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Biogeografia

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SUMÁRIO

PRINCÍPIOS GERAIS DA BIOGEOGRAFIA,


CONCEITOS, TEMAS E PARADIGMAS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
07

INTRODUÇÃO À BIOGEOGRAFIA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07

Biogeografia: conceitos e definições ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07

A biosfera ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 14

Zoogeografia: a geografia dos animais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


19

Fitogeografia: a geografia dos vegetais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


19

Atividades complementares ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 21

FATORES CONDICIONANTES DA VIDA NA BIOSFERA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 22

Fatores Bióticos e Abióticos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 22

Aspectos gerais da vegetação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 27

Principais classificações dos seres vivos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


29

A transformação continua da vida: especiação e extinção ○ ○ 33

Atividades complementares ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 39

A BIOGEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL E


SUAS APLICAÇÕES NO ESTUDO AMBIENTAL ○ ○ ○ 40

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Biogeografia AS GRANDES PAISAGENS TERRESTRES E SEUS
BIOMAS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 40

As regiões Biogeográficas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 40

Os biomas mundiais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 41

Os grandes biomas Brasileiros ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 49

Fitogeografia brasileira ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 51

Atividades complementares ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 63

O PAPEL DA BIOGEOGRAFIA NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 64

O homem e o meio ambiente ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 64

Problemas ambientais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 65

A importância do ensino da biogeografia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 66

Atividades complementares ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 68

Atividade Orientada ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 69

Glossário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 72

Referências Bibliográficas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 74

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Apresentação da Disciplina

Este material didático tem como intuito levar o discente ao entendi-


mento da disciplina Biogeografia, que, segundo alguns autores, representam,
na atualidade, um ponto chave para os debates atuais da sociedade moderna
e sua relação com o meio ambiente. Desta maneira, iniciaremos nossos
estudos biogeográficos através da análise dos conceitos e paradigmas que
envolvem a disciplina. Posteriormente, aprofundaremos a discussão sobre
a distribuição dos seres vivos no planeta, suas causas e conseqüências,
buscando contextualizar essas informações à prática pedagógica em sala
de aula, de modo que os estudos possam ser desenvolvidos, de maneira
prática e agradável, ao longo do curso.

Acredito que, desse modo, vocês estarão sistematizando o conheci-


mento biogeográfico, aprofundando as discussões sobre meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, um dos temas que mais despertam interesse
na atualidade (conservação da biodiversidade), ou seja, da pluralidade das
espécies que vivem num dado ambiente. Esse interesse, até mesmo de
origem política, aponta para a importância do estudo da Biogeografia, um
dos ramos da Geografia Física.

Ao estudar este material vocês estarão em contato com as idéias dos


principias autores, com os conceitos e temas de maior relevância para o
entendimento desta disciplina. Para facilitar a compreensão, elaboramos uma
estrutura de estudo dividida em duas partes. No primeiro bloco aprofunda-
remos aspectos gerais da Biogeografia (conceitos, pensamentos e teorias).
No segundo bloco, partiremos para estudos específicos, procurando
compreender a contextualização dos mesmos com outras disciplinas, como
Climatologia, Hidrografia, etc.

Sejam bem vindos aos estudos da Biogeografia e as suas discussões.

Professor Ricardo Bahia Rios

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Biogeografia

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PRINCÍPIOS GERAIS DA BIOGEOGRAFIA,
CONCEITOS, TEMAS E PARADIGMAS

INTRODUÇÃO À BIOGEOGRAFIA

Biogeografia: Conceitos e Definições

A dispersão irregular dos oceanos e continentes, as diversas formas de relevo, a


variedade climática e as diferentes composições de rochas e solos são alguns dos fatores
que determinam à distribuição dos seres vivos sobre o planeta Terra, (Pereira & Almeida,
2000, 195 p.). Desse modo, o estudo dessa distribuição atual e passada e das condições
desta distribuição, seja da flora ou da fauna, viventes ou fósseis, corresponde ao principal
objetivo dos estudos biogeográficos.
Desse modo, a Biogeografia é a ciência que estuda a espacialização, a expansão e
associação das plantas e dos animais, ou seja, os seres vivos sobre a superfície terrestre.
Abordando, sob diferentes ângulos e aspectos, os assuntos relacionados aos seres vivos,
analisando suas relações entre si e o meio ambiente (KUHLMANN, 1973).
A Biogeografia procura mostrar a evolução dos seres vivos, compreendendo sua
origem e história geológica remota e recente, restrições e limitações impostas pelos fatores
físicos e químicos e a ação deste sobre os próprios grupos vegetais e animais.
É considerada, por uns, como ramo da Biologia e, por outros, como um ramo da
Geografia. O seu campo é muito vasto, entrando em contato com várias ciências, tais como
a Botânica, a Zoologia, a Geologia, a Paleontologia, a Climatologia, entre outras.
Desse modo, podemos concluir que a Biogeografia abrange um rol muito ampliado
do conhecimento, apoiando–se, principalmente, na Biologia e na Geografia.

O que interessa, sobretudo, ao geógrafo, é explicar e conhecer a distribuição dos


seres vivos (fauna e flora), no espaço geográfico, correlacionando essa espacialização
aos fatores ambientais (bióticos e abióticos) e ao próprio homem, responsável pela dinâmica
das modificações espaciais, apresentando assim uma visão mais ampla.
Os biogeógrafos são aqueles que compreendem os diferentes padrões de distribui-
ção dos animais e das plantas. Para tanto, buscam entender seus fatores e suas causas e
como isso aparece refletido no espaço geográfico.
Sendo assim, a Biogeografia constitui num verdadeiro traço de união entre a geogra-
fia física e a geografia humana. Implica no conhecimento não só da distribuição atual das

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plantas e dos animais, mas também das causas e fatores que a presidem, no
tempo e no espaço; e na observação da forma pela qual se processou a
adaptação dos seres vivos ao meio e os indícios dessa acomodação. Como
nada existe isoladamente na natureza, procura-se conhecer as causas que
Biogeografia originaram determinadas associações de espécies, bem como apreciar os
diferentes aspectos sob os quais se apresentam.
Nos estudos biogeográficos alguns temas-conceitos devem ser cla-
ramente explicitados, devido à sua importância para a disciplina e para o
entendimento do assunto, tais como:
1. Ambiente ou meio
Conjunto das forças e condições naturais que operam numa determinada região ou
localidade.
2. Habitat
Parte do ambiente em estreita relação com os organismos que nele vivem; qualquer
lugar do ambiente em que cresce e reproduz-se os seres vivos.
3. Biótopo ou nicho
A menor área caracterizada por um ambiente particular, ou seja, menor unidade de um
habitat.
4. Biocenose
Comunidade de seres vivos que ocupa dado habitat .
5. Substrato
É o ponto do físico do habitat onde está fixado um vegetal qualquer. Ex. substrato
rochoso, aquoso, etc.
6. Comunidade
Indica qualquer grupo organizado (com estrutura definida) de plantas e de animais.
8. Formação
É um grande tipo de vegetação do ponto de vista fisionômico: cerrado, mata atlântica,
floresta equatorial.
9. Biócoro
Meio geográfico onde predominam certas formas biológicas, adaptadas a um conjunto
particular de fatores meteorológicos.

Para refletir!
Qual a importância dos estudos biogeográficos para os dias atuais?

Divisão Clássica da Biogeografia

Tradicionalmente, a Biogeografia é dividida


em dois ramos: a Fitogeografia ou geografia das
plantas e a Zoogeografia ou geografia dos animais.
Quando os estudos são mais voltados para
os vegetais, recebe o nome de Fitogeografia e,
quando voltado para os estudos dos animais, de-
nomina-se Zoogeografia.
É fato que a Fitogeografia recebe maior aten-
ção por parte dos biogeógrafos do que a Zoogeo-

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grafia. Kuhlmann (1977) aponta que isso se deve, provavelmente, ao fato de os vegetais se
destacarem mais nas paisagens terrestres. É tão grande sua importância nas paisagens
que os geógrafos, por vez, estabelecem os limites das grandes regiões naturais segundo
as áreas de ocorrência dos tipos de vegetação.

Evolução da Biogeografia

No século XV, quando começaram as explorações por todo o mundo, os primeiros


naturalistas europeus percorreram as terras recém-descobertas para estudarem sua fauna
e flora. Um deles foi Alexander Humboldt que, no final do século XVII, tinha coletado vários
dados sobre a distribuição das plantas na América.
Outro naturalista importante foi o inglês Charles Darwin, cuja teoria de origem da
vida mudou a visão da época na qual se acreditava que as espécies eram imutáveis, e
produto da criação divina. Depois de suas viagens, Darwin reuniu informações sobre a
distribuição dos organismos. Surpreso pelas semelhanças e diferenças entre as várias
espécies, assim como com os restos fósseis dos organismos que habitaram a Terra,
desenvolveu a “Teoria da Evolução das Espécies”, em 1859. Nessa teoria, Darwin sugeria
que a seleção natural era o principal mecanismo para a troca das espécies através do
tempo. Ao mesmo tempo, Wallace viajou pelo sudeste asiático estudando sua fauna e sua
flora e chegou às mesmas conclusões que Darwin. Assim, foi atribuída a ambos a formulação
da Teoria da Evolução. Além disso, Wallace escreveu em 1876 uns dos primeiros e mais
importantes trabalhos sobre Biogeografia: “A distribuição geográfica dos animais”. Através
de seus trabalhos, Wallace estabeleceu os conceitos básicos da Biogeografia, que ainda
são vigentes. Por esses motivos, Wallace é considerado o pai da Biogeografia.

Níveis de Integração nos Estudos Biogeográficos

Pierre Danserau (1949) aponta que os estudos biogeográficos podem ser realizados
em diferentes níveis de integração (oito níveis), de acordo com o objetivo a ser alçando pelo
pesquisador. Em cada nível, podemos observar que variam:
• As afinidades com outras ciências;
• A natureza das limitações impostas;
• O próprio material estudado;
• O objetivo da pesquisa;
• As conclusões às quais queremos chegar.

Dividindo, então, os estudos em partes correspondentes e integradas entre si, procura-


se conhecer as causas que originaram determinadas associações de espécies, bem como
apreciar os diferentes aspectos sob os quais se apresentam. Procurando atender a todos
esses objetivos é que Dansereau imprimiu na Biogeografia uma perspectiva ecológica,
estabelecendo os denominados planos ou níveis de integração que “representam as várias
limitações que o meio impõe, sucessivamente, aos seres vivos, no tempo e no espaço”.
Tais níveis são os seguintes:

Primeiro Nível – Paleontológico:


Incluem nesse nível as considerações sobre adaptação das plantas e animais,
condicionadas por grandes acontecimentos geológicos (glaciação, transgressão marinha,
movimentos das placas tectônicas, etc.). Nesse nível, é importante verificar a escala
geológica que possibilitou condições novas e mais ou menos favorável à vida. Tem
como finalidade estabelecer a origem das plantas e animais, o seu apogeu e o motivo
do seu desaparecimento.

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Segundo Nível – Paleoecológico:
Permite um estudo mais meticuloso, dentro do período geológico mais
recente. Estuda não só a evolução das espécies, mas também as mudanças
Biogeografia geográficas do clima e da vegetação. Fornece uma idéia do tempo em que
existiu determinado tipo de vegetação num determinado território.

Terceiro Nível – Aerográfico:


Estuda as áreas geográficas de todas as espécies de plantas e animais, suas
unidades paisagísticas, sua origem, suas mudanças e limites e as características dos
territórios florais e faunísticos.

Quarto Nível – Bioclimatológico:


Se no nível Aerográfico procura–se a explicação da distribuição; neste, procura – se
indagar sobre os fatores climatológicos responsáveis pela atual distribuição da luz, da
temperatura, da umidade, etc. Uma das preocupações dos bioclimatologistas é estabelecer
os isófenos, isto é, a linha que une pontos de igual periodicidade biológica: momento de
floração de uma determinada planta, da reprodução de um peixe, etc.
Nesse nível são estudadas as limitações devido aos fatores do clima. A ação desses
fatores (latitudes, distribuição dos continentes, relevo, depressões barométricas, correntes
marinhas) faz-se sentir, principalmente, sobre as plantas, através de seus elementos
(temperatura, precipitações, ventos, etc).
Assim, a latitude, condicionando a temperatura, acarreta a divisão da superfície da
Terra em grandes zonas climáticas (equatorial, tropical, temperada e fria), nas quais o
comportamento biológico é bem diversificado. Cada uma delas, em função também da
umidade, corresponde a diferentes faixas de vegetação. Quando à altitude, introduz
modificações climáticas, também se estabelece um escalonamento (agora vertical) da
vegetação, passando estas faixas a constituir os denominados andares de vegetação.
Latitude e altitude são, assim, os dois fatores que mais influenciam sobre a distribuição das
espécies.

Quinto Nível – Autoecológico:


Este estudo limita–se ao ser individualizado nos vários aspectos do seu ciclo vital:
periodicidade, reprodução, dispersão, reação aos fatores físicos e químicos.
O objetivo desse nível é o estudo do ser vivo individualizado, nos vários aspectos de
seu ciclo vital e em relação ao meio. Todo ser vivo manifesta uma série de exigências e de
tolerâncias. Na tolerância, há a considerar também a duração e a variação do fator.
Exigências e tolerâncias são fatores complementares e contrários, resultando do balanço
entre ambos a melhor ou pior adaptação. Os elementos que possuem poucas exigências e
muita tolerância podem aproveitar melhor os recursos do meio. Para sobreviver, os
organismos têm, pois, de adaptar-se não só aos fatores cósmicos (número de horas de
insolação) e climáticos (regime térmico), como também aos de seu habitat, manifestando,
assim, mais diretamente, sua capacidade de reação e de aproveitamento dos recursos. Os
fatores limitativos impostos pelo habitat podem ser: (1) químicos - quantidade de oxigênio,
teor de cálcio e silício no solo, quantidade de sal, condições de pH etc; (2) físicos-luz (pela
influência sobre a fotossíntese e reprodução, a forma, a germinação e o fototropismo), calor
(tanto pelo excesso como pela deficiência; o frio, por exemplo, exerce grande influência
sobre os seres vivos), a umidade, a pressão (esta mais sobre os animais, pela influência
direta sobre a pressão do sangue); (3) biológicos - (a) vigor (plantas e animais mais vigorosos
transformam, rapidamente, em seu proveito, as possibilidades oferecidas pelo meio); (b)
vitalidade (capacidade de um organismo em cumprir todas as fases de seu ciclo; a esta se

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liga a noção de longevidade); (c) fecundidade; (d) dispersão (pelo vento, água ou animais,
especialmente aves); (e) agilidade (capacidade de locomoção própria de cada organismo).
Da participação dos diversos organismos nos elementos nutritivos do meio ou em
todos os recursos do ambiente, resultam as relações biocenóticas, que são as seguintes:
(1) parasitismo (um dos dois organismos precisa do outro para subsistir); (2) saprofitismo
(sobrevivência sobre matéria orgânica em decomposição); (3) epifitismo (as plantas
aproveitam-se de outras apenas como suporte, sem utilizar-lhes a seiva); (4) simbiose
(associação de duas ou mais espécies com benefício para todas); (5) comensalismo (para
que possam conviver no mesmo habitat, as diferentes espécies têm que possuir exigências
muito vizinhas, porém, complementares); (6) fitofagia (consumação de plantas pelos animais;
alguns manifestam preferências específicas); (7) predação (há animais que se alimentam
de outros).
Nos estudos da auto-ecologia, podem ser utilizados dois métodos: observação direta
(o ser vivo no seu meio natural) e experimentação (controle em laboratório dos fatores que
afetam o comportamento dos indivíduos).

Sexto Nível – Sinecológico:


Procura–se saber como se associam as várias espécies de seres vivos, como utilizam
as possibilidades do meio e como as retribuem: se cada um melhora ou piora as condições
de seu habitat.
Neste nível são estudadas as composições, estruturas e dinâmicas dos ecossistemas
(conjuntos dinâmicos formados pelo habitat e as associações de seres que nele vivem). A
sinecologia estuda, assim, as comunidades biológicas e não o indivíduo isoladamente. Para
melhor compreensão do que significa um habitat, é preciso salientar que dentro de cada
biócoro principal (meio geográfico, onde dominam certas formas biológicas adaptadas a
um conjunto particular de fatores meteorológicos), podem ser encontrados vários habitats,
isto é, locais onde se desenvolvem todas as atividades das espécies. Em cada habitat, por
sua vez, podem existir unidades menores, como as sinusias e os biótopos. As primeiras
constituem as camadas horizontais, de altura definida, apresentadas pela vegetação num
determinado local e que incluem plantas de mesma forma biológica (ex.: sinusia herbácea,
arbustiva, arbórea). Os segundos representam unidades ainda menores que, no interior
das sinusias, apresentam-se com condições de vida ainda mais particulares, obedecendo
à ordem decrescente de grandeza: biociclos (água salgada, água doce e meio terrestre),
biócoros, habitats, sinusias e biótopos. Poucos são os organismos que se acham
exclusivamente restritos a um biótopo; alguns limitam-se a uma sinusia ou, mais freqüen-
temente, a um habitat. Este, geralmente, limita as espécies, havendo, porém algumas que
não se restringem nem aos biócoros, ou, nem mesmo, aos biociclos. O capim gordura
(Melinis minutiflora), por exemplo, pode ser encontrado em mais de um biócoro, enquanto
que o salmão (Salmo salar) vive tanto na água doce quanto na salgada. Quanto mais limitado,
porém, o organismo, tanto melhor indicador será das condições do habitat.

Sétimo Nível – Sociológico:


É o estudo do modo como se associam as espécies, das proporções que guardam
entre si. A composição florística é estabelecida numa base estatística e tem que reconhecer
também a estratificação da vegetação. Analisando a freqüência, a presença, a constância
de todas as espécies.
Além da dinâmica da vegetação, sua composição e estrutura também têm que ser
estudadas, embora pelo aspecto quantitativo pertençam mais ao campo da biologia
(sociologia vegetal) do que ao da geografia. Enquanto o dinamismo é indicado pelo lugar
ocupado pela associação na sucessão (se é subclímax, clímax etc), a estrutura resulta da
forma biológica dos indivíduos. Cada formação tem estrutura própria. Para sua compreensão,

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além da forma biológica, são consideradas a estratificação e a cobertura. A
composição é o conjunto das espécies presentes, cada uma com papel ou
valor de índice próprio. Da análise dos resultados dos levantamentos obtêm-
se dados sobre a abundância, a sociabilização, a freqüência, a presença, a
Biogeografia constância e a fidelidade dos diferentes componentes de uma associação.
Nos estudos de sociologia vegetal, é necessário que as áreas es-
colhidas para amostra sejam bem homogêneas quanto aos seus fatores físicos.

Oitavo nível – Industrial:


Nesse nível de estudo, o termo industrial é empregado no sentido da interpretação
da adaptação do homem ao meio. Como a sociedade utiliza os recursos, com se da a
transformação da paisagem, sua interferência no espaço.
O resultado do impacto de adaptação do homem ao meio compreende seis fases
sucessivas de intensidade crescente: coleta, caça e pesca, pastoreio, agricultura, indústria
e urbanização. Se, da primeira poucas modificações resultam para os elementos do meio,
já a partir da segunda, as alterações se fazem sentir (extermínio do bisão em áreas da
América do Norte, desaparecimento do salmão de muitos rios, etc.). Pelo pastoreio
continuado (a não ser em regiões de pastagens naturais), podem constituir-se áreas de
disclímax, como é o caso dos Alpes (na Europa) e do vale do Paraíba (no Brasil); todavia,
como a ação do pastoreio acha-se quase sempre acrescida pelas queimadas periódicas,
torna-se, muitas vezes, quase impossível determinar o clímax primitivo. Pela agricultura, o
homem não só modifica a área, mas, também, introduz nela novas espécies na vegetação
(plantas domesticadas p.ex.). O estabelecimento de usinas influi, muita vez, na vegetação,
pela fumaça e eliminação de outros vapores ou de poeiras prejudiciais; por outro lado, a
indústria madeireira é responsável pelas alterações na composição das florestas. Final-
mente, para atender aos imperativos da urbanização, é preciso modificar e, freqüentemente,
destruir todo um revestimento vegetal.
Movimentando-se o homem de um ponto para outro da Terra, seu deslocamento é
acompanhado por migrações, tanto de plantas como de animais, fazendo com que deter-
minadas espécies venham a ter uma grande disseminação. Por isso, os deslocamentos
de populações, as guerras, as navegações, etc. tiveram grande papel na disseminação
de ervas daninhas, de pragas (ratos p. ex.), sem falar do transporte premeditado das
plantas cultivadas.
Constitui, pois, objetivo deste nível o estudo da forma pela qual o homem utiliza os
recursos do meio, bem como a maneira pela qual transforma a paisagem até o ponto de,
muitas vezes, estabelecer um novo equilíbrio, diferente do primitivo.
A consideração destes diferentes níveis dá uma idéia do conjunto das ciências
biogeográficas, da variedade das pesquisas e dos diversos métodos a serem empregados
para chegar à conclusão de certa ordem de grandeza (de certeza também) e ao
estabelecimento de unidades mais ou menos padronizadas (DANSEREAU, 1947).

No complexo campo de estudo da Biogeografia podem ser ainda reconhecidas


diferentes direções interdependentes e complementares de compreensão dos fenômenos
biogeográficos, Lemeé (1967) distingue três campos de ação:
1. Corologia – estudo da área geográfica das unidades taxonômicas, tais com
espécies, gênero, família, etc. de sua origem e de suas mudanças dos limites e características
dos territórios florais e faunísticos. É também conhecida com Areografia.
2. Biocenologia – estudo das comunidades de organismos, vista em seus diferentes
aspectos, como organização, composição taxonômica, dinâmica e extensão geográfica.
3. Ecologia – análise das relações dos organismos e de suas comunidades com o
meio exterior.

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Já Furon (1967) aponta para as possibilidades de estudos biogeográficos em três
setores:
1. Biogeografia Estatística – que estuda a repartição das espécies animais e
vegetais atuais e as condições ecológicas desta repartição.
2. Biogeografia Histórica ou Paleobiogeografia – que estuda a repartição e a
ecologia dos seres vivos ao longo dos tempos geológicos.
3. Biogeografia Dinâmica – que estuda as origens da população atual, suas
características geográficas e biológicas.

Você Sabia?
Taxonomia refere-se à classificação das coisas e aos princípios subja-
centes da classificação. Quase tudo - objetos animados, inanimados, lugares
e eventos - pode ser classificado de acordo com algum esquema taxonômico.
Sendo assim, táxon é uma unidade taxonômica, essencialmente
associada a um sistema de classificação. Táxons (ou taxa) podem estar em
qualquer nível de um sistema de classificação: um reino é um táxon, assim
como um gênero é um táxon, assim como uma espécie também é um táxon.
O táxon é o objeto de estudo da Taxonomia, que visa individualizar e
descrever cada táxon, seja de que nível taxonômico for, e da Sistemática,
que visa organizá-los nos diferentes sistemas de classificação.

Geobiocenose ou Ecosistema

O termo geobiocenose foi criado por cientistas da escola russa e equivale ao ecossis-
tema. Apesar de não ser amplamente utilizado, os geógrafos utilizam-se deste termo para
ressaltar o enfoque geográfico – espacial. Geobiocenoses aparece como sendo um sistema
de interações em funcionamento, composto de um ou mais organismos vivos em seus ambi-
entes reais, tanto físicos, como biológico.
Assim, geobiocenose ou ecossistema pode ser definido como um sistema aberto,
integrado por todos os organismos vivos (compreendendo o homem) e os elementos não
viventes de um setor ambiental, definido no tempo e no espaço, cujas propriedades globais
de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem da matéria) e auto-regulação (controle)
derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas
naturais, quanto aos criados ou modificados pelo homem.
Portanto, ele pode ser formado por uma comunidade (conjunto) que possui elementos
físicos (ar, água, solo, rocha, etc.) e elementos vivos (animais e vegetais, dos grandes até
os microscópicos).
Em uma geobiocenoses, os elementos físicos e os elementos vivos estão unidos
numa mesma área, coexistindo num processo de dependência. Por exemplo, em uma flo-
resta, a energia do sol permite que os vegetais vivam. Isto é de importância comprovada
pelo fato de que os animais herbívoros (que se alimentam
exclusivamente de vegetais) morreriam de fome caso não
existissem os vegetais.
Ao longo do litoral brasileiro, encontra-se um ecossis-
tema complexo e importantíssimo para o desenvolvimento
da vida marinha, os manguezais. Ecossistemas específicos
sujeitos a inundação periódica pela ação das marés e sob
regime de variações extremas de salinidade. Devido a isso,

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pode ser considerado como o sistema intermediário entre os ecossistemas
aquáticos e terrestres. Esse ecossistema desempenha um importante papel
como fonte de matéria orgânica responsável pela produtividade primária da
zona costeira, como berçário e abrigo para fauna aquática, como um filtro
Biogeografia natural dos sedimentos, como proteção contra erosão de áreas estuarinas.
Além disso, é uma rica fonte de alimentos para populações que vivem da
pesca nessas áreas.

Conceito de Biosfera

A atuação da Biogeografia se dá na região do planeta denominada biosfera. Segundo


Ramade (1977) “biosfera é a região do planeta que compreende o conjunto de todos os
seres vivos e na qual se faz possível sua existência”. Esta definição procura ressaltar que
partes do planeta como as calotas polares e altas montanhas, não são favoráveis ao
desenvolvimento e sobrevivência de organismos, apesar de esporadicamente ocorrerem,
mas não se estabelecem de forma permanente ou por longos períodos. Portanto, a biosfera
pode ser entendida como uma película que envolve o planeta e é construída por litosfera,
hidrosfera e atmosfera. A espessura desta película é impossível de ser definida, visto que
prospecções petrolíferas encontraram microorganismos em rochas perfuradas à
profundidade de 365m; algumas formas de vida têm sido encontradas em assoalhos
oceânicos com profundidade de 10km; esporos de fungos foram coletados a cerca de 11
km de altitude e a NASA detectou a presença de bactérias a 22 km de altitude.
Sendo assim, torna-se de grande importância o entendimento do conceito da Biosfera,
seu funcionamento e evolução para os estudos biogeograficos.
A noção de Biosfera foi criada há mais de uma centena de anos, em 1875 pelo
geólogo austríaco Edouard Zuss, que utilizou esse termo pela primeira vez, ao se referir aos
compartimentos envoltórios do globo terrestre.
Em 1926, V.I.Vernadsky cientista russo considerou a biosfera como sendo aqueles
estratos da crosta terrestre que tinham estado sob a influência dos organismos vivos por
toda a história geológica. Assim, no estrato superior dos dois compartimentos: na litosfera
e na hidrosfera, estariam situados todos os seres vivos.
Os estudos atuais têm uma definição mais completa da biosfera com sendo, “a união
de todos os espaços onde há vida na Terra que forma uma tênue cobertura de processos
vitais em interação. Essa complexa rede de interdependência se expressa em grande
conjunto de comunidades terrestre e aquática” (Jurandy Ross, 2001).
Também conhecida com esfera da vida, ela é formada pelo conjunto das três esferas
terrestre, responsável pela existência da vida na terra: atmosfera, litosfera e hidrosfera. A
biosfera é a parte da Terra onde se encontram os seres vivos. Ela compreende a superfície
terrestre e a porção inferior da atmosfera e prolonga-se até o fundo dos oceanos.
O conhecimento da biosfera é de fundamental importância para os estudos
biogeográficos, porque nela contém inúmeros ecossistemas (conjunto formado pelos
animais e vegetais em harmonia com os outros elementos naturais).
Incluem-se na biosfera todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o
conceito seja comumente alargado para incluir também os seus habitats, passando a
biosfera a ser tratada como um conjunto de ecossistemas, e englobando assim toda a zona
habitável do planeta. O homem, como ser vivo, faz parte da biosfera, e adapta o seu lar da
maneira que ele precisar, causando reações positivas e negativas.

14
Atenção !
A litosfera (do grego “Lithos” = pedra) é a parte do planeta Terra cons-
tituída por rochas e solo, correspondendo à crosta terrestre. É um dos três
principais grandes ambientes físicos da Terra, ao lado da hidrosfera e da
atmosfera. A litosfera é a camada solida mais externa da Terra.
O termo hidrosfera vem do grego: hidro + esfera = esfera da água.
Compreende todos os rios, lagos e mares e todas as águas subterrâneas,
bem como as águas marinhas e salobras, águas glaciais e lençóis de gelo,
vapor de água; as quais correspondem a 71% de toda a superfície terrestre.
A atmosfera (atmo = gás, vapor) corresponde à camada gasosa sem
cheiro, sem cor e sem gosto, presa a Terra pela força da gravidade.
Vista do espaço, o planeta Terra aparece como uma esfera de coloração
azul brilhante. Esse efeito cromático é produzido pela dispersão da luz solar
sobre a atmosfera, que também existe em outros planetas do sistema solar
que, assim como a Terra, possuem atmosfera.

A Formação da Biosfera

A idade da Terra é calculada em cerca de 4 a 5 bilhões de anos. No decorrer desse


longo período ela foi palco de inúmeras transformações físicas e biológicas, em boa parte,
ainda não esclarecidas. Há aproximadamente 3,5 bilhões de anos surgiram os primeiros
organismos vivos unicelulares (vide tabela Síntese das Eras e Períodos geológicos e
principais ocorrências), a partir desse ponto a vida vegetal e animal, começou a se desen-
volver inicialmente nos fundos dos oceanos.

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Ao longo da era pré–cambriana estudos científicos indicam que os
vulcões estavam em plena atividade; os continentes acabavam de ser
formados, havia muitas tempestades elétricas e a atmosfera não era igual à
de hoje.
Biogeografia Nesse ambiente, com uma atmosfera cheia de gases tóxicos, quase
sem oxigênio e com muito gás carbônico, substâncias químicas não-vivas
organizaram-se nos oceanos primitivos e formaram os primeiros seres vivos.
Essa idéia é a mais aceita pelos cientistas. Mas ainda são muitos discutidos os processos
que explicariam como as substâncias não-vivas conseguiram se organizar para originarem
os primeiros seres vivos.
Ainda na era pré–cambriana, há 2,5 bilhões de anos, ou seja, um bilhão de anos
depois do surgimento dos primeiros seres vivos microscópicos, uma grande mudança
aconteceu no planeta. A quantidade de oxigênio na atmosfera começou a aumentar e, no
mesmo ritmo, a quantidade de gás carbônico começou a diminuir permitindo o surgimento
de organismos mais complexos (pluricelulares).
Os cientistas imaginam que os primeiros seres vivos eram algas microscópicas que
viviam nos mares e que, além de se reproduzir, multiplicando sua população, absorviam
gás carbônico e liberavam oxigênio.
A coisa teria funcionado assim: como cada alga microscópica liberava um pouco
de oxigênio e se reproduzia, depois de algum tempo a população de algas nos antigos
oceanos aumentou muito. Conseqüentemente, mais oxigênio foi liberado e mais gás
carbônico foi consumido.
Em função disso, hoje, o planeta Terra possui uma atmosfera rica em oxigênio e com
pouco gás carbônico, diferente de qualquer outro planeta. Aqui também temos algo que não
existe em nenhum outro planeta conhecido: a vida.
Graças ao conjunto de influências da hidrosfera, atmosfera e litosfera a vida evoluiu,
dentro da quarta esfera: a biosfera. Em todo o processo de formação da terra, houve um
inter-relacionamento entre “esferas”. Isso determinou um equilíbrio no planeta: se ocorrer
alguma alteração nesse conjunto o sistema todo pode ser afetado.
O Homem só vem aparecer no período Quaternário. Houve neste
período a glaciação no hemisfério norte; delineamento dos atuais
continentes; formação das bacias sedimentares recentes.
Desse modo, podemos concluir que, em relação à origem da Terra, o homem é recente,
mas são os principais agentes atuais modificadores da paisagem terrestre. Os seres
humanos, ao promoverem transformação no espaço, cada vez mais colocam em risco o
funcionamento desse sistema natural, gerando assim um desequilíbrio. Em virtude desse
rompimento, as conseqüências para vida animal e vegetal tornam–se mais vulneráveis,
colocando em risco a vida de muitas espécies terrestres.

Você Sabia?
Reservas da Biosfera
São as reservas naturais criadas pelo programa MAB (Man and the
Biosphere) da Unesco. A idéia básica desse programa é a criação de “museus
vivos” do que melhor existe, em termos de natureza, no planeta, como amostras
dos principais ecossistemas de hoje preservados para as gerações futuras.
Nessa categoria estão incluídos ricos cenários naturais como também zonas
ou paisagens típicas, raras ou em perigo de extinção. São, na verdade, reservas
biogenéticas, como, no Brasil, a Mata Atlântica, o Cinturão Verde ao redor de
São Paulo e o Cerrado.

16
Faça uma visita ao site
www.dnpm-pe.gov.br/geologia/escala_de_tempo.htm
e entenda mais sobre as era geológicas.

Meio Ambiente

Várias ciências, desde sua origem, principalmente a Biogeografia, demonstraram


interesse em tratar de perto a temática ambiental, colocando-a como um dos principais
focos de suas preocupações. Também procuraram conceituar meio ambiente considerando-
o somente como o conjunto de organismos – ecossistemas.
A superfície terrestre é representada pela organização de vários sistemas ambientais
que passam por um processo de estruturação e funcionamento, resultante da dinâmica
evolutiva, natural ou humana. Ao longo da história da humanidade, a interação homem e
natureza se mostraram diversificada; a paisagem natural da Terra foi paulatinamente tornando-
se social e cultural. Da “primeira natureza” surgiu a “segundo natureza” – o espaço geográfico.
Por isso, não basta somente considerar o meio ambiente do ponto de vista dos
elementos físicos e bióticos, mas também é necessário incluir a sociedade como um sistema
a sofrer e a promover modificações em outros sistemas.
Assim, as mudanças que ocorrem nos sistemas ambientais físicos, que alteram suas
características, irão refletir direta ou indiretamente na vivência das comunidades humanas.

Biodiversidade

Como o próprio nome sugere, são as diversas formas de manifestação da vida,


(plantas, animais, homens) e todas as relações de interdependência e encadeamento que
se estabelecem entre eles.
Biodiversidade ou diversidade biológica refere-se à variedade de vida no planeta
Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de
espécies da flora, da fauna e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas
desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades,
hábitats e ecossistemas formados pelos organismos. Biodiversidade refere-se tanto ao
número (riqueza) de diferentes categorias biológicas quanto à abundância relativa dessa
categoria incluindo a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos,
e seus componentes.

A biodiversidade corresponde a uma das propriedades fundamentais da natureza,


responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas, e fonte de imenso potencial
de uso econômico. Ela é a base das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais
e, também, a base para a estratégia industrial da biotecnologia. As funções ecológicas
desempenhadas pela biodiversidade são ainda pouco compreendidas, muito embora se
considere que ela seja responsável pelos processos naturais e produtos fornecidos pelos
ecossistemas e espécies que sustentam outras formas de vida e modificam a biosfera,,
tornando-a apropriada e segura para a vida. A diversidade biológica possui, além de seu
valor intrínseco, valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural,
recreativo e estético. Com tamanha importância, é preciso evitar a perda da biodiversidade.

17
Diversidade é uma fonte potencial de imensas riquezas materiais ainda
não exploradas, sejam sob a forma de alimentos, medicamentos ou bem-
estar. A fauna e a flora também são partes do patrimônio de uma nação, produto
de milhões de anos de evolução concentrada naquele local e momento e,
Biogeografia portanto, tão merecedora da atenção nacional quanto às particularidades da
língua e da cultura.
A conservação da biodiversidade é hoje discutida por cientistas, políticos
e simpatizantes da questão ambiental, como forma de assegurar o uso, pelo ser humano,
dos benefícios atuais e futuros deste recurso, como os produtos farmacêuticos e industriais.

Ecologia

Ecologia é o estudo das interações dos seres vivos entre si e com o meio ambiente.
A palavra e o conceito foram iniciados em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel
da palavra grega “oikos”, que significa “casa”, e “logos”, que significa “estudo”.
Para os ecólogos, o meio ambiente inclui não só os fatores abióticos como o clima e
a geologia, mas também os seres vivos que habitam uma determinada comunidade ou
biótopo.
O conjunto dos seres vivos e não-vivos que habitam um determinado espaço geográ-
fico chama-se ecossistema. O conjunto dos ecossistemas da Terra é conhecido por biosfera.
O meio ambiente afeta os seres vivos não só pelo espaço necessário à sua
sobrevivência e reprodução — levando, por vezes, ao territorialismo — mas também às
suas funções vitais, incluindo o seu comportamento (estudado pela etologia, que também
analisa a evolução dos comportamentos), através do metabolismo. Por essa razão, o meio
ambiente — a sua qualidade — determina o número de indivíduos e de espécies que podem
viver no mesmo habitat.
Por outro lado, os seres vivos também alteram permanentemente o meio ambiente
em que vivem. O exemplo mais dramático é a construção dos recifes de coral por minúsculos
invertebrados, os pólipos coralinos.
As relações entre os diversos seres vivos existentes num ecossistema incluem a
competição pelo espaço, pelo alimento ou por parceiros para a reprodução, a predação
de uns organismos por outros, a simbiose entre diferentes espécies que cooperam para
a sua mútua sobrevivência, o comensalismo, o parasitismo e outras (ver a página
Relações Ecológicas).
Da evolução destes conceitos e da verificação das alterações de vários ecossis-
temas — principalmente a sua degradação — pelo homem, levou ao conceito da ‘Ecologia
Humana’, que estuda as relações entre o Homem e a Biosfera, principalmente do ponto
de vista da manutenção da sua saúde, não só física, mas também social.
Por outro lado, apareceram também os conceitos de conservação e de conservacio-
nismo que se impuseram na atuação dos governos, através das ações de regulamentação
do uso do ambiente natural e das suas espécies, através de várias organizações ambien-
talistas que promovem a disseminação do conhecimento sobre estas interações entre o
Homem e a Biosfera.
A ecologia está ligada a muitas áreas do conhecimento, dentre elas a economia,
biologia, geografia entre outras. Nosso modelo de desenvolvimento econômico se baseia
no capitalismo, que promove a produção de bens de consumo cada vez mais caros e
sofisticados e isso esbarra na ecologia, pois não pode haver uma produção ilimitada desses
bens de consumo na biosfera finita e limitada.

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Zoogeografia: A Geografia dos Animais

Zoogeografia é a parte da Biogeografia que se dedica aos estudos relacionados à


distribuição dos animais, e suas características atuais e passadas, sobre a superfície
terrestre, preocupando – se em estudar sua origem, distribuição, adaptação e suas
associações.
Além de mapear a distribuição atual das espécies animais, os zoogeógrafos formulam
teorias para explicar essa distribuição, baseados em informações sobre geografia,
fisiografia, clima e história geológica, assim como o conhecimento da história evolutiva dos
animais e as relações entre eles.
Kuhlmann aponta que os estudos zoogeográficos recebem pouca atenção por parte
dos geógrafos, isso se dá pela pequena influência exercida pelos animais nas paisa-
gens terrestres.
O interesse dos estudos zoogeográficos depende, em grande parte da influência
direta que os animais exercem sobre as atividades humanas.
A participação dos animais, entretanto, deve se considerada, tanto na forma direta
com indireta. Das primeiras são exemplos as “cidades de terminais” ou cupins em nossas
áreas campestres e os enormes amontoados de formigueiros. Em maior número podem
ser citadas as moscas, os mosquitos, o barbeiro e outros vetores, responsáveis em grande
parte pela proliferação de algumas enfermidades em diversas áreas do globo. A existência
de animais de pele preciosa na tundra e nas florestas tropicais e temperadas condicionou
uma economia tipicamente baseada na caça. Estes exemplos citados indicam a importância
da zoogeografia no estudo das paisagens.
Entre os animais, a tolerância às condições do meio varia muito. Alguns podem
sobreviver em diversos tipos de hábitats, enquanto outros morrem quando são retirados de
seu entorno natural. Com exceção do homem, nenhum animal é capaz de sofrer grandes
modificações e ainda ser capaz de sobreviver num meio totalmente estranho, a não ser que
as mudanças aconteçam ao longo de muitas gerações e adaptações. As interações
específicas dos animais com seu meio são estudadas pela Ecologia. Os zoógrafos estudam
a distribuição da vida animal, utilizando princípios ecológicos para explicar os modelos
desta distribuição.
Os hábitats dos animais podem ser classificados de forma simples em aquáticos
ou terrestres. As aves se incluem em hábitat aquático ou terrestre em função do lugar para
onde finalmente regressam. A distribuição dos animais aquáticos subdivide-se em hábitats
de água salgada e de água doce.
As terras emersas classificam-se em seis regiões zoogeográficas, cada uma das
quais com sua fauna característica. Dentro destas regiões, os animais agrupam-se de acordo
com os hábitats que ocupam. A preferência de um animal por certo hábitat depende de
muitos fatores, como alimento e proteção natural contra os predadores.

Fitogeografia: A Geografia dos Vegetais

O estudo dos fatores que influem na distribuição dos vegetais é denominado de


estudo fitogeográfico. Essa disciplina é centrada no estudo de como se determina a
distribuição das espécies individuais, a representação dos dados obtidos em mapas que
mostram o território natural de cada planta e a ilustração ou compilação das espécies e
associações botânicas próprias de uma determinada região.
A Fitogeografia denomina-se também de geobotânica, de geografia botânica e de
geografia das plantas. É integrada por um conjunto de disciplinas que inclui a taxoomia e
relaciona-se com outros setores do conhecimento com morfologia, a climatologia e a

19
ecologia. Até o início do século XIX só se estudavam as plantas do ponto de
vista estreitamente botânico. Como os trabalhos de Alexander von Humboldt
começou-se a correlacioná-las ao meio ambiente e a determinar as causas
de sua distribuição no espaço e sua evolução.
Biogeografia A distribuição das plantas sobre a Terra e as causas que levam a tal
distribuição, corresponde ao objeto de estudo da Fitogeografia, um troco dos
estudos biogeográficos. Do ponto de vista acadêmico a Fitogeografia é um
conjunto de disciplinas botânicas que constituem uma seqüência natural, e qual toma como
ponto de partida o conhecimento prévio de outras ciências, dentre as quais cita-se a
Climatologia e a Pedologia (RIZZINI, 1976).

Dentro dessa óptica, os estudos fitogeográficos compreendem o estudo de:


1. Ambiente – ou a soma das forças da natureza circunjacente que atuam sobre os
seres vivos; esta parte toma o nome de Ecologia;
2. Vegetação – ou conjunto dos vegetais que existem em um determinado local;
3. Flora – ou conjunto das entidades taxionômicas (classificação dos vegetais) que
ocorrem em certa região, cuja distribuição e áreas constituem objeto da Fitogeografia.

Nos estudos fitogeográficos é muito comum ocorrer confusões dos termos flora com
vegetação, muitas vezes esses termos são utilizados como sinônimos. Rizzini (1976, p.5)
aponta para a diferenciação dos termos:
“Vegetação diz respeito aos vegetais em si, concretamente, que se podem tocar
manusear com as mãos; flora refere-se às famílias, gêneros e espécies (principalmente a
estas), abstratamente, que compõem cada vegetação.”
A vegetação é constituída pelas formas visíveis que constituem a cobertura vegetal
de certa região, resultantes de causas atuais: clima, solo e fauna. Já a flora é constituída,
sobretudo, das espécies localizadas no mesmo local, resultante das causas pretéritas como
alterações climáticas, migrações, modificações pedológicas, mudanças faunísticas e
acidentes geográficos, ou seja, a flora é o resultado da adaptação de certas espécies em
determinados ambientes terrestres ao logo de sua evolução.
As plantas são organismos que correspondem ao quadro vivo que compõe a
cobertura vegetal, nos quais os processos fundamentais (como divisão celular e síntese de
proteínas, por exemplo) podem ser estudados, sem o dilema ético destes estudos em animais
ou humanos. As leis de herança genética foram descobertas desta maneira por Gregor
Mendel que estava estudando a maneira pela qual a forma das ervilhas era herdada. O que
Mendel aprendeu estudando plantas teve um alcance muito além da botânica.

Atenção !
Botânica é o estudo científico da vida das plantas, fungos e algas.
Como um campo da biologia, é também muitas vezes referenciado como
a Ciência das Plantas ou Biologia Vegetal. A Botânica abrange um conjunto
de disciplinas científicas que estudam crescimento, reprodução, metabo-
lismo, desenvolvimento, doenças e evolução da vida das plantas.

Os fatores mais importantes que determinam à distribuição das espécies vegetais


são a geologia, a ecologia, o clima e a capacidade de dispersão dos órgãos reprodutores
de cada planta.

20
Atenção !
A paleobotânica ou estudo das plantas fósseis tem contribuído
muito para o conhecimento geral da evolução dos grandes grupos
vegetais e, em especial, para a compreensão das relações existentes entre
as classes de plantas com sementes.

Atividades
Complementares
1. No primeiro tema estudamos os principais conceitos e variáveis ligados à Biogeo-
grafia e vimos que ela constitui numa disciplina de abordagem ampla para a Geografia
Física. Desse modo, qual a importância dos estudos biogeográficos para a sociedade atual?

2. Observamos que os estudos biogeográficos podem desenvolver-se sobre duas


divisões clássicas, a depender do objeto a ser estudado (Fitogeografia e Zoogeografia).
Com base nessa afirmação, caracterize essas duas subdivisões clássicas da Biogeografia
e justifique o fato de uma delas atrair maior interesse por parte dos geógrafos.

3. Diferencie geobiocenose de ecossistema.

4. Diferencie biodiversidade de meio ambiente.

5. De que forma a expansão urbana impactua sobre a fitogeografia e a zoogeografia


de determinada área? Exemplifique.

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Biogeografia

FATORES CONDICIONANTES DA VIDA NA BIOSFERA

Fatores Bióticos E Abióticos

A natureza é uma totalidade onde todos dependem de todos. Essa totalidade resulta
de certas combinações e das condições necessárias para que as espécies obtenham
energia e participem das interações biológicas em seu nicho.
Em Biogeografia, o conceito de nicho é considerado em duas dimensões: o nicho
fundamental, que é a área total onde se encontram as condições do meio físico necessárias
para a existência da espécie, e o nicho realizado, que é a parte do nicho fundamental ocupada
realmente pela espécie, que ali fica de certa forma confinada devido a interações competitivas
ou para livrar-se da predação por outras espécies.
As espécies têm seu nicho definido por um complexo conjunto de fatores físicos e
biológicos. As necessidades de água, calor, nutrientes e solo parecem limitar a distribuição
de muitas espécies. A existência de certos tipos de insetos polinizadores ou aves e morce-
gos como dispersores de sementes também influi na distribuição. Não é intenção discutir
aqui todos os fatores que influem na atual organização da biosfera, mas mostrar os aspectos
fundamentais de algumas de suas interações.
Os organismos estão programados geneticamente para sobreviver num conjunto de
condições ambientais que têm certos limites de tolerância. A maior parte do conhecimento
dos limites de cada espécie foi obtida por meio de experimentos de laboratório feitos, prin-
cipalmente, com espécies de valor econômico na agricultura, na pecuária, na pesca etc.
A maior parte das plantas utilizadas na agricultura foi hibridizada para obter formas
que se adaptem às diferentes condições climáticas do planeta. Quando isto não é possível,
o sistema agrícola maneja as condições naturais, criando situações artificiais que simulem
as características do meio ótimo para uma determinada planta ou animal. Assim, a agricultura
irrigada, a calagem, a adubação, as estufas nada mais são que alterações do meio para se
chegar às condições que estejam dentro do intervalo de tolerância da espécie e, se possível,
nas condições ótimas para o seu melhor desempenho.
Os organismos podem apresentar um intervalo de tolerância variável para diferentes
fatores, como, por exemplo, água e temperatura. Numa determinada condição um organis-
mo pode suportar melhor a escassez de água, mas ser pouco tolerante a mudanças térmicas.
Um animal de deserto, por exemplo. Há espécies com limites de tolerância amplos que
ocorrem em várias regiões do globo, como, por exemplo, os pardais, que foram introduzidos
em diversas regiões do mundo. Essas espécies, provavelmente, têm largas faixas de
tolerância para diversos fatores, como luz, água, solos, temperatura etc.
Outro aspecto curioso da ação sempre combinada dos fatores é a influência recíproca
entre os fatores. A água, por exemplo, é um fator que está relacionado com os nutrientes
solúveis; portanto, se as condições hídricas não forem favoráveis, isso irá influir também
nos nutrientes solúveis.

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Na natureza as espécies muitas vezes estão vivendo numa área onde as condições
não são ótimas, mas estão sempre dentro do seu intervalo de tole-rância. É possível encontrar
para uma mesma espécie diferentes biótipos. Há, também, limites de tolerância diferentes
para uma mesma espécie, conforme seu estágio de desenvolvimento. Sementes, ovos,
embriões, plântulas e larvas, em geral, possuem tolerância mais estreita do que as formas
adultas correspondentes em fase não-reprodutiva.
Os intervalos de tolerância compreendem uma faixa de condições que inclui o estado
ótimo e uma série de situações intermediárias até os limites. A condição real de sobrevivên-
cia de uma população nem sempre está no intervalo ótimo. Quando nos propomos manejar
um ambiente e suas comunidades biológicas, é preciso estar atentos para não ultrapassar
os limites que inviabilizam a sobrevivência dessas comunidades no ecossistema.

Exemplo:
Estudo sobre o peixe tambaqui, na região amazônica, é um bom exemplo das altera-
ções que sofrem os seres vivos, resultantes de transformações do ecossistema em que
vivem. A fauna de peixes amazônicos é talvez a mais diversificada do mundo, possuindo
cerca de 2 mil espécies conhecidas. Evolutivamente, os peixes estão adaptados ao complexo
aquático amazônico, formado por rios, lagos, lagunas temporárias, canais naturais (furos),
e aos diferentes tipos bioquímicos de águas (pretas, brancas e cristalinas). Os peixes vivem
harmoniosamente com as variações diárias e sazonais do volume de águas e, conseqüen-
temente, dos nutrientes e, sobretudo, da alternância da concentração de oxigênio. Estudos
recentes têm demonstrado que as frações de hemoglobina (pigmento que captura o O2 na
brânquia, transporta o oxigênio no sangue e troca-o pelo CO2 nos tecidos) desses peixes
possuem propriedades funcionais auto-reguláveis que criam condições para que os peixes
acompanhem as flutuações de O2 no meio.
No período de seca a concentração de oxigênio é baixa e os peixes têm estratégias
para capturar gás por vias extrabranquiais, além de possuírem capacidade de trabalho
muscular em anaerobiose. O tambaqui, um peixe muito apreciado pelas populações ribeiri-
nhas e de valor econômico, através de um processo bioquímico consegue fazer com que o
músculo cardíaco funcione por metabolismo anaeróbico. Em situações de baixa concen-
tração de O2 o tambaqui aumenta sua tolerância através desse metabolismo alternativo.
O exemplo do tambaqui mostra que os organismos estão adaptados ao ambiente
que influi na sua composição físico-química, reduzindo os efeitos-limitantes do meio à sua
sobrevivência.
As populações de distribuição ampla na biosfera são as que mais praticam a compen-
sação de fatores para sobreviver nas condições que não são as melhores para o seu ponto
ótimo de desenvolvimento. Essa adaptação pode aparecer sob a forma de ajuste fisiológico
e se expressa muitas vezes na morfologia (ecótipos). Para alguns autores os ecótipos nada
mais são do que espécies irmãs, para outros as modificações genéticas não atingiram a
diferenciação suficiente para separá-los em espécies distintas. Neste caso, aceitam-se
esses ecótipos como variedades ou raças.

Condicionantes Físico-químicos na Distribuição dos Seres Vivos

A distribuição dos seres vivos sobre a Terra é condicionada por um conjunto de fatores,
sendo assim constitui-se num equívoco pensar que um único fator, sozinho, possa limitar o
crescimento de uma população. A idéia de fator único tem origem nas aplicações experi-
mentais da agricultura. Na ecologia, os fatores são multi-interativos e há necessidade de
compreender como isto se dá empiricamente. Além disso, é preciso acompanhar os orga-
nismos no seu ciclo de vida, para melhor compreender suas interações com o ambiente.

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Há evidências de que o estresse tem um papel fundamental na definição
dos limites de distribuição. Por exemplo, muitas alterações ambientais pro-
duzidas pela sociedade industrial não eliminaram os organismos dos ecos-
sistemas, mas estes sobrevivem sob estresse e, em muitos casos, são mais
Biogeografia suscetíveis a doenças e morte prematura ou são menos produtivos.
Os fatores de maior importância para a vida dos organismos são a luz,
a temperatura, a umidade, os gases atmosféricos, os sais biogênicos (nutri-
entes), o solo e as correntes oceânicas e atmosféricas.
No ambiente terrestre, a luz, a temperatura, a água e os solos são fatores reguladores
de maior importância na distribuição dos seres vivos. No mar, a salinidade é um fator
importante devido à natureza hipossalina dos tecidos biológicos dos organismos. Na água
doce, o oxigênio nela dissolvido é um fator regulador.

A Luz (Radiação Luminosa)

A luz é a fonte primária de energia para os ecossistemas. A energia luminosa recebida


do Sol se distribui em intensidades desiguais pela superfície terrestre, conforme as latitudes.
As diferenças de intensidade da luz do Sol que incide sobre as diversas regiões da Terra
são responsáveis indiretas pelos tipos de clima, controlando as temperaturas atmosféricas,
que por sua vez influenciam as variações de pressão, os sistemas de ventos, as precipi-
tações, as correntes oceânicas etc. Os ecossistemas atuais não existiriam na ausência da
luz do Sol, que é constituída por vários comprimentos de onda. Algumas partes ou faixas de
comprimento dessa luz devem ser filtradas, pois são prejudiciais à maioria dos organismos;
é o caso da radiação ultravioleta. A domesticação da radiação solar desenvolveu-se ao
longo da história biológica com a participação dos seres vivos, que modificaram a química
da atmosfera, criando barreiras para os comprimentos de onda letais.
Os comprimentos de onda que atravessam a atmosfera estão na faixa de 0,3 a 10
micrômetros. Os animais respondem fisiológica e comportamentalmente a essa faixa. Para
o olho humano, a faixa visível está entre 0,36 e 0,76 micrômetro. A qualidade da luz (com-
primento de onda-cor) e a quantidade (calor-energia) são importantes fatores adaptativos.
O processo de captura da energia luminosa pelos seres vivos é a fotossíntese, que
funciona com intensidades de luz tanto altas quanto baixas. A fotossíntese se realiza em
todas as latitudes, em diferentes estações do ano, em diferentes altitudes, e quanto maior a
disponibilidade de luz, tanto melhor a condição para que as plantas realizem a conversão
da energia luminosa em biomassa.
A luz influencia a atividade diária e sazonal de plantas e animais e participa na definição
dos ritmos biológicos. Estes, apesar de não resultarem apenas desse fator, têm uma relação
estreita com a quantidade e a qualidade da energia luminosa. A periodicidade é uma espécie
de programação à qual a atividade biológica está adaptada. No caso da luz, a quantidade
de energia é variável, pois depende da região (latitude) ou da época do ano (estações). A
quantidade diária de luz regula a atividade fotossintética. Nos animais a troca de penas ou
de pêlos, a migração ou a reprodução podem estar indiretamente associadas ao número
de horas de luz. Essa regulação é quase sempre indireta, pois a luz é ativadora de processos
associados à temperatura, à umidade, etc.

Energia Solar e Temperatura

Ao penetrar na atmosfera a energia solar aquece o ar, particularmente o vapor de água,


mas a maior parte da energia alcança a superfície da Terra, aquecendo-a também. Essa superfície
não é plana, nem homogênea, pois os solos, as rochas e as plantas absorvem diferentemente
essa energia. Uma parte dela é convertida em calor, que é remetido para a atmosfera.

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Os oceanos e outros ambientes aquáticos absorvem a maior parte da energia que
chega à superfície. A produção de calor na água, no entanto, atinge somente as camadas
mais superficiais. As florestas, comparadas ao solo nu, também absorvem muita energia e
emitem menos calor.
A maior incidência de energia sobre uma superfície ocorre quando os raios luminosos
estão em posição perpendicular à mesma. No equador e nos trópicos (estes, nos solstícios
de verão), os raios luminosos atingem essa posição. Quando isso ocorre, a camada de ar
que está entre o Sol e a superfície é menor nessas regiões, ou seja, os raios solares percor-
rem uma distância menor, portanto as perdas de energia são menores. Esse fato explica
por que as temperaturas nos trópicos são mais altas do que nos pólos. Em relação ao
ângulo de incidência, uma montanha do hemisfério sul é mais fria na face sul do que na face
norte, pois durante a trajetória solar a face norte é a mais exposta à luz solar. No hemisfério
norte ocorre o contrário.
As estações do ano têm regimes térmicos resultantes das
diferenças de duração dos dias e das noites e da distância do
Sol. A única região do globo cujos ecossistemas recebem doze
horas de luz/dia o ano todo é o equador, mas a cobertura de nuvens
é maior e em virtude disso a quantidade de luz direta que a biota
recebe é menor do que nas regiões subtropicais, onde há menor
cobertura de nuvens. A biota do círculo polar ártico e antártico conta
com um dia no ano com luz durante 24 horas e um dia comple-
tamente escuro. Os demais dias situam-se gradativamente dentro
desses dois extremos.

Nas regiões de altitudes elevadas a intensidade luminosa é elevada, mas a tempera-


tura é baixa devido à menor densidade do ar e à diminuição da pressão atmosférica. Assim,
numa mesma latitude podem coexistir florestas tropicais úmidas e quentes e uma montanha
nevada, como o pico da Neblina, na Amazônia, a isto chamamos de escalonamento vertical.

A temperatura limita a distribuição de muitas espécies de plantas e influi também no


rendimento da fotossíntese, limitando o seu funcionamento. As baixas temperaturas associa-
das a outras condições, como a disponibilidade de água e a química dos solos, são fatores
limitantes para inúmeras es-pécies. Nas baixas temperaturas, as plantas têm dificuldades
para capturar água do solo com suas raízes. Nas altas temperaturas, as plantas têm que
controlar as perdas por evapotranspiração para a atmosfera, conforme a disponibilidade
da água nos solos. A transpiração nas plantas funciona como uma compensação contra o
aquecimento dos tecidos. Os animais possuem inúmeras estratégias comportamentais para
suportar temperaturas excessivamente baixas ou elevadas.

25
Água

A água está em toda parte. É essencial para todas as formas de vida.


Basta dizer que sem a água não existiriam processos vitais como a fotossíntese
Biogeografia e a respiração.
A água é também um ambiente. Os oceanos representam 71% da
superfície terrestre e são, em sua maior parte, lócus da produção de umidade
para a atmosfera. Neles, a maior parte do oxigênio dissolvido é produzida
pela atividade fotosintética do Fitoplâncton.
A água participa da maioria das reações metabólicas e é um fator limitante para os
organismos terrestres. Estes têm que desenvolver estratégias para obtê-la, utilizá-la de forma
eficiente e não sofrer perdas desnecessárias. Nos ambientes aquáticos cujo volume de
água é muito variável, ou onde a salinidade é muito elevada, os organismos têm que
desenvolver estratégias para evitar a perda de líquidos corporais. Nos ambientes terrestres,
a água é distribuída pelas chuvas. Estas dependem da circulação atmosférica e de outros
fatores, como a cobertura vegetal e o relevo.
A umidade distribuída pelas chuvas varia de região para região. Há totais de chuva
muito semelhantes entre várias regiões, mas com distribuição distinta ao longo do ano. O
ritmo das chuvas pode ser sazonal, e nos trópicos muitos organismos têm seu ciclo de vida
condicionado pelos ciclos de pluviosidade. Para as plantas, o balanço entre as precipita-
ções e a evapotranspiração é que vai determinar o tipo de comunidade biológica de uma
certa região. A umidade é especialmente importante na regulação da temperatura. A evapo-
ração da água é um recurso para o resfriamento das folhas, ajudando a manter condições
favoráveis para a ciclagem dos nutrientes. A água é também o veículo de transporte dos
nutrientes no solo, através dos poros e de atividades biológicas.

O Solo

O solo está repleto de vida. Ao pisar no solo de uma floresta, estamos caminhando
sobre milhares de animais que participam da decomposição da floresta, sendo responsáveis
pelo processo de reciclagem dos nutrientes. Esse suporte, que reúne materiais inorgânicos
e orgânicos, determina o desenvolvimento das comunidades biológicas. Os solos se
enriquecem com a vida que se desenvolve sobre eles. Os organismos vivos e as quantidades
variadas de água, por exemplo, criam uma espécie de laboratório bioquímico co-responsável
pela composição mineralógica e fertilidade dos solos.
Os solos são formados por um pacote de materiais originados da transformação da
rocha-mãe e dos materiais transportados pela ação da gravidade. A capa superior desse
pacote, chamada primeiro horizonte, contém uma camada denominada húmus. O húmus é
o produto da decomposição orgânica responsável pela fertilidade do solo. Uma camada
humífera de 30 cm pode levar até cinqüenta anos para se desenvolver. Os processos de
gênese do solo são lentos em todas as camadas do pacote. “A partir da rocha-mãe, 1 cm
de solo leva 100 mil anos para se formar; comparando-se a uma página de livro de 30 cm
de altura, o tempo equivaleria a 3 milhões de anos.”
Os solos estão co-adaptados aos ecossistemas naturais para suas necessidades,
porque a evolução de ambos foi conjunta. Assim, quando falamos em solos muito ácidos e
impróprios, estamo-nos referindo à sua utilização agrícola (camada edáfica), pois as plantas
nativas desses solos estão adaptadas à sua acidez e outras características. Um solo com
altos teores de alguns elementos — por exemplo, o cálcio — seleciona plantas que se
adaptam bem a essas condições nutricionais. Os solos e as plantas formam uma unidade
ajustada de intercâmbio de materiais. O solo é um ambiente poroso onde circulam a água

26
e os gases. Por esta razão, pode-se falar em atmosfera no solo. Essa atmosfera é muito
diferente da atmosfera do ambiente aéreo. Nela não há luz, nem fotossíntese, predominando
os processos de respiração ou oxidação. Como conseqüência, os solos possuem menos
oxigênio e muito mais CO2. O clima no interior do solo tem temperaturas mais constantes.
Os materiais são formados por ingredientes orgânicos e inorgânicos cuja quantidade,
tamanho das partículas e composição química dos fragmentos minerais dependem do tipo
de rocha onde se originaram e da intensidade do intemperismo a que está sujeito. A
decomposição do solo é uma função do clima e da atividade biológica.
A capacidade nutricional de um solo é fundamental para o desenvolvimento das
comunidades biológicas. As propriedades físicas e químicas da fração mineral dos solos
são profundamente influenciadas pela presença de matéria orgânica. Essa matéria orgânica
consiste na acumulação de tecidos de plantas e animais em vários estágios de decom-
posição. A maior contribuição vem das plantas e dos agentes de decomposição formados
por fungos e bactérias (o grupo mais numeroso entre os elementos da fauna que decompõem
o solo). A decomposição tem vários estágios, cujo produto final é a camada marrom-escura,
que recebe o nome de húmus. Sob condições constantes de altas temperaturas e umidade,
as plantas crescem rapidamente e a taxa de decomposição orgânica é correspondente-
mente intensa e rápida, como em solos tropicais.

Para refletir!
O solo não é apenas um substrato para o desenvolvimento da biosfera.
O solo é um dos determinantes das características da biosfera e é modificado
por elas, através dos processos interativos que mantém com os seres vivos.
O solo é onde estes estão ancorados e o elo de transferência do alimento e
da água para as plantas, fechando o ciclo por onde flui a energia. Os solos
se desenvolvem a partir de uma matriz rochosa que, por ação do clima, dos
seres vivos e da força da gravidade, se diversifica em muitos tipos. Estes se
formam por processos lentos e são agrupados pelos especialistas conforme
uma série de atributos genéticos. Essa lentidão é tal que 2,5 cm de solo pode
levar de cem a 2 mil anos para se formar. Esse tempo pode ser ainda maior
conforme o tipo de solo. Uma das preocupações ambientais importantes da
atualidade é a velocidade com que perdemos solo pela sua utilização
predatória. Estima-se que por erosão os mesmos 2,5 cm de solo citados acima
são destruídos em menos de dez anos.

Aspectos Gerais Da Vegetação

A notoriedade classificativa de um determinado vegetal perpassa por uma análise


sistemática dos atributos superficiais dos corpos destas estruturas. A seguir, visualizaremos
um modelo de classificação de cunho didático, experimentado pelas diversas escolas
biogeográficas mundiais.
Podemos realizar uma classificação a partir dos seguintes critérios:

Quanto à Folhagem:

Vegetação Latifoliada: caracteriza-se por apresentar folhas grandes e largas. Predomina


nos ambientes de clima quente e chuvoso. Possuem maior facilidade para funções
fotossintéticas e de transpiração.

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Vegetação Aciculifoliada: é identificada por apresentar folhas pontiagudas,
em forma de agulha. Torna-se menor, neste caso, a superfície de trans-
piração. Este tipo de vegetal é muito comum nas vegetações de coníferas,
como o pinheiro, por exemplo.
Biogeografia
Quanto à Umidade

Vegetação Hidrófila: vive na água por pelo menos durante parte do ano.
Vegetação Higrófila: aparece nas regiões de muita umidade, como é o caso da Amazônia.
A exemplo da Bananeira.
Vegetação Tropófila: domina nos ambientes de média umidade, onde normalmente existe
uma estação chuvosa e outra seca.
Vegetação Xerófila: é própria dos ambientes com pouca umidade, a exemplo da Caatinga
e dos desertos. Possui pequena superfície de transpiração.

Quanto ao Porte
Vegetação Arbórea: apresenta grande tamanho, como é o exemplo das florestas.
Vegetação Arbustiva: possui médio porte, caracterizando muito as savanas.
Vegetação Herbácea: muito encontrada na área de climas temperados, é identificada
pela ausência de vegetais arbóreos. Possui, desse modo, um porte diminuto.

Quanto ao Aspecto
Vegetação Fechada: mantêm-se com vegetais muitos próximos uns dos outros, apresen-
tando uma feição densa (densidade vegetal). Dificulta, por conseguinte, à penetração
do homem e sua exploração econômica.
Vegetação Aberta: é aquele cujos vegetais aparecem dispersos, afastados uns dos outros.

Quanto à Variedade dos Vegetais


Vegetação Homóclita ou Homogênea; caracteriza-se por apresentar pouca variedade
de espécies.
Vegetação Heteróclita ou Heterogênea: é rica em espécies de vegetais, a exemplo das
florestas equatoriais e tropicais.

Quanto ao Clima
Vegetação Microtérmica: aparece em áreas de clima frio.
Vegetação Mesotérmica: domina nos ambientes de clima temperado.
Vegetação Megatérmica: surge nas regiões de climas equatoriais ou tropicais.

Quanto ao Tipo de Madeira


Vegetação de Madeira Mole: é muito utilizada na fabricação de papel, cuja matéria-prima
é a celulose.
Vegetação de Madeira de Lei: bastante utilizada na produção de móveis, possuindo grande
valor econômico.
Vegetação de Madeira Lenhosa: muito comum na produção de compensados, tábuas e
carvão.

Quanto ao Tipo de Solo


Vegetação Halófila: surge e desenvolve-se em ambientes de solos salinos, como é o caso
dos manguezais.
Vegetação Calcícola: predomina nos solos ricos em calcário.
Vegetação Silícola: domina nos solos arenosos.

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Observações:

Vegetação Pneumatófora: possuem raízes de escora. Exemplos: mangues.


Vegetação Heliófila: Desenvolve-se sobre forte intensidade solar.
Vegetação Umbrófila: Desenvolve-se sobre ambientes com sombrios.
Vegetação Perene ou Perenifólia: Apresenta folhagem o ano inteiro.
Vegetação Caduca ou Caducifólia ou Decídua: Perde a folhagem em uma época do
ano, normalmente no outono-inverno.

Principais Classificações dos Seres Vivos

É muito difícil estudar isoladamente todos os seres vivos conhecidos na Terra. Saber
como eles são, onde se abrigam, como se reproduzem, por exemplo, não é uma tarefa fácil.
Na tentativa de entender melhor a evolução dos grupos de seres vivos e suas relações
de parentesco, os cientistas fazem a sua classificação. Classificar é agrupar, formar grupos,
obedecendo a determinados critérios. Exemplos: Grupo dos macacos (macaco-aranha,
sagüi, bugio, etc.); Grupo dos pássaros (curió, canário, pardal, beija-flor, etc.); Grupo dos
cães (pequinês, yorkshire trrier, perdigueiro, pastor alemão, etc).

Espécie e gênero

Espécie é o conjunto de indivíduos semelhantes que podem cruzar-se entre si, gerando
descendentes férteis.
Para entender bem esta definição, veja o exemplo do cavalo e da égua. Eles podem
cruzar-se e dão origem a um descendente fértil, isto é, que também pode originar
descendentes. Por isso, eles são da mesma espécie.
Do cruzamento de um jumento com uma égua nascerá um burro (macho) ou uma
mula (fêmea). Estes animais serão estéreis, isto é, não podem dar origem a descendentes.
Portanto o cavalo (e a égua) e o jumento são de espécies diferentes.
Espécies mais aparentadas entre si, do que com quaisquer outras, formam um gênero.
Os cães e os lobos são parentes próximos e também muito semelhantes. Assim,
todos esses animais foram classificados no gênero Canis.
Com as noções de gênero e espécie, o cientista sueco Carlos Lineu (1707 - 1778)
classificou todos os seres vivos até então conhecidos. Para isso, empregou sempre duas
palavras para dar nome a eles.

Atenção !
Nome científico
As duas palavras do nome científico são escritas no idioma latim. Essa
língua, usada pelos antigos romanos, foi escolhida por ser um idioma morto,
ou seja, ninguém mais o utiliza no dia-a-dia. Os idiomas em uso, geralmente,
sofrem alterações, trazendo mais de um significado para uma determinada
palavra. Outra vantagem de utilizar um idioma universal científico seria o fato
de os seres vivos descritos em trabalhos científicos serem identificados por
um pesquisador em qualquer parte do planeta, seja ele chinês, alemão, por-
tuguês, brasileiro ou finlandês.

29
O nome científico deve estar destacado do texto de alguma
maneira para facilitar a identificação. Isso pode ser feito com letras
em negrito, em itálico ou sublinhadas.
Biogeografia Lineu chamou o cão, por exemplo, de Canis familiaris e o
lobo de Canis lupus. Observe-se que a primeira palavra é escrita
sempre em maiúscula e a segunda em minúscula.
A expressão formada da primeira palavra (Canis) mais a
segunda (familiaris ou lupus) representa a espécie a que pertence
o animal. Assim, Canis, é o nome do gênero ao qual pertencem,
que é o mesmo para o cão e para o lobo. Ou seja, cão e lobo são
do mesmo gênero, mas de espécies diferentes.

O homem pertence à espécie Homo sapiens.


Gêneros podem ser agrupados e formar uma família
O conjunto de gêneros mais aparentados entre si do que com quaisquer outros, forma
a família. Assim, o cão (Canis familiaris) e animais aparentados a ele, por exemplo o lobo
(Canis lupus) e a raposa (Vulpes vulpes) fazem parte da família dos canídeos (Canidae).

Famílias podem ser agrupadas e formar uma ordem


O conjunto de famílias mais aparentadas entre si forma uma ordem. Assim, o cão, o
lobo e a raposa (da família dos canídeos) e o tigre (da família dos felídeos - Felidae) fazem
parte da ordem dos carnívoros (Carnivora).
Esses animais têm várias semelhanças e, normalmente, se nutrem apenas de carne,
daí o nome da ordem. Mas os ursos fazem parte da ordem carnívora e também se alimentam
de mel e de frutas. O cão doméstico come também outros tipos de alimento, além de carne.

Ordens podem ser agrupadas e formar uma classe


Um conjunto de ordens mais aparentadas entre si forma uma classe. Assim a raposa
(da ordem dos carnívoros), o rato (da ordem dos roedores - Rodentia), o macaco e os
seres humanos (da ordem dos primatas - Primates) e o coelho (da ordem dos lagomorfos -
Lagomorpha) fazem parte da classe dos mamíferos - Mammalia).
A característica mais marcante dessa classe é a presença de glândulas mamárias,
que nas fêmeas são desenvolvidas e produzem o leite que alimenta os filhotes.

Classes podem ser agrupadas e formar um filo


O conjunto de classes mais aparentadas entre si forma um filo. Assim, o boi (da
classe dos mamíferos), a galinha (da classe das Aves - Aves), a tainha (da classe dos peixes
- Osteichthyes), o sapo (da classe dos anfíbios - Amphibia) e a cobra (da classe dos répteis
- Reptilia) fazem parte do filo dos cordados (Chordata).
Esses animais são semelhantes porque possuem, na fase de embrião, uma estrutura
chamada notocorda, com função de sustentação. A notocorda pode desaparecer ou não.
Nos animais que possuem vértebras (vertebrados), como os seres humanos, a notocorda
desaparece durante o desenvolvimento embrionário. Em seu lugar forma-se a coluna
vertebral.

Filos podem ser agrupados e formar um reino


O conjunto de filos mais aparentados entre si forma um reino. Assim, o filo dos
cordados e todos os outros filos de animais formam o reino dos animais (Animalia).
Os animais são semelhantes porque são pluricelulares, heterotróficos e tem teci-
dos especializados.

30
Os Cinco Grandes Reinos

Durante muitos séculos os seres vivos foram classificados em apenas dois reinos:
animal e vegetal. Para fazer esta classificação os cientistas levaram em consideração dois
critérios:

• Todos os seres vivos que se locomovem e são heterotróficos seriam animais;


• Todos os seres que não se locomovem e que apresentam clorofila seriam vegetais.

Em muitos casos, essas características podem ser facilmente observadas. As girafas


são animais porque se movimentam - andam, correm, mexex a cabeça para procurar alimento
e a árvore e o capim são vegetais porque são fixos e tem clorofila (são verdes).

Em outros seres vivos, porém, as diferenças não são tão claras.

• Os cogumelos não tem clorofila e não se locomovem. Não são animais nem vegetais;
• Com o desenvolvimento do microscópio, descobriam-se microorganismos que não
tinham características de vegetal nem de animal ou tinham características dos dois grupos,
dificultando a sua classificação. Um bom exemplo disso é a euglena. Ela possui clorofila
e se locomove. Trata-se de um vegetal ou animal?

A partir de 1969, então, os cientistas estabeleceram um novo sistema de classificação,


agrupando os seres vivos em cinco reinos. São eles:

Reino das moneras (ou reino Monera)


Engloba todos os seres unicelulares e procariontes, isto é, que não possuem núcleo
individualizado por uma membrana em suas células; o material genético desses seres
encontra-se disperso no citoplasma. São as bactérias e as cianofíceas (também chamadas
de cianobactérias e de algas azuis);

Reino dos protistas (ou reino Protista)


É formado somente por seres unicelulares e eucariontes, isto é, que possuem núcleo
individualizado por uma membrana. São os protozoários e as algas unicelulares eucariontes;

Reino dos fungos (ou reino Fungi)


Engloba seres vivos eucariontes, unicelulares ou pluricelulares e heterotróficos; suas
células possuem parede celular;

Reino das plantas ou dos vegetais (ou reino Plantae ou Metaphyta)


Engloba todas as plantas. Esses seres são pluricelulares, autotróficos e possuem
tecidos especializados;

Reino dos animais (ou reino Animalia ou Metazoa)


Engloba todos os seres vivos pluricelulares, heterotróficos e com tecidos especia-
lizados. Suas células não possuem parede celular.

31
Biogeografia

32
Você Sabia?
O lobo-da-tasmânia, animal que parece um lobo ou um cão, é encon-
trado na Austrália e desempenha atividades e funções em seu ambiente
semelhantes às dos lobos e cães de outras regiões do planeta.
No passado, os taxonomistas - cientistas que estudam a evolução e
a classificação dos seres vivos - considerando as características externas
desse animal, pensavam que ele fosse parente próximo dos lobos e cães.
Estudando o desenvolvimento embrionário e outras características
do lobo-da-tasmânia, os taxonomistas modernos perceberam que o animal
possui uma bolsa especial que abriga os filhotes ainda na forma de feto e
que lhes dá proteção e os alimenta. Constataram, então, que o lobo-da-
tasmânia é mais aparentado com gambás e cangurus. Ele é um marsupial.

É importante salientar que dentro da ciência biogeográfica o aspecto vegetacional


(reino plantae) é mais representativo. A isto pode-se mencionar que sua característica
fisionômica de não-locomoção, facilmente visualizado na paisagem, torna os fitoambientes
um campo de estudo comparativamente de maior entendimento e mais articulável dentro
de uma pretensa classificação.
As formas de vida das plantas, sua estrutura, fisionomia e arquitetura refletem as
condições climáticas dominantes no tempo atual, assim como as variáveis climáticas são
influenciadas pela comunidade. Climas semelhantes tendem a desenvolver comunidades
convergentes, com formações vegetais fisionômica e ecologicamente semelhantes. As
comunidades convergentes, no entanto, podem ser muito diferentes na composição das
espécies, pois a disjunção geográfica de tempos pretéritos pode ter separado populações
genéticas distintas que evoluíram paralelamente. As semelhanças fisionômicas são
convergências evolutivas que uma dada população sob as mesmas condições ecológicas
tende a exibir.
Um agrupamento fisionômico apresenta enorme variabilidade de combinações. As
florestas são formações dominantes no clima atual, apresentando vários gradientes conforme
a variação de umidade, temperatura, solos e topografia.
A classificação fisionômica não pode ser considerada ecológica nem biogeográfica.
Assim as florestas tropicais atlântica, amazônica, do Caribe ou da Indonésia diferem em
muitos aspectos em sua estrutura e composição de espécies.

A Transformação Contínua da Vida: Especiação e Extinção

As comunidades ecológicas são associações de animais e plantas que vivem num


determinado espaço, num certo intervalo de tempo. A associação de espécies depende, no
entanto, da capacidade de cada espécie de crescer e ocupar um determinado espaço nas
condições ambientais que lhe são ofere-cidas. A coexistência numa comunidade depende
da capacidade intrínseca da espécie de realizar suas atividades vitais e interagir com as
outras que compõem a comunidade. Essa interação com o meio e com os demais or-
ganismos distribui a vida na biosfera mediante os limites dados pela competição, pelas
relações presa-predador, pelo mutualismo e pela programação genética que define a
tolerância biológica de cada espécie às variações do meio físico. As comunidades são
compostas por espécies individuais adaptadas à convivência e tolerantes às condições
ambientais semelhantes.

33
As comunidades biológicas podem ser agrupadas em conjuntos criados
a partir de critérios de semelhança e diferença. Em geral, numa escala regional,
as plantas podem ser agrupadas em conjuntos fisionomicamente homogêneos.
O critério fisionômico não é ecológico, como já foi mencionado, mas nos ajuda
Biogeografia a compreender a distribuição da vida em escala planetária. Uma idéia dessa
organização, nesta escala, é importante para compreender e integrar as
demais escalas. Sob um determinado tipo de clima, ao observar um mapa da
cobertura vegetal do planeta, pode-se classificar algumas zonas de vida com semelhanças
fisionômicas e ecológicas muito grandes. Em princípio, as unidades fisionomicamente
homogêneas são espaços onde convivem plantas, animais e microrganismos em associação,
formando ecossistemas com uma série de características comuns que podem estar ligadas
ao tipo de clima, aos solos ou mesmo à composição da biota. As zonas de vida com essas
semelhanças são os biomas, unidades ecológicas homogêneas integradas e onde o
ecossistema apresenta sua expressão máxima ou seu desenvolvimento pleno, conforme as
condições atuais de clima. Os biomas também podem ser considerados como unidades
biogeográficas, pois as comunidades que formam cada um deles tiveram uma história evolutiva
comum. A comunidade, assim como o ecossistema e o bioma, está em níveis de organização
ecológica distintos. Não serão tratados aqui sua estrutura e funcionamento, mas apenas a
expressão espacial ou a distribuição das comunidades biológicas.

As comunidades biológicas são conjuntos formados por muitas espécies que coexis-
tem em estreita dependência e nas quais, contraditoriamente, existe a competição e a
repartição de recursos. Como é possível combinar as duas? A compreensão dessa combina-
ção contraditória tem sido objeto de muitas pesquisas em ecologia, mas ainda há fronteiras
desconhecidas. Whittaker (1975), estudando a zonação altitudinal de uma floresta de
montanha nos Estados Unidos da América, reconheceu quatro hipóteses para a coexis-
tência da convivência e da competição.

As espécies estão distribuídas como comunidades dis-


tintas, com limites definidos; provavelmente em conseqüência
da exclusão competitiva entre espécies dominantes e o grupo
que convive na comunidade.
Algumas espécies individuais excluem outras nas fron-
teiras das comunidades dominantes, formando gradientes.
As comunidades se substituem no tempo, mas a exclu-
são competitiva não é uma substituição rápida.
Espécies individuais aparecem e desaparecem gradu-
almente, independente da presença em ausência de outras.
O gradiente entre comunidades exposto por Whittaker
para uma montanha está relacionado com fatores como tipo
de solo, inclinação das vertentes, altitudes e exposição ao sol
e às chuvas. Cada espécie individual está adaptada a um
certo número de outras espécies na comunidade, mas não a
todas. Uma mesma espécie pode estabelecer diferentes
relações com outras da mesma comunidade. Pode estar
envolvida, por exemplo, em relações competitivas de presa-
predador ou em interações mutualistas. Esse complexo papel
tem influência sobre a abundância e a distribuição de uma
espécie, mas pode ser relativamente independente de efeitos
diretos sobre muitas das outras espécies da comunidade.

34
Zoogeografia: a Vida Animal e sua Especialização

Cada parte do mundo possui uma fauna que a caracteriza. O tucano é uma ave arbo-
rícola que ocorre apenas na região neotropical, vivendo em florestas que vão do México à
Argentina. É uma das aves mais curiosas da nossa fauna, justamente porque possui um
bico descomunal em relação ao seu corpo. Segundo os ornitólogos, os tucanos sofreram
especiação em decorrência das alterações climáticas pleistocênicas. Várias espécies
evoluíram numa floresta tropical fragmentada ou em refúgios da fauna silvestre durante os
climas secos do Quaternário. Após a volta da umidade, várias espécies de tucanos ocuparam
toda a Amazônia.
Cada parte do mundo possui animais tão curiosos e peculiares como os tucanos;
por isso podemos regionalizar essa fauna em biorreinos. A América do Sul, Central e parte
do México estão agrupadas numa região zoogeográfica denominada neotropical ou novo
trópico, em oposição ao velho trópico, formado pelo continente africano. Há mais de 150
milhões de anos a América do Sul, a África, a Antártida, a Austrália e a Índia formavam a
Gondwana. É por essa razão que continuamos a dizer que os ambientes na América do Sul
são “parentes” desses outros continentes.
A fauna da região Neotropical possui uma história tão antiga quanto a da Gondwana.
Vários processos geológicos e climáticos que ocorreram no passado se expressam hoje
através da composição dessa fauna. Certamente as mudanças pretéritas influíram na
espacialização da vida animal em várias épocas da história. Esses processos incluem
nascimento e morte de muitas espécies. Em zoogeografia o nascimento de uma espécie
nova é chamado de especiação, enquanto a morte é a extinção. É preciso conhecer alguns
desses processos para entender por que existem endemismos.

Para refletir!
Mas, o que é endemismo?

Especiação e Extinção

Especiação é o nascimento de novas espécies pela multiplicação contínua das


espécies “velhas”; ela ocorre desde a origem do primeiro ser vivo. Imagine-se quanta
transformação já se acumulou no tempo desde o surgimento das primeiras bactérias. Milhares
de espécies nasceram e morreram nesses 3 bilhões de anos da história da vida no planeta
Terra. A variedade de formas que conhecemos representa uma riqueza hoje denominada
biodiversidade, e o processo responsável por ela é a especiação.

Conceito de Espécie

Uma espécie é uma unidade, mas unidade em quê? E a partir do quê?


Do ponto de vista da taxonomia, a espécie é uma unidade morfológica, ou seja, são
as diferenças de forma que distinguem um ser vivo do outro. Essas diferenças e as
semelhanças têm sido utilizadas para identificar o parentesco entre duas espécies distintas.
Quanto mais dessemelhantes, menos aparentadas são duas espécies e vice-versa (como
já visto no tópico classificação dos seres vivos). Um outro conceito de espécie utiliza também
a capacidade de intercruzamento entre os indivíduos. O isolamento reprodutivo separa duas
populações de espécies em conjuntos distintos que se especiam ou se diferenciam com o
passar do tempo.

35
O isolamento de duas popu-
lações pode-se dar se, dentro da
área de distribuição de uma espécie,
ocorrer uma mudança que dificulte o
Biogeografia contato reprodutivo da população.
Impedidas de manter o fluxo genético,
essas populações se modificam após
determinado tempo, em geral, longo, e o que ocorre
são mudanças genéticas na população, acentuando
diferenças a tal ponto que elas se tornam repro-
dutivamente incompatíveis. Esse conceito é restrito
às espécies que se reproduzem sexuadamente,
pois organismos assexuados, partenogenéticos ou
que se reproduzam por autopolinização obrigatória
estariam excluídos do conceito. Outra dificuldade
desse conceito é que ele só vale para distinguir
espécies contemporâneas, pois não é possível iden-
tificar o isolamento reprodutivo nas formas fósseis.

O conceito de espécie, que tem aplicação


na taxonomia, na Biogeografia, na ecologia, na
paleontologia e em outros campos da Biologia, é o
de espécie evolutiva, no qual a espécie é “uma
linhagem de populações ancestrais e descendentes
que mantêm identidade própria, diferente da de
outras linhagens. Na linhagem, a espécie tem seu
destino histórico e identidade evolutiva própria”
(Wiley, 1981). Ser da mesma linhagem é compar-
tilhar a mesma descendência e identidade.

Especiação Alopátrica

É o surgimento de novas espécies a partir do isolamento geográfico. Uma nova


espécie pode surgir se sua área original sofre fragmentação por barreiras que isolem partes
dessa população. As barreiras geográficas impedem a troca de material genético, e
dependendo do tipo de barreira há um maior ou menor grau de comunicação entre as
populações. Um exemplo de isolamento geográfico é a deriva dos continentes, que separou
antigas populações que não puderam mais se “comunicar” geneticamente.
As barreiras podem ser de vários tipos: o surgimento de uma cadeia de montanhas,
a abertura de oceanos, mudanças climáticas e outros; até a implantação de uma cidade
pode representar uma barreira. A barreira pode ser temporária. No caso da retração de
florestas e da expansão de formações abertas durante os climas mais secos, como ocorreu
no período geológico do Quaternário plistocênico, muitos animais ombrófilos (de floresta)
deixaram de trocar genes entre si. Com a retomada da umidade, a barreira “formações
abertas” deixou de existir e as populações modificadas (especiadas) não voltaram a ocupar
o contínuo de floresta.
Outro tipo de especiação alopátrica é a insular. A costa brasileira possui inúmeras
ilhas, das quais muitas estiveram ligadas ao continente quando o mar era mais baixo que o
atual. Hoje a biota insular encontra-se isolada e muitas populações já não trocam material
genético com as espécies continentais. Após um certo tempo essas ilhas poderão apresentar
uma fauna endêmica diferente da continental.

36
Especiação Simpática

É o surgimento de novas espécies num espaço contínuo, sem isolamento geográfico.


A diferenciação genética ocorre numa parcela da população que não se separou da
população ancestral. Depois que uma nova espécie surge, se as condições ambientais lhe
forem favoráveis, a tendência é o crescimento ou a multiplicação dos indivíduos e a ocupação
de um território. Esse processo de expansão ou irradiação ocorre até que a população
encontre outras populações ou o seu limite de tolerância a impeça de ampliar sua área. As
populações dividem os recursos do ambiente definindo os limites do seu nicho. A ampliação
do território de uma espécie é conhecida como dispersão.

Dispersão

Como processo ecológico, a dispersão é o movimento temporário que uma população


realiza durante o seu ciclo de vida dentro de sua área de distribuição. Como processo his-
tórico, a dispersão é o movimento definitivo de uma parcela da população que amplia sua
área de distribuição para regiões onde ela ainda não ocorria.

Extinção: o Desaparecimento para Sempre

As espécies nascem e morrem na sua trajetó-


ria evolutiva. Muitos grupos que dominaram a paisa-
gem numa determinada época da história da vida
deixaram de existir. Na América do Sul, os registros
fossilíferos atestam a existência passada de uma
fauna muito diferente da atual. A exemplo temos o
mamute que é da família dos Elephantidae, que vivia
na Europa, norte da Ásia e América do Norte em
climas temperados e frios.

Veja mais no site:


www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm

Dinossauros foram substituídos há 65 milhões de anos por aves e mamíferos, samam-


baias por gimnospermas e estas por angiospermas. A extinção natural pode ser catastrófica,
como, por exemplo, a que resultou da queda de um gigantesco meteoro; esse fenômeno
mudou a atmosfera terrestre, levando à extinção uma enorme diversidade de grandes répteis.
Raup (1979) estimou que aproximadamente 90% de todas as espécies de organis-
mos marinhos se extinguiram no final do Permiano (225 milhões de anos atrás). Mas a
extinção natural, ainda que catastrófica, é um processo lento que permite a substituição das
espécies extintas por outras. Nesse processo há um equilíbrio entre o que deixa de existir e
os novos integrantes de uma comunidade.
A extinção provocada pelo homem difere da causada pelos processos naturais,
porque é rápida e geralmente atinge habitats inteiros. Como não há o aparecimento de
espécies substitutas, a extinção artificial provoca o empobrecimento e o desequilíbrio do
ecossistema. Milhares de espécies já desapareceram nos últimos duzentos anos, como
conseqüência das transformações industriais e agrícolas.

37
Endemismo

Um organismo é endêmico quando ocorre exclusivamente em uma


única área. O endemismo, no entanto, ocorre em diferentes níveis taxonômicos,
Biogeografia pois um grupo de animais pode ter tido uma distribuição ampla no passado e
ter-se extinguido em várias regiões, mantendo atualmente uma distribuição
restrita a uma área. A exemplo, pode-se citar a Puffinus subalaris encontrado
nas ilhas Galápagos.

Cosmopolitismo

Ao contrário do endemismo, há organismos que estão amplamente difundidos pelo


mundo. O cosmopolitismo verdadeiro é raro e só ocorre excepcionalmente. Protozoários,
algas e fungos têm uma distribuição muito ampla, devido aos mecanismos de dispersão
pela água e pelos ventos. Um tipo especial de cosmopolitismo foi introduzido pelo homem,
que praticamente ocupou todo o planeta, levando consigo intencional ou ocasionalmente
um grande repertório de espécies. São características comuns das espécies cosmopolitas
a grande amplitude de tolerância, a capacidade de dispersão a longas distâncias ou
ainda a antigüidade.
Um exemplo de animal cosmopolita é a Coruja-das-torres (Tyto alba)
apresenta 35 subespécies distribuídas pela Europa, África, Ásia, Oceania
e América. Na Europa a espécie está presente em 36 países, desde a
Península Ibérica até à Dinamarca, Polônia e Turquia, estimando-se que o
efetivo populacional se situe entre 120 000 e os 500 000 indivíduos. Em
Portugal, estas corujas ocorrem de Norte a Sul do país e também na Ilha da
Madeira. Na Península Ibérica as densidades de Coruja-das-torres devem
variar entre 1 e 50 casais por cada 50 Km². Apesar destas densidades
serem entre 50 a 100 vezes inferiores às que existem em algumas zonas
da Malásia, onde foram colocadas caixas ninho, são substancialmente
superiores às encontradas no Leste da Europa.

A Distribuição dos Animais Terrestres

Por que as espécies de macacos da Mata Atlântica são diferentes das da Amazônia?
Por que na Amazônia uma mesma família de micos e sagüis ocupa territórios diferentes?
Provavelmente, teríamos dificuldade de responder a essas questões olhando apenas
para o presente. Apesar de não sabermos decifrar muitas etapas da história, a distribuição
atual de um organismo nos pode auxiliar na reconstrução do padrão de um ambiente no
passado. Como vimos, à especiação pode dar-se pelo isolamento geográfico de populações
outrora contínuas. Na separação de populações de ambiente terrestre, são as massas de
água (rios, lagos, mares) as barreiras mais eficientes. Mas a dispersão biogeográfica de
uma espécie num determinado território que lhe é tolerante pode seguir inúmeras estratégias,
conforme o tipo de organismo e sua capacidade de dispersão. Por isso, muitos grupos se
misturam em sua área de distribuição.

38
Atividades
Complementares
1. Vimos que os indivíduos que possuem certas semelhanças entre si podem se agrupar
para formar um reino. Assim, o filo dos cordados e todos os outros filos de animais formam
o reino dos animais (Animalia). Sendo assim, construa uma tabela síntese caracterizando e
exemplificando os reinos.

2. As transformações globais de cunho geológicas e climatológicas, a exemplo da


separação dos continentes e dos vários ciclos de glaciação, que ocorreram em tempos
pretéritos, potencializaram o aparecimento e desaparecimento de inúmeras comunidades
de espécies ao longo da história de vida do planeta Terra. Identifique e caracterize esses
conceitos com suas respectivas subdivisões.

3. Com base no que foi estudado, explique o processo da Especiação Alopátrica.

4. Diferencie espécie de gênero.

5. Explique a relação existente entre os tipos de solos e a variedade de plantas.

39
A BIOGEOGRAFIA GERAL E DO
BRASIL E SUAS APLICAÇÕES NO
Biogeografia
ESTUDO AMBIENTAL

AS GRANDES PAISAGENS TERRESTRES E SEUS BIOMAS

As Regiões Biogeográficas

Estudos detalhados sobre a distribuição de espécies vegetais e animais nas várias


partes do mundo, levaram à proposição de diversas regiões ou reinos biogeográficos.
Wallace, em 1876, observando a ocorrência principalmente de vertebrados distinguiu seis
regiões: a Neártica, referente a toda América do Norte com exceção do extremo sul;
Paleártica, englobando Europa, norte da Ásia, das ilhas Britânicas ao Japão e norte do
Saara na África; Etiópica, relativa a África, ao sul do Saara; Oriental, envolvendo índia,
Malásia e Filipinas; Australiana, referente a Austrália e Nova Guiné; Neotropical, que
engloba as Américas do Sul, Central e extremo sul da América do Norte. Estudos
posteriores, desenvolvidos por outros pesquisadores, acrescentaram mais duas regiões:
a Antártica e a Oceânica.
Esta é a divisão adotada pelos zoogeógrafos, enquanto que os fitogeógrafos preferem
uma outra, onde são identificadas as regiões: Capense, referente ao Cabo da Boa
Esperança; Paleotropical, envolvendo África, Ásia Menor, sul da Ásia Maior, Malásia,
Indonésia e Polinésia; Holártica, que engloba as regiões Neártica e Paleártica dos
zoogeógrafos, havendo para as demais concordância nas denominações. A distribuição
dos organismos sobre a superfície do planeta pode ainda ser identificada com maior detalhe
e para tal, as regiões podem ser divididas em domínios, estes em províncias e por fim em
distritos. Quando necessário, pode-se utilizar, também, outras divisões como sub-região,
subdomínio ou subprovíncia.

Aprofunde seus conhecimentos sobre as regiões biogeográficos


fazendo uma visita ao material da web.

Distribuição Geográfica: Centro de Origem e Área Biogeográfica.

Denomina-se centro de origem o local da biosfera onde formou-se determinada entidade


biológica, que pode ser família, gênero ou espécie. Segundo Cabrera e Willink (1973), o
centro de origem de uma família é o lugar onde o seu gênero mais primitivo teve origem e o
centro de origem de um gênero é o lugar onde originou-se sua espécie mais primitiva.
Quando os organismos se difundem, a partir do seu centro de origem, determinam aí
um centro de dispersão primário; se o fazem de locais que não são os de origem, cara-
cterizam um centro de dispersão secundário.
Entende-se por área biogeográfica a porção da biosfera ocupada por uma certa
entidade biológica que poderá ser qualquer categoria taxonômica como família, gênero,

40
espécie, subespécie ou variedade. A área geográfica de um organismo é o conjunto de
localidades que ele ocupa ou é encontrado.
As áreas biogeográficas podem ser representadas em mapas ou cartogramas através
de símbolos convencionais, sobre pontos que correspondem com exatidão, os locais onde
foram encontradas as entidades biológicas estudadas. Quando se trata de representação
inexata costuma-se usar as mesmas figuras, mas de forma tracejada, vazada ou pontilhada.
As denominações dos diferentes tipos de áreas advêm de suas características e,
por diversas vezes, confundem-se com denominações dadas às espécies, gêneros ou
famílias, que pertencem a estas áreas. São exemplos: as áreas cosmopolitas, que se
estendem por quase toda superfície do planeta; as áreas continentais; as regionais, que
correspondem à uma região biogeográfica; as locais, algumas vezes também denominadas
endêmicas; polares; holárticas, das regiões temperadas do hemisfério norte; tropicais,
ocorrem nos trópicos, diferentes das pantropicais que se estendem por toda a zona tropical;
paleotropicais, nas partes tropicais da Ásia, África e Oceania; neotropicais, as das partes
tropicais das Américas; austrais, as do sul dos trópicos; contínuas, que ocorrem de forma
inenterruptas, ao contrário das descontínuas ou disjuntas; atuais, aquelas ocupadas por
organismos estudados na atualidade; paleoáreas, aquelas que foram ocupadas por
organismos em outros tempos geológicos; relíquias, remanescentes de uma área maior;
progressivas, aquelas que se encontram em expansão, o contrário das regressivas; reais,
são as efetivamente ocupadas pelos organismos em estudo; potenciais, as que poderiam
ser ocupadas em função de suas características ecológicas e vicárias, são aquelas ocupadas
por organismos afins.

Os Biomas Mundiais

O homem é essencialmente um ser “classificador”. A classificação é uma das formas


de ordenar a nossa interpretação da realidade. Na natureza, no entanto, as comunidades
biológicas apresentam diversos gradientes de modificação entre os conjuntos mais
homogêneos. Isso dificulta o estabelecimento rígido das classificações. Vários critérios de
separação de conjuntos podem ser propostos nas classificações. Quando a mudança
geográfica entre duas comunidades é abrupta, é mais fácil distinguir uma da outra, mas a
maioria dos tipos de comunidades terrestres apresentam gradientes, isto é, mudanças
gradativas de uma para outra. As semelhanças e diferenças entre esses tipos podem ser
qualificadas e quantificadas.
Em geral, classifica-se uma comunidade com base na similaridade da composição
das espécies, nas formas de vida, nos processos ecológicos etc. A tipologia depende de
muitos estudos, mas ela é necessária para compreender como e por que a vida apresenta
uma determinada distribuição. Exemplificando, temos no Brasil a Mata Atlântica como um
conjunto fisionomicamente homogêneo de florestas. Mas isso é assim apenas para olhos
leigos, pois, ao observarmos essa mesma floresta em toda a sua extensão, verificamos em
primeiro lugar que ela ocorre numa região costeira formada por litorais muito distintos (com
falésias e dunas no Nordeste, a serra do Mar no Sudeste etc.). Nesses diferentes setores, a
Mata Atlântica apresenta muitas peculiaridades na composição florística e no porte da
floresta, por exemplo, conforme a região. Há distinção também quanto às associações
faunísticas. Mesmo num trecho de serra do Mar como o de São Paulo, podem-se distinguir
padrões texturais de floresta distintos no litoral norte e sul do Estado.
Uma classificação deve partir de alguns atributos que podem ser integrados,
gerando novas classificações conforme a escala que se está observando, seja ela global,
regional ou local.

41
Na escala global, a maior comunidade terrestre ou unidade ecossis-
têmica é o bioma. O conceito de bioma se baseia no desenvolvimento da
comunidade. Os biomas são identificados como a comunidade madura ou
associação de espécies dominantes numa determinada condição climática
Biogeografia vigente. Os biomas mundiais são regiões homogêneas onde interagem vários
fatores, nas quais, a relação entre vegetação, climas e solos tem influência
principal. Por essa razão, a descrição dessas macro-unidades sempre faz
referência a este tripé. Temperatura e precipitação têm um papel fundamental no gradiente
de florestas e na definição de alguns dos principais biomas atuais. Por exemplo, as florestas
tropicais apresentam alta precipitação, mas ocorrem dentro de um intervalo estreito de
temperaturas (são estenotérmicas), enquanto os campos ocorrem numa ampla variedade
de condições de temperatura, mas a umidade é um fator limitante.
A fim de entendimento das macro-unidades fitogeográficas e sua espacialização no
globo, segue uma compartimentação dos biomas terrestres criterizada em fatores fisionô-
micos (porte, folhagem, diversidade, etc) e sua capacidade limitante de adaptação.

As florestas tropicais, como o próprio nome diz, ocorrem entre os trópicos, nas terras baixas
ou pouco elevadas que recebem precipitação elevada e bem-distribuída durante o ano todo.
Estão nas regiões mais úmidas e quentes do planeta e são os ecossistemas nos
quais se concentra a maior biomassa terrestre, com altas taxas de produção primária e de
degradação de detritos. A biomassa é, em grande parte, responsável pela temperatura
uniforme de 21 a 30ºC dessas regiões, devido ao resfriamento que a grande quantidade de
água transpirada pelas folhas promove. São florestas que formam um dossel contínuo, ou
seja, as copas se interligam, formando uma espécie de telhado verde, com algumas espécies
emergentes acima desse dossel. As árvores são geralmente altas e podem atingir até 60 m
de altura, como uma maçaranduba ou castanheira, que na floresta amazônica equivalem a
um prédio de doze a quinze andares. Essas florestas parecem existir desde o Terciário,
tendo atravessado o período semi-árido do Quaternário ocupando menor extensão e

42
refugiando-se em setores mais úmidos do relevo. As florestas úmidas não foram destruídas
durante as eras glaciais e, portanto, tiveram muito tempo para desenvolver mecanismos
eficientes para repartição da energia e ciclagem dos materiais.
A vegetação das florestas tropicais apresenta grande convergência na arquitetura
das plantas, isto é, plantas diferentes têm uma fisionomia muito parecida, o que lhes dá um
aspecto homogêneo. Possuem maior ou menor estratificação interna (andares), conforme
a penetração de luz através do dossel. Orquídeas, lianas e samambaias ocorrem em profusão
no interior das florestas tropicais, apoiadas nos troncos das árvores, interligando as copas
das árvores ou mesmo no solo sombreado. Os troncos das árvores nas florestas tropicais
úmidas são verdadeiros jardins suspensos. No continente americano, a floresta tropical
úmida ocorre no Caribe, na bacia amazônica (onde forma o maior contínuo planetário,
também classificada como floresta equatorial) e na Mata Atlântica, uma ocorrência azonal
que se distribui ao longo de diferentes latitudes na costa brasileira fora do cinturão equatorial.
Hoje a Mata Atlântica apresenta-se totalmente fragmentada pela ocupação humana. No
continente africano são encontradas nas terras baixas do Congo e nos arquipélagos e
penínsulas do sudeste da Ásia.
As florestas tropicais apresentam a maior biodiversidade dos biomas terrestres. Na
Amazônia já foi registrada uma diversidade de trezentas espécies distintas de árvores em 2 km².
A floresta tropical é perene, com uma grande reciclagem de sua biomassa através
da contínua substituição de folhas. Uma árvore pode substituir toda a sua folhagem no
intervalo de um ano. A polinização raramente é feita pelo vento, e as plantas desenvolveram
curiosas associações com a fauna. Participam da polinização e dispersão de sementes e
frutos uma enorme variedade de insetos, morcegos, aves e mamíferos.

As florestas tropicais abrigam a fauna mais rica dos biomas terrestres. A fauna está
estratificada, distinguindo-se basicamente três níveis:

• Fauna do estrato emergente – nesse estrato estão as árvores com desenvolvimento


acima do dossel; é habitado principalmente por aves e insetos.
• Fauna do estrato do dossel – esse estrato abriga a fauna de maior variedade das
florestas tropicais e a região de maior biomassa. Destacam-se nele os primatas (macacos-
aranha, monos), preguiças, tamanduás e uma série de pequenos carnívoros (as aves de
floresta são o conjunto mais representativo nesse estrato).
• Fauna de solo – é menos diversificada e inclui veados, roedores, aves de chão e uma
infinidade de insetos e outros invertebrados. Cada um desses estratos de floresta
comunica-se com os demais através das cadeias alimentares. Apesar disso, são
compartimentos diferenciados dentro do ecossistema floresta tropical. É muito importante
estudar esses compartimentos para se compreender como, por exemplo, um bosque
pode ter vários nichos e habitats interdependentes.

O uso adequado das florestas tropicais estabelecerá um novo patamar civilizatório


entre os homens e a natureza. Comparando-se a sociedade industrial com as populações
tradicionais (indígenas, seringueiros, ribeirinhos), tem-se constatado que muitos povos se
adaptaram melhor a essas condições naturais - por exemplo, na sua agricultura. Em geral,
o sistema agrícola das populações mais bem adaptadas às florestas tropicais é implantado
em pequenos módulos dentro da mata e com rotação de terras. A técnica, conhecida pelo
nome indígena de coivara, uma espécie de consorciamento, permite uma certa reciclagem
dos materiais orgânicos, e o descanso das terras favorece a sucessão secundária, permitindo
a reconstrução das florestas e dos ciclos de nutrientes. O desmatamento de grandes
extensões para formação de pastagens é deletério para a floresta úmida.

43
Florestas Tropicais Estacionais ou Decíduas

Nas regiões com precipitações elevadas, mas cuja distribuição no ano


proporciona alternância de períodos mais secos e mais úmidos, ocorrem
Biogeografia gradientes de florestas secas decíduas que perdem as folhas totalmente numa
certa época do ano. Na Amazônia, esses gradientes ocorrem muitas vezes
ao lado da floresta tropical úmida, ou mesmo intercalados em seu interior,
como as matas atuais do Estado de Rondônia. Na zona tropical, estão presentes nas florestas
tropicais da Índia, do Sudeste Asiático, da América Central e do Sul, do norte da Austrália,
do oeste da África e das ilhas tropicais do oceano Pacífico. São florestas mais baixas,
freqüentemente com dossel aberto. Apresentam estratificação interna em baixo do dossel.
A adaptação ao ritmo estacional da umidade provoca queda das folhas, que pode ocorrer
assincronicamente, isto é, manchas de florestas perdem as folhas e outras não. O dossel
pode ser decíduo e o estrato, ou camada, inferior é perene. Pode ocorrer mosaico de
espécies que perdem as folhas e de espécies perenifólias de acordo com a capacidade de
retenção de água no solo, pois a perda da folhagem é um recurso para economia na perda
de água e investimento em energia para produção de biomassa.
Vários estudos têm apontado que as florestas tropicais estacionais talvez sejam mais
ricas em associações vegetais do que a própria floresta tropical, que seria mais homogênea.
Verdade ou não, há setores de florestas estacionais homogêneas formando associações
de uma única espécie. Na Índia e no Sudeste Asiático, os bosques de teca (Tectonia
grandis), madeira de alto valor comercial, são formados quase só por uma espécie arbórea.
São florestas ecologicamente distintas, pois variam conforme a sazonalidade da umidade.
As variações seco-úmido também afetam a degradação dos detritos no solo. Eles se
acumulam na estação seca e se decompõem a velocidades mais ou menos rápidas conforme
a umidade. Na Guiné (África), os bosques situados nas montanhas possuem uma velocidade
de decomposição equivalente à metade da velocidade das terras baixas.
A acumulação de serrapilheira ou folhiço no chão da
floresta, na estação seca, torna o chão vulnerável a incêndios,
o que, em muitos casos, é um fator ecológico importante na
reciclagem dos nutrientes. Isso contrasta com as florestas tropi-
cais úmidas, onde o fogo é invariavelmente prejudicial.
A variedade de florestas estacionais inclui, além das flo-
restas abertas da Amazônia ocidental, alguns tipos de caatingas
e cerradões. O conjunto mais rico, no entanto, compreende as
florestas de monções da Ásia, caracterizadas pela ocorrência
predominante de várias espécies de bambus.

Florestas Espinhosas de Clima Quente

É um tipo particular de floresta tropical ou subtropical,


onde predominam os arbustos com espinhos. Ocorrem em
regiões quentes, mas com baixos índices pluviométricos, que
podem alcançar anualmente 300 mm. Podem permanecer
até seis meses sem chuvas. Na América do Sul são incluídas
nesse bioma algumas formações de cactáceas das
caatingas. Na África predomina uma formação convergente
de cactáceas espinhosas.

44
Floresta Escleromórfica e Chaparral

As florestas escleromórficas são formações de climas temperados, com verões quentes


sem chuvas e uma precipitação em torno de 500 a 1000 mm/ano, concentrada no inverno,
que é frio, mas onde não ocorre congelamento. A vegetação apresenta folhas esclerificadas.
Estão nesse grupo as florestas de eucaliptos da Austrália, com mais de setecentas espécies
conhecidas no mundo. Ocorrem também associações com coníferas e cedros.
O chaparral é uma formação fisionomicamente semelhante à floresta escleromórfica,
que ocorre na região de baixas montanhas da Califórnia e da Europa. No Chile essa mesma
formação é conhecida como matorral. Trata-se de florestas onde os incêndios são freqüentes,
mas nelas o fogo parece estimular a germinação. A maioria de suas espécies estão adaptadas
ao fogo - o eucalipto, por exemplo. O fogo acelera os processos de mineralização da matéria
orgânica e destrói componentes fitotóxicos secretados pelas raízes. Em alguns tipos de topo-
grafia, no entanto, os incêndios podem acelerar os processos
erosivos, causando impactos negativos sobre a floresta e
destruindo os solos. As florestas esclerófítas foram modificadas,
há séculos, pelos sistemas de terraceamento para a agricultura,
pela irrigação e pela urbanização. Um caso de degradação
quase total dessas matas foi o que ocorreu nas baixas
montanhas de Los Angeles (EUA) e nas áreas de pastoreio do
Oriente antigo.

Florestas Subtropicais Sempre Verdes

Nas montanhas da China, do Japão, do sudeste dos Estados


Unidos e de algumas áreas da América do Sul ocorre um tipo de floresta
de neblina. Nela as chuvas são bem distribuídas durante o ano,
alcançando 1500 mm anuais em média, mas as temperaturas são
mais baixas do que na zona tropical. São florestas perenifólias e
incluem formas esclerificadas, tais como bosques de canelas
(Lauráceas), plátanos (Quercus) e magnoliáceas. O limite térmico
inferior para sua ocorrência é 13°C. Essas formações ocorrem em
mosaicos com florestas deciduais ou de coníferas.

Floresta Temperada Decídua ou Caducifólia

São florestas não-perenes que ocorrem em climas estacionais com períodos frios e
quentes bem marcados. As temperaturas de inverno podem chegar abaixo do ponto de
congelamento. São úmidas, com estrutura e composição distintas conforme a área de
ocorrência. Recobriram a maior parte da Europa ocidental e central, o nordeste dos Estados
Unidos da América e parte do Japão (ao sul da ilha de Hokkaido). A
queda das folhas nas estações secas equilibra as plantas para que
elas, transpirando menos, consigam atravessar os períodos de escassez
de água. Essas florestas só ocorrem no hemisfério norte. No hemisfério
sul, apesar de algumas regiões oferecerem as mesmas condições
climáticas, as florestas não são caducifólias. Provavelmente esse bioma
tem uma história comum apenas no hemisfério norte, e as semelhanças
entre América do Norte e Eurásia talvez se expliquem pelas ligações
das angiospermas no Cretáceo no antigo continente da Laurásia. Uma
característica que marca a paisagem dessas florestas são as árvores
de 40-50 m de altura com folhas delgadas e largas, como os plátanos.

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A fauna acompanha evidentemente os ciclos climáticos. A migração
das aves insetívoras para invernar em climas mais quentes constitui um traço
peculiar. Animais que não migram podem hibernar durante o período mais
frio, outros permanecem ativos durante o ano todo, como os cervos, que
Biogeografia removem a neve e se alimentam das ervas recobertas por ela.

Para refletir!
A floresta temperada caducifólia foi a mais estudada até hoje, talvez
em função da intensa exploração e destruição a que foi submetida, pois
ocorria na zona onde se desenvolveu a civilização industrial ocidental.
Precedida por um longo período de agricultura, a destruição dessas florestas
é um fenômeno muito antigo, a tal ponto que já não existe, na Europa,
nenhum bosque caducifólio original. O mesmo ocorre nos Estados Unidos
da América. Os povos indígenas também manejaram as florestas estacionais
temperadas dessa região. Pode-se concluir que todas as florestas estacio-
nais são, provavelmente, secundárias.

Floresta Boreal (Taiga)

Florestas boreais são as matas de coníferas que ocorrem nas latitudes acima de
45°. São florestas formadas por várias espécies de pinheiros, abetos quase sempre
perenifólias. São muito úmidas e frias no inverno. As coníferas estão adaptadas aos solos
gelados e à neve que desliza sobre sua copa em forma de cone. As folhas muito finas em
forma de agulha (acículas) regulam o metabolismo da transpiração quando há escassez de
água. Formam bosques de mais de 40 m de altura terminados em dossel, que torna o
interior da floresta bastante escuro e com poucos andares ou estratos internos. A baixa taxa
de decomposição do manto de detritos do solo faz com que as camadas de folhas mortas
sejam muito espessas, podendo em alguns casos alcançar o volume de 100-500 kg/ha.
A taiga, como também é conhecida esse tipo de floresta, é
sazonal, assim como sua fauna, que migra e hiberna nos períodos
mais rigorosos do inverno; mas alguns animais, como o castor, os
alces, os ursos, os linces e os lobos, residem o ano todo na floresta.
As coníferas foram um dos biomas mais explorados em
toda a Terra para a produção de energia. Foram a base de muitos
povos dedicados à pesca e à caça de cervos e alces. Na era indus-
trial a madeira da taiga foi a principal fonte de energia.
Os incêndios têm sido outros fatores de destruição constante.

Savanas Tropicais (Cerrados)

As savanas compreendem um conjunto de formações que têm em comum a presença


de um estrato herbáceo recobrindo o solo, desde os bosques fechados até as pradarias.
Ocupam terras baixas tropicais com clima sazonal. A precipitação total pode variar de 250
mm/ano até 1300 mm/ano, sempre com uma estação seca longa. Muitas teorias consideravam
a estação seca longa como causa da ocorrência dessa vegetação. Hoje, sabe-se que ela re-
sulta de um complexo de fatores ambientais, como a capacidade nutricional dos solos, a aci-
dez, a ação de incêndios e o clima. Para a fauna das savanas tropicais a estação seca é um
fator que exerce influência direta nas relações alimentares, reprodutivas e comportamentais.

46
As savanas cobrem 20% do planeta (África, Austrália
e América do Sul) e as maiores extensões estão na África.
Desenvolvem-se sobre um latossolo com granulometria
variável, até a formação de carapaças de lateritas, que podem
impedir a penetração de raízes de árvores e de ervas. Esses
solos são geralmente antigos e perderam muitos nutrientes
minerais ao longo de sua história. São mais férteis próximo
às drenagens, onde suportam matas de galeria ou ciliares. A
ocorrência de incêndios naturais ou de origem antrópica parece ter um papel importante na
ciclagem mineral e na biologia de muitas plantas da savana. O solo também influi na arquitetura
das plantas, as árvores são tortuosas e possuem folhas duras de aspecto coriáceo e uma
série de adaptações ao fogo que aparecem na morfologia da planta. Muitos desses
aspectos, como caules com cortiça, podem também ser uma resposta às deficiências
nutricionais dos solos savânicos.

Você Sabia?
Um aspecto curioso chama a atenção no comportamento da fauna. Os
animais pastadores dividem os recursos de forma a não esgotar o alimento.
Podem, por exemplo, estar separados por pequenas variações existentes no
hábitat: uma espécie de antílope pequeno pode viver em pântanos perma-
nentes e outro em pântanos sazonais. A mesma planta pode dar alimento a
diferentes espécies durante o seu ciclo de crescimento anual ou ser explorada
em diferentes níveis: a girafa se alimenta da parte superior, por exemplo, da
Acácia. Sob as acácias, duas espécies de rinocerontes africanos estão sepa-
rados por hábitos alimentares - um come arbustos e folhagens e outro pasta
o estrato herbáceo. O uso excessivo dos recursos da savana também é evitado
pelas migrações sazonais. A alimentação de muitas espécies também cumpre
um ciclo conforme os ritmos sazonais. A fauna de menor porte tem o compor-
tamento subterrâneo, como répteis e anfíbios que se protegem das perdas
desnecessárias de água. São muito abundantes nas savanas os insetos so-
ciais (formigas e cupins), que participam também do transporte de nutrientes
no solo em galerias. Os cupins são um componente muito importante na
cadeia decompositora do solo.

Atenção !
O FOGO NAS SAVANAS
O efeito do fogo sobre as savanas é um assunto polêmico entre os
cientistas. O fogo é um agente controlador e direcionador do desenvolvimento
de muitas plantas das savanas. Para o estrato arbóreo, o fogo é um fator
limitante do seu desenvolvimento, enquanto para muitas espécies do estrato
herbáceo o fogo é um estimulante ao seu rebrotamento e em alguns casos
age como estimulante da floração. Na ausência do fogo, as savanas tendem
a formar bosques; sob sua ação o bioma tende a assumir uma fisionomia de
campo. O fogo, segundo demonstra algumas pesquisas, é um evento tão
antigo nas savanas que selecionou adaptações de muitas plantas herbáceas.
Na América do Sul, especialmente no Brasil, as savanas recebem o
nome de cerrados e compreendem diversos tipos de formações, que serão
apresentadas quando for tratada a vegetação brasileira.

47
Campos Temperados

São formações abertas que ocorrem em zonas temperadas, com


estações do ano bem marcadas e onde a pluviosidade anual se encontra
Biogeografia entre 250 e 750 mm. Ocorrem na América do Norte, Eurásia, África e pampas
da América do Sul. As pradarias têm origens múltiplas. Algumas derivam de
bosques que foram intensamente queimados e outras resultaram dos baixos
índices de precipitação. São predominantemente formadas por gramíneas, mas vários outros
grupos herbáceos ocorrem em associação. Constituem pastagens naturais onde os mamí-
feros grandes não são tão diversificados como nas savanas e formam grandes manadas
migratórias. São comuns os búfalos e antílopes na América do Norte, os cavalos selvagens
na Europa, os antílopes na África meridional e os guanacos na América do Sul.

As intervenções humanas e o cativeiro de muitas das


grandes espécies de animais pastadores têm esgotado os
recursos das pradarias. A pecuária tem esgotado as espécies
comestíveis e aumentado a seleção artificial de espécies
xeromórficas que toleram a seca. Outros impactos se asso-
ciam a esse processo. O mais preocupante na atualidade é o
da perda de solos e recursos hídricos. Pradarias naturais são
raras na atualidade, pois para obter melhor rendimento para o
gado muitas espécies de gramíneas foram introduzidas.

Tundra

A tundra é a vegetação do Círculo Polar Ártico que se desenvolve sobre solos perma-
nentemente congelados (permafrost). É formada por um manto de liquens, musgos e pequenas
plantas herbáceas, com um ou outro elemento de maior porte. Apenas uma pequena camada
de poucos centímetros de espessura do solo não se congela e sustenta essa vegetação. As
tundras estão em regiões de baixa precipitação e evaporação. São terras geralmente baixas
e freqüentemente alagadiças no verão, que corresponde a um período muito curto do ano.
Durante o verão observa-se uma rápida explosão de vida nas tundras. A fauna de invertebrados
é bem representada por moscas e mosquitos, que nesse
período mais quente polinizam as flores. A fauna de maior porte
está adaptada ao rigor climático circumpolar, que em
determinadas condições pode atingir 50ºC negativos no Alasca.
Os animais de sangue quente possuem como proteção
pelagens espessas, como é caso do touro al-miscarado, da
lebre ártica, do lobo e do caribu. Muitos animais, como a lebre,
apresentam uma espécie de almofadinha nas patas para
caminhar sobre o gelo e proteger-se do frio.

No hemisfério sul, a Antártida representa a zona equivalente à tundra do hemisfério


norte. A Antártida possui aproximadamente 400 espécies de liquens, 75 espécies de musgos
e 25 de hepáticas nas margens dos cursos de água,

Deserto

Os desertos ocorrem nas regiões quentes ou frias onde a precipitação anual é muito
baixa. A primeira resposta à escassez de água é a ausência de vegetação. Por essa razão
os desertos possuem maior extensão de solo nu do que de solos cobertos por vegetação.

48
Mas há muitas formas de vida que estão adaptadas a essas
condições. As adaptações morfológicas e comportamentais
aparecem nas plantas, em geral, pelo pequeno porte, folhagem
reduzida e metabolismo regulado para acumular água e
transpirar pouco. A fauna tem hábitos subterrâneos e noturnos.
Há grande quantidade de insetos, lagartos, serpentes, aves,
roedores e mamíferos adaptados a essas condições. A aridez
nos desertos, em geral, é acompanhada por amplitudes
térmicas diurna e noturna muito acentuadas. Os desertos se
encontram em várias situações topográfico-climáticas.

Os Grandes Biomas Brasileiros

O IBAMA classifica o patrimônio natural brasileiro através do ecossistema dos biomas,


ecorregiões e biorregiões, levando em consideração a dimensão continental, a variação
geomorfológica e climática. O Brasil possui seis biomas, 49 ecorregiões já classificadas e
vários ecossistemas. Os seis biomas brasileiros são: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata
Atlântica, Caatinga, Campos Sulinos.

O Bioma Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, o maior banco genético e


possui 1/5 da disponibilidade mundial de água doce.
É um ecossistema auto-sustentável, sorvedouro de
carbono, e contribui para o equilíbrio climático da Terra. Os
principais ecossistemas que aí aparecem são: mata de terra
firme (situa-se em terras altas, distante dos rios), mata de
várzea (própria de terras periodicamente inundadas) e matas
de iguapó (localizam-se em terras baixas, próximas de rios,
permanecendo inundadas quase todo o ano).

O Bioma Cerrado é reconhecido devido a sua grande diversidade de ecossistemas,


como: o cerradão, o cerrado típico, o campo cerrado, o campo sujo e o campo limpo. O
cerrado típico se caracteriza por árvores relativamente bai-
xas, esparsas, com troncos tortuosos, casca espessa e folhas
grossas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e
gramíneas. As árvores e arbustos possuem raízes profundas
(15m a 20m), o que lhes “permite atingir o lençol feático, e
um tapete gramíneo com raízes pouco profundas, que, na
época das secas, favorece a propagação de incêndios.

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O Bioma Pantanal é a maior planície
de inundação contínua do planeta, funcionan-
do como um grande reservatório. Possui um
mosaico de ecossistemas com afinidades
Biogeografia com outros biomas, tais como a floresta
amazônica e o cerrado. A planície inundável
representa uma das mais importantes áreas
úmidas da América do Sul. Aí podem ser reconhecidas as
planícies baixa, média e de alta inundação, que apresenta
alta produtividade biológica e grande densidade e diver-
sidade de fauna.

O Bioma Mata Atlântica ocorre do Rio Grande do


Norte até o Rio Grande do Sul e ocupa 12,97% do território
nacional. Atualmente, restam apenas 7,3% de sua cobertu-
ra florestal original. É a quinta área mais ameaçada e rica
em espécies endémicas do mundo.
A Mata Atlântica vem sendo explorada desde a che-
gada dos portugueses no Brasil, iniciando com a extração
do pau-brasil. A área atual encontra-se fragmentada e
reduzida, com remanescentes localizados em áreas de
difícil acesso. Nela se localiza o principal manancial hídrico,
que abastece 70% da população brasileira.
No Bioma Mata atlantica podemos encontrar uma extensa variedade paisagistica,
que abriga um rico sistema de ecossistemas, tais como: mares, estuários, ilhas, manguezais,
restingas, dunas, praias, falésias, costões rochosos e recifes de corais. Nesse ecossistema,
ocorre a maior presença residual de Mata Atlântica. Ele se subdivide em: litoral amazônico
(com grande extensão de manguezais exuberantes e com rica biodiversidade em crustáceos,
peixes e aves), litoral nordestino (marcado por recifes calcíferos e areníticos e dunas, além
de restingas e manguezais), litoral sudeste (que se caracteriza por falésias, recifes e praias
de areias monazíticas; é o mais povoado e industrializado e dominado pela Serra do Mar,
seu mais importante ecossistema é a restinga) e o litoral sul (caracterizado por banhados e
manguezais, rico em aves e mamíferos - ratos-do-banhado, lontras e capivaras).

O Bioma da Caatinga é o principal ecossistema nor-


destino, que se caracteriza pela predominância de vegeta-
ção xerofítica, com estrato de gramíneas, arbustos e árvores
de baixo porte e caducifólias e plantas espinhosas.
Na caatinga, 80% dos ecossistemas naturais já
foram antropizados, através do desmatamento e das quei-
madas, para o uso agropecuário.

O Bioma pampas, conhecido também como


campos sulinos, tem como característica a existência de
formações edáficas e não climáticas. O pastoreio e as
queimadas não permitem o aparecimento de vegetação
arbustiva. Aí aparece o fenômeno da desertificação. Esse
bioma possui uma vegetação campestre (tapete herbáceo
baixo) e mata aluvial com espécies arbóreas.

50
O clima é subtropical, com temperaturas amenas e chuvas constantes com pouca
alteração durante todo o ano. O solo em geral é bom, sua utilização na agricultura é grande,
mas o forte da região é a pecuária, tanto a leiteira quanto a de corte. É nesta região que se
encontram os melhores rebanhos de corte do Brasil; a maioria das carnes para exportação
sai dos pastos sulinos. Às vezes estes rebanhos fazem uso até de pastos nativos.

Quer Saber mais sobre o Bioma Pampa? Acesse o site da TV cultura

www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.asp?materiasid=212
e assista uma reportagem sobre esse bioma clicando no link “assista o vídeo”.
Após assistir essa reportagem faça um resumo sobre o que foi tratado.

O bioma continental brasileiro de maior extensão, a Amazônia, e o de menor extensão,


o Pantanal, ocupam juntos mais de metade do Brasil: o Bioma Amazônia, com 49,29%, e o
Bioma Pantanal, com 1,76% do território brasileiro. Mapeados pela primeira vez, os seis
biomas continentais brasileiros - Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e
Pampa (Ver a tabela abaixo), têm grande utilidade para a análise de cenários e tendências
dos diferentes biomas. Servem como referência para o estabelecimento de políticas públicas
diferenciadas e para o acompanhamento, pela sociedade, das ações implementadas.

Fitogeografia Brasileira

O Brasil é um país de grandes extensões territoriais. São 8,5 milhões de km2 submetidos
a uma mistura de condições climáticas que permitem o desenvolvimento de uma grande
diversidade de ambientes. As formações vegetais que ocupam maior extensão territorial são
as florestas. Há uma grande variedade dessas formações na bacia amazônica, na região
costeira, no sul do país e nas regiões subtropicais. Mesmo os cerrados e caatingas possuem
dentro de sua área de domínio formações florestais que acompanham as drenagens.
A palavra floresta é, portanto, um termo genérico para designar um tipo de formação
no qual o elemento dominante é a árvore e que forma dossel. A organização ou estrutura da
floresta, assim como sua composição florística, são características importantes em sua
classificação. Outros fatores, como o clima e a geomorfologia, também desempenham um
papel na definição de seus tipos. As florestas tropicais e subtropicais que ocorrem no Brasil
desenvolvem-se em mosaicos com diferentes associações vegetais. Algumas características
climáticas ou mesmo fenológicas são usadas para identificar essas associações e tipos:
pluviais, deciduais, semi-secas, montanhas etc. Dentro de seu domínio próprio, as florestas

51
brasileiras apresentam enclaves de formações não-florestais, como as
campinaranas na Amazônia ou os campos de altitude na Mata Atlântica. Além
das grandes extensões de florestas, o Brasil apresenta dois grandes domínios
de formações vegetais abertas e semi-abertas: as caatingas e os cerrados.
Biogeografia No mapa do Brasil esses dois domínios formam uma diagonal de climas mais
secos que percorre o país do Nordeste ao Pantanal mato-grossense, passando
pelo Brasil Central.

A origem do mosaico botânico brasileiro é resultado da expansão e retração das


florestas, cerrados e caatingas provocada pela alternância de climas úmidos e secos nas
regiões tropicais, durante os períodos glaciais do Quaternário. As florestas tropicais e outras
formações abertas já existiam desde o início da era Pleistocênica e não foram destruídas
por geleiras, como aconteceu com as formações vegetais do hemisfério norte. No hemisfério
sul as glaciações modificaram a distribuição da umidade, provocando desintegração de
grandes espaços contínuos de floresta e favorecendo a expansão de vegetação de clima
mais seco. Por essa razão, os biogeógrafos admitem que a grande riqueza de espécies
que ocorrem na vegetação brasileira é uma herança pretérita do período quaternário. Apesar
das grandes dúvidas que ainda se têm a respeito desse assunto, a hipótese de fragmentação
das florestas e de expansão de formações abertas têm motivado um grande número de
pesquisas sobre o período quaternário.
A história da flora brasileira resultou numa grande diversidade de associações,
estudadas por um dos ramos da Geografia, que é a fitogeografia, ou distribuição espacial
das associações vegetais. Há diferentes critérios de classificação da vegetação brasileira
e sua distribuição. Cada autor seleciona, conforme o seu enfoque, critérios que podem
ser fisionômicos, ecológicos, bioclimáticos etc. Considerando que uma formação vegetal
é resultado de sua história e de sua ecologia, adotamos o conceito de agrupamento
proposto por Ab’Sáber (1977): os domínios morfoclimáticos. A classificação morfoclimática
reúne grandes combinações de fatores geomorfológicos, climáticos, hidrológicos,
pedológicos e botânicos que por sua relativa homogeneidade são adotadas como padrão
em escala regional.
Os domínios morfoclimáticos apresentam áreas homogêneas centrais (áreas core)
com extensas faixas de transição entre si, nas quais se distribuem formações vegetais
mistas, em gradientes ou não, que no caso dos domínios brasileiros não apresentam uma
distribuição zonal. O que define cada um deles é um conjunto de variáveis semelhantes cuja
distribuição pode ser sazonal. Um aspecto importante do conceito de Ab’Saber é a sua
dimensão temporal: um domínio depende não apenas da zonação climática atual mas
também dos “efeitos acumulados dos climas do passado”.

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Domínios Morfoclimáticos e Fitogeografia do Brasil

As terras baixas florestadas da amazônia

Este domínio compreende as planícies inundáveis da Amazônia, com matas de terra


firme, várzeas e igapós; os tabuleiros com vertentes semimamelonizadas; os morros baixos
em forma de meia laranja (mamelonares) nas áreas onde afloram os terrenos cristalinos; os
terraços com cascalhos e formação de laterita. A drenagem é outro traço que caracteriza
este domínio. Na Amazônia existe uma rica variedade de águas perenes, com rios negros,
brancos e de águas cristalinas.

O que é Amazônia?
A Amazônia é uma grande bacia hidrográfica que se estende da cordilheira andina e
avança por todo o Norte do Brasil, recoberta predominantemente por um mosaico de
formações florestais. Fora do Brasil, a floresta amazônica se estende pela Guiana Francesa,
Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia.
A floresta pluvial que cobre grande parte dessa área tem seus limites, no Brasil,
definidos pelas caatingas do Nordeste - que formam uma transição com a vegetação
conhecida como Zona dos Cocais. A partir dos cerrados do Centro-Oeste, a floresta se
separa por uma extensa faixa de matas secas.
A bacia amazônica tem uma história. Ela se formou numa seqüência de eventos
geológicos muito antigos, de mais de 420 milhões de anos, na era paleozóica. O escudo
das Guianas e o escudo brasileiro delimitavam a antiga bacia, que, naquela época, antes
da formação dos Andes e da separação da África, fluía para oeste.
A separação dos continentes e o soerguimento dos Andes inverteram a direção dos
cursos de água para o leste, durante o Terciário. Nessa fase estima-se que a antiga bacia
era formada por grandes lagos e uma drenagem muito diferente da atual. Esses lagos foram
sendo preenchidos por sedimentos e ao longo do tempo a drenagem foi ganhando a
organização atual.

A floresta pluvial situa-se


nas regiões onde a precipitação
está acima de 1800-2000 mm/
ano. Essa umidade não é homo-
gênea na bacia. A hiléia apresenta
como conseqüência, um mosaico
de florestas.

O clima quente da Amazônia não apresenta temperaturas extremamente altas, mas


médias regulares durante o dia e a noite e ao longo do ano todo. Como toda a bacia se
eleva pouco acima do nível do mar e se mantém assim, não há variações climáticas
provocadas por altitude (exceção feita à região andina). Temperaturas aproximadamente
constantes e precipitações elevadas favorecem a pujança da vegetação amazônica. A
existência de uma região mais seca próxima a Santarém interrompe a distribuição de muitas
espécies de árvores, criando uma floresta úmida oriental distinta da ocidental. No mosaico
de florestas da região amazônica há uma diversidade de associações vegetais ainda pouco
conhecidas, mas que podem ser agrupadas em três padrões básicos: as matas de terra
firme, as matas de várzea e os igapós. O desenvolvimento desses padrões depende do
regime de inundação dos rios.

53
As Florestas
Na Amazônia existem florestas de inundação e florestas de terra firme.
As florestas de inundação podem ser divididas em dois tipos: as matas
permanentemente inundadas (igapós dos rios de águas claras e pretas) e as
Biogeografia florestas de inundação periódica (as matas de várzea dos rios de água
branca). Existem ainda, na região litorânea, os manguezais, inundados
periodicamente pelas marés.

Mata de Igapó
Ocorre em solo permanentemente alagado, em terrenos
baixos próximos aos rios. Ocupam 15 mil km2 do total da hiléia.
Via de regra, o solo e a água dos igapós são ácidos. Sua
vegetação permanece verde (é perenifólia), com folhas largas, e
as árvores maiores atingem até 20 m de altura, com ramificação
baixa e densa. Aparecem muitos arbustos e cipós, além de raízes
escoras e respiratórias. São incontáveis as epífitas, variando de musgos e hepáticas até
angiospermas mais evoluídas (Araceae, Cactaceae, Bromeliaceae, Gesneriaceae,
Orchidaceae etc.). As árvores mais típicas são o arapati e a mamorana. Flutuando sobre as
águas aparecem as folhas da vitória-régia, que podem atingir 40 cm de diâmetro. Alguns igapós
durante curtos períodos podem secar, dando origem a praias arenosas.

Matas de Várzea
Cobrem 55 mil km2 da região amazônica. Localizam-se sobre terrenos periodicamente
alagados e sua composição florística varia de acordo com a duração do período em que
ela é alagada, o que é determinado pela altura em relação ao nível de base dos rios. Nas
áreas mais alagadas ela se assemelha aos igapós, nos menos alagados (altas) se parece
com vegetação de terra firme.
As matas de várzea apresentam árvores de grande porte, entre as quais se destacam
as famílias Leguminosae, Sapotaceae, Moraceae. São típicos o cumaru-de-cheiro, a serin-
gueira e o pau-mulato.

Matas de Terra Firme


Ocupam terras mais altas numa área que abrange 90% da área total da bacia amazônica.
As árvores são altas (60-65 m), carregadas de epífitas e cipós lenhosos. As florestas são
compactas, perenifólias e higrófilas. No alto as copas das árvores formam um dossel contínuo
que retém 95% dos raios solares, tornando o interior da floresta muito escuro e úmido. Há
ocorrência de algumas plantas representativas como: castanha-do-pará, caucho, sapucaia,
maçaranduba, cedro, sumaúma, palmeiras (paxiúba) e figueiras (mata-paus).
No meio da floresta aparecem tipos especiais de associa-
ções locais, que se diferenciam pela sua composição florística e
ecológica. São os campos e a “caatinga” amazônica, que ocorrem
no alto rio Negro e no alto Solimões. São formações abertas, sempre
verdes e com folhagem xeromórfica. São inteiramente diferentes da
caatinga nordestina, predominando nos campos limpos (próximos
à Boa Vista) e nas manchas de cerrados. No Amapá, na ilha de
Marajó e nas planícies amazônicas onde não se instalou a floresta
apa-recem as campinaranas, predominantemente de gramíneas. Os
campos cerrados formam “ilhas” de vegetação do tipo savânica no
litoral (ilha de Marajó), no baixo Amazonas (Pará, entre os cursos
superiores dos rios Jari e Trombetas e no sul do Pará e Amazonas,
na altura do médio Tapajós, entre os rios Purus e Madeira).

54
A Vida na Floresta
As florestas amazônicas apresentam um funcionamento auto-sustentado. Para formar
a densa biomassa que possuem, elas necessitam de uma alta taxa de fotossíntese e da
disponibilidade de nutrientes. As condições climáticas locais permitem que a fotossíntese
funcione com alto índice de produtividade e a produção elevada de biomassa está na ordem
de 500 t/ha de carbono (peso seco), concentrada, sobretudo, nas plantas (Salati et al., 1983).
O aspecto peculiar da floresta é que ela não vive dos nutrientes dos solos de baixa fertilidade.
As florestas vivem sobre o solo, realizando a ciclagem de nutrientes por meio de um sistema
peculiar no qual a principal fonte alimentar não são os estoques do solo.
Na Amazônia essa ciclagem em solos não-férteis é realizada pela própria floresta,
através do manto de detritos (folhas, troncos caídos, animais mortos, etc.). Costuma-se
dizer que a ciclagem é tão rápida e eficiente que quase não há exportação para os rios ou
para os solos. Por essa razão, há grande número de rios negros com baixa fertilidade. O
grande dano ambiental nas áreas que sofreram desmatamento reside na perda do sistema
de reciclagem e no conseqüente empobrecimento rápido dos solos.
A floresta tropical apresenta grande dinamismo. As idéias do passado de que a floresta
amazônica era senil foram derrubadas com os estudos que comprovam sua grande
heterogeneidade no espaço e no tempo. As florestas amazônicas são sucessionais, pelo fato
de novas clareiras de sucessão se abrirem constantemente no seu interior por processos naturais
de queda de árvores. É, portanto, difícil aplicar-lhes o conceito de floresta climáxica, pois nelas
não se tem verificado estabilidade. Por outro lado, a fragmentação quaternária durante os períodos
glaciais também reforça o fato de que as matas amazônicas são dinâmicas e sucessionais.

Para refletir!
O Futuro da Amazônia.
Pensar no futuro da floresta amazônica requer a compreensão de múlti-
plos problemas que se entrelaçam no plano político, econômico, cultural e
ecológico. As questões políticas são mais complexas e diversificadas que a
própria floresta. A destruição da floresta está relacionada com graves proble-
mas agrários do país, gerados por um modelo de desenvolvimento concentra-
dor de capitais em terras, pela monocultura de exportação e pelo extrativismo
mineral. O próprio governo loteou a Amazônia nas décadas de 60 e 70 em
projetos agropecuários subsidiados, conseqüência da estrutura agrária brasi-
leira são também os projetos de ocupação da Amazônia ocidental promovidos
na década de 80 pelo INCRA.
A política de desenvolvimento baseada na exportação de matériasprimas
trouxe também à Amazônia grandes projetos de mineração, como as indústrias
de ferro-gusa de Carajás, de bauxita e de cassiterita, que promoveram grandes
desmatamentos para a produção de carvão vegetal e incentivaram o programa
de construção de hidrelétricas e estradas e a urbanização caótica. Os planos
hidrelétricos de Samuel, Balbina e Tucuruí, a abertura de estradas sem nenhum
planejamento ambiental, como a Transamazônica, a BR-364 e a BR-429, abriram
as fronteiras da destruição. Os grupos que lucraram e lucram com o desma-
tamento da floresta certamente não são os mesmos que pagam os custos
ambientais, sociais e financeiros. Por outro lado, a floresta vem sendo mantida
em pé por tempos imemoriais pelas populações tradicionais, que praticam a
agricultura itinerante em pequenas áreas e o extrativismo.

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As Florestas Costeiras (Mata Atlântica)

No século XVI, quando os colonizadores europeus chegaram à América


do Sul, as florestas litorâneas ocorriam ao longo das costas brasileiras
Biogeografia acompanhando as cadeias de montanhas desde o Nordeste (Rio Grande do
Norte) até o Rio Grande do Sul. Essas florestas adentravam o interior do
território brasileiro na região dos Estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
Devido à intensa devastação, essas matas estão praticamente extintas no país. Atualmente
elas se restringem à região das serras do Mar e da Mantiqueira, no Sudeste do Brasil.
As florestas ocupavam originalmente cerca de 1,1 milhão de km²; hoje as estatísticas
apontam que a sua área não chega a 5% desse total. Foram substituídas, num primeiro
momento, pela agricultura da cana-de-açúcar, no Nordeste, e do café, no Sul. Ao longo da
história, a floresta foi sendo devastada também pela urbanização e industrialização, que
exigiram a extração de madeiras de extensas áreas. Atualmente, a floresta cede lugar ao
turismo predatório, principalmente nas planícies litorâneas, onde além das matas de baixadas
também vêm sendo destruídas as restingas e os manguezais (ecossistemas associados à
Mata Atlântica).
Nesse processo de devastação, o Brasil desmatou só nos últimos trinta anos áreas
equivalentes a mais de 2 mil Parques Nacionais do Itatiaia ou quase 35 vezes o Parque
Nacional do Jaú, no Estado de Rondônia, com 2272 milhões de ha de extensão. A cada ano
perdeu-se o equivalente a 2936 km2 de florestas. Esses dados referem-se à derrubada
total da mata, ou seja, o corte das árvores rente ao chão. Provavelmente os índices serão
maiores se for considerado o desmatamento seletivo por dentro da mata de apenas algumas
espécies de valor econômico, como o palmiteiro, as perobas, os jacarandás e os ipês.

Mas o que é a Mata Atlântica?


O primeiro nome dado pelos portugueses à extensa muralha verde que separava o
mar das terras interiores foi Mata Atlântica. Hoje esse é um nome genérico com que
popularmente é conhecida uma grande variedade de matas tropicais úmidas que ocorrem
de forma azonal nas regiões costeiras do Brasil, acompanhando a distribuição da umidade
trazida pelos ventos alísios de sudeste.
O mecanismo de distribuição da umidade da Massa Polar Atlântica é o responsável
pela exuberância e diversidade dessas florestas. Os ventos carregados de umidade são
barrados por diversos acidentes orográficos na zona costeira, descarregando grandes volumes
de água. Parte das regiões de maior pluviosidade do Brasil encontra-se na região Sudeste.
A mata atlântica é fisionomicamente semelhante à Floresta amazônica. São igual-
mente densas, com árvores altas em setores mais baixos do relevo, apesar de as árvores
da Amazônia apresentarem, em média, desenvolvimento maior. Os troncos são recobertos
por grande diversidade de epífitas, um aspecto típico dessas florestas.
A existência de grupos semelhantes de espécies entre a Amazônia e a Mata Atlântica
sugere que essas florestas se comunicaram em alguma fase de sua história. A história desse
parentesco é muito antiga e as semelhanças taxonômicas se dão entre famílias e gêneros.
A floresta atlântica guarda, apesar de séculos de destruição, a maior biodiversidade
por hectare entre as florestas tropicais.
Ecologicamente, a distribuição azonal e em altitudes variá-
veis favorece a diversificação de espécies, que estão adaptadas
às diferentes condições topográficas, de solo e de umidade. Além
disso, durante as glaciações essas florestas mudaram de área
nos ciclos climáticos secos e úmidos. Essas mudanças ou pulsa-
ções da floresta influenciaram a formação dos padrões atuais.

56
A grande quantidade de matéria orgânica em decomposição sobre o solo dá à Mata
Atlântica fertilidade suficiente para suprir toda a rica vegetação. Este fato também é notado
em toda a floresta amazônica, onde um solo pobre mantém uma floresta riquíssima em
espécies, graças à rápida reciclagem da enorme quantidade de matéria orgânica que se
acumula no húmus. A reciclagem dos nutrientes é um dos aspectos mais importantes para a
revivescência da floresta.
As plantas arbóreas, que formam um grupo significativo, estão representadas
principalmente por canelas, capiúvas, paus-de-santa-rita, figueiras, jequitibás, cedros,
quaresmeiras, ipês, cássias, palmeiras e embaúbas. As florestas pluviais costeiras, apesar
de sua grande heterogeneidade de formações, podem ser divididas em duas grandes
regiões: o trecho norte do Brasil e o trecho sul. Esses dois setores se separam por uma
faixa de climas mais secos na região de Cabo Frio (RJ).
O trecho norte dessas florestas compreende as florestas costeiras propriamente ditas
e as matas dos tabuleiros que se estendiam originalmente de Natal até abaixo do rio Doce
(MG-ES). No Estado da Bahia as florestas pluviais se expandiram, acompanhando as
drenagens, quilômetros para o interior do Estado.

A Vegetação da Caatinga

As caatingas compreendem diferentes tipos de associações vegetais que formam


matas secas e campos.

Mata Seca
A caatinga propriamente dita é uma mata seca que perde suas folhas durante a es-
tação seca. Apenas o juazeiro, que possui raízes muito profundas para capturar água do
subsolo, e algumas palmeiras não perdem as folhas. As plantas da caatinga estão adaptadas
às condições climáticas e possuem várias adaptações fisiológicas para sobreviver à seca.
Apresentam revestimento nos tecidos que ajuda a perder menos água por transpiração. As
plantas xeromórficas apresentam folhas grossas, coriáceas e pilosas. As folhas são mais
miúdas e muitas têm forma de espinhos, como nos diversos tipos de cactos das caatingas,
A geografia das matas de caatinga tem recebido várias designações locais, conforme os
tipos de plantas que são freqüentes e a estrutura da vegetação. Exemplo dessas designações
locais é o carrasco, uma formação de matas secas onde predomina o pau-pereiro, os
juazeiros, os angicos, o pau-ferro e a barriguda; ocorrem também no carrasco palmeiras
típicas, como a carnaúba, o uricuri e o catolé.

Nas caatingas arbustivas as árvores são mais raras e as


cactáceas e euforbiáceas são as mais representativas. A
caatinga arbustiva apresenta formações que a aproximam da
vegetação de campos.

Ecologicamente, podemos distinguir cinco tipos de caatinga:

• Caatinga seca não-arbórea – As associações vegetais crescem em grupos, mas


não formam dossel. Há grande predomínio de cactáceas e não ocorrem árvores.
• Caatinga seca arbórea – Predominam o pau-pereiro e arbustos isolados.
• Caatinga arbustiva densa – São bosques densos com árvores isoladas.
• Caatinga de relevo mais elevado – São bosques densos com pluviosidade alta.
• Caatinga do chapadão do Moxotó — É um tipo especial de caatinga que ocorre
nesse planalto arenoso, com muitas cactáceas arbóreas.

57
Para refletir!
Para refletir...
Biogeografia A pobreza da população nordestina não origina-se na
ecologia da região. A caatinga propriamente dita é muito rica
em espécies frutíferas; muitas plantas produzem fibras, ceras
e óleos vegetais. No entanto, a caatinga tem pequena capaci-
dade para abrigar uma pecuária convencional. Em outras
palavras, uma agropecuária nos moldes europeus, como a
praticada em outras regiões do Brasil, não é viável no semi-
árido nordestino.

Você Sabia?
Subunidades nordestinas
Quando se fala em Nordeste, pensamos logo na seca. Mas será que
o Nordeste é mesmo uma região toda seca?
A combinação entre os vários elementos da natureza e a ação do
homem sobre o espaço fizeram surgir no Nordeste quatro paisagens bem
distintas: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte. Essas regiões
são, hoje, o resultado das transformações geoecológicas, ocorridas ao longo
do tempo, combinadas com as diferentes formas de ocupação humana.
A Zona da Mata é uma faixa estreita que acompanha o litoral leste
nordestino, formada por terras baixas (planície), muito férteis, onde o clima
é quente e úmido, produzindo uma formação vegetal exuberante, denomi-
nada Mata Atlântica, já caracterizada no tópico anterior.
O Agreste tem o relevo mais alto do que a Zona da Mata. É uma área
ecótona, ou seja, de transição entre duas regiões bem diferentes: a Zona
da Mata, úmida, e o Sertão, seco. O clima é quente, nem muito úmido nem
muito seco. Sua vegetação original é uma mistura da Caatinga, própria de
clima seco, e plantas de floresta, próprias de clima úmido.
O sertão, situado ao centro da região, é a área mais seca do Nordeste,
onde o clima é quente e as chuvas raras e irregulares. Esta condição ambiental
caracteriza a formação de vegetais típicos da Caatinga, não sendo raro
visualizar, dentro desta paisagem rude, plantas de caráter ruiniformes, formada
por folhas miúdas e muitos espinhos, adaptadas a este rigor ambiental.
O Meio-Norte também é uma área de transição (ecótona) situada entre
o Sertão, seco, e a Amazônia, úmida. Sua vegetação acompanha os dife-
rentes tipos de clima: onde é mais úmido, há floresta; onde só chove durante
alguns meses do ano, há cerrado, e existe, ainda, uma mata, formada
principalmente de palmeiras, conhecida como mata dos cocais.
Relembrando a pergunta inicial deste tópico conseguimos agora
responder se no Nordeste só existe seca?
A Vegetação de Campos Secos das Chapadas
As chapadas se estendem por grandes áreas no domínio das caatin-
gas. Esses planaltos possuem grandes extensões de campos secos xeromór-
ficos, onde predominam plantas arbustivas e herbáceas. O grupo das
gramíneas é o dominante no recobrimento do solo pedregoso. As cactáceas
estão presentes e a região em que elas predominam é o Sertão do Seridó.

58
Chapadões cobertos por Cerrados e penetrados por Floresta de galeria
Quase 1/5 da população do mundo habita as formações savânicas. A maioria dessas
populações é constituída por sociedades rurais. Apesar dos solos pouco férteis para os
tipos de produtos agrícolas que são cultivados, as savanas continuam a ser progressivamente
transformadas em pastagens e monoculturas. Os cerrados brasileiros pertencem ao bioma
savânico. Hoje, extensas áreas de cerrados do Brasil Central estão ocupadas com a
produção de grãos, principalmente a soja.
O cerrado tem sido definido como floresta-ecótono-campo. O conceito de ecótono,
menos rígido do que as classificações fisionômicas e florísticas referem-se ao mosaico
cerrado. Ao longo desse ecoclíneo (cerradão-campo limpo), a biomassa arbórea e arbustiva
decresce paulatinamente. Os ecótonos seriam produzidos pela ação de alguns fatores de
controle do desenvolvimento da biomassa arbórea e arbustiva. Os fatores principais nesse
ecoclíneo são, principalmente, as condições do solo e a ação das queimadas.

Os cerrados arbóreos têm uma fisionomia característica,


marcada pelas árvores, geralmente tortuosas e espaçadas, com
troncos de cortiça espessa e folhagem coriácea e pilosa. Apesar
do aspecto xeromórfico que estas características conferem às
árvores e aos arbustos, lembrando regiões semi-áridas, não há
escassez de água nos cerrados, mesmo nas estações mais secas.

Os cerrados brasileiros, em contraste com as savanas africanas, são úmidos, apesar da


sazonalidade da umidade. As estações chuvosas e secas são bem marcadas, e as precipitações
anuais estão acima de 1000 mm. As espécies de plantas arbóreas estão adaptadas para retirar
água de grandes profundidades do solo, com raízes que atingem mais de 15 m. A água não é
limitante para o desenvolvimento do estrato arbóreo. A sazonalidade climática expressa-se
claramente na estrutura e no funcionamento dos cerrados, que apresentam diferentes fenofases
dos grupos de espécies que neles se desenvolvem.

Mas, por que ocorre o bioma de Cerrado?


Várias teorias discutem a origem e a ocorrência de cerrados. Warming, um dos
pioneiros na pesquisa dos cerrados, defendia na década de 60 a teoria climática, isto é, a
sazonalidade climática com estações mais secas explicaria os cerrados. Warming, apesar
da forte tendência à explicação climática, já considerava os solos como um fator relevante no
desenvolvimento da vegetação. Rawitsher e Ferri, na década de 60, realizando estudos sobre
a transpiração de plantas de cerrados, concluíram que não havia déficit hídrico e que as plantas
transpiravam a taxas elevadas normalmente com seus estômatos abertos durante todo o dia.
Os resultados dessas pesquisas causaram grande impacto na época, pois indicavam
cientificamente que o solo continha uma capacidade de reserva suficiente para manter a
transpiração das plantas funcionando mesmo com altas taxas de perdas para a atmosfera.

Novos estudos levaram os pesquisadores a buscar outros


fatores que explicassem o xerofitismo dos cerrados. Anos mais
tarde, demonstrou-se que a baixa fertilidade natural do solo é a
principal causa da origem dessas formações. As espécies
típicas de cerrados só se desenvolvem em solos ácidos e
extremamente pobres em bases trocáveis, principalmente em
cálcio. A formação dos cerrados é controlada pela composição
do solo mais do que por qualquer outro fator.

59
Queimadas no Cerrado

Os solos dos cerrados são, naturalmente, pobres em nutrientes, devido


a sua origem associada a depósitos sedimentares antigos, que vêm sofrendo
Biogeografia pedogênese há milhares de anos. A heterogeneidade das formações de
cerrados reflete-se também nas propriedades dos solos. De acordo com as
diferentes condições geológicas, geomorfológicas e climáticas, os solos dos
cerrados variam em textura, estrutura, perfil e profundidade.

O Cerrado, produção agrícola e degradação ambiental


Os cerrados do Brasil ocorrem em solos deficientes em nutrientes e com altas
concentrações de alumínio, o que determina uma propriedade importante: a capacidade de
troca catiônica (CTC), fundamental no metabolismo nutricional das plantas. O alumínio é
geralmente tóxico para a maioria das espécies utilizadas na agricultura.
As formações de cerrados ocupam terrenos planos ou levemente convexizados do
Brasil Central, com algumas ocorrências isoladas na Amazônia, em São Paulo e em Minas
Gerais. Uma das principais influências da topografia está na drenagem, que nas regiões de
cerrados se caracteriza por rios permanentes ladeados por matas de galeria e buritizais.
O cerrado foi um dos principais objetos de pesquisa nos anos 60 e 70, quando se
fizeram grandes investimentos agrosilvopastoris no Brasil Central. Infelizmente muitas das
informações valiosas sobre conservação dos cerrados que então se obtiveram não foram
igualmente incorporadas aos projetos econômicos. Hoje os cerrados, que representam,
em extensão, o segundo maior domínio vegetal do país, encontram-se ameaçados pelos
projetos de monoculturas e pastagens, com significativa perda de sua biodiversidade.

Planaltos de Araucária e Mata Subtropical

As matas de araucária ocorrem em solos férteis, sob climas com temperaturas


moderadas a baixas no inverno. Apesar disso, são matas de climas úmidos. Nas montanhas
e planaltos seus limites altitudinais acompanham a variação desses fatores. Por essa razão,
no Sul do país o limite inferior do bosque está a 500-600 m de altitude. Já na serra da
Mantiqueira outra expansão dessas matas é encontrada apenas acima de 1200 m. A
precipitação está acima de 1400 mm anuais e nunca abaixo de 1000 mm. Curitiba é
considerada a área de clima ótimo para o desenvolvimento da araucária.

As matas de araucária ocorrem em transição com as matas


subtropicais nas regiões mais baixas do relevo. Isso levou alguns
autores a considerar essas duas formações como ecótonos, ou seja,
sob determinadas condições de temperatura e umidade a floresta
de araucária tende a se expandir, ocupando os espaços da floresta
subtropical. Há interpretações de que durante os períodos glaciais
as temperaturas no Sul foram mais baixas, favorecendo a expansão
dessas florestas. No período mais quente elas cederiam espaço para
as florestas subtropicais. Isto explicaria as pequenas manchas
relictuais existentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

As matas de araucária são muito homogêneas, ou seja, formada por apenas um


indivíduo, em geral ocorrem em associação com outro “pinheiro”, o Podocarpus spp. As
paisagens de araucária passam abruptamente para matas de neblina e campos em algumas
regiões do Sul do país.

60
Duas peculiaridades merecem destaque nessas florestas. Primeiro a produção do
pinhão, que é muito apreciado na culinária nacional; e, segundo, o fato de possuir como
dispersores de suas sementes uma belíssima ave da família dos corvídeos, cujo canto é
inconfundível pela sua estridência: a gralha-azul.

Pantanal Mato-Grossense

Os primeiros exploradores paulistas chamaram de mato-grosso a paisagem que


encontraram ao ultrapassar o rio Paraná. A expressão acabou por denominar uma extensa
área de cerrados e formações inundáveis do Pantanal. No Brasil,
correspondem às planícies sedimentares inundáveis da
depressão da bacia hidrográfica do rio Paraguai. São terrenos
muito baixos que se estendem pelo Chaco paraguaio e se
prolongam até as planícies pampianas da América do Sul. O
complexo sistema de drenagem que inunda as planícies recebe,
conforme a área da bacia, denominações regionais, tais como
Paiaguás, Nhecolândia, Miranda, etc.
A depressão do Pantanal formou-se, provavelmente, após a separação da antiga
Gondwana e o soerguimento dos Andes, dando origem à bacia do rio Paraguai. Contribuem
para o regime de inundação as sub-bacias dos rios São Lourenço, Cuiabá, Miranda, Taquari,
Aquidauana, Nabileque, Apa, Negro, etc.
O Pantanal ocorre em clima tropical com temperaturas elevadas e estação seca
prolongada. O período mais quente ocorre em novembro-dezembro. Florestas, cerrados,
campinas higrófilas ocorrem em mosaicos habitados pela mais rica avifauna do planeta. É
o paraíso faunístico da América do Sul, cuja riqueza mal começou a ser conhecida. Apesar
disso, são inúmeras as ameaças que o vêm destruindo rapidamente. O extrativismo mineral,
sobretudo o garimpo, tem destruído o ambiente aquático, principal responsável pela
biodiversidade da região. A pecuária e as monoculturas praticadas nas altas bacias
hidrográficas, utilizando índices elevados de agrotóxicos, também são fatores importantes
de destruição.

Faça uma visita ao site oficial do IBAMA e veja mais sobre o assunto
www.mma.gov.br/port/sbf/chm/biodiv/perda.html

Biodiversidade brasileira

A biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável


pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas, e fonte de imenso potencial de uso
econômico. O Brasil, devido a sua magnitude espacial, comporta um mostruário bastante
completo das principais paisagens e ecologias do mundo tropical.
A conservação da biodiversidade, por sua vez, tem sua importância constatada por
seus desdobramentos econômicos, sociais e ambientais, na agregação de valor a produtos
e processos e na criação de novas oportunidades de empregos e de mercados,
principalmente para os países que a possuem. Seu potencial e impacto econômico não
podem ser negligenciados pelos diversos atores que participam do processo de conservação
e uso sustentável, como o governo, a comunidade técnico-científica, as empresas, as
populações tradicionais, as populações indígenas e a sociedade, usuária e beneficiária da

61
diversidade biológica. A pressão feita pela comunidade internacional,
especialmente por meio da aprovação CDB, foi e ainda é de grande
importância no sentido de chamar para o Estado esta responsabilidade.

Biogeografia

Para refletir!
Biopirataria
Mesmo não existindo uma definição etimologicamente padrão, pode-
mos afirmar que biopirataria é o ato de aceder ou transferir recursos de origem
vegetal ou animal para outro país, bem como a apropriação indevida de conhe-
cimentos populares acerca da biodiversidade de uma região, sem a expressa
autorização do Estado de onde fora extraído o recurso, ou da comunidade
tradicional que desenvolveu e manteve determinado conhecimento ao longo
dos tempos. Esta prática infringe as disposições vinculantes da Convenção
das Organizações das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica.
Vale ressaltar que a biopirataria envolve ainda a não-repartição justa
e eqüitativa - entre Estados, corporações e comunidades tradicionais - dos
recursos advindos da exploração comercial ou não dos recursos e conhe-
cimentos transferidos. Atenta aos pedidos de socorro do meio ambiente e
declarado amor à nossa soberania, a sociedade civil passou a encarar a
biopirataria com mais seriedade, descobrindo alternativas de preservação
e manutenção dos ativos ambientais.
No entanto, mesmo estando o meio ambiente protegido por lei,
patente é que não temos ainda o aporte de recursos estruturais e políticos
necessários e uma capacidade jurídico-institucional capaz de punir esse
vilipêndio da biodiversidade brasileira.
Numa época de crescente valorização da biotecnologia com a utiliza-
ção de organismos vivos ou de suas células e moléculas para produção de
substâncias, gerando produtos comercializáveis, o empenho político
merece urgentemente ser reestruturado e reconstruído com base na impor-
tância da biodiversidade amazônica, que sempre se caracterizou por um
constante movimento genético.

62
Saiba mais a respeito de biopirataria
www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=14541

Atividades
Complementares
1. A considerável extensão latitudinal do território brasileiro, em conjunto com alguns
fatores limitantes, tais como água, luz e solo, deu origem, ao longo dos tempos, a formações
paisagísticas singulares. A partir desta assertiva elabore um quadro esquemático dos biomas

2.
brasileiros, dando ênfase aos principais fatores fisionômicos e limites determinantes.

Relacione os biomas mundiais com as formações vegetais encontradas no território


brasileiro, estabelecendo semelhanças fisionômicas.

3. Podemos destacar que a biodiversidade brasileira encontra-se entre as mais ricas e varia-
das do globo terrestre. Sendo assim, explique a importância da conservação dessa biodiversidade.

4. O bioma cerrado corresponde ao bioma das savanas. Você concorda com a afirma-
ção? Justifique.

5. Caracterize o bioma do município onde você reside.

63
O PAPEL DA
BIOGEOGRAFIA NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Biogeografia

O Homem e o Meio Ambiente

O avanço técnico e científico e o crescente processo de industrialização, seja nos países


ricos, seja nos pobres, nos capitalistas ou nos socialistas, vêm progressivamente interferindo,
agredindo e alterando a natureza, em benefício dos interesses imediatos dos homens.
Conforme se pôde perceber nos capítulos anteriores, a natureza é um conjunto de
componentes ambientais composto pelos três estados físicos da matéria (ar, água e terra)
e pelos seres vivos (animais e vegetais). Esses componentes são interdependentes e
apresentam uma funcionalidade marcada pela permanente troca de energia e matéria entre
si. A ação combinada de ar, terra e água tornou possível a evolução lenta e permanente da
vida animal e vegetal na superfície da Terra. Nesse contexto, as novas formas de vida animal
e vegetal, com a evolução gradativa das espécies e o desaparecimento de outras ao longo
do tempo na história natural da Terra, possibilitaram o surgimento da espécie que hoje se
caracteriza como a principal predadora dos recursos da natureza - o Homem.
Os registros da história natural indicam que os primeiros vestígios da vida animal e
vegetal sobre a Terra remontam a pelo menos 1 bilhão de anos e, portanto, à era pré-
cambriana. A espécie humana apareceu no último milhão de anos, no período pleistoceno
da era cenozóica. Assim sendo, a história do homem como espécie animal é curta diante
da história da vida na Terra.
Se a história natural do homem, com relação ao tempo geológico, é insignificante,
menor ainda é sua história como ser socialmente organizado; os registros nesse sentido
assinalam um período entre seis e sete mil anos (quatro ou cinco mil antes de Cristo e mais
dois mil depois de Cristo).
Sendo o homem a espécie que, desde os primórdios da civilização, se disseminou
por quase toda a superfície do planeta, as carências de alimento, de abrigo e de agasalho,
associadas à expansão crescente do número de indivíduos da espécie, foram exigindo
cada vez mais criatividade para a solução de suas necessidades vitais. As necessidades
dos grupos sociais humanos foram desenvolvendo cada vez mais e melhor a capacidade
cerebral do homem, sempre à procura de soluções para seus problemas de sobrevivência.
Dentro desta perspectiva, ele foi selecionando as espécies vegetais de maior interesse
para a sua alimentação e para a confecção de abrigos e agasalhos, domesticando animais
mais dóceis e caçando outros, que forneciam carne e couro.
A capacidade crescente do raciocínio e o aumento do número de indivíduos,
organizados em sociedades cada vez mais complexas, transformaram lentamente o homem
no animal mais importante da Terra e, portanto, no maior predador da natureza. A evolução
progressiva do homem como ser social mostra que, quanto mais ele evolui tecnicamente,
menos se submete às imposições da natureza. Desse modo, se, por um lado, o homem
como animal é parte integrante da natureza e necessita dela para continuar sobrevivendo,
por outro, como ser social, cada dia mais sofistica os mecanismos de extrair da natureza
recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de modo profundo a funcionalidade
harmônica dos ambientes naturais.
Ao passar de simples coletor de frutos e caçador para agricultor, criador de rebanhos
e construtor de abrigos e de equipamentos cada vez mais complexos, o homem passou
inadvertidamente a alterar o equilíbrio e a funcionalidade dos ambientes naturais, privile-

64
giando a expansão de um pequeno número de espécies animais e vegetais e eliminando
uma grande quantidade de outras, que não eram de interesse imediato para satisfazer às
suas necessidades.
Atualmente, a crescente industrialização concentrada em cidades, a mecanização
da agricultura em sistemas de monocultura, a generalizada implantação de pastagens para
criação de gado, a intensa exploração de recursos energéticos, como o carvão mineral e o
petróleo, a extração de recursos minerais, como o cobre, o ferro, o ouro, o estanho, o alumínio,
o manganês, entre inúmeros outros, alteram de modo significativo a terra, o ar e a água do
planeta, chegando algumas áreas a degradações ambientais irreversíveis.
Nesse processo acelerado de tecnificação das sociedades humanas, algumas
regiões do planeta foram palco de maiores alterações. Essas regiões, como os países
europeus e os Estados Unidos, alteraram extensas áreas, eliminando florestas e campos e
extinguindo grande parte da fauna terrestre. A intensa concentração industrial no centro-sul
da Inglaterra, no norte-nordeste dos Estados Unidos, no vale do rio Sena na França, no vale
do Reno, na Alemanha, no vale do rio Pó, na Itália, no Leste europeu, no centro-sul do Japão,
no sul-sudeste da Ásia, no sul-sudeste do Brasil e em outras áreas menores espalhadas
pelo mundo está fazendo com que essas regiões sejam duramente afetadas por resíduos
industriais e domésticos. Nessas áreas, o ar, as águas de superfície, do subsolo e dos
litorais, bem como as superfícies dos terrenos, estão com suas características naturais
totalmente alteradas. Nos últimos cem anos de crescimento demográfico acelerado e forte
desenvolvimento industrial, poucas são de fato as áreas do mundo que não tenham sido
total ou parcialmente devastadas pelas práticas predatórias dos homens.

Problemas Ambientais

Nas grandes cidades dos países subdesenvolvidos, os problemas ambientais são


muito maiores do que nos países desenvolvidos, pois, além das questões relativas à poluição
do ar, da água e do solo gerados pelas indústrias e pelos automóveis, existem os problemas
relacionados com a miserabilidade da população, que sobrevive em péssimas condições
sanitárias, vivendo em grandes adensamentos demográficos nos morros, mangues, margens
de rios, correndo todo tipo de riscos.
O crescimento rápido das cidades não pode ser acompanhado no mesmo ritmo
pelo atendimento de infra-estrutura para a melhoria da qualidade de vida de suas
populações. A deficiência de redes de água tratada, de coleta e tratamento de esgoto, de
pavimentação de ruas, de galerias de águas pluviais, de áreas de lazer, de áreas verdes,
de núcleos de formação educacional e profissional, de núcleos de atendimento médico-
sanitário é comum nessas cidades.
Um dos grandes problemas evidenciados nos grandes centros demográficos,
principalmente no Brasil, é a questão do lixo doméstico (resíduos sólidos descartados pelas
donas de casa, restaurantes e bares), que a cada dia mais torna-se uma grande preocupação
do poder público, pois além dos problemas de poluição ambiental causados por seu elevado
volume constitui também um acentuado desperdício de recursos em matérias-primas que
deveriam ser reaproveitadas. O lixo gerado nas cidades tem-se tornado cada dia mais
problemático basicamente por duas razões: a população urbana tornou-se muito numerosa
e gera volumes de lixo cada vez maiores, a evolução técnica e o processo crescente de
desenvolvimento industrial geram, cada vez mais, tipos de lixo que a natureza por si só não
consegue destruir, como os plásticos e vidros, que não são biodegradáveis. O lixo recolhido
nas cidades brasileiras tem diferentes destinos. Normalmente, nas pequenas cidades ele
vai para depósitos a céu aberto na periferia ou à margem das estradas. Nas cidades maiores,
os destinos são outros: incineração, aterros sanitários, usinas de compostagem para a

65
fabricação de adubo orgânico; parte dele é reciclada pela indústria. A exemplo,
pode-se citar a cidade de São Paulo, com aproximadamente 10 milhões de
habitantes, que produzia, em 1981, 18 000 t de lixo por dia. Desse enorme
volume, aproximadamente 10% era tratado em usinas de compostagem e
Biogeografia transformava-se em importante adubo orgânico. A maior parte, ou seja, 87%
eram levadas para aterros sanitários.

A Importância do Ensino da Biogeografia

A Biogeografia ensinada em sala de aula deve ir muito além de meramente explicar


conceitos e definições, o educador deve desenvolver diferentes estratégias de ensino
visando promover uma ampla conscientização ecológica que leve o discente a repensar
sua postura, enquanto ser racional, diante da vida; promovendo assim um processo de
responsabilização individual e coletiva da sociedade frente ao meio ambiente do qual integra.
Esse certamente não é um trabalho fácil. Sendo bem realistas é possível concordar que
estamos perdendo nessa batalha em muitas frentes. Infelizmente, os interesses econômicos
têm falado mais alto em muitas situações. A politicagem e a tentativa de culpabilizar os
países pobres pela situação de crise ambiental é vergonhosa e lamentável. Contudo é
importante e necessário que não nos deixemos levar por discursos de lamentação ou derrota,
mantendo-nos firmes na luta por um mundo melhor não apenas para nós, mas para as futuras
gerações que não devem ser penalizadas por nossas escolhas.
Cada ser tem direito à vida com qualidade e dignidade, independente de sua espécie,
raça, cor, religião, língua, gênero, ou qualquer outra característica. É sobre esse direito que
estamos falando ao tratar da dimensão sócio-ambiental da Educação.
No ambiente urbano de médias e grandes cidades, a escola, além de outros meios de
comunicação, é responsável pela educação do indivíduo e conseqüentemente da sociedade,
uma vez que há o repasse de informações, isso gera um sistema dinâmico e abrangente a todos.
A população está cada vez mais envolvida com as novas tecnologias e com cenários
urbanos perdendo desta maneira, a relação natural que tinham com a terra e suas culturas.
Os cenários, como os shoppings centers, por exemplo, passam a ser normais na vida dos
jovens e os valores relacionados com a natureza não tem mais pontos de referência na
atual sociedade moderna.
A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe
atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que
procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreen-
dendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um mínimo de
interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pressão exercida sobre os
recursos naturais.
Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica,
a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos
habitats faunísticos, além de muitas outras formas de agressão ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem
em relação à natureza, no sentido de promover sob um modelo de desenvolvimento sus-
tentável (processo que assegura uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma
a preservar os interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo atender as necessidades
das gerações atuais), a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com
reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos.
A Educação Ambiental, por sua natureza complexa e interdisciplinar que envolve
aspectos da vida cotidiana, questiona a qualidade de vida e cobra transformações; é plenamen-

66
te compatível com a Investigação-Ação. Mais que isso, é por meio desta perspectiva educacio-
nal que podemos desenvolver de forma plena a Educação Ambiental, justamente por seu
caráter coletivo, participativo, investigativo e ativo. Lembramos que, quase regra geral, a popu-
lação interessada, afetada pelos problemas ambientais, desconhece a legislação existente e
os canais competentes para encaminhar suas reclamações e anseios. Portanto, um programa
de educação ambiental para ser efetivo deve promover simultaneamente, o desenvolvimento
de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da
qualidade ambiental e, consequentemente, da qualidade de vida. Neste aspecto que a ciência
biogeográfica fornece suporte conceituais e metodológico de entendimento de uma realidade
sócio-ambiental que permite uma interferência prática nas ações políticas de cunho de gestão
ambiental, promovendo uma maior participação de uma população civil no tocante a natureza.

A Biogeografia e a educação ambiental

A Educação Ambiental pode ser entendida como um processo crítico transformador


capaz de promover um questionamento mais profundo sobre a realidade ambiental na qual
o homem se integra, levando-o a assumir uma nova mentalidade ecológica, pautada no
respeito mútuo para com o meio ambiente e os que dele fazem parte.
Tal definição encerra alguns termos chaves que merecem ser problematizados para
o entendimento da Educação Ambiental e seus desdobramentos. O primeiro deles é o de
processo. A idéia de processo implica na realização de algo que demanda certo tempo e
envolve uma série de variáveis, muitas delas difíceis de serem controladas.
Muitas vezes, o trabalho dos educadores ambientais é o de iniciar esse processo,
lento e gradual sem certeza absoluta de seus resultados. É como lançar sementes na terra.
Não sabemos se irão germinar e crescer. Podemos controlar alguns fatores como preparar
a terra, adubando-a ou regando. Mas não conseguiremos controlar todas as variáveis
envolvidas em suas fases do crescimento da mesma, ou as mudanças climáticas que
certamente irão afetá-la acelerando ou retardando seu crescimento.
Ao aprendemos mais sobre algo, passamos de uma consciência ingênua – leiga ou
parcialmente leiga - para uma consciência crítica - conhecedora do objeto estudado. No caso
da Educação Ambiental, é fundamental que aprendamos mais sobre o meio ambiente e suas
características. É necessário conhecer os ciclos fundamentais da natureza; os grandes biomas
do planeta; os animais em risco de extinção; o perigo dos agrotóxicos; dos transgênicos; a
degradação promovida pelo homem em seu habitat; enfim uma série de informações que
possam viabilizar um posicionamento critico (consciente) frente a uma determinada situação.
Assim, qualquer processo educativo tem como fim a aprendizagem, no seu sentido
mais amplo, ou seja, a percepção e adaptação mental de impressões, informações e
experiências no sentido de ampliar, aprofundar e transformar os conhecimentos, conceitos,
atitudes e comportamentos tanto individuais como grupais. A Educação Ambiental, da mesma
maneira, também assume como meta principal uma determinada aprendizagem individual.
Entendida enquanto necessidade permanente, a aprendizagem pretendida pela Educação
Ambiental, visa que o indivíduo reconheça e compreenda melhor o meio ambiente do qual
faz parte, buscando novas formas de relacionamento com o mesmo, pautadas nos princípios
de respeito e integração ambiental.

Vale a pena visitar o site:


www.projetoeducar.com.br/ambiental
E fique por dentro das novas tendências educacionais!

67
Atividades
Biogeografia Complementares

1. Como a ciência biogeográfica pode fornecer suporte técnico-conceitual no entendi-


mento dos problemas ambientais nos grandes centros urbanos?

2. Com a inovação dos processos tecnológicos e o fortalecimento de uma sociedade


de consumo, os espaços socialmente produzidos enfrentam, nos dias atuais, sensíveis
problemas com o montante de lixo produzido. Partindo desta problemática atual, mencione
ações que podem ser tomadas para atenuar tais degradações ambientais.

3. Comente a frase: “é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação


à natureza”, destacando o papel da biogeografia para a conscientização da preservação ambiental.

4. Estabeleça as possíveis relações entre o processo de globalização e o aumento dos


impactos ambientais.

5. De que forma o ensino da biogeografia assegurará a formação de cidadãos críticos


e reflexivos no trato com as questões ambientais?

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Atividade
Orientada
Prezado aluno, prezada aluna,

As atividades orientadas das diferentes disciplinas constituem-se propostas de


trabalho que lhe auxiliarão na construção do conhecimento específico em cada uma delas.
Sendo assim, valorizá-las e executá-las com todo empenho e dedicação é indispensável e
sabemos que você vem produzindo trabalhos acadêmicos com esse afinco.
Esta atividade é composta de três etapas e, ao serem executadas, abrir-lhes-ão
novos horizontes geográficos e biogeográficos.

Bom trabalho!

Etapa 1
ELABORANDO UM PROJETO AMBIENTAL

Leia atentamente o texto abaixo:

A Constituição Federal, ao consagrar o Meio Ambiente ecologica-


mente equilibrado como um direito do cidadão, estabelece vínculo entre
qualidade ambiental e cidadania.

Para garantir a efetividade desse direito, a Carta Magna determina


como uma das obrigações do Poder Público a promoção da Educação
Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública.

Fonte: www.ibama.gov.br

Deste modo, em grupo de 04 à 06 pessoas construa um PROJETO DE PESQUISA


com o tema CONSCIÊNCIA AMBIENTAL.
Para a consecução deste projeto desenvolva os seguintes itens:

• Tema: A FITOGEOGRAFIA DE XXXXX (substituir pelo nome de seu município, bairro,


reserva florestal, ou qualquer outra área que você deseja estabelecer como campo para
pesquisar);
• Fundamentação Teórica: levantamento teórico em forma dissertativa sobre a bibliografia
dos assuntos pesquisados. Ex: Livros de Biogeografia, livros ambientais, acervos locais,
internet, revistas especializadas, etc.
• Objetivo Geral e Objetivos Específicos;
• Metodologia: descrever quais os procedimentos técnicos utilizados para desenvolver o
projeto. Ex: levantamento de informações, pesquisa de campo e, culminância;
• Bibliografia: Citar todas as bibliografias e citações.

69
Atenção !
O TRABALHO DE CAMPO é OBRIGATÓRIO e deverá
Biogeografia constar no levantamento fotográfico da flora da área pesquisada

(SERÁ DESENVOLVIDO NA ETAPA 2 DA ATIVIDADE ORIENTADA);

Etapa 2
DA TEORIA À PRÁTICA:
O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO AMBIENTAL

(PROPOSTA PARA SAÍDA DE CAMPO)

A pesquisa de campo é o momento em que podemos vislumbrar e aplicar os conceitos


aprendidos em sala de aula na prática. A formação do professor crítico e consciente se
delineia a partir do momento em que ele não restringe o seu papel em apenas como um
mero transmissor de informações.

Dessa forma, esta etapa propõe consolidar os aspectos teóricos da Biogeografia


através da aplicação do desenvolvimento e aplicação do PROJETO desenvolvido na
ETAPA 1. Portanto, as equipes de 04 à 06 pessoas deverão seguir o roteiro abaixo:

1º Passo:

• Ir a campo e registrar, através de fotografias, as principais espécies vegetais de ocorrên-


cia na área definida para pesquisa (no mínimo 10 espécies);
• Pesquisar, em fontes bibliográficas ou na internet, os nomes científicos das espécies
registradas;
• Entrevistar, junto aos moradores mais antigos, se houve grandes modificações ambientais;

Atenção !
Como muitas espécies vegetais podem possuir características tóxicas
(venosas) ou outra forma de risco ao contato humano, não recomendamos
a manipulação direta das mesmas, por isso é indicado o registro por foto-
grafias. Deve-se, também, tomar cuidado para que espécies raras não sejam
depredadas em seu habitat natural.

2º Passo:

• De posse das informações coletadas, produzir textos relacionando o tipo de vegetação


pesquisado com o clima e solo da região pesquisada (Revisar o Material Impresso e o
AVA de Climatologia Geral e do Brasil);

70
Etapa 3
WORKSHOP AMBIENTAL

A formação do cidadão crítico e consciente se realiza somente dentro dos muros


acadêmicos ou mesmo da união da teoria à prática. Sendo assim, esta etapa é a
culminância ou a SOCIALIZAÇÃO do projeto e do desenvolvimento do mesmo construído
nas etapas anteriores.

Esta etapa será feita com grupos de 04 à 06 PESSOAS, da seguinte forma:

• Organizar as informações coletadas em formas de folders;


• Criar cartazes;
• Organizar uma exposição fotográfica das principais espécies vegetais;
• Promover no colégio no qual vocês desenvolvem as atividades de PPP e Estágio um
Workshop, com stands, distribuição dos folders e cartilhas ecológicas e apresentações
culturais. Lembre-se de envolver e convidar a comunidade na qual a escola está inserida.
• Construir um texto dissertativo com as principais impressões e contribuições que este
projeto promoveu na sua formação enquanto professor de Geografia.

Bons Estudos!

71
Biogeografia Glossário
Áreas Estuarinas ou Estuário – é uma faixa de transição entre a terra e o mar. É o
local onde a água do rio se encontra com a água do mar. Dessa mistura, resulta um solo
alagado, salino, rico em nutrientes e em matéria orgânica. É um local propício para a vida
dos manguezais e todas as outras vidas que neles habitam.

Cactáceas – Família de plantas peculiarmente destituídas de folhas e que têm o caule


muito engrossado, em virtude de amplas reservas de água. Quase sempre conduzem espinhos.
Flores ornamentais, dotadas de numerosas pétalas e estames, frutos por vezes comestíveis.

Ecótipo – Em genecologia, população (raça) local de uma espécie que apresenta


características botânicas peculiares, que surgem como resposta do genótipo às caracterís-
ticas ecológicas típicas do ambiente local. O ecótipo resulta de uma adaptação muito estreita
da planta ao ambiente local, onde a deriva genética pode revelar-se como um agente seletivo
de maior importância que os demais agentes da seleção natural.

Ecótono – (1) Região de transição entre dois ecossistemas diferentes. (2) Transição
entre duas ou mais comunidades diferentes; é uma zona de união ou um cinturão de tensão
que poderá ter extensão linear considerável, porém mais estreita que as áreas das próprias
comunidades adjacentes. A comunidade do ecótono pode conter organismos de cada uma
das comunidades que se entrecortam, além dos organismos característicos.

Embrião – Planta rudimentar no interior da semente, formada a partir da fertilização.

Equilíbrio – Um dos conceitos mais importantes dentro da ecologia. Um sistema


está em equilíbrio quando se efetuam trocas de energia de maneira balanceada, quando
efetivo da perda é compensado pelo efetivo do ganho. O desequilíbrio ecológico geralmente
é motivado pelo desejado de se obter lucros e rendimento rapidamente. As conseqüências
ambientais não pesam na avaliação do modelo de desenvolvimento predatório.

Evapotranspiração – (1) É o fenômeno que corresponde à evaporação das águas


acumuladas nas retenções e nas camadas superficiais do solo, acrescida da evaporação da
água da chuva interceptada pela folhagem da cobertura vegetal e da transpiração natural que
os vegetais executam (2) Quantidade de água transferida do solo à atmosfera por evaporação
e transpiração das plantas (3) Perda de água de uma comunidade biótica ou de um
ecossistema, causada por evaporação da água do solo e pela transpiração das plantas.

Fitoplâncton – (1) Plâncton autotrófico. (2) É o termo utilizado para se referir à comu-
nidade vegetal, microscópica, que flutua livremente nas diversas camadas de água, estando
sua distribuição vertical restrita ao interior da zona eutrófica, onde, graças à presença da
energia luminosa, promove o processo fotossintético, responsável pela base da cadeia
alimentar do meio aquático. (3) Plantas aquáticas muito pequenas, geralmente microscópicas.

Paleontologia – Ciência que interage com a biologia e a geologia. O estudo dos fós-
seis, ou seja, restos mineralizados de seres vivos ou vestígios de vida de organismos que existiram
durante a história da vida na Terra, e que se encontram preservados no registro geológico.

72
Predação – Relação alimentar entre organismos de espécies diferentes, benéfica
para um deles (o predador) às custas da morte do outro (presa).

Polinizadores – De Polinização. Ato de transportar o pólen de uma antera (parte em


que ele é produzido) até o estigma. Há dois tipos básicos de polinização: a autopolinização e
a polinização cruzada. Os agentes naturais (vetores) da polinização são tanto elementos
abióticos (ex.: vento e água) quanto agentes bióticos (ex.: insetos, pássaros e morcegos). Em
angiospermas, o pólen é geralmente transportado por insetos, aves ou morcegos, enquanto
em gimnospermas o vento encarrega-se desta missão.

Intemperismo – Conjunto de processos que ocasionam a desintegração e a decom-


posição das rochas e dos minerais graças à ação de agentes atmosféricos e biológicos.

Pluviosidade – Relativo à chuva. Proveniente da chuva.

Gondwana – A porção sul do supercontinente Pangea, recebe o nome de Gondwana


(terra dos gonds, povo da Índia) que existiu até o Cretáceo, quando se deslocou dando
origem a América do Sul, África, Antartida, Austrália, Índia.

Manguezais – (1) Sistema ecológico costeiro tropical, dominado por espécies vegetais
típicas (mangues), às quais se associam outros organismos vegetais e animais. Os mangues
são periodicamente inundados pelas marés e constituem um dos ecossistemas mais produtivos
do planeta. (2) São ecossistemas litorâneos, que ocorrem em terrenos baixos, sujeitos à
ação da maré, e localizados em áreas relativamente abrigadas, como baías, estuários e
lagunas. São normalmente constituídos de vasas lodosas recentes, às quais se associa tipo
particular de flora e fauna (FEEMA, proposta de Decreto de regulamentação da Lei n° 690/84). (3)

Nutrientes – (1) Qualquer substância do meio ambiente utilizada pelos seres vivos,
seja macro ou micronutriente, por exemplo, nitrato e fosfato do solo. Os plânctons (fitoplâncton
ou geoplâncton) incluem-se entre os nutrientes. (2) Elementos ou compostos essenciais
como matéria-prima para o crescimento e desenvolvimento de organismos, como, por
exemplo, o carbono, o oxigênio, o nitrogênio e o fósforo.

Nicho – (1) O papel desempenhado por uma espécie particular no seu ecossistema.
(2) Localização ecológica de uma espécie em uma comunidade ou ecossistema. Por exemplo:
posição na cadeia trófica; o limite do nicho é ditado pela presença de espécies competidoras.

Radiação – (1) As radiações emitidas podem ser naturais ou artificiais. Os raios do sol,
p.ex., ou os materiais radiativos naturais das jazidas estão entre as radiações naturais do planeta.

Salinidade – (1) Teor de substâncias salinas em um líquido. (2) Medida de concen-


tração de sais minerais dissolvidos na água.

Seleção natural – (1) Conjunto de fatores ambientais capazes de interferir na capaci-


dade de sobrevivência e de reprodução de seres vivos. (2) Fundamento da teoria darwiniana
para explicar a evolução; os caracteres que persistem em uma população são os mais bem
adaptados ao ambiente porque os organismos que dispõem de tais caracteres estão mais
aptos a sobreviver e se reproduzir.

Transgressão marinha – avanço dos mares por sobre as terras emersas, gerando
uma conseqüente elevação do nível do mar. Pode ser causado por fatores diversos, como
por exemplo, o abatimento de algumas regiões ou pelo derretimento de grandes extensões
da calota polar. É o contrário de regressão marinha.

73
Referências
Biogeografia Bibliográficas

Bibliografia Básica

DAJOZ, Roger. Ecologia geral. 2 ed. Petrópolis: Ed. Vozes, EDUSP, 1973. 474p.

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Geografia. Rio de Janeiro. IBGE-CNG, 11 (1); 3-92, 1949

FERRI, Mário Guimarães. Ecologia Geral. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1980. 72p.

KUHLMANN, Edgar. Fitogeografia I: Curso de Férias para professores. Rio de


Janeiro: IBGECNG,1966. P. 102-12.

___________. Curso de Biogeografia. In: Boletim Geográfico. Rio de Janeiro,


IBGE, (236): 74 -1973.

___________. Noções de Biogeografia. In: Boletim geográfico. Rio de Janeiro,


IBGE (254): 48 - 111, 1977.

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1983.

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Bibliografia Complementar

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CNG, PI.II.11.1966.91.

CHARBONNEAU, J. P. et al. Enciclopédia de ecologia. São Paulo: 1979. 480p.

EGLER, Walter Alberto. Geografia física: vegetação. In: Boletim Geográfico. Rio
de Janeiro: IBGECNG,(191): 235-46, 1966.

ELHAI, Henri. Zoogeografia geral e do Brasil. In: Anuário Geográfico do Brasil.


Rio de Janeiro: IBGECNG, (117): 127-55,1953.

___________. Os grandes traços da fitogeografia do Brasil. In: Boletim


Geográfico. Rio de Janeiro: IBGE-CNG, (117): 618-28,1953.

___________.Biogeografia do Brasil. In: Boletim Geográfico. Rio de Janeiro: IBGE-


CNG, (162): 381-7, 1961.

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RIZZINI, Carlos Toledo. Nota prévia sobre a divisão fitogeográfica (florístico-
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ROMARIZ, Dora de A. Biogeografia. In: Enciclopédia BARSA. Rio de Janeiro:


Encyclopédia Britânica Editoria, 1964. V.3. p. 135-40.

__________. Fitogeografia. In: Enciclopédia BARSA. Rio de Janeiro, Encyclopedia


Britânica Editora,1964, v. 7, p. 242-9.

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___________. A Vegetação. In: AZEVEDO, Aroldo de (org.) Brasil, a terra e o


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Sites:

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Biogeografia

FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância
Democratizando a Educação.
www.ftc.br/ead

76
www.ftc.br/ead

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