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 Introdução

A drenagem é um dos pilares que seguram uma cidade em pé e tem


importância vital para o perfeito funcionamento da mesma, sendo muito
importante na hora de rearranjar os fluxos de água excedentes que ficam pelas
ruas após enxurradas, prevenindo enchentes, além de promover a limpeza das
vias e a promover a higienização das pessoas e das casas ( drenagem
sanitária), mas não só isso como também fornecer matéria-prima para serviços
secundárias na cidade, como estações de tratamento, podem ser também
redirecionadas para hidrelétricas, dentre outros locais que trabalham com o
ciclo hídrico.
O trabalho apresentado a seguir tem como objetivo definir e esclarecer
conceitos relativos à drenagem urbana, pontuando em um contexto histórico, o
surgimento dela na civilização, buscando explicar de forma prática termos
utilizados e relacionados à essa atividade, na busca de alcançar um
entendimento completo sobre o assunto, além de criar um diálogo onde se
exponham problemas e possíveis soluções e melhorias para alguns pontos do
objeto de estudo. Além de apresentar um estudo de caso, apontando
problemas e possíveis resoluções a respeito da drenagem na cidade de São
Luís.

1. Origem e Histórico da Drenagem


Drenagem refere-se à ação e ao efeito de drenar. É um meio de escoamento
da água, ou do seu excesso, dentro de algum compartimento ou local, ou seja,
é o ato de retirar as águas de terrenos encharcados, por meio de tubos, túneis,
canais, valas e fossos, os drenos. Os canais podem vir a ser naturais (rios e
córregos) ou artificiais. Se bem planejada e executada, evita inundações,
sendo vital para áreas de grande risco. A drenagem é um termo que vem do
termo francês drainage. Este, por sua vez, significa assegurar a saída de
líquidos ou da excessiva umidade através de canos, tubos ou ralos. Os
primeiros sistemas de drenagem de águas residuais em meio urbano de que se
há registo datam de mais de 5.000 anos. Há indícios de que povos antigos
como os egípcios e os indianos já haviam elaborado sistemas de escoamento
pluvial desde o ano de 3.000 a.C. A partir do ano 5.000 a.C., na Mesopotâmia e
no Egito, começou-se a usar a irrigação, juntamente com os canais de
drenagem para recuperar áreas pantanosas do delta do Nilo e dos Rios Tigre e
Eufrates. Os sumérios (5.000-4.000 a.C.) relacionavam a água às mais
importantes divindades, tendo construído, nesse período, canais de irrigação,
galerias, recalques, cisternas, reservatórios, poços, túneis e aquedutos. Na
Índia, existem evidências de que algumas cidades já possuíam redes de
esgotos e sistemas de drenagem por volta de 3.200 a.C. Na Grécia antiga, já
havia um pensamento de priorização da água, tanto pelo uso dos aquedutos
,quanto a criação de um sistema de circulação de esgoto e canalização para
escoamento de água, que serviam como transporte primário da água para toda
a região, além da existência de servidores públicos, denominados astímonos,
que eram responsáveis por serviços urbanos como o abastecimento hídrico e
esgotamento sanitário.

A idade média foi um período onde se pode afirmar que houve uma
estagnação, ou até mesmo regressão, nas estratégias de drenagem e
saneamento, onde a higiene e limpeza eram completamente ignoradas. Na
Europa medieval a via era projetada em função do pedestre. O perfil de via
neste período era na maioria das vezes em forma de "V" e o escoamento das
águas acontecia no centro. O uso de escadarias, no sistema de drenagem,
apresentava dupla função: além de vencer declives, era capaz de dissipar
energia e diminuir a velocidade da água. Em grandes centros como Paris,
Londres, Amsterdam e outros, se propagou o sistema unitário, a partir do
século XVIII, que implicava em grandes galerias e dificultava, quando não
impedia, o tratamento da água servida. A drenagem urbana só foi conhecer
avanços realmente vantajosos e encorajadores a partir do século XIX, um
século após o início da Revolução Industrial, a Inglaterra promoveu uma
grande transformação no jeito que se via o tratamento de água e saneamento
básico na época, construindo-se a primeira estação de tratamento de água em
Londres, no ano de 1829, que filtrava a água do Rio Tâmisa com areia.
Contudo este avanço não impediu que em 1854 ocorresse um grave surto de
cólera em uma área restrita de Londres, matando diversas pessoas, até que
um médico chamado John Snow suspeitou que o surto viesse da presença de
um parasita encontrado normalmente nas fezes humanas, na água
contaminada, entrando a partir dela, no trato digestivo das pessoas assim que
elas bebiam da água. Somente no fim desse século foi feita a adição do cloro
no tratamento da água e muitos anos depois, apenas em 1951, o flúor, um
importante agente no combate às caries e outras infecções, passou a ser
regularmente usado nas estações de tratamento. Outros países como Estados
Unidos e Paris, inspirados pela Inglaterra, iniciaram reformar sanitárias, e
assim grandes cidades como Nova York e Boston, por exemplo, que
enfrentavam grandes problemas de insalubridade e moradia, começaram a
implementar as melhorias no seus sistemas de saneamento básico.
Conceitos e Definições

Drenagem sanitária: É a drenagem usada para transportar os dejetos líquidos


de casas e fábricas para as plataformas de tratamento, para que assim possam
ser despejadas novamente em algum canal hídrico, onde continuaria a
desenvolver o ciclo de água.

Drenagem pluvial: Sistema de drenagem urbana que se utiliza da gravidade e


dos declives urbanos para transportar a água de forma natural para áreas de
tratamento, transporte e retenção. Uma das principais responsáveis, se bem
planejadas e executadas, de evitar que cidade com níveis alarmantes não
sofram com inundações.·.
Um sistema adequado de drenagem proporcionaria uma série de benefícios
à população e ao meio ambiente, prevenindo os danos causados por
alagamentos, enchentes, enxurradas, deslizamentos e erosões, bem como a
contaminação dos recursos hídricos através de lançamentos de esgotos
sanitários, resíduos sólidos (lixo) e poluição difusa (lavagem superficial das
áreas impermeabilizadas das cidades). Como exemplo de uma má
infraestrutura de drenagem e suas consequências, temos a passagem do
furacão Katrina por Nova Orleans, nela ficaram evidentes as falências da
drenagem urbana daquele estado norte-americano, já que se produziu uma
imensa quantidade de água, que levou a uma inundação, que por sua vez
demorou meses a ser drenada completamente.

Precipitação - A precipitação descreve qualquer tipo de fenômeno


relacionado à queda de água do céu, seja no estado líquido (chuva) ou sólido
(neve e granizo). A precipitação é uma parte importante do ciclo hidrológico,
sendo responsável por retornar a maior parte da água doce ao planeta.
Resulta da condensação do vapor de água que existe na atmosfera.

Vazão - Vazão é a rapidez com a qual um volume e/ou massa escoa.


Corresponde à taxa de escoamento, ou seja, quantidade de material
transportado através de conduto livre ou forçado, por unidade de tempo. No
nosso caso, a chuva.

Mata Ciliar - É um tipo de cobertura vegetal nativa, que fica às margens de


rios, igarapés, lagos, nascentes e represas. O nome vem do fato de serem
muito importantes para a proteção de rios e lagos tal como são os cílios para
os nossos olhos. As matas ciliares também são conhecidas como mata de
galeria, vegetação ribeirinha ou vegetação ripária.
Poluição de Águas Pluviais
O volume em abundância e o atrito com o solo das águas pluviais em grandes
centros faz com que tenham uma crescente poluição que chega aos rios, lagos
e estuários e isso é caracterizado pelas águas da chuva. Estas adentram pela
galeria de águas pluviais e são lançadas para o rio através de vários tubos, que
dentro destes podem ser achados ao longo dos cursos da água urbanos. Desta
inúmeras vazões são despejadas diariamente um enorme volume de esgoto
clandestino, lixo fugitivo ao volume de chuvas em determinados dias e
contaminações do solo em áreas urbanas como óleo vazado, além da fuligem
de escapamentos e pneus de automóveis.
Extensas áreas urbanas impermeabilizadas pelo asfalto e concreto do
calçamento recebem a poeira dos veículos, lixo, óleo que são lavados e
conduzidos pelas chuvas até os espelhos d´ água naturais dos rios, lagos e
baías. Neste sentido há uma percepção a alta toxicidade destes resíduos e a
necessidade evidente do tratamento das águas residuais urbanas que correm
na rede de drenagem urbana das grandes cidades.
Assim se distingue meios para esta poluição ser agravante tanto no caso das
chuvas através do transcorrer e atrito desta água com o solo, estabelecendo
dois tipos de poluição de águas pluviais os quais são: a Poluição Difusa onde
não a um foco específico de poluição, porém pertencente a drenagem
agrícolas, águas pluviais e escorrimento de lixeiras. A identificação da poluição
difusa devido a pluviosidade é mais complexa que as descargas das águas
residuais urbanas devido a intermitência do fenômenos dos poluentes onde as
descargas fazem-se de uma forma descontinua e aleatória ao longo da
ocorrência de pluviosidade e a grande variabilidade qualitativa dos poluentes
identificando as concentrações e as cargas de poluentes podem variar entre
dois aglomerados, dois escoamentos no mesmo local, ou ao longo de um
mesmo escoamento. A outra poluição bastante abrangente é a Poluição
Pontual sendo esta facilmente identificável como emissora de poluentes, caso
de águas residuais, industriais, mistas e minas. (Imagem 1)
Impacto devido aos Resíduos Sólidos
Possuem estágios para o material sólido na drenagem urbana, isto é
observado quando a modificação da cobertura da bacia pela retirada da sua
proteção natural, portanto o solo fica desprotegido e a erosão aumenta no
período chuvoso, aumentando também a produção de sedimentos. Exemplo
desta situação são: enquanto um loteamento é implantado o solo fica
desprotegido da mesma forma na construção de grandes áreas ou quando os
lotes são construídos ocorre também grande movimentação de terra que é
transportada pelo escoamento da superfície. Com isso a existência
predominância dos sedimentos e pequena produção de lixo.
Este aumento de sedimentos e materiais sólidos traz consigo consequências
ambientais por conta do assoreamento das seções de canalizações da
drenagem com redução da capacidade de escoamento de condutos, rios e
lagos urbanos e também o transporte de poluente agregado ao sedimento, que
contaminam as águas pluviais.

Contaminação de Aquíferos
As contaminações de aquíferos principais são devidas ao seguinte:
Aterros sanitários contaminam as águas subterrâneas pelo processo natural
de precipitação e infiltração. Deve-se evitar que sejam construídos aterros
sanitários em áreas de recarga e deve-se procurar escolher as áreas com
baixa permeabilidade. Os efeitos da contaminação nas águas subterrâneas
devem ser examinados quando da escolha do local do aterro;
Grande parte das cidades brasileiras utilizam fossas sépticas como destino
final do esgoto. Esse conjunto tende a contaminar a parte superior do aquífero.
Consequentemente essa contaminação pode comprometer o abastecimento de
água urbana quando existe comunicação entre diferentes camadas dos
aquíferos através de filtrações e perfuração inadequada dos poços artesianos.

Situação da infraestrutura entre os países desenvolvidos e o Brasil (Imagem 1)

Impactos em relação ao Escoamento Pluvial


O escoamento pluvial pode produzir inundações e impactos nas áreas urbanas
devido a dois fatores:
Inundações em áreas ribeirinhas: os rios geralmente possuem dois leitos, o
leito menor onde a água escoa na maior parte do tempo, e o leito maior, que é
inundado com risco geralmente entre 1,5 e 2 anos. (Com base na análise de
Tucci e Genz para os rios do Alto Paraguai). O impacto devido a inundação
ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ocasionando os riscos
para aquela população por conta de inundações.
Inundações devido a urbanização: as enchentes aumentam a sua frequência e
magnitude devido a impermeabilização, ocupação do solo, e a construção da
rede de condutos pluviais. O desenvolvimento também pode produzir barreiras
para o escoamento, como aterros e pontes, drenagem inadequadas e
obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamento.

Medidas de controle e conclusões


A valorização da água pluvial deve ser atentada para uma boa qualidade e
reuso desta para melhores condições de saúde para a população, com isso é
preciso tomar medidas de revitalização do curso d` água com recuperação de
taludes e recomposição da vegetação ciliar, manter o leito em suas condições
naturais; implantar interceptores de esgotos viabilizando futuro tratamento e
promover o reflorestamento de áreas degradadas para prevenir a erosão e o
assoreamento do curso dá água.
A avaliação dos impactos do desenvolvimento urbano sobre a bacia
hidrográfica e sobre a população mostra a forma inviável que vem ocorrendo
neste desenvolvimento. Caso não sejam realizadas mudanças substanciais na
forma de gerenciar o espaço das cidades o prejuízo para a população e para o
ambiente podem se torna irreversíveis. Esta situação as demais gerações
serão lembradas principalmente pela irresponsabilidade em não conter este
tipo de desenvolvimento. O apoio dos órgãos institucionais é essencial para
encontrar um caminho viável legal trazendo benefícios econômicos e sociais.
Soluções alternativas para Drenagem Urbana e suas
dificuldades
Todo plano urbanístico de expansão deve conter em seu papel um plano de
drenagem urbana visando delimitar as áreas mais baixas potencialmente
inundáveis a fim de diagnosticas a viabilidade ou não da ocupação destas
áreas de ponto de vista de expansão dos serviços públicos. Um adequado
sistema de drenagem que de águas superficiais ou subterrâneas onde est
drenagem for viável, proporcionará uma série de benefícios, tais como:
Desenvolvimento do sistema viário;
Redução de gastos com manutenção das vias públicas;
Valorização das propriedades existentes na área beneficiada;
Escoamento rápido das águas superficiais facilitando o tráfego por ocasião das
precipitações;
Eliminação da presença de águas estagnadas e lamaçais;
Rebaixamento do lençol freático;
Recuperação de áreas alagadas ou alagáveis;
Segurança e conforto para a população habitante ou fazendo parte pela área
de projeto;
Porém esta realidade é acompanhada e consigo há diversas dificuldades tanto
por conta de políticas públicas com pouca preocupação em melhorias para a
drenagem urbana no Brasil. Para alcançar este objetivo é necessário o
gerenciamento integrado da infraestrutura urbana, iniciando-se pela definição
da ocupação do espaço com preservação das funções naturais como a
infiltração, evapotranspiração e a rede natural de escoamento.
CONTROLE DE INUNDAÇÃO
A urbanização de um determinado lugar, por decorrência do modelo de
desenvolvimento urbano implantado, pode trazer consigo efeitos indesejáveis,
considerados extremamente prejudiciais à população, quando associados às
alterações no ciclo natural da água.
Neste âmbito, pode-se verificar que a intensidade dos riscos de inundações
está diretamente relacionada à maneira como o território é ocupado.
Quanto maiores forem as modificações das características naturais da bacia
hidrográfica maior o risco de ocorrência de inundações. Onde alterações da
geometria e da permeabilidade do solo são parâmetros essenciais que devem
ser observados.

4.1 Histório do Controle de Inundações


Conhecido como o berço da civilização, o Fértil Crescente é uma região do
Oriente Médio que compreende os atuais paises de Israel, Cisjordânia, Líbano,
Jordânia, Síria, Iraque, Egito e Turquia. O termo designa esta região em torno
dos rios Nilo, Eufrates e Jordão, onde surgiram os primeiros sítios agrários
11.000 anos aC. e posteriormente as primeiras cidades. Nestas cidades os
canais de irrigação foram adaptados para o uso urbano.
No ano de 1800 somente 1% da população mundial vivia em cidades. A partir
do século XVIII, a revolução industrial foi acompanhada de intenso processo de
urbanização. Durante a primeira metade do século XX a população total do
mundo aumentou em 49% e a população urbana em 240%.
Na segunda metade do século essa evolução foi ainda mais expressiva, pois a
população urbana passou de 1,52 bilhões de habitantes em 1974 para 1,97
bilhões em em 1982. As décadas de 1960 e 1970 foram caracterizadas no
Brasil por um processo intenso de urbanização.
Esse processo produziu uma ocupação urbana com infra-estrutura inadequada
e gerou o surgimento de favelas e periferias situadas em áreas de risco.
Além da ocupação informal das áreas inundáveis, a
implantação de avenidas marginais aos rios urbanos, subjugou os
sistemas das águas a um padrão de ocupação pré-determinado sem
considerar sua compatibilidade com o meio, fazendo que vários rios
urbanos sofressem intervenções drásticas de retificação de seus
meandros(Figura x).
Figura X - Rio Pinheiros antes e depois da retificação para a construção das avenidas
marginais. Fonte: ASP.

Drenagem urbana no Brasil

A urbanização brasileira tem provocado impactos significativos no ambiente,


como a redução da qualidade de vida da população, redução da qualidade de
água e aumento de materiais sólidos no escoamento pluvial. Observou-se a
existência de projetos de drenagem urbana inadequados, que procuram escoar
a água precipitada o mais rápido possível. Este critério aumenta em várias
ordens de magnitude a vazão máxima, a freqüência e o nível de inundação.
Após a implantação de uma cidade, o percurso das enxurradas passa a ser
determinado pelo traçado das ruas e acaba se comportando, tanto quantitativa
como qualitativamente, de maneira bem diferente de seu comportamento no
terreno original, anterior à modificação da topografia.
Quanto as áreas ribeirinhas, se faz necessário entender que enchente não é
necessariamente sinônimo de catástrofe, mas sim, um fenômeno natural do
regime dos rios. Porém, as inundações passam a ser um problema para o
homem quando este deixa de respeitar os limites naturais dos rios. A
urbanização agrava os efeitos da chuva e traz consigo o conceito de canalizar
e tornar subterrâneo tudo o que se quer esconder.

Figura Y – Corte esquemático de um rio .


Outra mazela recorrente, é a diminuição da capacidade de permeabilidade do
solo, que, quando comparadas às situações natural e urbanizada, provoca uma
significativa mudança no comportamento do terreno. A figura mostra o
hidrograma representativo de duas chuvas consecutivas em um terreno antes e
depois da urbanização.
4.3 Medidas de controle
As medidas para o controle da inundação podem ser classificadas como
estrutural e não-estrutural. As medidas estruturais são aquelas que modificam
o sistema fluvial, evitando os prejuízos decorrentes das enchentes, enquanto
que as medidas não-estruturais são aquelas em que os prejuízos são
reduzidos pela melhor convivência da população com as enchentes. É
ingenuidade do ser humano imaginar que poderá controlar totalmente as
inundações, pois as medidas sempre visam minimizar as suas conseqüências.
As ações incluem medidas de engenharia e de cunho social, econômico e
administrativo.
4.3.1 Medidas estruturais
São obras de engenharia implementadas para reduzir o risco de enchentes.
Essas medidas podem ser extensivas ou intensivas. As medidas extensivas
são aquelas que agem na bacia, procurando modificar as relações entre
precipitação e vazão, como a alteração da cobertura vegetal do solo, que reduz
e retarda os picos de enchente e controla a erosão da bacia. As medidas
intensivas são aquelas que agem no rio e podem ser de três tipos:
1. Aceleração do escoamento, como a construção de diques, aumento da
capacidade de descarga dos rios e corte de meandros;
2. Retardo do escoamento, como os reservatórios e as bacias de
amortecimento;
3. Desvio do escoamento, as obras como canais de desvios.
Tabela 1 – Medidas estruturais para controle de inundações
4.3.2 Medidas Não-Estruturais
Em contraposição as medidas estruturais, que podem criar uma sensação de
falsa segurança e até induzir a ampliação da ocupação das áreas inundáveis,
as ações não estruturais podem ser eficazes a custos mais baixos e com
horizontes mais longos de atuação. As ações não estruturais procuram
disciplinar a ocupação territorial, o comportamento de consumo das pessoas e
as atividades econômicas.
Considerando aquelas mais adotadas, as medidas não estruturais podem ser
agrupadas em:
Ações de regulamentação do uso e ocupação do solo;
Educação ambiental voltada ao controle da poluição difusa, erosão e lixo;
Seguro-enchente;
Sistemas de alerta e previsão de inundações.
Por meio da delimitação das áreas sujeitas a inundações em função do risco, é
possível estabelecer um zoneamento e a respectiva regulamentação para a
construção, ou ainda para eventuais obras de proteção individuais (como a
instalação de comportas, portas‑estanques e outras) a serem incluídas nas
construções existentes.
Da mesma forma pode-se desapropriar algumas áreas, destinando‑as a
praças, parques, estacionamentos e outros. Por outro lado, os seguros-
enchente podem ser calculados a partir da determinação dos riscos associados
às cheias.

Figura Z - Curva de atendimento às demandas de drenagem urbana. Retirado do livro


Drenagem Urbana e Controle de Enchentes 2ª ed. Ed. Oficina de Textos.

5. RECARGA DE AQUÍFEROS
Um aquífero pode ser entendido como todo material geológico passível de
armazenar e circular água, seja na zona saturada do solo ou nos poros,
fraturas/fissuras ou carstes das rochas. Pode ser livre, quando o nível
piezométrico é igual ao nível da água, ou confinado quando está limitado
superior e inferiormente por formações impermeáveis ou praticamente
impermeáveis e o nível piezométrico se encontra acima do nível da água. A
recarga natural de um aqüífero ocorre com a infiltração natural da água pluvial
em áreas permeáveis, sendo posteriormente, armazenada no solo ou nas
rochas.
Embora haja o consenso da importância dos recursos hídricos subterrâneos,
principalmente, no que tange o abastecimento urbano, industrial e agrícola
ainda existem atividades humanas que causam impactos negativos sobre eles.
A falta de políticas de zoneamento, planejamento e ordenamento territorial
causam a impermeabilização das áreas naturais de recarga e concentram o
fluxo superficial da água gerando problemas como enchentes e inundações.
Associado a falta de recarga, causada pela impermeabilização, encontramos a
sobre-explotação da água subterrânea que pode causar o esgotamento do
recurso inviabilizando-o para posterior utilização.
A recarga artificial pode ser tanto intencional quanto acidental. A recarga
acidental ocorre com a incorreta disposição de efluentes em fossas sépticas
não impermeabilizadas, infiltração em aterros sanitários e campos
excessivamente irrigados, escoamento superficial de áreas urbanas, rupturas
em sistemas de abastecimento de água e esgotos ou demais vazamentos.
A recarga intencional refere-se à introdução de água para o interior do
aqüífero, seja diretamente através de poços de injeção ou indiretamente
através de bacias ou caixas de infiltração. Tem como objetivo aumentar a
disponibilidade dos recursos hídricos subterrâneos, melhorar a qualidade da
água, restabelecer o nível freático e novas condições de equilíbrio e diminuir o
escoamento superficial. Pode-se utilizar água de rios e lagos, água residual
resultantes de estações de tratamento, água dessalinizada e água da chuva e
de escoamento superficial.

As bacias de infiltração consistem na descarga do escoamento superficial


proveniente da precipitação em bacias escavadas no solo. Para seu correto
funcionamento alguns fatores são imprescindíveis como solo permeável e
presença de uma zona saturada sem camadas impermeáveis. O problema
encontrado neste método é a presença de sólidos suspensos na água, pois
pode ocorrer o assoreamento e a acolmatação dos poros na base da bacia
dificultando a infiltração da água. As caixas de infiltração, também
denominadas de poços de injeção passivos, são poços escavados no solo que
podem ser revestidos ou não com manilhas furadas ou sistemas de tijolos
espaçados preenchidos com areia ou cascalho para facilitar a infiltração da
água.

Os poços de injeção constituem uma técnica de recarga artificial onde a água é


bombeada diretamente nos poços. São utilizados quando não estão
disponíveis zonas permeáveis na zona não saturada e quando os aqüíferos
são profundos ou confinados. A tecnologia para implantação e os requisitos de
qualidade da água de recarga são mais exigentes do que nos sistemas de
recarga à superfície. Dessa forma, utiliza-se água pluvial coletada no telhado
de casas, prédios, galpões, etc. devido sua melhor qualidade em comparação
à de escoamento superficial.

A recarga artificial de aqüíferos utilizando águas pluviais é uma importante


ferramenta para a gestão dos recursos hídricos, principalmente, em locais com
problemas de sobre-explotação e impermeabilização de áreas de recarga.
Deve ser aplicada juntamente com medidas de outorga, cobrança e
monitoramento da explotação. Além de reverter os problemas de sobre-
explotação, atua no controle das águas de escoamento superficial. Necessita
de cuidado da qualidade da água a ser utilizada para evitar a contaminação do
aqüífero.

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