Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ART
2
ART
ART
Reitor da Universidade de Brasília
José Geraldo de Sousa Junior
Vice-reitor
João Batista de Sousa
Dados da Obra:
Título: Art - Arte e Tecnologia // MODUS OPERANDI UNIVERSAL
Organizadores: Cleomar Rocha, Maria Beatriz de Medeiros e Suzete Venturelli
3
ART
Conselho editorial
Cleomar Rocha
Maria Beatriz de Medeiros
Suzete Venturelli
Projeto Gráfico
Cleomar Rocha
Capa
Maria Antonia Zanta Nobre
Diagramação Interna
Ronaldo Ribeiro da Silva
Bruno Ribeiro Braga
4
ART
Sumário
8 Apresentação
Cleomar Rocha, Maria Beatriz de Medeiros e Suzete Venturelli
9 Cidade expandida: hibridismo e expansão de um conceito
para o contexto das redes tecnológicas
aGNuS VaLeNTe e Nardo Germano
23 Objetos Tecnopoéticos: uma abordagem da Neuroestética e
da Neuroarte
Alberto Semeler
33 Arte, conhecimento e livros virtuais
Ana Beatriz Barroso
41 Percepção em lá menor
Anna Barros
50 Interação, criação e agência
Cleomar Rocha
56 Posthuman Tantra: BioCyberShamanism
Uma Performance Multimídia Cíbrida.
Edgar Franco
65 Registros e ausências: arte contemporânea como desafio para
historiadores da arte
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira
72 A experiência estética: consciência, linguagem e narrativa
Fernando Fogliano
81 Projetos Catavento e Amoreiras
Gilbertto Prado e Grupo Poéticas Digitais
89 Números
Hugo Rodas
93 O universal no imaginário sistêmico das poéticas
cartográficas: aclopamentos e desvios nos processos de criação
transmidiáticos
Lucia Leão
103 A relevância da arte-ciência na contemporaneidade
Lucia Santaella
112 Identidade cultural de grupo no processo de design, produção
e interação na arte de transição, transiarte, uma ciberarte coletiva na
Educação de Jovens e Adultos – EJA
Lúcio Teles e Aline Zim
5
ART
6
ART
Autores
aGNuS VaLeNTe e Nardo Germano / USP
Alberto Semeler / UFRGS
Aline Zim / UnB
Ana Beatriz Barroso / PPG-Arte - UNB
Anna Barros
Cleomar Rocha / UFG
Daniela de Oliveira / UnB
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira / PPG-Arte - UNB
Fernando Fogliano / Centro Universitário do SENAC
Gilbertto Prado / USP
Lucia Leão / PUC - SP
Lucia Santaella / PUC-SP
Lúcio Teles / UnB
Luisa Paraguai / Universidade Anhembi Morumbi
Marcus Mota / Departamento de Artes Visuais- UnB
Cinthia Nepomuceno / IFB-DF
Miguel Gally / Departamento de Artes Visuais- UnB
Nelson Maravalhas Junior / PPG-Arte - UnB
Oliver Grau / Danube University - Austria
Pedro de Andrade Alvim / PPG-Arte - UNB
Priscila Arantes / PUC-SP
Raúl Niño Bernal / Pontificia Universidad Javeriana de Bogotá
Sandra Rey / UFRGS
Suzete Venturelli / PPG-Arte - UNB
Tania Fraga / PPG-Arte - UNB
Thérèse Hofmann Gatti / Departamento de Artes Visuais- UnB
Virgínia Tiradentes Souto / Departamento de Artes Visuais- UnB
Rogério Camara / Departamento de Desenho Industrial - UnB
Yara Guasque / UDESC
7
ART
Apresentação
Cleomar Rocha1, Maria Beatriz de Medeiros2 e Suzete Venturelli3
8
ART
Cidade expandida: hibridismo e expansão de um conceito
para o contexto das redes tecnológicas
aGNuS VaLeNTe e Nardo Germano1
Referências
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
ARNOLD, Alvin L. 2001 AD: Real Property Law and Investment in Retrospect. Prob. & Tr. J.,
Boston, Massachussetts, v.7, 1972.
CUNHA, Isabel Ferin. Identidade e Reconhecimento nos Media. MATRIZes: revista do PPG em
Comunicação da ECA/USP, São Paulo, n.1, p.187-208, 2007.
DOMINGUES, Diana. (org.). A Arte no Século XXI: A Humanização das Tecnologias. São Paulo:
Fundação Ed. UNESP, 1997.
GELLOUZ, Mohamed Aziz. Théâtre Citoyen: un modèle d’avenir... 2007. 128p. Programme
20
ART
d’Apprentissage Expérientiel par l’Intervention Communautaire de l’Université de Sherbrooke
(PAEIC), Quebec, Canadá, 2007
______. Auto-Retrato Coletivo discute identidade em espaços públicos. Ars: revista do PPG em
artes visuais da ECA/USP, São Paulo, n.11, p.120-121, 2008.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. R.Janeiro: DP&A, 2006.
KRAUSS, Rosalind. Sculpture in the Expanded Field. October, vol.8, p.30-44, 1979.
SMITHSON, Robert. The Writings of Robert Smithson. New York: NY University Press, 1979.
WILLIAMS, Raymond. O Campo e a Cidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
1 aGNuS VaLeNTe: Artista híbrido, Doutor e Mestre em Artes pela ECA/USP, Professor
Assistente Doutor em Artes Visuais no IA/UNESP, um dos líderes do Grupo de Pesquisas
“Poéticas Híbridas”, atuando como pesquisador nos Grupos de Pesquisa “Arte-Mídia e
Videoclip”, “cAt” (IA/UNESP) e “Grupo Poéticas Digitais” (ECA/USP). Contato: agnusvalente@uol.
com.br
Artes Visuais (ECA/USP), Bacharel em Letras (FFLCH/USP, 2001) e, no âmbito da pesquisa, atua
como membro do “Grupo Poéticas Digitais” (ECA/USP). nardogermano@uol.com.br.
3 Noção de extensão desde a aldeia: “the village, as Munford explains in ‘The City in History’,
had achieved a social and institutional extension of all human faculties” (MCLUHAN,1994,p.93).
22
ART
Objetos Tecnopoéticos: uma abordagem da Neuroestética
e da Neuroarte
Alberto Semeler1
30
ART
Referências Bibliográficas
FLUSSER, Villém. Memories. In: Ars Eletronica Facing the Future. London: MIT, 1999.
FLUSSER, Villém. On science. In: Signs of life: Bio Art and Beyond. London: MIT, 2007.
MARR, David. Vision: a computacional investigation into human representation and prosessing of
visual information. Massachusets: MIT, 2010.
POPPER, Frank. From Tecnological to Virtual Art. London: The MIT Press, 2007.
POPPER, Frank. Art of the Eelectronic Age. New York: Thames & Hudson, 1997.
POPPER, Frank. Arte, Acción y Participación: el artista y la creatividad hoy. Madri: Akal, 1989.
POPPER, Frank. Origins and Development of kinetic art. New York: New York Graphic Society,
1968.
HOFFMAN, Donald D. Visual intelligence: How we create What we Se. New York: W. W. Norton,
1998.
KRISTEVA, Julia. Powers of Horror: an essay on abjection. New York: Columbia University, 1982.
LECHTE, Jonh. Key Contemporary Comcepts: from abjection to zeno’s paradox. London: SAGE,
2003.
MANOVICH, Lev. The Languague of New Media. London: MIT Press, 2001.
MANOVICH, Lev. Understanding Hybrid Media. In: HERTZ, Betti-Sue. Animated Painting. San
Diego: San Diego Museum of Art, 2007, p. 18-45.
FOSTER, Hal. The Return of Real: the avant–garde at the end of the century. Massachusets: MIT,
1996.
ONIANS, Jonh. Neuroarthistory: from Aristotele and Pliny to Baxandal and Zeki. London: Yale,
2007.
SIMONDON, Gilbert. El modo de Existencia de Los Objetos Técnicos. Buenos Aires: Prometeo,
2008.
SIMONDON, Gilbert . Dos leciones Sobre el Animal y El Hombre. Buenos Aires: La Cebra, 2008.
ZEKI, Semir. Inner Vision: an exploration of art and the brain. London: Oxford, 1999.
ZEKI, Semir . Splendors and Miseries of the Brain: love, crativity, and the quest of Human
Happiness. London: Blackwell, 2009.
STAMENOV, Maxim I, and Vitorio Gallese. Mirror Neurons and the Evolution of a Brain and
Language. Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2002.
31
ART
2 Charge-Coupled Device
32
ART
Arte, conhecimento e livros virtuais
Ana Beatriz Barroso1
Durante muito tempo se forjou a idéia de que a arte seria uma forma
misteriosa de lidar com a realidade, ora criando ilusões e escapes para as
mazelas do cotidiano, ora representando fragmentos do que seria de fato
o real, em toda sua crueza, beleza e desespero. O artista, dotado de gênio
e sensibilidade fora do comum, seria aquele cujo poder de representar tais
ilusões e fatos ou de retratar o mundo sensível, encantaria, seduziria e até
convenceria as pessoas de que um outro mundo é possível, um mundo
imaginário, embora concreto, uma realidade outra. Um sistema paralelo, à
parte, abriria-se assim às consciências tocadas pelo poder da arte, que lhes
daria em troca o passaporte infalível de acesso a esse universo fabuloso,
extasiante e extraordinário. Durante muito tempo, essa talvez tenha sido
a inquestionável função da arte e do artista: entreter, representar, mostrar,
expressar, fazer sonhar e evadir. Se, por um lado, a indústria cultural
lamentavelmente foi se apropriando cada vez mais dessa função, que ainda
assim se exerce e nos encanta, por outro, novas funções e disfunções foram
aparecendo.
Por um processo lento, paulatino, mas também aparentemente súbito e
radical, foram se formando outros conceitos de arte, talvez, aparentemente
também, mais radicais e temerosos. Nada poderia ser menos encantador
que um urinol apresentado como obra de arte. Assim, o século XX viu
a arte e os artistas inventarem e assumirem novas funções, abraçarem
causas as mais diversas, irem às ruas, às páginas das revistas, dos livros e
33
ART
Referências Bibliográficas
BARTHES, Roland. Inéditos, vol.3 – imagem e moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
BENJAMIN, Walter. Sur le language en général et sur le langage humain. IN Œuvres I. Paris:
Éditions Gallimard, 2000.
BORGES, Jorge Luis. Ficções. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
COHEN, Ana Paula. in: Pedrosa, Adriano; MOURA, Rodrigo [orgs.]. Através: Inhotim.
Brumadinho, MG: Instituto Cultural Inhotim, 2008.
MONTELLO, Josué. Os tambores de São Luís. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.
LOPES, Nei. Mandingas de mulata velha na cidade nova. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo:
Paulus, 2004.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. 26ª edição. São Paulo: Cultrix, 2010.
39
ART
40
ART
Percepção em lá menor
Anna Barros1
Sistemas perceptivos
Esta minha instalação faz parte de um conjunto de obras que tem por
assunto amostras de uma árvore petrificada colhida em Mata, RGS; um Ypê
46
ART
e sua semente. Nesta obra, as amostras são da árvore petrificada, varridas no
microscópio de força atômica, que se tornam atuantes, dentro do universo
poético, em três animações digitais em 3D; elas conservam a percepção tátil
da topografia gerada pelos microscópios. Enfatizando a percepção tátil e
háptica, duas das animações são projetadas sobre um tapete texturizado,
detonadas pela movimentação interativa das pessoas ao rolarem sobre o
tapete, ora uma, ora outra, segundo a área atingida.
Elas guardam a característica de tecitura de animações renderizadas
em wire frame. Outra animação é vista sobre a parede fronteira, anexa ao
tapete, esta renderizada.
Apresento Tecendo o Espaço como uma incursão viva ao campo
de pesquisa deste trabalho; ela pode ser considerada como uma obra
duplamente híbrida, no sentido de ligar o real com o virtual, ao fazer a
reconsubstancialização da imagem nano na sua projeção sobre o corpo
humano. O que quero dizer é que a representação da escala nanométrica na
imagem passa a fazer parte da nossa escala ao ser projetada sobre o corpo,
assim assumindo seu tamanho. Ela visa “vestir”, o que significa ter a mesma
escala do que é vestido. Sendo vestimenta ela passa a ser tátil, háptica,
sendo para o interator visível em partes incompletas, aliás, como toda
percepção o é do todo. Para o fruidor da instalação ela gera um conjunto
interativo e imersivo, alia a visão à performance.
A percepção é multisensorial. Toda a ambience visa um conjunto
perceptivo que transcende a pura experiência física a facilitar uma imersão
no encanto e magia da nanoarte, o de poder experimentar o universo
em uma escala em que é possível construir um novo mundo a partir de
átomos e moléculas. O artista, atualmente, busca dar forma e presença a
um corpo e a um mundo do qual só temos a percepção intuitiva e no qual
somos formados a partir da complexificação da molécula. Nas palavras de
Ascott, (on line, 2009) esse mundo “desenha nosso próprio Dasein, e onde,
nosso sentido de Ser e de Tempo estão mudando... de nossa base no nano
campo podemos construir muitos mundos e desenhar múltiplas realidades.
Nós habitamos um espaço-fase, em um tempo não-linear.” (Ascott, 2009).
O fluir constitutivo e as qualidades imagéticas das animações digitais
são elementos básicos à atualização do sincretismo apregoado por Ascott
gerado pela mídia, que “ transita o espectro do seco e do úmido, do natural
e do artificial, incorporado e distribuído, tangível e efêmero, visível e oculto”.
(Ascott, 2009).
Rio de Janeiro. Meus contatos científicos atuais são com os Laboratórios da Física
USPSP e São Carlos, Nanobiologia da UnB e recentemente com o Centro de
Microscopia Eletrônica, na Física da UFRGS.
A obra procura uma conectividade entre a coerência cultural, a quântica e a
espiritual, que seriam a base de um novo desenho de campo, segundo Ascott
(2009). Nela, a ciência, a arte e a tecnologia juntas, visam gerar novas maneiras de
comportamento e de comunicação.
Essas experiências se dão nesse espaço sincrético incluindo o espaço mítico,
onde o espaço e o tempo estão demarcados e uma repetição contínua desses
elementos acontece pelo looping do vídeo. Seguindo minha dissertação de
mestrado Espaços Rituais do Arquétipo do Feminino na Arte Contemporânea, (ECA-
USP), uma das funções desse arquétipo é o de abrigar, o que, se atualiza aqui
pelo vestir virtual do interator pelas imagens da animação digital constituída por
interpretações da nanociência.
Na instalação, as imagens científicas são tratadas no Blender para conseguir
um objeto em bitmap que possa se constituir no sujeito-ator da animação. O
conteúdo mágico-poético remodela a experiência científica. As imagens são
retrabalhadas com a liberdade estética.
Fim
É sempre difícil analisar intelectualmente uma obra de arte principalmente,
quando ela é de nossa autoria, pois o que predomina no ato criativo é a
imaginação e a intuição, com conotações quase sempre impossíveis de ser
traduzidas verbalmente. Na nanoarte, isso ainda se torna mais difícil pelo caráter
fluido, ambíguo e impreciso do comportamento do átomo e das moléculas, o
que é uma constante na nanociência, e que, quando atualizadas em imagens,
tornam-se conformadas e imutáveis. Quando esse campo de conhecimento
é traduzido por poética em tecnologia digital, tudo se complica por abranger
qualidades e ações próprias de dois pares:o real e o virtual, a ciência e a arte e
as duas com qualificações determinadas e determinantes. Entretanto, o que
torna possível é o uso da mesma linguagem e da nossa consciência multilinear
e de espaços híbridos, onde é possível construir uma realidade sincrética. Ascott
acrescenta em suas considerações a participação mística quando não é mais
possível distinguir-se o objeto de nós mesmos. Antes dele, Carl Jung, na psicologia
profunda, apresentou a alquimia, como um processo importante na individuação,
a qual comumente é vista de maneira semelhante à nanotecnologia pela busca
de transformar os materiais, mas que é de fato uma ligação para a transformação
espírito-matéria. A participação mística para Jung é uma relação profunda entre
o sujeito e a matéria desenvolvendo um caráter numinoso (transcendente), onde
se formam os símbolos.
A magia na nanoarte pode estar incluída nessa participação. Neste texto,
esperamos fazer vislumbrar algo que resulta de nossas elucubrações, sobre Gibson,
Merleau- Ponty e Ascott e porque não Carl Jung, pois, todos eles têm tido uma forte
influência em minha maneira de pensar e de sentir.
Na análise dos textos de Ascott, encontrei um exemplo das mudanças
perceptivas que poderão ocorrer no mundo da tecnologia. Meu trabalho de arte,
contudo, foi criado antes dessa análise, podendo ser um exemplo do que ele
48
ART
apregoa e, não, fruto disso.
Encerro com uma frase de Jung sobre a arte:“ela ocupa-se de processos criativos
que o intelecto pode descrever, mas que só a experiência vivida pode entender”.
(1970, p. 608)
Referências
GIBSON, James J. The Senses Considered as Perceptual System, Cornell University, Boston:
Houghton Mifflin Company, 1966.
MITCHELL, W.T. “There is no Visual Media”. In Media Art History, ed. Oliver Grau,Cambridge,
Massachusetts, London, England: The MIT Press, 2007, p. 400.
Textos on line
49
ART
O interator
50
ART
Todo sistema interativo, neste sentido, realiza uma ação a partir de um
dado inicial provocado pelo usuário. O usuário, como o nome já o diz, é o
sujeito que usa o sistema, não aquele que o cria ou o desenvolve, não se
confundindo com o criador ou desenvolvedor deste sistema.
Isto significa dizer que todo sistema interativo depende de um usuário
que o acione. Os aplicativos computacionais são interativos. Se eu não
acionar as teclas para produzir um texto no Word, ele não executará a tarefa
de gerar os caracteres sequenciados na ordem em que o eu determinei. O
fato de eu ter acionado, contudo, não me faz autor do Word, mas do texto
produzido. O fato de eu, na condição de usuário, ter definido uma ordem de
lexias – unidades mínimas do sintagma -, não me faz autor das lexias, mas
de sua ordenação, do percurso que eu escolhi fazer. Em última instância
estamos defendendo que o interator ou interagente é um usuário, o usuário
de sistemas interativos.
Avancemos em nosso raciocínio, buscando ampliar um pouco mais
a noção de usuário enquanto agente. Shannon, ao conceber a Teoria da
Informação, estabeleceu como receptor o sujeito que recebe a o código e
o decodifica, alcançando a mensagem original. Neste aspecto o receptor
não sofre a ação comunicacional, mas a exerce, enquanto sujeito da ação
de receber, de ser afetado pela comunicação. Há, necessariamente, o
reconhecimento da ação, que por si é uma ação. Um objeto jamais será um
receptor de informação. A teoria semiótica traz, em Peirce, o fundamento da
terceiridade, que é o interpretante, que reforça a ideia de que o receptor, ou
intérprete nesta concepção teórica, é agente e não paciente de uma ação.
O intérprete gera os interpretantes, mediante a afetação que os signos
causam nele, acionando a semiose. A interpretação é o resultado enquanto
ação que desvela e cria sentidos. Dito de outro modo, é equivocado pensar
que o receptor é um elemento paciente, que não executa ação alguma,
apenas acolhe, indistintamente, signos ou outros elementos que o afetam.
O leitor, como já o disse Ricoeur (1994) cria elementos mentais que dão
vida aos signos. Ele, leitor, os vivifica no ato, ação de ler. Um livro, um texto,
jamais acionará alguma coisa se não for lido. E ler é posicionar-se enquanto
receptor. Neste sentido um texto terá o mesmo efeito que um sistema
interativo sem seu leitor ou usuário: nenhum. E se o fato de ler não torna
o leitor o autor ou co-autor, não haveria motivos de dizer que o usuário
de um sistema interativo se torna autor ou co-autor, apenas por realizar o
que lhe cabe, o acionamento do sistema, por mais complexo que ele seja.
Certamente disciplinas como Análise do Discurso e todas as hermenêuticas
depõem favoravelmente no sentido de que os signos não são completos
em si, mas precisam de interpretantes que o vivifiquem, gerando uma
gama possível de sentidos. Sem um leitor que acione os signos, um texto
será tinta sobre uma superfície. Um trabalho interativo simplesmente não
será, como um texto não lido também não será.
Aberturas
Criação e cocriação
O ato da criação é definido por fazer surgir algo, seja material ou mental.
Um objeto tem um autor, tanto quanto um conceito ou uma palavra
também o tem. A criação não está restrita a execução de um trabalho,
mas basicamente em sua idealização, antes mesmo de ser executada.
Certamente Duchamp não criou o urinol que denominou de fonte, mas
52
ART
foi seu gesto que fez de um objeto utilitário um ícone da Arte. Assim, a
autoria não está somente contemplada pela construção objetual, mas pelas
articulações de sentido criadas a partir dele.
Criar é mais que fazer existir um objeto. Caminhando, de Lygia Clark,
é um conjunto de instruções e não uma peça. A peça é feita por cada um
que queira experienciar o trabalho da artista. Ainda que alguém execute o
trabalho e o experiencie, ainda assim Caminhando será de autoria de Lygia
Clark, e não de quem executou o trabalho.
Cocriação é a criação conjunta, portanto que resulta no trabalho a
ser apresentado, seja na condição de sintaticamente concluído, seja na
condição de instruído ou dado a manipulação ou interação. O cocriador não
é aquele que executa uma atividade determinada pelo autor, mas sim aquele
que constrói com o autor as regras de sua execução ou criação. O cocriador
não é o jogador, mas um dos autores do jogo. Dito de outro modo, o uso de
sistemas interativos, por mais complexos que eles sejam, não se equipara
a determinação de regras sobre as quais o sistema opera. Soa forçosa a
aproximação do usuário com o autor do sistema interativo. Ademais, ser
usuário não desqualifica o sujeito que opera o sistema, fazendo-o ativo, do
mesmo modo que ser receptor não desqualifica intelectualmente aquele
que ativa a semiose, que a completa. Pelo contrário, emissor e receptor,
autor e leitor, artista e público são peças-chave para que o processo
comunicacional se complete. Ainda que não se confunda criação, cocriação
e recepção, não há se de observar tais termos de modo preconceituoso ou
como medida de valor. Sem qualquer um destes sujeitos, o trabalho não
acontece, não é, como aponta a fenomenologia (MERLEAU-PONTY, 1999).
Talvez o incômodo com o termo receptor tenha sido construído com a
comunicação de massa (SANTAELLA, 1996), que potencialmente restringe
a ação do receptor, na medida em que sua construção ocorre em meio a
milhares de outros receptores, sendo sua competência hermenêutica
individual não considerada, a não ser que ela se equipare a de outros
milhares, perfazendo um índice majoritário da assistência. Entrementes,
ainda assim, o exercício é realizado. E na cultura digital superamos esta fase,
a da cultura de massa, no que a digressão acerca do receptor pode, e deve,
ser também superada, retomando sua importância original, seu papel de
fundamento da comunicação, no plano individual.
Agência
Palavras finais
Referências
ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São
Paulo: Perspectiva, 1976.
54
ART
MURRAY, Janet H. Hamlet no holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. Trad. de Elissa
Jhoury Daher, Marcelo Fernandez Cuzziol. São Paulo: Itaú Cultural: Unesp, 2003.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa (tomo 1), Trad. Constança Marcondes Cesar. São Paulo:
Papirus, 1994.
55
ART
56
ART
Vita More, Stelarc, Roy Ascott, Diana Domingues, Eduardo Kac, David
Cronenberg, Enki Bilal. Reflexões tecnognósticas e a busca de aspectos
transcendentes em um contexto hipertecnológico também compõem o
espectro conceitual das músicas e performances da banda, o que envolve
investigações sobre movimentos como The Extropy, Transhumanism &
Immortalism. Edgar Franco - o criador do projeto, é arquiteto pela UnB,
mestre em multimeios pela Unicamp e doutor em artes pela ECA/USP; ele
estuda as perspectivas pós-humanas nas ciberartes - uma pesquisa sobre
artistas controversos como os já citados Kac, Orlan e Pauline, entre outros.
Franco é também artista multimídia com várias criações que vão de histórias
em quadrinhos, ilustrações para revistas e capas de CDs, poesia visual,
música, chegando a trabalhos de web arte como “NeoMaso Prometeu” -
que recebeu menção honrosa no 13º Videobrasil - Festival Internacional de
Arte Eletrônica. O Posthuman Tantra pretende ser um casamento constante
entre as criações visuais de Edgar Franco, o universo da música eletrônica
e das performances multimídia. Desde sua criação o Posthuman Tantra já
participou de dezenas de compilações em 3 continentes e lançou álbuns
em parceria com a banda francesa MELEK-THA, além do álbum de estréia
“Pissing Nanorobots” (2004) e dos dois álbuns oficiais, “Neocortex-Plug-
in”(2007) e “Transhuman Reconnection Ecstasy (2010), lançados pela
gravadora Suíça Legatus Records, com quem a banda tem um contrato para
o lançamento de mais 2 álbuns.
A banda tem recebido resenhas positivas em importantes veículos da
área de música eletrônica como a revista Judas Kiss da Inglaterra, o site
bielorusso The Machinist (em que “Pissing Nanorobots” recebeu nota 9) e
na revista brasileira Rock Hard Valhalla (a qual incluiu entrevista e resenha
de “Neocortex Plug-in” – também com nota 9). Em 2010 o Posthuman
Tantra lançou por sua gravadora, A Legatus Recs (Suíça) seu segundo full-
lenght “Transhuman Reconnection Ecstasy”, com excelente repercussão na
mídia especializada, também em 2010 a banda iniciou suas performances
multimídia ao vivo, estreando nos palcos em junho durante o Woodgothic
Festival II, em São Thomé das Letras (MG), o festival é considerado um
dos mais importantes da cena gótica brasileira e reuniu também atrações
internacionais. A recepção à apresentação do Posthuman Tantra foi muito
calorosa pelo público presente que destacou o aspecto inusitado do
show multimídia apresentado. Logo depois, ainda em junho, a banda se
apresentou no III Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura Visual da UFG,
a apresentação, que lotou o auditório da FAV - Faculdade de Artes Visuais
da Universidade Federal de Goiás, além dos vídeos e efeitos em realidade
aumentada contou com a participação exclusiva da performer Aline Bueno.
Em novembro de 2010 o Posthuman Tantra se apresentou no Museu
Nacional, em Brasília, durante o 9# ART - Encontro Internacional de Arte e
Tecnologia. O público da apresentação foi pequeno, mas seleto, pois incluía
alguns dos mais importantes artistas e pesquisadores da arte tecnologia
no Brasil. A apresentação contou com os integrantes do Grupo de Pesquisa
Criação e Ciberarte da UFG, e foi selecionada pela curadoria da exposição
EmMeio#2 para integrar o evento.
Também em novembro o Posthuman Tantra se apresentou no 16º
57
ART
Mais adiante Jenkins apresenta seu ponto de vista de que estamos “numa
época em que poucos artistas ficam igualmente à vontade em todas as
mídias” (2009, p.139), reafirmando sua crença no caráter compartimentado
da geração de produtos de entretenimento da industrial cultural mesmo
no contexto da chamada cultura da convergência. A questão importante
para mim, enquanto artista interessado em desenvolver poéticas autorais
desconectadas de uma obsessão mercadológica e consumista, é burlar essa
perspectiva compartimentada das narrativas transmidiáticas no contexto
da indústria cultural e tentar produzir trabalhos artísticos que utilizem as
mesmas estratégias transmídia, mas com objetivos poéticos e de auto-
expressão. O universo ficcional transmídia da “Aurora Pós-humana” - um
work-in-progress desenvolvido por mim desde o ano 2000, e para o qual já
realizei obras artísticas em múltiplos suportes - é o meu esforço pessoal de
levar as narrativas transmidiáticas para o contexto da arte.
Atualmente minha obra nas múltiplas mídias toma como base um
universo de ficção científica que criei, a “Aurora Pós-humana”. São trabalhos
que trazem em seu teor o chamado “deslocamento conceitual”, definido
pelo escritor norte americano P. K. Dick (apud QUINTANA, 2004), pois
desloco o tempo, a gnose e a tecnologia para um futuro hipotético para,
na verdade, tratar de questões contemporâneas. A “Aurora Pós-humana”
é um universo ficcional futurista criado por mim inspirado por artistas,
cientistas e filósofos que refletem sobre o impacto das novas tecnologias:
bioengenharia, nanotecnologia, robótica, telemática e realidade virtual
sobre a espécie humana. Para sua criação também me inspirei no reflexo
desses questionamentos na cultura pop, com o surgimento de filmes
- eXistenZ, Matrix, 13º Andar, Gattaca, Avatar - e de seitas como as dos
Imortalistas, Prometeístas, Transtopianos e Raelianos. Esses últimos, por
exemplo, crêem na clonagem como possibilidade de acesso à vida eterna,
nos alimentos transgênicos como responsáveis futuros pelo fim da fome
no planeta, e na nanotecnologia e robótica como panacéia que eliminará
59
ART
Referências:
FRANCO, Edgar Silveira (Org.). Desenredos: Poéticas Visuais e Processos de Criação. 6. ed.
Goiânia: UFG/FAV; FUNAPE, 2010.
FULLER, R. Buckminster. Manual de Instruções para a Nave Espacial Terra, Via Optima:
Lisboa, 1998.
QUINTANA, Haenz Gutiérrez. Os Discursos da Ciência na Ficção, in: Revista On-line Com
Ciência (Tema: Ficção e Ciência, nº 59, outubro), Url: http://www.comciencia.br/reportage.
shtml, 2004.
63
ART
1 Edgar Franco. É artista multimídia, mestre em multimeios pela Unicamp, doutor em artes
pela USP, pós-doutorando em arte e tecnociência pelo LART – Gama/ UnB com bolsa PDJ CNPq
e professor permanente do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade
de Artes Visuais da UFG. oidicius@gmail.com, (62) 3268 3879
64
ART
Registros e ausências: arte contemporânea como desafio
para historiadores da arte
Emerson Dionisio Gomes de Oliveira1
obra em si, mas também à maneira como essa obra se inscreveu no tempo
segundo múltiplos remanejamentos, segundo os processos tipológicos
e os toponímias autorizadas. O sistema a posteriori é entendido, em
primeiro lugar, como um fenômeno que intervém ulteriormente para dar
inteligibilidade ao passado, mas se define também como um suplemento
de sentido que só se desdobra mais tarde, reforçando uma cadeia
teleológica, recusando, por exemplo, obras que possuem uma genealogia
duvidosa. A ausência da obra cria um problema grave para tal sistema, ao
mesmo tempo pode nos servir para repensar nossas práticas metodológicas
diante dos processos que nos oferecem a obra enquanto materialidade ou
desdobramento (registro).
Eis uma questão que coloca o historiador da arte diante de todo um
conjunto de problemas próprios a outros campos da história. Da mesma
forma que artistas contemporâneos estão empenhados há décadas em
dissolver as fronteiras entre a prática artística e o cotidiano ordinário,
desmistificando, por um lado, o sentido idealista atrelado ao fazer arte e,
de outro, ainda mitificando o lugar social do artista. Alguns artistas que se
negam a construir processos memoriais para suas obras estão exigindo que
se dissolvam algumas fronteiras entre historiadores da arte e os demais
campos do conhecimento preocupados com narrativas sobre o passado
(historiadores, antropólogos, cientistas socais, literatos, etc.)
O desafio para nós, narradores de um dado passado, está diante de
uma obra que leva, à radicalidade, sua inspiração “imaterial”. Teremos
que procurar nossas fontes fora de uma inspiração individual tornada
obra. Procurá-las, talvez, no remodelamento, na reapresentação e na
recontextualização da obra pela inspiração individual tornada testemunho,
enfrentando todas as indeterminações que isso acarreta.
Ao contrariar os sistemas narrativos legitimadores, os artistas nos
forçam a repensar a prática de compreender suas obras, expondo quanto
historiadores têm sido cúmplices “a favor de uma idéia do curso da
história da arte e da situação da arte”. Isso porque “ainda estamos presos
a um sentido de arte cada vez menos compreendido, que conseguimos
identificar apenas no quadro de sua história prévia” 7.
As obras não registradas lembram-nos de que a liberdade de
interpretação própria ao universo da arte não significa apenas encadear
variantes mais ou menos complexas escondidas sob um jargão autorizado;
também não é algo que fique apenas no domínio do gosto ou da fantasia
individual, contrariando muitos teóricos relativistas. A liberdade deriva do
fato de que é preciso inventar algo que não existia até então: aquela mesma-
outra obra numa dada época. Construir narrativas possíveis é, sobretudo,
compreender que a obra se liberta através do gesto da interpretação.
Liberta-se de uma identidade na qual a tradição tinha tentado paralisá-la.
Desta forma, essa negociação entre obra e intérprete talvez venha a ser
o grande desafio para a compreensão dos trânsitos culturais por meio de
uma história da arte avessa aos enquadramentos ilusoriamente universais e
autônomos 8. Afinal, para além das possibilidades individuais dos produtores
e intérpretes das obras de arte, há uma rede de instituições que tenta, a
70
ART
seu modo e finalidade, estabelecer sentidos unívocos ou dominantes para
os objetos que acolhem ou interpretam. Os usos que essa rede efetiva
sobre determinadas produções podem, em boa medida, ser percebidos
pelos processos discursivos que os legitimam dentro de instâncias tão
complementares quanto concorrentes como a história da arte, a estética, a
crítica e a pedagogia. O exemplo de 4 dias 4 noites só pode frequentar uma
narrativa histórica graças à legitimidade de seu autor, porque sua própria
existência interpretativa é precária.
É claro que estamos diante de uma minoria de artistas e de atos isolados,
mas que se tornaram desafios prementes à prática historiográfica. Se, para
esta minoria de artistas, não há sentido em produzir uma memória da arte,
como discutir a obra de determinado artista que pode apenas avisar, por
meio de redes sociais, que realizará uma performance pelas ruas de uma
grande cidade, mas que além de não registrá-la se recusa a comentá-la?
Será que essa obra existiu? E, se a obra não existe enquanto discurso, como
produzir uma narrativa histórica? Como instituir uma legibilidade e uma
legitimidade para ela? Sem a obra e sua legitimidade há artistas? Se não há
arte nem artistas, o problema parece resolvido, pois para que serviriam os
historiadores da arte?
2 FREIRE, Cristina. O latente manifesto: arte brasileira nos anos 1970. In: GOLÇALVES, Lisbeth
R. (org.). Arte Brasileira no século XX. São Paulo: ABCA: Imprensa Oficial, 2007, p.237.
3 RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. Trad. José Miranda Justo. Lisboa: Orfeu Negreo,
2010.
4 RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François [et al.].
Campinas: Editora da Unicamp, 2007, p.455.
5 idem.
7 BELTING, Hans. O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois. Tradução de Rodnei
Nascimento. São Paulo: Cosac Naify, 2006,p.135
8 idem, p.24.
71
ART
Ainda pode causar surpresa para alguns, colocar lado a lado campos
do conhecimento, ou da atividade humana, distintos ou díspares. Isso
acontece mesmo depois do surgimento de campos multidisciplinares do
conhecimento como as teorias que exploram a Complexidade. Ganhou
importância, por exemplo, a Ecologia e a visão integradora que ela
proporciona. A distinção entre os campos do conhecimento é, na visão
de Wilson (1999), “artefato da erudição”. As ciências naturais fornecem
o suporte epistemológico necessário para que se possa debruçar sobre
questões, das mais variadas naturezas, a respeito do universo que nos
cerca. Uma das consequências desse tipo de abordagem é a necessidade
de que se considere o conhecimento como um corpo único e complexo;
a percepção de que este constitui um organismo fragmentário constituído
por um composto de disciplinas autônomas é ilusória (Fogliano, 2002).
“A confiança na consiliência é o fundamento das ciências naturais. Pelo
menos para o mundo material, o impulso tende esmagadoramente à unidade
conceitual. Fronteiras disciplinares dentro das ciências naturais estão
72
ART
desaparecendo, para ser substituídas por domínios híbridos mutáveis onde
a consiliência está implícita. Esses domínios estendem-se por vários níveis de
complexidade, da física química e química física à genética molecular, ecologia
química e genética ecológica. Nenhuma das novas especialidades é considerada
mais do que um foco de pesquisa. Cada uma é uma indústria de ideias originais
e tecnologia em avanço.” (Wilson, 1999, p.9-10)
76
ART
intencional. Intencionalidade e sensibilidade.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
ALEKSANDER, Igor. The world in my mind, my mind in the world: key mechanisms of
consciousness in people, animals and machines. Exeter: Imprint Academic, 2005.
ATAPP, Henry P. Mind Matter and Quantum maechanics. New York: Springer verlag Heidelberg,
1993.
BOYD, Brian. On the origino f stories: Evolution, cognition and fiction. Cambridge: The belknap
Press of Havrad University Press, 2009.
DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
GIBBS, Raymond W. Jr. Embodiment and cognitive science. Cambridge: Cambridge University
Press, 2007.
JOHNSON, Mark. The meaning of the body: Aesthetics of human understanding. Chicago: The
University of Chicago Press, 2007.
79
ART
KAPTELININ, Victor e Nardi, Bonnie A. Acting with technology: Activity Theory and Interaction
Design. Cambridge: MIT Press, 2006.
LAKOFF, George e Mark Johnson. Philosophy in the flesh: The embodied mind and its
challenge to western thought. New York: Basic Books, 1999.
MASSEY, Irving. The neural Imagination: Aethetic and Neuroscientific Approaches to the Arts.
Austin: University of Texas Press, 2009.
NEIDICH, Warren. Blow-Up: photography, cinema and the brain. New York: Distributed Art
Publishers, Inc., 2003.
ONIANS, John. Heuroarthistory: from Aristotle and Plyni to baxandal and Zeki. New haven:
Yale University Press, 2007.
RAMACHANDRAN, V.S. and Hirstein, William. “The Science of Art: A Neurological Theory of
Aesthetic Experience” in Journal of Counsciousness Studies, 6 6-7, pp. 15-51, 1999.
. V.S. and Hubbard, E.M. The Phenomenology of Synaesthesia in: Journal of
Consciousness Studies 10 (8):49-57, 2003.
80
ART
Projetos Catavento e Amoreiras
Gilbertto Prado1 e Grupo Poéticas Digitais2
Catavento
Catavento é um projeto sobre o diálogo de céus e de nuvens que
se formam em função do local, da intensidade e da direção dos ventos
compondo uma projeção em tempo real. O trabalho considera os eixos
de Brasília (Asa Norte, Asa Sul etc.) como referência para a disposição dos
pontos cardeais sobre o mapa brasileiro, de modo que a obra traga, em
função da direção dos ventos, as nuvens de distintos pontos do Brasil,
configurando um diálogo simbólico de céus locais e imaginários. As nuvens
são formadas por partículas geradas por algoritmos a partir do vento local
que aponta para céus distantes e se compõem numa projeção em tempo
real.
O que opera nos fluxos é a força da própria natureza: a direção dos
ventos de Brasília elegendo o local cujo céu será gerado, no fluxo dos dados,
no fluxo da cidade, dialogando através da cor-céu e movimento-vento.
Os dados são captados por uma estação meteorológica (alinhada
com os eixos de Brasília), mais especificamente da biruta, do vento local,
na sua intensidade e direção. A composição visual do projeto é afetada
diretamente pelos dados recebidos. As “nuvens” são geradas por sistemas
81
ART
82
ART
Amoreiras
Conceituação
Descritivo
3 BIONDI, Daniela; REISSMANN, Carlos Bruno. Avaliação do vigor das árvores urbanas
através de parâmetros quantitativos, In: Scientia Florestalis, n. 52, dez. 1997, p.17-28.
5 A parte feita em Java da programação do projeto Amoreiras foi realizada com o uso
do NetBeans e utiliza as seguintes bibliotecas: JavaOSC <http://www.illposed.com/software/
javaosc.html> RXTX <http://rxtx.qbang.org/wiki/index.php/Main_Page> Links úteis: NetBeans
<http://netbeans.org/> JDK <http://java.sun.com/javase/downloads/index.jsp>
7 DIMENSTEIN, Gilberto. Amoreiras Inteligentes, In: Folha de São Paulo, Caderno Cotidiano,
C2, 30/06/2010.
88
ART
Números
Hugo Rodas1
sete ou oito anos. Mais tarde entenderia isso como o encontro do numero
com o divino,o tempo de representá-lo, senti-lo ,ritualizá-lo. Até hoje faço
esse exercício com meus alunos - tempo,numero e o infinito e íntimo do
obscuro, e a liberdade do movimento nessa segurança.
Naquele momento, tudo era embalado pelos musicais da época, os quais
me enlouqueciam - via duas ou três vezes, contava e recontava ,cantava
cada tempo para aprender e repetia no meu quarto as coreografias, tempo
por tempo,passo por passo. Creio que foi meu primeiro contato espiritual e
prazeroso com o numero. Já não me cercavam, nem me torturavam.
Tive outras “experiências” como, por exemplo, contar quando me
punham de castigo.No começo era só a conta por si mesma. Em vez de rezar,
contava. Logo que eu reconheci o tempo que durava, eu comecei a apostar.
Por exemplo: a conta oscilava de 100 a 500 dependendo da gravidade da
falta - o que vinha a dar em uns 200 a 1000 na realidade, porque eu sempre
contei de a dois para dar mais tempo ao numero e trabalhar diferentes
ritmos,quer dizer sempre contei compasses: 2/4: 1-2 - 2-2 - 3-2 – 4-2 .Ou
3/4 :1-2-3 – 2-2-3 – 3-2-3 – 4-2-3. O que resultava em outra brincadeira
preenchendo o meu tempo de espera. Nos anos setenta esta forma de
contar rendeu num exercício coreográfico que trabalho ate hoje,uma frase
numérica do numero um ao nove.
A frase é composta da seguinte maneira:
8 tempos de 1 ,-fortes
4 grupos de tempos 6.-o 1º. e 4º, Fortes, o 2º. 3º. 5º.e 6º. suaves
4 grupos de tempos 8.-o 1º.4º.e 7º.fortes, o 2º. 3º. 5º. 6º.e 8º. suaves
4 grupos de tempos 9.-o 1º.3º.5º.e 7º.fortes, o 2º. 4º. 6º. 8º.e 9º. suaves
2) ES-tou-COME-çando A-en-TEN-der
3) ESTOU-come-çando A-enten-der
90
ART
4) ESTOU-come-çan-DO A-en-ten-DER
5) ESTOU-começando-a- ENTEN-der
6) ESTOU-começando-a En-ten-der
7) ESTOU-come-ÇAN-do A-enten-der
8) ES-tou-come-ÇAN-do-a-ENTEN-der
9) ES-tou-COME-çan-DO-a-En-ten-der
Histórias...
91
ART
Considerações
“com ordem e com tempo encontrasse o segredo de fazer todo e todo fazer
bem”
92
ART
O universal no imaginário sistêmico das poéticas
cartográficas: aclopamentos e desvios nos processos de
criação transmidiáticos
Lucia Leão1
95
ART
Estudos de casos
Considerações finais
Referências bibliográficas
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão craidora. São Paulo:
Pioneira/EDUSP, 1980.
CARD, Stuart, Jock Mackinlay, Ben Shneiderman. Readings in Information Visualization: Using
Vision to Think. São Francisco: Morgan Kaufmann Publ., 1999.
GITELMAN, Lisa. Always Already New: Media, History and the Data of Culture. Cambridge: The
MIT Press, 2008.
LEÃO, Lucia. Cartografias em mutação: por uma estética do banco de dados. In: Lucia Leão.
(Org.). Cibercultura 2.0. São Paulo: U.N. Nojosa, 2003.
MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: The MIT Press, 2001.
101
ART
PETITOT, Jean. Local/global. In Enciclopédia Einaudi, vol 4. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da
Moeda, 1985, pp.11-71.
2 “Eu defino mídia como estruturas de comunicação realizadas socialmente, sendo que
essas estruturas incluem as formas tecnológicas e seus protocolos associados; e a comunicação
é uma prática cultural, uma colocação ritualizada de pessoas diferentes compartilhando um
mesmo mapa mental, ou envolvidos com ontologias populares de representação “.
4 http://www.visualcomplexity.com/vc/
6 http://content.stamen.com/
7 http://www.gapminder.org/
9 http://number27.org/
10 http://www.daylife.com/
102
ART
A relevância da arte-ciência na contemporaneidade
Lucia Santaella1
103
ART
Hibridações da ciência-tecnologia-arte
• (b) Ciências físicas (física das partículas, energia atômica, geologia, física,
química, astronomia, ciências espaciais e tecnologia GPS).
108
ART
Artistas pioneiros na arte-ciência
109
ART
Paralelismos e afinidades
Apesar das evidentes diferenças não se quer sugerir que não existem
paralelismos, afinidades e similaridades entre a ciência e a arte. Entretanto,
as similaridades não são capazes de anular o argumento que estou aqui
apresentando, a saber, enquanto a arte, no seu processo de produção e nos
seus alvos, está cada vez mais interseccionada com a ciência, a recíproca
não é verdadeira.
O que a ciência tem de mais forte é sua perscrutação das leis
evolucionárias da natureza por meio de protocolos e métodos analíticos
rigorosos e mediações fortemente codificadas. O que a arte tem de mais
desafiador está na criação de mediações sintéticas, qualitativas e sensíveis
com capacidade revelatória de mundos atuais ou possíveis. Fundir essas
110
ART
duas forças é o norte da arte-ciência contemporânea.
Em suma, constatar as distinções entre arte e ciência não pode nos cegar
para a similaridade ou identidade do lado criativo dessas duas atividades
mais nobres de nossa espécie. Arte e ciência diferem nos métodos e nos
envolvimentos pessoais que implicam. Mas o que as unifica é o espírito
inventivo que está no âmago do humano. Uma inventividade que, por ser
portadora de uma finalidade sem fim, a arte está mais apta a levar ao limite.
Por isso mesmo, os artistas são os arautos daquilo que a humanidade tem
de mais admirável: a capacidade de transcender os constrangimentos da
realidade, na luta perene e vital para tornar o humano cada vez mais digno
de si mesmo.
Referências bibliográficas
AZEREDO CAMPOS, Roland (2003). Arteciência. Afluência de signos co-moventes. São Paulo:
Perspectiva.
GRAU, Oliver (2003). Novas imagens da vida. Realidade virtual e arte genética. Em Arte e vida
no século XXI – Ciência, tecnologia e criatividade, Diana Domingues (org.). São Paulo: Unesp.
MANDELBROJT, Jacques (1994). Introduction. Art and science: similarities, differences and
interactions. Leonardo vol. 27, no. 3, The MIT Press, 179-180.
111
ART
114
ART
O impacto das novas tecnologias na arte é descrita por Benjamim
(2005) que estudou o uso de tecnologias na sociedade e sua relação com
a arte de seu tempo. Ele chegou à conclusão de que novas tecnologias
fazem com que a obra de arte seja cada vez mais reprodutível (como por
exemplo na reprodução do som, primeiro no fonógrafo, depois nos discos
de vinyl, até nossos dias com o som digitalizado; ou a fotografia, tanto
digital quanto analógica). Ao ser reprodutível em grande escala a arte
perde sua “aura” ao mesmo tempo em que chega a setores mais amplos
da sociedade, e se democratiza. Benjamin afirma que quando mudam as
épocas históricas e com elas as formas de como a sociedade produz seu
sustento, muda também a percepção dos seres humanos. Esta mudança
sensório-perceptiva leva a uma transformação na forma como nós como
seres humanos percebemos os fenômenos sociais, inclusive a arte.
Uma mudança histórica recente foi a introdução da tecnologia digital
no planeta. Nossas formas de comunicação foram alteradas e também a
maneira de nos expressarmos na nossa comunicação cotidiana. A tecnologia
digital permite que amplos setores da população possam participar em
vários âmbitos antes relegados a poucos. Uma delas é a arte digital que
permite que uma grande parte das pessoas possam ser potencialmente
criativas.
Arte e tecnologia
Estética relacional
do grupo ele vai aprender a negociar esta relação do individuo com o grupo
enquanto experiência estética. Segundo Cunha (2007),
As ações artísticas relacionais são calcadas no desenvolvimento do pensamento
artístico através da criação de interstícios sociais nos quais novas “possibilidades
de vida” são desenvolvidas e se revelam possíveis – é a estética da conciliação.
Desenvolvem suas práticas através da criação de mundos possíveis com os aspectos
mais proximos da realidade humana, são feitas com os vizinhos, com os quais se
acredita ser mais urgente inventar relações.
Vídeo “Tribus”
Um dos trabalhos desenvolvidos pela equipe transiarte aconteceu na semana
cultural da escola do Centro de Ensino Médio 03, que acontece duas vezes por
ano. Cursos de vários tipos são disponíveis: artesanato, dança, música e também a
transiarte. A seguir o processo de gestação, criação, e postagem de um videoclipe
chamado Tribus.
Foi numa sexta-feira, último dia de atividades, que foi apresentado o
videoclipe Tribus (ver clipe no site) no auditório da escola. Os estudantes
116
ART
de EJA (Educação de Jovens e Adultos) conduziram esse espetáculo que
aconteceu em torno do vídeo. Houve um encantamento pela técnica e a
identificação imediata entre ela e espectador.
Tudo começou a partir de discussões em roda entre a equipe da
UnB, professores e estudantes da escola, até definirmos um roteiro das
atividades para a oficina transiarte: 1. Geração de temas, discussão do
problema gerador; 2. Roteiro e planejamento das atividades; 3. Execução
artística e audiovisual (fotografias, filmagens, desenhos, teatro, bonecos,
massinha, gravação de músicas, colagens etc.); 4. Edição digital (captação
de vídeos e músicas da internet, tratamento das imagens e áudio, edição do
material captado segundo o roteiro); 5. Postagem do vídeo no site www.
proejatransiarte.ifg.edu.br para interação com internautas.
No Tribus o calouro jogador de basquete, o reaggeiro, o skatista, a
patricinha, a roqueira, o emo, a nerd e a funkeira foram os personagens
escolhidos pela roda de discussão. Por isso o clipe tem pedaços do rap
da periferia, do funk carioca, o punk rock, o pop americano e o pop rock
brasileiro, o reagge de Bob Marley, música popular brasileira, interpretados
cada um pelo seu personagem.
Os estereótipos mostram a diversidade cultural, as classificações e os
rótulos na escola. Nas conversas de roda cada um se sentia mais próximo
de um ou de outro personagem. Na verdade faltaram personagens para
tantas modas e comportamentos classificáveis. Faltaram também os
personagens múltiplos, híbridos, que representam vários tipos ao mesmo
tempo ou então variações desses tipos. Talvez a roda de conversa poderia
ser um espaço de expressão das identidades dos estudantes e professores
de EJA. Participantes sugeriram imagens da identidade cultural de cada um,
das origens e das identidades múltiplas associadas aos grupos, à escola e à
cidade.
Cidade das feiras, cidade dos repentistas ou cidade-dormitório, a cidade
de Ceilândia é o lugar onde as pessoas são muitas – o maior colégio eleitoral
do Distrito Federal. É um espaço próprio de construção de identidades
múltiplas, de transições. Seus habitantes vêm de todo o país, principalmente
do Nordeste. Mais que espaço de transição, a Ceilândia é bairro, moradia
e encontro. Um encontro de tribos, de guetos, de grupos diferentes e
ao mesmo tempo semelhantes entre si. Naquele momento, na roda de
conversa dentro da escola ceilandense, as identidades emergiram em forma
de personagens caricatos, cada um com seus tipos e comportamentos.
E quais são as modas para esses estudantes de Ceilândia? A roda
mostra que essas são modas muitas vezes globalizadas e globalizantes.
Fazem referência direta ao comportamento de se ouvir determinado tipo
de música e pertencem ao mundo atual, ao presente. Onde? De todos
os lugares e em toda parte, do hip-hop mais pedido nas rádios à música
popular brasileira - que de tão popular atravessou o mundo. As modas, as
origens e os destinos se confundem e se misturam; geram outras coisas.
Culturas híbridas, culturas múltiplas, e culturas novas.
Na tentativa de representar os tipos, surgem os personagens
caracterizados na vestimenta e no comportamento, e essa classificação
117
ART
120
ART
Conclusões
121
ART
Referências
ARANTES, Pricila. @rte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Editora SENAC São
Paulo, 2005
BARROS, Anna & SANTAELLA, Lucia. Mídias e Artes: os desafios da arte no início do século XXI.
São Paulo: Unimarco Editora, 2002.
BARBIER, René. A Pesquisa-Ação. Trad. Lucie Didio. Brasilia: Liber Livro Editora, 2007.
. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994 (Obras escolhidas vol
I).
. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 1995 (Obras escolhidas vol II).
. Culture as Screenplay: How Art Reprograms the World. Nova York: HAS &
Sternberg, 2005.
BRITES, B.; TESSLER, E. O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes
plásticas. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002 (Coleção Visualidade; 4).
DOMINGUES, Diana. Arte, Ciência e Tecnologia: passado, presente e desafios. São Paulo:
Editora UNESP, 2009.
. Arte e vida no século XXI: tecnologia, ciência e criatividade. São Paulo: Editora
UNESP, 2003.
SANTAELLA, Lúcia & ARANTES, Priscila. Estéticas Tecnológicas: novos modos de sentir. São
Paulo: Educ, 2008.
SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo:
Paulus, 2004.
122
ART
TELES, Lúcio. Reconfigurações estéticas virtuais na transiarte. in MARTINS, Raimundo.
Visualidade e Educação. Goiânia: Editora da Universidade Federal de Goiás.
123
ART
124
ART
Assim, compreende-se o código computacional como “técnicas
contemporâneas de controle, comunicação, representação, simulação,
análise, tomada de decisão, memória, visão, escrita, e interação”
(Manovich, 2008, p.8). Para McWilliams (2006) o software atua como “uma
contínua conexão entre homem e máquina”, sistematizando métodos e
técnicas de trabalho, práticas e processos de representação e expressão,
enquanto apresentações do sensível.
Assim, como todo processo de produção, podemos afirmar que o
contexto digital conforma uma materialidade, que passa a “funcionar de
forma interpenetrada, mediante dispositivos transdutores e de interfaces
adequadas, possibilitando a transdução para outros meios” (PLAZA e
TAVARES, 1998, p.31). Também para Hayles (2002, p.23-24) o código
computacional é compreendido como uma “tecnologia de inscrição”, que
pode congregar dispositivos distintos e produzir mudanças matéricas
– marcas. Para a autora estas inscrições tecnológicas são capazes de
produzir transformações constantes no contexto e nas circunstâncias –
compreendidos como processos de significação.
Para Manovich (2008, p.13) “os programas computacionais são usados
para criar e acessar objetos e ambientes midiáticos, articulando funções
de autoria e de acesso”. O trabalho denominado moveable type, 2007,
de Ben Rubin e Mark Hansen, apresenta diariamente em 560 pequenos
displays as notícias atualizadas e arquivos do jornal New York Times, bem
como as atividades dos usuários no website - navegar, buscar, comentar;
a proposta dos artistas organiza-se através de métodos estatísticos e
algoritmos computacionais para estabelecer na materialidade do visível o
reconhecimento da cultura da colaboração em ambientes hipermidiáticos
na Web.
Outra questão importante a ponderar é a compreensão desses objetos
computacionais como prática cultural; assim, enfatizam-se os processos de
mediação na elaboração de outras dimensões imateriais como os códigos
de comportamento, ideologias, hábitos, rituais, valores e significados. “A
essência do computador - matemática e fundamentos lógicos, [...] como
máquina - forma de operar da cultura” (MANOVICH, 2008, p.11).
A linguagem computacional codifica a construção e o agenciamento
da visualidade, e torna-se responsável portanto, pela formatação e
expressão das informações. Estes códigos são percebidos como textos
sobrepostos mediando o humano e a máquina, enquanto deixam rastros
e marcas como em um palimpsesto. Também, para Martin Barbero (apud
Santaella, 2007) “hibridizar a densidade simbólica da abstração numérica
com a sensorialidade perceptiva” implica em acessar e modular estes dados
diversos gerando estruturas complexas no campo do visível.
Considerações finais
O texto procura estabelecer relações entre os fundamentos lógicos
da máquina computacional e as operações visuais como um outro layer
estabelecido no campo da arte e do design. Importa-nos a sistematização
destes processos criativos na medida em que promove a compreensão de
várias ações criativas da sociedade contemporânea, como a visualização
de dados científicos, de imagens de diagnóstico, de sensoriamento. As
imagens resultantes apresentam-se em suas distintas materialidades do real
como imagens cifradas e portanto, polissêmicas em suas manifestações. Os
objetos computacionais vêm, assim, organizando propriedades físicas e os
usos históricos, mas, sobretudo, estruturando nossas interações de maneira
sutil.
Referências Bibliográficas
Press, 2002.
MANOVICH, L. Software takes command. Novembro, 2008. Disponível
em <http://lab.softwarestudies.com/2008/11/softbook.html>. Acesso em
janeiro, 2011.
MUNARI, B. Design as art. London, England: Penguin Books. 1971.
PLAZA, J.; TAVARES, M. Processos criativos com os meios eletrônicos:
poéticas digitais. São Paulo: Editora Hucitec, 1998.
REAS, C.; McWILLIAMS, C.; Barendse, J. Form+Code in Design, Art, and
Architecture. New York, NY: Princeton Architectural Press, 2010.
128
ART
Dança, metro e música: geração de arquivos sonoros de
textos da tragédia grega
Marcus Mota1 e Cinthia Nepomuceno2
132
ART
Nesse sentido, justifica-se o uso de duas tablaturas: a métrica, na qual
se marcam as durações(e, consequentemente, os acentos) e estrutural,
na qual se registram as seções e suas divisões. No lugar de uma notação
apenas, que procura simular a performance para preencher o pressuposto
vazio representacional da música da tragédia grega, temos a produção de
outros formas de representação a partir mesmo desse não acabamento do
registro. Ou seja, no lugar de preencher o “vazio” ou as lacunas da tradição,
desloca-se o foco para modos complementares de tornar compreensível os
fatos cifrados nos textos.
Como se pode concluir, a passagem das tablaturas para os arquivos
de som e midi acarreta não só uma mudança no perfil realizacional da
pesquisa. De posse das tablaturas, as decisões interpretativas no registro
vocal do texto metrificado acarretam o enfretamento dos limites das
informações dessas tablaturas. Esta situação sincrônica do intérprete
retoma aspectos da diacronia: parcas notações que restaram de parâmetros
musicais dos textos clássicos gregos nos mostram que havia um vínculo
tradição e performance, no sentido de o intérprete não dispor uma obra
mais explícita em seu acabamento antes do ato de sua efetivação. Mesmo
os sinais presentes nos fragmentos de notação melódica são esparsos, não
cobrindo todas as notas a serem vocalizadas, diferentemente da notação
métrica, presente em cada sílaba (Pölmann e West 2001) . De forma que
os textos restantes da tragédia grega manifestam a dialética da abertura
de sua construção: não há a prerrogativa de uma instância prévia aos
atos performativos. Nada substituí a unicidade e irrepetibilidade do
acontecimento sonoro. No lugar de se pensar a inexistência de notações
expandidas, a questão é pensar a razão de se haver privilegiado um registro
das durações em detrimento de outros parâmetros (Hagel 2008). Dessa
maneira, a cantilena da “perda da música grega” não faz sentido continuar
a ser entoada. Na verdade, o que se extrai dessa cantilena é a tentativa
de aplicar uma prática musical a outra. Na prática musical de se compor
obras que integravam música, dança e atuação para uma plateia massiva
em competições dentro festivais anuais, as estratégias compositivas foram
as enfatizar o acontecimento multidimensional por meio de um design
rítmico-sonoro(Pintacuda 1978, Scott 1984). A escritura temporalizada
presente nesses fósseis espetaculares que são os metros da tragédia
grega demonstram essa experiência de se organizar temporalmente
heterogêneos eventos sonoros e audíveis.
Diante disso, o procedimento adotado na segunda fase da pesquisa
foi o de, a partir da discussão e análise dos dados das tablaturas métricas
e de macro-estrutura, trabalhar, em um primeiro momento com as seções
individuais, partindo inicialmente da trilha midi baseada na escansão
métrica. Como cada momento de passagem das tablaturas para a
geração envolve questões específicas de sua realização, a produção de
trilha midi dos metros esbarrou em algumas questões. Inicialmente, a
tablatura apresenta apenas durações relativas binária (um tempo, meio
tempo). Não há uma série de outras elementos ou informações temporais:
pausas, compassos, indicações de andamento. Porém, no reverso dessa
negatividade, há outros dados presentes no texto. Tudo em uma tragédia
é verso. Os versos se organizam em diferentes modos de integração e
133
ART
135
ART
figura 01
figura 02
Pesquisa
Referências Bibliográficas
Allen, W. Vox Graeca. A Guide to the Pronunciation of Classical Greek. Cambridge University
Press, 1968.
. Accent and Rhythm. Prosodic Features of Latin and Greek: a Study in Theory and
Reconstruction. Cambridge University Press, 1973.
Arnott,P The Lost Dimension of Greek Tragedy Educational Theatre Journal 11,1959,99-102.
Becker, A. Non Oculis Sed Auribus: The Ancient Schoolroom and Learning to Hear the Latin
Hexameter. The Classical Journal 99.3(2004)313-322.
Brown, P. & Ograjensk, S.(Eds.) Ancient Drama in Music for the Modern Stage. Oxford
University Press, 2010.
Brown, S.G. A Contextual Analysis of Tragic Meter: The Anapest. In: Arms, J. & Eadie J.(Eds.)
Ancient and Modern: Essays in Honor of G.F.Else. Ann Arbor, 1977,45-77.
Cole, T. Epiploke: Rhythmical Continuity and Poetic Structure in Greek Lyric Verse. Harvard
University Press, 1988.
Cooper, G. &Meyer, L. The Rhythmic Structure of Music. The University of Chicago Press, 1960.
140
ART
112(1991) 149-160.
David, A.P. The Dance of the Muses: Choral Theory and Ancient Greek Poetics. Oxford
University Press, 2006.
Devine, A.M. & Stephens, L.D. The Prosody of Greek Speech. Oxford University Press,1994.
Di Giglio. Gli Strumenti a percussione nella Grecia antica. Firenze: Le Cáriti, 2009.
Edwards, M. Sound, Sense, and Rhythm. Listening to Greek and Latin Poetry. Princeton
University Press, 2002.
Fusi, D. “An Expert System for the Classical Language: Metrical Analysis Components”.
Disponível em www.fusisoft.it/Doc/ActaVenezia.pdf. s/d.
Gentilli, B. & Lomiento, B. Metrica e Ritmica. Storie delle forme poetiche nella Grecia Antica.
Mondadori, 2003.
Hagel, S. “Ancient Greek Rhythm: The Bellermann Exercises.” Quaderni Urbinati di Cultura
Classica 88(2008):125-138.
. Ancient Greek Music. A New Technical History. Cambridge University Press, 2010.
Hagel, S. & Harrauer C. (Eds.) Ancient Greek Music in Performance. Österrichischen Acakemie
der Wissenshaften, 2005.
141
ART
Huron, Sweet Anticipation. Music and the Psychology of Expectation. The MIT Press, 2006.
Kechagias, C. The Ancient Greek Metre. A Coded Type of a Natural Law. Production of Special
and Innovative Sofware. Doutorado, University of Athes, 2003.
Lech,M. “Marching Choruses? Choral Performance in Athens.” Greek , Roman , and Byzantine
Studies 49(2009) 343-361.
Leedy, D. “Some Experiments in Singing Ancient Greek Verse and Latin Verse”. In. Music in
Performance and Society. Warlen, Harmonie Prees, 1997.
Leman,M. Embodied Music Cognition and Mediation Technology. The MIT Press, 2008.
Lerdahl, F. & Jackendoff, R. A Generative Theory of Tonal Music. The MIT Press, 1996.
Malin, Y. Songs in Motion: Rhythm and Meter in German Lied. Oxford University Press, 2010.
Martinelli, M.C. Gli Strumenti del poeta. Elementi di Metrica Greca. Cappelli, 1997.
Meudic, B. (2002) “Automatic Meter Extraction from MIDI files” Proceedings JIM 2002.
www.recherche.ircam.fr/projects/cuidado/wg/dissemination/submittedpapers/ircam/
icmcmeudic2002.pdf.
Mirka, D. Metric Manipulations In Haydin and Mozart. Oxford University Press, 2009.
Patel, A. Music, Language, and the Brain. Oxford University Press, 2008.
Pereira, A.M.R. A Mousiké: Das origens ao drama de Eurípides. Fundação Calouste Gulbenkian,
2001.
Pöhlmann & West,M.L . Documents of Ancient Greek Music. Clarendon, Oxford University
Press, 2001.
Probert, P. Ancient Greek Accentuation: Synchronic Patters, Frequency Effects, and Prehistory.
Oxford University Press, 2006.
Ruijgh, C. “Les Anapestes de marche dans la versification grecque et la ryhthm du mot grec”.
Mnemosyne 42 (1989) 308-330.
142
ART
Psauroudakês, S. The Enunciation of “Metra” in Ancient Hellenic Tragedy. Case in Point:
Aeschylos’ Agamemnon ll 40-46. VIS. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arte-UnB, V.9,
n.2, 2010, 59-68.
Sachs, O. Rhythm and Tempo. A Study in Music History. Nova York, Norton, 1953.
Scott, W.C. Musical Desing in Aeschylan Theater. University Press of New England, 1984.
Simpson,A. & Ferrario, S. “Aeschylean Structure and Text in New Opera: The Oresteia Project
Didaskalia 6, n.3, 2006. Edição online http://www.didaskalia.net/issues/vol6no3/contents.html.
Temperley, D. The Cognition of Basic Musical Structures. The MIT Press, 2001.
Usher, S. Dionysius of Halicarnassus. The Critical Essays. Harvard University Press, 1985.
DANCES of Ecstasy. Direção de Paul Elliot. Produção de Ferenc Van Damme. Elwood - Austrália:
Luna Pictures, 2003. 2 DVDs.
ROTH, Gabrielle. Os Ritmos da Alma: o movimento como prática espiritual. São Paulo: Cultrix,
1997.
143
ART
Kant e a neuroestética
Miguel Gally1
Referências bibliográficas
Chalmers, David J. (1996) The Conscious Mind: In Search of a
Fundamental Theory. Oxford: OUPress, 1996.
Cinzia, DD & Vittorio, G. (2009) “Neuroaesthetics: a review”. In Curr. Opin.
Neurobiol. Dec; 19(6): 682-7, 2009.
Damasio, Antonio (2010). Self comes to Mind: Constructing the Conscious
Brain. New York: Pantheon Books.
Danto, Arthur C. (2003) The Abuse of Beauty, Chicago: Open Court.
Heidegger, Martin. (1936) Der Ursprung des Kunstwerkes [A origem da
obra de arte]. Stuttgart: Reclam, 2003.
Jacobsen, T., Schulbotz, RI. et all. (2006) “Brain Correlates of Aesthetic
Judgment of Beauty”. Neuroimage Jan 1:29(1): 276-285 [Errata Aug 1; 32(1)
486-7, 2006], 2006.
Kawabata, H. & Zeki, Semir. (2004) “Neural Correlates of Beauty”. In J. of
Neurophysiol. 91: 1699-1705, 2004.
Kant, Immanuel. Crítica da Faculdade de Julgar (1790). Rio de Janeiro:
Forense, 1994.
148
ART
O ato criador (segundo especialistas da indefinição)
Nelson Maravalhas Junior1
- Espere aí... O ato criador... no fundo, é a revelação das coisas que não
aconteceram, as que nós deixamos de viver por falta de oportunidade e
sobretudo por covardia. É um ato absolutamente livre e espontâneo. Olhe aqui,
é qualquer coisa assim como Adão ainda com a sua costela, na grande noite
fechada que era seu corpo. Já estava previsto que a costela deveria ser tirada por
Deus para iluminar seu corpo, que antes era uma noite profunda e integral. É ao
mesmo tempo o só e o coletivo. Pode-se mesmo dizer que, nesse sentido, o ato
de criação é o mais puro socialismo.
- É a coisa mais importante do mundo. Todo mundo nasce com ela, porque ela
é a própria vida. Todo mundo é criado com o dom da poesia, e só deixa de ser
poeta porque perde a inocência. Quanto mais um homem cresce carregando
consigo sua inocência, maior poeta ele é. No fundo, esse pessoal que se torna
banqueiro, ou Senador, ou Presidente da República, só faz isso porque deixou de
ser poeta, ou porque é poeta frustrado.
150
ART
sem sombra de esforço ou artificialidade. Podemos ver, em algumas das
respostas de Ovalle, premonições da teoria artística, por exemplo, a de um
Josef Beuys (“todos podem ser artistas”). Por outro lado, é de notar a relação
estabelecida – por um cristão devoto, deve-se frisar – entre o ato criador e
o pecado. Leitor, talvez, de um só livro, a Bíblia, sua esposa Virginia Peckam
o definiu: “estamos falando de um homem que nunca foi à escola, e que por
pouco não era analfabeto (...) não era um intelectual. Era um simples, quase
a ponto de ser defeituoso, uma santa criança”4. Residiria aí, em sua pureza e
em sua ausência de erudição, justamente o frescor de suas intuições? Ovalle
tentou ser poeta – de forma mais incisiva curiosamente em língua inglesa,
que não dominava absolutamente – e, para isso solicitou ajuda primeiro de
uma empregada inglesa e depois de sua esposa americana! Estaria aí já o
germe da dissolução da autoria individual e da ideia do coletivo em arte
atual?
Entretanto, mais que um teórico intuitivo da gênese do ato criador,
Ovalle era um poeta do instante, um poeta do dia a dia, como eu chamo “um
poeta para o vento”, que, envolto em uma atmosfera constante de poesia,
enunciava pérolas para quem pudesse agarrá-las no ar. Foi, decididamente,
um performer do tipo contemporâneo5 da fala magistral e da criação pura,
que se fazia entremear no cotidiano banal que sempre nos cerca.
Infelizmente, tentou ser poeta da forma consagrada, da poesia em forma
de poemas com ritmo, rima e música, e nisso fracassou (ele mesmo - quem
diria? - um poeta frustrado, como os banqueiros, senadores e presidentes
por ele citado). Faltou-lhe, suponho, a premonição de que a seu ato criador
pudesse residir tão somente naquelas suas “falas para o vento”, de que esta
forma nova seria tão válida como obra de arte quanto a consagrada poesia
impressa.
Outro universo de intuições vem de uma filósofa amadora de Brasília e,
também ela, artista das tiradas enigmáticas, Helena Vieira Coelho Pereira.
Em um pequeno texto, não sem uma grande dose de risco e conjectura
intitulado “O Futuro da Filosofia”, remetido a mim por e-mail e por mim
aqui apropriado e transcrito, cria também algumas observações preciosas
e pedras filosóficas.
Helena inicia seu texto com uma citação do filósofo alemão Johann
Gottlieb Fichte (1762-1814): “A filosofia que se escolhe depende do homem
que se é”6. Continua a filósofa amadora, com suas próprias palavras:
A frase faz pensar que há relação entre filosofia e o modo de viver. Então não
é algo assim tão abstrato, questões como, por exemplo: se existo? Também
poderia dizer que não é assim tão sem sentido buscar expressar racionalmente
o que se é, ou pensa, ou observa. Minha imaginação, por doença ou outra
causa, submeteu-me a fenômenos curiosos. Onde a razão aparecia, sim, vez
por outra, como uma pausa, como que para um descanso, minha mente e meu
corpo, a maior parte do tempo, era interação descontrolada. Porque a frase
lógica que minha mente gerava, que deveria dar ao corpo a sensação de
chão, era demasiadamente longa, me fazendo perder o ponto de partida e,
consequentemente, eu temia não encontrar o ponto final. Mas em um momento
em que os pensamentos, observações e sensações pareciam que se encaixavam,
151
ART
Perfeitamente.
É louco este pensamento? Melhor do que os outros que estudei; digo, para mim.
Não por estar correto, como saber? Mas por que plantou em mim a semente da
paz. Agora é só brincar.
Então aposto que este é o futuro da filosofia: cada macaco no seu galho, todos
sorridentes. [todos os grifos são meus]
Bibliografia
154
ART
155
ART
2 Imensos círculos se traçam no infinito, como as ondas que se formam na água agitada pela queda de
um corpo; cada região, povoada de figuras radiosas, se colorem, se movem e se fundam a cada vez, e uma
divindade, sempre a mesma, rejeita sorrindo as máscaras furtivas em suas diversas encarnações, e se refugiam
156
ART
enfim, inapreensíveis, nos místicos esplendores do céu da Ásia. (Trad. Livre do Autor)
4 Idem, p. 310.
5 Semelhante correlação foi feita por mim acerca de um artista marginal psicótico de
Brasília, no artigo Heliogábalus, In: Poiésis, n. 14, vol. 1, PPGCA/PROPP/UFF, 2009.
7 Como no poema de João Cabral de Melo Neto Uma faca só lâmina ou Serventia das idéias
fixas (dedicado para Vinícius de Moraes), 1956, In: Serial e Antes, Poesia completa, vol. 1. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
8 Hospital dirigido pelo Dr. Emile Blanche, em Passy, que demostrou extraordinário
interesse pelo paciente/escritor. Dr. Blanche tratou também do irmão de Van Gogh, Theo,
que foi hospitalizado ao fim da vida. A vida de Nerval tem um curioso paralelo com o seu
contemporâneo artista e gravador Charles Meryon, também ele hospitalizado por problemas
mentais (Cf. MacGREGOR, 1989).
10 Le Rêve est une seconde vie. Je n’ai pu percer sans frémir ces portes d’ivoire ou de corne qui
nous séparent du monde invisible. Les premiers instants du sommeil sont l’image de la mort; un
engourdissement nébuleux saisit notre pensée, et nous ne pouvons déterminer l’instant précis où le
moi, sous une autre forme, continue l’œuvre de l’existence. C’est un souterrain vague qui s’éclaire
peu à peu, et où se dégagent de l’ombre et de la nuit les pâles figures gravement immobiles qui
habitent le séjour des limbes. Puis le tableau se forme, une clarté nouvelle illumine et fait jouer ces
apparitions bizarres; le monde dês Esprits s’ouvre pour nous. Cf. Nerval, Idem, p. 11.
12 “...seated very good and quiet at a deal table, drawing circles, circles; innumerable circles,
concentric, eccentric; a coruscating whirl of circles that by their tangled multitude of repeated
curves, uniformity of form, and confusion of intersecting lines suggested a rendering of cosmic
chaos, the symbolism of a mad art attempting the inconceivable”. Cf Conrad, pp. 47 e 48.
157
ART
Abstract: Over the last thirty years Media Art has evolved into a vivid
contemporary factor, Digital Art became “the art of our time” but has still
not “arrived” in the core cultural institutions of our societies. Although there
are well attended festivals worldwide, well funded collaborative projects,
numerous artist written articles, discussion forums and emerging database
documentation projects, media art is still rarely collected by museums,
not included or supported within the mainframe of art history and nearly
inaccessible for the non north-western public and their scholars. Thus, we
witness the erasure of a significant portion of the cultural memory of our
recent history. It is no exaggeration to say we face a total loss of digital
contemporary art, and works originating approximately 10 years ago can
most likely not be shown anymore. The primary question is: what can
we learn from other fields to develop a strategy to solve the problems of
Media Art and its research, to answer the challenges Image Science is
facing today in the framework of the Digital Humanities? This question
opens up a perspective to overcome the typical placement of Media Arts
in an academic ghetto. The development of the field is supported in an
increasingly enduring manner by new scientific instruments like online
image and text archives, which attempt to document collectively the art
and theory production of the last decades. By discussing examples from a
variety of projects from the natural sciences and the humanities, this article
tries to demonstrate the strategic importance of these collective projects,
especially in their growing importance for the Humanities.
Keywords: Media Art, Media Art Education, Media Art Research
Media art is the art form using the technologies that change our
societies fundamentally. Globalization, information society, social networks,
Web 2.0 - the list could be far longer – are enabled by digital technologies.
Although not all Media Art comments on the social, cultural and political
conditions, it is nevertheless the art form with the most comprehensive
potential for cultural necessity. We know that media artists today are
shaping highly disparate areas, like time-based installation art, telepresence
art, genetic and bio art, robotics, Net Art, and space art; experimenting with
nanotechnology, artificial or A-life art; creating virtual agents and avatars,
mixed realities, and database-supported art. These artworks both represent
and reflect the revolutionary development that the image has undergone
over the past years (Fig.1).2
Currently, we are witnessing the transformation of the image into a
computer-generated, virtual, and spatial entity that is seemingly capable
of changing “autonomously” and representing a life-like, visual-sensory
sphere. Interactive media are changing our perception and concept of
158
ART
the image in the direction of a space for multi-sensory experience with a
temporal dimension open to evolutionary change and gaming. Images
appear, whose condition is defined by the functions of display and interface,
images serve as projection surface for interlaced information, images enable
to move us telematically in immersive scenarios, and reversely images allow
us have an affect into the distance.
Contemporary media art installations include: Digital stills and video,
3-D objects and animation, digital texts and music, sound-objects, noises
and textures, whereas different meanings may be inscribed and combined
with each other. Meaning develops by chance, experiment and well directed
strategy. The active spirit, the combining user, becomes the new source of
art and meaning if you leave enough degrees of freedom to him to develop
to the actual artist. Dynamic he is involved to navigation, interpretation,
transfer, contextualisation or production of image and sound which may
come into being by his participation. Memory, thoughts and experiments
with accident may respond to a fertile connection. Increasingly the art system
transforms to an organism with slices which organize themselves while the
user has a chance to experience and produce combinative meaning.
Media Art makes use of the latest image techniques and strategies
for aesthetic and reflective means: With Johanna and Florian Dombois’
Fidelio, 21st Century, named after Beethoven’s “Fidelio,” for the first time a
classical opera was directed as an interactive virtual 3D experience. The
protagonists embody music, follow the dramaturgic direction and react
to the interventions of the visitors (Fig. 2).3 Artist-scientists, such as Christa
Sommerer and Berndt Lintermann, have begun to simulate processes of
life: evolution, breeding, and natural selection have become methods for
creating artworks.4
Eduardo Kac’s installation Genesis raises open-ended questions about
the complicated ethical issues involved in the manipulation of DNA.5
In Murmuring Fields, Monika Fleischmann and Wolfgang Strauss create
a virtual space of philosophical thought, where statements by Flusser,
Virilio, Minsky, and Weizenbaum are stored. The work creates a new type
of a “Denkraum” (Thinking-Space) — a sphere of thought.6 Constructed
on a database, the interactive installation Ultima Ratio7 by Daniela Plewe
offers a first glimpse of a future system for interactive theatre. Intellectually
challenging, her concept allows the spectator to solve an open conflict at
a high level of abstraction and combination of different dramatic motifs.
Daniela Plewe’s goal is to generate a visual language for argument and
debate.
Diana Domingues, one of the most known artists in the Americas,
created with TRANS E: My Body, My Blood for more than a decade poetical,
transitoric and immersive experiences for body and senses: Again and again
her artistic will “Kunstwollen” pushed the transposition of the technological
border by developing innovative image procedures. With this, she questions
the growing aesthetics of medical and scientific image worlds, using them
in her work strategically.
159
ART
Typical for media revolutions is, they are again and again platonistic
or even apocalyptic commentaries. Their positions often exhibit an anti-
technology thrust and have developed partly from Critical Theory and
Post-Structuralism. At the other end of the spectrum are utopian-futurist
prophesies. Variations on ideas like: “now we will be able to touch with our
bodies into the far distance,” and “now the illusion will become total” on the
side of the utopians have collided with fears like “our perception will suffer,”
or “our culture will be destroyed,” and even “we will loose our bodies.” This
discourse mechanism, provoked by media revolutions, comes again and
again. Let’s remember the discussion the discussion around VR in the 1990s,
the cinema debate in the early 20th century, the Panorama in the 18th
century, and so forth. Both poles are either positive or negative teleological
models, which follow largely the pattern of discourse surrounding
earlier media revolutions. But analogies or fundamental innovations in
contemporary phenomena can only be discerned through historical
comparison.
Seen in this light we cannot consider the protagonists of this latest media
revolution debate with their projections and dark fantasies as contributors
to a serious discussion anymore, but rather as meaningful sources of the
thinking from their time. In addition, it must to be assumed that not only
analogies but also fundamental innovations of current phenomena become
clearly recognizable only through historical comparison. “Depth of field”
analyses of images can play an important role in facilitating our political and
aesthetic analysis of the present. Only if we are aware of our media history
with its myths and utopias, its interests and power games, we will be able to
make decisions that go beyond the heritage of ancient believers in images.
Beyond that, by focusing on recent art against the backdrop of historic
developments, it is possible to better analyze what is really new in media art
and to better understand our present and our goals in a period where the
pace appears to get faster and faster — that is the epistemological thesis. It
is necessary to take stock soberly in the realm of art and media history.
It is essential to create an understanding that the present image
revolution, which indeed uses new technologies and has also developed a
large number of so far unknown visual expressions, cannot be conceived of
without our image history. Art History and Media Studies help understand
the function of today´s image worlds in their importance for building
and forming societies. With the history of illusion and immersion, the
history of artificial life or the tradition of telepresence, Art History offers
sub-histories of the present image revolutions. Art History might be
considered as a reservoir in which contemporary processes are embedded,
like an anthropologic narration on the one hand, but as well the political
battleground where the clash of images is analyzed on the other hand.
Furthermore, its methods may strengthen our political-aesthetic analysis
of the present through image analyses. Not left to last, the development
and significance of new media should be illuminated since the first utopian
expressions of a new media often take place in artworks.
160
ART
The evolution of media art has a long history and now a new
technological variety has appeared. However, this art cannot be fully
understood without its history. So the Database for Virtual Art, Banff
New Media Institute, and Leonardo produced the first international
MediaArtHistory conference. Held at The Banff Centre, Refresh! represented
and addressed the wide array of 19 disciplines involved in the emerging
field of Media Art8 Through the success of Replace (2007) at Berlin’s House of
World Cultures, (the Department for Image Science hosted the brainstorm
conference in Göttweig 2006), Re:live was planned for Melbourne 2009, and
an established conference series was founded with Re:2011 is on the way.9
Re:fresh! was not planned to create a new canon, but to create a space for
the many-voiced chorus of the involved approaches. The subtitle HistorIES
opened up the thinking space to include approaches from other disciplines
beside ‘art history’. Re:fresh, Re:place and Re:live were organized via the
MediaArtHistory.org platform, which is now developing into a scholarly
archive for this multi-faceted field, ranging from art history, to media, film,
cultural studies, computer science, psychology etc. Meanwhile almost 1000
peer-reviewed applications have been coordinated on MediaArtHistory.
org.10 With the 19 disciplines represented at Re:fresh! serving as its base,
MAH.org is evolving with future conferences under the guidance of an
advisory board, among them: Sean Cubitt, Paul Thomas, Douglas Kahn,
Martin Kemp, Timothy Lenoir or Machiko Kusahara.
of the cultural studies of image history”, that would widen its field to “images
(…) in the broadest sense”. (“Bilder…im weitesten Sinn”).11
Let us remember too, that Film Studies was started by art historians: An
initiative by Alfred Barr and Erwin Panofsky founded the enormous Film
Library at the New York MOMA, called by its contemporaries the “Vatican
of Film”. This way film research already in the 1930s possessed a dominant
image science approach and cultivated it further. This initiative allowed the
large scale comparison of film for the first time. The same spirit concerned
with new investments for infrastructures to provide for and analyze the
Media Art of our time is needed in the Digital Humanities.
We know that for years academic discussions and battles have been
raging around the fields of images and the visual and perception of them.
Specific to segments of the English Language Humanities there continues
to be a not very fruitful and ultimately simple polarization between Art
History, which partly is considered conservative, formalistic, aesthetic,
sometimes even elitist and male-dominant and the Visual Cultural Studies12,
which emerged to a large extend from Literature Studies. Drawing upon a
multi-cultural and post-colonial13 etiquette, Visual Cultural Studies attempts
to research the visual within approaches of societal and identity politics.14
Within the traditionally strong German Language Humanities we perceive
a two folded development: Art History departments increasingly rename
themselves as Institutes for Art and Image History, allowing Art History
as the oldest scholarly endeavor dealing with images to avoid tendencies
of separation; and at the same time to renew the interdisciplinarity that
bloomed in German Art and Image History before National Socialism with
representatives like Warburg, Panofsky, Kris or Benjamin.
Image Science does not imply that the experimental, reflective, and
utopian spaces provided by art are to be abandoned. On the contrary,
within these expanded frontiers the underlying and fundamental
inspiration that art has provided for technology and media is revealed with
even greater clarity. With strong representation of art history15, the project
of Image Science expands towards an interdisciplinary development that
connects neuroscience16, psychology17, philosophy18, communication
studies19, emotions research20, and other scientific disciplines.21 Recently,
interdisciplinary scientific clusters have been built around the subject of
the image that lie increasingly perpendicular to the human, natural and
technical sciences, which have succeeded in profiting from the paradigm
“Image” as well as from an increased disposition towards interdisciplinarity.
More and more, tendencies appear that require a farewell or at least a
new evaluation of the relation Word / Image in favor of the latter. Already
in 1993 Martin Jay triggered with his work “Downcast Eyes” 22 a criticism of
the “sight-hostility” of language-fixated French Philosophy. Contemporarily
this critique unfolds in terms like “Image Immersion” (Oliver Grau, 1998 and
2001)23; “Power of the Iconic” (Gottfried Boehm 2004)24; “Picture Act” (Horst
162
ART
Bredekamp 2005).25 The central thesis is that in every image cognition, the
eyes cannot be separated as the sole perception organs, more so it is that
the entire body perceives.26
Preconditions
163
ART
works of art that are bound to architecture, like frescoes. The famous
picture at the introduction of the book shows Malreaux in an archival grid
compiling, side-by-side, the most diverse objects from various epochs and
cultures. Being recontextualized like this, a crucifix becomes a sculpture and
a sacred effigy for example a statue.28 We may say, the museé imaginare is
both product and symptom of globalization. And now as a key project for
the Digital Humanities we are witnessing the birth of the Virtual Museum.
And now together with probably one of the most important unknown
art collections, the Göttweig print collection, representing 30 thousand
prints emphasizing Renaissance and Baroque works35 and a library of
150.000 volumes going back to the 9th century like the Sankt Gallen Codex,
the Database of Virtual Art strives to achieve the goal of a deeper Media Art
historical cross examination. Just as the Media Art History conference series
aims to bridge a gap, the combination of the two and other databases hopes
to enable further historic references and impulses, in the manner, Siegfried
Zielinski calls “The Deep Time of Media”.36 The Göttweig collection also
contains proofs of the history of optical image media (Fig. 6), intercultural
concepts, caricatures, illustrations of landscapes in panoramic illustrations.
For the future this will provide resources for a broader analysis of media art.
Keywording is bridge building! The hierarchical Thesaurus of the DVA
constitutes a new approach to systemize the field of Digital Art. It was built
on art historical thesauri from institutions like Getty, Warburg Institute or
festival categorizations and discussions with artists, so that it supports
historical comparisons. Out of the Getty Arts & Architecture Thesaurus from
the subject catalogue of the Warburg Library in London, keywords were
selected which also have relevance in media art. On the other side, out of
the most common used terms from media festivals like Ars Electronica,
DEAF, Transmediale new keywords were selected. Important innovations
such as “interface” or “genetic art” have been considered as well as keywords
that play a role in traditional arts such as “body” or “landscape” and thus
have a bridge-building function. It was important to limit the number to
350 words so that members of the database can assign use and keywords
their works without long studies of the index.
The categories led to natural overlapping, so that the hybrid quality
of the artworks can be captured through clustering. Important was the
thematic usability for the humanities – it was necessary to avoid developing
something only new, separated from our cultural history. It was important
to compile a thesaurus that connects cultural history with media art and
does not isolate them from another. As expected, the material has produced
a multitude of fractures and discontinuities, which we make visible in the
terminology of the database.
One of the goals for the future is to document the works within a
context of complex information and, at the same time, to allow users to find
individual details quickly. In addition to statistically quantifiable analyses
and technical documentation, Databases should also present personal
connections and affiliations and funding information, with the idea to
reveal interests and dependence. The term “database” may be misleading:
like Warburg´s image atlas which supports key icons that define the extent
of problems and enables possibilities for comparison, databases should
possess an experimental character in order to find thematical clusters within
media art. And yet, the tools only hold the data - the quality of the analysis
continues to rely on thoughtful developments in the Digital Humanities.
In addition to searches of themes, Media Art documentation should also
admit questions of gender, track the movement of technical staff from lab
to lab, technical inventions pertaining to art, the destinations of public and
166
ART
private funds allocated to research, and, through the thematic index, show
reminiscences of virtual/immersive art in the forms of its predecessors, for
example, the panorama. In this way, documentation changes from a one-
way archiving of key data to a proactive process of knowledge transfer.
Bridging the gap for Media Art means also the use of new telematic
forms of education, which enlarge the audience now being able to
intervene interactively from other continents, as we practice with the
archived Danube Telelectures.37 The future of Media Art within the Digital
Humanities requires the further establishment of new curricula, as we
developed with the first international Master of Arts in MediaArtHistories,
with faculty members like Erkki Huhtamo, Lev Manovich, Christiane Paul,
Gerfried Stocker and Sean Cubitt, which deals also with the practice and
expertise in Curation, Collecting, Preserving and Archiving of Media Arts.
The necessity for an international program capable of accommodating
future scholars coming from diverse backgrounds and all continents was
answered by a low-residency model allowing professionals to participate
in the advanced program of study parallel to ongoing employment and
activities.
It was necessary for the needs of the field to create a course specific to
MediaArtHistories with experts that normal universities could not gather
all in one institution in order to pave the way towards development of
innovative future educational strategies in the field. Giving an overview of
the relevant approaches and on the other hand a specialization via project
and masters theses, the Masters of Arts provides an initiation for fresh
students and depth for seasoned students into this emergent field.
167
ART
Especially the university based research projects and partly also the
ones which are linked to museums have developed expertise that needs
to be included in cultural circulation, not only in order to pass it on to
future generations of scientists and archivists but also to give it a chance
to flow into future university education in the fields of art, engineering,
and media history. Clearly, the goal must be to develop a policy and
strategy for collecting the art of our latest history under the umbrella of a
strong, let’s say “Library of Congress like” institution. Ultimately, however,
this can only be organized by a network of artists, computer and science
centers, galleries, technology producers and museums. Those projects
which collected culturally important documents in the past and which
often expired, were not further supported or even lost their base must be
supported and reanimated. They should be organized like a corona around
an institution which receives the duty of documentation and may be even
the collection of contemporary media art, such an institution could be in
the USA, the Library of Congress; in Europe, besides the new European
digital libraries database Europeana, it could be the Bibliotheque National,
the British Library, the V&A or in Germany beside the ZKM for example the
Deutsche Bibliothek. Interestingly the libraries show increasingly interest to
archive multimedia works and their documentation; however, the usually
complex cultural and technical know how is lacking in order to preserve
principal works of the most important media art genres of the last decades.
A structure which updates, extends and contextualizes research – whether
in historical or contemporary contexts is required. The funding and support
infrastructures which have been built in the end of the last century are not
suitable for scientific and cultural tasks in the Humanities of the 21st Century.
One key issue for the digital humanities would be to identify all
the existing databases, also those smaller ones in countries where you
do not search first. In astronomy the funding agencies developed and
modernized their systems towards sustainability, which is needed as well
in the humanities: The virtual observatory infrastructure is funded on an
ongoing basis and there is international coordination between a dozen or
so countries that produce astronomical data. What we need and we could
archive in the near future is an electronic “Enclyclopedia of Visual Media”
(EVM) created from a network of databases and the thousands of existing
websites. Based on scholarly criteria of every known image medium in
history described and on the basis of original sources, it should precisely
capture how our forerunners experienced them. The EVM could allow
scholars from all over the world to research their image media and discover
further unknown treasures of human image making.
We know that a central problem of current cultural policy stems from
serious lack of knowledge about the origins of the audiovisual media
and this stands in complete contradistinction to current demands for
more media and image competence. Considering the current upheavals
and innovations in the media sector, where the societal impact and
168
ART
consequences cannot yet be predicted, the problem is acute. Social media
competence, which goes beyond mere technical skills, is difficult to acquire
if the area of historic media experience is excluded.
What is urgently needed is the establishment of an appropriate structure
to preserve at least the usual 1 – 6% of present media art production,
the best works. This important step is still missing for media art from the
first two generations. The faster this essential modification to our cultural
heritage record will be carried out, the smaller the gap in the cultural
memory; shedding light on the dark years, which started about 1960 and
lasts till now.40 The hybrid character of media art requires a shift of the
paradigm towards an orientation of process and context recording, which
includes more and more the capture of the audience experience.41
Our hope for the future is that we can bring together the expertise of
the most important institutions in order to form an up to date overview of
the whole field, to provide the necessary information for new preservation
programs within the museum field, new university teaching programs for
a better training of the next generation of historians, curators, restorers,
engineers and others involved in the preservation and new form of open
access to media art. Just as research in the natural sciences has long
recognized team efforts, a similar emphasis on collaborative research
should make it’s way into the thinking of the humanities.
1 Professor doctor, chair Professor for Image Science, Department for Image Science,
Danube University, Austria
2 For an overview: www.virtualart.at. Recently: Edward Shanken: Art and Electronic Media
(London: Phaidon, 2009); Christa Sommerer and Laurent Mignonneau (Eds.): Interface Cultures:
Artistic Aspects of Interaction (Bielefeld: Transcript 2008); Victoria Vesna: Database Aesthetics:
Art in the Age of Information Overflow (Minneapolis: University of Minnesota Press 2007);
Steve Dixon: Digital Performance: A History of New Media in Theater, Dance, Performance Art,
and Installation Cambridge (Mass.: MIT Press 2007). Already a classic: Christiane Paul: Digital Art
(London: Thames & Hudson 2003).
3 Johanna Dombois, Florian Dombois, op.72., II 1-5, 3D. Beethoven’s «Fidelio» in a Virtual
Environment. In: Proceedings of The 5th World Multi-Conference on Systematics, Cybernetics
and Informatics. Vol. X, Orlando (Florida), July 22-25, 2001, p. 370-373.
5 At the center of the installation is the so called “artists gene”, which Kac created by
translating a sentence from Genesis in the Bible into Morse code and the converting of the
Morse code into DNA base pairs open for manipulation by the visitors.
9 See: www.mediaarthistory.org
10 The content development of Re:fresh! was a highly collective process. It involved three
producing partners, a large advisory board, 2 chairs for each session, call and review for papers,
a planning meeting in 2004, keynotes, poster session and the development of application
content over the time of two and a half years. Before Banff could host the conference, this was
organised by the team of the Database for Virtual (DVA).
12 Margret Dikovitskaya: Visual Culture: The study of the Visual after the Cultural Turn,
(Cambridge 2005); W.J.T. Mitchell: Interdisciplinarity and Visual Culture, in: Art Bulletin 77, 1995,
170
ART
540-544.
13 Simon Faulkner and Anandi Ramamurthy (Eds.): Visual Culture and Decolonisation in
Britain (Aldershot (Ashgate) 2006).
14 Mike Bal: Visual Essentialism and the Object of Visual Culture, in: Journal of the Visual
Culture 1-2, 2003, 5-32. Although she has for decades used a semiotic approach.
20 Oliver Grau und Andreas Keil (Ed.): Mediale Emotionen: Zur Lenkung von Gefühlen
durch Bild und Sound (Frankfurt: Fischer 2005); Anne Hamker: Emotion und ästhetische
Erfahrung (Münster: Waxmann 2003).
21 Albeit concentrated on the gravitational field of art history, the courses in Image
Science at the Danube University in Göttweig are interdisciplinary aligned. www.donau-uni.
ac.at/dis.
23 Oliver Grau: Into the Belly of the Image, in: Leonardo, Journal of the international
Society fort he Arts, Sciences and Technology, Vol. 32, No. 5, p. 365-371 and: Oliver Grau:
Virtuelle Kunst in Geschichte und Gegenwart: Visuelle Strategien (Berlin: Reimer 2001).
24 Gottfried Boehm: Jenseits der Sprache? Anmerkungen zur Logik der Bilder, in: Christa
Maar/Hubert Burda (Ed.): Iconic Turn, Köln 2004, pp. 28-43, here: p. 30.
25 A first glimpse of his theory of “picture act” Horst Bredekamp presented during his
Gadamer-Lecture series at the University of Heidelberg in 2005. A research project “Picture
Act Research: History, Technique and Theory of the Picture Act” was approved by the German
Research Foundation in 2008 and supported with 2.3 Mio Euro.
26 Hans Belting emphasised in 2001 that we, as living media, are the “Location of the
Images“ and not the apparatuses, see: Hans Belting: Bild-Anthropologie. Entwürfe für eine
Bildwissenschaft (Munich: Fink 2001).
27 Oliver Grau: Virtual Art: From Illusion to Immersion (Cambridge/Mass., MIT-Press 2003).
171
ART
29 For the discussion and development of the field see the Journal Digital Humanities
Quaterly.
30 The International Virtual Observatory Alliance (IVOA) was formed in June 2002 with
a mission to “facilitate the international coordination and collaboration necessary for the
development and deployment of the tools, systems and organizational structures necessary
to enable the international utilization of astronomical archives as an integrated and
interoperating virtual observatory.” The IVOA now comprises 17 international VO projects.
32 The Human Genome Project was an international scientific research project with a
primary goal to determine the sequence of chemical base pairs which make up DNA and to
identify and map the approximately 20,000-25,000 genes of the human genome from both
a physical and functional standpoint. The mega project started 1990 with the collective work
of more than 1000 researchers in 40 countries, the plan was to acchive the goal in 2010. A
working draft of the genome was released in 2000 and a complete one in 2003. See: IHGSC
(2004). “Finishing the euchromatic sequence of the human genome”, in: Nature 431: 931–945.
doi:10.1038/nature03001
33 www.virtualart.at, Oliver Grau: The Database of Virtual Art, in: Leonardo, Vol. 33, No. 4,
2000, p. 320.
34 Oliver Grau: For an Expanded Concept of Documentation: The Database of Virtual Art,
ICHIM, École du Louvre, Paris 2003, Proceedings, pp. 2-15. It was a long development since the
classic text by Suzanne Briet: What is Documentation? (Lanham: Scarecrow Press 2006).
36 Siegfried Zielinski: Deep Time of the Media: Toward an Archaeology of Hearing and
172
ART
Seeing by Technical Means (Cambridge Mass.: MIT Press 2006):
37 The Danube Telelectures from the MUMOK in Vienna contained debates between Sarat
Maharaj and Machiko Kusahara: Does the West still exist?; Gunalan Nadarajan and Jens Hauser:
Pygmalion Tendencies: Bioart and its Precursors; Christiane Paul and Paul Sermon: Myths
of Immateriality: Curating and Archiving Media Art as like Lev Manovich and Sean Cubitt:
Remixing Cinema: Future and Past of Moving Images. See: www.donau-uni.ac.at/telelectures
38 Also compare the OASIS (Open Archiving System with Internet Sharing (2004-2007) or
the GAMA project (2008-2009), a gateway, a metadatabase, which is not connected with the
Europeana. „The issue of generally accepted machine-readable descriptive languages in these
semantic and metadata approaches and the long-term interoperability of databases have lead
to an emphasis on questions concerning the openness of the sources and the source codes.“
Rolf Wolfensberger. On the Couch – Capturing Audience Experience, Master Thesis, Danube
University 2009.
39 Although there are a number of promising case studies like: Caitlin Jones: Seeing
Double: Emulation in Theory and Practice, The Erl King Case Study; http://206.180.235.133/sg/
emg/library/pdf/jones/Jones-EMG2004.pdf
40 The loss might be even more radical and total than that of the Panorama, the mass
media of the 19th century. Almost 20 Panoramas survived which is much more than 3% of
the ever existing 360° image worlds – we should be glad if at all 3% of the most important
exhibited media art works.
41 See Grau 2003, recently: Lizzie Muller: Towards an Oral History of New Media Art
(Montreal 2008).
173
ART
O presente texto foi redigido para servir de base a uma mesa temática
do 10° Encontro Internacional de Arte e Tecnologia, intitulada “História
da Arte: um olhar sobre a produção recente”. Por casualidade, acabou
aproximando-se também de um dos temas propostos para a inscrição de
trabalhos: “História: ficção ou realidade”.
As artes visuais e o discurso narrativo estabeleceram uma antiga
associação, muitas vezes questionada. Sem se aprofundar no terreno
das definições teóricas, pode-se constatar a existência de uma linhagem
dita “literária” de artistas, que inaugura e explora diferentes formas de
narratividade visual. Verifica-se, com isso, a ocorrência, nas artes visuais,
da produção de um tipo especial de representação: obras cuja qualidade
especial de presença, se funda menos na busca de semelhança com os
objetos físicos que servem de modelo à figuração, do que numa relação
mais distanciada com uma experiência complexa. Os artistas que melhor
representam a “família literária” podem ser considerados colecionadores
e propagadores de narrativas, “contaminados” por seus modelos e
influenciados por eles na definição de uma posição diante do real.
174
ART
Ao propormos Brasília como “solo narrativo” para as artes visuais,
pensamos num determinado tipo de experiência histórica. Como defini-
lo? Entre os horizontes reais e imaginários da Brasília utópica e distópica,
o espaço da cidade se abre para novas miradas sobre o campo social e
individual, cultural e artístico, enquanto o projeto moderno vai sendo
lentamente engolido pela economia da era pós-industrial, e permanecem
as dificuldades de se constituir localmente, enquanto sujeito histórico,
dentro de uma “contemporaneidade” global.
Consideramos a história a partir de uma mirada poética, cujo caráter
mais abrangente e metafísico _ o que apontava Aristóteles em sua
comparação entre história e poesia_ diz respeito à absorção dos contextos
reais dentro de possibilidades “ficcionais”. História em que as expectativas
do presente se fundiriam à matéria do passado em dispositivos de narração.
O conceito de narratividade que nos interessa abarca tanto as artes
visuais quanto a literatura, teatro ou cinema. Trata-se menos de dar forma
concreta a uma representação interna da experiência do que de extrair até
o fim as conseqüências de uma tomada de partido pessoal, representada
numa narração por assim dizer “coreográfica” da realização de uma
trajetória no tempo. Não apenas contar uma história, mas acompanhar por
determinado tempo a evolução de um ou mais pontos de vista, como se
vê em determinadas obras “obsessivas” que parecem retomar sempre o
mesmo ponto de partida. Poderíamos citar como exemplo, na literatura,
os monólogos obsessivos de Louis-Ferdinand Celine ou Thomas Bernardt.
No cinema, a narração dilatada de Antonioni ou Gus Van Sant. São obras
em que a narrativa tende menos a resultar numa história, do que a uma
deriva, mas uma deriva que ocorre dentro de determinada moldura. Nelas,
enquanto o “conteúdo” da experiência biográfica parece ir progressivamente
se esvaziando (reflexo dos tempos), é o próprio médium narrativo enquanto
suporte estrutural que é reforçado. Há uma ênfase em limites estruturais
como o formato, as divisões internas, os procedimentos que se repetem, em
paralelo à dilatação de aspectos “anódinos”, “insignificantes”, que levam a
representação à beira da abstração.
A “família artística brasiliense” apóia-se conscientemente numa
certa ilusão de estabilidade, enquanto bóia na superfície do abismo em
movimento, e a “qualidade” específica da vida local se reflete de maneira
significativa nas obras.
Os artistas aqui estabelecidos são solicitados por três tipos de apelo, em
certa medida contraditórios:
- a educação estética modernista, jogo formal que busca seu próprio ponto
de equilíbrio clássico, plano e silencioso, e atinge seus momentos extáticos,
sublimes.
175
ART
3 KUBIN, Alfred, Le travail du dessinateur, Paris: Allia, 2001 (trecho traduzido pelo autor).
179
ART
O mundo em rede
Referências Bibliográficas
Domingues, Diana. Arte e Vida no Século XXI. São Paulo: Editora Unesp, 2003.
Galloway, Alex. Protocol. How Control Exists After Decentralization. MIT Press, 2004.
186
ART
Sinapsis bioelectrónica de creación
Raúl Niño Bernal1
Computación bioelectrónica
Conclusiones
192
ART
Bibliografía
De ROSNAY, Joël. (1995) El hombre simbiótico. Miradas sobre el tercer milenio. Madrid:
Cátedra.
HAMEROFF, Stuart. (Y otros Eds.). (1999). Toward a Science of consciousness III. The third
Tucson Discussions and Debates. London, England: The MIT press Cambridge.
LIPZCOMBE, Trevor. Y otros (2001). Einstein 1905: un año milagroso. Barcelona: Crítica.
LLINÁZ, Rodolfo. (2003). El cerebro y el mito del yo. El papel de las neuronas en el
pensamiento y el comportamiento humanos. Colombia: Grupo Editorial Norma.
MORRIS, Richard. (1999). Artificial worlds. Computers, Complexity, and the Riddle of Life.
Unites States: Basic Books.
PENROSE, Roger. (2000). Por qué se necesita una nueva física para comprender la mente.
P.p, 168-179. En: Murphy y Lucke (comp). La biología del futuro. ¿Qué es la vida? Cincuenta años
después. España: Metatemas.
PENROSE, Roger. (2006). El camino a la realidad. Una guía completa a las leyes del universo.
Barcelona: Debate.
193
ART
1 Profesor de la Pontificia Universidad Javeriana de Bogotá, Facultad de Arquitectura y
Diseño. Departamento de Estética. Coinvestigador del grupo de investigación Estética y
Nuevas Tecnologías, Candidato a Doctor en Political Science por la Atlantic International
University de E.U, Magister en Estudios Políticos por la Pontificia Universidad Javeriana,
titulado como Restaurador de Bienes Muebles por la Universidad Externado de Colombia,
con Diploma en Gerencia y Gestión Cultural por la Universidad del Rosario de Bogotá. Autor
de las siguientes publicaciones: Ciberbiología y procesos tecnológicos de la cultura. (2010)
En: Estética Vida Artificial y Biopolítica. (2010) (coeditor). Bogotá, Pontificia Universidad
javeriana. Repolitizar la biodiversidad (2009). En: Poéticas y criticas del Devenir. Bogotá,
Editorial Pontificia Universidad Javeriana. Cognición y Subjetividades Políticas: Perspectivas
estéticas para las ciudadanías globales (2008), Indicadores Estéticos de Cultura Urbana
(2006). Ensayo: Giro Cultural de la Estética Contemporánea (2003), en libro colectivo, coautor
de “Nuestros Museos de Bogotá”, publicación universal en
4 Llinás Rodolfo. (2003). El cerebro y el mito del yo. El papel de las neuronas en el
pensamiento y el comportamiento humanos. Colombia: Grupo Editorial Norma.
7 Avances en este campo es “la fórmula principal del modelo Hodgkin-Huxley, y con la
que sus autores obtuvieron el premio nobel, fue obtenida aplicando las leyes de Kirchoff al
circuito eléctrico que representa a la membrana de la neurona. […] El sentido de transmisión
entre neuronas es el resultado de su peculiar forma y organización, es decir de su polarización
194
ART
topográfica. Este principio fue postulado por el genial investigador español, y premio Nobel
Santiago Ramón y Cajal y al que las redes neuronales artificiales y por tanto la inteligencia
artificial deben casi un siglo después de Cajal parte de su éxito, es el relativo al modo en el
que las neuronas se relacionan entre sí. El método de tinción empleado por Cajal fue el que le
permitió dilucidar al microscopio que el sistema nervioso no era una masa continua de células
cerebrales, más bien al contrario, una red de neuronas en la que cada neurona conservaba su
individualidad. Cada neurona de acuerdo con Caja, es una célula individual que se relaciona
y por tanto se conecta con otras neuronas, a través de una conexión muy particular llamada
sinapsis.” (Lahoz, p. 392-393).
8 Maldonado, C. (2010) p. 73
9 La NASA, reporta que para el año 2002 cuando aparece la abolición de la ley de
monopolio audiovisual hay 23.133 satélites en el espacio. En: La Ferla, J. (2009). Cine (y) digital.
Aproximaciones a posibles convergencias entre el cinematógrafo y la computadora. Buenos Aires:
Manantial. P. 223.
195
ART
Deslocamentos na paisagem
A ação de atravessar o espaço nasce da necessidade natural de se deslocar
para encontrar alimentos e informações indispensáveis à sobrevivência.
Entretanto, apesar da necessidade de satisfação de exigências primárias
o ato de se deslocar se converteu na ação simbólica de habitar o mundo.
Na arte, o ato de caminhar foi exaustivamente experimentado desde as
primeiras décadas do século XX, lhe sendo atribuído diferentes estatutos:
num primeiro momento como forma de anti-arte, depois enquanto ato
primário de transformação simbólica do território, até chegar a uma forma
de arte autônoma.
O que denomino no projeto de deslocamentos na paisagem envolve a
experiência de desterritorialização através de viagens, caminhadas, de
trajetos e derivas. Nos deslocamentos na paisagem, portanto, a mobilidade
é assumida, levando em conta a experiência de destituir-se das referencias
que balizam o dia-a-dia.
A pergunta que se coloca no âmbito desse processo é, — de que
maneira o deslocamento se torna uma experiência perceptiva e pode
adquirir conotações estéticas ?
199
ART
Arquivos de deslocamentos
Num primeiro momentos os arquivos de deslocamentos constituem-se a
partir com as imagens-documento obtidas durante a caminhada. Em seguida,
envolvem processos de ordenação e catalogação das imagens captadas. Os
arquivos de deslocamentos, portanto, permitem lidar com as representações
resultantes das ações de deslocamento na paisagem, através de processos de
classificações e arquivamento das imagens em ambiente digital.
Esses documentos visuais retém fragmentos de memória e, de certa
maneira, “descrevem” as passagens realizadas, os territórios atravessados.
Constituem-se, dessa maneira, como pequenas narrativas visuais de lugares,
passagens e territórios percorridos.
200
ART
Cada fotografia tomada, implica no registro de paisagens por recortes, visto
que o dispositivo fotográfico trabalha por subtração. Assim, cada foto recorta e
isola uma porção da extensão, as imagens extraídas do mundo são fragmentos
descontínuos, já que o enquadramento é um ato que fragmenta o visível e
revela sempre alguma coisa de parcial que implica num resíduo que Dubois
chama de ‘fora de campo’ ou espaço off, igualmente importante quanto o que
se enquadra na foto: “O que a fotografia não mostra é tão importante quanto o
que ela revela”4.
Se a fotografia sempre opera idas e vindas entre o presente da foto e o que
ficou longe do referente e do momento vivido, não podemos esquecer que a
imagem fotográfica não é um espelho transparente do mundo. Ela não restitui
o real, mas codifica as aparências através de uma convenção.
Anne Cauquelin5 situa a invenção da perspectiva no centro das questões
que envolvem a paisagem e aquilo que manifesta à sua maneira: a natureza. Ela
observa que essa fusão entre paisagem e natureza faz com que esqueçamos
que o quê nomeamos paisagem se instaura em torno de um ponto crucial na
constituição da aparelhagem simbólica do Ocidente, a perspectiva. A paisagem
surge como noção e se instala definitivamente na cultura ocidental com a
longa elaboração das leis da perspectiva que estão na base da instauração da
imagem fotográfica.
Os arquivos de deslocamentos constituem um work in progress de fragmentos
de paisagens, e formam um banco de imagens constantemente alimentado a
cada caminhada. Os agenciamentos dos arquivos por trajetos, data, lugares e
temas atribuem sentidos a essa coleção de dados icônicos do mundo, uma vez
que formam uma espécie de diário de bordo dos deslocamentos na paisagem, e
já supõem alguma ordenação simbólica do real.
Referências Bibliográficas
CARERI. Walkscapes, walking as an aesthetic practice. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 2005.
CAPISTRÁN, Jacob. Fotomontage. Madrid: Ed. Cátedra, 2008.
DANTO, Arthur. Após o fim da arte: A arte Contemporânea e os limites da história. São Paulo.
Odysseus Editora. 2006.
DELEUZE. A dobra, Leibiniz e o Barroco, trad. Luis Orlandi, São Paulo, Papirus, 1991.
202
ART
DUBOIS, Phillipe. L’acte photographiqu eet autres essays. Paris: Nathan, 1990.
4 Georges Didi-Huberman. Genie du non-lieu: air, poussière, empreinte, hantise. Paris: Les
Editions du Minuit, 2001, p. 36.
5 P. DUBOIS. L’acte photographique et autres essays. Paris, Nathan, 1990. O ato fotográfico e
outros ensaios. Trad. Marina Appelzeller, São Paulo, Ed. Papirus, 2000, p. 179.
6 Invenção da Paisagem,
203
ART
Neuroestética/bioestética no contexto
da arte computacional
Suzete Venturelli1
Visuel - C.R.A.V. que surgiu do GRAV, com Horacio Garcia, Julio Le Parc,
François Morellet, Francisco Sobrino, Joël Stein, Jean-Pirre Yvaral. François
Molnar, logo depois deixou o C.R.A.V. e passou a se dedicar à pesquisa
teórica sobre a psicofisiologia da percepção visual. A partir de 1968, ela
usa computadores e executa obras cujos componentes plásticos e sua
distribuição são determinados pelos programas em que o acaso pode
intervir. Ela desenvolveu o programa “Molnart” em 1976, nesse ano foi
organizada sua primeira exposição individual (London Polytechnic of
Central), retirando-se voluntariamente do mundo da arte. Nos anos 1980,
eles se tornaram membros fundadores do Centre de recherche expérimentale
et informatique des arts visuels da Universidade de Paris-I, onde também
trabalharam como professores.
François Molnar e Robert Frances inauguraram o Laboratoire de
psicofisiologie, que se transformou no Centro de pesquisa de imagens,
cultura e cognição (Cricc), cuja história remontas aos anos 60, quando foi
inaugurado o Instituto de Estética e ciências da arte, por Étienne Souriau.
Em 2006, quando ocorreu a sua integração no Laboratoire d’Esthétique
Théorique et Appliquée (Leta) criado por Marc Jimenez, o Cricc integrou
também o campo teórico de estudos culturais. O componente cultural
permitiu integrar as pesquisas desenvolvidas por Bernard Darras.
Outras experiências são realizadas em vários laboratórios, que visam
entender por que a arte e a estéticas são tão importantes e essenciais. A
experiência realizada no University College de Londres, por Semir Zeki e
sua equipe envolveu um grupo de pessoas de qualquer profissão que
classificaram 300 pinturas como belas, feias ou neutras, numa escala de 1
a 10.
O interessante é que depois, as mesmas pinturas lhes foram
reapresentadas, enquanto seus cérebros eram monitorados numa máquina
de ressonância magnética. Uma gama diversa de estruturas cerebrais
reagiu durante a experiência. Concluiu-se, segundo o cientista, que o córtex
orbito-frontal medial e o córtex motor eram as áreas de fato ligadas ao
julgamento do belo.
O córtex orbito-frontal medial, relacionado ao prazer e às recompensas,
apresentou atividade mais intensa diante de quadros belos. A atividade era
maior para um quadro que recebera nota 9 do que para um quadro nota 7.
O oposto aconteceu com o córtex motor: maior atividade diante da feiúra.
Uma região na parte frontal do cérebro “acende” quando desfrutamos a
uma obra de arte ou de uma música agradável. Os cientistas afirmam que
a única característica comum a todas as obras de arte, qualquer que seja sua
natureza, é que todas levam a uma atividade numa mesma região do cérebro.
A beleza para o cientista é um aumento de fluxo sanguíneo na base do lobo
frontal. Além disso, diz que os artistas são neurobiologistas intuitivos, que
exploram e desvendam regras da percepção. Zekir gosta de citar uma frase de
Picasso: “Seria muito interessante preservar fotograficamente as metamorfoses
de uma pintura. Talvez assim se pudesse descobrir o caminho percorrido pelo
cérebro para materializar um sonho”. É isso que a neurociência faz ao desvendar
o que um cérebro calcula e o que cria.
206
ART
Motivações, emoções em harmonia com a razão
Figura 1-Som Interativo Digital (SOM-ID), 2011. Projeto MídiaLab: Kiko Barretto, Claudia Loch,
Victor Valentim, Suzete Venturelli, Roni Ribeiro, com a colaboração de Camille Venturelli Pic.
210
ART
O artista Maurits Cornelis Escher aparentemente sabia disso. Suas
gravuras e desenhos levam a uma sensação de estranhamento inicial que
a cada nova exposição diminui um pouco. No entanto, como possuem algo
de impossível, paradoxo, provoca tensão suficiente para estimular o alerta,
dando à experiência estética um sabor constante de novidade. Ao falar sobre
suas criações Escher mostrou que, mesmo não sendo psicólogo, conhecia
perfeitamente esse processo, pois sabia que havia certo enigma nelas, mas
que não era captado imediatamente pelo olhar. Enigma provocado pelo
mundo do paradoxo que ilustra a construção do impossível.
Considerações finais
Referências Bibliográficas
BERLYNE, D. Novelty, complexity, and hedonic value Perception & Psychophysics, 8 (5), 279-
286 DOI: 10.3758/BF03212593, 1970.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciência humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2006.
DELEUZE, Gilles. Empirismo e Subjetividade: ensaio sobre a natureza humana segundo Hume.
Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed.34, 2001.
211
ART
Aesthetics and Art Criticism 38(4): 397-406, 1980. Disponível em: http://ellendissanayake.com/
publications/pdf/EllenDissanayake_5618127.pdf. Acessado em 12/05/2011.
. Homo Aestheticus: Where Art Comes From and Why. New York: Free Press. 1992.
ELIAS, Norbert. Sobre o Tempo. Editado por Michael Schroter. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
HUME, David. Tratado da Natureza Humana. Tradução de Débora Danowski. São Paulo:
Editora da UNESP, 2002.
212
ART
Caracolomobile: um simbiote interativo
Tania Fraga1
213
ART
A obra e o processo:
215
ART
216
ART
Assim, dei início à construção de protótipos para testar a hipótese
formulada e desenvolver maneiras de dar movimentos a essas estruturas.
Iniciei usando tubos de PVC revestindo-os com borracha da Amazônia e
posteriormente sisal. Inicialmente para mover o protótipo usei câmara de
ar de pneus de bicicleta. Elas eram baratas e me mostraram a viabilidade
do projeto mas não eram adequadas para as restrições poéticas, funcionais
e estéticas que o balizavam. Para que não houvesse flexão nos tubos
maiores eles precisavam ser grossos e espessos. Canos de PVC precisam
ser revestidos. Todas essas restrições iam contra a proposta poética e
estética que embasam meu trabalho e que têm na leveza, flexibilidade e
na simplicidade seu principal fundamento. Ao construir o Caracolomobile
eu queria construir um robô diferente da imagem geralmente associada
aos robôs. Queria um robô que fosse muito leve visualmente, bonito, que
pudesse ser visto de todos seus lados e muito flexível. Esse é o motivo pelo
qual o chamo de organismo artificial e não de robô.
Figura 06: Protótipo do Caracolomobile realizado com canos de PVC e cordas de sisal azul
218
ART
Figuras 08 e 09: Caracolomobile - aberto
219
ART
Reverberações:
Referências bibliográficas:
ADDINGTON, M. & SCHOEDEK, D.. Smart Materials and Technologies. Oxford: Elsevier, 2005.
ARANTES, P.. Arte e Mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac, 2005.
COUCHOT, E.. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2003.
FRAGA, Tania & LOURO, Donizetti. Thinking responsive growing morphologies for computer art
and architecture. In Emerging forms of computer art: making the digital sense. Computer Art
Congress 2008, CAC.2, Vol 1, 1-7, Paris: Europia, 2008.
HOLLAND, J.. Emergence: from chaos to order. New York: Addison-Wesley, 1997.
221
ART
PEAT, David & BRIGGS, John. Seven life lessons of chaos. New York: HaperPerennial, 2000.
PICARD, Rosalind & Healey, Jennifer. Affective wearables. In Personal technologies. Vol. 1:
231-240. Cambridge: MIT, 1997. At http: //affect.media.mit.edu/publications.php. Last access:
09/10/2009, 16h00.
SANTAELLA, Lúcia. Por uma epistemologia das imagens tecnológicas. In ARAUJO, D. (org).
WALDROP, M. M.. Complexity: The emerging science at the edge of chaos. New York: Simon
and Schuster, 1992.
WEIBEL, Peter. The World as Interface: toward the construction of context-controlled event-
worlds, in DRUCKREY, Timothy (org). Electronic Culture: technology and visual representation.
New York: Aperture, 1996.
WIENER, Norbert. Deus, Golem & Cia. São Paulo: Cultrix, 1971.
ZIELINSKY, S.. A arqueologia das mídias, in Leão, Lúcia (org). In O chip e o caleidoscópio. São
Paulo: SENAC, p 51-71, 2005.
1 Tania Fraga é artista e arquiteta, doutora em comunicação e semiótica pela PUC/SP, foi
professora do Instituto de Artes da UnB.
http://www.lsi.usp.br/~tania/
http://www.unb.br/vis/lvpa/
http://taniafraga.art.br/blog/
email: tania.fraga@gmail.com
Texto baseado nas palestras “Envisioning possibities for computer art, architecture and
design” apresentadas em Adelaide e Sydney, Austrália, em março de 2007 (FRAGA: 2008, p 305-
312).
222
ART
3 A obra Caracolomobile recebeu prêmio do Instituto Itaú Cultural para ser construída
para a bienal de arte e tecnologia, Emoção Art.ficial 5.0, tendo ficado exposta de 01 de julho a
05 de setembro de 2010, naquele Instituto.
4 Http://www.emotiv.com
223
ART
A disciplina
224
ART
três últimos semestres priorizou a busca de matérias-primas alternativas
para manufatura de suportes (papel), pigmentos, corantes naturais e
componentes aglutinantes das tintas e bastões.
Com duas turmas ofertadas a cada semestre, a prática do Seminário de
Pesquisa envolveu 150 alunos, resultando em processos de investigação
individuais e em grupo sob a orientação das professoras Thérèse Hofmann
e Daniela de Oliveira.
Este artigo apresenta de forma resumida 36 trabalhos que se destacaram
pela inovação, facilidade de manufatura, possibilidade de replicabilidade
e instrumento de aprendizagem das etapas e processos da manufatura
artesanal de materiais em artes.
Pesquisa e aplicação
Os trabalhos aqui apresentados priorizaram a investigação de matérias–
primas alternativas para manufatura de SUPORTES (papel), PIGMENTOS,
CORANTES NATURAIS e COMPONENTES AGLUTINANTES das tintas e
bastões.
Suportes
226
ART
Pigmentos e Corantes
227
ART
Reaproveitamento de cabos de
Marina Suassuna 1º/2011
vassoura na fabricação de carvão
Componentes aglutinantes
229
ART
Utilização do exsudado de
Daniela Mariano da Silva
1º/2011 flamboyant na manufatura de giz
Tonaco
pastel
Utilização do exsudado de
Niele Fernades Pires 1º/2011 flamboyant na manufatura de
aquarela
Considerações finais
Os resultados do processo de investigação para elaboração e apresentação do
trabalho final de conclusão da disciplina Materiais em Artes I apontam benefícios
pedagógicos e técnicos- científicos.
Do ponto de vista pedagógico o seminário de pesquisa contribui para reforçar
os conceitos e as funções dos diferentes materiais utilizados na produção artesanal,
além de fixar as etapas do processo de manufatura das técnicas. Temos como
exemplo a diferenciação conceitual e prática entre pigmentos e corantes, gomas
e resinas, aglutinantes. A busca por pigmentos e aglutinantes alternativos, aliada a
execução prática de uma tinta ou bastão tem se mostrado uma ferramenta auxiliar
no entendimento de conceitos e processos.
230
ART
Sob o olhar técnico-científico a atividade de pesquisa introduz os alunos
da disciplina ao universo da investigação científica, incentivando a busca por
respostas por meio da experimentação prática. Vale ressaltar que a grande
maioria dos alunos matriculados na disciplina ainda ainda estão no 2º semestre
da grade curricular do curso de licenciatura em artes plásticas.
Embora alguns trabalhos não apresentem inovações do ponto de vista
da matéria-prima a ser utilizada ou do processo de manufatura, a experiência
em realizar mesmo processos já comumente conhecidos tem pelo menos
duas finalidades: resgatar o conhecimento e história da produção artesanal
dos materiais e propor adaptações que as tornem factíveis e aplicáveis no
ambiente de sala de aula – considerando, sempre, as limitações de cada ciclo a
ser trabalhado.
Referências Bibliográficas
BOTAR, Eva, HOFMANN-GATTI, Thérèse e OLIVEIRA, Daniela de. Aglutinantes Naturais para
Tinta Guache. Painel submetido ao XXI CONFAEB, 2011.
HOFMANN-GATTI, Thérèse. A História do Papel Artesanal no Brasil. ABTCP, São Paulo, 2007.
KRUG, Margaret. Manual para el Artista: médios y técnicas. Art Blume, Barcelona, 2008.
MAYER, Ralph. Manual do Artista: de técnicas e materiais. Martins Fontes, São Paulo, 2002.
MICHEL, Karen. Green Guide For Artists: nontoxic recipes, green art ideas e resources for
the eco-conscious artist. Ed. Quarry Books, USA, 2009.
OTANÁSIO, Pamella Nunes, HOFMANN -GATTI, Thérèse e OLIVEIRA, Daniela de. Utilização de
materiais alternativos como componentes aglutinantes para confecção de giz pastel.
Painel submetido ao XXI CONFAEB, 2011.
RICARTE, Kenya Cristina T, HOFMANN -GATTI, Thérèse e GOIS, Fernanda Monteiro. Pigmentos
Naturais: Durabilidade e permanência no contexto regional. Relatório Projeto de Pesquisa
PIBIC/CNPq/UnB. Brasília, 2010.
SIDAWAY, Ian. Enciclopedia de Materiales y Técnicas de Arte. Ed. ACANTO, Barcelona, 2002.
1 Doutora em Desenvolvimento Sustentável, Mestre em Arte e Tecnologia e Profª
Adjunta do Departamento de Artes Visuais - Universidade de Brasília - therese@unb.br – (61)
9976 7709
232
ART
Design, arte e tecnologia: princípios e as novas mídias
Virgínia Tiradentes Souto1 e Rogério Camara2
Conclusões
Referências bibliográficas
AUSTIN, Tricia e DOUST, Richard. New Media Design. Londres: Laurence King Publishers, 2007.
EDMONDS, Ernest, MULLER, Lizzi and CONNELL, Matthew. On Creative Engagement. Em Visual
Communication, 2006 (5): 307.
GIANNETTI, Cláudia. Estética Digital: sintopía del arte, la ciencia y la tecnologia. Barcelona:
Associació de Cultura Contemporània L’Angelot, 2002.
JOHNSON, Steve, The end of an era. Wired Magazine: Abril 2010. Disponível em: http://www.
wired.com/magazine/2010/ 03/ff_tablet_essays/, acessado em 5 de julho de 2010.
LISTER, Martin, DOVEY, Jon, at all. New Media: a Critical Introduction. Routledge, 2009.
LUGMAYR, Artur, Connecting the real world with the digital overlay with smart ambient
media—applyin Peirce’s categories in the context of ambient media. IN: Multimed Tools
Application, Publicado online 4 de dezembro de 2010. Disponível em: http://www.springerlink.
com/content/m67415u07r252p44/ , acessado em 5 de julho de 2010
MARTINEC, Radan e LEEUMEN, Theo van. The Language of New Media Design:
PLAZA, Julio; TAVARES, Monica. Processos Criativos com os Meios Eletrônicos: poéticas
239
ART
REAS, C., McWilliams, C., LUST. Form + Code in design, art, and architecture. New York:
RUSH, M. Novas Mídias na Arte Contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
TRIBE, Mark; JANA, Reena. New Media Art. Londres: Taschen, 2006.
240
ART
Arte, ecologia e redes.
Considerações a cerca de Fritz Müller
Yara Guasque
Ciberestuário manguezais
244
ART
com/2009/11/arquivos-da-instalacao-mar-memorial.html) e na Galeria
Municipal de Arte Victor Kursansew, de Joinville — e Mar Memorial Dinâmico
- Surroundings apresentada na exposição Pneumatóforos na Fundação
BADESC, Florianópolis, Santa Catarina (2010, http://tecnofagiagptaipi.
blogspot.com/2011/02/mar-memorial-dinamico-surrounding.html), e
agora Mar Memorial Dinâmico – sistema de sensoriamento.
Por contar em 2010 com a estrutura da plataforma multiusuário,
Ciberestuário Manguezais permitiu a participação mais dinâmica da
comunidade com a chamada para a coleta multimídia no Manguezal
Itacorubi. As instalações Mar Memorial Dinâmico e Mar Memorial Dinâmico
– Surroundings propiciaram a interação do público e uma nova forma de
visualização do manguezal. A chamada aberta a participação com incursões
no espaço físico do manguezal e o convite a ocupação da plataforma
multiusuário se deu pelo enfoque da ação como um jogo pervasivo, por
este gênero permitir diferentes níveis de participação e pelo apelo às ações
off-line como estratégias lúdicas interessantes de engajamento e crítica.
A importância da participação da comunidade não é uma retórica de
publicidade vazia. Como sabemos Fritz Müller e Henry Walter Bates foram
pioneiros quanto a investigação da mimese entre as borboletas palatáveis
e não palatáveis. Mas apenas Fritz Müller continuou a viver entre os
fenômenos que ele observou. Neste sentido pode ter uma reflexão mais
precisa da razão das borboletas se auto imitar. Considerações relevantes são
descritas por vezes nos relatos da comunidade, por esta poder acompanhar
um fenômeno, num tempo alargado, e observar os vários desdobramentos
e implicações que ultrapassam a agenda e o escrutínio dos pesquisadores.
Entretanto é difícil garimpar quais informações são pertinentes. A criação
da plataforma multiusuário buscava ser um repositório de diferentes níveis
de narrativas e observações, e facilitar o acesso às informações que nem
sempre se dá de forma confortável.
Na chamada de 28 de abril de 2010 e as de julho e agosto do mesmo ano
de Ciberestuário Manguezais o manguezal focado foi o do Itacorubi, que se
situa no bairro onde a Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC,
foi construída. Foram antes necessários quase três meses de espera para
que o órgão ambiental responsável por aquele manguezal, a Floran, desse
a permissão para coletarmos apenas dados multimídia. Já em 2008 para a
elaboração da Web art — quando da construção do mapa do Manguezal
Ratones, que foi o primeiro a ser percorrido, mesmo antes do projeto abrir a
chamada à participação, (HTTP://www.tecnologiadormente.com/carijos) —
tínhamos sentido o embate com os órgãos municipais, estaduais, e federais,
nas várias consultas aos órgãos competentes, Ibama e Ipuf, para verificar
a possibilidade de permissão de adentrarmos o manguezal Ratones, e
pesquisar a existência de mapas antigos e atuais da região.
A significação das informações sobre o sítio físico postadas numa
mesma plataforma poderia ser coletiva. A diversidade, e complexidade
dos dados coletados da região, dependeria desse agenciamento coletivo
que improvisaria a capacidade de interpretação. Mesmo que a discussão
tenha sido suscitada e a atenção tenha sido criada, não foi o que aconteceu.
Tivemos poucos participantes realmente ativos e dispostos a construir
245
ART
Referências:
HAECKEL, Ernst. “Fritz Müller – Desterro”, trad. Richard Paul Neto, Blumenau em Cadernos, no.
1. Janeiro 1980, pp. 02-07.
LATOUR, Bruno. “Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções”. In:
Parente, André (Org.). Tramas da rede. Porto Alegre: Sulina, 2004, pp- 39-63.
MONTOLA, Markus; STENROS, Jaakko; WAERN, Annika. Theory and Design. Pervasive Games.
Experiences on the Boundary Between Life and Play. Oxford: Elsevier, 2009.
WEST, David A. Fritz Müller a Naturalist in Brazil. Blacksburg, Virginia: Pocahontas Press, Inc.,
2003.
248