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Soares, M.
Letramento e alfabetização: as muitas facetas
Avaliações internacionais devem ir além do medir apenas a capacidade de saber ler e escrever.
Pessoas do Quarto Mundo: precário domínio das competências de leitura e de escrita, o que
dificulta sua inserção no mundo social e no mundo do trabalho.
Hipótese: perda de especificidade do processo de alfabetização é um dos fatores que explica esse
fracasso.
Gaffney; Anderson (2000, p. 57): mudanças nos paradigmas teóricos no campo da alfabetização
(nos EUA) - um paradigma behaviorista (1960-1970) é substituído nos anos de 1980 por um
paradigma cognitivista, que avança, nos anos 1990, para um paradigma sociocultural.
O última transição pode ser vista como um aprimoramento do paradigma cognitivista, não como
mudança de paradigma.
Essa mudança aplica-se ao Brasil.
SUjeito ativo: capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de representação (da escrita),
interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais; pré-requisitos para a
aprendizagem da escrita (maturidade) são negados por uma visão interacionista, que rejeita uma
ordem hierárquica de habilidades, afirmando que a aprendizagem se dá por uma progressiva
construção do conhecimento, na relação da criança com o objeto da 'língua escrita'; dificuldades
são vistas como 'erros construtivos', não como disfunções.
Embora a 'descoberta' do sistema alfabético pela criança seja válida de acordo com o sistema da
psicogênese da escrita, alguns equívocos e falsas inferências podem explicar a perda da
especificidade do processo de alfabetização.
A reinvenção da alfabetização
Um lado - que dominou o ensino da língua escrita nas últimas décadas: baseia-se numa concepção
holística da aprendizagem da língua escrita, de que decorre o princípio de que aprender a ler e
escrever é aprender a construir sentido para e por meio de textos escritos, usando-se experiências
e conhecimentos prévios; o sistema grafofônico não é objeto de ensino direto; sua aprendizagem
deveria decorrer da interação com a língua escrita.
Nos EUA: whole language.
No Brasil: construtivismo.
No Brasil, o debate em torno dos métodos sintéticos (fônico, silabação) e métodos analíticos
(palavração, sentenciação, global) é suplantado pela concepção 'conNo Brasila, o debate em torno
dos métodos sintéticos (fônico, silabação) e métodos analíticos (palavração,
sentenciaçãostrutivista', bastante semelhante à whole language.
Os estudos científicos da questão nos EUA concluem que, entre as facetas consideradas essenciais
ao processo de alfabetização constam: consciência fonêmica, phonics (relações fonema-grafema),
vocabulário e compreensão. As pesquisas mostraram que a aprendizagem da escrita e o ensino
explícito da correspondência fonema-grafema têm implicações altamente positivas.
A entrada da criança no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela
aquisição do sistema convencional de escrita - a alfabetização - e pelo desenvolvimento de
habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas soicais que
envolvem a língua escrita - o letramento.
Diante dos precários resultados obtidos entre nós na aprendizagem da língua escrita, com sérios
reflexos ao longo de todo o Ensino Fundamental, parece ser necessário rever os quadros
referenciais e os processos de ensino que têm predominado e reconhecer a distinção entre o
letramento e suas muitas facetas – imersão na cultura escrita, pela participação em experiências
variadas com a leitura e a escrita, o conhecimento e a interação com diferentes tipos e gêneros de
material escrita, por um lado, e a alfabetização e suas facetas - consciência fonológica e fonêmica,
relação fonema-grafema, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita,
conhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita,
por outro.