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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

A corporação é um documentário de 145 minutos baseado no best-seller de Joel


Bakan, onde são abordados os vários poderes das grandes corporações da
contemporaneidade. O documentário pode ser analisado segundo a taxionomia
proposta por Blowfield Murray, a saber: ética de negócios, conformidade legal,
filantropia e investimento na comunidade, gestão ambiental, sustentabilidade,
direito dos animais, direitos humanos, direitos e bem-estar dos trabalhadores,
relações de mercado, corrupção e por último, governação corporativa.

Na busca pelo poder total por parte dos acionistas das corporações, estas
são consideradas, segundo a 14º Ementa da Constituição dos EUA, como
pessoas jurídicas, com os mesmos diretos das pessoas físicas, mas, como
mostra o documentário desde o minuto 9, a corporação não pode ser presa pois
não possui um corpo, assim como, os seus administradores não têm
responsabilidade direta pelos atos da empresa, e a mesma pode ir contra a lei
se isso for mais lucrativo do que agir corretamente. Desde o minuto 18 ao minuto
42, é feita uma análise psicológica da corporação como indivíduo, e conclui-se
que estas apresentam as características da desordem de um psicopata. Como
poderemos então falar de responsabilidade social empresarial em corporações
que tem um perfil de psicopata? Onde se encontra a ética num psicopata? Não
será a ética a base da responsabilidade social?

A conformidade legal, permite à corporação atuar segundo os trâmites


legais (legislação local/nacional/internacional), sendo uma das mais óbvias
obrigações das empresas. A lei estabelece o que a empresa pode ou não pode
fazer em vários quadrantes (emprego, proteção ambiental, corrupção, direitos
humanos, segurança de produtos). Durante o documentário é demonstrado que
a corporação consegue adquirir controle suficiente sobre os órgãos legislativos
e aprovar leis favoráveis a elas mesmas em relação às suas responsabilidades,
incluindo isenção sobre danos aos trabalhadores, animais, ambiente...

As corporações conseguem tirar o máximo partido da presença e da


ausência de leis, por exemplo aproveitam os incentivos fiscais e as zonas de
livre comércio para se deslocarem para países pobres com mão de obra barata,
mas depois desresponsabilizam-se das leis sobre os diretos humanos e dos

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trabalhadores, subcontratando empresas locais que exploram os trabalhadores.
Mas, ainda que as leis sirvam apenas para que as grandes corporações, como
a Exxon, General Eletric, Chevron, Kodak, Pfiser, Roche, entre outras, paguem
multas avultadas, é necessário que as leis existam e sejam aplicadas.

A Filantropia e investimento na comunidade permite devolver à sociedade


parte dos lucros obtidos pela empresa. A tendência tem sido as empresas
apoiarem causas relacionadas com a sua área de negócio. No entanto, a linha
entre a dádiva generosa e desinteressada e a estratégia de marketing é sempre
ténue. A empresa farmacêutica multinacional Pfizer é referenciada no
documentário (1h18m), como um exemplo de filantropia, quando desenvolve um
sistema de segurança no metro com a finalidade de diminuir a criminalidade e
melhorar as condições daquela comunidade. Mas serão estes atos
desinteressados? Não será esta uma forma de as corporações melhorarem a
sua imagem e aproveitarem para reduzir os impostos? Estas e outras questões
são levantadas durante o documentário, mas mesmo quando a opção não é
verdadeiramente voluntária, a filantropia é um passo importante para a
responsabilidade social de uma empresa.

O meio ambiente, conjunto de recursos finitos, começou a ser explorado


exaustivamente para a obtenção do lucro corporativo. Os lucros tornam-se
exponenciais, mas a que preço? Surge Legislação e uma série de organismos
que visam a proteção do ambiente. Ao longo do tempo, as empresas iam
falhando e eram assim responsabilizadas, por exemplo através da aplicação de
multas, mas sem interiorizar o fundamental: o ambiente deve ser preservado e
não sacrificado em nome do lucro. Progressivamente a consciência ecológica
vai-se instalando no seio da empresa, surgem estratégias amigas do ambiente,
geram-se uma série de debates e a exploração de caminhos alternativos que
não destruam tanto o meio ambiente. A poluição dos rios pelas fábricas de papel,
a poluição resultante da extração do cobre no Peru, a poluição resultante das
pocilgas do Norte da Carolina, o despejo do Valdez pela Exxon, são alguns
exemplos de crimes ambientais provocados pelas corporações. Embora os
testemunhos registados no documentário pelos CEO das corporações
assumirem que não pretendem destruir o ambiente, também assumem que é

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fulcral ativar urgentemente uma visão ambiental, senão caso contrário, a busca
incessante pela riqueza vai destruir a humanidade.

Na vertente de sustentabilidade, empresa passa a ser responsável pela


qualidade de vida das gerações atuais e vindouras. A empresa tem que pensar
acerca do produto e do modo de produção. Os testemunhos dados ao longo do
documentário pelo CEO Ray Anderson, vão de encontro à necessidade de se
encontrar rapidamente uma forma de travar a extração dos recursos da Terra de
forma abusiva, de poluir, caso contrário o legado deixado às futuras gerações
será muito pesado, já que as consequências são atrozes. Embora seja
desejável, não tem sido fácil congregar as três faces da atividade desejada da
empresa que passa por, juntar valor económico, social e ambiental.

O papel da sociedade na sustentabilidade do planeta é de extrema


importância, como se pode comprovar a partir dos testemunhos registados no
documentário: graças ao empenho da comunidade foi possível o cancelamento
da patente da árvore neem pelo governo americano e pela W. R. Grace,
anulação de 99% da patente do arroz basmati da Rice Tek, a queda da lei do sal
imposta pelos britânicos na Índia, a lei da proibição de salvar sementes e o fim
da privatização da água na Bolívia.

O aumento crescente da preocupação de determinadas franjas da


sociedade com o direito dos animais levou a que muitas empresas se vissem
obrigadas a cumprir uma série de obrigações que se prendem com o tratamento
dado aos animais ao longo dos vários processos produtivos. Surgem
regulamentações diversas que pugnam pelo bem-estar dos animais. Mas, como
sabemos, muito ainda resta por fazer. São disso exemplo o caso da hormona de
crescimento bovino, geneticamente modificada pela Monsanto para ser injetado
nas vacas leiteiras e aumentar a produção de leite. Como se pode ver no
documentário as vacas sofrem uma dor insuportável devido à inflamação das
suas tetas e à mastite.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) veio formalizar e


codificar uma série de direitos básicos que todo o ser humano deve ter (à vida,
à liberdade…). Muitas empresas falham a este nível, a vontade de maximizar os

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lucros suplanta amplamente a vontade de respeitar os direitos humanos. Muitas
convenções/Pactos têm sido firmados no sentido de garantir os direitos humanos
no seu largo espectro (salários justos, condições de trabalho…). Ao longo do
documentário são muitas as provas da falta dos direitos humanos, por exemplo,
o Agente Laranja fabricado pela Monsanto e usado na década de 1960 como
herbicida/desfolhante. Como resultado milhares de pessoas ficaram com graves
problemas de saúde, crianças nasceram com deficiências e a longo prazo afetou
os descendentes dos vietnamitas e dos soldados americanos.

O caminho percorrido pelas cooperações na obtenção de patentes chega


ao ponto de por em causa os direitos humanos, já que se está a permitir que
uma entidade privada adquira um bem que sempre pertenceu à comunidade,
retirando-lhes a liberdade do seu uso. No documentário pode-se confirmar a
decisão do comité de patentes: “é possível patentear qualquer ser vivo, menos
um ser humano” (1:28:06). Esta declaração abre um caminho difícil de travar já
que está a permitir às cooperações apoderarem-se do DNA e genes que possam
comercializar, tornando-se em pouco tempo as responsáveis pela evolução da
nossa espécie.

Apesar dos direitos dos trabalhadores serem reconhecidos desde logo


aquando da consciencialização geral da necessidade de garantir os direitos
humanos, apenas bem mais tarde e com histórias sucessivas de abuso se pôs
o foco nesta matéria. Grandes marcas e com grande tradição no mercado como
é o caso da fábrica nas Honduras que empregava crianças com 13 anos de
idade, os documentos internos da fábrica da Nike que comprovaram que a
empresa dividia o tempo à milésima de segundo para as operadoras fazerem
uma camisa, ficando o preço da mão-de-obra dessa camisa em 0,08 dólares.
Fabricar no oriente e vender no ocidente era e ainda é a chave do sucesso
estrondoso de certas marcas. Organizações variadas e algumas empresas
começam a pressionar e a promover a inibição deste tipo de práticas. Contudo,
ainda não estão totalmente erradicadas.

No mundo ocidental os direitos mais básicos dos trabalhadores são


cumpridos e respeitados pelas empresas, no entanto, outros direitos não são

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cumpridos, como foi o caso na jornalista Jane Akre que foi despedida pela Fox
13 por se recusar a distorcer uma reportagem.

Com as relações de mercado surge o comércio justo. Aproveitar o


mercado para ajudar os mais pobres é uma nova forma de ver as coisas. O
microfinanciamento procura ajudar no impulso inicial na criação de novos
negócios por parte dos menos abastados. A responsabilidade da corporação no
efeito direto que tem nos consumidores também começa a ser uma realidade
(tabaco/fast-food). No documentário, são alguns os testemunhos que realçam a
importância da responsabilidade social da empresa, independentemente da
razão ser ou não económica.

A corrupção (abuso de poder confiado para ganho privado) existe a vários


níveis e prejudica muitas das dimensões da vida humana. Ainda é aceite em
muitos países como sendo a natural forma de atuar das empresas. A corrupção
existe em todos os tipos de empresas, por exemplo, o caso da Fox 13 que tenta
subornar os seus jornalistas para não contarem a verdade sobre a corporação
Monsanto, ou o caso da corporação Unocal ao negoceiar com o exército de
Burma.

Por último, no que respeita à governança corporativa houve alguns


progressos nesta área. Mais equidade, menos preconceito. Manter a corporação
no caminho da legalidade e da igualdade passa a ser importante para algumas
empresas. Deve ser avaliada a relação entre a governança corporativa e a
responsabilidade corporativa. Durante o documentário é notório que, para os
CEO das corporações, o objetivo primeiro é maximizar o lucro dos seus
acionistas, mas também é claro que não é intenção dos mesmos destruir o
planeta para o conseguir. Então é preciso encontrar o caminho que satisfaçam
todos e que permita a obtenção do verdadeiro lucro que não passa pelo poder
monetário.

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Bibliografia

 The Corporation (2003). Realizado por Mark Achbar & Jennifer Abbott.
Sinopse e capa emhttp://www.imdb.com/title/tt0379225/?ref_=fn_al_tt_1.
Disponiv́ el em https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY
 Blowfield &Murray, A taxonomy of business responsibilities
 Almeida, F. (2010). Ética, valores humanos e responsabilidade social das
empresas. Principia.

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