RESUMO
Esse estudo teve como objetivo diagnosticar o Ensino de Biologia desenvolvido em uma das
escolas parceiras do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), a
partir da percepção dos professores de Biologia. É um estudo exploratório, de abordagem
qualitativa e utilizou-se do questionário como técnica de coleta de dados. Os dados foram
submetidos a uma aproximação da Análise de Conteúdo. Os resultados sinalizam que o
Ensino de Biologia está cercado de aspectos que merecem atenção, em particular, a escassez
de recursos didático-pedagógicos no ambiente escolar. Assim, o estudo apontou para
necessidade do fortalecimento da parceria escola-universidade, na elaboração e adoção de
novas práticas de ensino em Biologia que atendam às atuais demandas e tendências de ensino.
Palavras-chave: PIBID. Prática Docente. Desafios.
INTRODUÇÃO
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adotar mudanças no currículo e no processo de ensino, que diretamente exige dos professores
sequências didáticas que consigam abordar estes novos conceitos como estratégia de
aproximar tais conhecimentos ao cotidiano dos alunos (KRASILCHIK, 2005).
Dessa forma, quando se aproximam os conhecimentos biológicos ao contexto
social dos alunos e os relacionamos aos conhecimentos prévios dos mesmos, em geral, torna-
se possível ressignificar palavras e termos desconhecidos presentes em Biologia, uma vez que
estes, quando carregados de significados concretos, possibilitam uma aprendizagem
significativa.
Para Ausubel (2003), considerar o conhecimento prévio do aluno é condição
necessária para agregar novas aprendizagens. Igualmente, Pius, Rosa e Primon (2008)
discorrem que para aprender conteúdos ou conceitos, estes devem fazer sentido para o
estudante, se isso não ocorre ele irá reproduzir as informações nas avaliações e, em seguida,
desconsiderá-las.
O estudante, quando chega à escola, já traz consigo um leque de conhecimentos,
estes, até então, adquiridos com sua família, a partir dos meios de comunicação, no seu dia-a-
dia. Para uma aprendizagem significativa, faz-se necessário levar em conta a disposição e o
sentido para aprender, a capacidade e os conhecimentos prévios do aluno (SILVA, 2005). O
professor é levado a considerar o que o aluno carrega como experiência e, a partir desse
reconhecimento, buscar metodologias que torne o educando protagonista do seu
conhecimento.
Devido a um modelo educacional arraigado numa perspectiva tradicional, a
transmissão do conhecimento ainda ocorre de maneira passiva. Mais especificamente na
Biologia, o intenso desenvolvimento biotecnológico mundial faz surgir novos conceitos e
técnicas científicas com uma maior rapidez, contribuindo para enriquecer essa área, e ao
mesmo tempo dificultando o acompanhamento de tais novidades, por parte dos estudantes.
Krasilchik (2005) aponta, ainda, que os objetivos do ensino de Biologia são: o
aprendizado de conceitos básicos, a análise do processo de investigação científica e a análise
das implicações da ciência e da tecnologia na sociedade, envolvendo os discentes no debate
de problemas do seu cotidiano, aumentando a comunicação da escola com a comunidade.
Desta forma, o professor tem um papel fundamental para que os objetivos propostos pela
autora consigam ser materializados no fazer pedagógico em sala de aula, de forma a
potencializar uma aprendizagem seja significativa.
Na Educação Básica, o ensino de Biologia apresenta grandes desafios, os quais
apontam para questões de natureza diversas. Os insucessos na aprendizagem dos conteúdos
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biológicos estão, dentre outros fatores, relacionados com as distintas concepções de ensino e
aprendizagem em ciências, a organização curricular, a formação de professores nos cursos de
licenciatura, as condições de trabalho dos professores, as metodologias de ensino utilizadas e
a infraestrutura da escola. Nessa direção, afirma Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2003, p.
31):
Os desafios do mundo contemporâneo, particularmente os relativos às
transformações pelas quais a educação escolar necessita passar, incidem diretamente
sobre os cursos de formação inicial e continuada de professores, cujos saberes e
práticas, tradicionalmente estabelecidas e disseminadas, dão sinais inequívocos de
esgotamento.
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METODOLOGIA
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Aprender uma variedade de conceitos e palavras que não fazem parte do cotidiano
deles (P1).
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que isso ocorra, é preciso que os professores aperfeiçoem esta atividade, agregando outros
recursos, como por exemplo, a construção de textos colaborativos através dos espaços
virtuais.
Nessa direção, Krasilchik (2005) corrobora com a ideia da leitura, porém
direciona a textos biológicos, considerando que estes são importantes para a compreensão da
ciência em seus aspectos filosóficos, quando divulgam características dos cientistas que
contribuíram para o avanço das pesquisas.
Outro aspecto a ser considerado na resposta da professora P1 diz respeito aos
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que experimenta com seus alunos, como
ferramenta importante para dinamizar o ensino de Biologia. Almeida (2003) indica que o uso
do AVA permite integrar vários recursos de maneira organizada, capazes de promover a
interação entre sujeito e objeto.
Em relação às metodologias menos utilizadas em sala de aula, a professora
P1citou o seminário, porém este, quando bem planejado, envolvendo a participação de todos
os alunos, buscando o debate, pode torna-se uma ferramenta que agrega conhecimento, e isto
consegue superar o rendimento das aulas expositivas presentes no cotidiano da sala de aula
(DEMO, 2008).
Outro elemento relatado pelas professoras e que menos utilizam no cotidiano
escolar se refere às aulas de campo, embora Viveiro e Diniz (2009) reconheçam as
potencialidades desse tipo de aula para aproximar os alunos ao meio ambiente e aguçá-los a
questionar. Ainda em relação à realização de aulas de campo, Krasilchik (2005) destaca
algumas dificuldades que envolvem essa modalidade de aula, apontando como exemplos,
riscos de acidentes, contratação de transporte e autorização dos pais dos alunos.
Quando as professoras foram indagadas sobre a adequação das metodologias que
utilizam aos conteúdos ministrados, responderam:
Sim, até o ponto em que os estudantes estão interagindo com os colegas e docente.
Entretanto, é preciso o professor também avaliar constantemente esses métodos,
verificando o que está sendo positivo ou negativo na aprendizagem dos estudantes e
mudar, se necessário (P1).
(2006) destaca que o planejamento de ensino deve atender às necessidades dos alunos e, ao
mesmo tempo, tomar precaução para não se afastar de pontos cruciais a serem trabalhados.
Quando as docentes foram indagadas se os alunos compreendem bem os
conteúdos ministrados e qual a estratégia que utilizam para os alunos que não compreendem
tão bem os conteúdos, as professoras disseram que:
Às vezes penso que não, embora quando eu os avalio percebo que nas suas
respostas, sejam subjetivas ou objetivas, são positivas (P1).
O professor é responsável, dentre suas atribuições, por perceber se seu aluno está
assimilando os conteúdos mediados, identificando as dificuldades nesse processo, de forma a
estabelecer metodologias adequadas, a fim de alcançar os objetivos quanto à aprendizagem
dos estudantes, desenvolvendo um ensino reflexivo e crítico.
Os métodos de ensino, portanto, não se restringem a quaisquer modelos,
processos e técnicas [...] antes de se fundarem em passos, medidas e
procedimentos, os métodos de ensino se firmam num método de reflexão e
influência sobre a realidade educacional [...] A prática educativa em nossa
sociedade, quando da transmissão e assimilação ativa de conhecimento e
habilidades, deve ter em cena o preparo de crianças e jovens para um
entendimento mais amplo da realidade social [...] (LIBÂNEO, 1994, p. 151-
152).
Sim. O mesmo atende aos parâmetros exigidos pelos órgãos governamentais. Porém,
precisa-se de algumas mudanças tanto no programa das disciplinas, como também
na estrutura curricular do ensino médio (P1).
As docentes afirmaram que a pesquisa como processo de ensino pode ser inserida
como um novo modelo de ensino, assim como tornar a construção do conhecimento pelo
aluno uma prática rotineira no ambiente escolar. Nesse sentido, as propostas de P1 e P2 estão
intrinsecamente relacionadas: a pesquisa como processo de construção do conhecimento.
Sobre a inclusão da pesquisa como processo de ensino, Ludk e Cruz (2005)
trazem que, embora já tenha encontrado um bom número de defensores, a prática da pesquisa
pelo professor da Educação Básica é cercada por dificuldades, mesmo reconhecendo-se os
ganhos, que pode seguir-se do entusiasmo de pesquisa do professor.
Assim, a pesquisa incorporada à prática docente poderia trazer contribuições à
condução da construção do conhecimento por parte dos estudantes. Nesse sentido, Schnetzler
(1992) considera que o aluno não aprende pela simples assimilação de algum conceito obtido
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de fora, mas por um processo seu, de especificidade própria, de concessão de significado, que
resulta da interação das ideias.
O estudo realizado nos leva a concordar com Selles (2014), quando defende que o
ensino de Biologia não pode ficar restrito apenas aos conteúdos biológicos. O que exige um
esforço de formar futuros docentes, reconhecendo a trama em que estamos inseridos e a partir
da qual construímos sentidos para o mundo natural e para as relações vitais entre todos os
seres. Nessa direção, Freire (1998, p. 41 apud SELLES, 2014, p.22) nos diz: “se somos
professores de Biologia, é óbvio que devemos ensinar Biologia, mas sem seccioná-la da trama
histórico-social, cultural e política”.
Assim, o ensino de Biologia requer, [...] trazer outras representações culturais e
outros sujeitos para dialogar com os alunos da escola, é viabilizar esses espaços, é ampliar seu
universo cultural, é auxiliá-los a construir sentidos, [...] onde formadores da universidade
seguem juntos com licenciandos e professores no espaço escolar (SELLES, 2014, p. 21-22).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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Livraria da Física, 2013.
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