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História da Filosofia e da Ética

Professor: Sávio Laterce

Componentes do grupo:
Mateus Saldanha
Rogério Menezes

FGV EPGE - ESCOLA BRASILEIRA DE ECONOMIA E FINANÇAS -


2º PERÍODO

RIO DE JANEIRO
SETEMBRO 2018
O filme "12 homens e uma sentença", dirigido por Sidney Lumet, relata o processo
decisório acerca da inocência – ou não – de um jovem de 18 anos que era acusado de ter
matado seu pai a facadas. Nessa película, que se passa majoritariamente numa sala destinada
a resolver o caso, doze homens de diferentes áreas são convocados a votar sobre o
acontecimento, cuja decisão seria final e precisaria ser unânime, não havendo nenhum outro
recurso para o réu caso seja declarado como culpado, senão a morte pela cadeira elétrica.
Inicialmente, o evento era tomado como rápido e trivial, pois havia duas testemunhas que
relataram ter visto o jovem cometer o delito – uma mulher de meia idade que disse ter visto a
cena por meio do trem e um senhor manco que diz ter ouvido o crime e visto o garoto sair de
casa logo após o delito. Contudo, apesar da aparente consonância sobre a culpabilidade do
rapaz, haja vista que havia duas testemunhas oculares, houve um jurado que votou como
inocente, gerando um impasse no processo de tomada de decisão. Questionado acerca de sua
posição, esse jurado que havia votado contrário, o número 8, disse que não tinha certeza da
inocência do menino, apenas desejava conversar sobre o caso. E, ao longo do filme, por meio
de argumentos que se aproximavam tanto dos métodos socráticos quanto dos sofistas, viu-se
que havia diversas contestações a serem feitas sobre os depoimentos disponíveis, onde não se
poderia concluir acerca da culpabilidade do réu. Assim, o filme termina com o júri inteiro
mudando sua posição inicial, já que era impossível determinar se o garoto era realmente o
culpado do crime.
Através deste trabalho, buscamos indicar a presença de ideias de Sócrates e dos
sofistas na argumentação feita pelo jurado número 8 ao longo do filme, que, inicialmente, é o
único a votar pela inocência do réu. Para tanto, é interessante compreender a divergência das
ideias socráticas e sofistas, principalmente no conceito de verdade. Enquanto os sofistas são
relativistas e humanistas, tratando o homem e seu ponto de vista como medida de todas as
coisas, Sócrates acredita em conceitos universais, absolutos e eternos, focando na questão da
ética. Portanto, pode-se resumir que Sócrates busca o universal enquanto os sofistas
trabalham com a difusão do ponto de vista individual.
Em primeiro lugar, observa-se que a própria função do júri é sofística, já que não cabe
à ela se preocupar com a verdade e sim com a coerência do que foi exposto como fatos e
argumentos ao longo do julgamento. No momento em que o personagem número 8 vota
contrário aos demais do júri, sua causa pode ser considerada essencialmente como sofista, já
que baseia-se no fato de que não é possível tomar nenhuma verdade como absoluta, isto é,
tudo pode ser considerado como incerto. Tal fato pode ser claramente observado ao longo de
todo o filme, visto que ninguém possui uma certeza do que realmente aconteceu, havendo a
constante percepção da distorção das informações, a qual constitui uma das teses sofistas. Ao
passo que o personagem número 8 vai dialogando com os outros membros do júri, ele
utiliza-se da retórica, para convencê-los acerca da falibilidade dos testemunhos, baseando-se
no logos – em determinados momentos também no antilogos – e em outras técnicas visando
ao convencimento dos outros presentes. Para exemplificar, ele, ao longo de seus argumentos,
demonstra que existe uma dúvida racional acerca do evento, fato que torna impossível
concluir se o réu deve ou não ir para a cadeira elétrica. Além disso, para chegar a tal
conclusão, ele se utiliza de desconstruções para demonstrar como os depoimentos eram
falhos, seja por meio do caráter técnico, como no fato da senhora utilizar óculos, seja baseada
no antilogos, ao questionar a credibilidade da testemunha. Outro fato que se insere no
pensamento sofista e muito presente durante o filme, sobretudo na forma como se desenrolou
o processo de tomada de decisão, consiste no fato de jamais ser possível encontrar uma
verdade absoluta. Tal fato pode ser observado no seguinte trecho do livro "História da
Filosofia Antiga", de Giovanni Reale: ​"Se não existe uma Verdade absoluta (e nem
mesmo relativa, conforme pensava Protágoras), é claro que ​a palavra adquire a sua
autonomia​, até mesmo uma autonomia praticamente ilimitada, porque, justamente, não
está ligada pelos vínculos do ser." (​REALE, ANTISERI, 2008, p. 217) Os sofistas
argumentam que mesmo havendo alguma coisa, seria incognoscível e mesmo que fosse
pensável, seria inexprimível. Isto é, sempre irá existir um ruído ao exprimir pensamentos em
palavras e ao transformar palavras em pensamentos. Logo, pode-se concluir que, por mais
que haja a presença de testemunhas, a total veracidade sobre o caso é algo intangível.
Ao analisarmos pelo lado socrático, há na oratória do protagonista, um método muito
próximo daquele utilizado por Sócrates, que consiste em 4 etapas: exortação, indagação,
ironia e maiêutica. A primeira consiste no convite ao debate, feito pelo protagonista no início
do filme ao ver que todos os outros jurados compartilhavam da mesma opinião e gostariam,
portanto, de acabar logo com o debate – ou melhor, nem iniciá-lo visto que assumiram que
não havia um outro ponto de vista, e possuíam certeza de si, já que todos os outros se
manifestavam da mesma maneira, condenando o réu. Após indicar que era contrário aos
demais, o protagonista consegue persuadi-los à iniciar o debate.
A segunda etapa, da indagação, consiste em ouvir a opinião de todos aqueles que
possuem já uma opinião formada sobre o assunto. Essa parte é exposta no filme quando os 11
jurados decidem, um por vez, expor seus argumentos na tentativa de convencer o
protagonista. A partir daí, o jurado número 8 começa a questionar e revelar falhas na
argumentação de cada um dos outros jurados, indicando um pré-conceito dos jurados, que os
tendia para uma conclusão precipitada, mostrando a eles que, na realidade, nada sabiam sobre
o assunto. Tal parte, é a terceira do método, conhecida como ironia. No entanto, não há a
realização da quarta e última etapa, que fundamenta-se em gerar novas ideias que estejam
mais próximas da verdade universal, defendida por Sócrates. Isso porque o único objetivo do
júri era estabelecer uma dúvida razoável na tese da promotoria, levando em conta os fatos e
argumentos expostos no julgamento. Logo, o júri não estava preocupado em descobrir a
verdade, ou seja, se o réu era ou não culpado, cabia aos jurados apenas ponderar e questionar
a tese exposta à eles.

A partir do exposto, é impossível concluir que o protagonista se enquadre apenas


como socrático ou apenas como sofista. No entanto, é indubitável sua aproximação ao longo
do filme ora com Sócrates, ora, principalmente, com os Sofistas. Tendo em vista toda a
incertitude na qual se baseia um julgamento, que se desenrola através do lógos e do antilógos,
é possível concluir que há uma maior inclinação aos sofistas. Tal fato se evidencia a partir do
momento em que o protagonista compartilha apenas seu método com Sócrates (método esse
que foi uma herança deixada pelos sofistas), mas em todo momento ele contraria o filósofo
quando diz que ele não está em busca de uma verdade universal, apenas de uma dúvida
razoável. Portanto, pode-se afirmar que o filme possui características de ambas as correntes
filosóficas, apresentando uma maior aproximação com o lado sofista.

Referências

REALE, Giovanni. ​História da Filosofia Antiga​.

12 homens e uma sentença​. Direção: Sidney Lumet. 20th Century Fox, 1957. Título
original: 12 Angry Men.

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