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Ética do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão
ética racionalista, mas sem o dualismo corpo-al-
ma platônico. Procurou construir uma ética mais
realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para
Pintura em vaso que retrata o episódio mítico em tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser hu-
que o herói ateniense teseu mata o minotauro (1813). mano. Para o que tendemos? e respondeu: para a
(bibliothèque des Arts décoratifs, Paris, França.) os
felicidade. todos nós buscamos a felicidade.
antigos gregos desenvolveram uma ética racionalista
na qual a razão deveria prevalecer sobre as paixões e os e o que entende Aristóteles por felicidade? Para
desejos individuais. o mal, as paixões desenfreadas, a o filósofo, a felicidade não se confunde com o sim-
iniquidade, a que os gregos denominavam hybris, eram ples prazer, o prazer das sensações ou o prazer
representadas pelas personagens monstruosas que
deveriam ser vencidas pelos heróis de sua mitologia. proporcionado pela riqueza e pelo conforto material.
A felicidade última e maior se encontraria na
Ao contrário dos sofistas, Sócrates sustentou a vida teórica, que promove o que há de mais es-
existência de um saber universalmente válido, que sencialmente humano: a razão.
decorre do conhecimento da essência humana, a o indivíduo que se desenvolve no plano teórico,
partir da qual se pode conceber a fundamentação contemplativo, pode compreender a essência da
de uma moral universal. e o que é essencial no ser felicidade e, de forma consciente, guiar sua condu-
Cap’tulo 18 A Žtica 335
ta. mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga, • abandono da visão mundana – a ética cristã
seria privilégio de uma minoria. segundo o filósofo, deixa de lado a ideia de que o fim último da vida
a pessoa comum, aquela que não pode se dedicar humana está neste mundo. Com isso, centrou a
à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente busca da perfeição moral no amor a deus;
pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e • emergência da subjetividade – acentuando a
reiterada de ações. tendência já esboçada na filosofia de estoicos e
Assim, agir corretamente seria praticar as vir- epicuristas, a ética cristã tratou a moral do ponto
tudes. e o que seria a virtude? em sua obra Ética a de vista estritamente pessoal, como uma relação
Nicômaco, Aristóteles explica: entre cada indivíduo e Deus, isolando-o de sua
condição social e atribuindo à subjetividade uma
A excelência moral [virtude moral], então, é uma
disposição da alma relacionada com a escolha de
importância até então desconhecida.
ações e emoções, disposição esta consistente num os filósofos medievais herdaram alguns ele-
meio-termo determinado pela razão. Trata-se de mentos da tradição filosófica grega, reconfigu-
um estado intermediário, porque nas várias formas rando-os no interior de uma ética cristã. Santo
de deficiência moral há falta ou excesso do que é Tomás de Aquino (século Xiii), por exemplo, re-
conveniente tanto nas emoções quanto nas ações,
cuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade
enquanto a excelência moral encontra e prefere o
meio-termo. (p. 42)
como fim último do ser humano, mas cristiani-
zou essa noção ao identificar Deus como a fonte
A coragem, por exemplo, seria uma virtude si- dessa felicidade.
tuada entre a covardia (a deficiência) e a temeri-
jACQues de bACkeR/museo nAzionAle di CAPodimonte, náPoles, itáliA