“A Fome Virou Ódio e Alguém tem que Chorar”: Embates artísticos do grupo de rap
Facção Central no contexto neoliberal brasileiro
Rodrigo Filgueira Sousa, (graduando em História pela Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí) (rodrigofilsousa@gmail.com) O movimento Hip Hop que, segundo Arnaldo Daraya Contier (2005), engloba o Rap, o Break, e o Grafite, chegou ao país durante os anos 80, através do break, um estilo de dança, trazido pela classe média/alta, após suas viagens ao exterior. Nelson Triunfo e seu conjunto de Soul Funk & Cia, foram os responsáveis por levar o break e o hip hop às ruas de São Paulo, assim o ressignificando. O hip hop nessa fase representava a dança, com movimentos robóticos praticadas pelo b.boy (dançarino de break) e o rap ainda não era reconhecido por esse nome. O break conquistou as ruas e as camadas dos excluídos através dos grupos de baile que se reuniam em locais públicos. Já no início do movimento o grupo sofreu forte repressão da polícia e reclamações dos lojistas, que possuíam lojas de discos nos arredores dos encontros, segundo eles, as aglomerações favoreciam roubos e furtos. Em um determinado momento ouve uma divisão entre os breakers e os rappers, essa cisão foi importante para garantir a autonomia do rap, que conseguiu atingir os excluídos sociais que se identificavam com o verdadeiro conceito de rap. Vários grupos musicais surgiram a partir do fim dos anos 80, o primeiro registro fonográfico de rap brasileiro foi lançado em 1988, denominado "Hip-Hop Cultura de Rua", pela gravadora Eldorado. Participaram do disco Thaide e DJ Hum, MCDJ Jack, código 13, entre outros grupos. Dessa feita, a proposta do presente trabalho é analisar a música “Isso Aqui é uma Guerra” presente no álbum “Versos sangrentos” no ano de 1999 do grupo de rap Facção central, por intermédio do seu videoclipe lançado no ano seguinte. Cabe salientar que o referido videoclipe e o disco foram recebidos como apologéticos ao crime, por conseguinte, o Ministério Público de São Paulo e setores midiáticos, como jornais televisivos e impressos, promoveram críticas que coadunaram com a censura da obra do grupo Facção Central. Nesse sentido, buscamos observar as relações entre o rap, como uma interface da música de protesto, no contexto neoliberal brasileiro e os resquícios de práticas de censura no país após a Ditadura Militar. Assim, este trabalho busca vincular-se a perspectiva teórico-metodológica da História Cultural, a partir da relação História e música, pois compreendemos o rap como linguagem artística que dialoga com práticas sócio culturais de sujeitos marginalizados no espaço urbano.