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INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta resultados de pesquisa realizada sobre a
representação da Educação Secundária em Campo Grande, com objetivo trazer o
papel desempenhado pela ação municipal na escolarização secundária no período
de 1920 a 1960. A discussão em torno da ação municipal no campo educacional em
nível regional apresenta-se com um tema relevante, pois são parcos os estudos
historiográficos realizados sobre os processos de institucionalização da educação
em nível regional, principalmente os estudos sobre o investimento da municipalidade
no desenvolvimento educacional.
Ao realizar a pesquisa de dissertação de mestrado intitulada “A representação
da educação secundária em Campo Grande nas fontes da historiografia regional e
memorialística (1920-1960)”1 observou-se no transcorrer das análises das fontes
memorialísticas informações relevantes sobre a ação da municipalidade na
institucionalização da educação secundária na cidade no período de 1920 a 1960.
Por isso, busca-se ampliar a compreensão dessa relação estabelecida em Campo
Grande no sul de Mato Grosso2, pois a cidade no período balizado passou por um
desenvolvimento econômico, social e político, que foram mobilizados em 1914 pela
instalação dos trilhos da Noroeste do Brasil (NOB) e em 1921 com a transferência
do Comando da Circunscrição Militar de Corumbá para Campo Grande.
No contexto histórico brasileiro a análise da ação municipal no âmbito
educacional, principalmente nas décadas iniciais da República, não eram ações
isoladas, pois a Constituição Federal de 1891 abre mão da responsabilização do
Estado pela educação, direcionando apenas a laicidade do ensino, isto normatizou a
responsabilidade da instrução popular aos estados, e estes, por conseguinte,
repassaram o encargo aos municípios. Desta forma, foi estimulado e concretizado o
chamado “município pedagógico”3, isto é, os munícipios assumiram a educação e
passaram a organizá-la dentro de seus limites. (GONÇALVES NETO; CARVALHO,
2015).
Para tanto, a fim de alcançar o objetivo do estudo abordaremos a partir dos
retratos da educação secundária nas autobiografias “Mato Grosso do Sul: minha
terra” de Oliva Enciso (1986) e “O mundo de que vi” de Luiz Alexandre de Oliveira
(1986) as representações sobre a ação municipal na educação em Campo Grande.
Tais obras apresentam em suas memórias escritas informações relevantes sobre a
consolidação do campo educacional na cidade, pois ambos os autores foram alunos,
1
O objeto de pesquisa desta investigação esteve inserida em uma pesquisa maior do Programa de Pós-Graduação
em Educação (UFMS), intitulada: “Ensino secundário no sul de Mato Grosso (Século XX)” e financiada pelo
Programa Casadinho – MCTI/CNPQ/MEC/CAPES.
2
No período delimitado no estudo não existia a divisão do Estado oficialmente, porém muitos embates políticos
pela divisão entre o norte e o sul, que foi oficialmente decretada pelo Governo Federal em 1977.
3
Categoria construída por Justino Magalhães ao analisar a centralização e descentralização do ensino em
Portugal. Ver: MAGALHÃES, J. A Construção do município pedagógico: o caso de Vimioso. (2004).
professores e diretores de instituições escolares da cidade. Utilizam-se na
composição das abordagens estudos historiográficos e documentos oficiais do
período. A pesquisa efetivou-se a partir de uma perspectiva histórica e social, na
compreensão da relação entre história, educação e memória. Têm como base
teórica os estudos Bourdieu (2011), Magalhães (2004) e Gonçalves Neto e Carvalho
(2015) na apreensão das noções de poder simbólico e município pedagógico
produzido sobre a relação entre a ação municipal e educação.
Para Bourdieu (2011), a instituição escolar tem um poder simbólico de
constituir as condições de apropriação dos “instrumentos de produção” de uma
história instituída e possibilita aos indivíduos incorporarem, por meio dela, as
estruturas objetivas (econômicas, culturais e sociais) de que é produto, uma
apropriação simbólica de um mundo social. Diante do exposto, propomos alguns
questionamentos para direcionar esta investigação, a saber: a) O que os estudos
revelam sobre a atuação da administração municipal na promoção da educação no
contexto nacional? b) Qual era o contexto da educação em Campo Grande e do sul
de Mato Grosso? c) Quais os elementos relacionados à ação municipal e educação
estão representados nas memórias dos agentes sociais e documentos oficiais do
município?
Nesse sentido, apresentamos primeiramente alguns dos estudos realizados
sobre a ação municipal e educação em diferentes regiões do País na relação entre o
munícipio e a educação em contextos locais. No tópico seguinte exibimos estudos
da historiografia regional sobre a ação do poder estadual no sul de Mato Grosso. No
último tópico, expomos às apreciações das representações das fontes
autobiográficas e documentos oficiais sobre a ação municipal e educação na
materialização de instituições escolares de Campo Grande. Por último, trazemos
algumas considerações sobre as representações de Luiz Alexandre de Oliveira e
Oliva Enciso da ação municipal e educação e suas contribuições para a constituição
da historiografia educacional da cidade e Mato Grosso do Sul.
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Segundo Luchese (2015) a politica de subvenção foi criada pelo governo provincial e ampliada pelas
municipalidades no processo de expansão da educação.
das instituições escolares na dimensão da educação estritamente ligada ao
desenvolvimento das cidades. Esses estudos contribuem para novas discussões no
âmbito da historiografia regional, ao nos direcionar análises na busca da
compreensão do processo de aparelhamento da educação local e dos mecanismos
utilizados na ação municipal e educação em Campo Grande no sul de Mato Grosso.
5
O Liceu Cuiabano foi criado pela Lei provincial n. 536, de 3 de dezembro de 1879, com a denominação de
“Lyceu de Línguas e Sciencias”, tendo como princípio proporcionar uma educação capaz de acabar com a
“barbárie” ainda existente na província e seguir os padrões (modelo) do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Ver: SOUZA, R. S. O Ensino Secundário em Corumbá, sul do estado de Mato Grosso: o Ginásio Maria Leite
(1918-1937). 95 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande,
2010.
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A Escola Normal de Cuiabá foi fundada em 1910, no governo de Pedro Celestino (1908-1911), tendo em vista
a situação precária da instrução pública do início do século. A contratação de professores normalistas em São
Paulo foi o primeiro esforço do governo para modernizar o ensino do Estado. (LEITE, 1970).
A Escola Normal de Cuiabá e a de Campo Grande formaram diversos
professores, porém, após o ano de 1937, essa modalidade de ensino entrou num
período de “decadência”7 no Mato Grosso. O governo de Müller reorganizou a
máquina estatal com a diminuição das secretarias e centralização da administração
e criou a Secretária Geral e concentrou diversas repartições, principalmente a
Diretoria da Instrução Pública. Nesse período, começou a se delinear o
investimento na educação secundária pública no sul de Mato Grosso, sendo criado,
no ano de 1937, o Ginásio Municipal Maria Leite, em Corumbá e, em 1938, criado o
Liceu Campo-Grandense, em Campo Grande, cidades importantes no
desenvolvimento econômico e social do Estado. (BRITO, 2001, p, 79).
Após a promulgação do Decreto-Lei n. 450, de 14 de julho de 1942, o governo
do Estado passou a regulamentar o ensino comercial e, assim em 1943 foram
criadas as seguintes escolas comerciais: a Escola Técnica de Comércio Carlos de
Carvalho e a Escola Técnica de Comércio Nossa Senhora Auxiliadora, em Campo
Grande; e a Escola Técnica de Comércio, em Três Lagoas. (MARCILIO, 1963).
Apesar dos investimentos na educação pública nas primeiras décadas do século XX,
a educação secundária não era gratuita, foi mantida por instituições privadas e duas
instituições públicas localizadas em Cuiabá. O regulamento de Instrução Pública de
1927 enfatizava apenas a gratuidade na educação primária. Na educação
secundária os alunos tinham de possuir recursos para a permanência e conclusão
dos cursos, pois as instituições cobravam muitas taxas escolares. Entre os anos de
1930 e 1954, o governo do Estado mobilizou esforços financeiros e legais para
ampliar a organização educacional e o acesso à educação secundária em no sul de
Mato Grosso com a abertura de cinco instituições públicas. Dessa forma, possibilitou
a ampliação de matrículas no Estado. Sendo estas: Escola Normal Joaquim
Murtinho (1931), Ginásio Municipal Maria Leite (1937), Liceu Campograndense
(1938), Ginásio Presidente Vargas (1958) e Ginásio Comercial Estadual 26 de
Agosto (1968).
Em súmula, as fontes da historiografia acadêmica regional contribuem para o
entendimento da constituição da educação pelos elementos históricos, econômicos
7
No governo de Julio Strubling Muller (1937-1945), com o Decreto n. 112, de 29 de dezembro de 1937, as
escolas normais foram desativadas, incorporadas novamente aos Liceus como uma “Seção Normal” e/ou um de
“Curso Especializado de Professores”. Ver: RODRÍGUEZ, M. V.; OLIVEIRA, R. T. C. História das políticas
educacionais brasileiras do século XX: a escola normal no sul do estado de mato grosso (1930- 1950). In: V
Jornada da Educação, Sorocaba, SP: 2005.
e sociais apresentados e nos levam a compreender o processo educacional da
instrução secundária na região sul de Mato Grosso e, mais precisamente, observar
como se deu a implantação e desenvolvimento das instituições secundárias em
Campo Grande.
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A estrutura da educação secundária do início do período da República até a década de 1970 foi composta pelos
cursos ginasial e colegial, com variações em sua denominação. Após o ano de 1931, o acesso se dava pelos
exames de admissão, responsáveis pela seletividade (Decreto n. 19.890 de 18 de abril de 1931). Após a
implantação da Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, o Estado fixou novas diretrizes e bases ao ensino de 1º e
2º graus, modificando o ensino primário e a educação secundária.
A memória é individual e seletiva9, por isso o pesquisador precisa se precaver e
buscar informações para contemplar a história. Ao se conceber a memória como
expressão individual, buscamos informações em documentos oficiais do município
(atas, resoluções, decretos e leis) para compreender a história.
No acervo digitalizado da Câmara Municipal de Campo Grande foi
encontrada, a Resolução n. 116, de 05 de julho de 1917, que determina a
“subvenção anual” por dois anos, ao Instituto Pestalozzi instalado em Aquidauana e
como condição este teria de se instalar em Campo Grande, atender às leis e normas
postas às instituições particulares e submeter-se à fiscalização da autoridade
municipal. A resolução, nos artigos 1º e 4º, determinou que a escola mantivesse os
cursos primário e secundário gratuitos, durante o período que receberam as verbas
da prefeitura, para o sexo masculino, jovens que não tinham condições financeiras.
Luiz Alexandre de Oliveira entre os anos 1918 e 1920 foi um desses alunos que
puderam frequentar o ensino no Instituto Pestalozzi.
Oliveira (1986) e Enciso (1986) apontam que no ano de 1925 Arlindo de
Andrade Lima transferiu o Instituto Pestalozzi ao professor João Tessitori. Ambos
colocam que ele investiu recursos físicos e intelectuais para compor o quadro de
professores, buscou profissionais formados em outras áreas na tentativa de
melhorar a educação na instituição e a parceria com o poder municipal para a
equiparação ao Colégio Pedro II. Em 1927, o Instituto Pestalozzi passou a receber
novamente recursos da municipalidade. Nos arquivos da Câmara Municipal de
Campo Grande, a Resolução n. 124, de 10 de fevereiro de 1927, denomina-o como
“Gymnasio Municipal de Campo Grande” e a subvenção aos trabalhos da
equiparação do Gymnasio ao Colégio Pedro II.
Art. 1º: O Gymnasio Pestalozzi, hoje Gymnasio Campo Grande, é
considerado estabelecimento municipal de ensino, passando a denominar-
se Gymnasio Municipal de Campo Grande. Art. 2º: O Gymnasio reger-se a
por estatuto próprio sob a condição de adaptar integralmente o programa de
ensino do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Art. 3º: Ao poder executivo
caberá exercer a fiscalização que julgar conveniente ao bom nome do
estabelecimento, reservando-se-lhe o direito de interesses na orientação
dos seus trabalhos, fazer-se juridicamente ou pessoa de sua indicação. Art.
4º: Ao poder executivo caberá no corrente exercício o crédito que for
necessário ao custeio do serviço de fiscalização oficial do estabelecimento e
consignará nos custeios orçamentários a verba referente a cada exercício,
enquanto perdurar a equiparação do Gymnasio. (CAMPO GRANDE, 1927).
9
Segundo Halbwachs (2004, p. 84), “[...] um dos objetivos da história pode ser, exatamente, lançar uma ponte
entre o passado e o presente, e restabelecer a continuidade interrompida.”
Em contrapartida, a Resolução n. 203, de 26 de fevereiro de 1929
estabeleceu que a instituição oferecesse o ensino secundário gratuito para dez
estudantes pobres selecionados pela Intendência Municipal e a redução de 50% de
desconto nas taxas de exames. Observa-se aqui que a instituição ofereceu através
das determinações do poder municipal o ensino gratuito e a seleção dos alunos
bolsistas seria uma forma de garantir à contrapartida da prefeitura a instituição.
Cabe ressaltar, mesmo que com nova denominação o Gymnasio Municipal de
Campo Grande não pode ser considera uma instituição pública, pois se manteve
privada, pois conforme a Resolução n. 228, de 28 de maio de 1930, a prefeitura
pagou a João Tessitori & Cia Limitada, a subvenção anual declarada na Resolução
n. 203, de 26 de fevereiro de 1929.
Através das resoluções da Câmara Municipal de Campo Grande verificamos
que no Gymnasio Municipal de Campo Grande funcionou anexa a Escola Normal
Municipal de Campo Grande. A Resolução n. 145, de 13 de julho de 1927 criou a
instituição e deliberou em seus artigos sobre sua organização. Nos artigos
determinou que o programa de ensino fosse baseado nos moldes da Escola Normal
da capital de Cuiabá, o regimento interno elaborado pelo Conselho de Ensino do
Gymnasio com a aprovação da Intendência Municipal, o ensino gratuito cabendo à
diretoria de o Gymnasio arcar com as taxas de inscrição e exames, e também a
fiscalização do ensino sob a responsabilidade da Intendência Municipal. A Escola
Normal Municipal teve como função o preparo de professores para o magistério
primário, tendo em vista a falta de cursos de formação de professores na cidade.
Enciso (1986) revela que por questões de saúde o professor João Tessitori,
no ano de 1930, transferiu para os padres salesianos a instituição. Os salesianos
assumiram a direção desse Ginásio que passou a se chamar “Gymnasio Municipal
Dom Bosco” e, depois, “Ginásio Dom Bosco”, em 1942. Conforme a Lei n. 119 de 15
de dezembro de 1949, o município de Campo Grande autorizou o titulo de
aforamento definitivo do terreno do Colégio Municipal Dom Bosco.
O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora foi criado em 25 de fevereiro de 1926 e
instalado inicialmente num prédio alugado na Rua 26 de Agosto. Ofereceu o
internato, semi-internato e externato, iniciou nas atividades dos cursos primário e
complementar. Foi o primeiro colégio feminino do sul do Estado. Esta instituição
privada de cunho religioso também recebeu auxílio da municipalidade para a
instalação do Colégio na cidade, localizaram-se três resoluções nos arquivos
digitalizados da Câmara Municipal de Campo Grande. A primeira, n. 127, de 27 de
outubro de 1927, concedeu auxílio financeiro para a aquisição de mobiliário e
material escolar, a segunda, n. 186, de 10 de novembro de 1928, concedeu
gratuitamente o aforamento do terreno para a instalação da instituição, e a última, n.
246, de 4 de julho de 1930, concedeu um auxílio financeiro para estimular a
construção do novo prédio da instituição localizado na Rua Pedro Celestino.
Em 15 de março de 1927, o professor Henrique Correa iniciou as atividades
do Instituto Osvaldo Cruz10, tendo como iniciativa os anseios dos grupos sociais da
elite diante da ausência de ginásios públicos e com características de internato. O
Instituto Osvaldo Cruz funcionou no antigo Instituto Rui Barbosa, criado por Luiz
Alexandre de Oliveira, em 1923, que ministrava aulas do ensino primário. Após o
reconhecimento oficial, o professor Luiz Alexandre de Oliveira retrata que o Ginásio
Osvaldo Cruz passou por muitas modificações administrativas, devido às mudanças
de proprietários e de diretores. Em 1942, o professor Luís Alexandre de Oliveira
adquiriu o Instituto. Em sua autobiografia relata que enfrentou grandes dificuldades,
pelas dívidas herdadas e pelos embates políticos, principalmente com os salesianos.
No decorrer da gestão de Luiz Alexandre de Oliveira a Câmara Municipal de
Campo Grande ofereceu através da Lei n. 109, de 09 de dezembro de 1949 subsidio
anual a instituição como forma de contribuição para a formação de 25 alunos pobres
dos cursos básico, ginasial e comercial. Os alunos seriam selecionados pela Seção
de Educação e Assistência com a aprovação do executivo municipal e a instituição
forneceria a prefeitura o acompanhamento mensal de frequência e aproveitamento
dos alunos bolsistas. Em seguida, a Lei n. 208, de 29 de janeiro de 1951 concedeu
o titulo definitivo do terreno da instituição localizado na Rua 26 de Agosto.
Enciso (1986) revela que ajudou como secretária da prefeitura o professor
Felipe Tiago na fundação em 12 de novembro de 1949 da Campanha Nacional de
escolas da Comunidade (CNEC)11 em Mato Grosso e o Ginásio Barão do Rio
Branco. Este Ginásio também recebeu auxílio da municipalidade, conforme consta
na Resolução n. 433, de 20 de setembro de 1955, que concedeu auxilio anual a
instituição. E também, a Lei n. 779, de 04 de julho de 1962, que conferiu o titulo de
10
Em 1929, passou a denominar-se “Ginásio Osvaldo Cruz”, após avaliação da junta examinadora deliberada
pela Reforma Rocha Vaz (1925) que regulamentou a organização administrativa e pedagógica da instituição
nos moldes do Colégio Pedro II.
11
Fundada em 1943, na cidade de Recife/PE, como Campanha do Ginasiano Pobre, tornou-se em 1947 a
Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Em 1969, passa a se chamar Campanha Nacional de Escola da
Comunidade. Até hoje, o mais expressivo movimento de educação comunitária da América Latina.
aforamento provisório do terreno para a construção do prédio da instituição
localizado na Avenida Afonso Pena e a Lei n. 957, 18 de maio de 1966, que
concedeu a doação do terreno definitivo para a Campanha Nacional de
Educandários Gratuitos.
A pesquisa no Diário Oficial da União revelou que o Ginásio Barão do Rio
Branco recebeu verbas nos anos de 1954, 1963 e 1964, juntamente com o Colégio
Oswaldo Cruz, o Colégio Dom Bosco, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, entre
outras instituições de Campo Grande. Essas verbas destinadas às instituições
demonstram o interesse e o investimento do poder público federal na educação
secundária em Campo Grande, reflexo das necessidades econômicas e sociais do
País.
As resoluções aqui apresentadas demonstram o interesse da municipalidade
na instalação da instituição na cidade, uma contribuição da prefeitura para resolver a
falta de estabelecimentos de ensino, pois na década de 1930 funcionavam apenas o
Instituto Pestalozzi (1917) e o Grupo Escolar Joaquim Murtinho (1921). Havia a falta
de instituições dedicadas à educação secundária.
Cabe ressaltar que a ação municipal na educação também deliberou sobre a
organização do sistema de ensino municipal. A Câmara Municipal decretou a Lei n.
05 de 1937, esta lei criou o Departamento de Educação e Cultura e organizou a
Instrução Pública Municipal. Deliberando sobre a os tipos de escolas, a organização
dos ensinos primário e secundário, concurso de professores e fiscalização das
escolas. No artigo 14 define a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário. O
Artigo 23 delibera ao município a obrigatoriedade de prestar auxílio aos alunos
concluintes do curso ginasial que se distinguiram em todas as disciplinas para
prosseguimento dos estudos superiores na cidade ou em outros centros urbanos.
Para os alunos concluintes com bom aproveitamento das escolas técnico-
profissionais o Artigo 24 delibera sobre o auxílio para cursos de aperfeiçoamento e
garantia de trabalho nos serviços públicos.
Segundo Bourdieu (2011, p. 211):
[...] a escola propicia aos que se encontram direta ou indiretamente
submetidos a sua influencia, não tanto esquemas de pensamento
particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora
de esquemas particulares capazes de serem aplicados em campos
diferentes do pensamento e da ação. (BOURDIEU, 2011, p. 211).
Assim, os alunos que obtiveram distinção e que modificaram seus habitus por
meio da instrução tiveram oportunidades de modificarem suas trajetórias na inserção
nos cursos superiores, ou em cargos públicos com reconhecimento social.
A ação municipal em Campo Grande ofereceu bolsas de estudos para
estudantes pobres, conforme a Lei n. 429 de 19 de setembro de 1955. Foram
concedidas 30 bolsas de estudos para estudantes reconhecidamente pobres dos
cursos noturnos de escolas particulares. Em 1966, a Lei n. 666, de 08 de fevereiro
de 1960 ampliou de 30 para 40 o número de bolsas concedidas pela municipalidade.
Além do subvencionar o ensino de estudantes pobres na cidade, o poder municipal
subvencionou através das leis n. 376, de 16 de agosto de 1954 e n. 426, de 17 de
setembro de 1955 a Associação Matogrossense de Estudantes localizada na cidade
do Rio de Janeiro, cujos associados eram estudantes da cidade. A Câmara
Municipal novamente através da Lei n., de 31 de dezembro de 1947 criou a Seção
de Educação e Assistência Educacional do Munícipio, subordinada ao gabinete do
prefeito com a responsabilidade de dirigir e orientar o ensino municipal, inspecionar
os estabelecimentos de ensino e fiscalizar as aplicações das subvenções anuais nas
instituições.
Esse conjunto de resoluções e leis que subvencionaram e auxiliaram
instituições privadas de educação secundária revela a preocupação do poder
municipal com a educação, tendo a educação como base modificar o nível cultural e
social da cidade, em vista que a cidade estava em processo de crescente
urbanização. A escola torna-se um agente de socialização capaz de compor a
personalidade intelectual da sociedade.
Na verdade, embora a escola seja apenas um agente de socialização
dentre outros, todo este conjunto de traços que compõem a personalidade
intelectual de uma sociedade – ou melhor –, das classes cultivadas da
sociedade – é constituinte ou reforçado pelo sistema de ensino,
profundamente marcado por uma história singular e capaz de modelar os
espíritos discentes e docentes tanto pelo conteúdo e pelo espirito de cultura
que transmite como pelo método segundo os quais efetua esta transmissão.
(BOURDIEU, 2011, p. 227).
Em síntese, o conjunto de resoluções e leis aqui apresentadas revela que
houve a presença do poder público municipal na instrução campo-grandense na
ausência de uma ação eficaz do poder publico estadual para atender a demanda
educacional da cidade e do sul de Mato Grosso. As subvenções anuais, os auxílios
financeiros, doações de materiais e terrenos, entre outros, podem ser
compreendidas por meio da categoria de análise “município pedagógico”, ou seja, a
compreensão que a prefeitura utilizou-se de forças locais para manter a educação
secundária em Campo Grande. As subvenções anuais foram utilizadas como
estratégias de difusão da instrução pública ao determinar o acesso de alunos pobres
aos cursos primários e secundários das instituições particulares.
Considerações Finais
Enciso (1986) e Oliveira (1986) em suas autobiografias contribuem para a
história da educação ao desvelarem através de suas memórias escritas a ação
municipal e educação no contexto de Campo Grande no período de 1920 a 1960. As
memórias apresentadas condicionaram a busca por mais informações sobre o tema,
revelando um forte investimento do poder municipal na instrução secundária na
cidade. O conjunto de documentos apresentados revelou que as iniciativas
particulares na educação e o apoio da Câmara Municipal possibilitou o acesso a
educação na cidade e, principalmente, o acesso escolarização secundária para
alunos sem condições financeiras de frequentar a educação secundária num período
que ainda o acesso era elitista.
As instituições privadas participam do jogo político, articulando os interesses
privados a subordinação da esfera estatal, ou seja, as instituições privadas são
mantidas e subvencionadas pelo poder público para suprir as necessidades
objetivas da sociedade. Em Campo Grande, as instituições privadas são exemplo
desse modelo, este modelo foi concretizado primeiramente, com o Instituto
Pestalozzi, que em 1917 recebeu recursos da municipalidade para transferir-se para
Campo Grande. Em seguida, ampliou para outras instituições privadas, como o
Instituto Oswaldo Cruz, Gymnasio Municipal de Campo Grande, Colégio Nossa
Senhora Auxiliadora, Colégio Dom Bosco e Ginásio Barão Rio Branco.
Referencias
ENCISO, O. Mato Grosso: minha terra. São Paulo: Editora Resenha, 1986.