1. Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina com estágio doutoral realizado na Université Paris-Diderot com bolsa de estu-
dos da CAPES. fernandogastal@gmail.com. lattes http://lattes.cnpq.br/9580453990111289.
2. Professor do Departamento de Psicologia e do curso de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
jczanelli@terra.com.br. lattes http://lattes.cnpq.br/9763879073138485.
Resumo
O objetivo deste artigo é contribuir para o avanço de uma perspectiva clínica sobre o fenômeno de burnout, a partir do
existencialismo e da sociologia clínica. Apesar de o fenômeno de burnout ser, atualmente, muito pesquisado no domínio
da psicologia organizacional e do trabalho, quando se trata de compreender seu processo de desenvolvimento
evidencia-se ainda uma zona largamente desconhecida. Buscaremos, dessa forma, formular certas bases conceituais
com o intuito de apreender o sujeito em sua historicidade individual em relação à realidade sócio-organizacional e,
como forma de abordar o processo de desenvolvimento do fenômeno de burnout. Para esse propósito, certas noções
da sociologia clínica francesa e do existencialismo sartreano serão utilizadas por permitirem teorizar sobre o processo
psíquico de burnout em sua implicação com os níveis organizacional e sócio-histórico. Por fim, este artigo finaliza com
a proposição de quatro hipóteses teóricas sustentando que o processo de desenvolvimento de burnout é capaz de
revelar um fracasso no nível do projeto, resultante das novas formas de gerenciamento e organização do trabalho no
atual modo de produção flexível.
Abstract
Burnout and Clinical Approach: Contributions from Existentialism and Clinical Sociology
The aim of this theoretical study is to advance a clinical perspective on the phenomenon of burnout, based on existen-
tialism and clinical sociology. Although the phenomenon of burnout is nowadays widely researched in the field of work
and organizational psychology, when it comes to understanding its development process, one is presented with a zone
still largely unknown. What is sought, thus, is the formulation of new conceptual frameworks in order to grasp the sub-
ject in its individual historicity in dialectical relation with social and organizational dynamics, and as a new way of
approaching the phenomenon of burnout. Certain notions of French clinical sociology and Sartrean existentialism will
be used for this purpose, as this allows one to theorize on the psychic process of burnout in its involvement with orga-
nizational and sociohistorical levels. Finally, this article finishes with the proposition of four hypotheses that maintain
that the burnout development process can reveal a failure at the project level as a result of new ways of work manage-
ment and organization in the current mode of flexible production.
de leis funcionais. Da mesma maneira, suas no plano de sua historicidade singular e de suas
contradições devem ser compreendidas como implicações com a dialética organizacional e
resultados de práxis contraditórias, de relações de sócio-histórica. Tal ponto de vista sobre
poder instituídas e mantidas por um processo historicidade individual permite compreender o
recíproco, no qual, os homens são, ao mesmo homem como sujeito se construindo desde sua
tempo, produto e produtores. E, por fim, sua inércia infância, por meio de suas relações de classe e
é compreensível como produto do trabalho familiares, enriquecendo-se e transformando-se
humano que institui procedimentos, ritmos e por sua trajetória profissional e pelo sentido
modos gerenciais, que transformam os homens em dado ao trabalho, bem como o momento de
recursos com vistas a garantir a continuidade e a ruptura que o burnout representa. E, ainda, a
eficiência dos objetivos organizacionais. Portanto, é articulação desse ponto de vista com o plano
uma inércia prática e historicamente produzida, e social e organizacional, permite situar o sujeito e
não uma inércia natural que obedeceria a leis compreender a lógica organizacional em que ele
funcionais. está inserido, bem como as contradições capazes
Nesse sentido, é necessário uma mudança de queimar suas energias. A partir dessa
de paradigma, como sustentam Gaulejac (2002) perspectiva, é possível perguntar: qual o sentido
e Chanlat (2001), relativa à teoria organizacional, dessa experiência de esgotamento, desilusão e
que (1) ultrapasse o objetivismo, baseado no ruptura psíquica no âmbito da historicidade
princípio da eficácia, para um paradigma singular? E qual dialética social e organizacional
antropológico de compreensão do sentido; (2) se estaria na base desse problema?
oponha ao funcionalismo, que pressupõe um
padrão normal de funcionamento do sistema, Burnout e Lógica de Excelência Organizacional
uma apreensão dialética das contradições como Um trabalho que trata de burnout a partir da
inerentes à prática humana organizada; (3) perspectiva clínica de Freudenberger em
supere o método experimental de análise de articulação com uma análise sócio-organizacional,
variáveis inertes com uma abordagem clínica que é Le coût de l’excellence, de Aubert e Gaulejac
busque a experiência vivida pelos homens em (2007). A hipótese do livro em relação ao burnout
sua situação; e, por fim (4) que abandone a é que tal queima total das energias se mostra
concepção do indivíduo como recurso da como um dos resultados das novas formas de
organização para compreendê-lo, como sujeito gerenciamento organizacional, postulando
produtor e produto do processo organizacional. dialeticamente a existência de uma congruência
Tal mudança paradigmática se torna necessária entre as exigências de excelência das organizações
para que seja possível uma nova maneira de atuais e o dinamismo psíquico ligado à
abordar a relação sujeito-organização, no que se historicidade individual. Quando, por exemplo, a
refere ao processo de desenvolvimento de empresa IBM anuncia ser o caminho mais curto
burnout. Pois, como sustenta Enriquez (1992), entre “o que sou e aquilo que eu quero me
um dos principais problemas teóricos referentes tornar” (Aubert & Gaulejac, 2007), ela põe em
à teoria das organizações essa mudança diz evidência o surgimento de uma cultura
respeito à concepção funcionalista, que faz dos organizacional que passa a funcionar como um
homens recursos do sistema e trata seus terceiro elemento entre a identidade individual e
conflitos como um desfuncionamento e de uma a identidade social. Uma cultura constituída não
maneira a-histórica. mais à maneira de um poder disciplinar, conforme
Portanto, o ponto de partida adotado para definição de Foucault (1996), mas de maneira
compreender a transformação da paixão, da reticular, buscando a adesão dos funcionários a
energia, do sentido no trabalho em uma causa coletiva. O gerenciamento taylorista,
esgotamento, da desilusão, da ruptura psíquica baseado em recompensas externas é, nesse
e da perda de sentido é o indivíduo como sujeito sentido, substituído pela busca de um
ser do sujeito com o outro. A partir desse ato de indivíduo passa a funcionar a partir do modelo
juramento, portanto, indivíduo e organização já organizacional pensando, querendo e escolhendo
não são mais indiferentes um ao outro, à medida de acordo com sistema cultural, simbólico e
que uma parte da personalidade se modifica em prático da empresa, em detrimento de si mesmo.
função de uma interiorização do ideal Tal hipótese, portanto, leva a considerar a
organizacional às instâncias psíquicas. Mesmo existência de um processo de distanciamento
que o sujeito, antes mesmo de começar a entre o que o sujeito projeta e deseja para si e
trabalhar na organização, já sonhasse com ela e aquilo que a organização deseja ou exige que o
já desejasse tal atividade profissional para seu sujeito seja e faça. É, em certo sentido, o começo
futuro, como é frequente para os profissionais do de um processo de perda de si mesmo em
setor de serviços assistenciais, é necessário que o detrimento de ser outro, que se põe, ao mesmo
ato de juramento se realize. O sujeito deve, desse tempo, como uma exigência externa de
modo, responder ativamente em função de um produtividade e eficiência, mas também, como
certo desejo pessoal realizado, sob a forma de exigência interna em função do ato de juramento
um comprometimento concreto com tais realizado ao ideal organizacional. Esse processo
colegas, com tal função, com tal divisão do pode tomar diferentes formas, como a crença
trabalho e com tais ideais materializados nos obstinada no ideal organizacional, o medo da
procedimentos cotidianos. O desejo de ser certo exclusão, a oscilação de humor entre satisfação e
tipo de profissional pode existir desde a infância, frustração, a tensão, mas tem em sua base um
mas a organização pode não corresponder ao processo de alienação em andamento. Eis um
que é desejado e, dessa forma, o ato de paradoxo do ideal das organizações dentro do
juramento pode não se realizar e, portanto, a modo de produção flexível, conforme definição
implicação recíproca e de interioridade entre a de Harvey (1992): ele é realizador do desejo
historicidade individual e lógica organizacional individual e capaz de produzir a adesão e o ato de
pode não se efetuar. Uma consequência teórica juramento e, ao mesmo tempo, é alienante e
dessa noção de juramento é que o burnout capaz de distanciar o sujeito de si mesmo, sugar
somente poderia se desenvolver naquelas suas energias e esvaziar seu desejo individual.
pessoas que juram compromisso à organização, Desse modo, a partir do momento em
ou seja, que agem de forma a interiorizar os que o sujeito se aprofunda nesse processo de
ideais organizacionais a seus próprios projetos e perda de si mesmo ao ideal organizacional, ele
desejos pessoais e que se implicam se tornaria, por consequência, cada vez mais
concretamente com aquilo que fazem. dependente do reconhecimento do outro,
Um outro momento do processo de fazendo com que as demais dimensões de sua
esgotamento emocional analisado por Aubert e personalidade (relações familiares, conquistas
Gaulejac (2007) se caracteriza pela captação do passadas, desejos exteriores ao ideal
psiquismo individual ao ideal organizacional. Um organizacional, etc.) fiquem relegadas a um
importante aspecto dessa hipótese sobre o plano secundário ou até desprezadas. Dentro
processo psíquico de queima de energias é que, desse quadro de captação-alienação, de
diferentemente do momento de juramento, onde dependência e de fragilidade, é previsível que
existiria uma reciprocidade entre aquilo que é certos acontecimentos estressantes ligados ao
desejado pelo sujeito e aquilo que a organização trabalho se tornem capazes de desencadear
lhe oferece, no momento em que se fala em uma crise, geralmente presente naquelas
captação, enfatiza-se a existência de um processo pessoas que chegam ao burnout, como
de alienação. Nesse caso, o funcionamento demostram Freudenberger (1987), Cherniss
psíquico se torna, pouco a pouco, constituído (1995), Pines (2002a, 2002b) e Pezé (2008).
pelo modelo de funcionamento ideal prescrito Tal momento de crise, por sua vez, colocaria
pela organização de trabalho e, cada vez mais, o em evidência o fato de o sujeito ter chego ao
limite de suas condições psicológicas e de não lógica organizacional, outra questão parece
mais suportar a tensão e o estresse, a ponto pertinente: qual sentido sócio-histórico pode ter
de se produzir uma ruptura psíquica, o fato de a totalidade organizacional se produzir
conforme observado por Freudenberger em termos de contradições paradoxais? Ao
(1987). primeiro conjunto de questões, referentes à
Um momento no qual uma forte historicidade individual, será utilizada a noção
experiência de fracasso e desilusão seriam de “projeto de ser” do existencialismo de J.-P.
vividas e onde um “impasse”, conforme definição Sartre, por possibilitar uma abordagem da
de Legrand (1993) se constituiria. Ou seja, um historicidade como projeto totalizador da
momento destotalizador da historicidade existência singular (Sartre,1985) e, portanto,
individual (Castro, 2010), que coloca o sujeito em capaz de fornecer uma compreensão do sentido
uma contradição vivida como insuperável entre da adesão e do juramento à organização como
um ser que ele era, e que respondia a um certo um sentido existencial, bem como explicar a
desejo singular, e um ser que ele se tornou, experiência de fracasso como alcançando a
marcado por uma experiência de fracasso e totalidade do projeto de ser do sujeito. Em
desilusão resultante de seu processo de relação às consequências da lógica
captação-alienação à lógica organizacional. organizacional paradoxal, serão utilizadas as
Uma primeira síntese teórica possível noções de serialização, de prático-inerte e de
sobre o processo de desenvolvimento de totalização em curso (Sartre,1985), por
burnout, a partir da perspectiva clínica exposta permitirem teorizar o processo sócio-histórico
até o momento, pode ser dada nos seguintes engendrado desde a década de 1970, como
termos: a nova lógica organizacional, resultante determinante do processo de desenvolvimento
do modo de produção flexível, é portadora de de burnout.
um paradoxo: mostra aos sujeitos a A noção de projeto de ser (Sartre, 1943,
possibilidade de uma realização de si mesmo, ao 1985), ao abordar o sujeito como totalização
mesmo tempo em que destitui o sujeito de si temporal entre seu livre projeto e as
mesmo. Logo, a historicidade individual, ao determinações sociomateriais, permite
interiorizar esse paradoxo no seu processo de considerar o sentido existencial do trabalho,
autoprodução histórica e se comprometer com a bem como a experiência de fracasso existente
organização pelo ato de juramento, passa a no burnout, em dois sentidos complementares:
viver, como consequência, a tensão psíquica (1) Em relação ao passado de infância, como um
entre sucesso e fracasso, capaz de desgastar o momento ultrapassado e conservado pelo
sujeito e levá-lo ao burnout. projeto totalizador e (2) em relação ao futuro na
idade adulta, como finalidade projetada a partir
Fracasso do Projeto de ser e Crescimento das condições organizacionais e de trabalho.
da Serialização Comecemos pela infância.
Algumas questões no que diz respeito à A infância, segundo a psicanálise existencial
historicidade individual merecem ser postas (Sartre,1943) é um momento no qual se realiza
para avançar a abordagem clínica sobre o uma escolha original que o sujeito faz para si,
processo de desenvolvimento de burnout, quais como uma ultrapassagem singular das
sejam: por que as pessoas aderem e juram determinações familiares e de classe. A noção de
fidelidade à organização com tanto entusiasmo? neurose de classe, desenvolvida por Gaulejac
Qual é precisamente o sentido dessa adesão no (1987), e a dialética inferioridade-superioridade
conjunto da historicidade individual? Qual a que lhe é constitutiva se tornam compreensíveis,
dimensão da experiência de fracasso e desilusão por exemplo, como ultrapassagem das
capaz criar a ruptura psíquica e levar o sujeito ao contradições de classe e das prescrições do
esgotamento emocional? No que diz respeito à projeto parental, por uma escolha subjetiva que se
projeta rumo a um ser futuro, dentro de um méthode (Sartre, 1985), seja nos estudos
campo determinado de possibilidades social e biográficos sobre Jean Genet (Sartre, 1952) e
material. Nesse sentido, a ação de se projetar Gustave Flaubert (Sartre, 1971) – desenvolve uma
expressa a raiz antropológica do ser humano em outra concepção de infância, diversa da freudiana,
seu duplo movimento de interiorização da como mostram Lémière (1999) e Cannon (1991),
objetividade e de exteriorização da subjetividade na qual em vez de estar fundada sob um complexo
(Sartre, 1985). A infância, embora evidencie universal inconsciente que se interiorizaria e
condições singulares em relação à idade adulta, é constituiria o psíquico, é compreendida como
vivida, portanto, dentro desse duplo movimento projeto original eleito em situação (Sartre, 1943) e
de interiorização das condições familiares e de constituída por momentos de compreensão de
classe produtoras, por exemplo, de humilhação e uma possibilidade de ser singular, como início de
vergonha, e de exteriorização de um livre projeto um processo totalizador.
totalizador, que objetiva no mundo social uma Ao mesmo tempo, o sentido existencial do
determinada possibilidade de ser desejada. Dessa trabalho e a experiência de fracasso se referem,
maneira, o forte investimento no trabalho como já mencionado, não somente ao passado
permeado pelo desejo de vingar as mulheres de de infância, mas ao futuro que o sujeito busca
sua família, tal como é possível observar, por realizar em seu juramento aos ideais
exemplo, no caso de Noemi analisado por Aubert organizacionais. É preciso existir, como
e Gauleac (2007), que ela encontraria nas sustentam Aubert e Gaulejac (2007), uma
condições de humilhação vividas na infância as congruência entre o projeto de ser individual e
bases desse duplo movimento mencionado acima: as possibilidades oferecidas pela organização,
a interiorização da humilhação e do projeto caso contrário, o sujeito não realizaria o ato de
parental e, ao mesmo tempo, sua ultrapassagem juramento e não integraria os ideais
em direção a um futuro de ser alguém organizacionais aos seus próprios ideais. É, no
reconhecida e admirada como mulher por meio entanto, em razão da organização de trabalho
de seu trabalho. O investimento profissional, efetivamente se objetivar como uma
nesse caso, é um meio de superar a humilhação e possibilidade fundamental para realização do
chegar ao reconhecimento e de se tornar dona de ser desejado, que tal indivíduo se projeta com
si mesma sem precisar depender de um homem. tanto empenho. O que significa dizer, mais uma
O projeto de ser, portanto, é totalizador da vez, que a relação entre indivíduo e organização
historicidade individual, à medida que revela as não é somente adaptativa, mas constituída por
ações da infância pelas quais o sujeito uma práxis ativa, que busca realizar através da
constantemente interioriza a exterioridade e organização um sentido existencial desejado
exterioriza a subjetividade, conservando seu que ultrapassa os limites do trabalho, mas que
passado e, ao mesmo tempo, o superando em somente se realiza através de tal atividade
direção a um futuro desejado. A infância é vivida profissional e das possibilidades de ser que tal
nessa unidade contraditória de superação- atividade oferece em determinado momento.
conservação (Sartre,1985), expressando, assim, Dessa maneira, a adesão, como ato de
uma complexa temporalização na qual o futuro juramento à organização, implica um sentido
não tem como existir sem o passado que se deseja existencial dado ao trabalho como um momento
superar, ao mesmo tempo que o passado somente do projeto totalizador (de ser), no qual se
se faz atuante no presente, à medida que um unificam a infância, como escolha original, e a
futuro é escolhido como realização de outra profissão, como possibilidade de realização do
situação no mundo diferente da vivida projeto desejado.
anteriormente. A psicanálise existencial – seja em A noção de projeto de ser permite, ainda,
seus aspectos teóricos desenvolvidos em L’être et apreender a gravidade da experiência de
le néant (Sartre, 1943) e em Questions de fracasso, de desilusão e de ruptura psíquica
vivida pelos sujeitos em função dos paradoxos demonstra Le Guillant (2006). A burocracia
organizacionais. Então, permite formular a engendra o comportamento previsível e o
hipótese de que o fracasso e a desilusão conformismo à norma, conforme sustenta
abrangem uma dimensão temporal que afetam Lapassade (2006). Mas, tanto o sistema
tanto a escolha original feita na infância como a taylorista como o racionalismo burocrático, não
possibilidade futura desejada através do são capazes de produzir burnout, tal como a
trabalho na organização. O esgotamento das literatura descreve (Shaufeli & Buunk, 2003 ;
energias psíquicas representaria um momento Maslach, Shaufeli & Leiter, 2001). Para sustentar
de fracasso do projeto de ser (Castro, 2010), essa hipótese, faz-se necessário compreender o
capaz de provocar uma ruptura na historicidade crescimento da serialização presente na lógica
individual, alcançando a totalidade do sujeito e, organizacional atual que preconiza a excelência
não exclusivamente, sua relação com o trabalho. e a adesão psíquica. Utilizaremos, para esse fim,
O burnout, dentro desse quadro teórico, se duas noções complementares à de serialização,
mostra uma ruptura do projeto de ser, não no quais sejam, a de “prático-inerte” e a de
sentido de uma reorientação para outro projeto “totalização em curso” (Sartre, 1985).
possível (o que poderia caracterizar uma Os dispositivos inventados pela nova
reversão do projeto singular) ou no sentido de lógica gerencial com a finalidade de canalizar os
um enriquecimento da historicidade individual desejos individuais ao ideal organizacional, seus
preexistente, mas como um fracasso de toda procedimentos que demandam um tempo e um
uma empresa singular desde a infância até a espaço ilimitados de dedicação ao trabalho, o
idade adulta de dar sentido a si mesmo e ao modelo de ser humano presente nos manuais de
mundo social (Castro, 2010). instrução, são todos objetos prático-inertes. São
Um outro aspecto teórico importante se objetos sociais (Sartre, 1985), produtos do
refere ao fato de que tal fracasso do projeto de trabalho humano manual e intelectual e que
ser que o burnout representaria uma relação portam um destino pré-fabricado para cada um
com o processo de captação-alienação dos indivíduos, capaz de definir do exterior o
produzido dentro de uma lógica organizacional lugar de cada um no coletivo social: “o campo
paradoxal. Nesse aspecto, são procedentes as prático-inerte é o campo de nossa servidão, e
críticas feitas por Gaulejac (2004), Aubert isso não significa uma servidão ideal, mas uma
(2003), Ehrenberg (1998) e Boltanski e Chiapello submissão real às forças naturais, às máquinas e
(1999), a respeito do poder do modo de aos aparelhos antissociais” (Sartre, 1985, p.437).
produção flexível (Harvey, 1992) e de suas novas A avaliação de desempenho realizada pela IBM e
formas de gestão organizacional, de produzir o analisada por Aubert e Gaulejac (2007), que
mal estar psíquico em suas diversas formas. Para define como funcionário mediano aquele que
avançar na teorização do processo de executou todas as tarefas de trabalho solicitadas
desenvolvimento de burnout, enquanto modelo e como excelente aqueles poucos que bateram o
significativo de um fracasso do projeto recorde de produtividade, é um exemplo de um
totalizador dentro de uma lógica organizacional objeto prático inerte dentro do novo modo
paradoxal,é necessário conceber o crescimento gerencial. A avaliação é um produto do trabalho
do poder serializante (Sartre, 1985) das novas humano, que se objetiva como um utensílio (um
formas de organizar o trabalho em relação aos objeto-ferramenta, conforme Sartre, 1985) para
princípios tayloristas e ao racionalismo definir quem é excelente e quem é mediano e
burocrático. Em outras palavras, embora sejam que estabelece como cada um deve se
serializantes, a taylorização e a lógica comportar no futuro. Os microcomputadores e
burocrática não são paradoxais, mas celulares, que tornam o executivo integralmente
conformistas e fatigantes. A rotina e a repetição ligado às exigências de performance da
produzem a fadiga física e o desgaste, como organização, são também exemplos atuais de
crescer a serialização no âmbito das relações como não significa que pessoas e grupos devem
coletivas. assumir esse futuro e esses meios, fazendo da
Embora o sistema gerencial atual constitua- organização uma totalização em curso (Sartre,
se por um crescimento da subordinação dos 1985). Nas grandes organizações empresariais
indivíduos a um campo de objetos prático-inertes atuais, é o grupo de acionistas que concentra o
estressantes e por um coletivo serializado em poder decisório sobre o futuro organizacional
termos de luta antagônica, é importante (Aubert, 2003). Será também o grupo de
considerar que a dialética organizacional não acionistas que escolherá o presidente da
deixa de existir enquanto totalização em curso empresa e a forma de gerenciamento adotado,
(Sartre, 1985). Ou seja, o crescimento da ou seja, os meios de produção necessários para
serialização não significa que o sistema deixa de que a empresa possa chegar ao final do ano
se reproduzir nos termos de um processo fiscal com uma rentabilidade satisfatória. E
histórico sempre inacabado em função da serão seus funcionários e equipes de trabalho
atividade prática dos sujeitos e dos grupos que que viverão e produzirão, seja na revolta, na
dele participam. O caráter serial, portanto, de impotência ou no comprometimento, os
maneira alguma destitui a natureza histórica da objetivos e a unidade de tal comunidade prática,
totalidade organizacional e de seus sujeitos. Ao nos termos de uma luta serial.
contrário, ele fornece o sentido mesmo do Portanto, há nesse nível uma relação
processo em curso e das contradições internas dialética entre um grupo decisório, portador de
existentes no interior desse processo. Como um novo projeto organizacional, permeado pelo
argumenta Enriquez (1992), os problemas da novo espírito do capitalismo (Boltanski &
análise organizacional se encontram não somente Chiapello,1999) e o coletivo de seus funcionários
na análise do funcionamento, mas nas razões e trabalhadores que passam a viver e produzir
históricas da burocratização ou flexibilização das um novo processo de serialização, como luta
estruturas, do seu processo interno de individualizada por melhores condições ou
desenvolvimento, bem como de qual a tendência postos de trabalho. Essa relação entre grupo
de evolução de sua luta e de suas contradições. decisório e coletivo serializado é, nesse sentido,
Para entender esse processo em curso, permeada por antagonismos, contradições,
mostra-se necessário compreender que esse tensões, oposições e acordos, como fatores
aumento da serialização coletiva e da inerentes ao processo organizacional em curso.
dependência dos sujeitos a um campo cada vez No entanto, o crescimento do mal-estar no
maior de objetos prático-inertes estressantes trabalho e, especialmente, do burnout permite
não existe isoladamente, mas em reciprocidade pressupor a existência de um processo
(Sartre, 1985) com os grupos que possuem o progressivo de perda dos laços de reciprocidade
poder da “ação organizadora” (Dujarier, 2006). A grupais no interior das organizações, bem como
noção de objetos prático-inertes, como objetos uma tendência ao aumento da luta serial e um
socialmente produzidos implicam, dessa desenvolvimento, cada vez maior, do poder de
maneira, uma práxis ativa de um grupo com o um grupo decisório. Como sustenta Sartre
poder de produzir ou mandar produzir os (1985, p.714), a aceitação do poder é uma
objetos sociais que vão organizar o espaço e o interiorização da impossibilidade de recusá-lo.
tempo de trabalho, bem como uma práxis ativa Dito de outra maneira, ele se impõe pela
dos sujeitos que se serializam, subordinando-se impotência de todos e cada um o aceita
ao sistema organizacional. O fato de o poder assumindo sua inércia [...] cada um obedece na
gerencial ser anônimo e estar dissimulado pelos serialização. Não por que assume diretamente
objetos prático-inertes, não significa que não por obediência, mas porque cada um não está
existam pessoas e grupos que definam o futuro certo que seu vizinho vai reclamar por estar
da organização e os meios de alcançá-lo, assim obedecendo.
Sartre relata uma totalização em curso que se, do mesmo modo, modelos teóricos (Shaufeli,
evidencia um processo histórico de centralização Maslach & Marek, 1993) capazes de predizer,
do poder organizador nas mãos de cada vez sob que situações o burnout pode se
menos pessoas, portadoras de um projeto desenvolver. Esse conjunto de conhecimentos
organizacional que faz o coletivo de seus disponíveis ocupam uma importância central ao
funcionários trabalhar dentro de uma contradição expor a gravidade do problema, evidenciando
paradoxal que, por sua vez, fornece um sentido fundamentos indispensáveis para consolidá-lo
ao trabalho e, ao mesmo tempo, o aniquila. como um fenômeno relacionado às orga-
Contradição essa assumida e reproduzida pela nizações de trabalho do mundo atual.
ação prática coletiva dos sujeitos e grupos, que Este artigo pretendeu, por sua parte,
serializa o campo sócio-organizacional, nos contribuir para o avanço de uma perspectiva
termos de uma competição interna e de uma luta clínica sobre o problema. Uma perspectiva que,
antagônica no plano das relações interpessoais. segundo o ponto de vista aqui adotado, é capaz
Esta parece ser, portanto, a totalização em de revelar certas características fundamentais do
curso nas organizações que estaria na base do processo psíquico implicado no desenvolvimento
desenvolvimento de burnout, compreendido a de burnout, ainda largamente desconhecido
partir da perspectiva clínica, conforme apresentada como sustentam Taris, Le Blanc, Shaufeli e
neste artigo. Um processo caracterizado pelo Schreurs (2005). Nesse sentido, é importante
crescimento da centralização de um grupo nessa conclusão sintetizar as principais hipóteses
decisório, permeado pelos novos princípios de teóricas que uma perspectiva clínica, baseada no
gestão flexível, que intenciona fazer com que as existencialismo e na sociologia clínica, permitem
pessoas interiorizem um ideal de dinamismo, postular. O objetivo é, então, demarcar certas
rapidez, dedicação, comprometimento e excelência possibilidades de investigação, para que seja
no trabalho, diminuindo os meios e os recursos possível avançar na direção proposta, bem como
para fazê-lo, acelerando o tempo e colocando os refletir sobre seus limites.
indivíduos em um estado de urgência constante. Uma primeira hipótese é que o sentido da
Implicada essa centralização do grupo organizador, atividade de trabalho é um sentido existencial,
parece existir ainda um processo de crescimento da que precisa ser compreendido a partir do projeto
serialização do coletivo, devido ao aumento da de ser do sujeito. O entusiamo, a performance, a
dependência e da submissão às demandas de um dedicação e o comprometimento profissional
conjunto de objetos prático-inertes cada vez mais estão, dessa forma, relacionados ao projeto
estressantes, cortando com a reciprocidade original eleito desde a infância e reassumido no
interpessoal e fazendo com que a prática coletiva se momento de escolha profissional, no qual o
produza como luta individualizada e competitiva sujeito jura fidelidade aos ideais da organização,
por melhores postos e lugares de trabalho dentro à medida que encontra nesses ideais, uma
da organização. possibilidade indispensável para a realização do
seu projeto de ser desejado.
CONCLUSÃO Uma segunda hipótese se refere à
O fenômeno de burnout é largamente estudado existência de um processo de distanciamento
nos dias atuais e possui uma visibilidade entre o projeto de ser e a gestão organizacional
mundial, principalmente nos países europeus e que exige do sujeito a realização de ideais de alta
americanos. Tem-se atualmente, em larga performance, ao mesmo tempo que produz a
medida, um acúmulo de conhecimentos que impossibilidade real de sua realização, capaz de
correlacionam as dimensões e os sintomas de colocar o sujeito em uma situação paradoxal. A
burnout às variáveis organizacionais estressoras, reciprocidade que pode existir até certo ponto,
constituídas por um conjunto de altas demandas entre o desejo singular e as possibilidades
e poucos recursos (Lee & Ashforth,1996). Tem- oferecidas pela organização de trabalho seriam
substituídas, nesse momento, por uma captação organizacionais de sua produção, conforme, por
do sujeito pelas demandas organizacionais. Um exemplo, demonstra Castro (2010).
processo de alienação do projeto individual Evidentemente que tal perspectiva clínica para
dentro da lógica organizacional começa, então, a o estudo de burnout, encontra limites, bem como
ocorrer. Por consequência, quanto mais o sujeito desafios. Limites com relação às possibilidades de
corresponde à lógica organizacional e, por outro generalização e comparação de seus resultados.
lado, quanto mais fortes forem as exigências Ganha-se em profundidade e em compreensão do
desta última, maior seria a captação, a alienação “processo”, mas restringe-se às possibilidades de
e o distanciamento entre o projeto singular e a universalização do conhecimento, conforme
performance organizacional. Mais perto, sustenta Luna (1996). Logo, um desafio fundamental
portanto, do esgotamento emocional o sujeito se para o desenvolvimento cientificamente produtivo
encontraria. de uma perspectiva clínica é a ultrapassagem daquilo
Uma terceira hipótese é de que as pessoas que pode ser chamado de “maniqueísmo
que chegam a desenvolver burnout experimen- metodológico”. Abordagens clínicas e qualitativas,
tariam uma situação de crise, constituída por bem como epidemiológicas e quantitativas, são
um fracasso no plano do projeto de ser, capaz de modos de conhecer o mesmo objeto. De sorte que
produzir uma ruptura psíquica. Um momento de somente a conjunção de uma pluralidade de
cisão no projeto totalizador (de ser), com o maneiras de abordar o fenômeno de burnout, é que
sujeito passando a viver um impasse entre o ser permitirá avançar o conhecimento de sua
que se tornou e não suporta e o ser que ele era, complexidade sincrônica e diacrônica, como um
mas que não se reconhece mais. processo e, ao mesmo tempo, como uma estrutura,
Uma quarta e última hipótese se refere ao compreendidos em seus diversos graus de
fato de burnout ser uma expressão de um projeto profundidade e generalização.
organizacional e social em curso na sociedade,
dentro do qual as possibilidades reais de REFERÊNCIAS
realização no trabalho estariam cada vez mais Aubert, N. (2003). Le culte de l’urgence: la société
inviabilizadas em função dos ideais de malade du temps. Paris: Flammarion.
produtividade e excelência exigidos pelo modo de Aubert, N. & Gaulejac, V. (2007). Le Coût de
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ciamento. O crescimento do mal estar no trabalho,
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e de burnout em especial, evidenciariam um
du capitalisme. Paris: Gallimard. 1999.
crescimento da força serializante do sistema de
produção atual, capaz de engendrar a luta Cannon, B. (1991). Sartre and Psychoanalysis: an
individualizada, a perda dos laços sociais e a existentialist challenge to clinical metatheo-
desconstrução das identidades coletivas. ry. Kansas: University Press of Kansas.
Uma implicação importante, resultante da Cannon, B. (2010). Burnout, Projeto de ser e
perspectiva clínica desenvolvida ao longo desse Paradoxo Organizacional. Tese de
artigo, é de ordem metodológica. Métodos Doutorado não-publicada. Universidade
qualitativos, que abordam o problema de Federal de Santa Catarina. Florianópolis,
burnout de um ponto de vista clínico e SC.
biográfico, conforme os modelos de Legrand Chanlat, J-F. (org) (2001). O indivíduo na organiza-
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