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10 INVEJA E GRATIDAO (1957) Nota Explicativa da Comissao Editorial Inglesa Este € 0 Gltimo dos trabalhos teéricos de maior envergadura de Melanie Klein. An- tes de seu aparecimento, a inveja era esporadicamente reconhecida por psicanalistas como uma emogao importante, mas apenas em situacGes de privacdo, e somente uma de suas formas, a inveja do penis, havia sido estudada pormenorizadamente, As re- feréncias anteriores da propria Melanie Klein & inveja comecam com sua descrigdo do profundo efeito da inveja sobre o desenvolvimento de Erna, um de seus primei- Tos casos, relatado em um artigo nao publicado, apresentado na Primeira Conferén- cia de Psicanalistas Alemfes em 1924 e que se tornou a base do terceiro capftulo de The Psycho-Analysis of Children, Entrementes, registrou a inveja como um fator importante; ela lista suas referéncias passadas em uma nota de rodapé & pAgina 201, esquecendo-se contudo de sua prépria antecipacao do presente trabalho em “‘Algu- mas Conclusées Te6ricas Relativas & Vida Emocional do Bebé” (1952), onde diz: “A inveja parece ser inerente A voracidade oral... 2 inveja (em alternancia com sentimentos de amor e gratificac&o) é primeiramente dirigida ao seio nutridor. ..” (pag. 103). Nesta monografia Melanie Klein mapeia uma érea extensa da qual apenas um. pequeno setor havia sido conhecido antes. Ela postula que a inveja e a gratidao sto sentimentos opostos ¢ interagentes, normalmente operantes desde 0 nascimento, e que o primeiro objeto da inveja, bem como da gratidfo, & 0 seio nutridor, Descreve a influéncia da inveja e da gratiddo nas relagbes de objeto mais arcaicas e estuda 0 funcionamento da inveja nfo apenas em situagdes de privagio, como também em situagdes de gratificagao onde ela interfere na gratid4o normal, S40 estudados os efeitos da inveja, em particular da inveja inconsciente, sobre a formaco do caréter, incluindo ~¢ estas s4o da maior importancia ~ a natureza das defesas erigidas contra a inveja, A técnica de analisar os processos de cisfo & também discutida; isso cons- titui um suplemento importante 2 discussdo em “Notas sobre Alguns Mecanismos Esquiz6ides”. Melanie Klein examina também a inveja anormalmente acentuada, Em “Notas sobre Alguns Mecanismos Esquiz6ides”, embora tenha registrado diversas anorma- lidades do funcionamento arcaico, por exemplo, a introjegdo de objetos fragmenta- dos pelo édio, 0 uso excessivo de mecanismos de ciséo e a persisténcia de estados — 205 — eve emt porMeHO 2 Lomnagite pore exquice parandade per eeu enn yi ponte al No pres he, cha ek 1700p inveja excessi i; desereve, cn coulusito oriunda de um frac mbém a esteuturat normal da po > dle Pdipo que dat resulta, Postula também que 0 seio nutti- dlor & pereebido pelo bebé como uma fonte de criatividade e descreve os efeitos da- nosos da inveja indevida sobre a capacidade de criatividade. Do principio ao fim, seus argumentos tanto te6ricos quanto clinicos sio ilustrados com material clinico, 0 que € de particular interesse na medida que mostra como ela trabalhava nesse tiltimo perfodo. Este trabalho langa nova luz sobre a reagSo terapéutica negativa, estudada co- mo efeito da inveja. Melanie Klein considera que, embora a inveja possa em alguma medida ser analisada, ela estabelece um limite para 0 éxito analitico, Esse fato, por- tanto, coloca uma restrigfo final ao grande otimismo de seus artigos iniciais dos anos vinte, so na cisfio © mostra a importine’ », Delineia io de~ edo comy —206— 10 INVEJA E GRATIDAO! (1957) HA muitos anos venho me interessando pelas fontes mais arcaicas de dusts atitudes que sempre nos foram familiares: a inveja e a gratidaio, Cheguci A conclusio de que a inveja é um fator muito poderoso no solapamento «| rafzes dos sentimentos de amor e de gratidao, pois ela afeta a relagio 1 antiga de todas, a relacéo com a mae. A importincia fundamental dessa relagdo para toda a vida emocional do indiv{duo tem sido substanciada cm varios trabalhos psicanaliticos; e penso que, ao investigar mais profund: mente um fator especffico que pode ser muito perturbador nesse estigiv inicial, eu acrescentei algo de significativo aos meus achados referentes ao desenvolvimento infantil e & formagao da personalidade. Considero que a inveja € uma expressio sédico-oral ¢ s&dico-anal de impulsos destrutivos, em atividade desde 0 comeso da vida, e que tem ba se constitucional. Essas conclusées tém certos elementos importantes cm comum com a obra de Karl Abraham, apesar de implicar algumas diferen- gas com relagao a ela, Abraham achava que a inveja € uma caracteristic oral, mas — e 6 aqui que minhas concepcées diferem das dele — presumi: que inveja e hostilidade operassem num perfodo ulterior, 0 qual, de acor- do com suas hipsteses, constitufa um segundo estagio, 0 s4dico-oral Abraham nfo falou em gratidao, mas descreveu a generosidade como uma caracterfstica oral. Ele considerava os elementos anais como um compo- nente importante da inveja ¢ enfatizou a derivagao desses elementos a partir dos impulsos sfdico-orais. Um outro ponto fundamental de concordancia com Abraham € sua suposigéo de um elemento constitucional na intensidade dos impulsos orais, que ele vinculou a etiologia da enfermidade manfaco-depressiva, Sobretudo, tanto a obra de Abraham quanto a minha puseram em re- levo, mais plena e profundamente, a importancia dos impulsos destrutivos " Quero expressar minha profunda gratidio & minha amiga Lola Brook, que me ajudou ao longo da preparacio deste livro [/nveja e Gratidéo], bem como de muitos de meus escritos. Ela teny uma rara compreensio de minha obra ¢ ajudou-me, em todas as etapas, com formulagées ¢ crf- ticas 20 contetido, Meus agradecimentos séo também devidos ao Dr. Elliott Jaques, que fey. intimeras e valiosas sugestdes enquanto o livro estava ainda manuscrito e ajudou-me no trabalho de revisio das provas. Sou agradecida a Miss Judith Fay, que teve grande cuidado na feitura do indice. 207,

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