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6 PRATICAS DESAUDE __ E TECNOLOGIA: CONTRIBUICAO PARA A REFLEXAO TEORICA' RICARDO BRUNO MENDES-GONCALVES — wir para 0 desenvoh flexio ¢ da pritica no campo da Sade, por referéncia a -as que mais parecem caracterizé-lo problemat rosea vida, pesos Wolf 192 | Ricardo Bruno Mendes-Gongalves terogeneidade conceitual, em que a propria nogdo de ‘tecnologg de suas relagdes nas totalidades mais i nue oper, assume os significados mais varveis sem que sejam p éncias tes icas que orientam tnilises. Isso acarreta o efeito de produzir muito frequentemen- Jum didlogo de surdos, por um lado, a0 mesmo tempo que, exa- unte pela caréncia da explicitagio das conexdes mais gerais en- ica no campo da Saiide e as distintas formas isar a mesma questio por referéncia & orga do social, acarreta também, por outro lado, o efeito nada pa- yxal de dotar de graus muito questionaveis de autonomia as ages ¢ as solugdes propostas, em relagio Aquelas condigdes, is gerais. Nio obstante a necessidade de esclarecer melhor as naturezas heterogeneidade conceitual e dessa autonomizagio teérica, te-se neste texto do recor em primeiro lugar, pela tuigio tio frequentemente verificada de categorias dotadas ico-conceitual por eategorias nocionais ; pelos efeitos de dade essencialmente sociopolitica e historica a parte de seus 08 técnicos e organizacionais; em terceiro lugar, talvez este portante, pelo fato de que nfo se imagina ol6gica apenas através adequada corregio de seus equivocos teéricos, como se seu do anterior decorresse exaustivamente de ignorincia ou mi-fé no é caso das ideologias enquanto concepyies ¢ repres gruturadas ¢ contraditoriamente consistentes com a re exponder objets nointesor da mesma sea questo ide tanto como fora dele, uma questo ica, € porque se refere a valores irredutiveis a qualquer ex- o cientificamente operivel. EF. necessério ter em mente este Praticas de sade e teenologia: reflexaa tebrica | 193 apreendido em sua dimensio ética, para bem poder avaliar a dade de uma contribuigio que, se puder ser constituida de forr mesmo assim, dotada da ca dade de fornecer qualquer subsidio «til ges em que sua natureza il A pretensio do texto, port dade e a clareza onde reinassem a confusio ¢ 0 subte modo definitivo O autor nao participa da opinifo, certamente resp tais objetivos sejam coerentes com as possibilidades di nio a partir de pressupostos prévia adesio a valores. A partir dessas d nenhum momento com a mas definigdes. .ecesséiria primeira etapa proceder-se-4, em segundo particularizagio, também necesséria, da questio para 0 restrigio da abordagem a seus aspectos teéricos, cujo se cessirio precisar também. E no se trata de explicitar on “referencial teérico” a que se estaria aderindo: embora fosse titivo reconhecer nas categorias utilizadas ¢ no cemprego que este estudo se inspira no materialismo 194 | Ricardo Bruno Mendes-Gonsalves propésito do autor manter nenhuma fidelidade doutrinéria de ariter dogmatico a qualquer versio cristalizada de interpretasio realidade, de tal modo que essa classificagio carece de maior pportincia. O que realmente deve ser esclarecido diz respeito as es entre um trabalho tedrico como este e a explicagio de rea- des concretas ¢ a génese de propostas transformadoras, no con 0 dessas realidades. Por discordar-se de que a pritica seja uma espécie de “caso articular” da teotia, nfo se constr6i aqui o objeto do conhecimen- ide forma tal que 0 assemethe a uma férmula geral na qual esses os particulares” devam ser enquadrados; entende-se que a pos- idade desta — como de qualquer outra — construgio tedrica da reflexio analitica penosamente efetivada sobre as priti- 5 em relacio as quais, explicagdes assim abstratas devem ser en- ndidas como resultado do esforgo da azo por reconhecer sua trutura mais geral de conexdes e de sentidos. Retrato re ente estitico de uma realidade cuja esséncia € movim oricidade, esse reconhecimento teérico s6 faz sentido se servir ximasiio inquieta e empreendedora de priticas que se colocam nto e daquela historicidade, para dai voltarem a correcio ematica e permanente dessas ferramentas de aproximasio. E por se partir do princi po que filosofico e ético, de que a “consciéncia” naquele movi- nto enriquece as possibilidades de transformagio da realidade |proveito de uma expressio progressivamente mais plena de sua anidade, que se entende como proveitosa a busca dessa “teo- que s6 faz qualquer sentido quanto dessa forma vinculada e olvida ao homem pritico. Nao se busca mais, portanto, do que defender a pretensio de ferramentas de trabalho que possam ser titeis no mesmo mento em que, se o forem, deixam ja de ser adequadas ¢ de- imediata revisio e, em graus variaveis, superacao. Prdticas de saide ¢ tecnologia: reflexao teérica | 195 1essas “coisas tecnolégicas” de serem empregadas como intermedié- Tecnologia, trabalho, produgio, sociedade entre o homem e a natureza durante @ agio transformadora do imeiro sobre a segunda. E necessario enfatizar essa “poténcia ‘A caracteristica mais notivel das correntes de interpretagio tedrici anente” na medida em que a concepgio referida supée tal quali sobre o significado e as fungées da tecnologia das quais se pretende antes e fora (outra vez € coerentemente) de sua utilizacio, divergir neste estudo, bem como as marcas mais evidentes da es 0 caracteristica ontologica dessas coisas, quer se trate de coisas trutura dos discursos (técnicos € politicos) sobre 0 mesmo tema lis, quer se trate de coisas artificialmente criadas pelo ho- que geralmente predominam nos espagos académicos ¢institucionait € para esse fim. “Teenologia’ portanto,referir-se-ia a ‘cosas em ina América Latina, ¢ por referéncia aos quais também se pretend com poténcia produtiva. introduzir possibilidades de mudanga, consiste no fato de qu A terceira caracteristica das mesmas teorias e discursos decor- conceito de ‘tecnologia’ é utilizado para designar um certo e da fungio concebida ¢ do alcance imaginado e aceito para 0 to de‘ riam vir a ser utilizadas, em principio indiferentes as caracte como acima, entre aspas, para detonar seu significado irreme- estruturais da sociedade nas quais essa utilizagio poderia se dar wente vinculado a longa disputa do saber elissico — nem as', em principio externas aos processos em que po imento da referéncia as “coisas em si". A expressio aparece Deve ser enfatizado 0 fato de que 0 que ressalta nessa cai isso superada nas teorias aqui consideradas — que opés idea- teristica apontada acima — a externalidade de principio er ‘© materialistas em torno do dilema dualista concernente & que se designa como ‘tecnologia’ e 0s processos de trab: insio entre objetividade e subjetividade. Quer se considere uma produgdo e de reproducio social — no decorre da nece -vertentes possiveis para solucionar o dilema, quer a oposta, ambas de proceder a recortes analiticos meramente intelectuais ¢ provi -m no que diz respeito a aceitar a Ciéncia como conheci- rios no processo de conhecer e atuar: trata-se de uma di ito das “coisas em si”, divergindo em aceiti-las como existentes cestrutural que supse, ¢ por isso assim os designa, nos objeto: si mesmas ou, alternativamente, como produto de elaboragio quais chama ‘tecnolégicos’ uma realidade dotada em si mesm nal. No que diz respeito & discussio que vem sendo feita aqui, sentido essencial, antes e fora de sua relago com 0s outros aspect ressaltar que ao conceber a Ciéncia (0 conhecimento cien- designados da realidade (trabalho, producio, sociedade) ») como referida a objetos rigidamente segmentados uns dos ‘gia, portanto, referir-se-ia a “coisas em si” € do sujeito que os conhece procede-se como para fazé-lo ‘A segunda caracteristica daquele mesmo conjunto de te valer & descoberta da Verdade natural e definitiva das coisas. € discursos acerca da tecnologia é dada pelo critério racio im sendo, atribui-se ao trabalho de produzir conhecimentos, a fandamenta a distingio estrutural referida, pelo tipo de quali dr das caracteristicas supostas como relativamente auténomas sas uma ‘0 governam — afinal a propria Ciéncia seria uma “coisa em si” renga essencial em relagio as demas coisas a que justifica ‘papel principal na génese daquilo que aparece como desvela~ tempo sua designagio conceitual e seu conhecimento. A ‘tec ito das poténcias produtivas da natureza. ‘Tecnologia’, portan- 6 nomeada e conhecida pela qualidade ‘tecnolégica’ dos ob ~se-ia a “coisas em si” com poténcia produtiva descobertas ¢ {que nela estio contidos: essa qualidade descreve a poténcia pela Ciéncia, que permite atribuir a um conjunto definido de 196 | Ricardo Bruno Mendes-Gonyalves Préticas de satde e tenologia:reflexdo teérica | 197

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