de 360°.

c) À DIREITA SENTIDO ANTI-HORÁRIO d) À ESQUERDA SENTIDO ANTI-HORÁRIO

Tempos 1 e 2 - Recua a perna esquerda Tempos 1 e 2 - Avança a perna direita


virando no sentido anti-horário, e pisa com virando no sentido anti-horário, e pisa com
o pé esquerdo transferindo o peso para a o pé direito transferindo o peso para a
perna esquerda. O corpo deverá ter feito perna direita. O corpo deverá ter feito uma
uma rotação de 180°. rotação de 180°.
Tempos 3 e 4 - Avança a perna direita Tempos 3 e 4 - Recua a perna esquerda
virando no sentido anti-horário, e pisa com virando no sentido anti-horário, e pisa com
o pé direito distribuindo o peso em ambas o pé esquerdo distribuindo o peso em
as pernas. O corpo deverá ter completado ambas as pernas. O corpo deverá ter
um giro de 360°. completado um giro de 360°.

57
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PARTE VI

MOVIMENTOS COMPOSTOS 


58
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

CAPÍTULO 10

PASSOS COMPOSTOS COM GIROS

A partir deste capítulo iniciaremos a demonstração de passos compostos. Como eles são
compostos pelos passos básicos e giros, já demonstrados, as rotinas seguintes serão
disponibilizados em sua forma sintética, apenas fazendo referência aos movimentos já
descritos nas figuras anteriores. Os passos compostos combinam movimentos diferentes
entre o líder e o par, executados entretanto de forma complementar.

Neste capítulo demonstraremos como combinar os giros com outros movimentos básicos,
nas formas mais usuais. Outras combinações podem e devem ser construídas, gerando
as mais diversas coreografias, ao bel prazer de cada um.

Quando executados a dois, os giros são classificados segundo a trajetória da perna sem
peso que executa o movimento livre. Considere uma linha imaginária existente entre os
pares, ao longo da qual eles evoluem. Podemos então assim classificá-los em:

Giro por dentro - Quando a perna leve se desloca na direção da linha imaginária.
Logo, na direção ao par.


Giro por fora - Quando a perna leve se desloca na direção oposta à linha imaginária.
Ou seja, afastando-se do par.

Neste capítulo estaremos demonstrando os seguintes passos compostos por giros:

Cruzado com PVV.

Trocadilho com torção em contratempo.

Giro por dentro.


Giro por fora.


Giro em diagonal.

CRUZADO COM PVV ___

Este passo é uma variação do cruzado, envolvendo torções. Ele é composto por
uma preparação, uma torção do corpo no sentido horário ou anti-horário, e um
avanço ou recuo da perna que está sem peso. Por questões de praticidade
estamos reproduzindo nos esquemas abaixo as preparações.

A sigla PVV é um recurso mnemônico para a expressão “Pisou-Virou-Voltou” que


auxilia nos treinos desse cruzado. Como a expressão sugere, trata-se de pisar à

59
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

frente ou atrás, com uma determinada perna, virar o corpo mediante torção18 do
tronco no sentido horário ou anti-horário, e voltar com a mesma perna no sentido
oposto ao deslocamento anterior, ficando a outra perna no lugar atuando como
base ou pivô. Ele implica em mudança de direção sem mudança de lugar, mas
inverte a postura de transição, ou seja, em cada fase ele passa de uma tesoura
para uma tesoura invertida e vice-versa.

Este passo pode ser executado com mudanças de direção discretas ou mais
acentuadas, podendo até girar tantas vezes quanto se queira, mantendo fixa a
perna que atua como base. As rotinas seguintes demonstram movimentos de até
180 graus.

Rotina 10.1 - Cruzado com PVV


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura ou cerrada. 1. Transição em tesoura ou cerrada.


2. Executa o PVV pela frente no sentido 2. Executa o PVV por trás no sentido
horário (a). horário (b).
3. Executa o PVV pela frente no sentido 3. Executa o PVV por trás no sentido anti-
anti-horário (c). horário (d).
4. Repete a partir do item 2. 4. Repete a partir do item 2.

a) PVV PELA FRENTE SENTIDO HORÁRIO b) PVV POR TRÁS SENTIDO HORÁRIO

Tempo 1 - Avança a perna esquerda Tempo 1 - Recua a perna direita virando o


virando o corpo no sentido horário e pisa corpo no sentido horário e pisa
transferindo o peso para essa perna (o transferindo o peso para essa perna (o
corpo deverá ter feito uma rotação de 90° corpo deverá ter feito uma rotação de 90°
assumindo a postura paralela). assumindo a postura paralela).
Tempo 2 - Mantendo os pés no lugar, faz Tempo 2 - Mantendo os pés no lugar, faz
torção de 90° com o tronco no sentido torção de 90° com o tronco no sentido
horário, virando os pés na mesma direção, horário, virando os pés na mesma direção,
e transfere o peso para a perna direita. e transfere o peso para a perna esquerda.

18Recomenda-se consultar o tópico Transição “en dedans“ ou “en dehors” no Capítulo l -


Posturas de Transição, pág. 8. As torções podem ser realizadas com ambas as pernas,
simultaneamente, ou com apenas uma perna, direcionando os pés no sentido desejado.

60
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

Tempo 3 - Avança a perna esquerda e Tempo 3 - Recua a perna direita e pisa


pisa transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna..
(Conclui-se em tesoura invertida em (Conclui-se em tesoura invertida em
posição lateral negativa, tendo o corpo posição lateral negativa, tendo o corpo
completado um giro de 180° em relação à completado um giro de 180° em relação à
posição inicial). posição inicial).
Tempo 4 - Pausa e inicia avanço da perna Tempo 4 - Pausa e inicia recuo da perna
direita visando pisar no tempo 1 de (c). esquerda visando pisar tempo 1 de (d).

c) PVV PELA FRENTE SENTIDO ANTI-HORÁRIO d) PVV POR TRÁS SENTIDO ANTI-HORÁRIO

Tempo 1 - Avança a perna direita virando Tempo 1 - Recua a perna esquerda


o corpo no sentido anti-horário e pisa virando o corpo no sentido anti-horário e
transferindo o peso para essa perna (o pisa transferindo o peso para essa perna
corpo deverá ter feito uma rotação de 90° (o corpo deverá ter feito uma rotação de
assumindo a postura paralela). 90° assumindo a postura paralela).
Tempo 2 - Mantendo os pés no lugar, faz Tempo 2 - Mantendo os pés no lugar, faz
torção de 90° com o tronco no sentido torção de 90° com o tronco no sentido
anti-horário, virando os pés na mesma anti-horário, virando os pés na mesma
direção, e transfere o peso para a perna direção, e transfere o peso para a perna
esquerda. direita.
Tempo 3 - Avança a perna direita e pisa Tempo 3 - Recua a perna esquerda e pisa
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
(Conclui-se em tesoura, tendo o corpo (Conclui-se em tesoura, tendo o corpo
retornado à posição inicial). retornado à posição inicial).
Tempo 4 - Pausa e inicia avanço da perna Tempo 4 - Pausa e inicia recuo da perna
esquerda visando pisar no tempo 1 de (a). direita visando pisar tempo 1 de (b).

TROCADILHO COMPOSTO EM CONTRATEMPO19_____________________________

Esta é uma variação clássica do trocadilho. Trata-se de um passo composto por


cruzados e torções, que se combina com uma grande variedade de outros
passos.

Rotina 10.2 - Trocadilho Composto em Contratempo


PROPONENTE 👉 PAR

19Recomenda-se consultar o tópico Transição “en dedans“ ou “en dehors” no Capítulo l -


Posturas de Transição, pág. 8. As torções podem ser realizadas com ambas as pernas,
simultaneamente, ou com apenas uma perna, direcionando os pés no sentido desejado.

61
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

PAR 👈 PROPONENTE

1. Transição em tesoura (rotinas a e b) ou 1. Transição em tesoura (rotinas a e b) ou


tesoura invertida (rotinas c e d), na tesoura invertida (rotinas c e d), na
posição frontal, lateral, cerrada ou em posição frontal, lateral, cerrada ou em
abertura paralela. abertura paralela.
2. Execução do trocadilho por trás no 2. Execução do trocadilho pela frente no
sentido anti-horário (a). sentido anti-horário (b).
3. Execução do trocadilho por trás no 3. Execução do trocadilho pela frente no
sentido horário (c). sentido horário (d).

a) TROCADILHO POR TRÁS NO SENTIDO ANTI- b) TROCADILHO PELA FRENTE NO SENTIDO


HORÁRIO (TESOURA) ANTI-HORÁRIO (TESOURA)

Tempo 1 - Recua a perna direita fazendo Tempo 1 - Avança a perna esquerda


torção anti-horária com a esquerda, pisa e fazendo torção anti-horária com a direita,
transfere o peso para essa perna. pisa e transfere o peso para essa perna.
Tempo 2 - Abre lateralmente a perna Tempo 2 - Abre lateralmente a perna
esquerda e pisa na direção desejada, direita e pisa na direção desejada,
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 3 - Avança a perna direita e pisa Tempo 3 - Recua a perna esquerda e pisa
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 4 - Pausa e prepara para outro Tempo 4 - Pausa e prepara para outro
movimento. movimento.

c) TROCADILHO POR TRÁS NO SENTIDO d) TROCADILHO PELA FRENTE NO SENTIDO


HORÁRIO (TESOURA INVERTIDA) HORÁRIO (TESOURA INVERTIDA)

Tempo 1 - Recua a perna esquerda Tempo 1 - Avança a perna direita fazendo


fazendo torção horária com a direita, pisa torção horária com a esquerda, pisa e
e transfere o peso para essa perna. transfere o peso para essa perna.
Tempo 2 - Abre lateralmente a perna Tempo 2 - Abre lateralmente a perna
direita e pisa na direção desejada, esquerda e pisa na direção desejada,
transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 3 - Avança a perna esquerda e Tempo 3 - Recua a perna direita e pisa
pisa transferindo o peso para essa perna. transferindo o peso para essa perna.
Tempo 4 - Pausa e prepara para outro Tempo 4 - Pausa e prepara para outro
movimento. movimento.

62
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

GIRO POR DENTRO_______________________________________________________

Como já foi definido, o giro por dentro se dá quando a perna leve se desloca na direção
de uma linha imaginária localizado entre os pares. O esquema demonstra essa sequência
em seu formato básico.

Rotina 10.3 - Giro por Dentro


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Faz preparação horária com direita 1. Faz preparação horária com esquerda
(Rotina 5.4.b, pág. 19). (Rotina 5.4.a, pág. 19).
2. Executa trocadilho por trás no sentido 2. Executa giro em debulê à direita em
anti-horário (Rotina 7.3.a, pág.32). sentido horário (Rotina 8.4.b, pág. 40).
3. Prepara para movimento seguinte. 3. Prepara para movimento seguinte.

GIRO POR POR FORA_____________________________________________________

Rotina 10.4 - Giro por Fora


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Faz preparação horária com direita 1. Faz preparação horária com esquerda
(Rotina 5.4.b, pág. 19). (Rotina 5.4.a, pág. 19).
2. Executa caminhada à frente ll (Rotina 2. Executa giro em debulê à direita em
7.1.c, pág.32). sentido anti-horário (Rotina 8.4.c, pág. 40).
3. Prepara para movimento seguinte. 3. Prepara para movimento seguinte.

63
ANATOMIA DA DANÇA DE SALÃO

GIRO EM DIAGONAL______________________________________________________

Rotina 10.5 - Giro de Cinco (em diagonal)


PROPONENTE 👉 PAR

PAR 👈 PROPONENTE

1. Faz preparação horária com direita 1. Faz preparação horária com esquerda
(Rotina 5.4.b, pág. 19). (Rotina 5.4.a, pág. 19).
2. Executa tempos 1 e 2 do trocadilho por 2. Executa tempos 1 e 2 do trocadilho pela
trás sentido anti-horário (Rotina 7.3.a, pág. frente com esquerda (Rotina 7.2.b, pág.
32). 32 ).
3. Executa caminhada à frente ll (Rotina 3. Executa giro em debulê à direita em
7.1.c, pág.32). sentido anti-horário (Rotina 8.4.c, pág. 40).
3. Prepara para movimento seguinte. 3. Prepara para movimento seguinte.

TRANSPORTES

PLATAFORMAS

LEMBRETES

Freio - Ato de interromper bruscamente um movimento, alterando a sua trajetória. É


geralmente executado a partir de uma pausa. É também denominado de Trava ou
Bloqueio.

Características associadas ao freio tomadas em conjunto: interrompe bruscamente o


movimento, ou seja, altera a trajetória dos dançarinos; é executado durante a pausa ou
quarto tempo do compasso; sai com a mesma perna que tocou o solo por último; exerce
com o pé uma força sobre o solo, empurrando no sentido contrário ao movimento
originário.

Rotina da base do soltinho: Balanço frontal seguido de chassé.


Métrica padrão do soltinho:

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