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GEOGRAFIA URBANA Jacqueline Beaujeu-Garnier Nasceu em 1917 (PUY). For os estudos aupe- rioes na Sortanne, onde fai assistente até s9a7. Foi professora ne Universidade de Lille do 1942 @ 1960, dots em que ingressou na Sorbonne coma professora de Geografia « de Civitizacéo Francesa. Conferencista nas mals diversas Universidades Estrangeiras, Funda, em 1918, ¢ Centro de Investigacéo de Andlise do - Espaco (Universidade de Paris I, Sorbonne Vice-Presicente da Assaciag3o Internacional , Atanas, Entro muitos outras cargos, & também Presidante da Unilin das Assaciagées para @ realizagéo dos atlas regioasis franceses. da Comissiio da Geografie do =Comité Neciena! da CNRS», e do gropo de trabalho d2 Comissio Internacional consagrada aos problemas das rendes motrdgoles. Desde 198 6 também Pre sidete da Sociedade de Geografia. A sun biollogralia @ vaste, destacando-so: La Morvan et le Bordure, 1950 Gdographie de la population. 2 vals., 1956-195 Tralté de Gdographie Uroaine, 1963 La Geogrepnie: Méthodes et perspectives. 1871 La Popuistion de Ja Feance, 1978 Ueconomie du Moyen-Orient, 4.* ed. 1977, etc. Raquel Soeiro de Brito | Lcenclada (1988) @ Doutorada (1855) em Geo- grafia pets Faculdade de Lavras da Universidade } de Lisboa, Professora Catedritica no Instituto. Superior de Giéncias Socials © Politicas de 1965 9 1977, & partir desta data, Professora ‘Catedritica na Faculdade de Cigneiae Sociale © Humanas, De 1980 a 1981 Prafessora Titular ds Directora da revista Geo $ da Sociedade de Geografis de Lisboa (1964 a 1972), Directors sesde 1991 do Departs: mento de Geografia © Planeamenta Regional da FOSH. & actualmente subdirectora de Facule dade de Ciénciss Socials e Humanas. Gelardoada com wirias. distingbes honeriticas, tam desen- wolvido. grande actividade cientifies a nivel racional ¢ Internacional. Alam de numerasos artigos em revistas nacionsis & estrangeiras. publicou, entre outros: Puteiras de Mire, 18h: 2° od. 1900 | Sone ns Prapes do Norte, 106 * Lisbos. Esboro Geogréliee, 1977 GEOGRAFIA URBANA JACQUELINE BEAUJEU-GARNIER GEOGRAFIA URBANA FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN LISBOA Tradugio do original francés intitulada- GEOGRAPHIE URBAINE Jecquoline Beaujau-Garnier ©) Librairie Armand Colin Paris, 1980 Roservados todos os direitas de acordo com a lei Edigdo da FUNDACAQ CALOUSTE GULBENKIAN Av. de Berna / Lishoe INTRODUGAO © Tratsdo de Geografia Urbana, para a realizagae do qual Georges Chabot me dera a honra e a prova de amizade de pedir 8 minha coleboragao, apareccu em 1963. Representava, para a época, a primeira obra mundial de conjunto, de snvergndura, sobre este tema. Por isso, foi acothida muito favoravelmente e traduzida cm sito idiomas. Contribuiu largamente para fermar tedos os que, a parlir daquela data, se interessaram pela Geografia Urbana, Mas, trabalho pionciro, foi seguido por numeroses outras publicagaes quer de carécter geral, quer mais ou menos especializadas, ou pelo espago (por cxemplo, 08 trabalhos de R. Murphy sobre a Gcografia Urbana essencialmente nos Estados Unidos, ou de Milton Santos sobre 2s cidades dos paises am vias de desenvalvimento), ou pclos temas. Alem disso, as pesquisas consagradas as cidades desenvol- veram-se rapidamente, ¢ nao apenas entre os gedgrafos, mas tam. bém entre ecenomistas, socidlogos, histeriadores, planificadores Ags estudas monograficos sutedsram-se tentativas de andlise des- critiva ou critica des aspectos de descnvolvimento espacial, demo- grafico, econdmico, de confrontagées sociais ou politicas, A cidade Tornou-se um objecto dé pesquisa pluridisciplinar, enquante, ao mesmo tempo, sc apreciava cada vez mais o seu papel como faco de informagio, cadinha de inovagdes, moter de desenvolvimento. Os estudos urbanes tornaram-se tao tentaculares que invadiram tudo ¢, especialmente em matéria de planificagdo, a sua importancia Scentuou-se de tal modo que a evolugao do mundo rural foi, dema- siadas vezes, considerads como um simples negativo da expansio generaiizada de urbanizacSo A medida que o ntimero de urbanos crescia e que a sua percentagem na populagdo total da Globo aumentava: a medida que 7 a aparéncia das aglomeragées mudava, que os seus tipos se diver- sificavam (até mais nao haver que longinquas analagias entre cles) © que @ seu tamenho aumentava, os problemas suscitados torna- vam-se mais variados, mais angustiantes c os especialistas de todas as disciplinas, assim como os administradores e os responsaveis politicos, devam-lhes cada vez mais importancia ¢ preocupavam-se cada vez mais profundamente com esies problemas. Nao pode dizer-se que haja so uma Geogratia Urbana e que os mesmos critérios ¢ os mesrnos modelos possam sor aplicados de um lado ao outro do Mundo. Se alguns gedgrafos tém mencionado expres- samente que os $€us estudos dizem respeito apenas a uma parte das cidades do Globo. um certa niimero de tratados de Geogratia Urbana, embora de pretenséo universal, é consagredo essencialmente as aglomeragées do mundo anglo-saxonico, como se prova nos exemplos citados e na bibliografia utilizada. Ora, as condigdes podem ser totalmente invertidas: por exemplo, no respeitante as fases de transformagéo de hipercentros de cidades da Europa e¢ dos Estados Unidos, @ localizacdo da habitagSo segundo caracteris- ticas sociais, aos critérios de utilizagio do solo... Pode, pois, parecer muito presuncosa a pretenséo de abranger dominio 180 vasto. Q presente volume tentou diversificar os exemplos e utilizar uma bibliogratia largamante internacienal; por varias vezes sc indi- cam as diferengas entre as problemas dos paises industrializados ocidentais, dos paises socialistas ¢ dos do Terceiro Mundo. Mas ostas indicagdcs séo mais um meio de chemar a atengac de que um estudo exaustivo dos problemas. Paralclamente, a0 crescimento da complexidade dos organismas urbanos e da ambigio dos gedgrafos de os «considerarem nas suas mais variedas manifestagdes, muderam também os meios de investigago; as fontes estatisticas melhoraram; a informatica e a sistematizagao da informagao permitiram ume exploragéo mais eficaz e répida dos documentos, enquanto navas oricntagées de pesquisa conduziram a uma formulagéo mais tedrica das obscrvagdes, & elaboragdo de modelos. A Geografia Urbana nfo pode alhear-se de todas estas confrontacées. Pareceu, pois, necessario conceber uma neve Geografia Urbana coma apresentegge de uma nova etapa na investigac&o. Naturalmente, alguns dados fundamentais que figu- ravam no volume de 1963 mantém-se validos; optou-sé por remeter o leiter para o primeiro trabalho ou por integrar esses dados na redacgao do presente volume, de forma mais ou menos modifi- cada, consoante os casos. Relativamente aos caminhos renovedos ou aS pesquisas em curso, tentou aproveitar-se o essencial para 8 manter o leiter ao corrente dos Processos, sem, todavia, |he dar © pormenar que o tamanhe, voluntariamente reduzido, desta publi- vagda nao permitia Q volume que hoje apresento, infelizmente sozinhs, a todey o$ que, a diversas titulos, se interessam pelo estudo das cidades Pare sua formagao propria ou para Ihes inflectir @ desenvolvi- mento ¢ a fisionomia—é, pois, mais um ensaio do sintese de fonémenos e de ideias do que de doscrigdcs e de exemplos; mais um seguimento do primeiro trabalho do que uma obra de substituigao Entre as teories em mada, a utilizagdo do modo de rellexdo © da exposigao sistematica parecem particularmente fecundas. Tentou erganizar-se a camposiggo geral deste livio @ 0 ordenamente dos seus capitulos de modo a insistir no ¢onjunto das inter-relagdes que, mais do que as componentes Tradicionais, caracterizam, de facto, 0 que se poderd chamar «sistema urbanon. Assim, ao lado das clementos caracteristicas ha longo tampo tidos em conside- ragSo pelos gedgrafes (reperticaa espacial, populacéa, fungdes), foram considerados dados monos Concretas, mas que. na reslidade, sdo agentes motores do sistema: o papel da capital, as imbricages dos fenémenos ecanémicos que tanto pasam no prego da solo, o poder politico, o comportamento dos habitantes. € apenas uma tentative, mas pensa-se firmemonte que ela seré a via da futura geagrefia, Apesar das suas imperfeigdes, este volume n&o poderia ter sido realizade sem base n@o s6 na leitura de muitos trabalhos de Vérias disciplinas, mas também em viagens através de todo o Mundo, nas rela¢ées com os colegas estrangeiros ¢ franceses, na. partici- pagdo directa na politica de Organizagao do espago em Franca, Particularmenté na regido parisiense, énfim, sem os contactos per- manentes com jovens colegas @ investigadores que, em dominios diferentes, prosseguom, comigo, investigacSes pessoais ou colectivas, Gostei de eserever este livra. Espero que outros gostem de o ler © que Ihes seja de alguma utilidade. JACQUELINE BEAUJEU-GARNIER PRIMEIRA PARTE AS CIDADES Capitulo 1 O FENOMENO URBANO A introdugéo deste valume retama, de Propésito, a nogaéo de fenémeno urbano, de prefcréncia a de cidade ou de urbanizagdao. porque ng mundo actual hd um emprege abusive do que se chama, frequentemente sem raz4o, cidado e urbana ¢ as disparidades de manifestacdes e de realizagées neste campo sao tais, que é dificil n&o as tomar em consideragio. Algumas destes formas novas ape- nas tm, tanto pela sua morfologia como pela sua importancia relagdes muito vagas com as cidados classicas, E necessarig, desde logo, estar de sobreavisa relativamente a simplificacdo abusiva tanto de vocabuldrio, como, pela mesma raz3o, de conceitos © contetido do fenomeno urbano Na nossa epoca, ¢ dificil detinir com preciséo a nagdo de fend- meno urbane, quer em matéria de morfologia, quer de conceptuali- zagdo. Outrora, as nogdes de cidade @ de carmpo opunham-se fortemenie, sobretudo na Europa Continental, em toda a Asia Meridignal e Oriental, na Africa Setentrional, ou seja, em todos as paises submetidos a qguerras destruidoras, mas onde existia um poder central au local bem organizado @ uma tradigdo de construgdo com miaterigis resistentes. Estes podcres, lias mutaveis, insere- viam-se na pédra em miltiplos niicleos que sgubsistiram através de vicissitudes da Historia, No Novo Mundo, ualmente, certos impérios ‘indios, como os Aztecas no México, e os Incas no Peru, deixaram restos, mas a colonizego europeia reduziu-os a0 papel de reliquias dé Historia. 13 A cidade, fortemente aglutinada atras de uma courage pro- jectora de muralhas, distinguia-se imediatamente da regiéo vizinha por onde sé prolongavam, por vezes, precarios arrabaldes © onde 8 agricultura reinava sem divisdo. Mas A medida que se fizoram sentir os efeitos do progresso tecnico ¢ da crescimento demografico, juntamente com os das mudanges nas condi¢ées dos conflitos militares, as cidades ultrapassaram as suas antigas muralhas. & qualidade dos transpomes assegura-Ihes 9 poder de junter num mesmo lugar as matérias-primas @ a alimentagéa necessaria a mul- tiddes cada vez maiores: estimuladas pelo progresso do descnvolvi- mento industrial, elas foram crescendo em numero de habitantes @ multiplicarem-se sob varios aspectos; disponda de meios de trans- porte colectivos ¢ depois individuais cada voz mals aperfeigoados, as cidades alargaram-se, disscminaram-se através do campo. Em certos paises, em fungdo do nivel de desenvolvimento econémico ou de ideclogia politica, novas formulas apareceram: bairros operarios, simples anexos de uma fabric, de uma explo- ragdo mineira ou de um dostes ajuntamentos de actividades conhe- cidos sob 0 nome de parques industriais, de «zonas industriais»; (agrovillesn, cidades agricolas, que, come © seu nome indica, elber- gam trabalhadores agricolas em unidades residencisis que tém a pretensdo de oferecer, quer pela sua disposigdo, quer pelos seus equipamentas, tragos muito semelhantes aos das cidades classicas, 2s fim de unifermizar o mais possivel as condigdes de vida dos dife- rantes tipos de produtores. Uma tal politica foi praticada em grande ascala na URSS, depois da revolugéo, € a8 & tatisticas soviéticas distinguen cuidedosamente as «cidades» ¢ 08 «beirros operariosn [Até os tempos de repouso que cvocam pata o citadino a cvasao para a Natureza, deram igualmentc origem conjuntos de construgees dispondo de certos equipamentos e, no decurso dos ultimos anos, viu-se florir, tanto a beira-mar como na montanha, verdadsiras cidades turisticas Ha ainda casos mais dificcis de classificar: & volta de numerosas aglomeragées, os citadinas ultrapassam largamente © quadro urbano preciso, Os migrantes pendulares podem escolher morar em aldeias afastadas do limite rigoroso da zona urbanizada, mas bem ligados: por transportes eficazes, e, assim, véem-se progredir loteamentos ao lado de aldeias tradicionais, muitas vezes ne proximidade de grandes ostradas ou de estagdes de ceminho de ferro. Por vezes, s40 08 agricultores que procuram para um membro da sus familia uma outfa ocupagéo, obtendo um rendimento complementar desen- volvende, assim, uma categoria dé operdrio-camponés ou de cam- 14 Ponés-operario, Como recensear estes individuos em que a residéncia ® 0 lugar de trabalho portencem as dyas grandos divisdes classicas? Como urbanos ou como rurais? Existem também, integradas na categoria do aresidentes secundérios», pessoas que se foram recen- Sear por motives éleitorais, ou outros, fora da sua cidade, no lugar onde, sobretudo durante 0 Vera, passam uma parte cada ver maior da semana. E este € outro aspecto da conquista urbana. Mas se ja @ delicado éstebelecer o limite estatistico, numérico, segunda a residéncia ou as actividados, que dizer do limite @ quo poderiamos chamar psicolégico? Informados palos mesmos meios universais e instantaneos, como a radio e a televisio, submetidos so Mesmo «massacre» de propaganda ec publicidade, libertos pela mecanizagéo de um certo numero de tarefas espeécificas, inquietos nas suas reivindicngdes cm matéria de randimentos e, cada vez mais, de condigdes de trabalho, desigcando-sc cada vez mais livre: mente @ cada vez para mais longe, urbanos e rurais diferenciam-so cada vez menos. Nos paises capitalistas mais evoluidos a homoqe- nsizagéo @ muito grande © a oposic¢ao de classes de rendimentos & mais forte do que a oposigéo entre meio rural ¢ meio urbane (Weber, 1971). «O facto fundamental & qué © urbane c o nao urbano ja nao apresentam diferengas significatives... (2 & necessar ver porqué): no desenvolvimento revolucionarlo das comunicagdcs e dos transportes, na industrializagio que se opera em todas as ectividades, inclusive na agricultura, no impacto generalizado da educsego e da cultura das massay.,.» (Derek Senior, 1966) Os paises socialistas tém sistematicamente tentado esta uni- formizag&a e og chineses pareciam querer assentar nela as bases da sua secicdade, com periodos alternados de resid@ncia e de tra- balho em meio urbeno ou rural. Levando oo paradoxo certas constatagées, fcitas em particular ngs cidades dos Estados Unidos, péde concluir-se que era frequen- temente nos pardisiros @ nos velhos beirros do centre urbana que viviam o8 individues recém-chegados & cidade « os mais pobres de todos, os imigrantes frequentemente de origem rural muito préxima, enquanto as familias mais rices se alojavam nas resid&ncias peri- fericas, nos limites da frente urbana @ muitas vezes pare alem dela. Ser, pois, necessdrio perguntar, como L. Mumford (1968), se a cidade vai desaparecer ou, pelo contrario, se ira invadir todo o planeta? Devers o conccito de cidade ser revisto? Qu sera necessario considerar a cidade n&o como uma entidade fixa propriamente dita Mas como um instrumento que conserva e propaga determinada 15 forma de civilizagdo, carseterizada por um conjunta de tragos possi- veis de difusdo mais ou menos global, mais ou menos perfeita? Teriamos, entio, a verdadeira «cidade» @ os desvios ou os prolon- gamentos do facto urbano. © «processo de urbanizacho» c 8 wauto- nomia do modelo cultural urbane» revelar-se-iam contraditérios, como escreveu Castells (1973). O que 6 a cidade para o gedgrafo? © quadro que se retine sob a designagéo de «cidade» @ multi- forme pela sua situag&o, tamanho, arquitectura, organizacao interna, papel na vida regional ou nacional. © geégrafo que inicia um estudo aparcebe-se da cidade de diverses maneiras: por corresponder a um modo particular de geupaca do solo; por se reunir num cspago mais ou menos vasto, mas no entante muito denso, grupos de individues que vivem e produzom; a cidade pode ser dinamice e préspera gu degradada © quase moribunda; é 0 né de fluxos sucessi- vamente centripetos ou centrifugos, de toda a natureza; em diversos graus ¢ sob varias formas, 2 cidade ¢ o elemento fundamental da oryanizagao do espago. O espago, os habitantes, o papel das cidades, tal é a irilogia des pontos de vista da geografia urbana. Mas importa procisar esta afirmagao simplificadora com a necessidade de considerar cstes trés aspectos simultaneamente na complexidade das suas ostrutures internas é das suas inter-relagaes multiples; quer dizer, de pdr em evidéncia a realidade das relagdes sistémicés no quadro urbano; a obrigagdo de tor em conta o factor tempo, introduzindo no sistema, segundo as circunst&ncias, o elemento de evalugao linear complexo ou ums descontinuidade susceptivel de modificar sensivelmente © equilibria da combinagao A abordagem geograticn — tal camo a natureza do fenémeno urbane — tem vindo a modificar-se progressivamente, Os gedgrafos comegaram por dar etengSo aos aspectos concretos: o sitio, a tanta, 9 abocanhar no espago, as modalidades diversificadas de utilizagao do solo. Depois, descobriram os habitantes: as origens, as variedades de repartigao dos agrupementos @ as caractoristicas demograficas da populagao fizeram o objecto das suas pesquisas, que rapidamente se alargaram 4s actividades urbanes; descreveram entao o3 géneros de vida, os tracos de civilizagao que se diferenciam geralmente dos do mundo rural. Indo ao encontro dos historiadores, dos socidlagos, dos coonomistas, os gedgrafos caracterizaram as fungées © procura- 16 ram a origem € o fundamento do desenvalvimenta urbano, o que os levou a interrogarem-sc sobre o papel regional das cidades, sobre 2 existéncia de redes qu armaduras em qué sc apoiam os ntcleos urbanos, mantendo entre si, em sertos casos, relagdes mais ou menos hierarquizadas. A cidade torna-sc entio, uma das principais preocupagdes da disciplina geografica. Mas se, em geral, isto s¢ passou em todas as escolas de todos os paises, cada grupo ou por vezos cada individuo reagiu com o seu temperamento particular 0 exame sistematico das publicagdes dos uitimos trinta anos mostra tendéncias muita faccis de esquematizar, No estrangeire, namesdamente na Alemanha ¢ nos Estados Unidos, foram os aspec- tos tédricos os que mais retiveram a ngéo dos investigadores, © cstudo da contralidade, a que as trabalhos de Christallor (1933) deram um certo impulso, conheceu desde os anos cinqucnta um brithante desenvalvimento e suscitou uma imensidade de publicagées contraditarias, mas goralmentc aprovadoras; as redes, 0 seu arranjo © frequéneia forem dissecadas, medidas; ¢ este exame critico orien- tou, mais ou menos directamente, a oxploragdo de numerosos autros aspectos, como prove # riqueza do volume de bibliogratia publicado em 1961 por 8. L. J. Berry o A, Pred & as quase duas mil publicagdes que ai foram tratadas (Beavon, 1977). Na USS. os grandes «frescos» da evolugao histérica geral ou regional (a Ucrinie ¢ @ Siberia), tal como as proposlas de classificagio funcional, justificam-sc, scm divida, mais ainda pela subversio ccorrida no pais do que pela viragom de espirita des espscialistas. Em Franca, pelo contrario, © percurso foi quase inverso: &s monografias brilhantes de cidades soladas, sucederam-se 4s pesquisas comparativas na guadro da rogido (as teses francesas usarem-nas amplamente no Languedoc. na Alsacia, nos Alpes do Sul) ou no quadro da nacdo (Pinchemel, 1954). Inversamente, os primeiros trabalhos de sintese a integrar 8 geografia urbana no quadro da geografia gers! foram franceses: Précis de Geographie Urbaine (P, George, 1961), Traité de Géographie Urbarne (J. Beaujeu-Garnicr e G. Chabot, 1963). Estes autores tentaram apresentar aspectos giobais, mas ficaram sempre mais no Gominio do descritiva do que do tedrico. Foi necessario esperar pelos anos mais recentes para se observar uma mudanga parcial nesta maneira de abordar os preblemas. Neo conjunte da gcogratia mundial, os titulos de publicagdes variam muitos, testemunhendo pesquisas cngenhosas, embora nem sempre concludentes. Qs trabalhos gerais multiplicaram-se eo seu canteido diversificou-se bastante. 17 A conclusio desta abordagem progressiva pode, talvez. scr rosumida por esta frase de Dalmasso, na introdugdo da Géographie Urbaine de Pellegrini (1973, pag. 10): «As cidades,,. s80 a pro- iecgao, numa fraceao do espaco, das condigdes naturais, das herangas da Histéria, do jogo de fargas econémicas, dos esforgos do progresso técnico, do génio criador dos arquitectos, dos bloqueios administra- tivos, dos habitos quotidianos, assim como das aspiracées cans- clientes ou inconscientes dos scus habitantes». E poder-se-ia acres- cantar ado regime politico. E uma posicéo certamente interessante fe revoladora de uma anélisc muito clara, mas é mais uma deserigéo do que uma definigao. Ora, o proprio fundamento do mecanismo urbana j& no necessita de uma enélise descritiva e justaposta mas sim estrutural @ sistémica, o conceptual de cidade © que é portanto, em geral, uma cidade? A sua dalinigao @ permanente ou, como alguns pensam, esté ligada a certas caracte- risticas da sociedade? A resposta parecia simples de dar até & grande explos3a do século XIX; mas a revolugdo industrial introduziu uma confuso total; «as antigas pequenas cidades compactas tornaram-sc es grandes centros em torng dos quais se clevam construgSes por rodos os ladas nao deixande chegar o ar a parte nenhuman, escreveu Karl Marx, descrovendo a miséria extrema que acompanhou o grande desenvolvimento industrial da Inglaterra de 1846 a 1866. Fundando-se nesta ruptura da evolugde urbana, os socidlagos marxistas —e prin- cipalmente H. Lefebvre (1968) —insistem essenciaimente no pro- cesso de industrializacdo maciga que fez da cidade, ainda ha pouco meio «social» de espaca comum aberto a todos, um campo segre- gativo de rivalidades econémicas onde tude se vende. Para estos autores, a cidade por exceléncia nae péde sobreviver ao descnvel- vimento do capitalismo industrial. Se = oposig&o entre cidade pré pas-industrial — tanto em factores de dimensio como de espi- — 6 inegdvel (Reissman, 1964), j& € menos evidente que uma assente exclusivamente num «valor de trocay, enquanto a outra seria uma represontagao perieita do avalor de uso». N&o scré um conceit demasiado parcial @ ideslizada de um passado que as descricdes historicas (@ basta pensar nas cidados parasitas vivendo de rendi- mento das terras) esto longe de confirmar? Admitimos, portants, que 0 facto de o fenémeno urbane ter sofrido uma forte evolucdo 18 hd século e meio, nao faz com que deixe de constituir uma realidade da nossa época. No entanto, é necossario circu nscrové-lo ¢ precisa-lo. Aydalot (1976), condensando 0 pensamente de um eerta nimero de especialietas, escreve: «a cidade existe concretamente; ¢ 0 quadro do exercicio de uma funcdo social (cultura, valor, proteccdo do individua); € a elemento funcional de um sistema economica: o quadro de um poder de decisées exercidas por uma burguegig cocrente; @ uma unidade definida pclo quotidiano do mercado do trabalho.» Retomemos esta répida sintese e demos a cada especialista o ceracter para o qual ele tom tendéncia, nfo a limitar-se, mas a dar maior importancia: a existéncia concreta é, a priori, © interesse ime- diate do gedgrafo. A fungSo social € 0 dominio por exceléncia do sociéloga, quu afirma: «considerar 2 cidade como a projecgao de sociedade no espaco &, ao mesmo tempo, um ponto de partida indispensdvel ¢ uma atirmagaa demasiado elementar (Castells, 1973). A concepe’o funcional 6 «a mais correntemente propalada polos cconemistas» que explicam os fectos urbanos» «pelas. eco- nomias ¢ deseconomias das aglomeragoes, pelas proximidades de lodos 08 generos que existam entre a8 ugentes» (Decoster, 1976) © politico vera ai o quadro de uma decisiio que nom sempre sera a de um poder burgués. Quanto ap quotidiano do mercado do tra- balho, ele aferece ume sugestéo global quo todos os especialistas em causa podem apreciar & comentar diferentemente (migracées, habites, custos). Mas este retslhamento, necassério a andlise do facto urbano, é procisamente denunciado como perigo a evitar se se quer progredir no conhecimento da estrutura de fendmeno em Causa, Para diferentes autores (Weber, 1971; Harvey, 1973), 6 necessario denunciar a «sulco solitérian e 9 «mundo conceptual fechado» no qual se tém delvitado com demasiada frequéncia os vestigadores preocupados com as pesquisas urbanas, por vezes com pontos de vista # mesmo uma linguagem demasiado subjectivos. © importante @ considerar que a cidade, concentragda de homens, de necessidades, de possibilidades de toda a espécie (tra- balho, informac&a), com ums capacidade de organizagéa © trans- misso, € ag mesmo tempo sujeito ¢ obiecto. Enquanto objecto, a Cidade existe materialmente; atrai e acolho habitantes aos quais fornece. através da sua produgde propria, do seu comércio ¢ dos seus diversos equipsmentos, a maior partc de tudo o que eles necessitam; a cidade ¢ o lugar que favorece os contactos de toda 8 natureza e maximiza os resultados; a cidacle contribui essoncial- 19 “pecala ao Fenda =e ¢ CIDADES 2 AGIOMERAG : - com maiz de 190000 mente para 2 duple ligegdo entre o espace periférico que mais ou menos domina © 0 espace lenginquo com @ qual mantém ligagdes complexas, Mas 0 corolério desta fungdo objecto 6 um verdadelro papel de intervengao, de funedo sujeito. 0 quadro urbane, a ambiente urbano exercem influéncia nos seus habitantes; podem transformé-los Pouce a pouco; pelas suas exigéncias (alimentagdo, matérias-primas, comércio), a cidade desempenha papel importante nas actividades internas e periféricas; pelo seu proprio poder, a cidade favorces, difunde ou bloqueia os diversos impulsas vindos do exterior. Se o homem utiliza 2 molde @ cidade, a rociproca é igualmente vordadeirs, Que concluir destas consideracdes? Primeiramente, que o papel de cidade pode ser variével em fungo do seu tamanho, dos scus equipamentos, da sua riqueze, do seu «podem. E necessi demonstré-lo. Em seguida, que teve © continua a ter um papel importante a desempenhar nas socicdades humanas. Este papel muda em apaténcia, tal como evoluem as sociedades, mas até agora tom sido @ & cclativamente o mesmo Quer dizer, 0 de uma organizagéo medianeira entre os individuos © grupos Iecais, por um fado, € o meio exterior, por outro, Trata-se de uma organizag3o © nBa de uma simples justaposiggo feita ao acasa; voltaremos u este problema. Mas 6 necessério salientar que dizemos ameio exteriom endo «sociedaden, porque a cidade, pelas suas diversas caractetisticas, desempenha também um papel de éeran protector ou perturbador, de agente de transmisséo e de transformagéo, quer entre a citadino e o meio netural, quer entre 93 homens ¢ as socicdades, sob diversas formas: econdmicas, socisis, politicas; mas também lecais, regionais, nacionais, mundiais. A accéo n&o se faz em sentido Gnico: poder-se-ia dizer que a cidade é lambém uma organizagdo medianeira entre o meio exterior e os individuos, mesma ainda na nossa époce. Trata-se. precisamente, de uma fung&o original pelo que se poderia retarquir que um sin- dicato ou uma associagéo podem, cles também, ser modos de organizagdo medianeira entre 9 homem e uma colectividade; mas neste caso, ndo se trata da mesma forma de relagdes quo ligam, por um lado, todo o individue @ colectividade a gue pertence oc, por sutro, 8 glabalidade do meio externo seja qual for a aspecto cansiderado, 22 A cidade e 9 urbano Este conccita de cidade, que parece responder bem as suas verdadeiras iungSes, impéc desde logo a distingao entre cidade c lacte urbano gue no sao, forgasamente. sindnimos. Quando Aydalot (1876) cxclama: aque unidade existe entre um corddo de casas de operarios em regiGes mineiras, Paris, e um conjunto de bairros de lata? Estas tipos diferentes de organizagao espacial sao, de facto, cidades», est& a fazer, simultanzamente, uma observagao essencial 2 uma deplordvel confusdo. porque, justamente, os exemplos dados so 880 de modo algum assimilaveis @ cidades A cidade actual apresénta, tanto em populagaéo como cm extens0, dimensées extremamente varidveis; pode ser envolvida por extensas arrabaldes © transiorma-se, ent&o, em aglomeragaa. Estes arrabaldes sao constituides por cSpagos directamente depcn- dentes, se a circunscrigée territorial administrativa é vasta ¢ contém em si toda a populagdo aglomerada ou so apenas demograéfica e oconomicamente ligades ao centro, se tém a sua autonamia admi- nistrativa. Mas, quaisquer que sjam os prolongamentos poriféricos, no existira cidade sce ndo houver um niicleo susceptivel de unificar, de dominar, de organizer a periferia, Por exemplo, num grupo de casas de operdrios nas regiées mineiras, ou de loteamentos justa- postos, se nfo houver um oticleo que integre alguns equipamentos 2 podéres estruturantes, pode haver um fendmeno urbano, pode haver uma papulacado considerada urbana, mas nao ha uma cidade. sogundo a con¢epg’o que expusemos. Isto leva-nos 2 examinar o que se désigné por populacao urbana. A falta de consenso & logo evidente, Utilizem-se diferentes critérios que variam, no apenas no cspaco, iste é segundo os paises, mas também no tempo. Alguns paises, camo a URSS, 9 Reing Unido, a Africa do Sul, a Tunisia, o Brasil... declaram como urbanos os residentes em lugaras com uma certa farma de administragao. © critétio numérico, aparentemente simples, comporta diferencas enormes: g ndimero critico vai de 250 habitantes na Dinamarca, a 2000 em Franga, 20000 na Holanda, 30000 no Japio @ até 40000 habitantes na Coreia. Na Sicilia ¢ na Hungria, conhecem-se grandes concentragdes de papulagéo com actividades puramente agricolas (‘). () MN. da T.—Também em Espanha; e am Portugal, na déceda de 49, a aldsia de Amareigja contava 5400 habianies. 23 Os dois critérios em conjunto, o numérico e @ da organizagéo admi- histrativa, $49 utilizados pelo Canada, Estados Unidos. Norucga, Turquia. Os critérias econémicos nao estao ausentes: sao utilizados np Pera, onde se toma em consideragéo o numero de habitantes agrupados e a sua actividade essoncial Na Itdlia, pare que um aglamerado ascenda categoria de cidade, requer-se que 60% da sua populago activa nda seja agricola. Israel faz intervir «o aspecto urbanio», 0 que no ajuda em nada 2 nossa pesquisa de definigdo. Enfim, aumentando ainda a confusao, certes paises modificam, dé tempos a tempos, @ sua clessificacho: s Noruega e 2 Suécia muda- ram-na a partir de 1930, a Espanha depois de 1950, os Estados Unidos entre 1940 2 50 ¢, para a definigio das aglomeragdes, mais uma vez, entre 1950 e 60. E poder-se-ia aumentar a lista destas anomalias... Face a estas fantasias, é bem delicado tentar encontrar uma definigao de urbano que satisfaca a generelidade dos casos. Um urbano é aquele que, 20 mesmo tempo, vive num espago com dater- minadas caracteristicas, tem uma profissao fora da agricultura au da pesca e pertence a um grupo de individuas com o mesmo tipo de actividades, de hdbitos de vida e de consumo, que nocessitam de presence e do trabalho de outros numcrosos grupos de pro- dutores, vivenda, em particular, no mcsmo espace. Mas ai pode haver somi-urbanas: por cxomplo, os actives que mantém = sue casa na aldcia e vao trabalhar na cidade: ou ainda os imigrantes recém-chegados a uma cidade do Tercciro Mundo onde néo tém trabalho e onde a mulher continua a cultivar um campinho no exterior da urbe, como acontece em alguns casos, na Africa Negra Os matizes sio numerosos c, nos paises muito desenvolvidos, a diferenga absoluta ji n&o tem grande sentide (Derek Senior, 1966) Outros termes oferecem também dificuldades de definic¢ao E necessario distinguir entre urbanizagao e civilizacéo urbana. A urba- nizagéo € a movimento de desenvolvimento das cidades, simultanca- Mente em numero e em tamanho, isto 6. 0 desenvolvimento numérico @ espacial das cidadcs: ocupa-se de tudo 0 que esta ligado 2 pro- gress&o directa do fenémeno urbano ¢ transforma, pouco a pouco, @s cidades ou os arredores e, frequentemente, umas @ outros. A civilizaeéo urbana designa 2 penctracao parcial das habitos, ¢ dos modes de vida da cidade, no mundo rural. Uma vez mais, esia é uma céracteristica dos paiscs mais evoluidos. A instrugo desen- volve-se; @ industria difunde-se por todo o lado; os «gadgets» entram nas casas isoladas dos campos; 0 automével permite chegar 24 facilmente 4 cidade, 49 S¢u comércio, &s suas distracgdcs; os meios de telecomunicagaes atingem todos og individuos simultaneamente Tudo isto permite a cxisténcia de agricultoercs informades, quo utili- zam as. terras como uma matéria-prima, dispéem do um material muito moderno, viajam e gozam férias om regiées afastadas, muitas vezes no estrangsiro. E dificil conlinuar a reconhecer neles a imagem do rural, opasta A do urbane. A civiliza¢he moderna, nascida nas cidades e segregada por elas, penetra, assim, em todo o pais, mesmo se @ povoamente disperso, com suas cases de explerac%o agricola © seus anexos, evoca uma actividade bem rural, Trata-se, pois, da expansao de certos aspectos da vida urkana e néo de urbanizagao no sau sentido proprio Outros termos 2 efinir, regio urbanizade © regiso urbana A primeira expresso designa o espago coberto pela cidade e seus prolongamentos, quer dizer, a aglamerag3o total, Os seus limites wesquecem as fronteiras politicas, estando, assim, mais préximos do concsito geografico de cidaden (Murphy, 1966). Nos Estados Unidos, as areas urbanizadas foram objecto de definigédes diferentes, em 1980 ¢ 1960. Em Frangu, desde 1954, tém-se delimitado aglome- cagdes pera gfeitos de recengeamento, assim como uma outra entidade mais vasta, a chamada «zona dé povoamento industrial urbano» (ZPIU). A regiéo urbana pode ser definida como a zona de relagoes prioritérias directas c imediatas duma cidade de certs importancia com a sua periferia. Ultrapassa, portanto, largamente, a frea construida. «& uma unidade organics, detinivel —n&o s6 cm termos de fun¢éo, mas lambém geograticamente — como uma area cujos habitantes tém o habito de recorrer a um centro camum (ou dele dependem inconscientemente) para tuda quanto necessitam & pare os servicas @ cuja equilibrio econédmico precisa de grande numero de consumidares, ainda assim inferior ao da escala nacional Uma regiéo urbana pode considerar-se totalmente realizada quando todas os servigos @ bens necessaries & populacdo sao scossiveis no interior dos seus limites, e em tais dimensdes que nenhum dos seus habitantes possa ser impedido de a eles recorrer por excesso de tempo» (Derek Senior, 1966), Para além dela, fica a drea de nffuéneia, muito mais difusa ¢ frouxa. E importante fixar este vocabulario desde 0 inicio deste tratado, para evitar confuses frequentemente registados nos trabalhos dos Gltimas anos. 25, A medida da urbanizagao A disparidade de critérios adoptados toraria delicada toda a medida global e toda a comparacdo numérica da urbanizag’o. POPULACAO URBANIZACAG URBANA | -90ER ooower cue TOIOJEA Fig. 2— Varios modos de repre sentago cartogréfica de cidedes e de urbsnizacéos * a ] ‘ pape opyess09 urtieng uGe us nse poraus jana dascontiqune, < varigvel eno A canara mrbinne powternas fem @ dimensaa ev cide quer por eateaeriee ff, 2 4 Si. quer pur teins has nee ti grandes dlsneridsetes exrire ae ct Inconvonicnts, Imaginowse: © urinetie m sembém cdot 6 peoporeiane! 2 aims de Aabitenles. mea ao sau Joraritor 6 represenlagao estarica (5. 2 fo! srooasts cor Sten de Ger creques para dar p rmoressse okt ro tides par cubor ov ourras miéeriess [1], Ha, tinalmente, afguas fea we degenbsin 2 forme de cleave « ADEE — 2) singdey ale (re jesus Lenn aide. fein coves2os (IGF, a Ja do ramen de sh 2 quer cbter (0 mera Jseritm 8 obiic: @ gsrtir do cidedee oor unidades do 26 A ONU toma em considerac3e os varios critérios nacionais. nos seus irabalhos de estatisticas domograficas, e esses documentos permitem, quaisquer que sejam os seus defeitos @ insuficiéncias, tomar consciéncia da ampliagio o da diversidade do mavimento contemporaneo de urbsnizagaio Pela massa de pop meiro lugar, cam 2, co urbana, a Asia classifica-se em pri- do total mundial; em seguida vem @ Europa, com mais de 1/5. Mas as taxas sfo muito diferentes: o meio bilido de urbanos asidticos constitui spanas 1/4 ds populace tetal, Os dois paisos da América do Norte (Cenadé @ Estados Unidos) atingem a taxa «record», com perto de 76 %. A Oceania e a Europa m logo 2 seguir, » é ne Continente Europeu que se encontra 4 maior propercao absoluta de urbanos. A Inglaterra e 0 Pals de Gales contam com 4/5 de populago urbana no total da sua populacSo. A URBANIZACAQ MUNDIAL (1) ‘1g80 cam D er axe Europa... ee » 298,7 636 7 22 uURSS sai gevrteavinnine 1386 871 27 34 Amérigg do NOP. cee 169.1 743 2.0 23 América Latina 1592 562 44 32 Asic Oriental 274.9 29.6 45 37 Asia Meridionat 233.1 20.7 4a 18 Alries 767 223 al 28 jecanis 13,1 ora 24 10 Munda 1358.4 374 ae de A. carlir Use metetiiticus de OU, gene damnvyritiog mn) 38 et alver ). Esta repartigao € o resultado de uma longa evelugdo brusca- mente acelerada @ partir do sé. XIX. Este amplo movimento, inisiado na Europa, oxpandiu-se & pouéo c pouce através do Mundo # provecou um aumanto da populacdo cidades, muitas vezes a custa da populagaa dos campos. No inicio do sée. XX, num tots! de 1,6 bilises de seres humanos, 13,6 °% viviam em cidades de 27 mais de 5000 habitantes, ou seja, cerca de 217 milhGes de almas. Em 1950, a proporeao atingia 28,2 9; em 1976, 41 % —o que fazia com que vivessem naguela mesma categoria de cidades mais de 1644 milhbes de pessoas, em 4 bilides de habitantes do plancta Mas os especielistas pensam que 0 mevimenta nao acabou: nos paises industriais, 4/5 da populace da fim do século sor consti- tuida por urbanos; atingir-se-a, ent, a propargao actual da Ingla- terra. Para o conjunto do Mundo, no ano 2000, a proporeao de urbanos subiré a 55 %, ou seja, perto de 3 bilides c meio de almas. No decursa dos Ultimos anos, a taxa de crescimento urbano foi particularmente répida na URSS, acompanhando profundas trans- jormagées econémicas. Mas foram os paises do Terceira Mundo. da Africa, Asia e América Latina, que conheseram as maiores taxas de crescimento da populagéo urbana. E os especialistas prevém que, daqui até se fim do século, a América Latina tropical @ a maior paris do Continente Asidtico, & cxcopgio da China, verde este ritma de crescimento pelo menos duplicar, cnquanto em Africa, pelo menas, triplicara. Podem pois, distinguir-sc quatro trpos de desenvolvimento da concentragée urbana 1 —0 tipo europeu, onde o movimento, precoce, permaneceu comedica am relagio ao desenvolvimento geral da popula Glo @ tem tendéncia a afrouxar: 2—0 tipo dos paises povoados por europeus fora da Europa que conheceu um impulso gigantesco e, sendo ainda vigo- reso, tem tendéncia a diminuir; 3—O tipo sovietice, em expansao comedida. correspondendo ao desenvolvimento economico; 4—0 tipo dos paises subdesenvolvidos, onde, apés uma longs estagnagao, a populacéo urbana sofre uma brusca explosao. A este desenvolvimento global da populaco urbana que. desde 1900, aumentou dez vezes mais rapidamente que a populacho mun- dial total, ha que acrescentar trés fendmenos 1—0O numero das cidades aumenta sem cessar. Por volta de 1800, havia no Mundo cerca de 45 cidedes com mais de 100.000 habitantes; em 1970, havis quase 1600. Naquela mesma data, contava-se, sem divida. uma ou duas cidades de mais de um milhaéo de habitantes (Londres e talvez Pequim); em 1970, havia 119; em 1976, 162. A Africa 28 contava apenas com uma cidade milionaria ha apenas vinte anos, @ agora possui 9 2—As grandes aglomeragdes tornaram-se gigantescas: cidadas come Toquio, México, Nova lorque ultrapassaram es 10 milhdes de almas, As grandes megaiépoles, coma a dos Estados Unidos, que se estende de Boston 2 Washington, com 40 milhdes do habitantes, ou a do Jepao, que engloba Toquio, Osaka e Nagoya c conta 50 milndes, constituem monstruosas «regiées urbanizadasy onde o espago rural que separa as grandes aglomeragdes & progrossivamentc conquistado pelas construgdes urbanas, 3— Finalmente, um caso impressienante 6 o crescimento explo- sivo das cidades do Terceiro Mundo, a aglemeragao do Cairo ultrapassa 9 milhdes de habitantes, a de Teerao 5, a de Kinshasa 2 milhdes Até onde vao os es da urbanizacao? A urbanizagéo, delicada de definir, dificil de medir, constitui, contudo, um dos principais prablemas da nossa época. E a cidade, por mais arriscado que scja atribuir-lhe uma definigdo deseritiva uni¢a, desempenhou c¢ desempenha um papel preponderante na vida e na transformagao do espago e das sociedades, Quer se trate de descnvolvimento econdmico, de penetragéa de progressos matoriais ou de fluxos financeiras. da modificagao de comportamento psicolagico dos habitantes, a concentragdo urbana @ as mecanismos que ela favorece sao insubstituiveis. Qual o processo desta accao? ‘Como fazer sobréssair a originalidade ou as caractcristicas comuns das fungdées urbanas? As grandes aglomeragoes, 8 forga de aumen- :aram desmedidamente, trazom, nelas prdéprias, 0 germe da sua destruigdo? A cidade, como tal, deve desaparecer de uma civilizagdo que, SO por esse facto, nao mais seré a mesma? Tais so as perguntas as quais so torn responder, necessario tcentar Capitulo 2 O SISTEMA URBANO Esta concep¢ao da sidede esscaciaimente como um elemento mediador altera sensivelments o métoda de investigagao tradicional A tOnica ja néo deve incidir no aspecto concreto da paisagem urbana 2 de utilizagdo do solo, na descrigdo das caracteristicas demogra- ficas e das actividades econdmicas, nas classificagdes dos niveis e dos géneros de vida, mas sim nas combinacdes destas diferentes caracteristicas, no complexe global das suas inter-relacées, Parti- Inarcmos a opiniao j& expressa por inmeros autores © resumida por Berry nesta frase: «os geégrafes, como outros cientistas, defi- nem-se menas palo objecto que estudam do que pelos conceitos © processos de relagdes que pdem em relavon (Berry e Marble, 1868). A procura destas combinagées suscita imediatamente a nese sidade de recorrer a métodos cspecificos de saciocinio a partir das observacées tradicionais do que existe. Somos levados no apenas considcrar as caracteristicas justapostas ou mesmo ligadas de mancira linear (a instalacdo de uma fabrica @ o crescimento dos postos de trabalho}, mas a dividir a metodoiggia em trég niveis: 9 estrutura estatica, as relacées funcionsis @ © processo dinamico (Berry, 1968, Boaujeu-Garnier, 1971}. © conjunto constitui um esquema acessivel pela andlise, gue numeresos autorcs cstéo de ordo em definir como um «sisteman. A andlise sistémica & um métoda cientifien que, embora nao resalvendo todos os problemas. tom, polo menos, duas vantagens: obrigar a uma formalizacdo rigo- rosa de raciocini © caracter interdiscipliner dos fendmenos © exigir uma metodologis que tens cm conta 31 O sistema As definigdes de sistema sio quese téo numerasas come os autores que se tém intcressado por este assunto € que es tém interpretado, por vezes, de maneira muito lata. Para verificar se ostas aplicagées se justificam em relago aos fenémenos urbanos, é impor- tante lembrar alguns dades fundamentais da Teoria Geral dos Sis- temas (Bertalanfty, 1968; Steiss, 1974 (a@)). Um sistema ¢ um conjunto complexo, formade por componentes distintas, ligadas entre si por um certo nimero de relagdes. As relagées sG0 essenciais. As proprias Componentes sao subsistemas; © sistema 6, pois. Um Conjunto de subconjuntes. Um subsistema pode ser reduzido a sub-subsistemas, ou ser tratado como um element provisoriamente indecomponivel. Um sistema & mais complexo que a8 suas partes; pode sor mais ou menos estdvel; pode conservar as suas propriedades (totais ou parciais), apesar das modificagdes interhas Ue possa solrer apeser das interacgdes com o ambiente A falta de estabilidade traduz-se por um reforco ou por uma desa- gregacio. A evolugdo do sistema pode star ligada as moditicacdes internas susceptiveis de afectar as suas componentes, as modifica- gées das relacgdes que unem as diferentes partes do sistema, as interacgdcs que podem estabelecer-se entre sistemas e ambiente, Sao as modificagGes qualitativas que transiarmam as sistemas, Pelo contrario, as variagées quantitativas slo possiveis sem mudanga de estrutura do conjunto, portanto, sem alteracgio da estrutura das relagées sistémicas (Warfield, 1972, 73, 74; Baldwyn, 1975; Barcl, 1977) Ume metodologia sistémica deve, anies de mais, definir o sis- tema central e identificar a sua finalidade, o que permitira a definigao da estrutura e 0 balanco das relagées de entrada e de saida do sistema (input-ourput). Depois, 6 necessario ter em conta a hierar- quia dos sistemas a que pertence o sistema estudado: este inclui um certo numero de subsistemas e esta, ele propria, compreendido numa gama de supersistemas. Esta identificage da hicrarquia dos sistemas @ particularmente importante (Valaskakis, 1975) ‘Os ecossistemas humanos s&o usistemas vives que comprecn- dem dois subsistemas cssenciais: as comunidades biolagicas c o seu ambiente fisieon (Russwurm, 1875). Tais sistemas ostio em permanente evoluge. Os sistemas fechados apenas trocam energia com o seu ambiente: os sistemas abertos trocam materia, informagao 2 energia. A nocdo de estrutura e de evolugao poderia levar a con- sidcrar a evolugae do sistema numa pérspectiva determinista; mas 32 = evolugao dos ecossistemas humanos surge, em parte, ligada ao determinismo ¢, em pare, igualmente ligada a0 acaso. Como podem aplicerse estas generalidades ao estudo das cidades? A cidade é um sistema? Qualquer estudo cmpirico de uma cidade permite consteter relagdes complexas entre as diversas observagées. Podem colher-se cxemplos um tods uma séric de dominios. Alguns sio simples, como. por exempio, as célules ce integragéo sucessiva: a casa habitagdo, o imévci, 0 grupo de iméveis ou 9 bairro, o agrupamento de bairros. a cidade, a aglemeragdo. Cada um destes niveis integra-so numa combinagdo progressiva através de miultiplos © complexos fluxes (circulag’o, actividades, equipamentos). Também se pode fazer uma construgao, # partir quer de equipamentos administrativos (escolares, por ex.), quer de scrvigos, come o comercio, & procurar 48 correspondéncias € tela¢des entre a progressao do nivel proposto @ 0 tamanho do grupo servido (escolas prim4rias de bairro, estabc- lecimentos de ensino secundario de grupos do bairros ou de pequenas cidades, universidades de cidades amédias»), Cada uma destas escalhas representa um subsistema que se integra, simultaneamente, a nivel superior no sistema urbano ¢, paralelamente, no Conjunto de subsistemas. Como gedgrafos, devemos também encarar a caso de relagdes entre fendmenos pertencentes a diversos subsistemas, Assim, um novo meio de transporte rapido, comodo # barato incitaraé os indi- viduos a usd-lo, logo, a deslocurem-se; permitiré o desenvolvimento de arrabaldes facilmenta acessiveis: o crescimento de populacio dai resultante aumentaré as necessidades do trafego, fazendo com gue Os transportes sejam ainda melhorados, e assim por diante Dagui advém consequéncias espaciais, econdmicas c sociais: os €quipamentos que acompanham este aumento de populagaéo deverao ser estabclecidoas pélog poderés publicos ou pelos interusses privados (bancos, somércio) ¢ pelo conjunto da colectividade local; mas também o Estado ou os capitais do exterior estaréo implicades em alguns destes investimentos, Como earacterizar esta cadcia? Aqui se encontra, precisamente, 2 dufinigao das relagdcs sistémicas. Pode considcfar-se, trocando o descritivo pelo estrutural, um melo técnico (o transporte) como tendo incitado um fluxo de populagda no espaca; este movimente, por sua vez. reagindo sobre a técnica, 33 arrasta consiga a interveng3o do politico (equipamentos publicos) e do econdmico (equipamentos privados). Face ao sucesso destes rosultados, as empresas podem aproveitar para se instalarem junto do inicio dag carreiras dos meios dc transporte. o que Ihes traré grandes vantagens, nBo devido & sua prépria acco, mas ag conjunto de condi¢ées favordveis acumuladas cm virtude da existéncia da cidade (transportes, m&o-de-obra, cquipamentos publicos). Se se retomar o paralela com a teoria geral ja relembrada, nao se pode deixar de ficar surpreendido pelas analogias. A cidade é um exemplo complexe: é, simultaneamente, ela propria (a cidade existe, tem uma estrutura espacial, social, econémica) & um inter- mediario, uma engrenagem num outro conjunto, o das relagGes com © exterior; os dois aspectos reagem um sobrc o outro de mul- tiplas manciras. Ag relacées multiformes, inter ¢ extra-urbanas, sdo ossenciais — com os sistemas biologicos menos rigoresos em condigdes e formalizagdes que parece haver uma relagéa mais provavel. Con- tude, foi chamada a atengaéo (Mathis, 1978) para o facto de nao poder haver assimilacio entre os dois tipos de sistemas porque, embora se trate de grupos de seres vivos, cstes utilizem «érgdos exOgenos) nas suas actividades; por outro lado, as relagdes com 9 ambiéntc também $40 diferentes: a adaptagéo ao meio existe através de mecanismos que podem ser voluntérios © @ «mecani- zacaon pode introduzir uma certa heterogencidade. Que dizer, entéo? Considcramos que se trata de um sistema aberte, onde as trocas séo importantes (@ entrada: energia, infor- magéo, matérias-primas, produtos alimentares; 4 saida: inovagao, residuos, pradutos fabricados). Este sistema vive. descnvolve-se, mantendo a sua organizagao ostrutural no quadro @ & custa do ambiente de que ele préprio & indissocidvel. O proprio ambiente tem caracteristicas cspocificas porque integra, simultaneamente, o meio fisico ¢ a acgdo da sociedade (voltaremos a este problema). Por outro lado, este sistema inclui subsistemas moveis e cvolutivos (homens, capitais, mercadorias) numa organizagao espacial fixa mas Cujos limites sSo warldveis (2 cidade). O conjunto das fracgées do sistema n&o evolul da mesma mancira (h4 disparidade entre o centro é a periferia, por ex.) (Bertalantfy, 1962) © sistema urbano nao é redutivel 4 soma das suas partes. A sua cambinagao da lugar @ fendmenos especificos, que foram salientados pelos cconomistas: as economias de escala, as economias ou deseconomiag externas, que os investiderss bem conhecem, pois 34 sao um dos motives importantes deo implantacao ou de abandono de localizagao de empresas. «O sistema urbano & um sistema vivo: nfo $6 resulta de uma combinacée de encrgias, mas transforma-se em agente que sucessi- vamente se abre sobre o seu ambiente imediato para praticar trocas 6 se fecha sobre certas propostas saides de subsistemas inferiores ou de super-sistemas superiores; como qualquer ser vivo, 0 sistema urbana tem uma persenalidade mais ou menos nitida, tem faculdades Ge adaptagao aos movimentas do tempo» (Thibault, 1978). Ha, portanto, cvolugdo do sistema urbano ao longa do tempo: as con- Gigées © os resultados dependem das relagdes dialécticas entre o «poder urbeno @ as condigGes do ambiente, André Thibault mostrou bem a diferenga de reacedes a um desenvolvimento industrial entre uma pequena cidade burguesa e tranquila, como Beauvais, ate entéo essencialmente «terciarian, e uma cidade totalmente industrial, como Le Creusot, que deve accntuar o seu cardécter urbano através da cnagéo de um centro diréccional. A, Thibault considera Beauvais como um sistoma «adaptativon e Le Creuset como um sistema «mecanicon. Que conclusées tirar destas observacées? Que existe uma espécie de sistema urbano, ou, pelo menos, uma possibilidade do anélisé des fenoémenos urbanos por métodos sistémicos ¢ que isso permite integrar mais fortemente os diferentes aspectos da cidade gu de grupos de cidades. Que esse sistema (0 sistema urbano) & suficiontemante flexivel para escapar ao determinismo — que afec- taria todo 9 sistema fechado ¢ rigido —¢ para ter em conta a parte de acaso que aparece em qualquer ac¢Zo ern que o Homem participe (Steiss, 1974 a e b). Néo obstantc, 6 necessdrio ter consciéncia de que embora esta via de investigagao seja recente, muitos gedgrafos de passado viram as cidedes com uma éptica muito préxima. £0 caso de Vidal de La Blache (1923) com a ideia de que a cidade & «uma organizagao social de grande envergadura», ou de Sorre (1952), quando sublinha que a cidade € «a expresso da vida de relacdo em todos os graus @ sob todas as formas». E sc rclcrmos a descrigfo de cidade deste mesmo autor, encontramos muitas expressdes que os «sistémicosy poderiam retomar: «o agrupamento urbano oferece & desintegragdo @ resisténcia das coisas vivas... na mais pequena cidade se criam relagdes de subordinagdo, de interdependéncia entre os elomentos, sem as quais @ vida néo scria possivel, porque cada elemento cspecializado tem o seu papel proprio em virtude da divisso do trabalho social... a necessidade de uma organizacdo, de um con- 35 junto de fungdes internas que s8o a propria manifestagdo da vida. O resultado deste processo 6 uma forga de coalescéncia que tonde 98 potpetuar 0 agrupamento urbano ne lugar onde nasceu. Socidlogos @ geégrafos concordam neste ponto. Esta forca de coalescéncia & muite mais importante quanto mais independente for da composi¢io dos cfectives urbanos. A cidade subsiste, com as suas caracteris- ticas essenciais, quanda a populagéo sé renova... Este contrasts entre a permanéncia da cidade e a mobilidade dos seus elementos € qualquer caisa de assombroso» (Sorte. op. cit. pag. 179). Quer dizer. as presentes formulagdes sio mais a marca de novas preocupagdes das gcdgraios — desejosos de falar a mesma linguagem dos cientistas e de descnvolver, a seu exemplo, métodos de estude mais rigorosos — do que # expresso de uma descoberta original. Mas € precisamente © aparecimento desta nova ambicao que requer uma reflexéo para estabelecer em paralelo ¢ em suporte de uma intuigo literéria subjective, fundamentos mais objectivos = mais goheralizados. E no é asta a vocaco de tada a disciplina que se pretende cientifica? Analise do sistema urbano Sistema urbana © ambiente s80 dois termos de uma situacdo dialéctica. Um e outro séo igualmente complexos e inseparaveis. Q ambiente no qual uma cidade esta colocada 6 o resultado da acgio humana, por vezes prolongada ¢ multiforme, num espaco simultangamente préximo ¢ longinguo. E # projeccdo de uma socie- dade num quadro fisica, ou seja, a relagdo cam os abens naturaisn, exprossao usada pelos economistas a partir do séc. XIX (Derycke in Vaquin, 1977). Estes bens naturaig s80 © solo, o subsolo, o ar ‘0 e$paco sonore e, acrescentaremos, eventualmente, a 4gua c a vegetag3o. Estes dados interferem de diferentes manciras: podem ser ao mesmo tempo, causa (pela sua propria existéncia) e efeito (pelo papel que desempenham uns perante os outros ou em relacéo aos empreendimentos humanos): oferacem o sitio imediato da origem e do desenvolvimento ¢ 2 situagao mais geral, favorével ou desfa- voravel, de que a cidade usufrui (entroncamento, costa, vale) &, por vezes, um certo numero de produtos necessarios & sua exis- téncia ou, pelo menos, 4s suas actividades; frequentemente, por motivos diversos € variados, constituem, mesmo, a oportunidade de existéncia da propria cidade; sao mais ou menos condicionantes pela sua natureza (e, deste ponto de vista, podem influenciar o 36

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