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CONGRESSO PARA 0 NOVO URBANISMO CARTA DO NOVO URBANISMO Nas ltimas décadas do século XX, 0 novo urbanismo surgiu como um movi. mento em defesa de projetos urbanos caracterizados pela criagao de bairros com uso misto do solo, niveis de renda variados, diversidade social, alta densidade e APRESENTAGAD respeito pelo pedestre, com projetos sustentaveis e especificos. O novo urbanismo, que tem como foco a criacéio de comunidades em torno de um centro estruturado de maneira ‘tradicional, rejeita @ disperséo humana e os danos ambientais causados pelo alastra- mento para os subirbios e pela dependéncia do automével. Em 1993, um grupo de arquitetos, entre eles Andrés Duany, Elizabeth PlaterZyberk e Peter Calthorpe, criou o Congreso para 0 Novo Urbanismo [Congress for the New Urba- nism] (CNU). A “Carta do novo urbanismo’ ratificada na quarta conferéncia anual em 1996, apresenta as diretrizes tedricas dessa estratégia de planejamento. Como declara a carta: © bairros devem ter populacSes @ usos diversificados; as comunidades devem ser con- cebidas nao s6 para 0 automével, mas também para o pedestre e o transporte coletivo; as cidades pequenas e médias devem ser moldadas por instituigbes comunitarias € ‘espagos piiblicos fisicemente definidos ¢ universalmente acessiveis; os espagos urbanos devem ser definidos por um projeto paisagistico e arquitet6nico que celebre a pratica , 2 ecologia, o clima ea histéria locais. E de maxima importancia 0 esforgo coordenado das praticas de projeto, urbanizagao e politicas publicas. Os novos urbanistas reconhecem que infraestruturas a cargo do Estado, cédigos de zoneamento e regulamentacées adequadas so elementos fundamentais para 0 éxito de um projeto urbano. Com isso em mente, a carta especifica as miltiplas escalas de nosso ambiente urbano, desde a regiéo metropolitana a construggo individual, ao lado dos conceitos que devem reger seu crescimento e desenvolvimento. O novo urbanismo despertou grande controvérsia, em parte devido a sua filosofia, por muitos considerada normativista, conservadora e potencialmente saudosista.' Mesmo assim, nos ditimos trinta anos 0 movimento ganhou um volume respeitavel de adesdes e conta atualmente com mais de 3 mil associados no mundo, incluindo projetistas, planeja- dores, funcionarios publicos, advogados ¢ académicos. Essa popularidade talvez se deva a0 fato de que © novo urbanismo oferece algo diferente das muitas filosotias arquiteténi- cas existentes: uma prescri¢ao clara e direta das vias possiveis para melhorar a sociedade © a paisagem construida em que vivemos. 52 1 Ver “Seaside and the Real World: A Debate on American Urbanism”. ANY, n. 1, Nova York, jul-ago. 1993, baseado num evento organizado pela Anyone Corporation em abril de 1993, quando se realizou um debate sobre Seaside, uma cidade de pequeno porte paradigmatica do novo urbanism. Carta do novo urbanismo © Congresso para o Novo Urbanismo considera o desinvestimento nas cidades centrais, o alastramento descontrolado, a segregacao crescente por raga e nivel de renda, a degradac4o ambiental, o desaparecimento da vida natural e dos ter rit6rios agricolas e a erosao da heranga histérica da sociedade como elementos inter-relacionados do mesmo desafio de construgiio de uma comunidade. Defendemos a revitalizagao das cidades e centros urbanos existentes dentro de regides metropolitanas definidas, bem como a reconfiguragao dos subtirbios espalhados como comunidades de bairros verdadeiros, a conservacaio do meio ambiente e a preservagio de nossa heranga histérica. Reconhecemos que as solugées fisicas por si sés nao sanarao os problemas sociais e econdmicos, mas tampouco é possivel sustentar a vitalidade econé- mica, a estabilidade social e a qualidade ambiental sem uma estrutura fisica s6lida e coesa. Defendemos a reestruturagao das praticas de urbanizagao e politicas puiblicas capazes de atender aos seguintes principios: os bairros devem ter populagées e usos diversificados; as comunidades devem ser concebidas nao sé para o automé- vel, como também para o pedestre e 0 transporte coletivo; as cidades pequenas e médias devem ser moldadas por instituigdes comunitarias e espagos ptiblicos fisicamente definidos e universalmente acessiveis; os espagos urbanos devem ser definidos por um projeto paisagistico e arquitet6nico que celebre a pratica edili- cia, a ecologia, o climae a histéria locais. Representamos uma ampla base de cidadania, composta de lideres do setor publico e privado, ativistas comunitérios e profissionais liberais multidiscipli- nares, Nosso compromisso é restabelecer a relagdo entre a arte de construire a 53 formag&o da comunidade, por meio de projetos e planos que envolvam a partici- pacio dos cidadaos. Dedicamo-nos a recuperar nossas casas, quadras, ruas, parques, bairros, dis- tritos, vilas, cidades, regides e o meio ambiente. Declaramos que os seguintes principios devem guiar as politicas pitblicas, a pritica da urbanizacfo, os planos e projetos urbanos: AREGIAO: A METROPOLE E AS CIDADES DE PEQUENO E MEDIO PORTE 1 As regides metropolitanas so lugares finitos com limites geogréficos deriva- dos da sua topografia, vertentes, contornos litoraneos, 4reas agricolas, par- ques regionais e bacias hidrogréficas. A metrépole é composta de miltiplos centros que siio as cidades de pequeno e médio porte, cada qual com seu pré- prio centro e margens identificaveis. 2 Aregido metropolitana é uma unidade econémica fundamental do mundo contempordneo. A cooperacao do governo, as politicas ptiblicas, o planeja- mento fisico e as estratégias econdmicas devem refletir essa nova realidade. 3 Ametrépole guarda uma relagao necessaria, ainda que fragil, com sua zona rural ¢ paisagens naturais. A relagao é ambiental, econémica e cultural. As dreas agricolas e a natureza sao téo importantes para a metrépole quanto o jardim paraa casa. 4 Os padrées de desenvolvimento nfo devem apagar ou eliminar as margens da metrépole. 0 desenvolvimento planejado das dreas urbanas preserva os recursos ambientais, o investimento econémico ¢ o tecido social, ao recuperar Areas marginais e abandonadas. As regides metropolitanas devem desenvol- ver estratégias para incentivar esse aproveitamento em detrimento da expan- so para a periferia. 5 Quando for 0 caso, as novas ocupacées contiguas aos limites urbanos devem ser organizadas como bairros e distritos e integradas ao padrao urbano exis- tente. As ocupagées nfo contiguas devem ser organizadas como povoados e pequenas cidades com perimetro urbano préprio, planejadas para que haja equilibrio entre trabalho e habitagao, e nado como cidades-dormitério. 6 A urbanizagdo ea reurbanizagao das cidades pequenas e médias devem res- peitar os padrées, antecedentes e limites historicos. 7 Ascidades de pequeno e médio porte devem contar no seu entorno com um amplo espectro de usos pitblicos e privados para sustentar uma economia re-

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