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Resenhas de Traduções 271

Pelo contrário, há uma complicação semiótica aplicada que está presente


crescente, em se tratando desta tanto nos estudos culturais, em
questão, afetando problemas de comunicação ou na literatura quanto
representação, interpretação, em lingüística (aplicada ou não) e
escritura, etc. que parece não se comprometer com
um, diríamos, Peirce integral. Isto
7. Ver Debrock & Hulswit (1994)
é, que pensa sua semiótica como
em que pode-se encontrar várias
sistema de elementos para se refletir
referências à filosofia da mente de
epistemo-logicamente (Apel, 2000) e,
Peirce.
além disto, entender o pragmatismo
8. Ver "Logic, Mind and Reality: peirceano como uma ontologia
Early Thoughts". (p. 15-40) fenomenalista (Lorenz, 1994).
9. Pensamos, sobretudo, em uma Rodrigo Borges de Faveri
certa tradição de estudos em UFSC

De livros completos de Blake


em português brasileiro, estavam
Canções da Inocência e da
publicados somente O Matrimô-
Experiência – Revelando os dois
nio/Núpcias do Céu e do Inferno,
estados opostos da alma humana
O Livro de Thel, Todas as Religi-
de William Blake. Tradução de
ões são Uma Única. Depois tínha-
Mário Alves Coutinho & Leonardo
mos excertos do Matrimônio, se-
Gonçalves. Belo Horizonte:
leções, algumas peças esparsas das
Crisálida, 2005, 147 pp.
Canções, as mais populares, pro-
jetos isolados de tradutores. Can-
ções da Inocência e da Experiên-
A obra de William Blake (1757- cia – Revelando os dois estados
1827) é idiossincrática do início opostos da alma humana, tradu-
ao fim; não há nada parecido no ção de Mário Alves Coutinho &
nosso sistema literário, e a quanti- Leonardo Gonçalves (Fale/
dade de traduções que vêm che- UFMG) sob encomenda da edito-
gando parecem refletir um interes- ra Crisálida, é a primeira versão
se crescente pela sua poesia em brasileira integral, em meio im-
nossa língua. presso, de The Songs of Innocence
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and The Songs of Experience, o «Inferno», de que «bem» e «mal»


como publicados em 1794, unidos são noções incompatíveis. Como
numa mesma edição, com o subtí- diz em The Marriage of Heaven
tulo «Shewing the Two Contrary and Hell:
States of the Human Soul». Todas as Bíblias ou códigos
O livro The Songs of Innocence sagrados têm sido as causas dos
and The Songs of Experience aju- seguintes Erros:
da a traçar o eixo da impressio- 1.Que o Homem possui dois
nante simbologia da que se consi- princípios reais de existência:
dera a segunda fase do autor, na um Corpo & uma Alma.
qual ele empreende a gravação de
uma série de poemas longos, com 2.Que a Energia, denominada
um aparelho mitológico próprio. Mal, provém apenas do
É talvez esta a razão de os poemas Corpo; & que a Razão,
denominada Bem, provém
desta segunda fase ainda não te-
apenas da Alma.
rem sido traduzidos no Brasil –
além de serem textos muito obs- 3.Que Deus atormentará o
curos, a tradução de qualquer de- Homem pela Eternidade por
les praticamente exige a tradução seguir suas Energias.
de todos, pois funcionam mal se- Mas os seguintes Contrários
paradamente. As Canções são, de são Verdadeiros:
fato, um caso à parte: é possível
apreciá-las separadas da obra com- 1.O Homem não tem um
pleta do autor. Corpo distinto de sua Alma,
pois o que se denomina Corpo
Influenciado inicialmente pelos
é uma parcela da Alma,
escritos de Swedenborg, depois por
discernida pelos cinco
Böhme e Paracelso, Blake enfoca
Sentidos, os principais
a situação política, social e cultu- acessos da Alma nesta Etapa.
ral do seu tempo sob uma pers-
pectiva transcendental da existên- 2.Energia é a única vida, e
cia humana, e contesta o pensa- provém do Corpo; e Razão, o
mento religioso tradicional de que limite ou circunferência
há no homem um «corpo» externa da Energia.
dissociado de uma «alma», de que 3. Energia é Deleite Eterno1.
atender às vontades do «corpo»
O poeta então procura unificar
equivale a uma aproximação com
os contrários – nunca contraditó-
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rios, e sempre necessários. Pois, Nesta edição da Crisálida, as


«Without Contraries there is no Canções da Inocência contêm
progression. Attraction and uma «Introdução» e 18 poemas; e
Repulsion, Reason and Energy, as Canções da Experiência, «In-
Love and Hate, are necessary to trodução» e 26 poemas (a seqüên-
Human existence»2. Ora, o con- cia e o número de poemas pode
fronto entre os opostos é a conse- variar de acordo com a cópia-re-
qüência natural, tão inevitável ferência). Os poemas estão com-
quanto imprescindível, do desdo- postos em formas variadas: bala-
bramento do Criador em Criação. das, hinos e nursery rhymes, ao
Porque Ele, o Um Eterno (nem estilo da literatura infantil em as-
bom, nem mau, pois não existe censão na época. A idéia do livro,
nada antes Dele) precisou desdo- suspeitam alguns críticos
brar-se em criaturas participativas (Ackroyd; Grierson & Smith),
para o seu fim único que é a pode ter sido orientada pela ironia
autocontemplação, segundo a teo- do poeta sobre os hinos mora-
logia de Böhme. O equilíbrio dos lizantes para crianças que então
contrários, esta é a base da crítica estavam sendo publicados. As pe-
que Blake faz a respeito do risco ças reunidas em Canções da Ino-
de se reprimir as virtudes rema- cência e da Experiência são ricas
nescentes da inocência em favor em imagens pastorais, de lingua-
da tolice adquirida, a experiência gem simples, mas estão repletas de
da Razão. É o declínio da raça simetrias internas, extremamente
humana de um estado primal de musicais. Não por acaso, compo-
inocência (como entendido por sitores de diferentes tradições já
Swedenborg nas conversas com os musicaram as Canções de Blake,
seus espíritos e anjos), a humani- entre outros, William Bolcom,
dade tornando-se progressivamen- Allen Ginsberg, Larry Bell,
te mais materialista, o que Blake Vaughan Williams e Finn Coren.
busca analisar em The Songs, como O próprio Blake estava atento à
se cada poema fosse um exemplo música folclórica, e há informação
palpável da verdade espiritual nele de que ele cantava a sua poesia.
guardada, se nos é permitido di- O fato é que a alta carga
zer assim; o invisível que se ma- imagética, a simbologia, os jogos
nifesta visível, para falar nos ter- de sons, as ilustrações, fazem das
mos de Paracelso. Canções um trabalho único.
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O poema de abertura da pri- dade dos tradutores. Vejamos a


meira parte do livro, por exem- tradução de Mário Alves Coutinho
plo, tem um ritmo todo regular, & Leonardo Gonçalves (p. 27):
com acentos cuidadosamente dis- Trilando por velhos vales
tribuídos e repetições estratégicas, Canções de muita alegria
que o fazem muito convidativo à Vi na nuvem um menino
memorização: Que risonho me pedia:
Piping down the valleys wild Uma canção de cordeiro.
Piping songs of pleasant glee Eu toquei com muito gosto;
On a cloud I saw a child. Flautista toque outra vez –
And he laughing said to me. Vi lágrimas no seu rosto.
Pipe a song about a Lamb: Deixe a flauta, a doce flauta
So I piped with merry chear, Cante cantos de alegria,
Piper pipe that song again– Voltei na mesma cantiga
So I piped, he wept to hear. Chorou feliz quando ouvia.
Drop thy pipe thy happy pipe Sente-se e escreva-a, flautista,
Sing thy songs of happy chear, num livro bom de se ler –
So I sung the same again Sumiu-se da minha vista,
While he wept with joy to E oca cana fui colher.
hear.
E uma pena rústica eu fiz,
Piper sit thee down and write E a água clara foi manchada,
In a book that all may read– E escrevi canção feliz:
So he vanish’d from my sight, que ela alegre a criançada.
And pluck’d a hollow reed.
O tetrâmetro trocaico torna-se
And I made a rural pen, redondilha maior, o que garante
And stain’d the water clear, ao verso traduzido uma duração
And I wrote my happy songs,
parecida com o esquema original.
Every child may joy to hear
As rimas finais estão refeitas em
Traduzir a «Introdução» (p. 26) soluções razoáveis: gosto-rosto;
das Canções da Inocência em po- alegria-ouvia; flautista-vista; ler-
ema que lembre satisfatoriamente colher; fiz-feliz; manchada-crian-
os seus detalhes de som, sem çada. O problema são as regulari-
distorcer a mensagem, é realmen- dades sonoras internas (down-
te uma tarefa que desafia a habili- cloud; pleasant-laughing, primei-
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ra estrofe, por exemplo), as repe- final do livro. É o caso desta “In-


tições que fazem o elo entre as es- trodução”, por exemplo.
trofes, que são a essência do rit- As “Notas” são comentários à
mo, piping-pipe-piped; songs- tradução das canções, com a dis-
sing-sung; happy, etc, completa- cussão da simbologia de algumas
mente diluídas na tradução. «Oca delas, e trazem alguns rascunhos,
cana» retoma a aliteração mas tal- versos descartados pelos traduto-
vez não reproduza a sonoridade res. E é nas “Notas” que Coutinho
blakeana. Provavelmente devido a & Gonçalves revelam ao leitor o
que as aliterações em «p» e «s» não seu projeto de tradução, e as difi-
são reproduzidas, perde-se muito culdades enfrentadas:
em musicalidade. Assim, o poe- Comparada com o português,
ma traduzido não transmite a jo- a língua inglesa é extremamente
vialidade sugerida no original. concisa, por vezes monossilábica.
Além disso, está diminuída a fun- O tradutor que lida com a métri-
ção de apresentação das canções ca desta língua se vê constrangi-
subseqüentes («And I wrote my do a ter que alterar o tamanho do
songs»: «E escrevi canção feliz»), verso e/ ou abdicar de certas pa-
ou seja, é importante que esta «In- lavras num constante jogo de com-
trodução» simbolize a visão de um pensações. Por isso, tentamos re-
anjo inspirando o poeta a escrever tomar aqui o sentido perdido de
e registrar o conjunto de canções, algumas delas.
no plural, que se seguem no livro Elaborando esta tradução, pro-
(imagem ressaltada pela ilustração- curamos seguir de perto, na medi-
frontispício às Canções da Inocên- da do possível, a métrica e a rima
cia), idéia que a tradução não pre- do original. Mas Blake se permite
serva de modo satisfatório. certas liberdades quanto a isso, e
Editar Blake é sempre um pro- de repente temos versos que fo-
blema, pois o que geralmente se gem às regras. Também nos per-
consegue é uma transcrição textu- mitimos essa liberdade, em favor
al dos poemas, excluindo-se assim de uma melhor fluência dos sons
o seu caráter pictórico. Os tradu- do verso em português. Muitas
tores aqui intentam compensar esta vezes seguimos o metro original
perda descrevendo para o leitor inglês; em alguns casos, isso era
algumas das ilustrações originais impossível. Nestes, aumentamos o
na seção de «Notas», que vem no número de sílabas. Há momentos
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em que não existe rima no origi- duções de William Blake em lín-


nal, mas que em português esta gua portuguesa” (p. 143).
surgiu quase que naturalmente. Outra amostra da análise
Por outro lado, em outras passa- blakeana do conflito inocência vs.
gens não nos foi possível rimar experiência, na forma de canção
onde existia a rima em inglês: infantil:
como geralmente isto acontece no Old John with white hair
mesmo poema, achamos que uma Does laugh away care,
coisa compensava a outra (p. 133). Sitting under the oak,
O prefácio, nietzscheanamente Among the old folk,
intitulado «William Blake: huma- They laugh at our play,
no, demasiadamente humano», And soon they all say,
está dividido em nove breves se- Such such were the joys,
ções, e abre e fecha com citações When all girls & boys,
de T. S. Eliot sobre Blake. Aqui In our youth time were seen,
os tradutores procuram informar On the Ecchoing Green.
o leitor do contexto da composi-
Esta é a segunda estrofe de
ção da obra; comentam sobre o
«The Ecchoing Green» (p. 30). A
misticismo do poeta, a sua mito-
opção acertada pelo condensado
logia pessoal; explicam muito ra-
verso de seis sílabas se esforça por
pidamente a obra e alguns poemas
atingir as simetrias internas do
como retratos da realidade da épo-
poema original. O esforço mais
ca, a técnica da poesia blakeana, a
visível é o deslocamento do verso
autoconsciência do poeta, Blake
segundo para quarto:
ofensivo. O texto limita-se a resu-
mir as principais opiniões da críti- Velho John, grisalho,
ca, dando ênfase à excentricidade Sob o velho carvalho,
do poeta – assim, Blake é «lou- Junto ao grupo ancião,
co», «alienado», «demente», «doi- Afasta a preocupação,
do» ou «paranóico» treze vezes em Riem de nossos jogos
E todos dizem logo,
treze páginas de prefácio. Mostra-
Era esta a alegria,
se, contudo, uma bibliografia bá-
Quando guri e guria,
sica sobre Blake. A útil bibliogra-
Éramos vistos antes,
fia aparece ampliada no final do Nos Verdes Ecoantes.
volume, onde encontramos tam-
bém as referências de “algumas tra-
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“The Ecchoing Green” sem dú- Bosom – ficam festa-flecha, feliz-


vida tem o encadeamento rítmico triz e leito-peito. O rascunho des-
melhor cuidado que “Os Verdes cartado é (p. 135):
Ecoantes” (p. 31). Cabe indagar Pardal que é todo festa
se não seria mais adequado, e mais Sob as folhas tão verdes
de acordo com o espírito do origi- Uma feliz flor
nal, domesticar “John” em Vê seu vôo de flecha
“João”, quando se ultradomestica A buscar uma fresta
nas formas “guri” e “guria” para Junto ao meu Amor.
“boys” e “girls”.
“The Blossom.” (p. 38), de rit- A tradução para “The Chimney
mo mais complexo, com variações Sweeper”, “O Limpador de Cha-
súbitas: minés” (p. 41), é ousada:

Merry Merry Sparrow Quando mamãe morreu eu


Under leaves so green era bem moleque,
A happy Blossom E ao vender-me meu pai,
Sees you swift as arrow minha língua a custo é que
Seek your cradle narrow Gritava ’arre ’arre ’arre
Near my Bosom. ’arre-dor:
[primeira estrofe] Durmo em fuligem, das
chaminés sou varredor.
Pardal que é todo festa [primeira estrofe]
Sob folhas verdinhas
Uma flor feliz O contorcionismo do segundo
Vê teu vôo de flecha verso confunde o sentido: fica pa-
Que no leito acerta recendo que o garoto comprou o
Meu peito por um triz pai da mãe morta, ou da própria
[p. 39] língua. O original (p. 40) é bem
claro:
As aliterações de “The
Blossom.”, “r”, “s”, estão mais When my mother died I was
ou menos representadas na tradu- very young,
ção com os sons de “f” e “r”. A And my father sold me while
repetição desaparece; os parale- yet my tongue,
lismos rítmicos desta estrofe – Could scarcely cry weep weep
weep weep.
sparrow-arrow-cradle-narrow,
So your chimneys I sweep &
leaves-green-sees-seek, Blossom-
in soot I sleep.
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“O Limpador de Chaminés” Qual mão em tua chama


das Canções da Experiência (p. pousa?
91) cuida em manter o diálogo Por que braço & que arte é
entre os poemas homônimos: feito
Na neve um ponto negro vai Cada nervo do teu peito?
Chorando ’arre ’arre em tom E teu peito ao palpitar,
de ai! Que horríveis mãos? & pés
Onde seu pai & sua mãe hão sem par?
de estar? Que martelo? Que elo? Tua
Sei. Foram ambos à igreja mente
rezar. Vem de qual fornalha
[primeira estrofe] ardente?
O segundo par de versos me- Qual bigorna? Que mão forte
nos felizes que o primeiro. A es- Prendeu o teu terror de
trofe original (p. 90): morte?

A little black thing among the Quando em lanças as estrelas


snow: Choraram no céu, ao vê-las:
Crying weep, weep, in notes Ele sorriu da obra que fez?
of woe! Quem fez o cordeiro te fez?
Where are thy father & Tygre Tygre fogo ativo,
mother? say? Nas florestas da noite, vivo,
They are both gone up to the Que mão imortal armaria
church to pray. Tua terrível simetria?
“The Tyger”, o poema mais O metro desta tradução varia
popular da língua inglesa3, ficou muito, 7, 8, 9, 10 sílabas, o que é
assim (p. 101): imperdoável para o ritmo de uma
O Tygre peça que tem como original uma
canção tão simétrica:
Tygre, Tygre, fogo ativo
Nas florestas da noite vivo; The Tyger
Que olho imortal tramaria Tyger Tyger. burning bright,
Tua temível simetria? In the forests of the night:
Que profundezas, que céus What immortal hand or eye,
Acendem os olhos teus? Could frame thy fearful
Aspirar quais asas ousa? symmetry?
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In what distant deeps or skies. das tônicas não corresponde ao ri-


Burnt the fire of thine eyes? gor do original; “palpitar” é deli-
On what wings dare he cado demais para o contexto;
aspire? “mente” afeta o símbolo original.
What the hand, dare sieze the “The Tyger” exige muita atenção
fire? também quanto ao conteúdo inter-
And what shoulder, & what no do texto, pois mesmo peque-
art, nos desvios podem comprometer
Could twist the sinews of thy a simbologia. O original faz apro-
heart? ximação de idéias através da rima,
And when thy heart began to efeito praticamente perdido na tra-
beat, dução. “In” omitido torna em pas-
What dread hand? & what sivo no primeiro par de versos da
dread feet? segunda estrofe traduzida o que é
What the hammer? what the ativo no original. Adições dema-
chain, siado previsíveis para a formação
In what furnace was thy de rima e ajustes que soam artifi-
brain? ciais (ativo-vivo; ousa-pousa; Que
What the anvil? what dread martelo? Que elo?; & pés sem
grasp, par); tudo isso faz distanciar o tra-
Dare its deadly terrors clasp! duzido do original de Blake, todo
When the stars threw down construído de rimas perfeitas e
their spears correlações fonéticas, mas sempre
And water’d heaven with their provocando um efeito de harmo-
tears: nia simples, fluida, o que dá à ca-
Did he smile his work to see? dência da peça um tom espontâ-
Did he who made the Lamb neo e natural.
make thee? Aparentemente Coutinho &
Gonçalves levam em conta as tra-
Tyger, Tyger burning bright,
duções anteriores. Augusto de
In the forests of the night: Campos está aí:
What immortal hand or eye, Quando as lanças das estrelas
Dare frame thy fearful cortaram os céus, ao vê-las,
symmetry? quem as fez sorriu talvez?
Há falhas no tempo do conjun- Quem fez a ovelha te fez?
to do poema traduzido; o arranjo
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[“O Tygre”4, quinta estrofe] brasileira definitiva; servirá de in-


Saem-se melhor, os tradutores, centivo a novas versões, que co-
em “A ROSA DOENTE” (p. 95): meçam a aparecer: Canções da
Inocência e Canções da Experiên-
Ó Rosa, estás doente. cia: os Dois Estados Contrários da
O verme que vadia, Alma Humana (São Paulo: Disal,
Invisível na noite 2005), edição bilíngüe comenta-
De uivante ventania: da, tradução também a quatro
Achou teu leito feito mãos, duela com a tradução ante-
De prazer carmesim: rior já no título.
Seu negro amor secreto Juliana Steil
Dedica-se ao teu fim. UFSC
O quarto verso é realmente
obstáculo que faz o ritmo trope-
Notas
çar. “THE SICK ROSE” (p. 94),
o magnífico original de Blake: 1. Blake, William. O Matrimônio do
Céu e do Inferno e O Livro de Thel.
O Rose thou art sick.
4ª ed. Trad. José Antônio Arantes.
The invisible worm,
São Paulo: Iluminuras, 2001. p. 19.
That flies in the night
In the howling storm: 2. Blake, William. The Marriage of
Heaven and Hell, copy C, pl. 3. The
Has found thy bed
William Blake Archive. Ed. Morris
Of crimson joy:
Eaves, Robert N. Essick, and Joseph
And his dark secret love
Viscomi. 13 November 1997 <http:/
Does thy life destroy.
/www.blakearchive.org/>.
Em certos momentos, a tra- 3. Segundo a pesquisa de William
dução é problemática. «A Harmon (The Top 500 Poems. New
POISON TREE.», no qual o po- York: Comlumbia University Press,
eta claramente alude à Árvore do 1992), “The Tyger” ocupa o primeiro
Mistério da mitologia bíblica, lugar na lista dos poemas mais
traduzido «UMA PLANTA VE- antologizados da literatura em língua
NENOSA.» (p. 114) é no míni- inglesa.
mo estranho.
4. In: Campos, Augusto. Viva Vaia.
Esta edição das Canções de
São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
Blake está longe de ser a tradução

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