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A AÇÃO MUNICIPAL NA EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA EM CAMPO

GRANDE, NO SUL DE MATO GROSSO (1920 A 1940)


Autora: Adriana Espindola Britez (PPGEDU/FAED/UFMS/CAPES)
Co-autoras: Jacira Helena do Valle Pereira Assis (PPGEdu/FAED/ /UFMS)
Stephanie Amaya (PPGEDU/FAED/UFMS/CAPES)
Área temática: História da Educação.

RESUMO: O presente trabalho apresenta resultados de pesquisa realizada sobre a


representação da Educação Secundária em Campo Grande, com objetivo trazer à
tona o papel desempenhado pela ação municipal na escolarização secundária no
período de 1920 a 1960. Utilizou-se como bases empíricas de análises: fontes
autobiográficas e documentais (atas, portarias, resoluções e decretos) localizadas
em acervos públicos da cidade. A base teórica partiu de uma perspectiva histórica e
social dos estudos de Bourdieu (2011), Petitat (1994) e Gonçalves Neto e Carvalho
(2015), entre outros. Para Bourdieu (2011), a instituição escolar tem um poder
simbólico de constituir as condições de apropriação dos “instrumentos de produção”
de uma história instituída e possibilita aos indivíduos incorporarem, por meio delas,
as estruturas objetivas (econômicas, culturais e sociais) de que são produtos, uma
apropriação simbólica de um mundo social. A ação municipal em diferentes cidades
do país possibilitou a constituição e ampliação da instrução, com especificidades e
as singularidades dos munícipios na materialização das instituições escolares. Os
resultados com base nas narrativas autobiográficas de Oliva Enciso e Luiz
Alexandre de Oliveira e cruzamento com fontes documentais, sinalizaram que a
educação secundária pública no sul de Mato Grosso teve investimentos reduzidos
por parte do poder estadual, em contrapartida recebeu recursos da municipalidade.
A participação do município favoreceu a abertura de instituições privadas que
ofertavam cursos secundário, profissional e normal, ainda possibilitou o acesso à
escolarização secundária para jovens trabalhadores das classes populares. As
subvenções anuais, os auxílios financeiros, doações de materiais e terrenos, entre
outros, podem ser compreendidas por meio da categoria de análise “município
pedagógico”, ou seja, a compreensão que a prefeitura utilizou-se de forças locais
para manter a educação secundária em Campo Grande. As subvenções anuais
foram utilizadas como estratégias de difusão da instrução pública ao determinar o
acesso de alunos pobres aos cursos primário e secundário das instituições
particulares.

Palavras-chaves: Educação Secundária, investimento municipal, Campo Grande.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta resultados de pesquisa realizada sobre a
representação da Educação Secundária em Campo Grande, com objetivo trazer o
papel desempenhado pela ação municipal na escolarização secundária no período
de 1920 a 1960. A discussão em torno da ação municipal no campo educacional em
nível regional apresenta-se com um tema relevante, pois são parcos os estudos
historiográficos realizados sobre os processos de institucionalização da educação
em nível regional, principalmente os estudos sobre o investimento da municipalidade
no desenvolvimento educacional.
Ao realizar a pesquisa de dissertação de mestrado intitulada “A representação
da educação secundária em Campo Grande nas fontes da historiografia regional e
memorialística (1920-1960)”1 observou-se no transcorrer das análises das fontes
memorialísticas informações relevantes sobre a ação da municipalidade na
institucionalização da educação secundária na cidade no período de 1920 a 1960.
Por isso, busca-se ampliar a compreensão dessa relação estabelecida em Campo
Grande no sul de Mato Grosso2, pois a cidade no período balizado passou por um
desenvolvimento econômico, social e político, que foram mobilizados em 1914 pela
instalação dos trilhos da Noroeste do Brasil (NOB) e em 1921 com a transferência
do Comando da Circunscrição Militar de Corumbá para Campo Grande.
No contexto histórico brasileiro a análise da ação municipal no âmbito
educacional, principalmente nas décadas iniciais da República, não eram ações
isoladas, pois a Constituição Federal de 1891 abre mão da responsabilização do
Estado pela educação, direcionando apenas a laicidade do ensino, isto normatizou a
responsabilidade da instrução popular aos estados, e estes, por conseguinte,
repassaram o encargo aos municípios. Desta forma, foi estimulado e concretizado o
chamado “município pedagógico”3, isto é, os munícipios assumiram a educação e
passaram a organizá-la dentro de seus limites. (GONÇALVES NETO; CARVALHO,
2015).
Para tanto, a fim de alcançar o objetivo do estudo abordaremos a partir dos
retratos da educação secundária nas autobiografias “Mato Grosso do Sul: minha
terra” de Oliva Enciso (1986) e “O mundo de que vi” de Luiz Alexandre de Oliveira
(1986) as representações sobre a ação municipal na educação em Campo Grande.
Tais obras apresentam em suas memórias escritas informações relevantes sobre a
consolidação do campo educacional na cidade, pois ambos os autores foram alunos,

1
O objeto de pesquisa desta investigação esteve inserida em uma pesquisa maior do Programa de Pós-Graduação
em Educação (UFMS), intitulada: “Ensino secundário no sul de Mato Grosso (Século XX)” e financiada pelo
Programa Casadinho – MCTI/CNPQ/MEC/CAPES.
2
No período delimitado no estudo não existia a divisão do Estado oficialmente, porém muitos embates políticos
pela divisão entre o norte e o sul, que foi oficialmente decretada pelo Governo Federal em 1977.
3
Categoria construída por Justino Magalhães ao analisar a centralização e descentralização do ensino em
Portugal. Ver: MAGALHÃES, J. A Construção do município pedagógico: o caso de Vimioso. (2004).
professores e diretores de instituições escolares da cidade. Utilizam-se na
composição das abordagens estudos historiográficos e documentos oficiais do
período. A pesquisa efetivou-se a partir de uma perspectiva histórica e social, na
compreensão da relação entre história, educação e memória. Têm como base
teórica os estudos Bourdieu (2011), Magalhães (2004) e Gonçalves Neto e Carvalho
(2015) na apreensão das noções de poder simbólico e município pedagógico
produzido sobre a relação entre a ação municipal e educação.
Para Bourdieu (2011), a instituição escolar tem um poder simbólico de
constituir as condições de apropriação dos “instrumentos de produção” de uma
história instituída e possibilita aos indivíduos incorporarem, por meio dela, as
estruturas objetivas (econômicas, culturais e sociais) de que é produto, uma
apropriação simbólica de um mundo social. Diante do exposto, propomos alguns
questionamentos para direcionar esta investigação, a saber: a) O que os estudos
revelam sobre a atuação da administração municipal na promoção da educação no
contexto nacional? b) Qual era o contexto da educação em Campo Grande e do sul
de Mato Grosso? c) Quais os elementos relacionados à ação municipal e educação
estão representados nas memórias dos agentes sociais e documentos oficiais do
município?
Nesse sentido, apresentamos primeiramente alguns dos estudos realizados
sobre a ação municipal e educação em diferentes regiões do País na relação entre o
munícipio e a educação em contextos locais. No tópico seguinte exibimos estudos
da historiografia regional sobre a ação do poder estadual no sul de Mato Grosso. No
último tópico, expomos às apreciações das representações das fontes
autobiográficas e documentos oficiais sobre a ação municipal e educação na
materialização de instituições escolares de Campo Grande. Por último, trazemos
algumas considerações sobre as representações de Luiz Alexandre de Oliveira e
Oliva Enciso da ação municipal e educação e suas contribuições para a constituição
da historiografia educacional da cidade e Mato Grosso do Sul.

1 Ação municipal e educação em estudos historiográficos


As investigações no campo da educação nos últimos anos têm apresentados
novas abordagens para compreender as singularidades locais no que se refere ao
campo educação, contribuindo para a composição da História da Educação.
Discussões em torno das especificidades municipais ganham espaço no âmbito
nacional, principalmente na produção do conhecimento sobre a ação municipal e
educação. Desta forma, este tópico tem como objetivo apresentar os estudos
realizados sobre a ação municipal e educação no contexto brasileiro na primeira
metade do século XX.
A coletânea de Gonçalves Neto e Carvalho (2015) apresenta um panorama
dos estudos realizados por pesquisadores de variadas instituições de ensino e
pesquisa do Brasil e Portugal, expondo sobre as múltiplas iniciativas tomadas pelas
Câmaras Municipais no âmbito educacional em diferentes cidades. Trazendo à tona,
a dimensão local da educação ao repensar o papel desempenhado pelos municípios
no processo de organização da instrução pública no final do Império e ao longo da
Primeira República. Os municípios não se ausentaram da responsabilização e
tiveram uma atuação significativa na instrução de nível elementar.
Neto (2015) apresenta a discussão da categoria de análise “município
pedagógico” na compreendida como uma entidade politico-administrativa presente
no Brasil, desde a segunda metade do século XIX com a descentralização da gestão
do ensino e a extensão da responsabilidade pela instrução primária para a regulação
local. Bem como, as apropriações que as elites fazem dessa responsabilização para
concretizar objetivos particulares, na disseminação de ideologia própria de uma
identidade municipal, pela difusão da crença no poder regenerador da educação.
[...] o município de Uberabinha representa um exemplo significativo do
esforço pela construção de um sistema municipal de ensino, numa realidade
marcada pela descentralização no contexto nacional e pela divisão de
responsabilidades no nível estadual. (NETO, 2015, p. 32).
Ao analisar a centralidade da educação no município de Uberabinha – MG, o
autor expõe um estudo comparativo entre o Brasil-Portugal enfatizando que entre
ambos os países a instrução primária encontrava-se destinadas às administrações
municipais.
Para Magalhães (2004) a integração municipal, no âmbito politico-
administrativo, encontrou na instrução pública uma construção de identidade social e
cultural. Esta integração local possibilitou o desenvolvimento e o progresso.
O município dispõe de uma administração e de órgãos específicos para o
fomento da instrução púbica. As autoridades do poder local dispõem de
uma grande oportunidade para formarem e politizarem os seus cidadãos e
as elites locais não a desprezam. A integração municipal encontra na
instrução pública uma nova oportunidade e um fator de construção de
identidade. (MAGALHÃES, 2004, p. 05).
Desta forma, o município em seu território fomentou a constituição de um
município-pedagógico, na evolução administrativa e social, projetando e idealizando
programas de educação e instrução, na complementação da ação estatal.
Luchese (2015) apresenta a atuação da administração municipal na
promoção da instrução pública na Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul
entre os anos de 1890 a 1929, pois “[...] a escola pública foi requisitada e buscada
pelas famílias que se organizavam para a obtenção de tal benefício, e as
administrações municipais foram providenciais na concretização de tal condição”
(LUCHESE, 2015, p. 71). No estudo observa-se que a politica educacional em
âmbito municipal, com apoio do poder estadual, atentou uma progressiva absorção
das escolas étnico-comunitárias italianas, na transformação das escolas
comunitárias em escola públicas. As comunidades doavam os terrenos, construíam
a escola e muitas vezes mobilizaram, e o município tendo como prática a
subvenção4, através do pagamento do professor e o fornecimento de materiais.
Souza (2015) contribui para a historiografia da educação paulista, na
problematização da ação dos municípios na difusão da instrução pública primária no
inicio do período republicano na cidade de Campinas-SP. A autora analisou as
iniciativas da Câmara Municipal de Campinas, entre 1889 e 1910. O estudo apontou
a centralidade tomada pela educação na atuação política do poder público de
Campinas, que através da Câmara Municipal implementou iniciativas dada a sua
autonomia, na organização do sistema de ensino municipal, com criação de escolas,
manutenção de prédios, pagamentos de professores e materiais didáticos, bem
como reivindicar escolas estaduais e manter instituições beneficentes e particulares.
As escolas foram consideradas instrumentos para o estabelecimento e o
progresso da sociedade, através do “[...] discurso de que a escola torna-se o centro
de propagação de conhecimento, cultura e normas de conduta, necessários para o
crescimento e expansão da cidade rumo à modernidade, assim seria a educação o
principal instrumento de formação moral e intelectual de um povo.” (GATTI, 2010, p.
140).
Em síntese, observa-se nos estudos aqui apresentados que a ação municipal
em diferentes cidades do país possibilitou a constituição e ampliação da instrução.
Apontando as especificidades e as singularidades dos munícipios na materialização

4
Segundo Luchese (2015) a politica de subvenção foi criada pelo governo provincial e ampliada pelas
municipalidades no processo de expansão da educação.
das instituições escolares na dimensão da educação estritamente ligada ao
desenvolvimento das cidades. Esses estudos contribuem para novas discussões no
âmbito da historiografia regional, ao nos direcionar análises na busca da
compreensão do processo de aparelhamento da educação local e dos mecanismos
utilizados na ação municipal e educação em Campo Grande no sul de Mato Grosso.

2 A ação do poder estadual na educação de Campo Grande e do sul de Mato


Grosso
O foco deste tópico é compreender o processo de conformação da educação
no sul de Mato Grosso em estudos da historiografia educacional regional. Ao realizar
uma reconstrução histórica dos condicionantes envolvidos na implantação da
educação secundária na região sul de Mato Grosso (MARCILIO, 1963, BRITO,
2001), observa-se que Campo Grande e o sul de Mato Grosso, entre as décadas de
1920 a 1960 receberam investimentos reduzidos no campo educacional por parte do
poder estadual e nacional. O desenvolvimento econômico e social do Estado de
Mato Grosso girou em torno da pecuária, agricultura e comércio. Foi considerado um
dos estados que demoraram a se desenvolver no País no século XX. Muitos
enclaves, como crises políticas e econômicas, foram apresentados no decorrer de
sua história. Fatos estes ocasionados pela distância dos centros dinâmicos da
economia nacional e pela política estabelecida na região. A pequena densidade
populacional foi um dos motivos da dispersão geográfica. As cidades eram distantes
umas das outras.
A partir de 1920, a participação política da região sul do Estado começa se
manifestar, sem conexão com as diretrizes da centralização do poder de Cuiabá,
Esse movimento foi impulsionado por outros dois condicionantes, sendo estes: a
construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (1914) e a transferência do
Comando da Circunscrição Militar de Corumbá para Campo Grande (1921). Estes
fatores provocaram mudanças na parte sul do estado e principalmente em Campo
Grande, com a chegada de muitos imigrantes houve o desenvolvimento da pecuária,
indústria e comércio. O desenvolvimento econômico aumentou a arrecadação
estadual, porém a região sul não era contemplada por investimentos públicos. A
educação era precária, tanto a primária quanto a secundária.
Brito (2001) aponta que a situação precária da educação se dava por dois
fatores: o primeiro foi dado pela situação socioeconômica do Estado. Os impostos
arrecadados limitavam a organização do sistema de ensino, tendo em vista a grande
dimensão do Estado e a localização das cidades. O segundo fator era a aplicação
dos recursos de forma precária no setor educacional, pois eram atendidas as
prioridades singulares de diversos “grupos de pressão”, ou seja, aos interesses de
grandes pecuaristas, usineiros e a Empresa Matte Larangeira, mantendo certo poder
estatal. O Estado priorizou atender à educação primária, pela criação de escolas
isoladas e grupos escolares. A autora aponta que a educação secundária pública em
Mato Grosso teve investimentos reduzidos e poucos estabelecimentos, “[...] a
demanda e o investimento existentes em relação ao ensino primário já eram
limitados pelas características econômico-sociais do estado, tanto mais o eram estas
outras modalidades de ensino, para as quais concorria parcela bastante reduzida de
alunos egressos da escola primária” (BRITO 2001, p. 75).
Até meados da década de 1920, a educação secundária pública foi
concentrada na capital Cuiabá, no Liceu Cuiabano5 e na Escola Normal6. Com
apenas duas instituições, passou a ser mantida principalmente pela iniciativa
privada, sendo principais os seguintes: Liceu Salesiano “São Gonçalo” e Colégio
“Mato Grosso”, na capital; Ginásio Corumbaense e Colégio “Santa Teresa”, em
Corumbá; o Instituto Mirandense, em Miranda; e o Instituto Pestalozzi, em Campo
Grande. Em Mato Grosso, a partir da década de 1930, o governo passou a investir
na educação por meio de construções de prédios para a educação elementar
(escolas reunidas e grupos escolares), materiais de ensino e pagamento de
professores. Em 1922 na cidade de Campo Grande foi inaugurado Grupo Escolar
Joaquim Murtinho, com funcionamento precário, pela má conservação do prédio,
falta de mobiliário adequado e insuficiente investimento financeiro. Em 1930 o sul do
Estado foi beneficiado com a criação da Escola Normal Joaquim Murtinho em
Campo Grande, com poucos recursos funcionou em anexo ao Grupo Escolar.

5
O Liceu Cuiabano foi criado pela Lei provincial n. 536, de 3 de dezembro de 1879, com a denominação de
“Lyceu de Línguas e Sciencias”, tendo como princípio proporcionar uma educação capaz de acabar com a
“barbárie” ainda existente na província e seguir os padrões (modelo) do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Ver: SOUZA, R. S. O Ensino Secundário em Corumbá, sul do estado de Mato Grosso: o Ginásio Maria Leite
(1918-1937). 95 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande,
2010.
6
A Escola Normal de Cuiabá foi fundada em 1910, no governo de Pedro Celestino (1908-1911), tendo em vista
a situação precária da instrução pública do início do século. A contratação de professores normalistas em São
Paulo foi o primeiro esforço do governo para modernizar o ensino do Estado. (LEITE, 1970).
A Escola Normal de Cuiabá e a de Campo Grande formaram diversos
professores, porém, após o ano de 1937, essa modalidade de ensino entrou num
período de “decadência”7 no Mato Grosso. O governo de Müller reorganizou a
máquina estatal com a diminuição das secretarias e centralização da administração
e criou a Secretária Geral e concentrou diversas repartições, principalmente a
Diretoria da Instrução Pública. Nesse período, começou a se delinear o
investimento na educação secundária pública no sul de Mato Grosso, sendo criado,
no ano de 1937, o Ginásio Municipal Maria Leite, em Corumbá e, em 1938, criado o
Liceu Campo-Grandense, em Campo Grande, cidades importantes no
desenvolvimento econômico e social do Estado. (BRITO, 2001, p, 79).
Após a promulgação do Decreto-Lei n. 450, de 14 de julho de 1942, o governo
do Estado passou a regulamentar o ensino comercial e, assim em 1943 foram
criadas as seguintes escolas comerciais: a Escola Técnica de Comércio Carlos de
Carvalho e a Escola Técnica de Comércio Nossa Senhora Auxiliadora, em Campo
Grande; e a Escola Técnica de Comércio, em Três Lagoas. (MARCILIO, 1963).
Apesar dos investimentos na educação pública nas primeiras décadas do século XX,
a educação secundária não era gratuita, foi mantida por instituições privadas e duas
instituições públicas localizadas em Cuiabá. O regulamento de Instrução Pública de
1927 enfatizava apenas a gratuidade na educação primária. Na educação
secundária os alunos tinham de possuir recursos para a permanência e conclusão
dos cursos, pois as instituições cobravam muitas taxas escolares. Entre os anos de
1930 e 1954, o governo do Estado mobilizou esforços financeiros e legais para
ampliar a organização educacional e o acesso à educação secundária em no sul de
Mato Grosso com a abertura de cinco instituições públicas. Dessa forma, possibilitou
a ampliação de matrículas no Estado. Sendo estas: Escola Normal Joaquim
Murtinho (1931), Ginásio Municipal Maria Leite (1937), Liceu Campograndense
(1938), Ginásio Presidente Vargas (1958) e Ginásio Comercial Estadual 26 de
Agosto (1968).
Em súmula, as fontes da historiografia acadêmica regional contribuem para o
entendimento da constituição da educação pelos elementos históricos, econômicos

7
No governo de Julio Strubling Muller (1937-1945), com o Decreto n. 112, de 29 de dezembro de 1937, as
escolas normais foram desativadas, incorporadas novamente aos Liceus como uma “Seção Normal” e/ou um de
“Curso Especializado de Professores”. Ver: RODRÍGUEZ, M. V.; OLIVEIRA, R. T. C. História das políticas
educacionais brasileiras do século XX: a escola normal no sul do estado de mato grosso (1930- 1950). In: V
Jornada da Educação, Sorocaba, SP: 2005.
e sociais apresentados e nos levam a compreender o processo educacional da
instrução secundária na região sul de Mato Grosso e, mais precisamente, observar
como se deu a implantação e desenvolvimento das instituições secundárias em
Campo Grande.

3 O papel da municipalidade na consolidação da Educação Secundária em


Campo Grande
A proposta deste tópico é discutir o papel da ação municipal na educação em
Campo Grande, a partir das representações de educação nas memórias de
estudantes e professores focalizamos nos documentos legais a apreensão dos
condicionantes envolvidos no processo de constituição da educação secundária8 no
sul de Mato Grosso entre as décadas de 1920 e 1960.
Em Campo Grande, no inicio do século XX foram criadas instituições privadas
de ensino elementar e secundário para suprir a demanda educacional da cidade. O
Instituto Pestalozzi foi a primeira instituição secundária e é considerada o marco
histórico desse nível de ensino em Campo Grande, foi inicialmente instalado em
Aquidauana em 1915 por Arlindo de Andrade Lima, em 1917 a instituição transferiu-
se para Campo Grande.
Para Petitat (1994, p.11), a escola “[...] contribui para a reprodução da ordem
social; mas ela também participa de suas transformações, às vezes
intencionalmente, às vezes contra a vontade”. O desenvolvimento de uma sociedade
exige uma “permanente renovação” das técnicas sociais e culturais para construir
uma ordem dinâmica de relações entre grupos e classes em modificação. A escola é
produto de um “conjunto de relações de forças” e “trocas econômicas”.
Essa relação fica clara na narrativa de Luiz Alexandre de Oliveira,
apresentada na obra de Sá Rosa (1990, p. 31).
Em 1917, no inicio do ano, a convite da Prefeitura, ele transferiu o Instituto
Pestalozzi para Campo Grande. Além das vantagens que a Prefeitura lhe
concedia, como homem arguto, compreendeu que Campo Grande era um
campo bem mais promissor, para qualquer iniciativa no terreno escolar.
Aqui alugou uma casa recém-construída no local, onde fica hoje o Colégio
Dom Bosco e depois o prédio anexo, que foi erguido, de acordo com as
instruções dele, para servir de internato para meninas e meninos.

8
A estrutura da educação secundária do início do período da República até a década de 1970 foi composta pelos
cursos ginasial e colegial, com variações em sua denominação. Após o ano de 1931, o acesso se dava pelos
exames de admissão, responsáveis pela seletividade (Decreto n. 19.890 de 18 de abril de 1931). Após a
implantação da Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, o Estado fixou novas diretrizes e bases ao ensino de 1º e
2º graus, modificando o ensino primário e a educação secundária.
A memória é individual e seletiva9, por isso o pesquisador precisa se precaver e
buscar informações para contemplar a história. Ao se conceber a memória como
expressão individual, buscamos informações em documentos oficiais do município
(atas, resoluções, decretos e leis) para compreender a história.
No acervo digitalizado da Câmara Municipal de Campo Grande foi
encontrada, a Resolução n. 116, de 05 de julho de 1917, que determina a
“subvenção anual” por dois anos, ao Instituto Pestalozzi instalado em Aquidauana e
como condição este teria de se instalar em Campo Grande, atender às leis e normas
postas às instituições particulares e submeter-se à fiscalização da autoridade
municipal. A resolução, nos artigos 1º e 4º, determinou que a escola mantivesse os
cursos primário e secundário gratuitos, durante o período que receberam as verbas
da prefeitura, para o sexo masculino, jovens que não tinham condições financeiras.
Luiz Alexandre de Oliveira entre os anos 1918 e 1920 foi um desses alunos que
puderam frequentar o ensino no Instituto Pestalozzi.
Oliveira (1986) e Enciso (1986) apontam que no ano de 1925 Arlindo de
Andrade Lima transferiu o Instituto Pestalozzi ao professor João Tessitori. Ambos
colocam que ele investiu recursos físicos e intelectuais para compor o quadro de
professores, buscou profissionais formados em outras áreas na tentativa de
melhorar a educação na instituição e a parceria com o poder municipal para a
equiparação ao Colégio Pedro II. Em 1927, o Instituto Pestalozzi passou a receber
novamente recursos da municipalidade. Nos arquivos da Câmara Municipal de
Campo Grande, a Resolução n. 124, de 10 de fevereiro de 1927, denomina-o como
“Gymnasio Municipal de Campo Grande” e a subvenção aos trabalhos da
equiparação do Gymnasio ao Colégio Pedro II.
Art. 1º: O Gymnasio Pestalozzi, hoje Gymnasio Campo Grande, é
considerado estabelecimento municipal de ensino, passando a denominar-
se Gymnasio Municipal de Campo Grande. Art. 2º: O Gymnasio reger-se a
por estatuto próprio sob a condição de adaptar integralmente o programa de
ensino do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Art. 3º: Ao poder executivo
caberá exercer a fiscalização que julgar conveniente ao bom nome do
estabelecimento, reservando-se-lhe o direito de interesses na orientação
dos seus trabalhos, fazer-se juridicamente ou pessoa de sua indicação. Art.
4º: Ao poder executivo caberá no corrente exercício o crédito que for
necessário ao custeio do serviço de fiscalização oficial do estabelecimento e
consignará nos custeios orçamentários a verba referente a cada exercício,
enquanto perdurar a equiparação do Gymnasio. (CAMPO GRANDE, 1927).

9
Segundo Halbwachs (2004, p. 84), “[...] um dos objetivos da história pode ser, exatamente, lançar uma ponte
entre o passado e o presente, e restabelecer a continuidade interrompida.”
Em contrapartida, a Resolução n. 203, de 26 de fevereiro de 1929
estabeleceu que a instituição oferecesse o ensino secundário gratuito para dez
estudantes pobres selecionados pela Intendência Municipal e a redução de 50% de
desconto nas taxas de exames. Observa-se aqui que a instituição ofereceu através
das determinações do poder municipal o ensino gratuito e a seleção dos alunos
bolsistas seria uma forma de garantir à contrapartida da prefeitura a instituição.
Cabe ressaltar, mesmo que com nova denominação o Gymnasio Municipal de
Campo Grande não pode ser considera uma instituição pública, pois se manteve
privada, pois conforme a Resolução n. 228, de 28 de maio de 1930, a prefeitura
pagou a João Tessitori & Cia Limitada, a subvenção anual declarada na Resolução
n. 203, de 26 de fevereiro de 1929.
Através das resoluções da Câmara Municipal de Campo Grande verificamos
que no Gymnasio Municipal de Campo Grande funcionou anexa a Escola Normal
Municipal de Campo Grande. A Resolução n. 145, de 13 de julho de 1927 criou a
instituição e deliberou em seus artigos sobre sua organização. Nos artigos
determinou que o programa de ensino fosse baseado nos moldes da Escola Normal
da capital de Cuiabá, o regimento interno elaborado pelo Conselho de Ensino do
Gymnasio com a aprovação da Intendência Municipal, o ensino gratuito cabendo à
diretoria de o Gymnasio arcar com as taxas de inscrição e exames, e também a
fiscalização do ensino sob a responsabilidade da Intendência Municipal. A Escola
Normal Municipal teve como função o preparo de professores para o magistério
primário, tendo em vista a falta de cursos de formação de professores na cidade.
Enciso (1986) revela que por questões de saúde o professor João Tessitori,
no ano de 1930, transferiu para os padres salesianos a instituição. Os salesianos
assumiram a direção desse Ginásio que passou a se chamar “Gymnasio Municipal
Dom Bosco” e, depois, “Ginásio Dom Bosco”, em 1942. Conforme a Lei n. 119 de 15
de dezembro de 1949, o município de Campo Grande autorizou o titulo de
aforamento definitivo do terreno do Colégio Municipal Dom Bosco.
O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora foi criado em 25 de fevereiro de 1926 e
instalado inicialmente num prédio alugado na Rua 26 de Agosto. Ofereceu o
internato, semi-internato e externato, iniciou nas atividades dos cursos primário e
complementar. Foi o primeiro colégio feminino do sul do Estado. Esta instituição
privada de cunho religioso também recebeu auxílio da municipalidade para a
instalação do Colégio na cidade, localizaram-se três resoluções nos arquivos
digitalizados da Câmara Municipal de Campo Grande. A primeira, n. 127, de 27 de
outubro de 1927, concedeu auxílio financeiro para a aquisição de mobiliário e
material escolar, a segunda, n. 186, de 10 de novembro de 1928, concedeu
gratuitamente o aforamento do terreno para a instalação da instituição, e a última, n.
246, de 4 de julho de 1930, concedeu um auxílio financeiro para estimular a
construção do novo prédio da instituição localizado na Rua Pedro Celestino.
Em 15 de março de 1927, o professor Henrique Correa iniciou as atividades
do Instituto Osvaldo Cruz10, tendo como iniciativa os anseios dos grupos sociais da
elite diante da ausência de ginásios públicos e com características de internato. O
Instituto Osvaldo Cruz funcionou no antigo Instituto Rui Barbosa, criado por Luiz
Alexandre de Oliveira, em 1923, que ministrava aulas do ensino primário. Após o
reconhecimento oficial, o professor Luiz Alexandre de Oliveira retrata que o Ginásio
Osvaldo Cruz passou por muitas modificações administrativas, devido às mudanças
de proprietários e de diretores. Em 1942, o professor Luís Alexandre de Oliveira
adquiriu o Instituto. Em sua autobiografia relata que enfrentou grandes dificuldades,
pelas dívidas herdadas e pelos embates políticos, principalmente com os salesianos.
No decorrer da gestão de Luiz Alexandre de Oliveira a Câmara Municipal de
Campo Grande ofereceu através da Lei n. 109, de 09 de dezembro de 1949 subsidio
anual a instituição como forma de contribuição para a formação de 25 alunos pobres
dos cursos básico, ginasial e comercial. Os alunos seriam selecionados pela Seção
de Educação e Assistência com a aprovação do executivo municipal e a instituição
forneceria a prefeitura o acompanhamento mensal de frequência e aproveitamento
dos alunos bolsistas. Em seguida, a Lei n. 208, de 29 de janeiro de 1951 concedeu
o titulo definitivo do terreno da instituição localizado na Rua 26 de Agosto.
Enciso (1986) revela que ajudou como secretária da prefeitura o professor
Felipe Tiago na fundação em 12 de novembro de 1949 da Campanha Nacional de
escolas da Comunidade (CNEC)11 em Mato Grosso e o Ginásio Barão do Rio
Branco. Este Ginásio também recebeu auxílio da municipalidade, conforme consta
na Resolução n. 433, de 20 de setembro de 1955, que concedeu auxilio anual a
instituição. E também, a Lei n. 779, de 04 de julho de 1962, que conferiu o titulo de

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Em 1929, passou a denominar-se “Ginásio Osvaldo Cruz”, após avaliação da junta examinadora deliberada
pela Reforma Rocha Vaz (1925) que regulamentou a organização administrativa e pedagógica da instituição
nos moldes do Colégio Pedro II.
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Fundada em 1943, na cidade de Recife/PE, como Campanha do Ginasiano Pobre, tornou-se em 1947 a
Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Em 1969, passa a se chamar Campanha Nacional de Escola da
Comunidade. Até hoje, o mais expressivo movimento de educação comunitária da América Latina.
aforamento provisório do terreno para a construção do prédio da instituição
localizado na Avenida Afonso Pena e a Lei n. 957, 18 de maio de 1966, que
concedeu a doação do terreno definitivo para a Campanha Nacional de
Educandários Gratuitos.
A pesquisa no Diário Oficial da União revelou que o Ginásio Barão do Rio
Branco recebeu verbas nos anos de 1954, 1963 e 1964, juntamente com o Colégio
Oswaldo Cruz, o Colégio Dom Bosco, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, entre
outras instituições de Campo Grande. Essas verbas destinadas às instituições
demonstram o interesse e o investimento do poder público federal na educação
secundária em Campo Grande, reflexo das necessidades econômicas e sociais do
País.
As resoluções aqui apresentadas demonstram o interesse da municipalidade
na instalação da instituição na cidade, uma contribuição da prefeitura para resolver a
falta de estabelecimentos de ensino, pois na década de 1930 funcionavam apenas o
Instituto Pestalozzi (1917) e o Grupo Escolar Joaquim Murtinho (1921). Havia a falta
de instituições dedicadas à educação secundária.
Cabe ressaltar que a ação municipal na educação também deliberou sobre a
organização do sistema de ensino municipal. A Câmara Municipal decretou a Lei n.
05 de 1937, esta lei criou o Departamento de Educação e Cultura e organizou a
Instrução Pública Municipal. Deliberando sobre a os tipos de escolas, a organização
dos ensinos primário e secundário, concurso de professores e fiscalização das
escolas. No artigo 14 define a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário. O
Artigo 23 delibera ao município a obrigatoriedade de prestar auxílio aos alunos
concluintes do curso ginasial que se distinguiram em todas as disciplinas para
prosseguimento dos estudos superiores na cidade ou em outros centros urbanos.
Para os alunos concluintes com bom aproveitamento das escolas técnico-
profissionais o Artigo 24 delibera sobre o auxílio para cursos de aperfeiçoamento e
garantia de trabalho nos serviços públicos.
Segundo Bourdieu (2011, p. 211):
[...] a escola propicia aos que se encontram direta ou indiretamente
submetidos a sua influencia, não tanto esquemas de pensamento
particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora
de esquemas particulares capazes de serem aplicados em campos
diferentes do pensamento e da ação. (BOURDIEU, 2011, p. 211).
Assim, os alunos que obtiveram distinção e que modificaram seus habitus por
meio da instrução tiveram oportunidades de modificarem suas trajetórias na inserção
nos cursos superiores, ou em cargos públicos com reconhecimento social.
A ação municipal em Campo Grande ofereceu bolsas de estudos para
estudantes pobres, conforme a Lei n. 429 de 19 de setembro de 1955. Foram
concedidas 30 bolsas de estudos para estudantes reconhecidamente pobres dos
cursos noturnos de escolas particulares. Em 1966, a Lei n. 666, de 08 de fevereiro
de 1960 ampliou de 30 para 40 o número de bolsas concedidas pela municipalidade.
Além do subvencionar o ensino de estudantes pobres na cidade, o poder municipal
subvencionou através das leis n. 376, de 16 de agosto de 1954 e n. 426, de 17 de
setembro de 1955 a Associação Matogrossense de Estudantes localizada na cidade
do Rio de Janeiro, cujos associados eram estudantes da cidade. A Câmara
Municipal novamente através da Lei n., de 31 de dezembro de 1947 criou a Seção
de Educação e Assistência Educacional do Munícipio, subordinada ao gabinete do
prefeito com a responsabilidade de dirigir e orientar o ensino municipal, inspecionar
os estabelecimentos de ensino e fiscalizar as aplicações das subvenções anuais nas
instituições.
Esse conjunto de resoluções e leis que subvencionaram e auxiliaram
instituições privadas de educação secundária revela a preocupação do poder
municipal com a educação, tendo a educação como base modificar o nível cultural e
social da cidade, em vista que a cidade estava em processo de crescente
urbanização. A escola torna-se um agente de socialização capaz de compor a
personalidade intelectual da sociedade.
Na verdade, embora a escola seja apenas um agente de socialização
dentre outros, todo este conjunto de traços que compõem a personalidade
intelectual de uma sociedade – ou melhor –, das classes cultivadas da
sociedade – é constituinte ou reforçado pelo sistema de ensino,
profundamente marcado por uma história singular e capaz de modelar os
espíritos discentes e docentes tanto pelo conteúdo e pelo espirito de cultura
que transmite como pelo método segundo os quais efetua esta transmissão.
(BOURDIEU, 2011, p. 227).
Em síntese, o conjunto de resoluções e leis aqui apresentadas revela que
houve a presença do poder público municipal na instrução campo-grandense na
ausência de uma ação eficaz do poder publico estadual para atender a demanda
educacional da cidade e do sul de Mato Grosso. As subvenções anuais, os auxílios
financeiros, doações de materiais e terrenos, entre outros, podem ser
compreendidas por meio da categoria de análise “município pedagógico”, ou seja, a
compreensão que a prefeitura utilizou-se de forças locais para manter a educação
secundária em Campo Grande. As subvenções anuais foram utilizadas como
estratégias de difusão da instrução pública ao determinar o acesso de alunos pobres
aos cursos primários e secundários das instituições particulares.

Considerações Finais
Enciso (1986) e Oliveira (1986) em suas autobiografias contribuem para a
história da educação ao desvelarem através de suas memórias escritas a ação
municipal e educação no contexto de Campo Grande no período de 1920 a 1960. As
memórias apresentadas condicionaram a busca por mais informações sobre o tema,
revelando um forte investimento do poder municipal na instrução secundária na
cidade. O conjunto de documentos apresentados revelou que as iniciativas
particulares na educação e o apoio da Câmara Municipal possibilitou o acesso a
educação na cidade e, principalmente, o acesso escolarização secundária para
alunos sem condições financeiras de frequentar a educação secundária num período
que ainda o acesso era elitista.
As instituições privadas participam do jogo político, articulando os interesses
privados a subordinação da esfera estatal, ou seja, as instituições privadas são
mantidas e subvencionadas pelo poder público para suprir as necessidades
objetivas da sociedade. Em Campo Grande, as instituições privadas são exemplo
desse modelo, este modelo foi concretizado primeiramente, com o Instituto
Pestalozzi, que em 1917 recebeu recursos da municipalidade para transferir-se para
Campo Grande. Em seguida, ampliou para outras instituições privadas, como o
Instituto Oswaldo Cruz, Gymnasio Municipal de Campo Grande, Colégio Nossa
Senhora Auxiliadora, Colégio Dom Bosco e Ginásio Barão Rio Branco.

Referencias

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