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Calculo de link

Autor: Patrick Brandão


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Uma pergunta feita com muita frequencia por pessoas que desejam
iniciar uma rede ou um provedor de internet é: Qual o tamanho
indicado para o link de internet?

Irei expor abaixo alguns fatores fundamentais que devem ser


usados para analisar a demanda e a dimensão do link.

Nota importante: todos os valores de links são dados em kbit/s, que


é a notação correta. Transferencia de arquivos e medições via
software/aplicativo são dadas em kbytes. 1 byte equivale a 8 bits,
para se obter o valor em kbytes, deve-se dividir o valor em bits por
8.
Um link de 1024kbit/s provê o equivalente a 128KBytes em uma
tranferência de arquivos, no máximo, em aplicações reais não se
deve ignorar o overhead.

O principio de tudo e os calculos básicos

Quando a internet começou a ser distribuida para usuários


residenciais por meio de conexões discadas, o tipo de conteúdo
acessado na internet era moldado para esse tipo de conexão,
algumas características marcantes dessa época:

- as páginas de internet usavam poucas imagens e raramente


ultrapassavam 30Kbytes de texto html.
- não existia plug-in de flash, tampouco videos sob demanda.
- não existia spam
- não existia P2P
- não existia orkut, Youtube, entre outras bobagens, MSN era fora
de moda e o ICQ só transferia texto.
- os arquivos enviados em anexo eram pequenos.
- os usuários eram pacientes e sabiam alguma coisa sobre
computador.
- e o mais importante: internet era opção e luxo.

Uma conexão discada atingia no máximo 52Kbits por segundo (ou


6,5 Kbytes por segundo de download). A média era 48Kbits por
usuário.
Quem tinha dinheiro conseguia pagar ISDN, e conseguia 128kbit/s
usando 2 linhas.
Ao navegar na internet, um usuário esperava de 2 a 10 segundos
para uma página ser carregada, e demorava em média 30 segundos
para lê-la.

No tempo que ele estava "processando" o conteúdo adquirido, o elo


entre ele e a internet ficava ocioso. O pulso cobrado pela ligação
poderia sair caro na conta telefonica.
Sendo assim, se o provedor de internet, por sua vez, tambem
estivesse conectado a internet ou backbone com um link de 48kbit/s
e atendesse apenas esse cliente, o link externo ficaria ocioso por
80% do tempo, ou 100% ocioso na maior parte do dia.
Considerando que todos os usuários de internet possuiam o mesmo
perfil de navegação, o provedor poderia com um link de 48kbits,
atender outros 10 clientes de 48kbits, aproveitando assim a
ociosidade do link. Caso mais de um usuário iniciasse um download,
haveria uma divisão natural da velocidade, ficando cada um com
uma parcela justa do link principal do provedor.

Então, o provedor com um link de 48kbit/s poderia atender 10


usuários conectados a 48kbit/s cada um, e nem por isso a internet
ficaria ruim. Esse calculo de usuários on-line recebe
uma notação: 10: (dez para um).

Considerando que na época apenas 10% dos clientes cadastrados


ficavam on-line simultaneamente no horário comercial, o provedor
poderia ter 100 clientes e continuar oferecendo internet de
qualidade.

Se os 20 usuários se conectassem e iniciassem um download, cada


um seria limitado 5% da velocidade contratada. Esses "5%" seriam
agarantia de link.
Se os 10 usuários se conectassem e iniciassem um download, cada
um seria limitado 10% da velocidade contratada. Esses "10%"
seriam agarantia de link.
Se os 5 usuários se conectassem e iniciassem um download, cada
um seria limitado 20% da velocidade contratada. Esses "20%"
seriam agarantia de link.
Assim, a garantia de link que um provedor pode oferecer é obtido
atravéz da função:

garantia = 100 x (velocidade_do_link /


(usuarios_on_line x velocidade_unitária))
A velocidade unitária é a menor velocidade vendida, mas considere
o seguinte exemplo:

- um provedor vende acessos de 64kbit/s e 128kbit/s, atravéz de


ISDN.
- no horário de pico há on-line: 40 usuários de 64k e 80 usuários de
128k.
- em vez de considerar que há 120 usuários on-line, devemos
utilizar, para o cálculo, com base na menor velocidade, que há 200
usuários on-line, uma vez que cada usuário de 128k consome o
dobro de um usuário de 64k.
Se o provedor em questão tivesse um link de 1 Megabit/s, a função
de garantia ficaria assim:

Função: garantia = 100 x (velocidade_do_link /


(usuarios_on_line x velocidade_unitária))

Variáveis:
velocidade_do_link = 1024 kbit/s
usuário_on_line = 200
velocidade_unitária = 64 kbit/s

Resolvendo:
garantia = 100 x (1024 / (200 x 64))
garantia = 100 x (1024 / 12800)
garantia = 100 x 0,08
garantia = 8
Resultado: o provedor só pode garantir ao usuário final 8% da
velocidade vendica com base no horário comercial.
Se o dono do provedor, baseando-se na estátistica dos últimos
meses, constatasse que apenas 25% dos usuários ficam on-line
simultaneamente, ele poderia adquirir até 800 clientes cadastrados
com um link de 1 Mega (1024 kbit/s). Porém a notação em questão
é de 16:1, considerada alta para um link de 1 Mbit/s.

Garantias inferiores a 5% tentem a colocar um provedor de internet


em estado crítico.
Garantias acima de 50% indicam ociosidade no link, e boa
qualidade no fornecimento de internet.

Para dimensionar o tamanho necessário de link baseando-se na


quantida de clientes que deseja atender, as únicas variáveis
necessárias são: quantidade média de usuários on-line no horário
de pico e a garantia de link que deseja oferecer. Use a função
abaixo:

Função: velocidade_link = (garantia_de_link / 100) x


(media_de_usuários_on_line x velocidade_unitária)

Variáveis:
media_de_usuários_on_line = 500
garantia_de_link = 15 (%)
velocidade_unitária = 128 kbit/s

Resolvendo:
velocidade_link = (15 / 100) x (500 x 128)
velocidade_link = 0.15 x 64000
velocidade_link = 9600
Assim, para atender a 500 usuários com velocidades de 128kbit/s
garantindo 15% de banda, o provedor necessitará de um link de 9.6
Megabit/s.
Se a garantia fosse reduzida para 5%, o link necessário seria de 3.2
Megabit/s.
Para se obter a notação usada numa rede, use a função abaixo:

Função:
unidades_reais = (velocidade_link /
velocidade_unitária)
notação = (media_de_usuários_on_line /
unidades_reais)

Variáveis:
media_de_usuários_on_line = 500
velocidade_link = 3200 kbit/s
velocidade_unitária = 128 kbit/s

Resolvendo:
unidades_reais = (3200 / 128)
unidades_reais = 25

notação = 500 / 25
notação = 20
Resultado: Um link de 3.2 Mbit/s fornece 25 unidades reais de
128kbit/s, em cada unidade real de 128kbit/s há 20 clientes, logo a
notação do nosso provedor exemplo é de 20:1 (vinte para um) - um
pouco superfaturado!

Em uma boa notação, iniciando em 8:1, coloque 2 notações a cada


1 Mbit de link. Exemplo:
Link de 1 Mbit/s: 8:1
Link de 2 Mbit/s: 10:1
Link de 4 Mbit/s: 14:1

A cálculo de garantia é redundante em relação ao cálculo de


notação, use o que gostar mais.
Questões importantes da atualidade

As notações e funções utilizadas foram inventadas na época da


internet discada, hoje um usuário de internet tem tendencias bem
diferentes, e os tipos de serviços oferecidos na internet aumentam
consideravelmente sua permanencia on-line, e o consumo de banda
aumenta significativamente.

Um exemplo prático: Assistir um video no youtube com exibição em


tempo real requer banda de 600kbit/s. Um usuário de 300Kbit/s
quer assistir um vídeo de 90 segundos, isso significa que, para
assistir o video todo, ele consumirá 100% dos 300kbit/s por um
intervalo de 180 segundos (3 minutos).
Provedores tem, em média, links de 4 megabit/s, assim, basta que
14 usuários de 300kbit/s assistam videos simultaneamente para
que 100% do link principal seja comprometido.
Se nesse momento outros usuários estiverem utilizando a internet
para outros fins e gerando fluxo de dados, os usuários televisivos
terão que aguardar muito mais ara assistir seus videos, porem
manterão o máximo de consumo disponível na rede até que o video
seja exibido.

Outro grande vilão é o P2P. Protocolos de compartilhamento de


arquivos como E-mule, Bittorrent são usados para fazer downloads
de videos, músicas entre outros, em sua maioria ilegal. Ao iniciar o
uso desses aplicativos, os usuários tendem a desenvolver um tipo
de comportamento obsessivo-compulsivo por downloads, os efeitos
colaterais para o provedor de internet são:
- Aumento significativo de permanencia on-line, influenciando
drasticamente o calculo de garantia de banda.
- Consumo de 100% da banda vendida ao cliente por todo o tempo
que ele estiver on-line.

Soluções para contornar fatores de risco no consumo de link


- Proxy-cache HTTP
Vantagem: Software capaz de armazenar sites e seus componentes
(imagens e scripts) no servidor (disco ou ram). Garante que no
segundo acesso a um mesmo conteúdo por qualquer cliente da
rede, o conteúdo armazenado em cache seja enviado, em vez de
buscá-lo na internet, economizando o consumo de link.
Desvantagem: aplica-se apenas ao protocolo HTTP. Raramente
consegue ganhos superiores a 40% no protocolo HTTP.

- Proxy-cache HTTP especial


Vantagem: Permite que o proxy-cache HTTP faça cache de conteúdo
dinâmico, como videos, atualizações de softwares (Windows, Anti-
virus, etc..). Softwares mais comuns: Super-Cache (comercial,
presente no MyAuth3), cachevideos.com (GNU/GPL), ThunderCache
(GNU/GPL).

- Controle de conexões TCP simultaneas


Vantagem: Usuários normais abrem 10 janelas no windows, no
máximo 20. Isso significa entre 20 e 60 conexões TCP (alguns sites
tem banners, javascript, flash para outros sites). Softwares de P2P
abrem no mínimo 50 conexões por arquivo, o que significa que o
usuário de P2P precisa de muitas conexões TCP para baixar os
arquivos. Limitar cada cliente a 70 conexões TCP fará com que o
software de P2P não consiga estabelecer todas as conexões
necessárias, e os downloads serão realizados em baixa velocidade.
Desvantagem: Quando o limite de conexões for atingido, as novas
conexões são recusadas, um cliente com virus ou spyware
consumirá essas conexões, e o cliente não conseguirá usar a
internet.

- Controle de volume
O controle de volume é com certeza é o futuro de todo provedor de
internet. Todas as operadores que oferecem acesso a internet com
3G já a utilizam.
Vantagem: Nessa técnica cada usuário tem o volume de tráfego
controlado pelo servidor do provedor, e após ultrapassar esse
volume, o acesso é negado ou o cliente é reduzido a uma velocidade
bem inferior a contratada. A técnica tende afetar apenas os usuários
que consomem muita banda, pois atingirão o limite rapidamente,
enquanto que os usuários normais raramente chegarão perto de
consumir o volume proposto. Normalmente o limite fica entre 2
Gigabytes por mês.
Desvantagem: Limita a venda de internet a pessoa física, uma vez
que pessoa juridica consegue chegar ao limite mesmo utilizando
internet para fins profissionais.

Quando aumentar o link

Uma arma indispensável para um provedor de internet é o controle


estatístico. Ter em sua frente uma tela com indicadores de
consumo, estatísticas de uso do link principal e do perfil de
navegação dos usuários e entendê-los garantirá ações eficientes
para oferecer uma boa conexão ao usuário final.

Acompanhe o gráfico de consumo do link constantemente, um


indicador que seu link já atingiu o limite é se ele ficar quadrado no
horário comercial, haverá a formação uma planície no alto da
montanha, quanto mais larga for essa planície, mais crítica estará a
situação.

No gráfico a seguir, o link é de 14 megabit/s e não há formação de


planície, o que indica que o link ainda suporta mais clientes.
Agora, acompanhando o mesmo link num gráfico que aborda o
último ano:

Podemos ver que o consumo há 7 meses era em torno de 6 mbit/s,


e cresceu 4 megabit/s até o mês atual.
Nessa projeção o provedor atingirá 100% de consumo de link (14
megabit/s) nos próximos 6 meses.

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