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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.278.943 - SP (2018/0088941-2)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


AGRAVANTE : P L V DE L
ADVOGADO : JOSÉ REINALDO SILVA - SP277245
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

Trata-se de agravo regimental contra decisão que conheceu do agravo para


não conhecer do recurso especial, mantendo a condenação de P.L.V. de L. à pena de 4
(quatro) anos de reclusão, mais 10 (dez) dias-multa, por infração ao art. 240, caput, do ECA.

Sustenta, mais uma vez, violação dos arts. 386, IV, V e VII, 564, IV; 159,
todos do Código de Processo Penal e ao art. 5, LV e LVI, da Constituição Federal, pois a
principal prova dos autos - arquivos enviados à empresa Microsoft - não respeitou o
contraditório e a ampla defesa, ao argumento de que não foram respondidos os quesitos
elaborados pela defesa e que o laudo elaborado, realizado por peritos não oficiais, não aponta
com precisão o agravante com o autor da gravação.

Pugna, ao final, pela reconsideração da decisão ou seja o feito submetido a


apreciação do órgão colegiado.

É o relatório.

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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.278.943 - SP (2018/0088941-2)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):

O agravo regimental não merece acolhida.

O agravante não trouxe elementos suficientes para infirmar a decisão


agravada que, de fato, apresentou a solução que melhor espelha a orientação jurisprudencial
do Superior Tribunal de Justiça.

Nenhuma censura merece o decisório recorrido, que deve ser mantido pelos
seus próprios e jurídicos fundamentos, que transcrevo na íntegra (e-STJ fls. 483/488):
Passo, então, à análise do mérito do recurso especial.
Não vislumbro nulidade no presente feito.
Veja o que consta do acórdão recorrido (e-STJ fls. 359/360):

Aduz o apelante que deve ser considerada nula a decisão de


fls. 231 e todos os atos judiciais subsequentes a ela, por
entender que houve nítida violação ao direito à ampla defesa
e o contraditório, tendo em vista que as perguntas feitas para
a Microsoft não foram respondidas e foi impossível a leitura
dos arquivos de mídia anexados ao processo.
Ocorre que, em que pese o inconformismo da defesa, de
acordo com o contido nos autos, é possível verificar que não
existe nenhum prejuízo ao direito da ampla defesa, uma vez
que os questionamentos enviados à Microsoft (fls. 108/113)
foram devidamente respondidos, acompanhados de um CD
com instruções para que pudesse ser lido seu conteúdo, ou
seja, no próprio laudo apresentado pela empresa foram
respondidos os questionamentos, afastando desde já a tese
levantada.
Ademais, nota-se, que como não conseguiu fazer a leitura do
conteúdo do CD, foi realizado um pedido para oficiar
novamente a empresa, porém, ao seguirem corretamente as
instruções, o conteúdo da mídia pôde ser lido, ocasião em que
se verificou que não existiam informações relevantes para o
caso.
Sendo assim, fica claro que não só foram respondidos os
quesitos levantados pela defesa, como também, não existiam
motivos para um novo ofício, já que ficou comprovado que os
dados contidos na mídia não eram úteis ao processo, além do
fato de que a Microsoft forneceu todas as informações que
possuía. Portanto, ao contrário do que alega a defesa, foi
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assegurado o princípio do direito a ampla defesa e ao
contraditório, inclusive porque, a defesa teve liberdade de se
manifestar, questionar a respeito dos laudos e de produzir
contraprova, não havendo prejuízo algum à parte.
Da mesma forma, a preliminar que alega ser ilícita a prova
contida nos autos, por absoluta falta de materialidade, não
merece acolhimento, vejamos:
De acordo com a defesa, o CD que foi juntado aos autos é
materialmente ilícito, em razão da forma como foi obtido seu
conteúdo, pois não se sabe a origem, a idoneidade ou até
mesmo quem foi o autor da gravação.
Assim sendo, afirma a defesa que o conteúdo presente no CD
não pode ser usado como base para a condenação, tendo em
vista que sua obtenção não atende os requisitos legais.
Todavia, o fato de não estar especificado o autor do vídeo ou
quem o teria armazenado, não torna a prova ilícita, pois para
tanto, a mesma deveria violar as normas legais ou
processuais, o que não ocorreu. Além disso, a autoria do
vídeo, sua origem, entre outras questões, dizem respeito ao
mérito do caso concreto, o que não se deve misturar com a
questão da licitude da mídia juntada.
Por fim, resta claro que o CD contendo o vídeo da menor,
embora não possua o autor e nem mesmo sua origem, não
deixa de ser uma prova lícita e relevante ao processo, pois a
vítima, ao tomar conhecimento da mídia e possuir acesso a
ela, já que estava circulando entre terceiros,pode utilizá-la
como meio de prova, desde que respeitando as normas normas
constitucionais.
Como se pode observar, o acórdão recorrido consignou que a
Microsoft respondeu os quesitos oferecidos pela defesa,
fornecendo todas as informações que possuía, não havendo que se
falar em nulidade.
Ademais, a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou o
entendimento no sentido de que o reconhecimento de nulidade no
curso do processo penal reclama efetiva demonstração de prejuízo,
à luz do art. 563 do Código de Processo Penal, segundo o princípio
pas de nullité sans grief, o que não se verifica, in casu.
Nesse sentido:
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS
CORPUS. CORRUPÇÃO ATIVA. DESCAMINHO TENTADO.
LAVAGEM DE CAPITAIS. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO
DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. INDEFERIMENTO DE
PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE
FALSIDADE. DOCUMENTO JUNTADO NOS AUTOS HÁ
MAIS DE DEZ ANOS. IMPUGNAÇÃO APÓS PROLAÇÃO DA
SENTENÇA. PRECLUSÃO. PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA
JURÍDICA, DA LEALDADE PROCESSUAL E DA BOA-FÉ
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OBJETIVA. EXAME PERICIAL. DISCRICIONARIEDADE
REGRADA DO MAGISTRADO. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. RECURSO NÃO
PROVIDO.
[...]
III - O deferimento de diligências é ato que se inclui na esfera
de discricionariedade regrada do Magistrado processante,
que poderá indeferi-las de forma fundamentada, quando as
julgar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com
a instrução do processo, não caracterizando, tal ato,
cerceamento de defesa.
IV - A jurisprudência desta Corte de Justiça, há muito já se
firmou no sentido de que a declaração de nulidade exige a
comprovação de prejuízo, em consonância com o princípio
pas de nullite sans grief, consagrado no art. 563 do CPP, o
que não ocorreu na hipótese concreta.
Recurso conhecido e não provido. (RHC 79.834/RJ, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
07/11/2017, DJe 10/11/2017)
No que tange à nulidade da perícia, observo que a matéria não foi
objeto de análise pelas instâncias ordinárias. Ainda que assim não
fosse, esta Corte Superior entende que "mesmo quando o art. 159
do CPP, com a redação dada pela Lei 8.862/94, exigia que o laudo
fosse assinado por dois peritos oficiais, não gerava nulidade o fato
de serem os esclarecimentos ao laudo pericial assinados por um
único perito oficial" (APn 593/MT, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/12/2012, DJe
07/02/2013).
Melhor sorte não assiste à defesa quando pugna pela absolvição.
O Tribunal a quo, ao ratificar a condenação, consignou (e-STJ fls.
361/364):
A materialidade do delito foi devidamente comprovada pelo
laudo pericial (fls. 136/140).
Já, a autoria, é induvidosa, não existindo razões para crer
que a vítima imputaria, gratuitamente, crime de tamanha
gravidade ao réu, principalmente porque a mesma manteve a
mesma versão dos fatos tanto na fase policial, quanto em
juízo, de maneira objetiva e sem acrescentar nada, fato este
que afasta qualquer dúvida quanto a uma possível invenção
nos acontecimentos descritos.
Além disso, o depoimento se deu de forma clara e bem
articulada, em perfeita harmonia com os demais elementos
presentes nos autos, relato típico de quem se compromete com
a verdade. Portanto, nesse caso, a palavra da vítima se
reveste de alto valor probante e é suficiente para demonstrar
a autoria do crime.
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[...]
Entretanto, mesmo com a negativa do acusado, a prova
pericial contida nos autos demonstra que realmente foi feita
uma gravação por meio de um telefone celular, em que
aparece a vítima tirando a roupa e se masturbando.
Além disso, foi concluído que a conversa era entre a vítima e
um contato de nome PABLO (fls. 137).
Ademais, como constatado, a vítima possuía somente um amigo
de nome PABLO nas redes sociais, pois o outro contato tinha
nome composto, VINÍCIUS PABLO, sendo que o contato com
quem a mesma estava freqüentemente conversando tinha
apenas o nome de PABLO.
Vale mencionar, que o réu, além de não possuir nenhuma
prova que demonstre serem verdadeiras suas alegações, após
conversar com a vítima, se dirigiu até a casa de EDILSON
com o intuito de apagar os arquivos e vídeos que estavam no
celular, atitude que se mostra suspeita.
EDILSON, em seu depoimento, se mostrou contraditório,
tendo em vista que em juízo apresentou uma versão dos fatos
diferente da versão contada na fase policial. Em um primeiro
momento afirmou que o réu foi até sua residência para
apagar um vídeo erótico que estava em seu celular. Já, em um
segundo momento, conta que o acusado foi até lá para
apagar seus contatos e dados pessoais, mas sem justificar o
motivo, bem como, afirma não ter no aparelho nenhum vídeo
de uma garota se despindo. Sendo assim, não se pode atribuir
confiança ao depoimento de EDILSON, tendo em vista o
conflito de versões apresentadas, que colocam em jogo a
credibilidade do que foi dito.
Em depoimento, a testemunha WELLIGTON, conta que
WASHINGTON, lhe mostrou a gravação feita da vítima se
despindo e, por esse motivo, resolveu avisá-la, contando que
ao lado da gravação dava para ver uma conversa onde os
interlocutores eram JESSICA e PABLO.
Por fim, as testemunhas EDINEI, MARIA e ALEX, nada
disseram a respeito dos fatos, somente relataram que o
acusado é trabalhador e uma boa pessoa, não tendo nenhum
tipo de envolvimento em coisas como essa.
Insta mencionar que o fato de a filmagem conter alguns
cortes, como mencionado na própria perícia, não quer dizer
que a mesma seja falsa ou tenha sido manipulada, até porque,
a pessoa que aparece na filmagem é uma constante desde o
início até o final do vídeo.
Portanto, não há o que se falar em falta de provas, uma vez
que estão devidamente comprovadas a autoria e a
materialidade do delito em questão e, portanto, impossível sua
absolvição como pleiteia a defesa.
Assim, resta claro, diante do quadro probatório presente nos
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autos, que o réu foi o autor do vídeo em que mostra a menor
se despindo, praticando, então, o delito disposto no art. 240
do ECA.

Ora, concluindo as instâncias ordinárias, soberanas na análise das


circunstâncias fáticas da causa, que o recorrente praticou o delito
descrito no art. 240 do ECA, chegar a entendimento diverso implica
exame aprofundado do material fático-probatório, inviável em
recurso especial, a teor da Súmula n. 7/STJ.
Nesse sentido:
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. CRIME ECA. ART. 240. ABSOLVIÇÃO.
INVIÁVEL. CONJUNTO FÁTICO PROBATÓRIO. SÚMULA
7/STJ. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. CIRCUNSTÂNCIA
DESFAVORÁVEL. FUNDAMENTO IDÔNEO. REVISÃO.
SÚMULA 7/STJ. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. PREJUDICADO.
PENA MANTIDA. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.
I - Arguição de absolvição inviável uma vez que a autoria e
materialidade restaram comprovadas e desconstituir o julgado
enseja análise dos fatos e provas constantes dos autos,
inviável na via do recurso especial, a teor da Súmula 7/STJ.
[...]
Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1668617/AM,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
20/02/2018, DJe 28/02/2018)

Finalmente, não é o recurso especial a via adequada para a análise


de suposta violação a dispositivos constitucionais, sob pena de
usurpar a competência atribuída ao Supremo Tribunal Federal.
Diante do exposto, com fulcro no art. 932, III, do CPC, c/c o art.
253, parágrafo único, II, "a" do RISTJ, conheço do agravo para
não conhecer do recurso especial.
Em atenção ao requerimento do Ministério Público Federal (e-STJ
fl. 478), determino a comunicação do julgado ao Tribunal estadual
para que tome as providências que entender necessárias, inclusive
no tocante ao início da execução provisória da pena do agravante,
nos termos da Resolução n. 113/2007 CNJ, com a redação dada
pela Resolução n. 180/2013 (arts. 8º/11).
Publique-se. Intimem-se.
Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Relator

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