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G EO USP Espaço e Tempo, São Paulo, N° 14, pp.

9-19, 2003

EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS DE DESERTIFICAÇÃO


NO NORDESTE BRASILEIRO

M a r ta C e lin a L in h a r e s S a le s *

RESUMO:
Partindo de uma breve caracterização geoambiental da região nordeste e contextualizando a inserção
do tema da desertificação nos estudos regionais, foi possível selecionar os principais trabalhos realizados
em escala regional, os quais foram aqui apresentados em detalhe. O objetivo é mostrar os resultados
até agora encontrados, co m p arar as metodologias em pregadas e sugerir possíveis cam inhos a serem
tom a do s nos estudos da desertificação no Nordeste brasileiro.
P A L A V R A S -C H A V E :
Desertificação, m etodologias, nordeste brasileiro

ABSTRACT:
Starting from a breaf environm ental characterization of the northeast area and inserting the them e of
the desertificação in the regional studies, it was possible to select the main works accom plished in
regional scale, which were here presented in detail. The objective is to show the results found up to now,
to co m p are the em ployed m ethodologies and to suggest possible roads to be taken in the studies of the
desertification in the Brazilian Northeast.
KEY W O R D S :
Desertification, methodologies, Brazilian northeast

Introdução esta exploração predatória estabeleceu-se uma


estrutura social co n cen trado ra de renda e de
A região Nordeste do Brasil compreende poder, responsável pela relativa es ta g n a ç ã o e
uma área de 1.556 mil k m 2 e caracteriza-se, do baixos índices sócio-econôm icos registrados na
ponto de vista geoam biental, pela diversidade de região.
suas paisagens tendo com o elem ento marcante A disponibilidade dos recursos naturais
no quadro natural da região a condição de semi- reflete diretamente as condições geoam bientais
aridez de caráter azonal que atinge grande parte diversas que constituem a região. Nas áreas do
do seu território e a alta variabilidade pluviométrica em basam ento cristalino sob extensas superfícies
espacial e temporal inerente a esse tipo climático. rebaixadas interplanálticas, concentra-se uma rede
A ocupação dessa região ocorreu sempre de drenagem com grande freqüência de cursos
em uma p ersp ectiva de e x p lo ra ç ã o excessiva d 'á g u a in t e r m it e n t e s e s a z o n a is co m b a ix o
levando inclusive à exaustão de parte dos recursos potencial de águas subterrâneas. É também nestas
naturais. Deve-se considerar ainda que aliada a áreas que ocorrem solos de elevada fertilidade

P rofe ssora A s s is te n te do D e p a r ta m e n to de G e o g ra fia e H istó ria da U n iv e rs id a d e Federal do Piauí e P esq u isa d o ra do


TROPEN. E -m a il: m c ls a le s @ u o l.c o m .b r
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natural, porém salinos e carbonáticos, sob os quais pobreza e miséria, tornando a região cada vez
estão assentados os variados padrões fisionômicos mais vulnerável. A vulnerabilidade neste caso é
e florísticos da caatinga. resultado da fragilidade ambiental, econômica e
As atividades econômicas desenvolvidas no social, constituindo-se em um imbricado processo
se rtã o g ira ra m por muito tem p o em torno do de retroalimentação. Em uma análise mais acurada
b i n ô m i o g a d o - a l g o d ã o e da a g r i c u l t u r a de sobre essas relações no Nordeste, especialmente
su b sistên cia desenvolvida em solos aluviais. As no s e m i- á rid o , A B 'S A B E R (o p .c it.p .4 9 ) faz a
lim itações naturais nessas áreas ficam por conta, seguinte observação:
principalmente, da instabilidade climática, gerando
p r o b le m a s de d is p o n ib ilid a d e h íd ric a que "A especificidade dos p ro b le­
c o m p ro m e te todo o sistema produtivo. m as hum anos e sociais do Nordeste seco
As áreas sedimentares da região Nordeste está diretam ente relacionado ao balanço
co m p re e n d e m extensas chapadas e cuestas, onde entre o quantum de humanidade que a
a pequena freqüência dos rios (dada a alta permea­ região precisa alim entar e m an ter e as
bilidade dos solos) é compensada pelo elevado potencialidades efetivas do meio físico
p o t e n c ia l d a s á g u a s s u b t e r r â n e a s . Os so lo s rural, dentro dos padrões culturais de sua
a p r e s e n t a m b a ix a f e r t ilid a d e n a tu ra l, se n d o população e dos limites impostos pelas
recobertos por caatingas, cerrados e "carrascos" relações dom inantes de p rod ução' (grifo
Os terren o s sedim entares ocorrem tanto no semi- nosso)
á r i d o c o m o n a s á r e a s de t r a n s i ç õ e s co m
p re c ip ita ç õ e s m ais elevad as e com atividades Nosso objetivo aqui, longe de ser uma
agrícolas voltad as para rizicultura nas planícies avaliação aprofundada sobre a complexa situação
fluviais e baixões. Recentem ente desenvolvem-se do Nordeste, é a p re se n ta r um panoram a que
as culturas de arroz e soja no topo das chapadas. permita situar as questões ligadas à desertificação
Há ainda os relevos com topografias mais na região.
elevadas regionalm ente denom inadas de "serras"
e " b r e jo s " que graças a ocorrência de chuvas Evolução dos Estudos da Desertificação no
orográficas apresentam maiores índices pluviomé- Nordeste Brasileiro
tricos e distribuição mais regular. Predomina nestas
áreas a policultura desenvolvida em minifúndios, São antigos os estudos e registros sobre
responsável pelo abastecimento de produtos horti- se ca s, e m p o b r e c im e n t o a m b ie n ta l e suas
frutícolas em muitas cidades de porte médio do conseqüências na organização sócio-econômica do
Nordeste. Nordeste brasileiro. Muitas vezes esses problemas
Quanto à organização social, destaca-se s ã o e v o c a d o s c o m o os r e s p o n s á v e i s p e lo
uma im portante peculiaridade do Nordeste que é subdesenvolvim ento da região. Os docum entos
a a lt a d e n s i d a d e d e m o g r á f i c a da r e g iã o , mais antigos fazem referência principalmente às
especialm ente na mancha semi-árida passa a ser secas. S e g u n d o K HAW & C A M P O S (1992), as
uma das mais altas do mundo para este tipo de primeiras referências às estiagens foram feitas por
am biente (AB'SABER, 1985, p.44). Associado a Fernão Cardim em 1587, porém, foi a partir da
isto, há o problema da existência de uma estrutura grande seca de 1877, que o governo passou a
fundiária ex tre m a m e n te rígida onde se d e s e n ­ considerá-las como um problema nacional. Naquele
volvem atividades agropecuárias de baixo nível momento, a estiagem que havia se instalado no
tecnológico, que inevitavelmente leva a práticas N o rd e s te , re su lto u na m orte de m ilh a re s de
a g ríc o la s p re d a tó ria s e, c o n se q ü e n te m e n te , à nordestinos e marcaram as primeiras iniciativas
degradação ambiental. oficiais de combate aos efeitos da seca. Sobre esse
Assim, a pressão da população sobre os episódio, ROBOCK (1992), ao discutir as políticas
recursos naturais, já naturalmente frágeis, leva a de combate às secas, faz a seguinte observação:
d e t e r io r a ç ã o a m b ie n t a l g e r a n d o um ciclo de
Evolução dos estudos de desertificação no Nordeste Brasileiro, pp. 9-19 11

“ M o v id o p o r essa g ra n d e Ainda em 1974, quando se iniciavam as


tragédia, o im perador D. Pedro II criou c a m p a n h a s de a ju d a h u m a n it á r ia à r e g iã o
u m a C o m i s s ã o de I n q u é r i t o c u ja Saheliana na África que sofria em virtude da seca
recomendação principal era de melhoria e da fome, ao m esmo tempo em que o fenôm eno
dos meios de transporte e a construção da desertificação entrava em pauta na c o m u ­
de uma série de açudes. Um dos três nid a d e a c a d ê m ic a in te rn a cio n a l, V a s c o n c e lo s
açud es recom endados era o do Cedro, Sobrinho publicava o artigo "O deserto brasileiro"
no m unicípio de Quixadá, cuja obra foi indicando as áreas do Nordeste já comprometidas
iniciada em 1884 e concluída em 1902, pela degradação, as quais foram denom inados de
22 anos depois, tendo sido interrompida "núcleos de desertificação" Durante toda a década
m uitas vezes. Para muitos de 1970 o referido pesquisador publicou diversos
b r a s ile ir o s , o a ç u d e t o r n o u - s e um outros trabalhos sobre desertificação contribuindo
s ím b o lo da i n e f ic iê n c ia e do d e s ­ para a divulgação e com preensão do fenôm eno e
perdício na luta contra a seca. "(p. 160) da sua importância na organização espacial no
Nordeste.
Há portanto, desde os tempos do Império, A partir daí outros trabalhos foram ap re­
u m a e n o r m e p ro d u çã o tan to literária q u a n to sentados sobre o tema no Brasil, visando especial­
científica acerca dos problemas causados pelas mente o Nordeste. A propósito de uma breve
e stiag en s que freqüentem ente atingem a região. a n á lis e so b re es se s e stu d o s, a g r u p o u - s e os
Na literatura, obras clássicas como "O Quinze" de realizados em escala regional separando-os de
Raquel de Queiroz e "Vidas Secas" de Graciliano escala local. A opção em analisar esses estudos
R am os desvelam a contradição entre a miséria co n sid eran d o as escalas de ab ran gê ncia s é a
econ ôm ica e a grandeza espiritual do sertanejo. tentativa de com parar as metodologias e m p re ­
A lg u n s desses trabalhos são clássicos, indispen­ gadas e os resultados alcançados. Os trabalhos
sáveis na análise e com preensão da forte relação aqui discutidos VASCONCELOS SOBRINHO (1974,
do h o m e m com a r u s t ic id a d e do a m b ie n t e , 1978, 1978b, s/d), A B 'S A B E R (1977), NIMER
in cluin do-se "Os Sertões" de Euclides da Cunha, (1980, 1988), RODRIGUES (1992, revisado por
que analisa a influência do ambiente nas condições FERREIRA, 1994) e CONTI (1995) foram se le­
de vida do homem do sertão, constituindo-se em c i o n a d o s em f u n ç ã o da boa d i v u l g a ç ã o e
um d os m ais ricos d ocu m en tos que trata das repercussão junto aos estudiosos do tema, são
relações entre ambiente e cultura no semi-árido portanto, o que se considera como os principais
brasileiro. É considerável também a obra de DUQUE estudos de âmbito regional.
(1973, 1982), que com vasta experiência no semi- A produção e abordagem feita pelo Prof.
árido nordestino, estudou e disseminou as bases Vasconcelos Sobrinho é baseada principalmente
para uma agricultura ecológica no nordeste. na metodologia dos indicadores da desertificação,
A ssim , a p rod u ção a ca d ê m ica sobre o seguindo a orientação geral da Conferência das
te m a c o m p r e e n d e os mais variad os aspectos, Nações Unidas sobre Desertificação (1977). Nos
a n a lis a d o s sob diferentes perspectivas. CONTI seus trabalhos o autor discute o que considera
(1995) apresenta uma extensa revisão bibliográfica ser a vocação pré-desértica do polígono das secas
dos principais trabalhos para o Nordeste Brasileiro. condicionada por "um equilíbrio ecológico instável
E n tr e t a n t o , os p rim e iro s t ra b a lh o s nos quais decorrente do regime pluviométrico de baixo índice
a p a re ce m o conceito de desertificação com o a de precipitações e extrema irregularidade, dos
d eg ra dação das terras produtivas no semi-árido, solos rasos com limitada capacidade de retenção
foram conduzidos na região Nordeste, pelo Prof. de água, am plo fotoperiodism o e ventos secos e
José Vasconcelos Sobrinho da Universidade Federal quentes com forte p o d e r de d esid ratação"
de Pernambuco. Sem dúvida alguma deve-se a este
Define os núcleos de desertificação como
p esq u isad o r o mérito do pioneirismo nos estudos
áreas onde a d egradação da cobertura vegetal e
de desertificação no Brasil.
do solo a lc a n ç o u um a co n d iç ã o de irreversi-
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b ilid a d e , a p re se n ta n d o -s e com o pequenos da Bahia).


desertos já definitivamente implantados dentro do
Salões - planícies aluviais dos baixos vales
e c o s s is t e m a p rim itiv o . In d ic a os n ú c le o s já
costeiros com solos salinizados onde predomina
existentes do nordeste: Gilbués no Piauí, Inhamuns
a presença da vegetação rasteira halófila. Ocorrem
no Ceará, Seridó no Rio Grande do Norte, Cariris
principalm ente nas várzeas do Baixo Mossoró e
Velho na Paraíba, Sertão Central de Pernambuco
Baixo Apodi no Rio Grande do Norte.
e Sertão do São Francisco na Bahia. Relaciona os
in dica do re s a serem considerados na desertifi- Vales e Encostas Secas - ocorrem em setores
cação (físicos, biológicos-agrícolas, sociais-uso da localizados de caatingas abertas em vales secos
terra, parâm etros biológicos-humanos, processos ou encostas de escarpas e/ou serras situadas a
sociais, tipos de assentamentos). Estabelece ainda sotavento, ocorrem também em áreas de relevos
o conceito de áreas-parâm etro como recobertas de cuestas com chão pedregoso e baixo nível de
de veg etação primitiva contíguas às que sofrem alteração de rochas e nos enclaves de caatingas
desertificação áreas-piloto, permitindo comparar em áreas de cerrados. Localizam-se principal­
a evolução do fenômeno. E em uma das últimas mente na região centro-sul do Piauí, no sudeste
p u b l i c a ç õ e s ( 1 9 8 3 ) s u g e r e f o r m a s p ara a da escarpa da Ibiapaba e na cuesta do Apodí.
co ntenção do processo.
No m e s m o a n o q u e se r e a l i z a v a a Lajedos-M ares de Pedra - inselbergs e campos
Conferência das Nações Unidas sobre Desertifi­ de inselbergs, que se caracterizam pela aridez
c a ç ã o em N a iro b i, Q u ê n ia , o g e ó g r a f o A ziz roch o sa d e fin id a , ressaltada por d e g ra d a ç ã o
A b 'S a b e r publicou importante trabalho intitulado antrópica do entorno. Ocorrem nos sertões de
" P r o b l e m á t i c a d a d e s e r t if ic a ç ã o e d a s a v a r tiz a ç ã o Paulo Afonso - BA, Milagres BA, Quixadá - CE,
n o B r a s i l in t e r t r o p i c a l " (AB'SABER, 1977), no qual Patos - PB e Arcoverde - PE.
define com o " p r o c e s s o s p a r c ia is d e d e s e r t if ic a ç ã o , Á reas de Paleo-D unas Quaternárias - este
t o d o s a q u e le s fa to s p o n t u a is ou a re o la re s , geótopo refere-se especificamente ao Campo de
s u f i c i e n t e m e n t e r a d ic a is p a r a c r i a r d e g r a d a ç õ e s dunas de Xique-Xique na Bahia. São paleo-dunas
ir r e v e r s í v e i s d a p a i s a g e m e d o s t e c id o s e c o ló g ic o s q u a t e r n á r ia s fa c ilm e n t e re m o b iliz a d a s pelas
n a t u r a i s " M esm o reco nhecen d o que as áreas atividades antrópicas.
ú m id a s e fa ix a s de tra n s iç ã o so fre ra m mais
d eg radação ambiental, "é no Nordeste seco que Áreas de Topografias Ruiniformes e Cornijas
a p a r e c e m f e i ç õ e s de d e g r a d a ç ã o p o n t u a is R o c h o s a s D e s n u d a s , com A r id e z R o c h o s a
facilmente reconhecíveis" Característica - topografias ruiniformes situadas
A s s i m , p a r t in d o da b a s e c o n c e it u a i à frente ou na base de morros testemunhos e
p re c o n iz a d a nos e s tu d o s de G e o g ra fia Física escarpas estruturais, com pouca ou nenhuma
Global, o autor descreve as áreas susceptíveis aos interferência antrópica. A melhor representação
p ro c e s s o s de desertificação co n sid e ra n d o sua dessas áreas fica por conta de Sete Cidades em
p r e d i s p o s i ç ã o g e o - e c o ló g ic a , q u a s e s e m p re Piracuruca no Piauí.
a c e n t u a d a s por a ç õ e s a n t r ó p ic a s d ire ta s ou Áreas de Revolvimento Anômalo da Estrutura
indiretas. Destaca assim, nove geótopos áridos Superficial da Paisagem - colinas superficialmente
no Nordeste, como as áreas mais atingidas. São d e g ra d a d a s com a remoção parcial dos solos
eles: rasos, por erosão antrópica formando um tipo
Altos Pelados - correspondem aos interflúvios regional de "bad-lands" Aparece nos arredores de
desnudos das colinas rasas nos quais mais de 80% Sertânia em Pernambuco.
da cobertura vegetal foram retirados favorecendo Malhadas ou Chão Pedregosos - diferentes tipos
a rem oção da camada superficial do solo e o ap a­ de chão pedregosos, oriundos da liberação de
recim ento de fragm entos de quartzo. Ocorrem na fragm entos de quartzo proveniente de cabeços
região do Alto Jaguaribe, na fronteira do Ceará de dique e veios ou da desagregação de antigos
com a Paraíba e no Vale do rio Vaza Barris (norte c a s c a lh e ir o s . O c o r re m n u m e ro s o s ca s o s de
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m alhadas na Bahia, Ceará, Pernambuco e Paraíba. qüência, principalm ente dos d e sm a ta m e n to s e


erosão. A partir de critérios climatológicos (regime
Á reas D eg rad ad as por R aspagem ou
pluviométrico, duração da estação biologicamente
Em préstim os de Terra - faixas de terra degradadas
seca e variab ilid ad e pluviom étrica ano a ano)
à m argem de cam inhos e estradas relacionadas
mapeou para o Brasil as áreas mais predispostas
com a raspagem de solos e em préstim o de terra
a desertificação. Elaborou uma carta na escala de
para construção de aterros e barragens.
1 : 5 . 0 0 0 . 0 0 0 d e n o m in a d a de " Z o n e a m e n t o
Neste artigo A B 'S A B E R (1997) analisa Sistem ático de Áreas mais Predispostas à D eserti­
t a m b é m a d e g ra d a ç ã o nas áreas de cerrados fic a ç ã o " Apesar da pouca divulgação, constitui-se
re ss a lta n d o alguns pontos de desertificação e num importante documento para orientar quais
sa vanização e discute os ravinamentos no d om í­ os setores do território brasileiro, que estariam
nio dos mares de morros decorrentes da atividade potencialmente sujeitas aos processos de desertifi­
cafeeira desenvolvida desde o século XIX. cação, considerando os indicadores climáticos.
Para o autor, os processos de d e se rti­ Oito anos depois o mesmo autor publica
ficação no nordeste seco resultam da predispo­ o trabalho "Desertificação: Realidade ou M ito ?"
sição da estrutura geo-ecológica determ inada, (1988), no qual apresenta as bases teóricas para
principalmente pelas deficiências hídricas sazonais, os estudos de desertificação, que segundo ele
que em alguns setores associam-se às atividades deveriam ser orientadas para a com preensão da
h u m an as levando ao surgim ento de "pontos ou dinâmica dos sistemas, discute os aspectos sócio-
agru pam ento de pontos filiados a processos locais e c o n ô m ic o s m undiais e suas re p ercu ssõ es no
de d esertificação" Considera o potencial natural fe n ô m e n o da desertificação, ap resentan d o um
das terras aos processos de degradação e a ação panorama dos países africanos atingidos. Finaliza
antrópica como desencadeadora desses. O mérito propondo uma metodologia calcada em três eixos:
do t r a b a lh o é o de re c o n h e c e r a fra g ilid a d e climatológico, geomorfológico e pedológico, para
ambiental do semi-árido como condição "sine qua estudo do que chamou de "Potencialidade natural
n o n " para instalação dos processos de deserti­ de sem idesertificação no território sem i-árido do
fic a ç ã o . P o r ta n to , m e s m o os s e to re s pouco B r a s il" O resultado seria a elaboração de cartas
ocupados, expirariam cuidado no uso e manejo. tem áticas que superpostas permitiriam conhecer
Por outro lado, é difícil reconhecer uma tipologia os diferentes níveis de riscos à desertificação.
que permita extrapolar para outros setores do O trabalho apresentado por RODRIGUES
sertão seco, já que as áreas citadas tem gêneses et al. (1992) por ocasião da ICID - Conferência
d ife re n c ia d a s e foram identificadas mais pela I n t e r n a c i o n a l s o b re I m p a c t o s de V a r ia ç õ e s
a c u i d a d e , s e n s i b i l i d a d e e e x p e r i ê n c i a do C lim áticas e Desenvolvim ento Sustentável em
observador do que por critérios aplicáveis a outras R egiões Sem i-Áridas, tratou da 'A v a lia ç ã o do
áreas. Quadro da Desertificação no Nordeste do Brasil:
Edmon Nimer publicou em 1980 o artigo D iagnóstico e Perspectiva" Este foi atualizado e
"Subsídio ao Plano de Ação Mundial Para Combater reap resentad o por FERREIRA et al. (1995) na
a Desertificação - Programa das Nações Unidas C O N S L D - C o n fe rê n cia Nacional e S e m in á rio
para o Meio Am biente (PNUMA)", no qual discute L a tin o -A m e ric a n o da Desertificação. O estudo
o conceito de deserto a partir da etimologia da inicialmente apresenta uma caracterização breve
p a l a v r a , a p r e s e n t a as c a r a c t e r í s t i c a s b io - da região, destacando alguns aspectos ligados à
ecológicas desse ecossistema e o diferencia de desertificação (seca, irrigação, etc.) e partindo de
desertificação, que para o autor, esta última pode uma metodologia baseada em indicadores sócio-
ser d e te rm in a d a por dois fatores: m u d an ça s econômicos e susceptibilidade climática, esta última
c lim á tic a s e x p re s s a s p rin c ip a lm e n te numa determ inada pelo índice de aridez (razão entre a
c r e s c e n te d e fic iê n c ia de ch uva s e a ação do precipitação e a evapotranspiração) proposto pelo
homem. Apresenta ainda para o Brasil as áreas já PNUMA (1991), indica as áreas do Nordeste já
c o m p r o m e t i d a s com o p r o c e s s o em c o n s e ­ afetadas.
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Assim, de acordo com a "Carta de S u scep ­ variabilidade interanual.


tibilidade à D esertificação no Nordeste do Brasil" A área de abrangência do estudo foi o
(1992), foram selecionadas as áreas que ap re­ semi-árido brasileiro demarcado pela isoieta de 800
se n ta m índice de aridez (PNUMA) de até 0,65 m m /ano. Os surpreendentes resultados e n co n ­
c o rre sp o n d e n te aos climas sub-úm idos secos. A t r a d o s c o n s t i t u e m - s e em um a i m p o r t a n t e
partir daí, foi elaborada uma matriz na qual foram c o n trib u iç ã o aos estudos da d esertificação no
c r u z a d o s os i n d i c a d o r e s s ó c i o - e c o n ô m i c o s Nordeste Brasileiro. Do total de 237 postos com
(con sid eran d o a presença ou ausência) com as séries de dados pluviométricos de 70 anos foram
m icrorregiões homogêneas que se encontram total encontrados 118 postos (49,7%) com tendência
ou p a r c ia lm e n t e nas áre a s s e le c io n a d a s . Os lin e a r cre s ce n te , 85 postos que rep resen ta m
i n d ic a d o r e s s ó c io - e c o n ô m ic o s r e la c io n a d o s e 35,8% do total com tendência linear estável e
pesq uisad os através de referências bibliográficas som ente 34 postos (14,3%) com tendência linear
foram: densidade demográfica, sistema fundiário, d e c r e s c e n t e . E s s e s r e s u lt a d o s e n c o n t r a d o s
te m p o de ocupação, mineração, erosão, perda de permitem uma discussão mais próxima da realidade
fertilidade, pecuarização, estagnação econômica, sobre o regime das chuvas no semi-árido. É comum
m ecanização, salinização, evolução da população, na região o uso de argum entos baseados nas
bovinocultura, caprinocultura, ovinocultura, área de observações empíricas dos moradores a respeito
p reservação, susceptibilidade climática, uso de da dim inuição das chuvas, idéias estas, muitas
d efen sivo s agrícolas, qualidade da água e área vezes veiculados pela imprensa e constante até
a g ríc o la . As á re a s c o n s id e ra d a s m uito grave m esm o no "discurso acadêm ico" Na verdade os
registraram a presença de no mínimo 15 dos 19 resultados encontrados demonstram que quase
in d ic a d o r e s acim a referidos. As áreas graves m e t a d e d o s p o s to s a n a lis a d o s a p r e s e n t a m
apresentaram de 11 a 14 indicadores, as áreas tendências de aumento das precipitações locais e
m oderadas de 6 a 10 e, menos de 6 indicadores, 35,8% mantêm os níveis de precipitação estáveis
p o r m i c r o r r e g iã o , s i g n if i c a n d o a u s ê n c ia da e s o m e n t e 1 4 ,3 % r e a lm e n t e t e n d e r i a m a
desertificação. Os resultados mostram quais as diminuição, o que a "priori" descartaria a idéia de
m ic r o r r e g iõ e s a fe ta d a s em cada E stad o e os mudança no regime de chuvas da região, pelo
núm eros da desertificação para todo o Nordeste. menos nas últimas décadas. Por outro lado, não
O t r a b a lh o in o va ao in tr o d u z ir d a d o s só cio - se pode descartar a possibilidade de alterações
econôm icos nos estudos de desertificação, porém microclimáticas no sentido do ressecamento dos
o uso de microrregiões homogêneas como unidade ecossistemas, vinculadas aos impactos ambientais
de alocação dos dados, gera distorções significa­ lo ca is que se iniciam com o d e s m a ta m e n to ,
tivas no sentido de um superdimensionamento das alteração do escoamento superficial, aumento do
áreas atingidas. albedo etc.
C O N T I, da U n iv e rs id a d e de São Paulo O u tro p arâm etro a n a lis a d o foi a
apresenta sua primeira contribuição sobre o tema variabilidade interanual das chuvas através do
em 1984, intitulada "A respeito da desertificação" coeficiente de variação, os números encontrados
A partir deste artigo diversos outros foram escritos para as localidades com tendência decrescente
(1985, 1986, 1989a, 1989b, 1991, 1993, 1994a, variam de 88,6% em Barra BA, a 26,3% em
1994b) culm inando com a elaboração da Tese de B re jo da M ad re de Deus - PE, p o rta n to são
Livre D ocên cia "D e se rtifica çã o nos Trópicos - superiores aos 25% que caracterizam as regiões
Proposta de Metodologia de Estudo aplicada ao secas. A alta variabilidade climática encontrada na
N ordeste B rasileiro" na qual o autor apresenta o região indica uma forte instabilidade climática, esta
q u e se c o n s i d e r a c o m o a m a is c o m p le t a e sim, pode ser considerada a responsável pela
im p ortan te revisão bibliográfica sobre o tema, vulnerabilidade ambiental da região.
propõe ainda a metodologia estatística de estudos Nos estudos de ciclicidade realizados, o
d a s s é r ie s t e m p o r a is a p lic a d a aos d a d o s de autor analisou 237 séries, nas quais apenas 43
p r e c ip it a ç ã o p lu v io m é trica com o ob jetivo de (18,1%) apresentaram ciclos, ressalta assim que
encontrar tendências, ciclicidades e indicadores da "a expectativa de um perfil bem caracterizado de
Evolução dos estudos de desertificação no Nordeste Brasileiro, pp. 9-19 15

ciclicid ad e pluviom étrica em todo o dom ínio do á r id o b ra s ile ir o , c o n s id e r a n d o s o b r e t u d o as


s e m i- á r id o n ã o p ô d e s e r c o n fir m a d a " (op.cit. metodologias.
p . 173). E n tre ta n to cham a aten ção que estes Em 1 97 9, C A R V A L H O & L O M B A R D O
r e s u l t a d o s p o d e m d e c o r r e r d a s l im it a ç õ e s publicam "Análise Prelim inar das potencialidades
m eto d o ló g icas ou da insuficiência das séries, que das Im agens LA N D S A T para Estudo de D eserti­
dada a alta variabilidade, mascara ciclos menores. fic a ç ã o " O trabalho desenvolvido no Baixo-Médio
C om o resultado final indica as áreas do São Francisco, na região de Xique-Xique cobriu um
se m i- á rid o nas quais é possível reco nh ecer o extensão de aproxim adam ente 1.300 km 2. Com
"a g ra v a m e n to da seca", ou seja, diminuição das base em interpretação visual e digital de imagens
chuvas. Essas áreas seriam: o setor rebaixado de satélite, os autores apre-sentam mapas te m á ­
do sertão dos Inham uns (Ceará), no baixo São ticos (geológico, morfológico, pedológico e da
Francisco (Bahia, Sergipe e Alagoas), na vertente cobertura vegetal), que subsidiaram a análise do
a so taven to da chapada Diamantina (Bahia) e ambiente na qual definem 11 unidades ambientais
alguns exem p lo s pontuais em outros Estados. O e seu grau de risco à desertificação. Foi o primeiro
autor constatou também uma "s o b re p o s iç ã o "das trabalho proposto baseado em interpretação de
áreas já indicadas na literatura como degradadas, im agens de satélite e integração dos dados geo-
com as retas de tendência negativa. ecológicos.
Quanto aos valores dos coeficientes de MONTEIRO (1988) publica os resultados
v a r ia ç ã o in te ra n u a l en co n tra d o s, e ste s de uma pesquisa realizada no semi-árido. A área
c o m p r o v a m , s e g u n d o o autor, o c a r á t e r s e le c io n a d a co rre s p o n d e a um dos g e o to p o s
transicional da região, estando esta com perfil áridos (Altos Pelados) propostos por A b'S ab er
se m elha nte ao de outras áreas secas do mundo. situada na região do Alto Jaguaribe. Entre outros,
A r e v e l a ç ã o , d a d a a p e s q u is a co m s é r i e s um dos objetivos do trabalho foi experim entar a
tem porais, de áreas com registro de diminuição abordagem sistêmica como tratamento geográfico
das precipitações torna-se o ponto de partida para ao problema da desertificação. Como resultado,
ou tros e s tu d o s setoriais que possam oferecer além da caracterização geo-ecológica, o autor
m a io r c o n t r ib u iç ã o para a c o m p r e e n s ã o do elabora de forma muito original um panorama das
fenôm en o. imbricadas relações sócio-econômicas, com todas
O Q U A D R O 1 (no final d e ste a rtig o ) as implicações políticas envolvidas na questão da
a p r e s e n t a um r e s u m o d os t r a b a lh o s a c im a desertificação. Em última instância trata-se de uma
analisados observando a área de abrangência de d escrição da difícil relação h om em -socied ad e/
ca da um, as m e to d o lo g ia s e m p re g a d a s e os sociedade-natureza localizada espacialm ente nos
resultados encontrados. Esses resultados diferem sertões nordestinos.
em r e s p o s t a às d if e r e n ç a s m e t o d o ló g ic a s , O t r a b a lh o r e a liz a d o p ela F U N C E M E
entretanto ao superpô-los é possível identificar (1992) apresentado por ocasião da ICID, "Áreas
á r e a s já c o m p r o m e t id a s com o p ro ce s so de D e g r a d a d a s S u s c e p t í v e is a o s P r o c e s s o s de
desertificação. As regiões dos Inhamuns no Ceará Desertificação no Estado do Ceará - B ra sil", trata
e do Sertão do Baixo São Francisco, na Bahia, do m a p e a m e n to das á re a s s u s c e p t ív e is aos
são áreas indicadas em todos os trabalhos como processos de desertificação tendo como critério a
àquelas afetadas pela desertificação. ap licação do ín d ice de Aridez do PNUM A com
Há tam bém uma considerável produção ocorrência simultânea da degradação dos fatores
de t r a b a l h o s em e s c a la local C A R V A L H O & físicos e biológicos detectadas através do uso de
L O M B A R D O (1 9 7 9 ) , F R A N C O ( 1 9 8 5 ) , N E R I técnicas de sensoriamento remoto e de Sistema
(1 9 8 8 ), R E IS (1 9 8 8 ), M O N T E IR O (1 9 8 8 ), de Informação Geografia - SIG. As áreas mais
FILG U EIR AS (1991) FUNCEME (1993), SILVA et a f e t a d a s s it u a m - s e na r e g iã o de I r a u ç u b a ,
al. (1994), GALVÃO (1994), VERAS (1994), SALES Inham uns e Médio Jaguaribe. A propósito destes
( 1 9 9 8 ) , S O U Z A ( 1 9 9 9 ) . A q u i d is c u t i r e m o s resultados, CONTI (1995) registra a coincidência
brevem ente aqueles que mais contribuíram na com os resultados alcançados no seu trabalho. E
análise dos processos de desertificação no semi- aí reside um fato ex p re ssiv o nos e s tu d o s da
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d esertificação no semi-árido, porque, mais do que ambiental do sertão nordestino na perspectiva da


c o in c id ê n c ia , são re su lta d o s co n cre to s com a desertificação. Ao longo das duas últimas décadas
in d ica ção das áreas no estado do Ceará já em diversos pesquisadores contribuíram na formação
pro cesso de desertificação. de um importante acervo sobre os processos de
S A L E S (1998) faz uma re a v a lia çã o do desertificação no nordeste e as conseqüências da
"núcleo de d esertificação " de Gilbués no Piauí e d e g r a d a ç ã o no d e s e n v o lv im e n to da região e
co nsid era a área do ponto de vista climático fora conseqüentem ente na vida da população.
da z o n a s s u s c e p t í v e i s ao f e n ô m e n o . C o m o S egu n d o dados do M inistério do Meio
co n trib uição pragmática elabora o m apeam ento Ambiente, as áreas afetadas pela desertificação
d as unidades de paisagem representativas das na Região Nordeste abrangem cerca de 181.000
diferentes "fácies"d a degradação ambiental local. k m 2 e as perdas econômicas podem chegar a 100
S O U Z A (1 99 9) a p r e s e n ta , a tra v é s do milhões de dólares anuais. São dados preocu­
estudo da desertificação da bacia do rio Taperoá - pantes, sobretudo quando se considera a fragili­
PB uma contribuição metodológica importante para dade econômica e ambiental da região.
o e s t u d o de á re a s d e s e r t if ic a d a s , s o b re t u d o Quanto às metodologias empregadas nos
q u an d o relaciona dados de tendências de precipi­ e s t u d o s de d e s e r t if ic a ç ã o para o N o rd e s te
tação com o nível de degradação de vegetação o b s e rv a -s e , com o em todo o mundo, muitas
nativa e o ritmo de recuperação da mesma. divergências. A dificuldade de compreensão e de
É importante registrar também o surgi­ uma melhor abordagem do problema, parece estar
m ento mais recentemente de uma nova tendência relacionada à inadequação existente entre as
nos estudos de desertificação no nordeste, trata- escalas de trabalho e as metodologias propostas.
se do desenvolvim ento de índices, coeficientes e Aos trabalhos realizados para grandes áreas, em
"s im ila r e s " de desertificação. LEMOS (1997) e âmbito regional, a análise climatológica, como por
R O D R IG U E S & VIANA (1997) apresentam para o e xem p lo tendências, ciclicidade, variabilidade,
N ordeste e Ceará, respectivamente, estudos no índices de aridez e técnicas ligadas ao uso de
qual eleg em a lg u m a s v ariáveis en vo lv id a s no sensoriam en to remoto, tais como medidas de
processo de degradação, com pondo indicadores reflectividade, índice de vegetação, umidade do
que posteriormente submetidos a modelos estatís­ solo, entre outras, parecem ser os que oferecem
ticos de análise fatorial indicam os municípios resultados mais próximos à realidade e compatíveis
a f e t a d o s em d if e r e n t e s i n t e n s i d a d e s p e lo s com a escala proposta.
processos de desertificação. Já os trabalhos desenvolvidos em escala
Há t a m b é m a in ic ia tiv a por parte do local, poderiam ser orientados para a realização
Ministério do Meio Ambiente (MMA), através da de estudos microclimáticos, de degradação de
C o o rd e n a ç ã o do Plano Nacional de Com bate à s o lo s, d in â m ic a de v e g e ta ç ã o , p ro d u ç ã o de
D esertificação e Efeitos da Seca, de orientar e biomassa, uso da terra, estrutura fundiária, densi­
finan cia r a elaboração dos Planos Estaduais de dade de população, produtividade agropecuária,
C om b ate à Desertificação. Nestes, cada estado etc. E s s e s são a p e n a s a lg u n s e x e m p lo s , o
trabalharia no diagnóstico das áreas desertificadas importante é que, reconhecida a especificidade de
e no e n c a m i n h a m e n t o de s o l u ç õ e s p ara a cada área atingida, sejam produzidos diagnósticos
recuperação das áreas já afetadas. mais precisos.
Os trab alhos realizados até agora em
Conclusão e s c a la re g io n a l, m e s m o c o n s id e r a n d o su a s
diferentes metodologias indicam quais as áreas já
A c o n s o lid a ç ã o do c o n c e ito de atingidas pela desertificação nas quais deveriam
d esertificação como a degradação da terra nas ser realizados estudos de detalhe.
regiões áridas, semi-áridas e sub-úm idas secas Finalmente, é importante lembrar que no
r e s u lt a n t e s de v á r io s fa t o r e s , e n tre eles as Nordeste Brasileiro a diversidade dos ambientes
v a ria çõ e s clim áticas e as atividades humanas, n a t u r a i s e d os a r r a n j o s s ó c i o - e c o n ô m i c o s
perm ite que se trate os problem as de degradação
Evolução dos estudos de desertificação no Nordeste Brasileiro, pp. 9-19 17

existentes, requerem para as áreas afetadas pelos


processos de desertificação, estudos in divid u a­
lizados e soluções tam bém diferenciadas.

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Texto aceito em m arço de 2003.

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