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Vayeshev (Ele habita)

A Escritura começa nos informando que Ia´aqov já estava tomando


posse da terra que fora prometida a ele e também à seus pais. É ali
que os fatos que estudaremos tem início na vida de Iosef. “E Ia´aqov
habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã”
(Gn 37:1). Ia´aqov toma posse da promessa – que agora se torna para
ele um fato – e assim tem início uma nova etapa de vida com o
Eterno, depois de muitos sofrimentos nas mãos de seu sogro Lavan.
Ia´aqov deixou de buscar aquilo que o Eterno lhe prometera, pois
agora ele se apossara definitivamente daquilo que o D-us de seus
pais havia lhe prometido. Ia´aqov entrou no descanso de suas
peregrinações, e agora Canaã para ele é o lugar onde ele deve
repousar e colher aquilo que ele plantou e também receber de forma
mais clara as bênçãos do Eterno, pois não existe mais “sociedade”
entre ele e outra pessoa. Tudo o que o Eterno lhe prometeu, agora lhe
dará da forma como sempre esteve no coração do Senhor fazer. Aqui
temos a palavra “habitar” que vem do termo hebraico iashab que
significa "sentar-se, permanecer, habitar". Esta palavra traz consigo o
conceito de “sentar-se” e também de ascensão ao trono. Isto significa
que para Ia´aqov seu tempo de peregrinação havia terminado, agora
veremos ele e sua família já na terra, “sentando-se” no trono –
tomando posse do seu “reino” – que é a terra prometidas à eles por
D-us.

Novamente temos aqui a ocorrência da palavra eretz que significa


"terra, cidade, estado, mundo". Já sabemos que esta palavra refere-se
à terra – nação – de Israel. Portanto a terra que o Eterno havia
prometido aos patriarcas – Israel – agora já estava definitivamente em
seu poder! A nação Israel agora passara a existir de fato na porção de
terra que receberia também este nome.

As coisas transcorriam assim: “Estas são as gerações de Ia´aqov.


Sendo Iosef de dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus
irmãos; sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila, e com os
filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e Iosef trazia más notícias deles
a seu pai. E Israel amava a Iosef mais do que a todos os seus filhos,
porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores”
(Gn 37:2-3). A palavra nos fala sobre as gerações de Ia´aqov. A
palavra “gerações” em hebraico é toledot, e significa "gerações,
nascimentos". A palavra refere-se àquilo que é produzido ou levado a
existir por alguém ou aquilo que procede de tal pessoa. É interessante
notarmos que a palavra fala de gerações, nascimentos, mas somente
um dos filhos de Israel é citado: Iosef!

Iosef era certamente o filho “querido” de Ia ´aqov, porém sua atitude


para com seus irmão era extremamente negativa. A Escritura nos diz
que “Iosef trazia más notícias deles a seu pai”. A palavra “notícias”
vem do termo hebraico dibâ e significa "difamação, relato negativo,
infâmia, calúnia". Este tipo de comentários feitos por Iosef de forma a
“denegrir” seus irmãos. Esta palavra em hebraico tem uma conotação
forte, demonstrando que havia uma intenção por trás daquilo que
fora feito. Parece que esta atitude de Iosef gerou em seus irmãos um
“desconforto” muito grande levando-os a terem uma atitude de
repulsa pelo jovem. Chamamos a isso de “fofoca”. Isto explica o
tratamento que lhe darão a seguir no texto.

No contexto, fica claro que Israel amava mais a Iosef do que os seus
outros filhos! A palavra “amar” em hebraico é ‘ahab e significa
"amor". Porém esta palavra descreve freqüentemente o amor entre
seres humanos. A Escritura nos esclarece que este amor maior de
Israel por Iosef é pelo fato de ele ser o filho de sua velhice, mas aí há
algo mais. Iosef é filho de Rahel, a sua amada esposa e Israel parece
aqui “transferir” este amor que ele sentia por Rahel e devotá-lo a
Iosef! Creio que a cada atitude no relacionamento entre Israel e Iosef
algo transparecia em seu favor e fazia Israel lembrar-se de Rahel!
Justamente por isso Iosef recebe de seu pai uma túnica de várias
cores. A palavra “túnica” em hebraico é kuttonet com o mesmo
significado; era uma vestimenta parecida com um camisão bastante
longo e era feita geralmente de linho. Isso – aliado ao fato de Iosef já
ser declaradamente o filho preferido de Israel – causou um certo mal-
estar entre os demais irmãos de Iosef!

Isso trouxe ainda mais problemas para Iosef no relacionamento com


seus irmãos! “Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do
que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele
pacificamente. Teve Iosef um sonho, que contou a seus irmãos; por
isso o odiaram ainda mais” (Gn 37:4-5). Aqui temos, de forma
explícita, a postura dos irmãos de Iosef quanto à sua pessoa. Eles
odiavam-no. Esta palavra “odiar” vem do termo hebraico sane que
significa “odiar, ser odioso”. Esta palavra exprime uma atitude
emocional diante de pessoas e coisas que são combatidas,
detestadas, desprezadas e com as quais não se deseja ter nenhum
contato ou relacionamento.

Eles também já não falavam com ele pacificamente. A palavra “falar”


em hebraico é dabar e significa “falar, declarar, conversar”.
Entendemos que já não havia mais um diálogo entre os irmãos e
Iosef. Existe uma preposição de negação em hebraico que é aqui
colocada: lo, que significa não. A palavra “pacificamente” é shalom e
significa “paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança”. Isso
nos mostra o nível de palavras que estavam sendo ministradas pelos
irmãos a Iosef! Suas palavras não eram de paz, prosperidade, bem,
saúde, inteireza e segurança. Eles certamente falavam ocultamente
sobre como proceder caso houvesse uma oportunidade de “livrarem-
se” do incômodo irmão! E ainda haviam outros fatores que
complicavam mais o relacionamento familiar entre Iosef e seus
irmãos.

Por outro lado Iosef, sonhava e tinha com revelações que o Eterno lhe
transmitia e inocentemente as contava à seus irmãos! Isso causava
um profundo desagrado a todos os irmãos de Iosef! O interessante é
que a palavra “sonho” em hebraico é halam com o mesmo
significado; porém a palavra vem de uma raiz que significa “ser
forte”. Há aqui uma revelação imensa para nossas vidas: assim como
Iosef sonhava e se fortalecia a cada dia mais, seus irmãos
caminhavam justamente na direção contrária; quando percebemos
isso aprendemos que devemos também proceder da mesma forma!
Os sonhos não são somente projeções da alma humana, mas são
também os veículos de comunicação que o Eterno D-us usa a fim de
nos trazer à mente as realidades futuras que estão ainda em seu
coração para nossas vidas. Certamente Iosef sonhava e
continuamente “repassava” seus sonhos diante de si, vendo aquilo
que ainda não existia; contemplando aquilo que era – até aquele
momento - somente um sonho, mas que ele sabia poderia tornar-se
parte integrante de sua vida! Iosef nunca deixou de sonhar e
fortalecer assim seus laços com o Eterno e com sua alma, dizendo a
si mesmo que Aquele que implantara tal sonho em seu coração era
poderoso para fazer com que se cumprisse aquilo da forma e no
tempo que lhe aprouvesse!

O sonho de Iosef viria a tornar-se realidade – profecia que se


transforma em história – e seria tido como a Palavra de D-us! A
Escritura nos diz que devemos ter fé. Mas o que é fé? A palavra fé
vem do termo hebraico aman que significa "confirmar, sustentar,
estabelecer-se, ser fiel, crer em". Os sonhos de Iosef foram
confirmados como Palavra de D-us, que quando é confirmada,
demonstra automaticamente que a fé não passa de obediência ao
Eterno que, por ter dito algo anteriormente, através dos tempos e das
circunstâncias, materializa – realiza no tempo e no espaço – aquilo
que fora dito por seu intermédio.

Os sonhos de Iosef apontavam para o futuro e mostravam-no como


alguém que estaria numa posição de liderança e também mostrava
que muitos lhe estariam sujeitos neste tempo. Porém sua família não
conseguia entender isso e revoltavam-se com ele por isso. “Teve Iosef
um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.
E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: eis que
estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho
se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o
rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus
irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás
domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e
por suas palavras” (Gn 37:5-8). Novamente aqui ocorre a expressão
“lo shalom”, literalmente “não paz”. Como dissemos acima temos
aqui um fato que demonstra que a disposição de coração dos irmãos
de Iosef era totalmente contrária a ele e aquilo que era por ele dito.
Seus irmãos entenderam o significa de seu sonho e revoltaram-se,
pois julgavam ser Iosef um menino prepotente e mimado, e que no
futuro esperava ter algum nível de autoridade sobre eles. Este sonho
parece dizer respeito à colheita do trigo, que é atado em feixes e
levado aos celeiros para depois ser processado a fim de transformar-
se em farinha. Aqui temos trigo se curvando diante de trigo! O nome
Iosef significa “O Senhor acrescenta, aumenta” aponta para o Messias
que foi “dado, acrescentado” à humanidade como um presente que
veio do alto! Assim como Iosef, sendo um tipo do Messias salvou o
mundo conhecido da época, Ieshua através de sua vida também
salvou o mundo dando-se como o perfeito sacrifício para redenção do
homem.

Justamente por essas razões os irmãos de Iosef tinham ciúmes dele.


“Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai porém guardava este
negócio no seu coração” (Gn 37:11). A palavra “inveja” aqui é qana e
significa “ter ciúme, ter inveja”. Esse verbo indica uma emoção muito
forte em que o sujeito deseja alguma qualidade ou posse do objeto.
Percebemos aqui que a atitude dos irmãos de Iosef era muito forte
para com ele, pois eles realmente desejavam ser como ele!
Certamente eles não tinham a simplicidade e a coragem de Iosef em
ser ele mesmo, e isso lhes causava uma forte indignação que era
manifesta através do ciúme, pois eles desejavam ter as qualidades de
Iosef e certamente desejavam ser fortes – sonhadores - como ele
demonstrava ser em sua postura diária, porém não conseguiam!

Os irmãos de Iosef continuavam sua vida cotidiana e foram


apascentar os rebanhos de seu pai em localidades próximas de onde
se encontravam. Israel então envia Iosef para ir ter com eles a fim de
trazer-lhe notícias sobre os filhos. “E seus irmãos foram apascentar o
rebanho de seu pai, junto de Siquém. Disse, pois, Israel a Iosef: Não
apascentam os teus irmãos junto de Siquém? Vem, e enviar-te-ei a
eles. E ele respondeu: Eis-me aqui. E ele lhe disse: Ora vai, vê como
estão teus irmãos, e como está o rebanho, e traze-me resposta.
Assim o enviou do vale de Hebrom, e foi a Siquém. E achou-o um
homem, porque eis que andava errante pelo campo, e perguntou-lhe
o homem, dizendo: Que procuras? E ele disse: Procuro meus irmãos;
dize-me, peço-te, onde eles apascentam. E disse aquele homem:
Foram-se daqui; porque ouvi-os dizer: Vamos a Dotã. Iosef, pois,
seguiu atrás de seus irmãos, e achou-os em Dotã” (Gn 37:12-17).
Notemos a progressão dos fatos: os irmãos de Iosef estavam em
Hebron e depois foram a Seqem. A palavra Hebron significa
“confederação, associação, liga”. Vem da raiz habar que significa “ser
ajuntado, reunido, ter comunhão com”. Isso parece demonstrar que
os irmãos de Iosef estavam coesos e “fechados” – ajuntados, reunidos
- em seu grupo, no qual deveriam certamente ter seus planos e
finalidades. Tudo isso em unidade perfeita, pois tinham comunhão
entre si. Depois disso vão até Seqem, que em hebraico significa
“ombro, costas”. Novamente, parecem estar dando as costas para
algo ou alguém! Percebemos que Iosef não estava entre eles e isso
certamente isso reflete sua atitude para com ele e seus sonhos!

Iosef então é achado por um homem! Há um outro detalhe aqui: este


homem dirige-se a Iosef de tal forma como se o conhecesse a muito
tempo! Ele também parecia conhecer os irmão de Iosef, pois dá ao
mesmo a informação exata do paradeiro deles! Ele inclusive diz tê-los
ouvido dizer que estariam a caminho de Dotan. Esta palavra significa
“dois poços”. Certamente foram para ali por causa da água que
saciaria plenamente os seus rebanhos!

Quando finalmente Iosef encontra seus irmãos, encontra também um


clima muito “pesado”, “carregado” quanto à sua presença ali. Mal
sabia ele que seus irmãos já haviam delineado um plano a fim de “dar
cabo” de sua vida! “E viram-no de longe e, antes que chegasse a
eles, conspiraram contra ele para o matarem. E disseram um ao
outro: Eis lá vem o sonhador-mor! Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e
lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma fera o comeu; e
veremos que será dos seus sonhos. E ouvindo-o Rúben, livrou-o das
suas mãos, e disse: Não lhe tiremos a vida. Também lhes disse
Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova, que está no
deserto, e não lanceis mãos nele; isto disse para livrá-lo das mãos
deles e para torná-lo a seu pai. E aconteceu que, chegando Iosef a
seus irmãos, tiraram de Iosef a sua túnica, a túnica de várias cores,
que trazia. E tomaram-no, e lançaram-no na cova; porém a cova
estava vazia, não havia água nela” (Gênesis 37:18-24). Mal sabia
Iosef que aqui iria ter início uma nova etapa em seu relacionamento
com o Eterno e consigo mesmo! Seus irmãos o tratam como se ele
nem humano fosse! Eles jogaram-no num poço qualquer à espera de
uma decisão sobre o que fazer com este moço, que somente por um
mero acaso era irmão deles! Percebemos que Reuben parte para
defender seu irmão. Mas, por que justamente ele? Talvez a explicação
esteja em seu próprio nome: A palavra Reuben em hebraico significa
“Eis um filho”. É uma forma abreviada de ra´û be´anyî, “O Eterno viu
a minha aflição”. Este homem deveria conhecer bem o que significava
a palavra “aflição” e certamente não queria acrescentar à sua vida
mais aflições...

A Torah nos diz que eles “conspiravam” contra a vida de Iosef. Esta
palavra vem do termo hebraico nakal e significa “ser ardiloso, ser
enganoso, agir sem escrúpulos”. Esta palavra demonstra que a
atitude deles em relação ao irmão não seria baseada no amor ou em
qualquer outra premissa de valores familiares! Eles estavam
pensando e conversando sobre o destino de Iosef e certamente iriam
atacá-lo sem que esperasse! Isso nos faz lembrar a atitude de nosso
arquiinimigo: há Satan, que age da mesma forma – planeja e ataca
como se pudesse decidir acerca da vida e da morte de cada ser
humano; parece querer bancar “D-us”!
Mas uma coisa inesperada aconteceu: eles viram uma tropa de
mercadores que se aproximava! “Depois assentaram-se a comer pão;
e levantaram os seus olhos, e olharam, e eis que uma companhia de
ismaelitas vinha de Gileade; e seus camelos traziam especiarias e
bálsamo e mirra, e iam levá-los ao Egito” (Gn 37:25). É incrível, mas
eles sentaram-se para comer calmamente enquanto Iosef estava num
buraco – certamente gritando e clamando por misericórdia –
enquanto eles comiam e bebiam calmamente...

Então eles vêem uma caravana se aproximando. Nesta companhia de


ismaelitas – árabes - estava a esperança dos irmãos de Iosef em
darem um fim ao irmão sonhador!

Quantas dores deve ter sentido o garoto sendo já jogado num poço
como um animal sem qualquer valor; quanto mais agora que está
para ser vendido como uma mercadoria qualquer num
estabelecimento comercial! Estes fatos marcaram profundamente a
alma de Iosef que certamente deve ter sofrido muito ao ver seus
irmãos fazerem aquilo consigo. Mas o pior ainda estava por vir.
“Passando, pois, os mercadores midianitas, tiraram e alçaram a Iosef
da cova, e venderam Iosef por vinte moedas de prata, aos ismaelitas,
os quais levaram Iosef ao Egito” (Gn 37:28). Agora, definitivamente,
Iosef é vendido como um objeto e vai para o Egito para ali novamente
ser negociado e ser comprado por alguém! A cena que deve ter
ficado gravada na mente de Iosef e certamente levou muito tempo
para ser, pelo menos, amenizada em suas lembranças. Enquanto era
vendido e depois levado pelos ismaelitas ele certamente deve ter
implorado aos seus irmãos que não fizessem aquilo com ele. E eles
não o escutaram; certamente até mesmo fingiram não saber que ele
era seu irmão!

Após a venda de Iosef, os seus irmãos deveriam então preparar algo a


fim de “enganar” Israel quanto a Iosef. “Então tomaram a túnica de
Iosef, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue. E
enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai, e
disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora se esta será ou
não a túnica de teu filho. E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu
filho; uma fera o comeu; certamente Iosef foi despedaçado. Então Ia
´aqov rasgou as suas vestes, pôs saco sobre os seus lombos e
lamentou a seu filho muitos dias. E levantaram-se todos os seus filhos
e todas as suas filhas, para o consolarem; recusou porém ser
consolado, e disse: Porquanto com choro hei de descer ao meu filho
até à sepultura. Assim o chorou seu pai” (Gn 37:31-35). Os irmãos de
Iosef fizeram algo terrível: enviaram a túnica do rapaz e pediram à
seu pai que a reconhecesse, se realmente era a túnica do filho dele –
Ia´aqov! Perceba que o texto não diz que eles foram levando a túnica;
mas após a notícia ter sido recebida os filhos eles então “levantam-
se” a fim de consola-lo! A palavra “levantar-se” vem do termo
hebraico qum que significa “erguer, levantar-se, ficar de pé”. Na raiz
desta palavra temos também qama que significa "cereal no pé". Este
substantivo é usado para designar uma plantação de cereal que já
pode ser colhida e moída para preparar uma refeição. Há também a
palavra qim, que significa “adversário”. Mas, quais são as relações
existentes entre estas palavras? Vejamos então:

1. Somente depois de cumpridos seus propósitos, os irmãos de Iosef


então “levantam-se” a fim de “consolarem” seu pai; até então parece
ter havido um “peso” sobre eles que não os deixou contemplarem
aquilo que fora feito de seu pai;

2. Agora a situação já “estava madura” e pronta para seu desfecho –


a aceitação da morte de Iosef.

3. Finalmente eles haviam cumprido seu propósito como


“adversários” que se tornaram do rapaz! Sua atitude deixa bem claro
que agir assim produz, além da culpa, também um sentimento de
“vitória momentânea”. Tudo parecia estar resolvido... Parecia!

A estratégia usada por eles foi simples: tomaram um “cabrito”, em


hebraico ‘ez, que significa bode, cabra, cabrito, que forneceu o
sangue para que a túnica de Iosef fosse “tingida”! A palavra “sangue”
em hebraico é dam e significa sangue; vermelho. Ali havia um sinal
de que a vida cessara! Foi por isso que Ia ´aqov tirou a conclusão que
seu filho morrera.

A túnica que Israel dera a Iosef como uma “marca” de distinção


familiar agora retorna para ele recoberta de sangue! Israel toma um
choque e num ímpeto rasga suas vestes, sentindo a dor da perda de
seu filho querido!

É interessante notarmos alguns detalhes nesta história:

1. os irmãos de Iosef trazem de volta uma capa ensangüentada; não


há um corpo que comprove a morte;

2. eles não explicam onde e como acharam a “prova” da morte de


Iosef;

3. Israel deduz que seu fora “despedaçado”! Mas nem mesmo os


ossos restaram?

O desfecho deste acontecimento é no mínimo estranho, pois Israel


não pede outras explicações aos filhos sobre a morte do irmão; há
somente um grande sofrimento pela perda de seu filho predileto!

Enquanto isso acontece, do outro lado, a história continua tomando


rumos inesperados e Iosef passa para um novo estágio em sua
“aventura” com o Eterno!
Já na vida cotidiana da família de Israel, outras coisas continuam a
acontecer e seus filhos continuam a dar-lhe motivos para que ele se
preocupe! A narrativa bíblica nos informa sobre a postura de Iehuda.
“E aconteceu no mesmo tempo que Iehuda desceu de entre seus
irmãos e entrou na casa de um homem de Adulão, cujo nome era
Hira, e viu Iehuda ali a filha de um homem cananeu, cujo nome era
Sua; e tomou-a por mulher, e a possuiu. E ela concebeu e deu à luz
um filho, e chamou-lhe Er. E tornou a conceber e deu à luz um filho, e
chamou-lhe Onan” (Gn 38:1-4). A primeira coisa que devemos
perceber é que Iehuda vai à casa de um homem chamado Hira e ali
vê uma mulher cananita. A palavra “ver” em hebraico é ra’ah e
significa "ver, olhar, prestar atenção". Iehuda certamente gastou
tempo em contemplar aquela mulher e logo a toma por mulher. O
nome do pai dela é significativo; ele se chama Shua. A palavra
“Shua” em hebraico significa “clamor”. Parece que Iehuda teria
grandes problemas por se casar com uma mulher cananita. Porém
isso certamente estava ocorrendo por causa do “clamor” de seu pai
por um varão justo que a desposasse! A escritura não nos informa se
seu pai – Israel – teve conhecimento e consentiu nessa união. O fato
dele - Iehuda - casar-se com uma mulher cananita já é muito sério! A
palavra “cananita” em hebraico é kena’ani e significa "cananita,
mercador, comerciante".

Da união nascem-lhe dois filhos: o primeiro chamou-se Er, que em


hebraico significa "vigia". O segundo chamou-se Onan que em
hebraico significa "forte". Parece que Iehuda tenta imprimir à
personalidade de seus filhos um caráter profético – assim como fizera
seu pai com ele e com seus irmãos – mas isso parece não dar
resultado, pois há um profundo desagrado no coração do Eterno
quanto aos filhos de Iehuda com essa mulher. “Er, porém, o
primogênito de Iehuda, era mau aos olhos do Senhor, por isso o
Senhor o matou” (Gn 38:7). Esta é uma porção muito forte da
Escritura, onde nos é dito que Er era mau e a palavra “mau” aqui é
ra’a e significa "ser ruim, ser mau". A palavra traz a idéia de
infortúnio, calamidade e também de perversidade. Isso demonstra o
quanto o Eterno se desagradava desse homem, pois sua conduta em
nada poderia ser aprovada pelo Senhor, pois ele traz consigo em seus
atos uma carga de infortúnio, calamidade e perversidade! Justamente
o primogênito de Iehuda tinha de portar-se assim! Isso pareceu tão
sério aos olhos do Senhor que ele o matou! A palavra aqui é o
tetragrama – IHVH – o que significa que o Eterno tornou-se aquilo que
ele necessitava: juízo, que lhe trouxe a morte! Somente quem possui
em suas mãos a vida pode tira-la quando e como quer! Este é o
Eterno, que chamamos de Senhor!

Já seu outro filho, Onan, agora deveria cumprir a lei do levirato,


suscitando descendência masculina ao seu irmão. Mas não foi bem
assim que as coisas aconteceram! “Então disse Iehuda a Onan: Toma
a mulher do teu irmão, e casa-te com ela, e suscita descendência a
teu irmão. Onan, porém, soube que esta descendência não havia de
ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu
irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu
irmão. E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o
matou” (Gn 38:8-10). Onan aqui recebe uma ordem: suscita
descendência ao teu irmão. A palavra “suscitar” é yabam e significa
"cumprir o dever de cunhado". O sentido básico desta palavra é
“assumir” a responsabilidade de casar-se com a cunhada viúva a fim
de suscitar um herdeiro homem para o irmão falecido. Isso não foi
feito por Onan, que quando mantinha relações sexuais com sua
cunhada, no momento da ejaculação fazia com que essa acontecesse
fora da mulher. A isso chama-se de “coito interrompido”. E era feito
assim justamente para evitar que houvesse a concepção e a geração
de uma nova vida, o que certamente traria um descendente homem a
uma descendência para Er que havia morrido. O fato certamente foi
relatado a Iehuda, e não somente ele e sua família tomaram
conhecimento do que acontecia na intimidade daquele casal, mas
também o Eterno, que ao ver a atitude de desobediência para com
seus preceitos e também algo mais na atitude de Onan, que
provavelmente era um reflexo de seu relacionamento com seu irmão
já morto, pois a sua recusa em suscitar descendência ao seu irmão
demonstra que as coisas não deveriam andar muito bem entre eles e
somente agora isso vem à tona, com sua morte e também com a
obrigação de Onan em dar-lhe um descendente!

Isso foi tão mau – tanto aos olhos humanos quanto aos de D-us - que
o Eterno toma então providências radicais. Novamente a palavra aqui
é o - IHVH – o tetragrama, que demonstra que o Eterno tornou-se
aquilo que ele necessitava. Onan então é morto pelo Senhor. Parece
algo muito duro de ser dito, mas a desobediência de Onan e a sua
postura de coração para com os fatos apresentados certamente
atraíram sobre ele o juízo do Senhor. A palavra “matar” em hebraico é
mot e significa "matar, assassinar, mandar matar". Isso nos mostra
que o próprio D-us pode tê-lo matado ou então enviou um emissário
seu para executar esta tarefa!

Após tal fato ter acontecido, Iehuda pede à sua nora que espere até o
tempo em que seu filho Shela – em hebraico, "Elevação" – atinja a
maturidade e possa casar-se, para que então ele assuma-a como
esposa, a fim de dar-lhe um filho. Mais uma vez as coisas não
ocorreram como fora combinado entre eles! “Então disse Iehuda a
Tamar sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai, até que Selá, meu
filho, seja grande. Porquanto disse: Para que porventura não morra
também este, como seus irmãos. Assim se foi Tamar e ficou na casa
de seu pai. Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua,
mulher de Iehuda; e depois de consolado Iehuda subiu aos
tosquiadores das suas ovelhas em Timna, ele e Hira, seu amigo, o
adulamita. E deram aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe
a Timna, a tosquiar as suas ovelhas. Então ela tirou de sobre si os
vestidos da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e envolveu-se, e
assentou-se à entrada das duas fontes que estão no caminho de
Timna, porque via que Selá já era grande, e ela não lhe fora dada por
mulher” (Gn 38:11-14) grifo nosso. Aqui é que Tamar, cujo nome
significa “tamareira”, tem uma idéia ousada, mas que irá realmente
mostrar à Iehuda que sua postura não foi correta para com ela. Ela
sentou-se disfarçada de prostituta e Iehuda vendo-a não a reconhece
e entra a ela a fim de possuí-la! “E vendo-a Iehuda, teve-a por uma
prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto. E dirigiu-se a ela no
caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te. Porquanto não
sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que possuas a
mim? E ele disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. E ela disse:
Dar-me-ás penhor até que o envies?” (Gn 38:15-17).

Tamar usa de um artifício a fim de fazer com que fosse reconhecido o


homem que estivera consigo acaso ela concebesse nesta relação
sexual. Ela toma como penhor de Iehuda os objetos que eram
particulares e que certamente identificavam o seu proprietário!
“Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e
o teu cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e
possuiu-a, e ela concebeu dele” (Gn 38:18). Tamar pede de Iehuda
justamente seu “selo”, que em hebraico é hotam e significa "selo,
sinete". Era usado para autenticar um documento. Também pegou
dele o seu “cordão”. Esta palavra em hebraico é patil e significa
"corda, fio, linha". Por fim ela pega também o seu cajado. A palavra
“cajado” em hebraico é mateh e significa "vara, bordão, bastão,
haste, tribo". O seu poder (autoridade) estava no cajado! Tamar pede
de Iehuda como penhor os objetos que o identificavam e que
atestavam quem ele era e também a sua autoridade! Agora tudo isso
estava em suas mãos e Iehuda fora “despojado” daquilo que lhe era
mais precioso e que de forma nenhuma deveria ser dado à ninguém!
Mas Iehuda, no ímpeto de possuir aquela mulher cede à
concupiscência de sua carne e lhe entrega aquilo que o Eterno lhe
concedera como um presente! Iehuda, de certa forma, desprezou-as
quando as deu a Tamar!

O fato dela ter coberto seu rosto com o véu é um destaque, pois as
mulheres judias não cobriam o rosto, mas sim a cabeça! Quando o
rosto é coberto há uma necessidade de ocultar-se a identidade de
alguém; já quando se cobre a cabeça a intenção é dizer que se está
debaixo de autoridade do Eterno! A palavra “véu” vem do termo
hebraico tsaip que significa "roupão, xale, véu". Isso implica dizer
também que o véu não era pequeno, mas servia também como um
xale para cobrir a parte superior do corpo de quem o estivesse
usando.

Após o fato ocorrido, passaram-se três meses e então apareceu o


resultado deste encontro: Tamar estava realmente grávida! Mas isso
produziu uma situação muito desagradável entre eles, pois Tamar era
viúva e agora aparecera grávida! Agora a Torah deveria ser aplicada
ao seu caso, que era de fornicação e a punição seria a morte. “E
aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Iehuda,
dizendo: Tamar, tua nora, adulterou, e eis que está grávida do
adultério. Então disse Iehuda: Tirai-a fora para que seja queimada. E
tirando-a fora, ela mandou dizer a seu sogro: Do homem de quem são
estas coisas eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem
é este selo, e este cordão, e este cajado. E conheceu-os Iehuda e
disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a tenho dado a Selá
meu filho. E nunca mais a conheceu” (Gn 38:24-26). Quando foi dado
o aviso a Iehuda sobre Tamar, disseram-lhe que Tamar havia
“adulterado”. A palavra usada aqui em hebraico é zana e significa
"cometer fornicação, praticar prostituição". Isso equivale a dizer que
ela havia deixado para trás qualquer ordenança e determinação e
buscado uma solução por si só e fora da Torah! Mas o que realmente
acontecera fora que Tamar buscara uma solução para uma promessa
não-cumprida de suscitar a seu marido a descendência que lhe era de
direito. Então ela, usando de um artifício, fizera que seu sogro lhe
desse aquilo que os seus filhos não puderam dar-lhe: um filho!
Quando Iehuda reconhece seus objetos, então ele cai em si e lembra-
se da promessa não cumprida, e com isso ele também reconhece que
havia agido injustamente para com Tamar e agora precisava
“consertar” esta situação.

Ela agora não deveria ser condenada à pena de morte, mas sim
honrada como uma mulher justa! Aprendemos que os filhos
resultantes desta união foram Perets que significa “brecha” e Zerah
que significa "aurora, brilho". Da descendência de Perets vieram
aqueles que entrariam na rota para trazerem à existência Ieshua, o
Messias! Que caminhos tem o Eterno para demonstrar sua justiça e
sua vontade! Foi justamente através dessa mulher – nora de Iehuda -
que vieram filhos justos e que agradaram ao coração do Eterno e
assim entraram na linha de descendência do Mashiach.

Agora a Escritura retorna ao nosso personagem: Iosef! “E Iosef foi


levado ao Egito, e Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda, homem
egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o tinham levado lá”
(Gn 39:1). A palavra “levado” em hebraico é yarad e significa
"descer, ir para baixo, baixar". Sempre que encontramos a palavra
Egito na Escritura há uma associação com o verbo “descer”. Isso nos
mostra que o Egito é um lugar onde as pessoas então numa condição
inferior àquelas que estão em outras posições. Sabemos que o Egito é
um símbolo do mundo e que as pessoas que ainda estão “no mundo”
certamente estão numa posição inferior, se comparadas com aquelas
que são filhos de D-us e também obedientes à sua palavra. O mais
interessante nesta situação é que Iosef precisou descer ao Egito! Não
era possível prová-lo em sua própria terra, na casa de seus familiares.
O Eterno precisou fazê-lo descer a fim de poder prepará-lo para o seu
verdadeiro chamado! Muitas vezes somos levados pelo Eterno a
descer ao Egito. Isso nos fala de momentos nos quais nós perdemos
momentaneamente nossas posições, bens, amigos, irmãos e tudo o
que nos liga à nosso passado e família! É ali e então que o Eterno
inicia um processo de profundo tratamento com aqueles a quem Ele
escolhe para cumprirem um chamado especial: o de serem servos tão
bons, que por fim se transformarão em grandes líderes e até senhores
em terras alheias! Iosef vai para a casa de um homem chamado
Potifar que significa “possuído pelo sol”. Ali Iosef terá boas e más
experiências enquanto “cidadão” no Egito.

A seguir a Escritura nos mostra como Iosef era temente ao Eterno e


as conseqüências disso no Egito. “E o IHVH estava com Iosef, e foi
homem próspero; e estava na casa de seu Senhor egípcio” (Gn 39:2).
A primeira coisa interessante que notamos aqui é que a palavra aqui
em hebraico é o tetragrama (IHVH)! Isso novamente nos fala que Ele
tornou-se aquilo que Iosef precisava! Neste caso Ele trouxe a Iosef
sucesso naquilo que ele fazia! A palavra “próspero” em hebraico é
tsalah e significa "vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância". Nós percebemos que o sucesso de Iosef
estava atrelado à sua relação de intimidade com o Eterno. Isso fez
com que seu trabalho produzisse resultados extraordinários, muito
além da expectativa de seu senhor egípcio. Ele trouxe para seu
senhor a experiência da abundância e a razão para isso acontecer foi
por que o Eterno – IHVH – estava com ele de tal forma que suas
necessidades eram supridas de forma imediata.

Mas isso aconteceu porque Iosef era fiel ao Eterno e mantinha uma
profunda comunhão com o D-us de Israel, seu pai! Isso fez com que
Iosef obtivesse um profundo respeito e confiança de seu senhor
egípcio! Nós deveríamos aprender com Iosef a termos uma postura
tal diante dos nossos “senhores egípcios” que eles mesmos
pudessem verificar que, através de nossa fidelidade e comunhão com
o Eterno tudo o que fosse colocado em nossas mãos geraria os
melhores resultados! Esse é o verdadeiro significado de tsalah pois aí
há a combinação de trabalho com a presença do Eterno, que
transforma esse trabalho em grande abundância! “Vendo, pois, o seu
senhor que o IHV Hestava com ele, e tudo o que fazia o IHVH
prosperava em sua mão, Iosef achou graça em seus olhos, e servia-o;
e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que
tinha” (Gn 39:3-4). Iosef recebeu uma posição ou cargo de confiança
baseado em dois aspectos fundamentais para o sucesso:
competência e a aprovação do Eterno! Essas duas coisas fizeram de
Iosef o segundo – ou vice-diretor, gerente – da casa de seu senhor!
Iosef conseguiu “mesclar” o temor do Senhor com seu trabalho e o
resultado disso foi “vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância”.

Mas o sucesso às vezes atrai também os olhos de pessoas que estão


muito mal intencionadas e querem nos derrubar e acabar com nosso
relacionamento com o Eterno. Iosef era um homem “vistoso”
fisicamente e isso fez com que houvesse olhares maliciosos sobre ele!
“E deixou tudo o que tinha na mão de Iosef, de maneira que nada
sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia. E Iosef era
formoso de porte, e de semblante” (Gn 39:6). Aqui a palavra
“formoso” é iapeh e significa "belo, lindo". A palavra denota “beleza
no sentido de aparência exterior”. O inimigo tenta então de várias
maneiras nos “seduzir” a fim de que abdiquemos de nosso
relacionamento com o Eterno e possuamos aquilo que nos é oferecido
de forma muito fácil. Daí surge o pecado da corrupção, da cobiça que
nos fazem decair de nossa posição de justiça diante de D-us e que
também dá direito legal ao inimigo para operar em nossas vidas. Isso
foi o que tentou o inimigo fazer com Iosef. Só que Iosef não cedeu a
estas tentações e permaneceu firme em sua posição.

As várias tentativas vieram de uma pessoa muito próxima dele: sua


senhora (esposa de seu senhor egípcio). Não conseguindo fazer com
que Iosef pecasse, ela então usou do recurso da mentira a fim de
derrubar Iosef. E assim foi feito. “E aconteceu depois destas coisas
que a mulher do seu senhor pôs os seus olhos em Iosef, e disse:
Deita-te comigo. Porém ele recusou, e disse à mulher do seu Senhor:
Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e
entregou em minha mão tudo o que tem; ninguém há maior do que
eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu
és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra
Deus? E aconteceu que, falando ela cada dia a Iosef, e não lhe dando
ele ouvidos, para deitar-se com ela, e estar com ela, sucedeu num
certo dia que ele veio à casa para fazer seu serviço; e nenhum dos da
casa estava ali; e ela lhe pegou pela sua roupa, dizendo: Deita-te
comigo. E ele deixou a sua roupa na mão dela, e fugiu, e saiu para
fora. E aconteceu que, vendo ela que deixara a sua roupa em sua
mão, e fugira para fora, chamou aos homens de sua casa, e falou-
lhes, dizendo: Vede, meu marido trouxe-nos um homem hebreu para
escarnecer de nós; veio a mim para deitar-se comigo, e eu gritei com
grande voz; e aconteceu que, ouvindo ele que eu levantava a minha
voz e gritava, deixou a sua roupa comigo, e fugiu, e saiu para fora. E
ela pôs a sua roupa perto de si, até que o seu Senhor voltou à sua
casa. Então falou-lhe conforme as mesmas palavras, dizendo: Veio a
mim o servo hebreu, que nos trouxeste, para escarnecer de mim, e
aconteceu que, levantando eu a minha voz e gritando, ele deixou a
sua roupa comigo, e fugiu para fora” (Gn 39:7-18).

Após os fatos terem decorrido, vem então a resposta de seu senhor,


Potifar quanto ao fato que havia sucedido: “E aconteceu que, ouvindo
o seu senhor as palavras de sua mulher, que lhe falava, dizendo:
Conforme a estas mesmas palavras me fez teu servo, a sua ira se
acendeu” (Gn 39:19). A mulher de Potifar fala sobre Iosef como “teu”
(de seu marido) “servo”, que em hebraico é ebed, e significa "servo,
escravo". Esta fala incita-lhe a ira. A palavra “ira” em hebraico é ‘ap e
significa "narina, face, ira". A palavra dá ênfase específica ao aspecto
emocional da ira e do furor. A Escritura nos fala aqui sobre a reação
visível de Potifar quando soube o que havia acontecido! Houve uma
transformação em seu semblante e ficou claro que ele recebera essa
notícia de uma forma muito negativa!
Mas, apesar do quadro tão confuso e de certa forma “negro” que se
apresenta na vida de Iosef, o Eterno continuava a cuidar de seu
servo! “O IHVH, porém, estava com Iosef, e estendeu sobre ele a sua
benignidade, e deu-lhe graça aos olhos do carcereiro-mor” (Gn
39:21). Aqui temos o nome do é IHVH – aquele que se torna aquilo
que a pessoa precisa – e Ele agora traz sobre Iosef a “benignidade”.
Esta palavra em hebraico é hesed, e significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Tal coisa foi dada ao carcereiro-mor a fim de
que tratasse Iosef com a devida dignidade, pois apesar de estar preso
continuava sendo um homem justo! Iosef estava na prisão não por ter
cometido algum crime, mas sim por ter se recusado a dar lugar a
propostas que iam contra seus princípios éticos e morais – sem dizer
dos religiosos – e por isso, por recusar-se a dobrar-se ante às
propostas mundanas ele recebe como prêmio a cadeia! No entanto,
ali o Eterno estava tratando de Iosef e dando-lhe a oportunidade de
levar a outros o conhecimento do D-us de seu pai Israel! E até mesmo
na cadeia Iosef conservava sua conduta de justiça e isso fazia com
que ele prosperasse em tudo o que recebia para fazer. “E o
carcereiro-mor não teve cuidado de nenhuma coisa que estava na
mão dele, porquanto o Senhor estava com ele, e tudo o que fazia o
Senhor prosperava” (Gn 39:23). Novamente aqui temos duas palavras
chave para o sucesso de Iosef: IHVH (o tetragrama) e também tsalac
que significa "vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância". Isso trouxe a Iosef – mesmo preso – o
sucesso e os bons resultados em seus afazeres diários.

Agora Iosef demonstra uma outra habilidade que até então era
desconhecida: a habilidade de interpretar sonhos! Iosef ouve os
sonhos de dois de seus companheiros – presos – e os interpreta: “E
eles lhe disseram: Tivemos um sonho, e ninguém há que o interprete.
E Iosef disse-lhes: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo,
peço-vos. Então contou o copeiro-mor o seu sonho a Iosef, e disse-
lhe: Eis que em meu sonho havia uma vide diante da minha face. E
na vide três sarmentos, e brotando ela, a sua flor saía, e os seus
cachos amadureciam em uvas; e o copo de Faraó estava na minha
mão, e eu tomava as uvas, e as espremia no copo de Faraó, e dava o
copo na mão de Faraó. Então disse-lhe Iosef: Esta é a sua
interpretação: Os três sarmentos são três dias; dentro ainda de três
dias Faraó levantará a tua cabeça, e te restaurará ao teu estado, e
darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o costume antigo,
quando eras seu copeiro” (Gn 40:8-13). Na interpretação do primeiro
sonho Iosef dá ao copeiro a esperança de que ele seria restaurado ao
seu cargo original. Isso certamente alegrou muito ao coração daquele
homem! Mas já no segundo caso, a notícia não seria tão agradável:
“Vendo então o padeiro-mor que tinha interpretado bem, disse a
Iosef: Eu também sonhei, e eis que três cestos brancos estavam
sobre a minha cabeça; e no cesto mais alto havia de todos os
manjares de Faraó, obra de padeiro; e as aves o comiam do cesto, de
sobre a minha cabeça. Então respondeu Iosef, e disse: Esta é a sua
interpretação: Os três cestos são três dias; dentro ainda de três dias
Faraó tirará a tua cabeça e te pendurará num pau, e as aves comerão
a tua carne de sobre ti” (Gn 40:16-19). A um deles veio a notícia de
que seria restaurado, já ao outro veio então a notícia de sua morte! E
assim como Iosef havia interpretado os sonhos o Eterno faz então
cumprir!

O resultado foi o seguinte: “E aconteceu ao terceiro dia, o dia do


nascimento de Faraó, que fez um banquete a todos os seus servos; e
levantou a cabeça do copeiro-mor, e a cabeça do padeiro-mor, no
meio dos seus servos. E fez tornar o copeiro-mor ao seu ofício de
copeiro, e este deu o copo na mão de Faraó, mas ao padeiro-mor
enforcou, como Iosef havia interpretado. O copeiro-mor, porém, não
se lembrou de Iosef, antes se esqueceu dele” (Gn 40:23) Iosef
demonstra ter uma comunhão tremenda com o Altíssimo, pois o
resultado agora torna-se visível. Tudo o que ele dissera aconteceu!
Mas, para seu desespero, ele havia sido “esquecido” pelo homem a
quem profetizara sua soltura! Mesmo assim Iosef continua a manter
sua postura e sua conduta e isso faria com que o Eterno o levasse a
uma posição muito mais exaltada do que ele sequer sonhara!

Percebemos que somente dois hebreus envolveram-se na


oniromancia – Iosef e Daniel, e isso aconteceu enquanto faziam parte
da corte de reis pagãos. Os hebreus não precisavam de intérpretes
para explicar seus sonhos, ao passo que indivíduos hebreus podiam
interpretar sonhos de estrangeiros. E mesmo quando fizeram as
Escrituras enfatizam que nenhum foi capaz de solucionar o sonho
mediante sua própria sabedoria. Foi D-us quem lhes revelou a
interpretação.

Aprendemos com Iosef a não desistirmos de nossos sonhos, ainda que


todas as coisas pareçam estar “presas” e nada estar acontecendo!
Mesmo assim nós temos a plena certeza de que o Eterno está
trabalhando nos bastidores por nós e preparando o momento certo
para que surjamos e então tomemos posse daquilo que nos foi
preparado por Ele.

Que nossas vidas sejam plenas em justiça e comunhão com o Eterno


em todos os nossos dias!

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