Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BISPO DE CASTANHAL
LEIGOS e LEIGAS
pela VIVÊNCIA do BATISMO,
CRISTÃOS TESTEMUNHAS,
SAL da TERRA
e LUZ DO MUNDO
DIOCESE DE CASTANHAL
Imagem de Capa: Batistério da Catedral de Castanhal
Fotografia: Everardo Freitas
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma e/ ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão
escrita do autor - Diocese de Castanhal.
Estimado e querido irmão e irmã!
Ao escrever esta Carta Pastoral convido-te a refletirmos jun-
tos sobre a nossa maravilhosa realidade batismal. Somos ho-
mens e mulheres renascidos e regenerados pelo dom de sermos
cristãos. Somos transformados em nossa natureza de criaturas
e divinizados pela natureza da Santíssima Trindade. Em Jesus
Cristo, o Pai amoroso, pela força do seu Espírito Santo, nos faz
todos seus filhos e filhas, participantes da sua graça e herdeiros
da sua glória.
Pela fé aceitamos e assumimos o projeto de Deus que vai se
revelando a nós na nossa história pessoal e familiar, enquan-
to percorremos o caminho da iniciação cristã. Nenhum de nós
pode viver como um cristão solitário ou isolado. A nossa voca-
ção batismal pode ser comparada com o mistério da Anuncia-
ção a Maria, com o nosso sim ao projeto de Deus formamos um
só Corpo unidos pela força redentora de Jesus Cristo. O Verbo
de Deus Pai se faz carne na nossa carne, se faz história na nossa
história, assume o nosso rosto, sua vida se torna a nossa vida.
Isto é ser cristão! Seria muito fraca a nossa resposta batismal se
apenas pendurássemos uma medalha ou um belo crucifixo em
nosso pescoço. E vazia seria a nossa fé cristã se apenas possuís-
semos a certidão de batismo esquecida em alguma gaveta ou
nem procurada nos livros paroquiais. Também é muito pouco
participar de alguma procissão ou missa nas festas comunitá-
rias. Ser cristão é ser amigo de Jesus Cristo, sempre encontrando
um jeito de estar perto dEle, e ir se transformando em homens e
mulheres novos, renascidos pela fé do batismo.
O cristão leigo age em todas as realidades desse mundo sem
afastar-se do Senhor da sua vida. Tu que és uma pessoa cristã,
tens um compromisso permanente com a Igreja, um compro-
misso de ser evangelizador, missionário e transformador. Olha
ao teu redor e vai ver quantas realidades humanas estão caren-
tes da tua presença e do teu testemunho de cristão forte na fé,
amigo e amiga do Senhor Jesus Cristo.
Animados pela esperança e desafiados na caridade a dar nos-
sa vida, vamos caminhar juntos como Igreja diocesana, supe-
rando a violência e outros males que nos afastam de Jesus e da
sua Igreja, e não nos deixam ser irmãos e irmãs uns dos outros.
Jesus afirma: “Vós sois todos irmãos”, e “Vós sois sal da terra e
luz do mundo” (Mt 23, 8 – 5, 13-14). Esta é a nossa identidade,
é a nossa missão; ser a Igreja Diocesana em saída a serviço do
Reino.
1.
Leigos e Leigas
6 Leigos e leigas
Em virtude do batismo os leigos se tornam reis e rainhas,
chamados a viver a caridade a partir das três dimensões mes-
siânicas do batismo. A dimensão batismal régia os torna todos
corresponsáveis pela condução do povo de Deus, pela manu-
tenção do patrimônio da Igreja e pela organização eclesial.
Eles exercem esta função régia ao ocuparem cargos na admi-
nistração ou na coordenação das comunidades, paróquias ou
diocese.
Não se pode negar que houve avanços significativos no pro-
tagonismo dos leigos no âmbito da vida eclesial. A formação
teológica dos nossos leigos foi aprimorada, surgiram diferen-
tes ministérios e novas formas de organização eclesial, foram
melhor distribuídas as responsabilidades pastorais. Entriste-
ço-me, todavia, quando percebo que há ainda tentativas de es-
vaziar e anular a participação dos leigos, silenciando sua voz,
reduzindo seus espaços de comunhão e participação. Conti-
nua acontecendo o que Papa Francisco lembra em sua já cita-
da carta:
“O clericalismo... limita as diversas iniciativas e esforços e,
ousaria dizer, as audácias necessárias para poder anunciar
a Boa Nova do Evangelho em todos os âmbitos da atividade
social e, sobretudo, política. O clericalismo, longe de dar im-
pulso aos diversos contributos e propostas, apaga pouco a
pouco o fogo profético do qual a Igreja está chamada a dar
testemunho no coração de seus povos”.
Papa Francisco, falando aos membros do Comitê Diretivo
do Celam em Bogotá no dia 7 de setembro de 2017, diz que
“a esperança na América Latina passa através do coração, da
mente e dos braços dos leigos”. Para que isso ocorra, precisa-
mos de
“um laicato cristão que esteja disposto a contribuir, como
crente, nos processos dum desenvolvimento humano autên-
tico, na consolidação da democracia política e social, na
7
superação estrutural da pobreza endêmica, na construção
duma prosperidade inclusiva fundada em reformas dura-
douras e capazes de tutelar o bem social, na superação das
desigualdades e na salvaguarda da estabilidade, no deli-
neamento de modelos de desenvolvimento econômico sus-
tentável que respeitem a natureza e o verdadeiro futuro do
homem que não passa por um consumismo ilimitado e na
rejeição da violência e na defesa da paz”.
8 Leigos e leigas
“Os Seminários devem pôr o acento no fato que os futu-
ros sacerdotes sejam capazes de servir o santo povo fiel de
Deus, reconhecendo a diversidade de culturas e renuncian-
do à tentação de qualquer forma de clericalismo... Cabe a
nós pastores discernir como prepará-los para realizar a sua
missão nesse cenário concreto e não nos nossos «mundos
ou situações ideais». Uma missão que se realiza em união
fraterna com todo o povo de Deus. Lado a lado, impelindo
e incentivando o laicato num clima de discernimento e si-
nodalidade, duas características essenciais do sacerdote
de amanhã. Não ao clericalismo e a mundos ideais, que só
entram nos nossos esquemas, mas que não tocam a vida de
ninguém” (Francisco - Discurso aos Bispos do Chile -Santia-
go, 16 de janeiro de 2018).
Estes desafios propostos aos leigos pelo Papa e que de ime-
diato podem aparecer impossíveis, na realidade são vivencia-
dos nas atitudes daqueles leigos e leigas que se esforçam para
manter bons relacionamentos, tecem relações de amizade, sa-
bem carregar as dificuldades, as dores, os problemas das pes-
soas que encontram no cotidiano da vida. Nelas a Igreja vive
tudo aquilo que o homem comum vive: mesmas esperanças,
dificuldades, problemas, as mesmas turbulências da história.
Ela, porém, vive essas realidades de um modo novo, numa óti-
ca nova e mais ampla. E isso ela faz não porque possua ins-
trumentos mais poderosos, obras maiores e mais influentes,
mas em virtude da Vida de Cristo que com a sua Páscoa mol-
da a inteligência, a consciência e a prática de vida do cristão.
O cristão tem condições de estabelecer uma ligação entre o
momento histórico que vive e a redenção de Cristo sempre
atuante. O significado de tudo se encontra n’Ele, mas é o Es-
pírito Santo que no-lo comunica como realidade que já nos
pertence, que percebemos já ser nossa e que nos une a Cristo
e aos homens.
9
2.
Para viver em plenitude o batismo
11
do seu natural elemento vital. O batismo, que etimologica-
mente significa “mergulho”, é o sinal que expressa o nosso ser
“mergulhados em Cristo”. Certamente, estamos nos movendo
na ordem dos sinais, mas sabemos muito bem que os “sinais”
apontam para uma realidade concreta.
2. Três nascimentos
Mergulhados em Cristo nascemos para a vida cristã. Na ver-
dade, nós passamos por três nascimentos: o físico, o espiritual
e o carnal. São Máximo, o Confessor, a esse respeito escreve:
“O nascimento físico claramente não depende de nós. De
fato, não nascemos porque quisemos nascer, mas porque
outros nos doaram a vida. Há, porém, o nascimento espiri-
tual que em parte é um dom, pois é realizado pelo Espírito,
mas em parte depende também da nossa vontade, pois te-
mos a possibilidade de aceitar o dom da fé, o batismo, ou de
recusá-lo. Ninguém o impõe. Recusar o dom e colocar nós
mesmos como critério do bem e do mal, com a consequên-
cia de escolher o mal, é como um terceiro nascimento, o
da “carne”, como fala São Paulo, o qual distingue os frutos
do Espírito dos frutos da carne, onde “carne” não é a reali-
dade material corpórea, mas a vida vivida não segundo o
Espírito, mas segundo o nosso “eu”. O nascimento espiritual
orienta para o bem, o carnal orienta para o mal. Em última
análise, o “segundo nascimento” é aquele processo de pro-
gressiva humanização que vem do fato de termos acolhido
o dom do Espírito que gera em nós uma vida nova.
17
tomamos a cidadania celeste.
Já na Igreja antiga a preparação ao batismo era concebida
como uma introdução progressiva à vida da Igreja e o cate-
cúmeno era acompanhado passo a passo em sua inserção na
comunidade. Quando celebramos a eucarística invocamos por
duas vezes o Espírito Santo. A primeira vez, sobre o pão e so-
bre o vinho para que Ele os transforme no corpo e no sangue
do Senhor; a segunda vez, sobre a comunidade reunida, para
que comendo desse pão e desse vinho, ela se torne o corpo
de Cristo. Portanto, o batismo, a crisma e a eucaristia aperfei-
çoam a união com Cristo e a união entre nós como irmãos. O
batismo é a porta de entrada, pois nos insere no corpo ecle-
sial; e a eucaristia nutre essa vida de comunhão que exige per-
manecer numa dinâmica de renúncia aos modelos de domina-
ção, de isolamento, de exclusão, de indiferença.
Vejamos agora as razões que fundamentam esta vida de
comunhão. Por meio do batismo recebemos gratuitamente a
vida de Deus, mas que tipo de vida é essa? A vida de Deus é a
comunhão com a vida das três Pessoas divinas. Este é o dom
que recebemos. Na medida em que participo dessas relações,
torno-me eu mesmo o que sou: pessoa, ser de comunhão. O
Espírito que recebemos como dom se exprime em nós como
comunhão. Jesus Cristo na sua vida terrena nos ensina como
viver a vida humana na modalidade divina, isto é, a da comu-
nhão, de maneira filial e fraterna, amando a Deus Pai e aos
nossos irmãos. A comunhão entre nós é o mais bonito louvor
ao Pai. Com o batismo recebemos o imenso dom da comunhão
trinitária e somos chamados a vivê-la entre nós! Não é por
acaso que o âmbito onde somos mais tentados seja o da vida
fraterna!
2. Receber a vida
O batismo é recebido, nós somos batizados. O mesmo acon-
tece também com a nossa vida: nós a recebemos de nossos
pais, pois é impossível dá-la a si próprios. Todo homem é
consciente de que não pode de forma alguma dar-se a vida ou
dispor dela; só pode recebê-la de...
Papa Francisco numa catequese sobre o batismo lança esta
pergunta:
“Uma pessoa pode batizar-se a si mesma? Ninguém pode
batizar-se a si mesmo! Ninguém. Podemos pedi-lo, desejá-
-lo, mas temos sempre a necessidade de alguém que nos
confira este Sacramento em nome do Senhor. Porque o Ba-
tismo é um dom que é concedido num contexto de solicitude
e de partilha fraterna. Ao longo da história sempre um ba-
tiza outro, outro, outro... é uma corrente. Uma corrente de
Graça. Mas, eu não me posso batizar sozinho: devo pedir o
Batismo a outra pessoa. É um ato de fraternidade, um ato
de filiação à Igreja” (FRANCISCO - Audiência geral- quarta-
-feira, 8 de janeiro de 2014).
Quando tomamos consciência de que a vida e o batismo são
dons que recebemos, sentimo-nos como que expropriados de
nós mesmos, porque nós instintivamente somos como que le-
20 Cristãos testemunhas
vados a não depender de ninguém e a querer sozinhos geren-
ciar a nossa vida.
Viver como “expropriados” significa permanecer na cons-
ciência de ser “mandados”. Este é o espaço no qual Deus pode
agir: quando ficamos um pouco atrás, Deus pode fazer conos-
co coisas maravilhosas. Viver como “expropriados” significa
renunciar a viver a posse de si mesmos, não estar preocupa-
dos consigo mesmos, aprender a pensar não sendo nós os
protagonistas dos nossos pensamentos, mas perguntando-
-nos sempre: “Senhor, o que queres fazer de mim?”. A vida in-
teira é um pôr-se de lado para que seja Deus a agir; assim, ela
se torna o espaço no qual Deus pode operar. Nossa tarefa é
remover os obstáculos que impedem o fluir da vida.
Deus por sua vez faz uma promessa irrevogável: doa a sua
disponibilidade sem reservas. O batismo nos garante que so-
mos destinatários da irrevogável disponibilidade de Deus. No
começo da celebração batismal o nome de cada um é pronun-
ciado na assembleia cristã diante de Deus. Assim, é procla-
mado que junto de Deus há um lugar para cada um, em sua
própria singularidade. Deus se propõe como interlocutor e
garante do “nome” de cada um e o põe entre os outros.
O Senhor Jesus estabeleceu uma aliança conosco e seu re-
sultado é a graça batismal. Acolher o batismo para nós signi-
fica acolher a soberania de Deus na nossa vida: somos seus!
Pertencemos a Ele! A fé batismal professa Jesus como o Se-
nhor, como “Aquele que é” e que nos oferece uma vida plena, à
altura da dignidade do viver humano.
3. Um olhar novo
Somos como árvores com as raízes no céu e a copa na terra.
Em nossa vida profundamente humana, marcada pela dimen-
são do espaço e do tempo, somos chamados a estar na dimen-
21
são da história de maneira nova. Deus não para de revelar-se,
pois a história sagrada continua no meio de nós e por nós.
Como isto concretamente pode acontecer? É preciso per-
ceber o fluxo de vida divina que flui dentro de nós, isto é, a
comunhão com a vida pessoal de Deus. Vivendo esta relação,
tornamo-nos uma ponte, o espaço onde o mundo divino e o
mundo humano podem entrar em contato. Isso se dá especial-
mente na liturgia. Nós podemos continuamente beber dessa
fonte; em cada instante podemos ter acesso aos benefícios
dos eventos de salvação da morte e ressurreição de Cristo
e santificar a nossa história. O tempo e a história que Deus
nos deu se tornam então uma aprendizagem do amor. Só o
egoísmo nos torna impermeáveis a esta penetração do eterno
na história.
Como batizados, cristãos, leigos e leigas, somos chamados
a intuir e decifrar a voz de Deus na história. É isto que sig-
nifica ser profetas, ser testemunhas: aprender a verdadeira
sabedoria da vida. Homens e mulheres capazes de ler a trama
do desígnio de salvação de Deus. Muitas vezes nós pedimos
sinais ao Senhor, mas o problema é saber reconhecê-los. Face
àquilo que nos acontece, temos sempre duas possibilidades.
Dizer: “Isso me prejudicou” ou dizer: “Isso me foi favorável, le-
vou-me a dar mais espaço a Deus, a libertar-me de tudo aquilo
que não é amor”. O vértice deste olhar espiritual é alcançado
quando se consegue ver o bem no mal. Muitas vezes a ação
poderosa e criadora do Espírito se exprime exatamente nos
momentos de fracasso, fragilidade e luto. Aqueles que entre-
gam continuamente a própria causa nas mãos de Deus são
aqueles que em tudo conseguem ver a ação de Deus.
22 Cristãos testemunhas
é interpretada como sinônimo de renúncia, de mortificação,
de “não é permitido”, de limites impostos aos espaços da vida,
de “não se poder fazer”. A conversão evangélica, ao contrário,
deve ser entendida como um processo constante do vir a ser
da pessoa batizada, uma disposição estável do seu coração.
A conversão diz respeito à transformação profunda do nos-
so coração, não às atitudes exteriores individuais. Conver-
ter e mudar o coração dos homens é o maior milagre feito
por Jesus. Às vezes não podemos mudar a situação exterior
(doenças, dificuldades), mas podemos mudar o nosso modo
de viver essas situações, e esta é a conversão do coração que
Jesus pode realizar, porque as suas palavras são divinas e
por isso elas têm poder e força para mudar aquele que as
acolhe. Somos chamados a nos deixar converter no nosso
íntimo (Magdeleine de Jesus).
A conversão é uma oportunidade, é uma ocasião oferecida
por Jesus, o homem novo, o Senhor capaz de renovar radical-
mente a nossa humanidade. O encontro com o rosto de Deus
Pai, em Cristo, graças ao Espírito Santo, evidencia o quanto
seja preciosa a nossa identidade e liberdade. Diante de um
dom tão grande que nos exalta não devemos nos esquivar,
mas antes nos sentir seriamente convidados a tomar com co-
ragem decisões profundas e duradouras. O cristianismo não é
algo medíocre, mas sim uma valiosa proposta para vivermos
segundo a nossa originária nobreza.
O batismo nos torna capazes de reconhecer o bem e de re-
sistir ao mal. Esta conversão nos introduz numa dinâmica de
contínuo discernimento. Aquele que tem fé, em força de seu
batismo aprende aos poucos a renunciar a tudo aquilo que o
desumaniza, que não está em sintonia com a sua identidade
mais profunda de filho de Deus. Trata-se de um caminho de
progressiva integração das dimensões de sua personalidade e
dos acontecimentos que o atingem, para que tudo nele possa
23
manifestar sua identidade de filho de Deus.
Uma disposição de espírito que mais do que outras nos per-
mite permanecer na dinâmica da conversão é a obediência.
“Sem a obediência aos superiores e à Igreja os maiores de-
sejos de santidade e amor não trarão nenhum fruto porque
ficam no plano humano da própria vontade... Reflete bem,
porque a obediência será muitas vezes para ti uma das mais
duras exigências do Amor. É toda a tua liberdade, que ti é
tão preciosa, é toda a tua vontade, à qual até agora nunca
inteiramente renunciaste, que terás que entregar nas mãos
de uma criatura humana que talvez julgarás sem grandes
capacidades e sem real santidade” (Magdeleine de Jesus).
24 Cristãos testemunhas
serviço, na entrega de mim mesmo, buscando em fraternida-
de o último lugar, submetido a todos, sendo humilde em pen-
samentos, palavras e ações, tanto diante dos pequenos como
dos grandes, no sucesso como no fracasso, ao receber louvo-
res como também injúrias.
25
Somos santos porque somos homens e mulheres libertados
pelo sangue de Cristo. Por isso, somos chamados a viver como
pessoas que têm consciência de possuir uma dignidade infini-
ta. Valemos o sangue do Filho. Somos dignos, livres. “Sei que
tenho um Pai, sei que sou filho e honro as minhas origens”.
Tu vens de Deus, podes escolher viver segundo a tua origem.
Somos estirpe eleita, todos os homens são estirpe eleita, mas
muitas vezes não o sabem, temos consciência da nossa digni-
dade divina. A palavra gera em nós os mesmos sentimentos:
Deus é esperança e nos faz esperança, Deus é amor e nos faz
amor, Deus é diferente e nos torna diferentes. Não se trata de
esforço, mas de acolhida da Palavra de Deus. E, como vimos,
não basta ter nascido, mas é preciso crescer no caminho da
salvação. Nós nos tornamos a Palavra que ouvimos.
A graça batismal traz em si a tarefa de nos tornarmos hu-
manos humanizando o mundo no caminho aberto por Jesus,
o Senhor, na fecundidade da única paternidade de Deus e na
força mansa e firme do seu Espírito. A vida que vem do batis-
mo, vida em Cristo, filial, fraterna, é plenamente humana, não
é diferente ou separada dos outros, mas totalmente humana.
O mundo não afasta de Deus, não há oposição entre o estar no
mundo e o permanecer em comunhão com Deus!
O amor de Deus é único, mas é experimentado por cada um
de maneira totalmente pessoal. Deus ama a todos com o mes-
mo infinito amor, e a sua vontade é que todos sejam salvos e
vivam esta vida como filhos da ressurreição. Depende, toda-
via, de cada um viver de tal modo que esteja compenetrado
mais radicalmente por este amor e saiba corresponder-lhe. A
vontade de Deus, sendo Ele amor, é uma só. Cabe, porém, a
cada um descobrir como pode abrir-se mais radicalmente a
este amor e como pode, por sua vez, amá-lo mais plena e to-
talmente.
26 Cristãos testemunhas
4.
Sal da terra e luz do mundo
27
A luz ilumina, aquece, guia, reúne, acalma, reconforta. A Luz
é força fecundante, princípio ativo, condição indispensável
para que haja vida. Ela tem a capacidade de purificar e rege-
nerar. Em oposição às trevas, a luz exalta o que é belo, bom
e verdadeiro. Vivemos imersos num oceano de luz; carrega-
mos dentro de nós a força da luz. Ela sempre está aí, disponí-
vel. Basta abrir-nos a ela com a disposição de acolhê-la e de
operar as transformações que ela inspira. Por ser benfazeja
e criadora, a luz nos permite cantar até mesmo no meio de
impasses, ameaças e conflitos que pesem sobre a nossa vida.
Deixemo-nos, pois, iluminar pela luz de Deus. Levemos a luz
nas nossas pobres e frágeis mãos, iluminando os recantos do
nosso cotidiano. Sejamos uma “sarça ardente” diante dos ou-
tros, consumindo-nos constantemente, no humilde serviço.
Sejamos uma lamparina humilde, brilhando na janela da nos-
sa pobre casa, indicando aos outros o caminho da segurança
e do aconchego.
O Senhor nos diz: “Vós sois a luz do mundo”. Mas estamos nós
prontos a responder-lhe com franqueza: “Sim, nós queremos
sê-lo”? Esta é a resposta que Ele espera de nós. É importante
29
entendido como o conjunto de relações sociais, culturais, mo-
rais, onde cada um de nós vive, onde os jovens desenvolvem a
sua personalidade, onde todos experimentam alegria e sofri-
mento, onde vivemos e morremos. Toda essa realidade escapa
de nós.
Cada um de nós pertence a diversos ambientes: o da família,
do trabalho, das instituições, da empresa, da escola, da socie-
dade. Cada qual vive em relação constante com os outros, mas
como concretamente se processam estas relações? Se hoje até
a família, primeiro “ambiente” que nos acolhe ao nascermos,
se encontra em profunda crise no plano da felicidade huma-
na, da moralidade, do sentido teológico; se nem ela consegue
ser um ambiente positivo, isto significa que há interações, in-
fluências recíprocas que fazem sofrer, corroem, desgastam,
exasperam.
Reconhecemos humildemente que todo ambiente humano,
todo grupo de pessoas em relação, está potencialmente doen-
te. Temos de admitir que sentimos dificuldades em viver jun-
tos. Jesus, porém, olha com carinho para todo esse ambien-
te humano: a pequena família, a grande sociedade, a nação,
o mundo; olha para estas realidades com seu olhar amoroso
que não abandona e nos diz: “Você, no seu ambiente será sal e
luz. Você é tudo isso. Eu mesmo prescrevi isso para você”.
O sal é indispensável, assim como a luz que nos permite vi-
ver, pois todos os seres viventes precisam da luz. As plantas
sem luz morrem e nada do que determina a vida na terra pode
acontecer sem ela. Sal e luz dão também sabor e alegria às
coisas.
A tarefa do cristão, por ser ele membro de Cristo, é esta:
estar no meio dos homens para tornar mais rica de sentido e
mais saborosa a vida deles. Esta é a missão que brota do ba-
tismo! De nada serve termos sido batizados, se pensarmos ser
suficiente não incomodar a ninguém e não ter problemas com
30 Sal da terra e luz do mundo
ninguém. O que os outros esperam de nós é que os amemos
com sinceridade.
Precisamos reconhecer que o clima humano dos ambientes
concretos depende muito dos nossos comportamentos. Chega
a nós uma pessoa cordial, risonha, serena, trazendo alegria.
Quando ela vai embora é como se um pouco de sol tenha ido
embora também. Chega uma pessoa maldizente, fofocando
sobre a vida dos outros. Cedo o clima se torna tenso e insu-
portável. Quando ela vai embora, a gente respira aliviada.
É muito bonita a nossa missão de tornar agradável a vida ao
nosso redor, em círculos concêntricos sempre mais amplos:
na família, no trabalho, nos diversos lugares que frequenta-
mos, nos grupos, na comunidade, na sociedade, no mundo.
Viver com simplicidade, esforçar-se para ser uma pessoa bon-
dosa, bela por dentro, agradável, luminosa. Desse modo nós
tornamos “gostosa” a vida dos outros.
Há muita amargura em torno de nós, há muita tristeza. E
nós cristãos somos aqueles que deveriam levar a alegria aos
ambientes sombrios e desanimados. Quando visitamos um
doente, levamos com certeza um pouco de sabor, um pouco
de gosto, um pouco de consolação. Jesus, porém, quer muito
mais de nós, quer que a vida seja bela e fecunda todos os dias,
mesmo quando não há doentes para visitar. A bondade não é
fraqueza, ela pode e deve ser acompanhada pela firmeza, pelo
cuidado e rigor, sobretudo conosco mesmos. É tão agradável
encontrar uma pessoa bondosa, ouvi-la falar, olhar o seu ros-
to, ver como enfrenta os problemas, que logo dizemos: “Gosto
de encontrar aquela pessoa, sinto-me bem com ela”. O verda-
deiro cristão constrói a si mesmo com simplicidade, vivendo
a caridade.
Somos chamados a tornar saborosa, gostosa a vida dos ou-
tros. Começamos a fazer isso ao partilhar o pão de cada dia.
Em Jesus temos, porém, um recurso magnífico. Mesmo que
31
não houvesse pão para todos, mesmo que esta vida nos cau-
sasse sofrimento, nós nunca deixamos de ser sal e luz, porque
podemos recorrer a uma fonte segura: nós trazemos o poder,
a verdade e a grandeza de um Deus crucificado. Sabemos so-
frer, sabemos esperar além da dor, sabemos até esperar além
da morte.
Quando nos achegamos de uma pessoa prestes a cair no
desespero, podemos devolver-lhe o gosto de viver, se a aju-
damos a transformar sua dor em esperança transfigurada.
Verdadeiramente, Deus nos doa esta capacidade de salgar e
iluminar e nós seremos bons cristãos sem dúvida alguma, se
não estragarmos esse poder de sermos sal e luz, mas antes
considerarmos isso a nossa missão específica.
Precisamos aceitar com todo o nosso coração este bonito
dom. Se todos os fiéis levassem a sério tal graça e a conside-
rassem a coisa mais séria da vida, o horizonte humano ficaria
mais iluminado, porque Jesus não falha em sua Palavra: “Se
fordes sal, se fordes luz, vereis coisas admiráveis” – como diz
o profeta Isaías: “Então brilhará entre as trevas a tua luz, a
tua escuridão será como o meio dia”. Não, porém, a nossa luz
pessoal, e sim a nossa luz enquanto povo de Deus.
Às vezes dizemos: “Aquele cristão é uma boa pessoa”. Não
basta, porém, que isso seja dito com referência a uma só pes-
soa. Deveríamos chegar a dizer: “Como é bom este povo de
Deus! Sabe viver, sabe qual é a sua missão, realiza coisas boni-
tas, dá sabor e luz a tudo aquilo que o cerca. É realmente ma-
ravilhoso encontrar alguém que pertença ao povo de Deus!”.
Será que vai haver uma cultura assim? Uma civilização assim?
É a única coisa desejável. Vale a pena tentar realizar esse so-
nho neste mundo.
Aceitemos este grande desafio, pois todos nós estamos com
dívida em relação ao próximo. Diante da palavra de Deus te-
mos de reconhecer que nem sempre temos oferecido aquela
32 Sal da terra e luz do mundo
luz que faz enxergar, aquele sal que dá o gosto. Não importa,
tentemos mais uma vez. Porém, esforcemo-nos para ser con-
cretos e objetivos. Não façamos grandes programas, não di-
gamos: “Serei luz”. Digamos: “Iluminarei um pouco aquele
cantinho onde vive aquela pessoa que muitas vezes deixei na
escuridão. Tornarei mais “gostosa” a vida dessa outra pessoa,
procurando não revidar sempre, não tratá-la asperamen-
te, evitando ter preconceitos a seu respeito”. É assim que se
transforma a vida. E esse é o presente mais bonito.
33
sem sermos do mundo” (Cf Jo 17,11-16)
São Paulo, na carta aos Romanos, nos convida a não nos
conformarmos com o mundo: “Não vos conformeis com este
mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pen-
sar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de
Deus” (Rm 12, 2). No início do II século, um cristão anônimo,
na carta dirigida a Diogneto, mostra qual é o jeito dos cristãos
estarem no mundo.
“Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens,
nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com
efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua
estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutri-
na não foi inventada por eles, graças ao talento e a especu-
lação de homens curiosos, nem professam, como outros, al-
gum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casa
gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptan-
do-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e
ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem
dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forastei-
ros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como
estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada
pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos,
mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em co-
mum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segun-
do a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu;
obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam
as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são des-
conhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste
modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos;
carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados
e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e,
depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são
maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como
malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebes-
sem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros,
34 Sal da terra e luz do mundo
pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não
saberiam dizer o motivo do ódio.
Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim
estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas
as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do
mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do cor-
po; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A
alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são
vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e
combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofen-
sa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora
não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia,
porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e
os membros que a odeiam; também os cristãos amam aque-
les que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela
que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo
como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A
alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cris-
tãos habitam como estrangeiros em moradas que se corrom-
pem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada
em comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os
cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é
o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele de-
sertar” (Da Carta a Diogneto)
Então, os cristãos estão no mundo, no meio dos homens,
solidais com eles; vivem em plena responsabilidade para com
a sociedade, são cidadãos da cidade a pleno título, mas não
devem conformar-se às modas, à lógica do tempo, não devem
viver mundanamente. Não conformar-se à mentalidade deste
mundo significa ter a coragem de levar uma vida sabendo dis-
cernir os ídolos que alienam e combatê-los. Isso é levar uma
vida marcada pela diferença cristã. Num mundo onde há indi-
ferença tão grande, a única possibilidade de vencê-la consiste
em apresentar uma forma de vida compreensível e eloquente,
capaz de oferecer uma contribuição específica à sociedade em
35
busca de modelos para implantar um tipo de vida que seja
verdadeiramente à medida do homem.
Esta diferença consiste na nossa maneira de estar no meio
dos outros, de trabalhar na evangelização e na missão, de ir
ao encontro dos outros, sejam eles crentes ou não. Sem cair
na tentação buscar mais as aparências do que a substância,
precisamos cuidar da nossa maneira de anunciar a Boa Nova
do Evangelho, porque disso depende a própria credibilidade
da Palavra. Sem dúvida alguma, o nosso modo de apresentar a
mensagem cristã é determinante. Não podemos falar de man-
sidão, de humildade e de misericórdia utilizando um estilo de
vida e de comunicação que seja arrogante, prepotente, mun-
dano.
Se soubermos fazer a diferença na sociedade, seremos sal,
no sentido de que saberemos inserir nela o sabor; seremos
luz, se acolhermos a luz de Cristo e a irradiarmos entre os ir-
mãos. Caso contrário, estaremos perdendo o sabor e ofuscan-
do a luz, exatamente no momento em que temos a pretensão
de salgar e iluminar.
37
Fica, pois, claro que nós cristãos, para sermos “luz do mun-
do”, não devemos ter nenhuma pretensão de brilhar, pensan-
do que somos nós que iluminamos os outros com nossa inte-
ligência e saber. O cristão, pois, chamado a ser sal e luz, não
sai às ruas e praças clamando e tocando o trombone. Ele é sal
e luz não por suas belas ideias, doutrinas e pelos preceitos
morais que tenta impor aos outros, mas por aquilo que ele é
na sua interioridade.
Concretamente, é “sal” aquele que nos ajuda a saborear a
vida com maior profundidade, porque sua sabedoria e seu
gosto pela vida nos contagia e nos incentiva a experimentar
o mesmo na nossa vida também. É “luz”, porque com sua pre-
sença amorosa dissipa nossas obscuridades e nos permite
perceber o sentido luminoso de nossa existência e de nossa
verdadeira identidade.
Ser “luz” e “sal”, portanto, é a atitude que mais radicalmente
se opõe a qualquer tentativa de superioridade e de proselitis-
mo. Nem a vaidade, nem o fanatismo trazem sabor e luz.
7. A dosagem
39
O homem com sua inteligência sempre foi causa de muitos
e enormes desastres. A salvação da humanidade se dará uni-
camente através do cristão que se libertar dos cálculos, das
prudências estratégicas, dos equilíbrios, da medida do justo
preço e enveredar o caminho da loucura evangélica. O mundo
não precisa de beatos engessados, nem de doutores refinados
que prescrevem receitas, e sim de “loucos de Deus”, capazes
de gestos incomuns, que surpreendem pela sua extraordiná-
ria e escandalosa caridade. De fato, o que são as bem-aventu-
ranças senão uma desconcertante “sinfonia de loucos” (Renzo
Patraglio)? Se nós não recuperarmos o valor da loucura evan-
gélica, nunca entenderemos o espírito que permeia o Sermão
da Montanha. Infelizmente, muitas vezes, somos cristãos in-
sensíveis, indiferentes, mesquinhos, sem valor, justamente
porque não bastante dispostos e abertos a essa loucura. O en-
contro com Jesus sempre é perigoso para nós e para os outros,
pois ele nos impulsiona a sair da uniformidade, da timidez, da
insignificância, da obrigação.
Deus precisa do nosso coração enlouquecido por paixão
amorosa. De um coração assim precisam também aqueles que
ainda se encontram na escuridão, obrigados a engolir comida
insossa.
Jesus nos apresenta a vocação cristã como serviço prestado
a todos. Esta é a função indispensável do sal e da luz. Vós sois
o sal da terra, vós sois a luz do mundo.
Evidentemente não somos sal nem luz só com palavras,
declarações, boas intenções, mas com obras que brotam do
amor e são dignas de amor. Elas devem manifestar o amor e
não ser suporte ao prestígio e ao poder. Claramente, “as boas
obras” não devem ser confundidas com os “negócios”.
Precisamos tomar consciência de nossas responsabilidades
e medir as nossas culpas.
43
tismo como sendo o tempo da “ignorância”. Realmente, o tem-
po anterior ao batismo é o tempo da ignorância, ao passo que
o do batismo é o tempo da iluminação, da graça, da presença
da luz e da ressurreição, da incorporação nesse corpo ressus-
citado e glorioso, juntamente com todos os dons espirituais
que prolongam e tornam presente essa graça, de modo espe-
cial a Palavra e a Eucaristia. Podemos dizer que toda a liturgia
é o âmbito onde eu vou adquirindo o olhar do homem novo,
onde treino a visão do homem novo, de tal forma que no pão
não vejo mais só o pão, mas o Corpo de Cristo; no pecado não
vejo mais só o meu pecado, mas a misericórdia de Deus que
me lava e me restaura.
A partir dessa visão, mudam os critérios. Antes das nos-
sas urgências, daquelas da ação pastoral, antes de elaborar
qualquer discurso ou plano, se quisermos que seja bem fun-
damentado, é preciso que partamos do homem novo gerado
nas águas batismais. O batismo, de fato, dá origem a uma nova
antropologia, que é exatamente a do homem novo, do homem
que adquiriu um novo tipo de conhecimento espiritual. Do
corpo ressuscitado de Cristo nós recebemos um novo corpo
espiritual em lugar do velho corpo de pó que Cristo fez morrer
na cruz. Vivemos em nosso corpo humano um prolongamen-
to misterioso da ressurreição do Senhor e somos elevados a
uma condição espiritual nova e gloriosa, liberta da morte, do
pecado, da separação, da inveja, do egoísmo. A qualidade da
nossa fecundidade e criatividade espiritual e pastoral depen-
de deste ponto de partida.
44 Orientações Pastorais
Não será o olhar e o pensamento de Cristo, do homem novo
que irá direcionar as nossas escolhas pessoais, familiares,
eclesiais, sociais, mas sim uma mentalidade fechada, pessi-
mista, sem esperança, carregada de morte. Não é esta, por-
ventura, a situação que percebemos na grande maioria dos
nossos jovens batizados, para os quais o batismo não diz nada,
não é referência para nada? A eles faltou o nosso testemunho
de “homens novos”. O que temos feito para que eles valori-
zassem, amassem, tomassem consciência da vida nova que
receberam no batismo? Se nós adultos batizados não temos
deixado a vida divina crescer em nós, se não a temos deixado
transbordar nos nossos gestos, palavras, projetos, relações e
se temos levado uma existência insossa, como se nada tivesse
acontecido em nós, como se o homem velho não tivesse sido
destruído, como se estivéssemos ainda mortos, logicamente
não é pensável que eles possam ter adquirido essa consciên-
cia de vida cristã.
Os primeiros que mais precisam assumir o batismo com
garra e com toda a força transformadora somos nós, os adul-
tos: bispo, padres, religiosos/as, diáconos, catequistas, pais e
mães, que nos alimentamos com frequência da Eucaristia.
46 Orientações Pastorais
doamos para o bem dos irmãos, então revelamos a presença
e a ação de Deus em nós. Quando, ao contrário, expressamos
palavras, atitudes, projetos, atividades, iniciativas, obras, fora
da comunhão eclesial, visando à promoção de nós mesmos ou
de grupos fechados explorando os outros, então não revela-
mos nada de Deus, mas o escondemos e o afastamos.
Precisamos, pois, incentivar a vida de comunhão em família,
tomando as refeições juntos, rezando juntos, marcando pre-
sença perseverante e dinâmica na comunidade, especialmen-
te na celebração litúrgica dominical, atuando em comunhão
efetiva e afetiva com a paróquia e com a Diocese, assumindo
o Plano de Pastoral, participando dos encontros de formação,
valorizando todos os meios que promovem a comunhão, a
Coordenação da Comunidade, o Conselho Pastoral Paroquial,
o Conselho de Assuntos Econômicos, o Conselho Diocesano
de Pastoral, etc. Enfim, precisamos ter o mesmo pensamento,
nos esforçar para sermos de verdade um só coração e uma só
alma. Só assim, só se nos amarmos uns aos outros, seremos
convidativos e saberemos atrair outros irmãos para Cristo.
Foi exatamente isso que Jesus nos disse no seu discurso de
despedida: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos,
se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35).
4. Batismo e missão
49
• Além destes encontros, estamos preparando um livrinho
com as catequeses sobre o batismo, elaboradas por Papa
Bento XVI e por Papa Francisco.
• Ao longo deste ano é oportuno que em cada Igreja Matriz,
seguindo as orientações da Diocese, seja identificado o es-
paço liturgicamente adequado onde erguer o batistério,
assim que sua presença permanente possa ajudar a com-
preender melhor o mistério ali celebrado.
• Retomando a prática dos primeiros séculos, proposta tam-
bém no documento 107 da CNBB sobre a Iniciação à Vida
Cristã, n. 228, convoco os catecúmenos adultos das paró-
quias da cidade de Castanhal que irão ser batizados na Vi-
gília Pascal deste ano, a participarem de quatro catequeses
mistagógicas sobre o Batismo, do Retiro espiritual no Sá-
bado Santo e da celebração do batismo, administrado por
mim na Catedral.
As catequeses serão feitas na Catedral Santa Maria Mãe de
Deus, às 19h, nos dias 16, 20, 23 e 27 de março. O Retiro do
Sábado Santo, no dia 31 de março, começará às 8h e termi-
nará às 12h. A Vigília Pascal, no dia 31 de março, começará
às 20h.
50 Orientações Pastorais
eu fui imergido precisamente naquela corrente de salvação
de Jesus. E permito-me dar uma tarefa. Hoje, em casa, pro-
curai, perguntai a data do Batismo e assim sabereis bem o
dia tão bonito do Batismo. Conhecer a data do nosso Batis-
mo significa conhecer uma data feliz. Mas o risco de não a
conhecer significa perder a memória daquilo que o Senhor
fez em nós, a memória do dom que recebemos. Então aca-
bamos por considerá-lo só como um evento que aconteceu
no passado — e nem devido à nossa vontade, mas à dos
nossos pais — por conseguinte, já não tem incidência al-
guma sobre o presente. Devemos despertar a memória do
nosso Batismo. Somos chamados a viver o nosso Batismo
todos os dias, como realidade atual na nossa existência. Se
seguimos Jesus e permanecemos na Igreja, mesmo com os
nossos limites, com as nossas fragilidades e os nossos pe-
cados, é precisamente graças ao Sacramento no qual nos
tornamos novas criaturas e fomos revestidos de Cristo...
Peçamos então de coração ao Senhor para podermos ex-
perimentar cada vez mais, na vida diária, esta graça que
recebemos com o Batismo. Que os nossos irmãos ao encon-
trar-nos possam encontrar verdadeiros filhos de Deus, ver-
dadeiros irmãos e irmãs de Jesus Cristo, verdadeiros mem-
bros da Igreja. E não esqueçais a tarefa de hoje: procurar,
perguntar a data do próprio Batismo. Assim como eu co-
nheço a data do meu nascimento, devo conhecer também a
data do meu Batismo, porque é um dia de festa. (FRANCIS-
CO - Audiência, quarta feira, 08 de janeiro de 2014).
51
• persão dominical também, no início da missa, é feita como
recordação do batismo recebido e da promessa do Senhor:
“Derramarei sobre vós água pura e sereis purificados” (Ez
36,25). E toda vez que fazemos o sinal da cruz com a água
benta, fazemos memória do nosso batismo.
• Celebrar o aniversário coletivo do batismo na vigília pascal e
incentivar cada pessoa a celebrar pessoalmente o aniversá-
rio do próprio batismo.
• Celebrar juntos o aniversário da crisma. Aqueles que foram
crismados na mesma data podem organizar uma bonita e
festiva celebração.
52 Orientações Pastorais
vamos oferecer um Curso de Fé e Política destinado às li-
deranças das nossas comunidades eclesiais que assumem
responsabilidades em organizações e movimentos sociais,
que já assumem ou pretendem assumir cargos em instân-
cias partidárias. O Curso acontecerá de forma intensiva das
08hs às 17hs nos dias de sábado de maio e junho de 2018
na Catedral tratando dos seguintes temas: 1. Doutrina Social
da Igreja e a Participação Política dos cristãos – 2. Ética, Fé e
Política – 3. Projetos para o Brasil - 4. Projetos dos Partidos
Políticos - 5. Projetos Populares Democráticos – 6. Controle
Social e Participação e os Instrumentos de controle social.
• No âmbito Eclesial vamos dar continuidade à formação dos
leigos na coordenação e animação de comunidades, pasto-
rais e movimentos e apostar sempre mais nas pequenas co-
munidades investindo na formação e acompanhamento dos
animadores das Pequenas Comunidades (Doc. 100), confor-
me às propostas de formação da Diocese.
Eventos
• Visitação da Sagrada Família, imagem ou estandarte, pelas
paróquias e comunidades;
• Destacar na Abertura da CF/2018, o papel dos cristãos leigos
e leigas na superação da violência;
• O Encontro Diocesano dos Jovens na tarde do Domingo dos
Ramos, na Catedral
• Vigília de Pentecostes na Catedral
• Semana Missionária “Igreja em Saída” nas paróquias.
• Dia Mundial dos Pobres - 18 de novembro de 2018;
• 2º Congresso Diocesano das Pequenas Comunidades e Encer-
ramento do Ano Laicato na festa de Cristo Rei (25/11/2018)
em Castanhal.
Semana Missionária
Convido todas as paroquias a assumir e organizar a Sema-
na Missionária “Igreja em saída” proposta pela CNBB com
53
o propósito de alcançar todas as comunidades e os diversos
areópagos modernos, na semana antes da Visita Pastoral, ou
em preparação à Festa do Padroeiro, seguindo estas orienta-
ções práticas:
- capacitar grupos de discípulos missionários para realizar;
- organizar visitas às famílias de cada rua ou às pessoas de
determinado ambiente de trabalho, concluindo com o con-
vite à participação de um Círculo Bíblico no início da noite;
- em todos os dias da Semana Missionária lembrar da tríplice
missão batismal (sacerdotal, profética e real), utilizar a Ora-
ção, o Hino, Ladainha e Objetivo Geral para Ano Nacional do
Laicato;
- utilizar símbolos: Logomarca do Ano do Laicato, Imagem ou
estandarte da Sagrada Família, Documento 105 da CNBB.
Em cada dia da semana refletir a partir da atuação dos Cristãos
leigos e leigas nos areópagos modernos (Doc. 105, nº 250 a 273).
• 2ª-feira - Família (Amoris Letícia) e Mundo do Trabalho (terceiri-
zação e Reforma Trabalhista, Previdenciária, “NÃOs” da Alegria do
Evangelho).
• 3ª-feira - Política (lembrar dos Legados na Sociedade) e Políticas Pú-
blicas (Saúde, Educação, Assistência Social, entre outras, Carta de papa
Francisco sobre indispensável atuação pública dos cristãos).
• 4ª-feira - Comunicação (Grande Mídia, Redes Sociais, Rádio Comunitá-
ria), Culturas (Povos Tradicionais, Consumismo) e Educação (Reforma
Ensino Médio, papeis de estudantes e educadoras);
• 5ª-feira – Casa Comum (pobreza, Socioambiental, REPAM, Laudato Si,
desmatamento, agrotóxicos, migrantes, refugiados);
• 6ª-feira - Violências (temas da CF/2018) e Paz (tolerância, Mediação
de Conflitos, Justiça Restaurativa)
• Sábado – Juventude (Jovens, a fé e o discernimento vocacional – Docu-
mento Preparatório ao Sínodo dos Bispos)
• Encerramento – Celebração com todas pessoas que participa-
ram...
54 Orientações Pastorais
Conclusão
56 Conclusão
Anexo
57
81. O mundo influencia a Igreja, oferece-lhe tentações, inspira
desvios, impõe modelos de vida, a ponto de mundanizá-la.
A família
138. Na celebração do sacramento do Matrimônio os cristãos
leigos e leigas exercem seu sacerdócio batismal. Eles são mi-
nistros da celebração. Exercem seu sacerdócio, não só na ce-
lebração, mas igualmente na consumação do sacramento, na
geração e educação dos filhos. Santificam-se no cotidiano da
família, Igreja doméstica, comunidade de vida e de amor, re-
flexo da comunhão trinitária.
61
147. As pequenas comunidades eclesiais, como recorda o Do-
cumento de Aparecida, “são um ambiente propício para es-
cutar a Palavra de Deus, para viver a fraternidade, para ani-
mar na oração, para aprofundar processos de formação na fé
e para fortalecer o exigente compromisso de ser apóstolos na
sociedade de hoje. São lugares de experiência cristã e evange-
lização que, em meio à situação cultural que nos afeta, secula-
rizada e hostil à Igreja, se fazem muito mais necessários”.
63
Assim, o discípulo missionário torna-se fonte de paz, de rela-
cionamento, de concórdia, de unidade. Sem a espiritualidade
de comunhão e missão caímos nas “máscaras de comunhão”
e damos espaço ao terrorismo da fofoca, às suspeitas, ciúmes,
invejas que são sentimentos e atitudes destrutivas. A divisão
é um fracasso e leva à derrota os mais altos ideais e projetos.
Dessa maneira, não estaremos livres para o engajamento e o
serviço ao mundo.
64 Anexo
A ação dos cristãos leigos e leigas nos areópagos moder-
nos
254. A partir da Eucaristia, nasce a coragem profética: “Não
podemos ficar inativos perante certos processos de globaliza-
ção que fazem crescer desmesuradamente a distância entre
ricos e pobres em âmbito mundial. Devemos denunciar quem
dilapida as riquezas da terra. É impossível calar diante dos
grandes campos de deslocados ou refugiados, amontoados
em condições precárias. O Senhor Jesus nos incita a tornar-
mo-nos atentos às situações de indigência em que vive gran-
de parte da humanidade. Pode se afirmar que bastaria menos
da metade das somas globalmente destinadas a armamentos,
para tirar de modo estável, da indigência o exército ilimitado
dos pobres. Isso interpela a nossa consciência”.
65
Indice
1. Leigos e Leigas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2. Para viver em plenitude o batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
1 - Porque descobrir ou redescobrir o batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2 - Três nascimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3 - Batismo: começo e fundamento da vida cristã . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
4 - Dinamismo da vida batismal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
5 - Batismo como participação na morte e na ressurreição de Cristo . . . 14
6 - Feitos Corpo de Cristo. Nossa pertença a Igreja . . . . . . . . . . . . . . . 17
3. Cristãos testemunhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1 - Tudo isto é possível graças à força do Batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2 - Receber a vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3 - Um olhar novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4 - Permanecer numa dinâmica de conversão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
5 - A vida nova assume em nós a forma da diaconia . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6 - Uma vida Santa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4. Sal da terra e luz do mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 27
1 - Uma responsabilidade plena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2 - Eis o que somos pela graça do batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3 - Sal e luz no ambiente humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4 - Sal e luz fazem a diferença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5 - O sal some, a luz se consome . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
6 - Sem vaidade e superioridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
7 - A dosagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
8 - Uma pitada de loucura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
9 - Responsabilidade individual e coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5. Orientações Pastorais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1 - A vivência do batismo: verdadeira urgência pastoral . . . . . . . . . . . . . 43
2 - Recomeçemos com os adultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3 - Antes de tudo, viver como filhos de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4 - Batismo e missão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5 - Despertar a memória do nosso batismo para vivê-lo todos os dias . . . 50
5 - Em comunhão com a Igreja Católica no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6. Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7. Anexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57