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Filtracao direta ascendente \UIZDI BERNARDO Professor no Departamento de Hidrdulica @ ‘Saneamento dz Escola de Engenharia de Sao Carlos — USP PAULO HIROSHI YATSUGAFU Estudante de Pbs-Graduagao na EESC-USP Stes séo estudos sobre a influéncia da taxa de filtragao, no NMP de coliformes totais do afluente @ do nimero de descargas-de fundo intermediérias na qualidade do efluente de sistemas de fitracao direta ascendente, com base em trabalho experimental realizado em estapao-piloto. Nos dltimos dez anos, a filtracio direta ascéndente tem sido objeto de diversas pesquisas na Escola de Engenharia de Sio Carlos — USP, realizadas para cada vez mais aprimorar essa tecnologia. Através do conhecimento profundo da influéncia das variaveis envolvidas, como caracteristicas das camadas de areia ¢ suporte, taxa de filtraco, qualidade fisica e bactetiol6- ica da agua bruta, do método de operasio (com ¢ sem descar- gas de fundo intermediarias), dosagens ¢ tipos de produtos quimicos, etc., no desempenho dos filtros, € possivel otimizar © projeto ea operacao de sistemas de filtracao direta zscender te. Como a realizacio de descargas de fundo intermediérias conduz a obtencao de carreiras de filtragio bem mais longas quando comparadas com instalagdes em que esse método de operacao nao € empregado, foi recomendado nas referencias 6 ¢ 7 que se estudasse com mais detalhes a execuc2o das descargas para diferentes taxas de filtracao, enfatizando-se a qualidade bacteriolégica do efluente produzido. Assim sendo, o presente trabalho foi realizado com 0 abje- tivo de investigar a influéncia da taxa de filtragio do NMP de coliformes totais do afluente, principalmente quando sao re: zadas descargas de fundo intermedisitias, no desempenho de sistemas de filtrasio direta ascendente. Adicionalmente, Procurouse estudar, também, a eficiéncia da cloracio, em fun: so da dosagem de cloro livre e tempo de contato, de uma amostra de gua filtrada coletada apés uma descarga de fundo imermedisria, RESUMO Como grande parte das impurezas presentes no afluente a tum sistema de filtrasdo dircta ascendente € retida na camada suporte, a rcalizacio de descargas de fundo durante o funciona- mento das unidades filtrantes tem conduzido a obtencio de ‘arteiras de filtragio mais longas. Entretanto, a qualidade do efluente, por ocasio das descargas, pode resultar insaisfat6r Principaimente no que diz respeito 20s aspectos bacteriolégi- ‘Com o objetivo de verificar a influéncia da taxa de filtraso ¢ do NMP de coliformes totais no desempenho de sistemas de filtragio diseta ascendente, foi montada uma instalacao piloco, com dois filtros operados em paralelo, recebendo, como afluente, gua coagulada na Estacdo de Tratamento de Agua DAL Vora =n" 162- JUSTO de Sao Carlos (ETASC). As descargas de fundo foram reali das em somente um dos filtros. Como a qualidade bacteriolégi- ca da agua bruta é relativamente boa, com NMP de coliformes totais variando geralmente entre 100 ¢ 1.000 coli/ 100ml, 0 ¢s- tudo com indices mais elevados foi efetuado com adicdo de es- goto sanitario no afluente, atingindo-se até 24.000 coli/ 100ml. As taxas de filtracdo estudadas foram de 160, 200, 240 ¢ 260m°/m? dia. Adicionalmente, um ensaio de filtacZ0 foi re- petido, com coleta do efluente durante um certo tempo, apés a realizacdo de uma descarga de fundo. Com essa amostra foram exceutados ensaios de cloragio, visando verificar a influéncia do tempo de contato ¢ dosagem de cloro na eficiéneia da desinfec- to. Com base no trabalho experimental realizado concluiu-se que: () sfo atenuados os picos de turbide2 produzidos apés as descargas de fundo, quando as mesmas so executadas mais rOximas umas das outras, independentemente da taxa de fil- tuacio; (ii) quanto maior o ntimero de descargas de fundo in- cermediarias, mais longa resultou a duracdo da carteira de fil- uacdo; (iii) quando sao realizadas as descargas de fundo inter- mediarias, € produzido um efluente com qualidade bacteriol6- ica inferior, porém, € acentuada somente no final da carteira de filtracao; (iv) a deterioracdo da qualidade do efluente pro- duzido apés as descargas de fundo néo € muito influenciada pelo valor da taxa de filtraciio (entre 160 ¢ 180m?/m? dia); (v) 0 tempo de contato do cloro com Agua filtrada, com eurbidez va- riando enue 0,5 ¢ 7,4 UT (média de 1,8 UT), nao deve set infe- tior a 30 minutos para dosagem de cloro igual a 2mg/I nem in- fetior a 60 minutos para uma dosagen de cloro de Img/l; (vi) pata dosagens de cloro superiores a 4mg/I, 0 tempo de contato do cloro com a agua mencionada na conclusio (v) pode set da ordem de 10 minutos. INVESTIGACAO EXPERIMENTAL Deserigho da instalecto Piloto A descrigéo a seguir deve ser acompanhada de consulta 3 Fi- gura 1. A gua coagulada na Estacdo de Tratamento de Agua de Sio Carlos (ETASO), que do tipo convencional, eta bom- bbeada para uma caixa com uma vazio superior aquela utilizada nos filtros. Através de extravasor, com retorno de parte da agua coagulada bombeada, o nivel na caixa petmanecia constante. [Nessa caixa era introduzida a mistura de esgoto previamente decantado, de modo a resultar um valor do NMP de coliformes totais dentro de uma certa faixa. Auravés de duas canalizacées flexiveis ¢ independents, a gua coagulada era sifonada e descarregada livremente em duas canalizagOes também independentes, que conduziam os afluentes aos filtros. Uma terceira canalizacio partindo da caixa de nivel constante veiculava a agua coagulada a um turbidime- two de escoamento continuo para medislo ¢ rept de tu ler A entrada 20s filtros eta feita na parte inferior, sob uma placa provida de orificios, sobre a qual se encontrava disposta a ‘camada de pedregulho, suporie da camada de areia. Duas to- madas de pressao, uma localizada imediatamente acima da pla- a perfurada c outra, proxima j safda de Sgua filtrada, eram co- nectadas, por meio de mangueiras plasticas, a um equipamen- to de medigZo ¢ registro de pressio do tipo diferencial de modo que continuamente era realizada a medida e registro de perda de carga em carta tipo circular. s filtuzos foram executados com segmentos de tubos de acrilico tansparente, com 91mm de didmetro interno, monta- dos através de flanges com anéis de bortacha. Na parte inferior, além da canalizacdo de entrada de Agua coagulada, dispunha- 53 FIGURA 1 Eequema da instalacso geral wistuna 0€ escoTo, CONTENDO. Sn EXTRAVASOR (cADA OF Nive ‘CONSTANTE sshioa 0€ coun ‘Oe LAVAGE ‘CANAL Of AQUA COAGULADA ba ETAS “Ge PP se de uma canalizacdo de lato de 6,4mm de didmetro, provida de oriffcios, destinada a distribuir o ar para lavagem auxilia. Uma parcela do efluente de cada filtro era encaminhada pa- 1a. um tutbidimetro de escoamento continuo, provido de indi- cador e registrador de turbidez. Através de um atranjo da cana- lizacdo de entrada a cada filtro, eta possivel desviar o afluente € ‘ap mesmo tempo executar uma descarga de fundo intermedia tia ou final. A descarga era realizada desviando-se 0 afluente ¢ abrindo-se a valvula da canalizagio de entrada no filtro, até que o nivel de agua no seu interior baixasse até permanecer 20cm acima do topo da camada de arcia. Apés 0 cncetramento de um ensaio, procedia-se sempre a descarga de fundo antes da realizagao da lavagem propriamente dita, que era efetuada ini- cialmente com insuflacao de ar por um periodo da ordem de 5 ‘minutos ¢ em seguida, com Agua em sentido ascensional, com velocidade da ordem de Im/min, de modo 2 resultar uma ex- ansio na camada de ateia igual a aproximadamente 20%, Caracteristicas da Camada Suporte e da Areia ‘Com base nos trabalhos das referéncias 6 ¢ 7, foram adota- das as caracteristicas apresentadas no Quadro 1 Metodologia dos Ensaios de Filtragao Programacao dos Ensaios de Filtragao A instalacio piloto (incluindo-se camada suporte ¢ meio fi trante) foi anteriormente utilizada por Di Betnardo e Pacter- niani (6), que efetuaram ensaios preliminares, para diferentes taxas de filtracdo, com o fim de verificar a igualdade de com- portamento dos dois filtros, pois as descargas de fundo inter- medirias eram executadas, alternadamente, num deles so- ‘mente, com 0 outro servindo para comparar as beneticios com relaglo a duracdo da carteita de filtracao. ‘Conforme recomendado na referéncia 6, 0 ntimero de des- ‘cargas de fundo intermedisrias no devia ser previamente fixa- do em funcdo da evolucio da perda de carga c, sim, serem exe- ccutadas mais proximas umas das outras, procurando-se evitar a penetraglo excessiva de impurezas na camada de arcia, pois nessa condicio, apés a realizacdo de uma descarga de fundo, 54 ‘DESCARGA OE FUNDS” ENTRADA De AUR PARA LAVAGEM Tar-Pass" QUADRO1 Caracteristicas da camada suporte de areia Gants & Avie ea See Biscrinnosio valor [ Bamonire (on) | Gasratonetn nd Tears Te, 7 ae ‘rea ce gros (om) 1 B14 35,8 Dye toon) Com) @ wee ae Dg (PSA) (om) 1,38 » a6. 48 cretion as. 20 4s 24 emmifomieae rossl? DAE VOLE N62 JUL/SETOS poderiam ocorrer picos excessivos de rurbidez com prejuizo a aualidade bacteriol6gica do efluente. Assim sendo, as descat- gas de fundo intermediarias nio foram executadas a partir de ‘um certo padro de variacdo de perda de carga e sim com base nos resultados da referéncia 6, que, pata uma taxa de 200m}/m? dia, recomendou um aGimero minimo de 6 descar- Bas, ‘Como se desejava investigar, também, a influéncia do NMP de coliformes totais presentes no afluente no desempenho dos filtros, notadamente apés a execucio das descargas de fundo intermedisrias, foi utilizado esgoto predominantemente do- méstico, coletado diariamente no mesmo poso de visita da rede da cidade de Sao Carlos, que apresentava um NMP de colifor ‘mes totais da ordem de 10” coli/ 100 ml. Apés ser coada em te- cido para a remocio de s6lidos grosseitos, promovia-se uma di- Iuicdo da amostra de esgoto em um tanque, de onde, através de bomba dosadora, a suspensio era bombeada para a caixa de nivel constant. © Quadro 2 apresenta as caractetisticas dos ensaios realiza- dos. ara cada ensaio foram medidos ¢ registrados continuamen- te valores de perda de carga total nos filtros, rurbidez do afluente e efluentes dos filtros. Outros paramettos como pH ¢ cor aparente eram medidos em diferentes intervalos de tempo. conforme a taxa de filtragi0; porém, sempre em intervalos de tempo inferiores a 6 horas. Os exames bacteriolégicos, para a determinacdo do NMP de coliformes totais ¢ do niimero de co- onias de bactérias do afluente ¢ efluentes dos filtros, foram QUADRO2 Caracteristicas dos ensaios de filtragéo Fara oe PLtrosa sto | jt ata) | S028f0RMES Tota no ArtuEnte ot 160 7 ; ee 200 Presentes na gua beuta uente a o 20 IAS, geralnente entre 100 © 1200, 4 280 eali/ico nd o 1 7 : oe = Com aticio de eagoto santtario, re o 200, suleande entre 1000 « 10000 c211/i0on e 200 ° 3 (on atico de exgoto santtirto, re 30 se fultine entre 5000 @ 15000 colt/ioam| a 20 2 20, cefetuados em amostras coletadas no inicio da carreira de filer fo, antes ¢ logo apés a realizacao de descargas de fundo inter~ mediatias. Foi utilizada a técnica de fermentaczo em tubos milciplos para a determinacao do NMP de coliformes totais € placas de Petri para contagem do ntimero de colénias de bacté- ris. ‘A condicio de término de um ensaio de filtragdo era ditada or uma das seguintes condigées: a) ocoméncia de perda de carga total (camada suporte mais, ‘camada de areia) igual a 2,4m; ) crescimento continuo da turbidez até atingir 2 turbidez limite de 3 UT. ‘Convém ressaltar que a ocorréncia de picos de turbidez, ins- tantdneos, acima de 3 UT, decorrentes da realizagio das descar- ‘gas de fundo intermediarias, no acarretavam o tétmino da car~ reira de filtraglo, pois a turbidez do efluente superior a 3 UT pode ocorter por perfodos de tempo relativamente pequenos, ‘nfo caracterizando o traspasse, conforme descrito em b). ENSAIOS DE DESINFECGAO Conforme ja mencionados, 0s resultados obtidos por Di Bernardo ¢ colaboradores (6,7) mostraram que, quando se uti- liza gua coagulada em uma estagZo convencional como afluen- tea uma instalacdo de filtracao direta ascendente, a realizagio de descargas de fundo provoca, muitas vezes, uma elevaclo substancial da turbidez e do NMP de coliformes totais no efluente, Com o objetivo de estudar a cloracio de Agua filtrada nessas, situagdes especificas, foi programada a repetico de um ensaio de filtragao, com taxa de 240m?/m:? dia ¢ coleta de um volume adequado de agua filtrada apés 2 realizacio de uma descarga de fundo proxima do final da catteira de filtracio. Com essa amos- trae utilizando-se de hipoclorito de s6dio, foi programada a in- vestigacio da influéncia do tempo de contato ¢ da dosagem de loro livte sobre a temoséo do NMP de coliformes totais. Foi utilizado um equipamento de Jar Test, com gradiente de velo- cidade, de ordem de 500 5 para agitacao, apés a introdugao da solugao de hipoclorito de sédio. Ap6s o decorter de um certo tempo de contato, eta coletada uma amostra do jarro ¢ usado iosulfaro de sdio para decloragdo antes da inoculasdo nos ta Foi previsto um estudo com dosagem de cloro livre variando centre 0,5 ¢ 10,0 mg/1.¢ tempos de contato entre 5 ¢ 120 minu- os. RESULTADOS © Quadio 3 apresenta um resumo dos dados de turbidez ¢ ‘cot aparente da agua coagulada na ETASC ¢ duraces das car- teinas de filtragao em funcao da taxa de filtraclo e nGimero de descargas de fundo intermediérias reatizadas em cada ensaio. © Quadro 4 apresenta um resumo dos dados de turbidez € cor aparente dos efluentes dos filtros em fungao da taxa de fil tuasdo € ntimero de descargas de fundo intermedigtias realiza- das em cada ensaio. Quadro 5 apresenta um resumo dos dados de NMP de coliformes totais por 100m! ¢ do némero de colénias por ml do afluente ¢ efluentes dos fltros em funcao da taxa de filtracdo e intimero de descargas intermedisrias realizadas em cada ensaio, As Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 9. 10, 11, 12, 13, 14 (no fim deste trabalho) apresentam, para cada ensaio, os dados de tur- bidez do aftuente ¢ efluentes dos filtros ¢ da variacao da perda de carga em funcao do tempo de funcionamento. Sio apresen- tadas, também, indicacdes dos momentos em que foram efe- tuadas as descargas de fundo intermediatias ¢ os valores do NMP de coliformes totais ¢ colénias de bactérias do afluente e

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