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\) ; > ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA

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IX. OBSERVAÇÕES GERAIS E PARTICULARES, SOBRE


A CLASSE DOS MAMÍFEROS OBSERVADOS NOS TER­
RITÓRIOS DOS TRÊS RIOS. DAS AMAZONAS, NEGRO, E
DA MADEIRA: COM DESCRIÇÕES CIRCUNSTANCIADAS,
QUE QUASE TODOS ELES. DERAM OS ANTIGOS, E
M ODERNOS NATURALISTAS, E PRINCIPALMENTE,
COM A DOS TAPUIOS (*)
!

o b s e r v a ç õ e s g e r a is

pelas capitanias do ' Esta é a primeira das seis classes em que se divide o Reino
GraoPara', Rio Negro Animal, no Sistema de Linnaeus, ou seja a que compreende os
Corpos Naturais que são organizados, vivem e sentem. Aos vege­
Mato Grosso e Cuiabaf tais pertencem somente a organização e o viver, porém não sentem.
E aos minerais por último, os que não são organizados (Syst.
N at. Edit. 12 Tom 1 pg 15), nem vivem e nem sentem (Scopol.
Inf. ad Hist. N at. Regn. Animal. Trib. •42. Pag. 501). Nos
U minerais a matéria dorme na inércia e espera que a chamem à
VIDA. Nos vegetais ela está animada mas como ainda não sente
fica SEMI-VIVA. Nos animais vem o SEN TIM EN TO unir-se
à VIDA que deste modo completa a matéria. Young. Tom. I
Noit IX A Imortalidade.
A Máquina Animal, no que se refere a vida vegetativa, em
quase tudo corresponde a Máquina Vegetal, se bem que a animal
difere (Philosoph. Botan. Aphor. 3) na posição vertical (Syst.
N at. Edit. 12 tom 1 pg 15) na motividade de lugar, (Aphor.
133. 11) e em diferentes comportamentos relacionados às suas
diferentes faculdades. (Syst. N at. Edit. 12 tom 1 pg. 15)
ZOOLOG/A Mostra que as plantas mesmo privadas de sensação* vivem igual-
BOTÂNICA mente aos animais sob os seguintes aspectos: 1 — o Nascimento:
2 — a Nutrição: 3 — a Idade: 4 — o Movimento: 5 — a Propul-

(*) A Memória original pertence:: ao Barão da Penha, que ofereceu


ao seu neto Doutor Ernesto Lopes da Fonseca Costa. Foi feita cópia datilo­
grafada, por ordem do Doutor Arthui Nciva e por este oferecida no Instituto
Histórico e Geoqrãfico da Bahia para edirão (Rev. Inst. Hist. Geog. Bahia.
60: 5 - 237. 1934) .
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são; 6 —■a Enfermidade; 7 — a Morte; 8 — a Anatomia; 9 — natural ejjãíurbitrário. Os aquáticos além de não possuírem pés,
O Organismo (Aphor. 133. 11). nem mãos iguais à dos terrestres, apresentam outras diferenças
tanto internas como externas, porém ambos apresentam mamas.
Ambas as ,Máquinas._^AnimaLe_Vegetal)_ são hidráulicas. Pela denominação de Mamíferos, que engloba a todos, é que se
As suas partes sólidas correspondem ao tutano nos animais e à
medula nos vegetais; os ossos ao lenho; os músculos aos galhos; à deve especificar, e não pela de Quadrúpedes que compreendem
pele o córtex; à cutícula a epiderme; os pulmões às folhas; os dutos somente os terrestres e alguns anfíbios.
venosos aos arteriosos, etc., os vasos suetórios que conduzem os Por esta razão, esta classe compreende somente aqueles ani­
fluidos, as vesículas que os retém e conservam; as traqueias que mais que se integram senão em todos, porém na maior parte dos
atraem o ar. Aos órgãos genitais que correspondem à frutificação, caracteres seguintes:
temos que os estames nas flores são os órgãos genitais masculinos
cujos cálices servem de lábios ou de prepúcio, e as corolas de ninfa; (a) PELA ESTRUTURA INTERNA
o pólen de semen, as anteras de testículos, e os filamentos de vasos
espermátieos. Os pistilos são femininos cujo estigma é a vulva; o (1) O Coração com dois ventrículos e duas aurículas;
estilete é a vagina; o germe, o ovário por fecundar; o pericárpio, o sangue quente e vermelho.
0 ovário já fecundado, e a semente, o ovo. A tudo isso provam: (2) A respiração pulmonar, recíproca.
1 — A sua eficiência; 2 — a Origem; 3 — a Situação; 4 — o Todos têm dentro da sua máquina animal para os exercícios
Tempo; 5 -— as Divisões; 6 —- a Castração; 7 -— a Estrutura do de suas faculdades, as cinco câmaras seguintes:
pólen (Amoenif. Acadein. Sponsalia Plantarum).
I — ANIMAL — que é a medular, a superior das outras
Aos cinco estados ou idades do animal correspondem semelhan­ e a motora de tudo. Está retida num bulbo organizado e tem o
temente outros tantos nas plantas. papel de exercitar o espírito para as funções de sentir, raciocinar,
À Infância que passa em meio aquático, sensível e inerte, reger, etc.
corresponde à Germinação. II — VITAL — ou pneumática que é a dos pulmões, pelos
A Puerícia que é mucosa, inconstante, corresponde à Adoles­ quais se inspira e expira o ar.
cência . III — NATURAL ou hidráulica, que é a dos vasos por onde
À Juventude que ê fogosa, audaz e dócil, à Florescência. circulam os fluidos. Depende do coração onde tem o seu movi­
mento perpétuo.
A Virilidade que é sanguínea, forte, relaciona-se à Frutifi­
cação. IV — ALIM ENTAR ou digestiva que é a dos intestinos.
Prepara os sucos dentro dos tubos intestinais que passam aos vasos
À Senectude que é melancólica, débil e ossuda, à Esfoliação
e daí às diversas partes do corpo.
(Scopol. Inf. ad Hist. N at. Regn. Animal. Trib. 42 pag. 501).
V — GENITAL ou espermática a qual reune na dicotomia
O intestino das plantas é a terra; as raízes servem de vasos do tronco as substâncias medular e cortical. Neste encontro sai
quilíferos; os troncos, de ossos; as folhas, de pulmões; o calor, de a máquina animal de tamanho diminuto porém distinta (Syst.
coração; e a i em si, como Nat. Tom 1 pag. 16).
invertido. '
O antigo nome de quadrúpedes como a maioria dos natura­ ( b ) PELA ESTRUTURA EXTERNA .
listas distinguiam esta classe, foi substituída por Linnaeus para (3) As maxilas tem o seu papel na alimentação e são
mamíferos: porque são as mamas um caráter universalmente cons­
cobertas; a maior parte têm dentes introduzidos nos
tante quer sejam terrestres como o boi, a ovelha, o porco e a
alvéolos.
cabra, quer sejam aquáticos como a lontra, a anta e a capivara ou
aéreos como o morcego e o lemur. Além deste possuem outros As baleias em vez de dentes têm umas lâminas
caracteres distintos que lhe devem pertencer segundo um sistema córneas.
• P
*

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(4) O órgão genital masculino é penetrante no feminino 2 "

para gerar os filhos os quais mamam o leite, com que


se criam, em suas mães Apesar de todos estes vastos abrigos e mesmo da variedade de
climas, os mamíferos da América Meridional são menos volumosos
Também os machos têm mamas, exceto o cavalo. e robustos que os já citados do antigo hemisfério. Parece que
estes pequenos quadrúpedes, que originalmente pertencem àqueles,
(5) Todos os cinco sentidos, com diferença em agudeza
e perfeição: O homem excede no tato, o cão no sejam de uma raça inferior visto que em volume o maior de todos
olfato, o gato no ver, o porco no ouvir. daqui é a anta, e em ferocidade, a onça.
(ó) Para tegumentos de seus corpos quase todos têm Não se encontra outro animal que inspire tanto medo pela
pelos exceção feita às índias e aos animais aquáticos. sua grandeza e ferocidade. Apesar da onça em relação ao homem,
Da união destes pelos resultam os espinhos do ouriço mesmo quando se encontra fora do cio e da fome não deixa de
c porco espinho na Europa, e do coandu na América. oferecer perigo como é o caso do tigre e do leão. A onça às
Os espinhos unidos formam as escamas do manis: vezes chamada de tigre é um termo impróprio empregado no Brasil.
que é o Armadillo escamoso de Séba ou o Demônio Os veados e porcos monteses da Europa excedem aos destes
Thebaico de Herm. E as escamas unidas formam países. Pelas observações de Buffon, a América se achava, logo
o casco do tatu. quando descoberta, com apenas a terça parte de espécies de qua­
drúpedes que povoavam a superfície do globo. (De Buffon. riist.
(7) Seus membros sao: duas maos c dois pés nos terres­ N at. Tom. 9 pág. 86).
tres: os aéreos têm asas, os aquáticos servem-se de
duas mãos em forma de barbatanas, e de pés, uma 3"
cauda.
(S) Quase todos possuem os caracteres acima, exceto o Desta terça parte o maior número consta de pequenos quadrú­
homem, alguns macacos e ratos. pedes tais como diversas espécies de macacos, preguiças de «taoizo»
para cria, de um carneiro que foi morto no Forte do Príncipe,
Estes..são—Qs_caracteres dos mamíferos tanto eurgpeus.xomo_ achando-me ali em junho e julho de 1789. Presenciei somente a
iLBgnçanos. Eu. passo a considerar os segundos pelos, diversos retirada de sebo.
aspectos das diferentes observações que eles têm me fornecido....... Os cavalos no Rio.Grande parecem ursos: são impetuosos e
valentes. Os machos e mulas que não carregam mais de 10
1’ arrôb'as não são utilizados pelos negociantes para as suas viagens.
Estes fatos são exceções porque não sucedem nas outras províncias
Qbservojambém que o princípio da vida animal,.excetuando a . do Brasil.
dos_insetos. não têm uma tão grande.força'-eWiyjdacíe” como a_d"a. O contrário se dã com os répteis e serpentes na classe dos anfí­
y£3etal,_7ia America TvTerlclional. Por qualquer destas províncias bios e com as dos vermes e insetos- Parece que a natureza despende
onde se lance a vista, o calor do sol, a umidade do clima e a toda a atividade da vida na produção destas classes. Em razão
fertilidade do terreno cooperam para uma abundância vegetal. A disto ê que as mesmas causas que diminuem a força e o volume dos
maior parte das terras estão reduzidas a matas impenetráveis grandes são as que favorecem e aumentam a proporção dos peque­
cobertas de arvoredos grossos e altos. O que sc vê é um país nos. Só quem por aqui viaja é que pode formàr uma justa idéia
selvagem e sombrio, uma terra bruta e abandonada a si mesma; das núvens de insetos que toldam o céu, o número prodigioso de
toda a sua superfície esta coberta de infinitas plantas de todas as cobras c dc lagartos que alastram a terra. Não existem famílias
famílias. Era de sc esperar que aqui, semelhante às matas do mais odiosas aos viajantes do que a classe dos insetos, as das mu­
antigo continente, fossem estas também habitadas por grandes c tucas, marimbondos, cabas, as dos mosquitos, muriçoca, carapanã.
ferozes animais como elefantes, rinocerontes, tigres e leões. Na pium, maruim. As formigas com suas muitas espécies são chamadas
verdade, não é assim. pelos Tapuias de Rei do Brasil pelo supremo império que exercera
rrrnrnTC TivuuU U U m im u. — 72 —

sobre as plantações, constituindo uma das pragas do país. Ela


dcveiia encher o seu celeiro sem produzir tanto estrago. Ela no
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PROBLEMA

entanto é o exemplo de como se deve aprender a trabalhar quando A América desde o seu p ri^ jp _ tó .E to d q iíu „aaim ^ $ j« q u jr
se diz no provérbio — Vaclc ad formicam. ó p ig e r — Cap. 6.° Da pne em romparaçãd com os do mundo antigo. Segundo,observação
Hispaniola, escrito por Hcrrera quando cm 1518 se viu invadido por do diário do Coronel Jorge Croglan que perto do rio Ohio se
inúmeras legiões que consumiram todas as produções vegetais — encontram em grandes quantidades e enterrados na profundidade
O s colonos espanhóis (diz ele) depois de empregarem todos os de cinco a seis pés, uns certos ossos de grandezas fabulosas que
meios possíveis para as destruírem, resolveram recorrer ao patrocí­ os naturalistas não sabem até hoje da existência de algum quadrú­
nio de algum santo mas não sabiam a que patrono invocar por ser
pede de estatura semeihante a não ser o elefante cujos ossos supõe
aquela, uma calamidade nova. Depois de embaraçados com a sua
escolha, resolveram jogar com a sorte, saindo nela S. Saturnino cuja ser. Como se explica o fato do doutor Hunter, depois de examinar
alguns fragmentos de dentes e maxilar enviados a ele, em Londres,
solenidade celebraram com grande pompa, a qual, diz o citado
Herrera, foi recompensada com a destruição daquela praqa (Decad. concluir que se trata de outro grande animal até agora desconhe-
2 \ Lib. 3* Cap. 15’ pág. 307), M
Entre nós há uma noticia célebre do extraordinário pleito que Sem sair do Brasil, bem no seu sertão, há uma célebre desco­
ocorreu entre os Religiosos Menores da Província da Piedade no berta deste gênero entre os anos de 1770 e 71, Segundo me
Maranhão e as formigas daquele terreno. Encontra-se referido na informou o capitão Ignacio Roiz da Silva, testemunha ocular
obra intitulada _«Nova Floresta» cujo autor é o padre . Manoel daquele achado, na parte superior do rio Grande em distância de
Bernardas, da Congregação do Oratório. O padre narra que as légua v. „.-ia do arraial de S. Gonçalo da Ibituruna. comarca do
formigos não cessavam de minar a dispensa dos frades, solapando Rio das Mortes, dez léguas da Vila de S. João dei Rei e setenta
a terra do fundamento de maneira tal que ameaçava ruir. Por do porto do Rio de Janeiro, estando alguns mineiros a lavrar o
voto de um dos frades que se assentou no Tribunal da Divina fundo do rio para^ retirarem ouro, em terras do capitão-mor Bartho-
Providência, essas criaturas deviam ser postas em demanda. lomeu Bueno do Prado, em um lugar onde havia doze palmos de
Foram assinalados procuradores tanto por parte deles como por água e dez de cascalho cavado, encontraram primeiramente uma
parte das rés. O prelado ficaria servindo de juiz que era nome costela de seis palmos de comprimento e^ um de largura. No
da Suprema Equidade se encarregaria da sentença, O mesmo tocante ao seu comprimento indicava não estar inteira. Em
depois de visto os autos (ajunta o padre Bernardes) com'as répli­ segundo lugar um dente mandibular inteiro com a sua raiz e coroa.
cas e contra réplicas, que foram contra o libelo, deu a sentença: Juntos tinham um palmo de comprimento e outro de largura. Em
que os frades fossem obrigados a demarcar dentro de sua cerca, terceiro, um fragmento de maxila inferior que apesar de quebrada
um sítio competente para a vivenda das formigas e que elas sob deixava ver dois alvéolos; um deles com a metade de um dente e
ena de excomunhão mudassem logo de habitação, visto que ambas o outro com um dente inteiro introduzido. Estes dentes foram
Í s partes podiam ficar acomodadas sem prejuízo. Eles, religiosos. mostrados aos cirurgiões Laureano Palhares e Domingos Ferreira
Unhara vindo ali mandados por obediência a semear o grão que lhes pareceram ter muita analogia com os do humano. Tanto
evangélico era digno o trabalho para o seu sustento; e as formi­ o dente como a maxila e a costela ficaram na casa do guarda-mor,
gas podiam fixar-se em outra parte por meio de sua indústria a Diogo Bueno da Fonseca.
menos custo. Declarada a sentença deu-se um casó maravilhoso Estas descobertas não dão lugar a milhares de conjecturas?
(exclama o nosso historiador) e que mostra o quanto agradou este Isto prova as revoluções pelas quais o nosso Globo tem passado;
requerimento ao Senhor de quem está escrito que brinca com as pVA-, n.-iiia se ■sabe~com precisgbVe~náa-VTiouccrqü^cónstã~ha
suas criaturas — L u d e n s in o r b e te r r a m m — Provérbio 2 V 31. história dos mamíferos que ja5^passajã!éin_do_prinçipio_dõ_,dçsco-
Imediatamente sairam à toda pressa milhares e milhares daqueles
*5 r^n íQ ^ 4 a^ S m e^ ãs. À forma com que foram vistos, com que
animalescos formando longas c grossas fileiras em- direção ao
campo assinalado, deixando aqueles religiosos livres de sua moles­ o são é justamente como digo-
tíssima agressão. Linnacus divide os mamíferos em seis ordens.
t

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energia e no exercício das potências c faculdades intelectuais.


Apesar de seu espírito não ser tão vivo e~ativo como os pretos.
D o s P iirn u ta s também selvagens, sao capazes de ensinar aquilo que os desperta
c"õs taça refletir o que lhes traga melhorias. As observações
Compreendem os mamíferos com os seguintes caracteres: 1) abaixo nos darão uma idéia melhor, mais circunstanciada a este
Na maxila superior, quatro (.lentes incisivos e paralelos: os caninos respeito.
são separados. 2) Duns mamas no peito, uma de cada lado.
A primeira coisa de imediato que todo e qualquer europeu
3) Os pés dianteiros servem de mãos; a.s unhas são esplanadas chegado à América sente, c a novidade que imprime, no seu espí­
e ovais, d) Os braços são divergentes em face da presença de
rito. a presença de um Tapuia: um homem de uma cor, feições,
clavículas o andar é sobre quatro pés. (5) O seu sustento natural
língua, usos e instituições diversas.
é gcralmente à base de frutos (òyst. Nat. Tom. 1. pág. 2 -i) .
Nesta primeira ordem o homem ocupa o primeiro lugar. O À primeira vista reparou, em outios tempos, o sr. de Balsamão
caráter de distinção do seu gênero consiste no conhecimento de si (o limo. sr. Luiz Pinto de Souza Coutinho: o qual pelo espaço de
mesmo. «Noscele ipsum». foi a inscrição que Solon mandou 4 anos governou as capitanias de Mato Grosso e Cuiabá, comuni­
escrever cor.; letras de ouro c colocá-la nc Templo de Diana (M us. cou algumas notícias do que nela viu e observou, ao da História
Adolph. Frid. P ro f.). Porém são muitas as deduções tiradas do da América). O Tapuia representa um homem dócil, tranquilo
«conhecimento de si mesmo», li cm cada uma destas deduções c tratávcl. Mas examinado de perto, logo deixa transparecer um
sobrava a matéria. lista ocupava os estudos não de uma. mas de ar selvagem, dc desconfiança c sombrio. O que facilita estas
n-uitas vidas. Algumas destas se consumiram para que se adqui­ observações é que, segundo a reflexão do espanhol D. Antonio de
risse somente o conhecimento fisiológico, outras o dietético e assim U — ao se ver um, pode-se dizer que estamos vendo todos —
por diante: o patológico, o político, o moral e o teológico. Por (Notícias Americanas, pág. 308). Muito antes dele, havia feito
este modo. cada um nos deu a conhecer o homem naquele ponto de •o mesi o reparo, um outro espanhol, D. Pedro de Cieca da Leão.
vista em que melhor foi observado. O homem natural ficou sendo quando noticiou todos eles, homens e mulheres pareciam filhos de
o objeto das observações dos naturalistas. A sabedoria ligada à um mesmo pai e de uma mesma mãe, apesar da infinidade de
sua alma, a docilidade c o ensino, formam o caráter essencial de nações e da diversidade de climas onde habitam. Há, com efeito,
sua espécie. A diversidade de sua cqr, os diversos lugares_cm que cjn todos cies uma certa_co*nbinação de feições e um certo ar, tão
habita, os seus usos e facuícTades porporais, indicam que, como em privai iyajnçnte seu, que nele se deve estabelecer a característica
outros animais, também a sua espécie apresenta variedades. Neste -dc uma figura ameriçpna...
séntídoTb índio Tapuia é uma delas. Ele é tão homem como o A segunda é a da sua cor. Todos a têm ou de cobre ou de
europeu, p asiático c o africano; cm razão da diversidade de sua cor castanho, com diferenças somente que em algumas nações é mais
e do pais de sua habitação, nós pelo nome de sua própria língua ou menos retinta que em outras. Isto, não devido à proporção da
os ..denominamos de Tapuia. Eles também nos denominaram de sua distância no Equador (observou a sua Excelência) mas sim, ,
Tapuitinga ou Tapuias brancos. Por sermos europeus somos dis­ segundo o grau de elevação do terreno onde babitajn. Assim os
tinguidos hoje entre o. índios domesticados pelo nome de Cariba ij: ! viveni nas partes úmidas das serras e das montanhas são
suaivara ou Branco europeu. Aos pretos chamam de Tapaiuna- muiio mais alvos que os que povoam as suas fraldas; c uns e
fapuia preto. Os Tapuias não têm outras diferenças senão as outros, na proporção da elevação de seu pais, são mais. plvos que
que são acidentais ao ser humano. Diversificam na cor a qual, aqueles' ocupantes das planícies, das terras baixas c pantanais. ,
corno :c verá adiante, é mais ou menos acastanhada, segundo as Isto acontece nos que povoam as cordilheiras da parte superior
alunas, cm que habitam: segundo o estado físico de seus corpos dos rios Br,um o c Madeira dc sorte que alguns mais parecem :
ou seja: saos ou enfermos e segundo a vida que Lxani, mais ou mamelucos, isto é, filhos de branco e de Tapuia, do que simples- (
menos exposta ás impressões do tempo. Divcrsifh atn na língua mente Tapuias. Contudo, por mais retintos que sejam, não deixa
porque n.io é como a nossa c entre eles, nem todos f a l a m a mesma, de existir enlre eles a diferen<.'iação..pai:ít,._rjieiios_c.'jircga.(Ja a cor (
sendo tantas a s suas línguas quantas as di\ ei .•as tribos de gentios aos que menos trabalham expostos ao tempo e para mais a dos que
que haaitam as ilhas c o continente da A m é n ã a . 1diversificam na sofrem a influência do mesmo. Um Tapuia, depois de passar dois 1
(

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meses fazendo manteigas mima praia do Soliinões ou do Madeira, Ceralmcnte os mais negros de todos são os de Senegal, Gam­
sempre exposto ao calor cio sol ou ao fogo das caldeiras, pouco boa, Cabo Verde, Angola c Congo.
difere de um preto. E neste caso sendo um branco, há dc parecer 3 ? __ Porém nos países do Novo Mundo onde se encontram
um mulato. Ao contrario, os que se empregam cm serviços domésti­ as Antilhas, o México, o Reino de Santa Fé. a Guiana, o País
cos, sempre sao mais alvos. As enfermidades tais como a obstru­ das Amazonas e o Peru, que certamentc têm a sua maior parte
ção, a caquexia, a consunção, os apresentam mais esbranquiçados situada debaixo da mesma zona tórrida, ao invés de habitarem
c pálidos. Os Purupurus que habitam no rio Punis, confluente homens de cor preta à semelhança dos que habitam nas regiões
do Solimõcs, com o nome de Catavixis, têm ns mãos e os pés correspondentes da África, habitam índios que supostos não serem
malhados dc branco. brancos como os europeus, também não são pretos como os africa­
P.s-.J1Íst.?rÍac!?fÇ.s,. giie não. se._dão ao trabalho de filosofar, nos. São de uma cor de cobre ou dc castanha.
estão sempre a perguntar: donde procede a diversidade de sua., qc —. £•; certo que desta cor dc cobre uns se ufastam mais e
cor nativa e originária? Eles não cessam de recomendar aos físi­ outros menos e os Tapuias, como os brancos e os pretos, têm entre
cos e anatomistas a explicação ueste fenômeno. Contentam-se em si nações que são mais ou menos retintas. Nas partes mais seten­
pormenorizar com milhares de exemplos e dc casos particulares as trionais da América habitam espécies de Lapônios semelhantes aos
observações a seguir: da Europa. Depois destes vamos encontrar outros gentios que
são brancos c tem as feições muito regulares. (Roterd. Hist-
19 — Sendo toda a Europa habitada cie brancos, há no N at. des Isles. 1658 — pág. 189). Entre os referidos gentios
entanto um reparo critico a fazer: à proporção que nos distancia­ há alguns que têm até mesmo os cabelos louros como os europeus
mos do norte e dos países frios, por sua vez expondo-nos, aos
setentrionais. Os gentios do Canadá e de todas a terra firme até
poucos ao calor do sol, assim vamos observando que gradualmcnte o Golfo do México, se assemelham em tudo aos Tártaros. Mais
a alvura da pele humana vai'diminuindo. Os gregos, napolitanos'
trigueiros que os do Canadá, são os da Flórida e Mississipi. Os
sicihanos e os habitantes de Córsega, da Sardenha e os espanhóis das Ilhas Lucaias são mais que os das dc S. Domingos e de
que se encontram a pouca diferença debaixo do mesmo paralelo,
sao indiscutivelmente mais trigueiros que os franceses, ingleses, C u b a.
alemães, poloneses, moldavos e os demais povos do norte até a Entre os habitantes do Istmo da América que W a fer reconhe­
Lapônia. A cor .trigueira se espalha dos primeiros c sc distribui ceu (V oyag. dc Dnmpiçrrc. Tom. T' pág. 152), como sendo da
por mais alguns, povos da terra, gradativamente, até que por iim cor de cobre amarelo ou de laranjal vivem outros indivíduos que
termina em um preto fixo e uniforme. O espanhol é mais triguei­ são brancos da cor do leite. Os índios do Peru que povoam as
ro que Ó francês; o mouro mais que o espanhol e o negro mais costas do mar c as terras baixas, são da mesma cor de cobre que
que o mouro. os de todo o Brasil. As diferenças bem pouca ou nenhuma como
2'’ Em quase toda a .Asia c ainda nos climas temperados acontece entre os habitantes das Cordilheiras e os europeus, são
da África, os seus habitantes são brancos e somente abaixo da também encontradas em suas cores. Porém a mais geral, a que
zona tórrida na África ou nos países que lhe ficam vizinhos, 6 que lhes é nativa e originária é a de cobre e não a preta, a mais
sao pretos. Este fato também ocorre em alguns cantos da Asia. constante.
Da mesma forma que entre os brancos uns são mais que os outros, O que foi estabelecido, produz a seguinte dúvida: se. i?r.
ocorre a mesma sorte entre os pretos. atribuído ao calor a diversidade das cores, a primeira observação
Exemplificando, os que habitam a margem meridional do será favorecida, e para se subscrever a ela evidentemente se opõem
Senegal e os 1 alofos que sao os que ocupam as terras compreen­ a terceira visto que as cores não correspondem aos climas vigentes.
didas entre aqueles c o rio Gnmbam, os da ilha Coréia e da eosta Com efeito, ntribuindo-sc principalmcntc no calor, a diversida­
do .Cabo Verde sao muito negros, de uma cor profundaiiiente de dc cores, nenhuma duvida obstara ao rcflctir-sc.
jzcvichadn. Menos pretos que estes, são os da serra Leoa. e os
da Cuiné. Ainda menos pretos que estes e os Conqos. s.to os a) Para sc determinar com exatidão a temperatura do clima
da costa dc Suda, dc Arada, e outros lugares circunvizinhos. cm algumas partos do Globo, não basta medir somente a sua
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distância ao Equador, mas também é necessário examinar: l 9 __ _d'Uòa. Tom. 1. pág. 453. Anson. voyag. pág. 184). Sabe-
a altura que e tão sobre o nível elo mar; 29 — a elevação das se qt e, nas raras vezes que na França, fora da zona terrida. o
montanhas cm que se encontram situadas ou as suas vizinhas; 31’
termômetro sobe a 30? c no Senegal até 389, no Peru a tempera­
• n extensão do país; *5' — a natureza do terreno; 59 — os ventos tura jamais se eleva acima de 25°.
locais.
8” — Sabendo-se que a América sc estende mais para o polo
As latitudes nem sempre correspondem aos climas: se bem que do que a Ásia ou a Europa, o vento, que passa por aquela vasta
no mundo antigo uma ver determinada a posição de alquns países, extensão de terra elevada e gelada, se apresenta numa cadeia de
fica ordinariamente determinado o seu clima. altas montanhas dc neve eterna, sc resfria, de tal manei-a que nem
\ b) O americano situado debaixo da zona tórrida pode pade-
depois de atravessar para os climas mais temperados, chega a
perder a sua atividade. Somente quando entra no México é que
I cei menos calor que o africano, o seu correspondente; c por con.se- se modera. A noroeste da América Setentrional o frio é exces­
j guinte pode mostrar diferença na cor, de sev de cobre e não preta.
sivo.
; As observações que continuam nos darão uma percepção mais exata
; e clara. Voltando ao vento daquela região, estando ou não na força
I
do mais ardente estio, imediatamente se experimentam os efeitos
S- — Faz rcalmente menos calor debaixo da zona tórrida, na de uma súbita transição dc calor paro frio. As províncias meri­
América, do que na África. Sabendo que debaixo daquela zona, dionais sofrem a invasão deste ven.o ( Charlcvobç, Nov. Franc.
no novo Mundo, o México, a Nova Espanha, o Peru, etc., não Tom. 3 pág. 165; Hist. des voyag. Tom. 15, pág. 2 M) .
possuem tão grande calor, como deveria ser a temperatura destas
referidas províncias, se não fossem extremamente elevadas acima 9 » __Na parte do trópico meridional encontram-se, mais do
do nível da superfície do Globo. Nos grandes calores, o termô­ que na boreal, mares gelados e paises horríveis, estéreis e quase
metro nao chega a subir tanto no Peru como na França. As inabitáveis devido ao rigor do frio que também por sua vez sc
neves que cobrem os cumes daquelas serras, resfriam o ar; esta é a comunica às provindas interiores (Anson. s. voyag. pág. 74. voyag.
primeira causa que influi muito sobre a temperatura do clima, c des Quitos Hist. G. des voyag. Tom. 14 pág. 83).
os habitantes, por conseguinte, em vez de serem pretos, são aver­ 1o? — O vento, que Invariavelmente sopra na direção de leste
melhados ou de cor de cobre. a oeste, sobre as regiões da América situadas entre os trópicos,
No que diz a respeito às terras do Amazonas, que são baixas, antes le chegar às costas destas últimas, sc enriquece dc infinitas
são tantos os rios, os lagos e os bosques que por mais quente que partículas ígneas as quais são responsáveis pelas ardentes planícies
seja o ar que para ali se dirige, jamais pode deixar de se umedecer da Ásia e pelas áreas abrasadoras dos desertos da África. Porém,
c refrescar mais do que aconteceria cm outro país mais seco. como o vento atravessa o mar Atlântico antes de chegar às costas
_UkiinmKeme_nãoj!ç. encontram pretos senão em climas onde todas americanas, ele sc refresca neste mar e não somente diminui a in­ I
i.Ç.Ç’Çcaa.'jtâncins concorrem para que produzam um calor constante tensidade do seu calor, mas também sc faz sentir como uma br.anda
c sempre'excessivo (De Buffon. Hist. Nat. Tom. 6. pág. 308). e suave viração. E por esta razão o Brasil c tini país ficsco c I
temperado em relaccão às latitudes correspondentes às da África,
6" Em outras partes da América, da Ásia e África, que onde o calor deveria ter enfraquecido e moderado cm razão de sua I
sc encontram debaixo do mesmo paralelo onde o calor é fecundo posição e pela.s causas mencionadas. Não só o calor mas também
e benéfico, há predominância de um frio excessivo; c o inverno se a cor dos seus habitantes vem a diferir sendo a dos pretos mais <
faz sentir com um rigor extremo. variada que a dos brancos, pois o calor excessivo como c r. Se­ (
negal e em Guiné torna os homens pretos, mais pretos. Sendo
‘ Este mesmo trio se estende mais adiante como experi­ j s ativo, como sucede nas costas orientais da África, os pretos (
mentam os que atravessam a America para a zona tórrida onde são menos pretos; e passando a mais temperado como é o da Bcr-
cie serve para moderar a intensidade do seu calor. De sorte que beria, Magol, Arábia, etc., os homens passam a trigueiros; c sendo <
quando na costa da Áfiica os prelos estão ardendo cm calor, os totalmcnte temperado, como na Europa e Ásia, os homens sao
habitantes do Peru respiram um ar fresco c tempe-ado (Viag.
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brancos.
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80 —

A cor preta ou a trigueira parece depender principalmente C o n s t i t u i ç ã o [isic a


do calor do clima, como ficou suficicntcnicntc explicado pelas obser­
vações acima.
a) Corporal:
Mas cm que porte do corpo reside a cor preta cios negros?
Será no corpo reticular dc M a l p i g i o (Dc Tnctus Ôrgnno). segundo Como cia diz respeito a seus corpos dando-se a conhecer pelos
o qual a epiderme dos pretos é tão cândida como a dos brancos, caracteres externos, tomá-la-emos da divisão natural do corpo hu­
o que parece estaF confirmado pelas experiências de Ruysch? mano; cabeça, tronco e extremidades.
( Anat. pág. 489) . Será a epiderme, como ustenta e mostra W íns C a b e ç a — é perfeitamente arredondada quando não desfigu­
louu ( Advers. Anat. Decad. 3, pág. 2 6 ) , ser rcalmentc preta, se rada com alguma deformação provocada, como por exemplo, os
bem que não parece pela sua nímia delicadeza c transparência? Cnmbcbas que as entalam quando crianças para ficarem chatas.
Será no sangue, corno o mesmo W ins louu diz ter visto ser mais Todos as têm repletas de cabelos, que podem ser a ) perfeitamente
negro que nos brancos? (Ecrit 'd ü 'D : Towns, adressé à !a Soe. negros e só quando já idosos se tornam ruços; b ) compridos, soltos
Roy de Londres). Ou será na bilis como afirma B.irrcre e desalinhados quando gentios; c) lisos, isto é corrediços, exceto os
(Dissert. sur la couleur des Negres. Paris, 1741), pelas repetidas Muras na sua maioria os têm crespos e parecem amulatados;
experiências que fez, demonstrando que cia nos pretos não c ama­ d ) grossos, e tão rude em alguns, que parecem seda. Raros são
rela como nos brancos, mas tão negra como a tinta? os tapuias calvos, seja entre os jovens ou velhos. '
Ora, tudo isso é querer mais do que se propôs, ou seja, F a c e —- é larga e chata, afastando-se o mais possível da forma
examinar a causa que produz e não inquirir como ela atua. oval, comum aos europeus. Porém entre os povos do antigo
inundo, assemelham-se mais às feições dos asiáticos. Uns a con­
Quanto a mim, diz De Buffon, confesso que sempre me pa­ servam no :.eu estado natural, outros a desfiguram com alguma de­
receu que a mesma causa que nos faz mais trigueiros quando nos formidade ou mascarando-a como fazem os Turipichunas, ou dis­
expomos ao ar livre e aos ardores do sol, faz os espanhóis mais tendendo, mutilando, furando e rasgando algumas de suas partes
trigueiros que os franceses, os mouros mais que os espanhóis c os como procedem muitos outros.
negros mais do que os mouros. Nós não queremos indagar como_ T e s t a — muito pequena e estreita com os cabelos quase des­
estíi causa atuajnasAssegurar-nos.somente que.cja é a responsável
cidos até as sobrancelhas.
(Tom. 6 pág. 328).
O l h o s — pequenos com a pupila preta ou castanha; são muito
A terceira observação, quanto aos tapuias, é a lisura dc sua perspicazes.
pele, o quanto ela é polida e unida, de maneira que não somente
O r e l h a s — dc natureza grande, porém ainda maiores naqueles
carecem de pelos, exceto a cabeça, axilas e o púbis também de
que a sua grandeza constitui a formosura da face, distendendo-se
porção escamosa e rugas ou sinuosidades que regulam a transpi­
ração. A pele fica tão lisa que tocando-a com a mão, se sente ao ponto dc as descerem até os ombros como fazem os Uerequenas,
denominados também Orelhudos. Uns as conservam inteiras,
como aveludada. Há por outro lado alguns, principalmente entre
outros as furam ou rasgam — são chamados pelos índios domes­
os domesJiçadqç_,quç. _.ãJmitação dos, brancos, têm bastantes pelos
nas mãos braços e pernas. Na maior parte dos Muras, já homens, ticados de Nambi Soroca, isto é, orelha furada. Introduzem nos
que vi pêlo rio Madeira, observei um fenômeno que é raro entre furos tornos de paus, molhos de palha, fragmentos de resina, de
os tapuias, ou seja a presença de barba; poucos a tinham cerrada. pedra, de ossos, de cristais, conchas c dc alguns metais.
É certo que sc trata de exceções, porque conuimentc, já disse, têm N a r i z - - mais plano do que elevado, porém de olfato apurado.
a pele nua, lisa e unida. bsta é a razão por que no caso de neces­ Alguns farejam como cs cães. Da mesma forma ou o conservam
sitarem de diaforéticos, estes têm de sor mais fortes que os que inteiro ou com as ventas furadas exteriormente para nelas intro­
se aplicam aos brancos. Muitas outras observações podem ser duzirem penas de aves como os Miranhas, ou com um só furo pra­
feitas neste lugar, porém sigamos o fio de todas elas, dividiu.lo-as ticado na cartilagem que as divide interiormente, para nelas tra­
cm três classes gerais: primeira -— dc sua constituição fisica; se­ zerem atravessado algum tubo de resina como os Cariprinas das
gunda — da moral; terceira — da política. cachoeiras do rio Madeira.
ò

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D o c a — grande, com os lábios grossos e também inteiros ou


feto tido como obstáculo, da mesma forma, depois de nascidos os
furados para lhes introduzirem os botoques que fazem de flechas, filhos, se cies saem fracos, defeituosos e mal constituídos, são
de paus, de coquilhos, ossos c pedras. Não existem lábios tão abandonados como incapazes de exercer qualquer atividádé~fiã vida
disformes como os dos Gamelas do Maranhão. ÜÜyggem. Quando são criados, o tratamento é muito~rígbroso e
B a r b a —■ quando presente c c mo a dos europeus, porém é raros chegam a unia idade avançada. Desta forma está explicado
coisa rara entre os tapuios. Dos Muras, já disse o que vi e notei, por que se pensa que a natureza não reparte entre eles os vícios
o mesmo dc alguns índios domesticados. O que mais comumente como o faz entre nós. Se visitarmos as nossas aldeias onde as
se chega a ver nos adultos é uma espécie de buço no lábio superior. índias já sabem da severidade das nossas leis tanto sobre os infan­
Nos velhos crescem na barba, alguns raros pelos grossos. Isto ticídios, como sobre os outros delitos ofensivos à população,
não é um sinal de vigor e de virilidade? acharemos nelas alguns defeituosos em maior número do que se
observa entre grandes nações de gentios. E mesmo contrariando
T r o n c o — Nos tapuias do Pará, Rio Negro e Madeira, em
a lei muitas das nossas índias o fazem, para diferentes fins: para
geral de estatura medíocre, o tronco é reto c bem talhado; todos se pouparem da vergonha, para se vingarem dos pais, para evitarem
são espadaúdos e quadrados com os peitos largos, o abdome plano
a mortificação de os criar. Evidentemente esta liberdade é menor
e o dorso musculoso. Porém os Maváz que habitam um dos con­
do que no mato.
fluentes do Japurá, o desfiguram espartilhando-o dc tal sorte que
nem as mais delicadas damas da Europa o fazem . Algurt,;_.dos nossos europeus^_.£m seus esçritos, acham que a
«proporção > é mais iusta e maia-natural gm seus corpos que nos
E x tr e m id a d e s ■
—■Os braços c as pernas bem talhados e mus­ nossos. 1PisohQ (Nulli Strabones, lusciosi, claudi aut gibbo de
culosos. As mãos e os pés proporcionais à estatura de seus fofni.it inter illos inveniuníer, cum fasciis, aut. Linteolis infantes
corpos. Os pés, no entanto, são largos, as solas ásperas como nuniquam involvantur, aut Europeorum more Ligentur. Brasil.
lixa e nos gentios principalmcnte, o dedo grande do pé é afastado Mechc. Lib. I. pág. 6) e Marcgrav ( Ncc facile est inter illos inve-
do seu imediato. Entre os M uras os dedos do pé esquerdo são nire distortum, velluscum, aut claulum, cum infantes recens natos
maiores que os do direito por apoiarem entre eles as extremidades numquam fasciis involvnnit, aut Ligent. Brasil. Lib. 8 Cap. 5 pág.
de seus arcos na ação de expedirem as flechas. Em outros gen­ 269) deram a razão deste fato. É que eles não fazem parte dos
tios, cm ambos os pés, os dedos são separados, uma vez que lhes que desfiguram a forma humana, não enfaixam-as crianças, não
servem de mãos ao levantar-se do chão, quando nele cai ou se espartilham as meninas para adquirirem cinturas delicadas, não
encontra e com eles se seguram ao treparem pelos troncos das ár­ ligam colarinhos aos pescoços dos filhos, os pulsos com os man­
vores da mesma forma como se observa entre os quadrúpedes, no guitos, o ventre com os cintos, os joelhos com as ligas, e os pés
papagaio, na arara, no tucano c outras aves, que para treparem não cora os calçados.
usam outro artificio senão o que já trazem da natureza — p ca-
ráter jdistintivo de dois dedos separados. Ninguém se iluda, porém, afirmando que a esta regularidade
rp de figura corresponde um igual vigor. O que tenho observado
Da descrição acima, conclui-se que há cm seus corpos, .çN” nesta parte da América, é que a agilidade excede a ferra .
quando não desfigurados, aquela proporção e regularidade em que Um preto para^ unia diligencia ao—maio. á--menn.s iirn
consiste a perfeição de uma figura americana. O talhe airoso ' X . gentio, assim também para o serviço das canoas e em tudo que
, do corpo, a estatura proporcional, as feições delicadas, enfim, dc se relacione ao pescar, nadar, remar pelos rios, ele não tem a
j)' tudo a natureza vai distribuindo entre eles como melhor lhe parece. sua esperteza. .Por outro lado, para o trabalho da enxada c do
Mas por que d a não reparte igualmente pelos tapuias, assim como machado o p . r e i c y é niais forte. HáTgcntio que quando obrigado a
entre nós, tantos 'vicios. õrgãnlCDfDque se denotam na Europa, tais trabalhar, imediatamente se deixa levar pela violência. Um preto,
'"'DC como milhares de pigmeus., corcundas, aleijados, cegos. _surd<3?_c constrangido ou não. dá conta da tarefa que se lhe impõe, con­
y mudos? Apesar de existirem estes defeitos e outras grandes de­
tanto que não lhe falte q sustento. Isto porque sofrem menos a
formações naturais entre os gentios, o seu número {• iyduzklo_ç_as_
fome do que os gentios c bem ahiuentadbsérccõmpêíisaniéã' despesa,
ocorrências sao raras. O que responde a esta observação é que e o cuidado dc seus . s e n h o r e s . Os gentios, alimentados ou não,
assim como os tapuias, nas ocasiões de conflito, de desgosto c de são inimigos do trabalho porque não podem fazê-lo quando lhes
grandes trrõaihos corporais, procuram mediante o s ' abortos) evitar o falta limento c mesmo abastados, não querem. Pelo contrário.

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quanto mais bem alimentados c folgados tanto mais cedo se fazem Sempre que o vigor dc seus corpos não for violentamente agi­
----Ventres pigrimalo bestio — como os Cretenses citado por São tado por alguma súbita variação de conduta, passando de uma
Paulo e repetido por Epimcnides (Epist. Ia. ad. Fit. cap. IV. 11.) . longa abstinência para uma voracidade extrema, ociosidade e fa­
A debilidade é o caráter de seus corpos e a frieza é o de suas almas. digas excessivas, desassossego e incômodos de guerra, intempe­
Eis aqui a consequência não de uma nem dc duas causas somente, rança acarretadas pelas vicissitudes de estação, o clima e o seu
como julgam muitos, atribuindo uns, à tempe ratura do clima quente modo de viver harmonizam-se para favorecerem uma maior longe­
d* c úmido c outros, à pouca substância c muita simplicidade dos ali­ vidade, tanto assim que a freqüência de indivíduos sadios e lon­
mentos. Elas procedem de muitas causas: a ) dc não estarem, gevos é maior entre eles que nos europeus. Estes privilégios que
os gentios desfrutam, devem resultar do fato de seus corpos não
} ' * desde que nasceram, acostumados a trabalhar visto que o hábito
ao trabalho faz dos fracos, robustos. É o que se vê nos tapuias serem oprimidos..P°r_trabalhos c nem os seus espititos por aqüelái
-) domesticados que excedem cm força e robustez aos selvagens. São cr • -ões e dissabores que inquietam e atribulam os homens~clv8-
no entanto por natureza, tão fracos como estes, b) E mesmo que lizados,.
quisessem trabalhar, os meios que facilitam o trabalho são ausentes: Tenho visto alguns indios bastante curvados e decrépitos, de­
1* não há Instrumentos, 2* ignoram a arte da lundição e o uso dos samparados pela natureza em todos os sentidos; levando em con­
metais úteis, 3’ não se servem da ajuda de animais para os dife­ sideração os seim sinais externos, deveria atribuir-se aos mesmos
rentes usos da vida; sabemos que o boi c o cavalo servem ao eu­ uma extraordinária velhice. Eles, porém, de uns tantos anos para
ropeu, o elefante ao asiático, o camelo ao árabe, a rena ao lapônio cá, apenas sabem dar conta de sua idade através de fatos notáveis
c o cão ao kans katka. c) — n&lureza tudo lhes oferece sem ou notícias de alguns dos antigos generais que conheceram, os
cobrar fadigas e trabalhos em troca do sustento e do rcgalo.
quais por outras circunstâncias abrem porta às estimativas. Das
d ) JÊ tão lhnitadã~à~ésferird e seus desejos e necessidades que na
mesmas beneficências daquele clima, participam muitos europeus
menor atividade praticada, ficam amplamente satisfeitos, sem pre­
que para lá se dirigiram (Gjuofit, ut suptra centetimum tatis annum,
cisarem de se fadigarem para alcançar os meios necessários à sa­ viridi, Long va senecta, Brasiliani, etip. i quoque Europ i, hie, po-
tisfação. c) A liberdade de relação dos dois sexos, onde, quando tiantur, Pison. De Med. Bras. Lib. 1. pàg. 6. Long vi sunt
e como lhe apetecem. Todos eIes_são homens de natureza tal que admodum. Marcgrav, Brasil Lib. 8. cap. 5. pág. 262).
por não trabalharem, são capazes de passar pelos maiores trabalhos!
Entre brancos c índios centenários que vi, de ambos os sexos,
De todas as observações que se tem feito a respeito deste somente do estado do G rã-Pará por onde andei desde 21 de outubro
assunto, a que mais se conforma com o que tenho visto, é a de de ,1783 a 30 de janeiro de 1789, atingiam acima de cinquenta.
Mr. GodinT Razão de sobra teve para faze las, visto que se trata Em 6.642 ahras de que constava a população dentro do rio Negro
de um talentoso; reuniu experiências dc 35 anos entre os quais em 1787, trinta eram de idade avançada, sendo 28 índios, um cafuz
viveu 15 anos com os indios do Peru e 20 na colônia francesa dc e um branco. O s exemplos abaixo foram tirados de pessoas que
Caycna onde manteve relação com os índios do Orcnoco. O vigor ouvi falar ou averiguei a sua existência no tempo em que estive
da constituição dos americanos (di?_ele).está cxatainente na razão, no Estado: Pará — Em 1783, quando estive na ilha de Marajó,
de seu hábito ao trabalho. Os índios dos climas quentes como faleceu na fazenda do fgarapepuca. Domingos Pacheco, natural
os das costas do mar do sul e dos rios Amazonas c Orcnoco, não da ilha de São Miguel onde ele dizia ter sido soldado no tempo
podem ser comparados em força aos das regiões frias. Contudo, do Snor Rei D. Affonço sexto. Por aí se pode conjecturar qual
cotidiananiente estão saindo canoas do porto do Pará. Um esta­ seria a sua idade. Sustentava-se de pequenos peixes e outros ali­
belecimento português no rio Amazonas faz com que eles se di­ mentos de fácil digestão que conservam as forças necessárias para
rijam rio acima, apesar da forte correnteza e sem mudar de re- trabalhar no campo com uma foice. Todos os dias visitava pessoal­
nieiros, chegam a São Paulo que está a uma distância de SOO léguas. mente as suas roças, marchando a pé meia légua c delas retornava
Não se encontrará urna só equipe que seja, tanto de brancos como para jantar em sua casa. Não dava a transparecer o menor sinal
dc pretos, resistente a rm a fadiga semelhante; os portugueses beni de demcnc a.
o podem dizer. E todos os dias vemos os indios desta maneira;
assim estão habituados desde a infância — (Manuscrito de Mr. Em Macapá, ainda vivia Manoel de Bitancourt que também
Godin, o Moço, citado por R obertson). ..........~ era da ilha de São Miguel c da mesma cidade.
*>

S6 — 87

Em 1783 faleceu na cidade. Antonia Maria de Oliveira (a mãe Não haveriam de crer cm minha palavra no que tenho a dizer sobre
dos generais) . Sei que tinha mais dc ccni anos, porém já padecia os índios, quer seja em louvor ou em censura; é de boa vontade
de demência. que renuncio à satisfação dc escrever. Deste modo ninguém po­
R i o N e g r o — Faleceu na idade de cento c dez anos o capitão derá supor dc mim prevenção e ejíngefó,
Constantino Dutra e Ruin, morador dn vila Capital de Barcelos em «Não e a sua cor avermelhada (diz Mr. dc(Chanvalony falando
cuja matriz foi sepultado a d de agosto dc 17S6. dos Caraíbas da M artinica), não são as suas feiçõèS~3ITercntes das
Na mesma vila ainda continuava n viver o outro morador cen­ n o m s , responsáveis pela dessemelhança entre eles e nós, c antes,
tenário, o capitão Francisco Xavier dc Moraes. í. a sua excessiva simplicidade.
Com cento c doze tinos, faleceu no lugar dc Moreira cm 1786, . A sua razão não é mais iluminada nem maÍ3 _preyidente guc
\
o índio Damião. No mesmo lugar, com cento c vinte, faleceu cm ,s \ o histlnto dos animais, A razão dos homens do campo, os mais
1778 a índia Christina. Jy grosseiros, e a dos negros criados nas partes da África mais afas­
Não é dc sc admirar que tudo isso suceda em um clima tão tadas do comércio, algumas vezes deixn entrever uma ..inteligência,
benéfico como é o do Pará c Rio Negro. Vejam os exemplos s ainda jjue embrionária, capaz de desenvolver-se. Porém a dos Ca­
seguintes que são os do Forte do Príncipe numa capitania tão raíbas, nem isso écapaz de mostrar. ‘
doentia, a de M ato Grosso. Se..j_.sãi filosofia e. a.jej.jgião não nos niinistrassem_&.S suas
luzes; sc as decisões brotassem dos primeiros iftipulsos d«-•jespUfíP»
M a to G rosso ■
— Faleceu aos cento c quatorze anos, fgnacio .o inçhnnr-nqs-TinTõTIC.crcf Tqüç' semelhantes povoft n $o pertencem ,.à
Ferreira Marinho, natural do Rio de Janeiro, o qual até o ano de €r mesma c.spécíc humana que a nossa. Os seus(plhosysão o verda­
1787 (ano do falecimento) dizia não ter conhecido mais do que as deiro espelho "de sua alma guc parece não ter função alguma — a
duas mulheres que teve. Montava a cavalo com todo o desemba­ sua indolência é extrema ( Voyag.j}JLa_^artinIquiD págs. 44, 45,
raço e até o seu falecimento não mostrou a menor falta de juízo 5 1 ). Se olhara como homens (efíz Uchoa^, ós limites de sua in­
e sentidos. Jaz no cemitério do Forte do Príncipe, Também ali teligência parecem incompatíveis cõm 'à~"Sxcelência da alma e a sua
jaz o outro morador Àntonio Alves, europeu, falecido cm 1788 com imbecilidade é tão visível que cin bem poucos casos se pode fazer
cento e nove anos. No mesmo ano faleceu com mais de cem anos, deles, ideia diferente da dos animais. Nada altera a tranqüilidade
M aria Pinheira, natural da cidade de São Paulo. de suas almas, tão insensíveis aos revezes da fortuna, quanto às
È ainda vivo o preto Sebastião da Silva que conta cento c sete prosperidades. Andam tão contentes semi-nus, como o rei mais
anos; tem a cabeça c barba brancas; ainda trabalha na roça e nesta suntuoso vestido de suas galas. As riquezas para eles não têm o
idade, no ano passado, em 1788, pretendeu casar-se. Marcha a menor atrativo. A autoridade e as dignidades parcccm-lhes objetos
pê légua e meia sem ficar abatido; trabalha com foice e enxada tão insignificantes para serem ambicionados que um índio receberá
e tem vida ordenada. Um outro preto, Joze Anciré, vivo, conta com a mesma indiferença o emprego de Juiz ou Alcaide. O inte­
acima de cento e dez anos e padece algumas cegueiras periódicas. resse não os move, preferem antes não fazer um pequeno serviço
por mais seguro que estejam de receber uma grande paga. O temor
Além destes especificados por seus nomes, existem mais cinco também não sentem: o respeito menos ainda. Ultimamente não sc
pretos centenários. Por ai sc*%ê que entre as 800 almas, dc que, pode tirá-los desta indiferença, que tantas provas de esforço tem
quando muito, constaria em 1786 a população cio Forte do Prín­ custado aos homens mais hábeis. Nem fazê-los sair desta igno­
cipe, sc incluíam dez centenários.
rância grosseira e negligência que desapontam a prudência daqueles
O que eu tenho até agora escrito reíeie-sc a constituição física que sc interessam.Rç!jui.stms .comodidades e se ocupam em fazê-los
cios tapuias. felizes (Viagem dc llchôa. Tom. 1. págs. 335 e 3 3 6 ) . ' ;
f>) Espiritual: À insensibilidade (escreveu1 M r, Dela_Condaminçp depois
Pelo que diz respeito ás .suas faculdades intelectuais c as ati- de visto e tratado os índios tio Peru e do Pará) fornia' a base do
vidaacs pelas quais são impulsionados, cu não poderia escrever caráter dos americanos.
tanto, c nem ser aceito universaliuente entre os sábios, eomq esere- Deixo a decidir se deve honrá-la com o nome apatia ou n i-
veram o S filósofos mencionados no Auto da História da Am; rica. Iccê-ln com o dc estupidez. Fila nasce sem dúvida do pequeno
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88 — A' 89 —
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•a número de idéias que não se extende além de suas necessidades. as suas observações e reflexões tão pouco acima dos objetos, que
Se empanturram até mesmo com voracidade quando têm de satis­ ferem os seus sentidos, apenas capazes de idéias abstratas, e não
-â fazê-la, são sóbrios quando não há necessidade e dispensam tudo têm palavras pata exprimi-las. A doutrina sublime e puramente
se nada desejarem. Pusilânimes e poltrões quando não se deixam espiritual do cristianismo deve ser incompreensível a semelhantes
levar pela libertinagem; indiferentes a todos os motivos de glória, espíritos tão pouco exercitados. As cerimônias numerosas e bri­
■já honra e reconhecimento; unicamente ocupados com ji presente sem lhantes rio culto romano, agradam-lhes tão somente como um es­
inquietação alguma pelo futuro — (Relation abrcqce de im voyacT petáculo. porém logo que começa a explicação dos artigos de ié,
V . págs’.~52 é 53)7" .... " " ' ................... ........... relativos ao culto exterior, eles simplesmente ouvem com paciência
Sobre a religião (diz o jpadre _Ribas), durante os muitos anos mas percebem tão pouco o que ouvem que a esta submissão não
em que residi entre estes povos, prestei a maior atenção possível se pode dar o nome de crença. A sua indiferença vai mais longe
e não sei se devia olhá-los corno idólatras. Posso assegurar, ainda do que a sua incapacidade. Ocupados tão somente com o pre­
que em alguns se achem sinais de idolatria, outros não têm o menor sente, refletem tão raras vezes no passado e pensam tão pouco no
conhecimento de Deus nem mesmo de uma falsa divinda.de c não futuro que nem os tocam as promessas da religião e nem os ate­
vi* prestam nem o maia formal culto ao Ser Supremo que governa o morizam as suas ameaças. Esta foi a razão porque alguns dos
inundo. Eles não podem formar ideia da providência de um primeiros missionários declararam que semelhante raça de homens
;íí era muito estúpida para compreender os primeiros prihcípios da
Criador de quem devem esperar na outra vida o prêmio das suas
virtudes e o castigo dos seus vícios. Jamais sc reunem em público religião.
para praticarem um só ato dc religião (Ribas. Triuinph. Va. Um concílio celebrado em Lima, declarou que em razão da sua
pág. 16). ' ' incapacidade, deviam ser excluídos do sacramento da Eucaristia.
3 E ainda, Paulo 3 ’> pela sua famosa Bula de 1537, declarou-os cria­
Para os que são religiosos (completa Pisou falando’dos índios turas racionais e com direito a todos os privilégios do cristianismo.
do Brasil, ô trovão, frequente neste país, e que se lhes apresenta A dois séculos cies tem sido membros da Igreja e os seus progressos
terrível, é tão digno de cultos religiosos que a ele sc referem com foram tão poucos que reduzido número de índios se acha com in­
o nome de Tupana ou seja Deus, em sua língua (D e Med. BraziL teligência bastante para ser olhado como digno de participar da
* pág. 8) . Eucaristia. Por este motivo, quando Felipe estabeleceu a inqui­
A respeito daqueles que possuem religião, cu já escrevi o bas­ sição na Américo em 1570, os Índios foram declarados isentos da
> tante em outra parte. Veja a Participação Geral do Rio Negro, jurisdição deste tribunal e ficaram submetidos à inspeção 'de seus
Tit. 16, Art. Superstição dos Gentios. diocesanos (Hist. de lAAmerique, T o m .).
Para os progressos do cristianismo (diz Roberlson dos índios Adverte-se, contudo, que as reflexões acima taxando os ame­
espanhóis) ainda que sejam muitos os obstáculos, nem todos são ricanos de estúpidos e indolentes,, em suma, jnenos gente.gue_jiós,..
iguaimente insuperáveis. É verdade que os primeiros missionários, # V - conforme definido pelo jesuíta Vieira) é uma análise ao pé da letra.
inflamados do zelo imprudente -m fazer prosélitos, admitiram ao Por outra perspectiva, é de "se "reconhecer que estão em outro es-
grêmio da igreja cristã, muitas nações de gentios, antes mesmo tado de sociedade, em outra ordem de coisas, em outro país e com
delas estarem catequizadas na religião que se lhes propunha, mas ^ C’L>V' diferentes necessidades, pelas quais perdem grande parte de toda
também antes dos missionários possuiram a língua do país para a sua energia. Como os seus requisitos; naturais são poucos, tam­
através dela explicarem os mistérios da fé e os preceitos da moral. * bém os seus esforços espirituais c corporais estão na niêsina pro­
L foi assim que se viu durante o furor das conversões, um só sa­ * v ( »V j *^ porção. O que mais inquieta e tira cia inação os poy.Q5 ..cjvi!izado..
cerdote batizar cm um dia até 5 . 0 0 0 mexicanos e poucos a n o s 'f A / ! ./“ s são as necessidades adquiridas, porém estes, (cliz V çnétjasdos Ça-
AC >5- 7 ° v-
depois da redução do México, já se havia batizado acima de quatro lifórniox) não conhecem honra, nem reputação, títulos, postos, nem
milhões de almas. Disto ivmi
mente admitidos, conservando
ou que os proselitos inconveniente-
empre toda a sua veneração às ,m «
^ O' ,
distinção alguma de superioridade. De maneira que a .ambição,
^ I>S> - \V ^ esta poderosa mola das ações humanas que causa tantos bens apa­
tigas superstições, fizeram um misto absurdos quais foram irans- rentes neste mundo e tantos males reais, não tem poder algum sobre
miúdos ã posteridade. Porem '■y
uáo é este ainda o obstáculo mais des. Por ai se vê que a sua indolência e toda a sua felicidade
insuperável. A inteligência d i.s índios ê tão limitada, cies levam consiste cm não trabalhar.
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o
*

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— 90 — — 91 —

Quando a fome os persegue, e não há com que satisfazê-la, o peixe e as hortaliças, salgadas; de outro modo não se conservam,
qualquer raiz. qualquer animal lhes serve dc alimento. Daí a falta sendo esta forma a de menor despesa. Bebem vinho c fumam
de previsão para o futuro. tabaco. Em outros tempos os asiáticos diziam que os portugueses
eram gentes comedoras dc pedras, bebiam sangue e respiravam
Ao lavrador, entre nós, que tem o seu celeiro cheio, pouco lhe
fogo. Os tapuias, quanto ao pão de viagem ou de duração, torram
importa saber se o inverno será rigoroso ou não. Com maior razão
o tapuia não pensa cm futuros desta classe, porque não necessita grandes beijus que duram muitos dias, o mesmo fazendo com as
farinhas, se é que as usam. O pão dos índios espanhóis fica tão
de celeiro. À mandioca é retirada da terra que lhe serve dc celeiro
duro que só molhado sc pode mastigar. Às farinhas entre os
e irnedialamcntc preparada por ele. Isto quando os gêneros de
gentios não são ordinariamente provenientes da preparação da
suas lavouras não passam dc mandioca, milho, macaxeira, bata­
mandioca. Quase todos eles, uma vez desmanchadas as roças que
tas, ctc.
estão maduras, se servem da mandioca para a extração do amido
X* As árvores por todo o ano dão frutos — acabam umas c prin­ ou da tapioca c, dela amassam grandes pães que são cobertos de
cipiam outras, por conseguinte não é preciso plantá-las ou cultivá- folhas, preservando-os de impurezas; depois de secos ao sol, os
\X > las mesmo porque não o sabem. Sc lhes faltam os frutos, não lhes enterram cm covas proporcionais ao seu número e volume e lhes
falta a caça no mato nem o peixe nos rios e lagos. Para surpreen­ fazem fogo por cima. Daí resultam grandes pães de tapioca bem
4- v d V derem a caça, a naturc2a_ dotou-os de ardis e estratagemas, os mais preservados da humidade e aptos a serem manipulados diferente­
^ V - apropriádos"~pãra suprirem a imperfeição dc_ suas armas. mente à vontade de seu dono — ou em beijus para se Cv>mer ou
v em tacacás (que são caldos de farinhas) para se beber. Esta é
Qj É notável a propriedade com que arremedam as cutias, os
a prática dos Pacés e de outras nações de gentios que habitam
porcos, os veados e outros quadrúpedes assim como os papagaios, os confluentes do Japurá c mais rios que desaguam no Amazonas
cujtibis, inambus, mutuns, inacucos e outras aves; servindo estes
0> arremedos para atraí-las e as porem nas pontas de suas flexas.
e Soíiinões. O beiju ou massa da mandioca ou simplesmente massa
de amido, é o alimento mais freqüente. Os Tucunas da parte
y Valem-se do mesmo estratagema para surpreenderem os caçadores , superior do Solimõcs, usam o milho depois de colhidas as espigas,
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nVy arremedando as aves que eles mais procuram, até as colocarem ao
jÕ* alcance cie suas armas.
, as conservam na fumaça de tal forma arrumadas que não sobra
1 espiga por defumar.
^XXy Vo Como o peixe é infinito.nos.rios Amazonas, Solimõcs e outros, Como eles não têm sal marinho, este é substituído pelo sal
\
y
* nem a arte de pescar lhes é precisa; basta remexer a água com o fuliginoso que lhes submirîîstra a fumaça de um fogo lento ao qual
oX zõ
timbó, cururu-timbo, o astacu e outras plantas venenosas. Basta defumam o peixe e a caça, estendendo-os em u;ma grelha de
armar uma ligeira tapagem na boca de qualquer riacho. E como paus . A isto se chama moquear. Se dermos a um tapuia um pouco
v9 pescar desta maneira requer menos atividade que o caçar, todos de sal, de que todos são extremamente ávidos, ver-se-á que faz
os que habitam as margens dos rios são mais pescadores do que dele o mesmo uso que nós do açúcar. Ele vai dissolvendo-o com
X -y caçadores; de fitófagos que são por natureza, vão desde a infância a saliva e dando com a lingua grandes estalidos, o que prova bem
passando a ictiófagos. Por aí vemos que tudo quanto se vê neste o grau cie estímulo que sente. Eles em muitas partes não deixam
artigo referente aos índios, é a existência de uma preguiça extrema de o ter em um dos dois estados: ou no de fóssil, que se desenterra
e ilimitada embora dentro da própria natureza. Contudo, para o do seio de algumas montanhas c terras, ou no de eflorcscêneia na
cotidiano consumo durante as suas emigrações econômicas ou mili­ superfície dos lagos e lagoas. Um ou outro o recolhem c conservam
tares, eles fazem provisões. inquiro dentro de cabaças ou gomos de tabocas mais grossas e
P a r a que não necessi tem ca ç a r ou pes ca r em dias festivos, os dependuram ao fumeiro para os preservarem da umidade. A {
para pr e vcni i - s e contra os e st r ag os que ihes f az em nas roças pouca umidade que retiram, é através das cinzas do caruru .le
as i nundações repentinas, as c h u v a s e os cal or es s ucessi vos, as cachoeira, cias palmeiras paxiúbas c marajá c dc outras ervas e ^
p r a g a s de ratos e dc f ormi gas, eles se pr e vi nem p a i a o futuro, áivor-xs. Nota-se que não há um direito exclusivo dc uso por *
ma s de uma forma muito di f erent e da nos s a . O s europeus para aqi.y s que recolhem ou conservam o sal, o mesmo digo do peixe,
as suas l ongas e xcur s õ es marítimas, coz em o pão dua s vezes, da cata, etc. Isto que vou dizer é notável entre os indios quer |
r e c e b e n do o mune do bi scouto ( panis l u o c n t u s ) ; e- eaeia a carne. -sejam gzntios ou domes! içados. bentados a comer, a ninguém
•■íseasima
ãüíviSiS
' Tfífáfc-
— 92 — -
— 93
■KSifZ-,
chamam ou convidam, também a ninguém excluem. Todos irmã­ ■.■'-tf--'
- '-M x c . com r diferença que o décimo é màior ou seja mais pronunciado,
mente metem a mão na mesma cuia; onde um bebe, todos bebem, denotando dezena. Luas dezenas destas, formam na sua língua
-ê o pouco chega para muitos e como tudo é para todos, o hóspede c:8 f|~ uma jangaba ou vintena na nossa. Por conseguinte dez dezenas
não tem_o que agradecer. .-pjMfak t ' ou cinco jangabas. fazem uma centena que entre eles se chama
Outro método de conservar o peixe é praticado por eles. papassaba. Dez papassabas ou centenas, produzem um milheiro.
Este mesmo é adotado pelos colonos portugueses estabelecidos em Por meio desta forma contam os alqueires de farinha, de arroz,
distâncias consideráveis dos portos marítimos, todas as vezes que de milho, as arrobas de salsa, de cravo, de cãfé, de cacau, etc. Para
lhes falta o sal nos centros destes sertões ou se o seu uso é muito suprirem as folhinhas e os diários, abrem ao comprimento de uma
:_5i dispendioso, além das suas posses, ou também quando o peixe a tabuleta de madeira, tantos furos quantos são os meses do ano.
conservar é tão miúdo e espinhoso que não vale a pena disper- A cada um destes furos, correspondem pela largura da tabuleta,
ó diçar sal. Eu_já o descrevi em_ outra parte (Participação gerai outros tantos, sucessivos, quantos são os dias de cada mês. O dia
do Rio Negro. Tit. 27 —■ Dietética"'— A rtigo.— Piracuy) onde que corresponde ao domingo é notado com o sinal de cruz. No furo
disse que a todo peixe grande, ou pequeno, inteiro como se pesca ou em que está introduzida uma cravelha, este denota o número e a
se flexa e com as suas escamas e espinhas, o põem a moquear, denominação do dia em que se está. Se a algum deles perguntarmos
estendendo-o e voltando-o repetidas vezes . o ar de um fogo mais por exemplo, a que horas se chegará à boca de tal rio, kuma vez
forte até lhe dissipar toda a umidade interna e externa e ficar o entendida a pergunta, há de se perceber a resposta; o sol servirá
peixe de maneira a se quebrar entre as mãos. Neste estado então de relógio e o dedo indicador de mostrador. Se depois de apontar
o despem da escama e os expurgam das maiores espinhas para - ‘zsáfe* o indicador no nascente, com ele vier subindo até parar em um
o pulverizarem em farinha a qual passam por uma peneira e a •ííSfQi ponto equidistante do oriente e do meio dia, dá a entender pelas
torram ao forno como se faz a de mandioca, para a espalharem. 9 horas; se pnrar em perpendicular entende-se pelo meio dia; se
O método de uso desta farinha de peixe, consiste em cozê-la em descreve o semicírculo inteiro denota 1 dia. Umas poucas voltas
água, reduzindo-a a consistência de um apisto (os índios chamam destas, indicam uns poucos dias. Por aí certifica-se que não
de mungica), bebendo-o adubado ou com o tucupi (ArtigçQ—• rarq,_ apesar de seu fundo de estupidez, algumas espertezas tan to ’
Tucupy) ou com o molho de limão azedo c pimenta dã terra. mais dignas de admiração quanto menos je ra d a s dojensino.
Os brancos adicionam-lhe azeite ou manteiga ou simples gordura
do peixe. Tudo junto com gemas de ovos batidas e cebolas serve O que faria um europeu criado como um destes tapuias,
para preparar uma boa sopa. ignorantes da existência da geometria, geografia, hidrologia, etc.,
se lhe fosse perguntado a respeito de um rio, sua direção, con­
A quem não possui_ bens jnóyeis jdesçendentes para deles fluentes, número de aldeias situadas? Posso responder o que fez
herdarem, nem inoeda entesourada que contar, nem tem longos, um gentio quando a ele foram feitãs estas perguntas; tomada uma
cálculos que fazer sejam sobre o tempo ou espaço, certamente, c c d a , a estendeu pela terra de forma a representar as voltas do
para nada serve à 'aritmética'. O s “ fâpuiàs 'servem -sc dela para rio principal, À referida corda, lateralmente, da direita e da esquerda
os seus pequenos cálculos, correspondendo os dedos de suas mãos foram atados outros tantos cordões quantos eram os confluentes
a outros tantos algarismos. Para significarem 20, mostram os dedos a representar, ajustando-os às distâncias que na sua mente tinham
das mãos e dos pés. De 20 para cima, uns mostram repetidas uns dos outros e também de forma a figurar as suas voltas. Final­
vezes as pessoas e outros os dedos e outros os cabelos. Aiguns mente, em cada um dos cordões laterais, deu tantos nós mais ou
tomam um grande punhado de areia e a espalham pelo chão. menos aproximados quantos eram as aldeias dos índios e suas
Quantas são as castanhas de caju que eles mostram guardadas, cm distâncias umas das outras. Assim o problema que se lhe propôs
alguma cabaça tantos são os anos que eles querem dizer que têm foi resolvido sem ser preciso levantar qualquer carta. Isto me
de idade, pois o cajueiro só dá fruto uma vez por ano. Os índios sucedeu no iio Branco com um gentio da nação Macuxi que
domesticados e entre estes os de maior posto como os principais casuahnente encontrei na povoação do Carmo. Este indio reparou,
oficiais das povoações c pilotos das canoas de negócio, para darem na palhoça que eu habitava, o que cú estava a riscar. Era um
ou tomarem contas, praticam o seguinte método: nas quinas de pequeno mapa de população que ele supôs ser o rio Branco. Sem
uma régua de madeira que é maior ou menor segundo a progressão me dizer alguma palavra, tomou o meu bastão que eu trazia no
do seu cálculo, abrem com uma faca uma dezena de pequenos cientes canto da palhoça e com a ponta pôs-se a riscar na areia do pavi-
*9
f
#
— 9-1 — 95
e
mento urna encudcação de grandes e pequenos rios. Na foz do suas crenças, seus sacrifícios, bailes e funerais, sempre deixam r
* Arauru, segundo cie, o que para nós é o Tacutu, riscou a fortaleza transparecer a idéia de Deus através de sua revelação. Quanto
de S. Joaquim e tantos quadrados quantas eram as palhoças a a esta última, o homem animal (diz S._Paulo) não percebe «as
coisas que são cie Deus», cias lhes parecem uma estultícia e ele
r
ela anexadas. Aproveitando a ocasião, oferecendo-lhe papel, o. e
convidei a fazer com a pena e tinta o que até o momento tinha não as pode compreender porque as tais coisas pura se discernirem,
feito com bastão. Prontamente se pôs a riscar uma carta onde
as cordilheiras eram .marcadas por sucessivas séries de ângulos
pedem ut. a luz espiritual. Isto, no entanto, não serve de base
para os ímpios (como algumas tribos que carecem da idéia de
r
mais ou menos agudos e as malocas dos gentios por círculos maiores Deus), venham a argumentar a favor dc seu partido. Eles, mesmo f
c menores. Sem adicionar coisa alguma além dos nomes que me se opondo (diz o Padre Jaminp) aos selvagens estúpidos do Novo
Mundo que andam errantes pelos montes, sem lei, nem culto, sem €
dizia, mostrei a carta a sua Excia. o Sr. João Pereira Caldas, ao
Governador da Capitania, ao Dr. Astrônomo José Simocns de j templos e sacrifícios, são uns homens que apenas conservam a f
Carvalho e a muitos outros. figura de homens, de razão obscurecida, embrutecida e sepultada
na matéria. Dc forma alguma devem fazer-nos força contra uma e
A respeito da religião, é verdade que algumas tribos não verdade reconhecida por todos os povos da Terra (Pensamentos.
têm nenhum conhecimento de uni ser supremo c nem praticam lógicqs^Capi. 2 ) . Nós não fazemos juízo das faculdades do f*
culto religioso. Isto naturalmente deve acontecer ao ho.ncm consti­ corpo humano pelos mudos^ surdos, cegos c nem coxos e que em f»
tuído na infância da sociedade, estando cm semelhante estado as que o façamos dos ditames da linguagem humana por_»ns homens
potências intelectuais tão débeis, que não deixa distinumr-se (IfliJ i
! toscos, estúpidos e idiotas? Que cstravagância! Respondamos pois f
outros animais, Nem a ordem, nem a beleza do universo fazem !
aos filósofos que nos dão imagens inversas de uns doutores tão
a menor impressão aos seus sentidos. Na sua língua não há uma sábios, o mesmo que respondeu um poeta moderno;?. «En_ n bon. f
só expressão que designe a divindade. Vive, porém, jião faz mais i droit, libertins, vous êtez mcpresnbles. Lors que.jdans ces forets,
do que vegetar. Olha, porém não reflete; aprende, mas não vòüs chcrchez vos semblabcs». Pelo que pertence ao cristianismo,
raciocina. Pelo que sc vê, os seus espíritos não se acham exerci­ confessemos com De Buffon, que as missões têm formado mais f
tados pela filosofia nem iluminados pela revelação. Seria absurdo homens nestas nações bárbaras do que as armas vitoriosas dos
pretender que seja capaz _de_ reconhecer a e x i s t ê n c i a dc ura Ser príncipes que as subjugaram. Assim eu posso testemunhar dos
e
invisível;"qüem não reflete nem discorre. É o m e s m o q u e quisés­
semos encontrar neles o mesmo conhecimento quando crianças !
gentios Cureluz, habitantes da margem oriental do rio Apaporis,
confluente do Japurá, segundo o que deles ouvi e o que eu mesmo
f
que quando homens. Contudo não é geral esta ignorância para
todos os americanos, seja na existência dc Deus como na imorta­
1 vi.'Ouvi/do tenente-coronel Theodosio Constóndno_de_Chermqnte.
primeiro comissário da quarta partida da diligência da demarcação
r
lidade d'alma.' São pareceres de muitos observadores sobre as de limites, que achando-se na sua aldeia, ambas as partidas: r
idéias que tinham os Nathchez e naturais de Bogotá, os mexicanos
e peruvi inos. Os americanos de Manaus e do rio Negro que já
portuguesa e espanhola, aos 2 de julho de 1782, depois de ambas
terem side bem recebidas e agasalhadas dos referidos gentios.
r
escrevi a respeito (Participação geral do rio Negro. F it, 16 artigo Ele, primeiro comissário português havia representado o p r i n c i p a l
— Superstição), em matéria de religião, acreditavam com uma Catiamani que eles queriam um vigário para os batizar e instruir
espécie dc Manicheismo que haviam dois deuses; um chamado e que por conta deles deixasse o seu sustento como também a
Mavari, autor de todo o bem, e outro por nome Sarauã, autor fatura do negócio preciso para sc inteirar a sua côngrua. Foi o
dc todo mal. Entre as muitas superstições que praticam os gentios mesmo tenente que presenciei, estando eu em Barcellos, capital
Purus. habitantes de um confluente do Solimões de mesmo nome, do Rio Negro, dizer da sua parte ao filho do capitão-general
é célebre a do jejum expiatório ao qual se entregam por preceito João Pereira Caldas, que ali chegou a 3 de fevereiro de 1787.
de religião, sendo tão rigorosa a abstinência conforme a doutrina
religiosa. De tal forma a praticam que não a dispensam mesmo A doçura, o bom exemplo, a caridade e o exercício da virtude
f
se lhes vier alguma enfermidade, de maneira que muitos chenam constanterrscnte praticado pelos missionários tocaram estes..selvagens
a morrer de desfalecimento, preferindo antes a morte para c u m p r i r e m e venceram a sua desconfiança e ferocidade. Dc motu próprio
eles têm vindo muitas vezes pedir que se lhes ensine uma lei que
f
a lei ao que víolá-ln p; a viver ( Memória sobre os gentios, de
•f dc mnho de 1788). Apesar das idéias tão extravagantes das faz ; ’ os homens perfeitos, â qual sc têm sujeitado. Nenhuma e

*3 — 96 —
— 97
3
outra coisa faz tanta honra à religião como a de ter civilizado a diversidade das minhas observações; porque o certo é que quanto
estas nações e lançado os fundamentos dc um império sem outras mais nutrido e folgado anda o corpo, .tanto .maTs~ãrd'éntè sc .faz
armas que não a da virtude c(.Tpm._6 p á g . 299) . aquele apetite,
Não ê fácil dc se ver um índio empenhado em ganhar a
C onstituição rnoixtl afeição dc sua amada, seja por diligências assíduas, por caricias
externas e outras dessas demonstrações inventadas pelos amantes
-1 Uma vez começando pela afeição conjugal, o primeiro dc civilizados. Ela.s, por sua parte, não necessitam de tantos serviços
todos os afetos humanos, posso dizer que o melindre e a ternura pessoais, nem têm formada em si a idéia da especialidade de
... rs,'? que a mulher merece de seu marido entre os povos civilizados favor que tais serviços lhe fazem. Se elas demonstram amor pelas
não tem correspondência nos americanos. A tapuia na realidade obras e serviços pessoais que fazem, pela facilidade de condes­
não é mulher e sim escrava de seu marido. E a este é dado somente cenderem em tudo quanto diz respeito ao tratamento corporal
, v -jc
s

/\ a atividade de roçar, caçar e pescar. A mulher é que planta daquele a quem se consagram, pelas suas maneiras externas, pela
■s' -J (quando isto se pratica), colhe e transporta o cesto de mandioca correspondência de obséquios, pelos risos de alegria, pelas lágrimas
x-y *? na cabeça para a sua palhoça. Se tem filho, o traz junto a si nas de tristeza, pelos gemidos dc dor, é muito difícil alguém julgar
* y costas ou a um lado do corpo. Ela é quem prepara o beiju ou a o afeto das mulheres. >
farinha, espreme os vinhos para as suas bebidas, vai buscar e O amor dos pais a seus filhos, enquanto são pequenos e
tO conduzir água e em suma faz tudo, passando pelos empregos necessitam dc seus socorros, que eu saiba até agora, não traz
t à {' ■ mais humilhantes. Os serviços pessoais que o tapuia consagra nenhuma dúvida por parte dos observadores. Este amor dura tanto
àquela com quem deseja casar não são os meios parat a conseguir. como o de qualquer outro animal. O filho, chegando à idade de
Depende tão-só comprá-la de seus pais, ou melhor dizendo, dar
UAA y era troca dela o que eles desejam, levando cm conta que entre
poder por si próprio diligenciar o seu sustento, o trato dos pais
fica inteiramente absorvido de obrigação e o filho passa a senhor

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V V ’J "
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, os gentios não existem moedas. Uns são monógamos c outros
polígamos. O país é fértil e abundante, dc maneira que não exige
de si e de suas ações. Nunca se ouve o pai aconselhá-lo, louvá-lo
e respo ’ lhe. Em uma mesma palhoça, que se sabe não existir
nenhum cuidado cm relação a uma numerosa família quando assim nenhuma repartição, vivem irmamente, o pai, a mãe, os filhos,
V 1 ^ pedem as suas instituições e costumes. Usam mais dc uma mulher. as filhas e as noras. T udo aquilo que entre os povos civilizados
f1- Porém elas não são gerais, nem para todos nem para os da sua só sc faz com grande recato, em ordem "de respeito e decência,
parentela. Por mais frios que eles sejam, isto não procede da cies, sc ,n alguma malícia, praticam um ao lado do outro.
falta de ciúmes, do apetite do coito ou da liberdade de o terem
quando e como o apetecem (sabe-se que entre eles não há lei A indiferença da relação entre pai e filho enfraquece muito
nem religião que os modere) . Pelo contrário, o que eles tratam aquela união c o amor de família que faz o caráter' permanente
logo dc esconder e recatar em vista de gente estranha são as das famílias civilizadas.
mulheres, raparigas e os filhos, os quais eles zelam e guardam As mães, logo que acabam de parir, lavam a si e a seus
corno as meninas, de seus olhos. Se alguns índios, depois de filhos. As filhas, chegada a idade ele lhes repontar o menstruo,
domesticados, tratam de bagatela a infidelidade conjugal, eles, logo a primeira vez que são assistidas, a cerimônia dc sua puri­
subornados por dádivas ou importunações, entregam as mulheres, ficação é precedida de um baile lustral. A filha é retirada a um
Mas logo ao primeiro acesso de algum crápula, exprimem o seu tenda! levantado alguns pés acima do pavimento da palhoça e
ressentimento e dão a entender bem daramente o ardor de vingança ali os seus pais a conservam pelo tempo que lhe dura o menstruo,
que neles domina. © que se diz em prova de sua debilidade é que fazendo-lhe fumo por baixo e alimentando-a com caldos de farinha
a veemência do apetite do coito é bem menor que entre os europeus de mandioca. Isto ainda é hoje praticado ocultamente em algumas
mais morigerados. Eu não confirmo nos que tenho visto. É verdade das nossas povoações, onde índias, muito antes de serem assistidas,
que todos habitam as margens dos rios, onde r céu é benigno, o são tidas como pros‘itutas por efeito da corrupção dos costumes.
terreno fértil c a subsistência abundante. E, por conseguinte, as Da idade de nove anos para cima principiam a prostituir-se. pri­
paixões que excitam as necessidades, como a lome, a peste c a meiramente com os chamados capitariz, índios rapazes cie doze a
guerra, não enfraquecem ou distraem a cio amor. 'i alvez aí esteja dezessete anes; depois, com os homens de todas as idades c
100 —

não sc ouve um índio gemei dc dor, sendo capuz de sofrer a .suiA.iantivo Itá (pedra) dava-o o primeiro lugar e o outro substan­
amputação de um braço e de uma perna sem dar o menor suspiio. tivo Coara (buraco) o segundo lugar. Proferindo em seu idioma,
resulta o termo Itá-Coara.
Não c que lhes faltem acenos ou vozes para manifestarem seus
gostos c dores, mas é que eles, fora do tumulto das paixões, nao O seu alfabeto carecia das letras I, L, S, Z e nem usava
são homens que desperdicem palavras. Acostumados a pensar o rr dobrado ou áspero. Às letras A com til (ã) davam energia
pouco, também falam pouco. Dai ser o aspecto de uni tapuia a algumas palavras: Xoco-ã — eu já vou: amano-ã — já morreu,
o dc um homem sério e melancólico. O seu falar é tao lento como aari-ã ■
— isso não. A letra E tinha a força de obrigar o verbo
são lentas as suas cogitações. Não se vê neles uma demasiada a significar o que se fazia, independente de coisa ou de pessoa’
atenção ao que se lhe diz. Com aquela mesma taciturmdac c com aço-c (eu mesmo vou ou vou por mim, sem me levarem) . I em
y que se deitam, com cia acordam. E sc não há o que fazer, assim princípio era relativo: I tayucá, nós matamos; no fim do nome
perseveram dias inteiros. Ora, quem não está acostuma o a era diminutivo — comanda, fava e comãnda-i, favinha; taguara,
comunicar com franqueza os seus sentimentos é por natureza cão c taguara-i, cãozinho, A mesma letra I, com til (í) junto
desconfiado, a ninguém abre o seu coração, a ninguém sc c uCU ao verbo torna a sua ação por acaso ou sem força — ainconhanguí
e carãicr é o de reserva em todas as suas deliberações. ern o / aço de minha propriedade o meu motu; accpiacl, vejo como se
1 mostra a experiência; para a execução dc seus planos, por exemplo, não visse. O jota servia, como na língua latin a,'o ra de vogai
para uma fuga, para um motim, nada é capaz dc abalar aque a ora de consoante. As línguas antigas usavam-no com dois pontos
I inimitável constância que guarda entre eles a insidiosa maxima de nas duas extremidades para se pronunciar com um som médio
um impenetrável segredo e de uma refinada dissimulação. An< aii o entre L e i .
j ou trabalhando, se não são índios criados entre os brancos, nao
A letra U cra sempre vogal. As línguas se serviam do K
lhes ouvimos o cantar netn o gemer. todas as vezes que pretendiam tornar a escritura com propriedade
na pronuncia de algumas dicções como a do verbo Aker, dormir;
Canta o caminhante Ledo onde não tinha lugar para a pronúncia da segunda sílaba, o C
No caminho trabalhoso áspero nem o Q .
Por entre o espesso arvoredo;
E de noite, o temeroso As letras I, C e T , serviam de relativos, correspondentes
Cantando refreia o medo. ao qui, quo, quoc dos latinos.
Canta o preso docemente. Sc alguém se interessar a respeito da ortografia, ortologia
Os ursos grilhões tocando; desta língua, como também pela sua etmologia, prosódia e sintaxe,
Canta o segador contente; poderá consultar as obras apontadas abaixo.
E o trabalhador, cantando
O trabalho menos sente. (Camões Pihytm. pnrt. 2'.) Os missionários jesuítas, encarregados das missões dos índios,
a estudaram profundamente desde o principio, para mais facilmente
Porém isso entre os tapuias de forma alguma sc verifica N as lhes introduzirem e arraigarem as máximas da religião cristã.
suas línguas, tanto para prosa como para verso, não deixa dc haver Porém pouco depois a língua foi se deixando penetrar pela dos
energia suficiente e propriedade. Tendo sido a extinta nnçao europeus que pela sua excessiva familiarização, tornou-se indis­
tupinambá a mais dominante por estas partes, também a sua língua pensável, destinando a língua nativa à extinção.
foi a mais geral. A limitada esfera de suas idéias era harmônica, .......A parte da referida língua impressa cm Coimbra em 1695 por
vasta c enérgica. Pobre dc termos que significassem ideias José de_Anchie(ã, por ser o primeiro parto deste gênero, saiu
abstratas. Era° muito semelhante à grega pela composíção de seus muito diminuta e confusa, porém dela sc extraiu, juntando á
vocábulos. Estes eram apropriados à natureza e ao caraler das observações de'M arcgrav, um dicionário dc termos mais usuais.
coisas. Em alguns casos assemelhavam-sc à Jíngua inglesa in.s
posições dos nomes — sempre que concorriam dois substantivo:., O opúsculo que em 16KS saiu pela primeira vez, foi o que
o que cra posto em primeiro lugar ficava sendo o genitivo co em 1686 surgiu pela segunda vez sob o título de Cathecisrno-
segundo. Desta forma para eles dizerem buraco de pedra, o Brasil da doutrina cristã, com o cerimonial dos sacramentos v
o

9S — 99

c o n d iç õ e s . A s p ro s titu ta s n ã o d e ix a m de tra z e r a lg u m a s v a n ta g e n s imagem.çlos ,primeiros tempos. Elas são tão simples (diz o abade
a s e u s p a i s , p< r d u a s r a z õ e s : 1") e m v i s t a d a p o b r e z a c m q u e t!c quC| P°r raaior que seja. basta um dia para a
viv em , n u n c a d e ix a m d e s e r lu c ra tiv o s os s e u s d isfa rc e s: os b ra n c o s
■o \ ^ j
constrmr, Todas as referidas aldeias (continua Barrère) que
a s u s te n t a m c v e stem ta n to a e las c o m o a o s s e u s p a re n te s ; o s
ín d io s lhes fazem a s ro ç a s c co m isso lh es p a g a m . 2 ') p o rq u e
a s p r o s t i t u t a s n ã o p e r d e m c a s a m e n t o , v i.s ío q u e n o s o l h o s d e u m
?\y
' I
ordinariamente estuo edificadas em algum alto ou na margem de
«ilgum lio, confundidas umas com as outras, e sem ordem, tornmm
uma perspectiva das mais tristes e desagradáveis. Alt nada se
í n d io a h o r r n d e s t e g ê n e r o é c o is a b e tn i n s ig n if ic a n te , d o n d e sc y vê senao o horrível c selvagem. Mesmo o silêncio que reina c
s e g u e q u e c e d o p r i n c i p i a m c e e d o a c a b a m . U m a í n d i a do.s___17_ que só dc quando cm quando c interrompido pelo som jdesagra-
a t é a o s 2 0 a n o s , fica tã o e s t r a g a d a n a s f o r ç a s , n o a s p e c t o , e c o m .dávcTde alguma ;rve ou animal, é capaz de inspirar apenas o terror*.
n a p a r ê n c ia tã o m o rtific a d a c o m o unia m u lh e r de 30 a n o s na Na constituição política das nações, cada maloca c governada
E u r o p a . O p o u c o v i g o r n a t i v o d e s u a c o n s t i t u i ç ã o fisien, e n f r a ­ peio seu membro principal. Não há um sò que governe a todos,
q u e c id o e e s g o ta d o p o r d ife re n te s c a u s a s : d e s ig n a ç ã o de su b sta n c ia s, ou uma parte escolhida para esse fim, ou todos eles representados
d e b ilid a d e d e a lim en to s, freq u ê n c ia d c deb o ch es, tra b a lh o d o m e s ­ : por alguns, como as diferentes formas de governos que vemos
tic o e r u r a l , e s f o r ç o s d o s p a r t o s e a c r ia ç ã o d o s filh o s: com to d o s t v>° na Europa. E,videntemente se vê que a sua união política, ainda
e s t e s o b s t á c u l o s , a s u a íe«. u n d i d a d e e n t r a £ i n j o g o ; e s ã o p o u c a s , a s para os casos de interesse comum, é muito incerta e precária.
- ó V f' ! • “ ... .nte a paz é que duram mais os efeitos desta independência
indias q u e parem numa' idadc_3e_3Õ..an0s.para c i m a .
^ l / j' • . y 1* k natural. Como cies não têm magistrados, cada um faz justiça a si
'■ ^ ^ -s mesmo, tendo cada um o direito de vingança nos>casos de crimes;
C onstituiçã o política 4 o filho vinga a morte do pai, o marido a da mulher, o amigo a
J
•v J ’x í4 do outro amigo. Bem poucas ou nenhuma idéia têm do que seja
P ela p a la v ra 'n a ç õ e s ! d e ín d io s de form a a lg u m a sc deve rkft
4 subordinação civil. O mais que fazem nas ocasiões de calamidade
e n t e n d e r o m e s m o q u e n a E u r o p a . O e u r o p e u , q u e !ê o u o u v e & c perigo comum é consultar a experiência dos mais velhos.
d iz e r q u e ta l o u tal rio ê h a b i t a d o p o r t a n t a s o u t a n t a s n a ç õ e s , yfc.
e n g a n a r-s c -á a o p e n s a r q u e a lg u m a s d e la s é p o r exem plo (o qu e Quando sc trata de uma guerra ofensiva ou defensiva então
cu n ã o d ig o ) c o m o a a lem ã, a fran cesa, a p o rtu g u e s a , e tc . N ã o todos eles reconhecem que são membros de um só corpo, o qual
c nem se q u e r a q u ela p a rte dc h a b ita n te s que cabem na m enor
( / íyl ^ necessita de uma sô cabeça. Dá-se lugar de chefe ao que mais
p ro v ín cia de q u a lq u e r d estes re in o s.
s * ". j ^ valor tem c de mais experiência for, Este não obriga ninguém,
uma vez declarada a guerra, a servir nela quem quer que seja
C h a m a m d e n a ç õ e s d e ín d io s u m a so c ied a d e tao p e q u e n a j
e in sig n ific an te em n ú m e ro d e in d iv íd u o s q u e ã s vezes n a o u ltra - jjC ^ mas sim para dirigir tios que querem alistar-se como soldados.
d/' jPara ocuparem os postos dc oficiais é preciso cm primeiro lugar
passam m a i s d ê 3 0 0 , 4 0 0 o 6 0 0 a l m a s , tv p a r a s e a d m i r a r q u e
( v^ Oi yque o pretendente tenha dado repetidas provas de uma extraordi-
a ’g u m n s tão p e q u e n a s co rp o ra ç õ es ocu p em às vezes espaços
y iC naiia firmeza d alma ou ter antes sofrido sem limites. Os sucessos
m aio res tju ç p .s ..m a io re s re in o s d a . E u r o p a . A ssim , lhes é p te c iso
da guerra são os que fazem perpetuar as honras desta patente.
re p artir a s fam ílias cm p e q u e n a s trib o s p a r a p o d e re m su b sistir,
O noviciado d-a posto de chefe ou de capitão consiste em uma
segundo o seu m o d o dc v iv e r. A s g r a n d e s c o rp o ra ç õ e s n a o p o d e m -
/0 rigorosa repetição dc atos, nao de valor mas de paciência. (3 menor
a c h a r a su b sistê n c ia p re cisa , p o r q u e n a o tr a ta m da la v o iu a ,
sinal dc falta dela é o quanto basta para o inabilitar. Se ele passa
c o m é r c i o e d e c r i a ç õ e s d c g a d o . M e s m o d i v i d i d a s , nao . s u b s i s t e m
muitos dias sem comer, nem beber c guardar o jejum que se lhe
hem s e não estão s i t u a d a s e m d i s t â n c i a s p r o p o r c i o n a d a s à a b u n t l a a - impõem por ordem para prova do seu sofrimento; sc por muitas
c i a o u c a r e s t i a que há nos n o s o u t e r r i t ó r i o s d a s u a n a b i t a ç a O
horas que o estão flagelando, não produz um só gemido: sc na
D e s t a f o r m a , d o luga uns aos outros [tara cada tribo desfrutar sua maca onde o deitam e o cobrem dc formigas, as mais vorazes,
uma porção de tenvm , proporcionais ao seu numero e as mias se deixa miar tranqiiilo, sem emoção nem dc espirito nem de
necessidades. E cada ma delas, se não for errante e de curso, corpo: se ao fumo de algumas ervas de mau cheiro cie nem se
estabelece uma o u anus ddeias. sufoca nem voha a cara, então se julga digno do posto. Ilã queia
«Mas -Q que são estas aldeias? As casas de que se compõem diga que a sua sensibilidade a dores é menordo que a nossa., peia
jdiz.Álr. Barrete) têm um ar de extrema pobreza c unia perfeita contextura de sua pele e de sua constituição física. O certo é que

UB
H t t t t t l t t t t t t T l l l f 1 1 11 t t t V l K t « t
—- 103 —

a to s p a ro q u ia is , c o m p o sto p o r p a d re s d o u to s d a c o m p a n h ia de transformado naquele grupo de ilhas vulcânicas que cm 1769, o


J e s u s , a p e r f e i ç o a d o c e d it a d o p elo p a d r e A n t o n i o d c A r a ú j o co m capitão "Krcnítzin reconheceu par parte da Rússia, o qual ainda
a s e m e n d a s d o p a d r e B a ríh o lo m c u d e L c ã p . observou algumas que lançavam fogo e em todas observou indícios
de suas antigas erupções? Porém, ainda que caiba no possível,
E m 168 7 se im p rim iu e m L ish o a n A r t e G r a m á tic a d a L ín g u a não passa dc uma conjectura sem fundamento seja na história ou
B r a s í li c a , t e n d o p o r a u t o r o j e s u ít a L u iz F i g u e i r a . E s t e c o lig iu na tradição.
e o r d e n o u a s p rin c ip a is re g ra s q u e d e d u z iu d e sitas o b s e rv a ç õ e s .
N e l a s se p o d e v e r o q u e c ra e sta lín g u a , h o je cm dia tã o v ic ia d a Será que algum navio europeu, extraviando-se do seu rumo
q u e nem os tap u ia s a e n te n d em , c o n fo rm e ten h o e x p erim e n tad o . fosse casualmcnte ter à costa da America e ali a sua tripulação
D o m in o u -a p e rfe ita m en te o g o v e rn a d o r e c ap itão g en eral A le x a n d re começasse a povoar o continente? É uma outra conjectura sem
d e S o u z a F r e ir e q u e g o v e r n o u o e s ta d o p e lo s a n o s d c 1728 a té fundamento corno a primeira.
1731. N e l a c o m p ô s diferentes v e r s i f i c a ç õ e s q u e a n d a m e n t r e a s Será que pelo norte da Europa tenham algumas famílias da
m ã o s d o s c u rio s o s. E n tr e ta n to , te n d o a lín g u a o rig in a l q u e c o m p ô s Groenlândia passado para a América, como parece verdadeiro:
a q u e la a r te d e c lin a d o d e todo. e e s ta n d o a lín g u a g e ra l v icia d a. 1" — a descoberta dc que n ponta de contato mais próxima entre
S u a M a j e s ta d e lev a a bem , q u e se fa ç a m a s in stru ç õ e s c ristã s os dois continentes velho e novo. está na extremidade setentrional
e c iv is a o s í n d i o s s o m e n t e n a l í n g u a p o r t u g u e s a c q u e n e la se dc um e outro; 2V — .a identidade, dos animais que se acham
c o m u n iq u e m . S e m m ais e s te n d e r-m e em se m e lh a n te a ssu n to , d a re i nas p-ovincias setentrionais do novo mundo, são as mesmas que
a s q u e s tõ e s d e q u e írn ta rn os h is to ria d o re s d o N o v o M u n d o . E u os das partes do antigo continente, situadas em latitudes corres­
ta m b é m p e r g u n to : c o m o se p o v o o u a A m é ric a ? P o r o n d e p a s s a ra m pondentes; porque ainda que nas províncias americanas debaixo
os h o m e n s d e um c o n tin e n te p a ra o u tro ? E p o r q u e p a r te d p glo b o dos trópicos ou vizinhas a eles, todos ós sciis animais indígenas
o s d o i s h e m i s f é r i o s s e c o m u n i c a r a m e n t r e si? são diferentes daqueles que’ li a bí ta’nf~3s~pi7 ié s ~corrêsponci entes
S e rá q u e os a m e ric a n o s n ã o d e s c e n d e m .d u m pní c o m u m m as
do antigo mundo. Contudo nas setentrionais” da América, o urso,
a n te s , f o r m a m u m a d e s c e n d ê n c ia s e p a r a d a , co rn o a s s im rne p a r e ç e
o lobo, a raposa, a lebre, o gamo, a cabra montez e o alce são
v e r d a d e i r o : L — A s e p a r a ç ã o 3 ê ~ s é u h e m i s f é r i o ; 2" — a d i v e r ­
os do norte da Fluropa. 3" — A confirmação da atual vizinhança
s i d a d e d e s u a c ô r ; 3 " — a d e s u a s f e i ç õ e ç ; 4 9 — ,i d c s u a s l í n g u a s ;
entre os dois continentes adquirida pelos russos depois que fí
parte ocidental da Sibéria sujeitou à sua denominação, desde então
5" — - a e s t u p i d e z d e s u a a l m a ; 6 9 — a d e b i l i d a d e d e s e u c o r p o ;
pelas tradições destes povos, sobre uma viagem em 1648, se
7? — a n o v i d a d e d e s e u s u s o s e c o s t u m e s ?
concluiu felizmente à volta do promontório do N . E . da Asia,
P o r é m .a i s t o _§.e. D p ô e _ a . . i n í a ! i b i l i d a d e _ d a j ) a l a v r a d i v i n a p e l a animando-os a prosseguir aquele descobrimento. JR&EA^oseu
q u a l e s t a m o s i n s t r u í d o s q u e d e u m s ó h o m e m d e s c e n d e m t o d xs prosseguimento,„saíram eia__1741 dois nayios_constrqídos no mar
o s d e m a i s q u e p o v o irji,..o _ .T erra. S e r á q u e e l e s " s ã o 'd e s c e n d e n t e s de Kanstchatka com os dois capitães 1Beming^)e rjTschirikow. os
d e a l g u n s r e s t o s d e a n t i g o s h a b i t a n t e s q u e , e s c a p a r a m d o d ilú v io , quais havendo navegado a L. e descoberUTãitma terra” que lhes
d e r r a m a n d o - s e tais re s to s p o r u m p a ís v a s to e in cu lto , c o m o ta m b é m pareceu do continente da América, depois de passarem a se comu­
m e p a r e c e v e r o s s í m i l : 1") a a n a l o g i a d e a l g u m a s p a l a v r a s ; 2 " ) a nicar com alguns habitantes das ilhas que formam uma cadeia
u é a lg u n s usos e co stum es? L . O . entre a dita terra, ou imaginado continente e a costa da
Ásia, neles descobriram muita semelhança com os povos da América
C o n tu d o , a p e s a r de e sta rm o s in stru íd o s com a m e s m a in fali­
setentrional porque até a mesma insígnia de paz que usam, usavam
b ilid ad e so b re o n ú m ero de h o m e n s q u e e sc a p a ra m , s ã o tão d éb eis
também os referidos habitantes.
a s ra z õ e s d e v e ro ssim ilh a n ç a f u n d a d a s em re la çõ e s a c id e n ta is de
c o stu m e s e se m e lh a n ç a s e q u iv o c as d e p a la v ra s q u e n ã o fic a rá n o Para a mesma finalidade, em 1768, em outra viagem foi
m u n d o n a ç ã o a lg u m a a q u e m n ã o p o s s a c o m p e tir a h o n r a d e ter mandado o capitão Krcnítzin. Não somente foi confirmada a
p o v o a d o a A m é ric a . primeira descoberta quanto à navegação que se havia feito mas
S e r á q i : c fo i e l a a p r i n c í p i o u n i d a a o a n t i g o c o n t i n e n t e m e ­
também foi ampliada c corrigida na parte em que haviam crrc =.
d ia n te a lg u m istm o, c e ste d e p c is d e s a p a r e c e s s e o u sc q u e b r a s s e
O que os dois capitães, Beniúuj e Tschirikow supuseram em ! 74 i
p e l a a ç ã o d e o u t r o d i l ú v i o o u d e a l g u m t e r r e m o t o ; chi e n t ã o
ser ......nontórios ou cabos do continente Americano, Krcnítzin viu
— 105 —

que não era mais do que "a racsma continuação daquela cadeia Há alguma autoridade pata se fazer subir a sua origem à
de ilhas que cies tinham visto em tempo muito enevoado c raras fonte. Eu já a indiquei (O A. tem dito em outra parte — qué
eram as veres em que se podia observar o sol e as estrelas. muitos fatos decisivos estabelecem uma consangüinidade entre os
Observa-se, contudo, que sobre as posições dos lugares que uns esquimós e os groenlandescs. Tom . 2, pág. 4 7 ). Porém entre
e outros visitaram, não há exatidão. Este país onde Berring tocou todos os outros po/os da América, está saltando aos olhos, uma
estava situado a 5 8 ^ e 2 8 ' de latitude e a 2 3 6 '? d c longitude à semelhança tão viva, tanto na constituição fisica como nas quali­
ilha do Ferro. E onde o tocou Ticirkoss, estava a 56'-’ de latitude dades morais que, não obstante diferenças produzidas pele
e a 2 4 1 c de longitude. Donde se segue que o primeiro chegou a influencia cio clima como pela desigualdade de seus progressos na
6" do porto de Petropasvlosvska onde se fez a veia, e o segundo civilização, que somos obrigados a olhá-los como ramos dc um
a 6 5 ° . Todavia, pela carta de Krenitzin, parece que não avançou mesmo tronco.
mais de 200‘-’ a L. e tão-somente a 32- de Petropasvloska.
Podc-se-Íhcs achar alguma variedade no colorido, porém cm
Ultimamente, através de algumas relações circunstanciadas todos eles se acha a mesma cor primitiva. Cada tribo tem algum
feitas pelos missionários Luthcranus.„.c„ Moravos que ali haviam caráter particular que a distingue das outras, mas em todas elas
passado, a respeito daquele pais e seus habitantes, viemos a saber se reconhecem certas feições, comuns a toda sua raça. .Uma„coisa
que a costa ao N .O . da Groenlândia estava separada da América digna de reparo é que em todas as particularidades, físicas ou
por um pequeno estreito que, no fundo de uma baía onde ele morais que caracterizam os Americanos, acha-se mais semelhança
acaba, era provável que se unissem os dois continentes, os habi­ com as das tribos bárbaras espalhadas pélq N ,E . da.ÁsiaTdõ^que
tantes de ambos se correspondiam entre si. Por aí se vê que cs com qualquer outra das nações ^çsfãbfikcid3S_aa_ISL - d a .Europa.
esquimós da América se pareciam perfeitamente com os groen- Pode-se logo chegar à sua primeira origem c concluir que os seus
landeses, tanto na figura como nas roupas e modo de^. viver; que ascendentes asiáticos, havendo se estabelecido naquelas partes da
os marinheiros que sabiam algumas palavras cios groenlandcses, América, onde os russos descobriram a vizinhança dos dois con­
contaram que eles tinham sido entendidos pelos esquimós e que tinentes, dali se foram espalhando gradativamente por estas dife­
um missionário Moravo, bem versado na língua dos groenlandcses, rentes regiões.
tendo visitado aquele país, havia com muita admiração sua, desco­
berto que eles falavam a mesma língua e por ela fora bem recebido Esta idéia se conforma com as tradições dos mexicanos sobre
por todos e agasalhado como irmão (G rantz. H ist. da Groenlândia, a sua própria origem e por mais imperfeitas que fossem, sempre
citada por(Robertson,^ha sua Hist. da America, iom. 2, pág. 46). as haviam conservado com o maior cuidado c mereciam mais crédito
do que as de qualquer outro povo do Novo Mundo. Entre eles
Ou será que pelo N .E . da Asia, a América recebeu os se is passava por certo que os seus ascendentes tinham vindo de um
primeiros povoadores? Qual destas duas hipóteses é a mais provável: outro país remoto e situado ao N .E . do seu império. Eles indi­
a que sustenta que pelo N .O . da Europa recebeu os groenlandcses cavam certas paragens onde haviam pousado aqueles estrangeiros,
ou a que supõe que pelo N .É . da Ásia recebeu os tártaros? por ocasião da jornada, que iam sucessivamente fazendo, para os
Veja o parecer ao qual me inclino: sertões das pi jvíncias. E aquela era precisamente a rota que eles
deveriam seguir na suposição de terem vindo da Asia. A descrição
«Ainda que seja possível que a América tenha recebido do que os mexicanos faziam da figura, costumes e do modo de vida
nosso hemisfério os seus primeiros habitantes ou seja pelo N .O . dos seus maiores por aquele tempo, é uma descrição fiel das tribos
aa Europa ou pelo N .E . da Ásia, há boas razões para supormos selvagens dos tártaros, de quem me fez supor, serem os mexicanos
que os ascendentes de todas as nações americanas desde o cabo descendentes.»
de Horn até as extremidades meridionais do Lavrador, vieram
Depois de ter perguntado rjueni povoou a América, indago:
antes da Ásia que da Europa. Os esquimós são os únicos povos .quem a descobriu? Segunda questão bem pouco relativa ao assunto
da America que pela sua figura c caráter têm alguma semelhança tratncfo, põfemT dc minha parte, deixa ver nada menos que uma
com os europeus. Esta é, evidentemente, uma espécie dc homens, assiduidade de trabalho cm ler e combinar tudo quanto posso,
particularmente distinta de todas as demais nações deste continente, não obstante o pouco vagar que tenho para estender um passeio
pela língua, costumes c hábitos. mais largo na esfera das especulações.
— 106 — 107 —

Seria o piloto de quem se lembra Gomcra dizendo ter sido Primeiro: ainda que suposta a autenticidade de um fato escrito
extraviado de uma das costas da Europa c levado a O , por um mais de quatro séculos depois de sucedido — de o príncipe Madoc
vento L. fora dar cm outra costa desconhecida; uo voltar da ter descoberto um país desconhecido, não quer dizer que este fosse
qual ele e três marinhos haviam escapado da morte pelas mãos a América, podia muito bem ser ou a ilha da Madeira ou outra
da fadiga c da necessidade. Sendo recebido e agasalhado o dito qualquer.
piloto em casa de Cristóvão Colombo, seu íntimo amigo, lhe reve­
lara, antes dc morrer, o mistério da sua navegação? Assim afirmam Segundo: sustentar que era América sem outro fundamento,
os espanhóis para obscurecer a glória de Colombo. Os historiadores alem da analogia de algumas palavras mericanas e francesas,
mais sinceros, fundados nas razões seguintes, escrevem; primeira é o mesmo que pretender iluminar a vprdade de um ato com provas
— não se determinou ao certo o nome nem do piloto nem do ambíguas e obscuras. Quando por outra parte não nos respondem
navio e muito menos o seu destino. Não se produziu alguma à pergunta que fazemos, porque razão, tendo-se preservado entre
daquelas provas necessárias para constituírem probabilidade. os índios certas palavras francesas até O tempo em que os desco­
brimos, não se conservaram igualmente em três séculos de dife­
Segunda — estas provas não dão aqueles que pretendem renças alguns indícios da religião cristã?
explicar o oposto, ou seja, onde saiu o navio e para onde se dirigia;
uns dizem que navegava de um dos portos de Andaluzia cm Seriam os noruegueses que depois de descoberta a Islândia
direção às Canárias ou à ilha da M adeira. Outros sugerem a em 874 e de estabelecida na Groenlândia outra colônia em 982,
partida de Biscaia para Inglaterra. Outros que cra navio português dali estenderam para O . as suas excursões marítimas pelas quais
da costa de Guiné, onde traficava. Como estes não concordam descobriram o novo país, melhor que o seu, e ao qual, segundo
entre si, também nenhuma probabdidade conciliam as suas afir­ escreve Snorro, per algumas vinhas que ali acharam, deram-lhe
mativas. o nome de W ínland? Todavia, a que parte da América aportaram
estes descobridores? O que na relação de semelhante viagem anda
Terceira — não se determinou o ano em que tal descoberta escrito a respeito do comprimento dos dias e das noites na latitude
se fez. Em referência a ela nenhuma palavra foi dita pelos dois de 58" ao N .? Porém ainda ali o país não produz vinhas, etc.
contemporâneos dc Colombo, André Bernardes c Pedro M artyr
e nem depois, por H errera. Q g -lu do o que se tem escrito da história, se divide em:
.eclesiástica, filosófica, ppfitica e~núlltar7 E ntrar em uma enumeração
Seria o Alemão M artinho Behaim a quem Stuven, sem aliás circunstanciada de todos e de cada um de seus autores, seria
produzir prova alguma, chama verdadeiro descobridor do Novo repetir desnecessariamente o que já se fez em parte até o ano
Mundo? Assim dizem os alemães equivocados ou a favor de sua 'd e 1737. Ao espanhol tãAntonio de Leço PinéIo)se deve ■— «o
nação. Isto porque, o geógrafo M artinho de Bohemia que real- epítome da biblioteca oriental e ocidental qüe“ cõntém os escritos
mente existiu no século XV, do qual diz Herrera ter sido português das índias Orientais e Ocidentais» — Eu me limito somente ao
natural das ilhas ou do Fayal ou dos Açores, amigo particular que se refere ao Brasil.
de Colombo, apelidado de Bohemia, não deixou nenhuma certidão
aos alemães, de ter nascido na Alemanha. Além do mais até Ainda que em 1624 tenham sido separadas do governo geral
agora lhe perguntamos pelo ano de sua viagem, pelo porto, onde do Brasil os conquistas do jMíara.E£ãQ. e_ Grão-Parág) com o título
de estado,/eu pelo Brasil entendo aquela plfrte da América, com­
se dirigia e pelo roteiro de sua navegação, etc
preendida entreyos_rios: Amazonas e da P rata.j
Seria o príncipe Madoc de quem diz(PpweJ-\jue, desgostoso
das disputas que se sucediam no século X íl entre os filhos de Quanto aos referidos historiadores, sejam eles nacionais ou
Owen Guyncth, rei da parte setentrional das Gallicas. resolveu estrangeiros, não farei mais do que apontar os nomes e as obras
buscar além dos mares uma habitação menos incômoda c com daqueles qué se dedicaram a outro qualquer ramo da história que
efeito o conseguira, navegando a O -, onde descobrira um pais não tenha sido_a natural:
desconhecido e do ovai voltara às Gallicas para adquirir e trans­
N A C IO N A IS:
portar novos companheiros — isto se passando em 1170 mas dai
por diante não se ouviu mais falar em ta! príncipe nem desta nova — O jesuíta Joseph de Anchicla — Gramática dn língua
À n ch icta
colônia? Isto é dito por alguns franceses que não refletem . brasílica.
— 109 —

A r a ú jo — O jesuíta Antonio de Araújo — Catecismo brasílico,, M anuscritos


composto em lingua brasílica, por P .P , Doutos da companhia
de Jesus. Relação da jornada de Jerônimo dc Albuquerque para a
conquista do Maranhão.
B erredo — Bernardo Pereira de Berredo, Gor. e Cap. am. G ab
que foi do estado do M aranhão — Annais Históricos do refe­ Manuscrito sem o nome do autor.
rido estado. Relação histórica e política dos tumultos do Maranhão —
D u r ã o — O eremita Augustiniano F r. Jose de Sta. Rita Durão manuscrito de Francisco Teixeira de Moraes.
— O Caramuru — poema épico do descobrimento da Bahia, Relação breve de todo o estado do Maranhão e particular-
(ver a rt. —• Estrangeiros — Duarte de Albuquerque) mente do grande rio Amazonas — manuscrito de capucho Frei
Figueira — O jesuíta Luiz Figueira — Arte de Gramática da Jerônimo de S. Francisco.
língua brasílica. História do Maranhão pelo jesuita XX X . Genealogia das
Freire — Francisco de Brito Freire — A Nova Lusitania. famílias de S. Paulo — por Pedro Taques.

C a lu ã o — Antonio Galvão — Descobrimento do M undo até a Roteiro das viagens desde a cidade do Pará até as últimas
era de 1550. colônias dos domínios portugueses nos rios Amazonas e Negro,
ilustrado com algumas notícias de agricultura de algodão e dois
Cama — Jose Brasilio da Gama, denominado na Arcádia. T e r- mapas: o primeiro relativo à agricultura e rendimento de Macapá
mindo Sepilio — O Uraguai — poema épico. cm cada ano decorrido desde 1773 até 1779 e o segundo sobre a
— Pedro de Magalhacns —-
M a g a lh a c n s T ratad o das co isas, escravatura da dita vila no ano de 1782 — pelo Coronel Gover­
do Brasil. nador da capitania do rio Negro, Manoel da Gama Lobo de
Almada.
M arques — O jesuíta Simão Marques — Brasília Pontifícia; seu
Speciales Facultates pontifício, quo Brac{1,~ Episcopis con- Memória dos mais terríveis contágios de bexigas e sarampo
ceduntur et singulis decenniis innovantur. ocorridos neste estado desde o ano de 1720 em diante, poste-
riores às que manifestam os Anais Históricos do Maranhão por j
— N uno M arques Pereira — Compêndio narrativo do-
P e r e ir a Bernardo Pereira de Berredo, nos anos de 1621 (§ 487) e de
^Peregrino da América. 1663 (§ 11) — pelo Tenente-Coronel T heodorico Constantino /
P ita — Sebastião da Rocha Pita — História da América Por- de Cherrnont. ~ '"* —
tuguesa, até a era de 1724. Este mesmo Tenente-Coronel Theodorico, relata a introdu-
R a p h a e l — O monge beneditino F r. Raphael de Jesus — Cas-
ção do arroz no estado do Grão-Pará, com a história dã~origem
triôto Lusitano. e~dõs progressos que fizeram as máquinas de descascar e bran­
quear: fala sobre as madeiras que podem servir para aduelas, exa-
S a n ta T h e r e s a — O carmelita descalço Frei João Jose de S . T he­ minadas por ordem do governador e Capitão-General João Pereira í
resa que escreveu em italiano — lstoria delle Guerre der Caldas; cita a respeito de uma porção de cabos formados dc casca \
Regno del Brasile. do Guambecima e ainda relata a respeito do uso que faz dos [
S ilv e ir a — O cap. am . Simão Estaço da Silveira — Relação caniços, para os tubos de espoletas. .—I
Sumária das coisas do M aranhão. Extrato dd Diário dei viaggio al Fiume Marié in septmb
V a s c o n c e llo s — O jesuita Simão de Vasconcellos ■— História do
d'1775, per él Decimento promesso, escriturato dalli* due Princi­
Brasil. pal! Manacaçary, e Adnana suo fratelio — per Antonio Giuseppe
Landi, Acadêmico Clementino, e Publicc Professore de Architec-
V i e ira — O jesuita Antônio Vieira —• História do Brasil — por tura g Prospectiva nell Instituto delle Scienze di Bologna, Ar-
ele mesmo citada na vida do padre Jose de Anchieta, que chitteto Pensionario de S- Máestá Fidelíssima e uno di quelli
também recomendo a leitura. seguinte sucessi — Adirnstanza dei Dotore Alexandro Piz.
— 110 — — 111

Brasilia Médica de Antono José de Araújo Braga, cirur­ mória sobre o ano dc 1786 ■— por Antônio Villela do Amaral,
gião da Gente de Guerra empregada na Diligência da Demar­ morador da Vila de Barcellos.
cação para servir dc resposta à carta que lhe dirigiu o doutor
naturalista A .R .F . cm data de 20 de fevereiro de 1789. Anais do descobrimento das minas de M ato Grosso e da
fundação da Vila Bella da Santíssima Trindade que contêm os
Observações sobre a agricultura da Maniba, dos grãos e fatos anuais e memoráveis desde o ano de 1734 até 1772. A
das frutas de árvores, cultivadas pelos lavradores da capitania partir deste ano os anais continuara até 1789.
de S. J osé do rio Negro, conforme as recomendou o doutor
naturalista A . R . F . em carta de 15 de setembro, que podem Relação noticiosa e exata do que se tem passado nestas
interessar a curiosidade dos navegantes e dar mais claro conhe- fronteiras dc M ato Grosso e Santa Cruz de la Sierra, desde o
\ cimento das duas capitanias: do Pará e de S. José do rio Negro ano de 1759 até o princípio do ano de 1764 — pelo Tenente-
-Coroncl Antônio Filipe da Cunha Pontes.
^ — por seu autor o padre José M onteiro de Noronha.
Diário da viagem que, em visita e correição das povoações Memórias Cronológicas da capitania de M ato Grosso prin­
da capitania de S. José do rio Negro, fez o ouvidor e inten­ cipalmente da Provedoria da Fazenda Real, intendente do ouro
dente geral da mesma, Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, nos Phelippe José Nogueira Coelho.
anos de 1774 e 75. Foi informado de algumas notícias geográ­ Relação cronológica dos estabelecimentos, fatos e sucessos
ficas da mesma capitania, e outras, concernentes à história civil, mais notáveis que aconteceram nas minas do Cuiabá, desde o
política e natural. seu estabelecimento, escrita pelo advogado José Barboza de Sá
Coleção das ordens expedidas pelo Capitão-General João P e­ e corrigida e ampliada pelo cap. Joaquim da Costa de Cerqueira
reira Caldas no tempo em que governou o estado do G tão-P aiá sendo este obrigado a escrevê-la, no ano de 1786, na conformi­
sobre os diferentes objetos relativos aos presentes exames do dade da Real Òrdem de S. M ajestade, de 20 de julho d 1782.
doutor naturalista Alexandre Roiz Ferreira — pelo mesmo go­ Descrição da capitania de Goiás e todos os sucessos mais
vernador e capitão-general. notáveis da sua época dividida em 13 partes. Sem o nome
JReflexões breves sobre os principais motivos que obstaram do autor.
ao mais desejado progresso cTã~]avoura e comércio ~do~estãdõr3o Divertimento admirável para os historiadores observarem a
.Grão-Pará, desde a .nQyiTIÕnná d,e. -administração -flue principiou Máquina do M undo reconhecido nos sertões da navegação das
. com o 'felicíssimo reinado-do-..senhoE...D, Tosé. p„ l tf em 1750, minas do Cuiabá e M ato Grosso. Dizem que o seu autor é M a­
indicados os motivos, pela mesma ordem, e sucessos dos diversos noel de Abreu. Também se diz que a história da capitania de
governos em que experimentaram e sugerindo ao fim, alguns meios Goiás foi escrita por Ignacio Joaquim Taques,
que parecem mais próprios a remediar o atraso — por A . R. Fer-
| je i.r a . Histórias da capitania de Minas Gerais — por Cláudio M a­
Notícias de como no estado do Grão-Pará, em observância noel da Costa.
as resoluções reais, se continuou a praticar uma maior introdução N. B . — Deve-se também juntar às obras impressas apon­
de escravos aos mais moderados e favoráveis preços, pela Com­ tadas, o que muitos outros escreveram a respeito do Brasil cm
panhia Geral do Comércio — A . F . Ferreira. outras obras de diferentes títulos e assuntos como por exemplo:
Noticias da redução de paz e de amizade da feroz nação B a r r o s — João de Barros. Na primeira das suas Décadas.
do gentio Mura, nos anos de 1784, 85 e 86 —- Alexandre R. F er­ C a stro — Damião Antônio de Lemos Faria e Castro — História
reira.
Geral de Portugal e suas conquistas.
Notícias sobre a guerra ordenada contra as nações de índios
F a ria — Manoel Severiín de Faria — Vida do insigne historia­
que infestavam a capitania do Piauí quando subordinada ao go­
dor João de Barros.
verno geral do Grão-Pará; e sobre os sucessos da mesma guerra
-— A . F . Ferreira. Fonseca — Vida do Padre Mclchior dc Pontes.
Plano do qual saíram todos os anos do porto de Macapá G óes — Damião de Góes — Crônica de E! Rei D. Manoel e do
em média cem mil arrobas de arroz. Acompanhado de uma jnc- P n D C ip C O . ] 0 3 0 .
4
— 112 — — 113
4
M a tiz — Pedro de Mariz — Diálogos de várias histórias e no­ P a tc ic io — o padre Joan P atrício — H istoria d e lo s M am elu co s
tícias dos nossos reinos e conquistas. p aulistas.
Menezes — O Conde de Eiriceira D. Luiz de Menezes em o R o d r ig u e z — o jesu íta M a n o el R od rigu ez — M aragn on y A m a ­
Tomo 4.° da História de Portugal restaurado. zo n a s.
-ê O s ó r i o — Jerônimo Osório — De Rebus gestis emmanuelis. S ta d iu s — o ficial alem ã o q ue serviu n a s tropas de P ortu g a l. R e ­
S Seabra — José de Seabra da Silva — Dedução cronológica de lation de la m anière d ont le s p eu p les d u B résil tran stent les
p risionn iers.
■ *0 tudo quanto fiz em Portugal, a sociedade denominada de
Jesus, desde a sua entrada neste reino em 1540 até a sua T a m a jo — D. T h o m a z Tamajo — Restauradon de la ciudad del
■D& expulsão em 1759. Coleção dos breves pontifícios e leis ré­ S a lv a d o r y B ah ia de Todos os Santos en la Provincia del
gias que foram expedidas e publicadas desde o ano de 1741 B rasil.
3)0 sobre a liberdade das pessoas, bens e comércio dos índios do M e r c ú r io F r a n c e z — S u ite d e l’H isto ire d e L’A u g u ste R é g e n c e
Brasil. Deve-se ler todos os papéis impressos de diferentes d e l ’R ein e M aria d e M e d id s .
títulos, principalmente os memoriais e cartas instrutivas de
*0 8 de outubro de 1757 e de 10 de fevereiro de 1758 dirigidas Journal d u v o y a g e , fa it par O rd re d u R o y a L ’E q u ateu r —
à santidade de Clemente XIII por Sua Majestade Fidelís­ E d it , in 4 .ç. P aris, l Z n . . ~
sima para expulsar de seus reinos e domínios, pela força, N . B . — S em elh a n tem en te em m uitas ou tras ob ras im por­
os regulares denominados da Companhia de Jesus, etc. ta n tes d e d iferen tes a ssu n to s, escreveram esp an h óis, fra n ce ses e
S o u z a — Manoel de Faria e Souza — História do Reirio dc ita lia n o s a lg u n s artigos q ue tratam da h istória geral d o B rasil e
)
Portugal. q u e s e acham d isp ersos.
-■i S o u z a — Frei Luiz de Souza — História dc S. Domingos; par­ M . R . R ob ertson , principal d a U n iv ersid a d e d e E d im bu rgo
ticular do reino c conquistas. c H isto r ió g r a fo ~ 3 e S . M aj. d e B ritânica, n o p refá cio à história
•4
q u e escrev eu da A m érica, prom eteu juntar-lhe a d a s co lô n ia s por­
T e i x e i r a — O Eremita Augustiniano Frei Domingos Teixeira — tu g u e sa s e ou tros estab elecim en tos eu rop eu s n a s ilh a s d a A m érica.
Vida de Gomes Freire de Andrade.
D a H is tória F iIo só fica ~ \seg u n d o o s d iferen tes ram os em q ue
* 0 E strangeiros : s e d ivid e a filo so fia , a lgu n s au tores sã o n acion ais.
sá0Ê — Cláudio de Abbeville — Histoire de la Mission des
A b b e v ille N a M atemática :
Peres, Capucins em L'Isle de Maragnon et terres circonvoisins.
d&
S iB ^ m S a b e -s e d os im portan tes d escob rim en tos m atem áticos que
A C u n h a — Christovão da Cunha — Relação do Rio das Ama­ te v e p elo d ed ica d o g o sto , o In fa n te D . H en riq u e (L e ta len t d e
zonas. b ien f a i r e ) . M u ito lh e d everão o s p o rtu g u eses a n te s e d ep o is d e
B a r ... — Historiador de Anvesr, o qual escreveu na língua la­ su a m orte.
tina a história da Guerra do Brasil, entre os portugueses D esc o b r im en to d a ilh a d e P o rto S a n to em 1418, p o r João
e holandeses e de tudo quanto se passou no governo do G o n ça lv e s Z a r g o e T r istã o V a z T e ix e ira (d ig a -s e d e p a ssa g em
Conde J . Maurício de Nassau, Generalíssimo dos holande­ q ue p e lo s fra n ceses e ca stelh a n o s s e deu a con q u ista d a s C a­
ses no Brasil.
n á r ia s ).
C o e lh o — Duarte de Albuquerque Coelho — Memórias de Artes D a outra ilh a d a M a d eira em 1420, p e lo s m esm os d escob ri­
de La Guerra del Brazil. d ores aco m p a n h a d o s d e B artholom eu P er estrê llo (d ig a -s e tam bém ,
*90 q u e o C avalh eiro In g lê s R oberto M achina n ela ch egara prim eiro
L a e th — João de Laeth — Descriptio ultriusque Americae,
*30 q ue o s p o rtu g u eses, p ara desfru tar a com p anh ia d e su a A n n a
O v i ê d o — Gonzal Hernand de Oviêdo — Relatione de la naviga- A iíe t).
*80 tione par la grandíssima fiume Maragnon. D a n a v eg a çã o além d o cab o d o B o y a d o r em 1433, por
jè Pagan — Relation de la Grande Rivière des Amazones. G il A n n e s.

.-4
%
}
. Das ilhas de Cabo Verde em 1446 por Diniz Fernandes. para os reconhecimentos das ilhas das costas e do continente do
Sendo que era 1449 mandaram povoar as ilhas dos Açores tendo Brasil quantos foram e têm sido os tratados relativos aos estados
sido a primeira delas descoberta em 1432 por Gonçalo Velho que as coroas nela possuem. Assim encontramos:
Cabral. A escritura com pacto de — Retro vendendo — outorgada
Descobrimento da travessia da Equinocinal em 1471 pelos in­ em Saragoça a 22 de abril de 1529.
teressados no comércio exclusivo, concedido em Lisboa ao ne­ O tratado concluído em Tordesilhas, a 7 de junho de 1594.
gociante Fernando Gomes.
Os dois tratados de Lisboa de 13 de fevereiro de 1668 e de
Dos reinos de Benin e de Congo em 1484, quando se alcan­ 7 de maio de 1681.
çou acima de 500 milhas da outra parte da Equinocial. Os olhos
europeus viram, pela primeira vez, novo céu e novas estrelas. Os dois tratados de Utrecht de 13 de julho de 1713 e de 6
de fevereiro de 1715.
Do Cabo da Boa Esperança em 1486 por Bartholomeu Dias.
O de Madrid, assinado a 13 de janeiro de 1750.
Da navegação do oriente em 1498 por Vasco da Gama. O de Paris, assinado a 10 de fevereiro de 1763.
E por último do Brasil em 1500 por Pedro Alvares Cabral. O de S. Ildefonso a 1 de outubro de 1777.
Todas estns viagens foram feitas pelos portugueses e os ro­ E por último o do Pardo a 24 de março de 1778.
teiros para a navegação foram acompanhados de carta, as pri­
meiras que o s estrangeiros viram e usaram. Quem delas sc serviu El líeis da Espanha, pelo que se deixa ver nos artigos 5.° e
6 ° do Tratado de Paz concluído em Munster com a República dá
com bastante proveito foi Cristóvão Colombo que folheou o diário
e as cartas dadas pelo seu sogro Bartholomeu Perestrêllo, para Holanda, sacrificou todos os domínios católicos da Coroa de
navegação da ilha da Madeira, no seu projeto de descobrimento Portugal nas Índias Orientais e Ocidentais, na Paz de Vestphalia.
da Asiá. Sendo alguns franqueados aos holandeses para que em todos os
sentidos os reconhecessem (o que realmente foi feito).
Pedro Nunes, o nosso insigne matemático, sendo obrigado a
falar no início de seu tratado, em defesa da carta de marcar, diz: A mesma inclinação para a matemática que herdou a Se­
reníssima Casa de Bragança juntamente com o Reino, fez com que,
— Não há dúvida (diz ele em uma das suas passagens fre­ em tempos mais modernos, o Sr. Rei D. João V, mandasse vir
quentemente copiadas pelos estudiosos da História Portuguesa) da Itália os dois jesuítas napolitanos: João Batista Carboni e Do­
que as navegações deste reino, de 100 anos, a esta parte têm sido mingos Capaci chegados a Lisboa em 19 de setembro de 1722.
as maiores, mais maravilhosas, de mais altas e mais discretas con­ Ambos foram empregados para fazerem várias observações as­
jeturas, que as de outras gentes do mundo. tronômicas em grande parte do Reino. O segundo foi mandado
Os portugueses ousaram enfrentar o grande mar oceano, de vir ao Brasil em 1729 acompanhado de outro jesuíta português
maneira que fomos os primeiros autores a citar os europeus esta­ Diogo Soares, para ordenarem as cartas geográficas deste país
belecidos nos seus novos sistemas naturais. Um deles é o famoso e assentarem em seus verdadeiros sítios, os meridianos do Brasil
médico de Ferrara, João Manardo, que nas suas epístolas medicas e dos seus principais portos e cabos, respeitando os já estabelecidos
impressas em Leão de França em L549) pretende mostrar çofltra na Europa e ilhas de Cabo Verde. Uma vez dividido o trabalho
Aristóteles e Averroy_quc as terras abaixo do equinocinal eram entre os dois, o jesuíta Soares não descuidou de sua incumbência:
.habitadas: SIquícfêm lusitanorum m éxtremo occídentefiabTtantium levantar diferentes cartas do rio da Prata, do sítio da Nova Co­
hominum, per oceanum Atlanticum, ad Àustrum primo, deinde ad lônia e muitas outras daquele vasto domínio.
orientem navigatio, dare nos docuid, sub oquatorc, diversis in locis. Os portugueses empregados por ordem de Sua Majestade
inquibus, nec mare ncc aliares impedit, varias gentes habitare- para a execução do referido tratado preliminar de limites de 13 de
De todos os nossos descobrimentos, quantas foram as viagens janeiro de 1750, com o exercício de engenheiros em todas as 4
tantos foram os roteiros e as cartas portuguesas que se levantaram. repartições: Rio de Janeiro, S. Paulo, Mato Grosso e Pará, foram
As demarcações de limites, na América meridional, entre as os seguintes: c o m a p a t e n t e d e S a r g e n t o - M o r — José Custódio
duas coroas Portugal e Espanha, abriram outras tantas portas de Sá e Faria c Sebastião José da Silva: c o m a d e C a p i t ã o ■ —
116

Francisco Xavier Paes de Menezes e Bragança c Gregório Re- neral das armas de Pernambuco; a mesma cidade em 1643 pelo
bello Guerreiro Camacho; com a de A ju d a n t e — Guilherme Joa­ reforço de um navio, duas barcas e cinco lanchas também expe­
quim Paes de Menezes c Bragança; A v e n tu r e ir o — João da Silva didas de Pernambuco por ordem do comandante Andrezon; além
Paes de Menezes. destes, muitos outros porto3 que foram omitidos para não alongar
muito.
Em consequência de outro tratado de limites de l.° de ou­
tubro de 1777, foram c estão atualmente empregados nas mesmas Os mesmos reconhecimentos foram feitos em todas as vezes
repartições com o exercício de Astrônomos: Dr. José Simoens que foram invadidos pelos franceses. De Lery que acompanhou
de Carvalho, D r. Antônio Pires da Silva Pontes, Dr. Francisco o M r. de Villegagnon na sua expedição ao Brasil em 1556 e
José de Lacerda e Almeida, D r. José Joaquim Victorio da aqui residiu bastante tempo, escreveu a sua «História Navigacio-
Costa, Bacharel José de Saldanha Rebêllo, Bacharel Francisco nis in Brasiliam».
de Oliveira Barboza, Capitão de Bombeiros Joaquim Felis da A maior parte das costas do Brasil, antes e depois do ano
Fonseca Manso, Capitão-de-Auxiliares Francisco Sanches de de 1594, foi reconhecida por M r. de Villegagnon o qual na ex­
Horta; e n g e n h e ir o s : com a p a te n te d e T e n e n te - C o r o n e l — Fran­
cisco João Rócco e Thcdoro Constgntino de Chermont; com a pedição daquele ano aqui deixou M r. Des Vaux pare as^gxplerar.
A ilha de Maranhão em 1510 por Mr- Danid de la T ouche,
p a te n te d e S a r g e n t o - M o r — Eusébio de Ribeiros e Henrique João
Senhor de la Ravardière. A mesma ilha em 1612 pelo mesmo
Wiikeinsj. c o m a d e C a p itã o — Pedro Alexandrino de Souza
Pinto, Ricardo Franço de Almeida Serra, Joaquim José Ferreira, Dé" la Rãvardière acompanhado de Francisco de Racily, o Barão
João da Costa Ferreira e Alexandre Portella, etc. de Sancy e os Senhores de Pizieu e de Pratz. A Fortaleza do
Cabo Norte, da Invocação de Santo Antônio do Macapá em
) O s estrangeiros que fizeram observações astronômicas exatas 1637 pelos 40 franceses que a guarneceram por ordem do Marquês
force: cucos. Porém os que levantaram cartas das costas, en­ de Terrol, governador de Caiena.
seadas, cabós e portos do Brasil, são tantos quantos os náuticos Em tempos não muito distantes, chegou às costa do Rio dc
e oficiais hábeis da m arinha inglesa, francesa, espanhola e ho­ Janeiro a esquadra de 1710 comandada por M r. du Clerc que
) landesa que as navegaram , seja de passagem ou por invasão. De fundeou na Ilha Grande passando depois à cidade de S. Sebas­
todas elas se tem marcado os rumos, examinado as barras e son­ tião. Em 15 de setembro do referido ano foi ocupada a Ilha das
dado os canais, principalmente depois que o invadiram por várias Cobras e depois a referida cidade pelas 18 naus comandadas por
j j » vezes, as armadas holandesas e francesas. Sabe-se que entre as Dugai Trovin, fazendo os franceses observações e reconhecimen­
muitas costas e portos acometidos pelas armada dos Estados Gerais, tos! Por ultimo, em fevereiro de 1777, a Ilha de Santa Catarina
temos a citar: a Bahia de Todos os Santos em 1604 por uma ar­ foi tomada pela Armada Espanhola para ali expedida sob as or­
mada pelo General Paulo W asncarden; a mesma Bahia em 1624 dens do General D . Pedro de Ceballos Gusmão; os reconheci­
por outra armada comandada pelo General Jacob Willkens e pelo mentos devem ser unidos àqueles que, para sua particular instru­
Mestre-de-Campo João Dorth; pela terceira vez em 1638 por outra ção, adquiriu o inglês Roberto Makduval, por ocasião governador
armada comandada pelo Conde João Maurício de Nassau; a foz e chefe da esquadra portuguesa.
do rio Amazonas até a fortaleza de Santo Antônio do Curupá
em 1625, por mais ou menos 200 holandeses cujos Capitães eram: Os mesmos reconhecimentos nos portos do mar, pelos sertões
Nicolao H osdan e Philippe Porcél; a Baía da Traição em 1626 do Brasil fizeram os estrangeiros empregados com o exercício de
por uma arm ada de 34 naus comandadas pelo General W alduino engenheiros por ocasião da demarcação de 50. São os seguintes:
Henrique: a Fortaleza de Ceará em 1637 por 2 navios coman­ c o m p a te n te d e C o r o n e l — O genovês Miguel Angelo Blasco;
dados pelo Sargento-M or Gusman que havia saído do Recife de com a d e C a p itã o — o suiço João Bartholomeu Havelle e os
Pernambuco; as vizinhanças da referida fortaleza de S . Antônio alemães: João André Schwebel, Gaspar João Gerardo de Gransfeld
do Curupá no no Amazonas em 1639 por um patacho holandês e Carlos Ignacio Reverend; c o m a d e C a p itã c A T e n e n te — o ho­
que foi abordado e rendido pelo Comandante português João Pe­ landês Joseph Rollen Wandrech; c o m a d e T e n e n te — os ale­
reira de Caseres; a cidade de S . Luiz do Maranhão em 1641 por mães: Adão W entrel Hetcho, Manoel Gotz e Ignacio Satton; co m
uma arm ada de IS naus de que era General João Cornelles, que a p a te n te e so ld o d e A ju d a n t e — os italianos: Henrique Antônio
fora para ali expedida pelo Conde J. Maurício de Nassau, G e­ Gatuzzi e José Maria Cavagna; c o m o s o ld o s o m e n te d e a ju -
;■~-ti —■ ■ ï,- IÍ.TÍ;i.ii^ r ^ l - -------- » .

— 118 ~ — 119 —

d a n t e s — os alemães: Phcllippe Frederico Strums e Adão Leo- G e o g r a p h ic a c t G c o d a e tic a


- poldo de Brccening e o francês João Bento Piton; D e s e n h is ta -—
Longitudinum terrestrium doctrinam evrum que Initium me-
’ ’ j ■os italianos: Carlos Francisco Ponzoni e José Landi.
merandi constituens: terrae totius ve ram dimensionem ex obser-
A e s te s s e d ev em ajuntar, a lém d o s jesu ítas esta b e le c id o s n o vationibus propriis demonstrans acantiquorum && modernorum
B ra sil, m u itos h o m en s h ábeis q ue v estia m aquela roupa por d is­ geographorum errores de tegens.
fa rce o u p ro fissã o .
Tertia ex duabus antecedentibus exetructa.
Contudo alguns estrangeiros se dedicaram às observações
astronômicas como entre muitos, o matemático alemão H . Cratitz T a b u la M a u r i t t i A s tr o m i c a e
que acompanhou o médico holandês Guilherme Pisoà que, junta­
mente com os deputados da Companhia Geral do Comércio das Também andam inseridas nas suas obras as tábuas meteoro­
índias Ocidentais do Brasil, então ocupado por aquela república, lógicas, que apareceram.
se uniram para ali exercitar por partido, a profissão de médico. Do padre Capaci está escrito que, depois de discorrer por
Por zelo, entregaram ao D r. Gol, para serem publicadas, as grande parte do reino onde fez várias observações geográficas,
obras astronômicas do referido Cratitz, depois de seu falecimento fora mandado ao Brasil em 1729. Coube-lhe o setor das obser­
em viagem à África. O mesmo Pison foi acompanhado por outro vações astronômicas., As notas que fez a respeito, mandou à
matemático alemão Jorge Marcgrav que pelo espaço de seis anos corte; e estas entraram cm contato com as academias de França e
fez todo o gênero de observações astronômicas e meteorológicas da Inglaterra. CUanto â geografia, Capaci levantou uma carta
no Brasil. Todavia como também faleceu em viagem à África, as da capitania do Rio de Janeiro. Não chegou a terminar aquela
suas obras mesmo imperfeitas e indigestas como as acharam, foram que havia principiado desde a referida capitania até a de Minas
entregue: a João de Laeth por ordem do Conde de Nnssau, para Gerais por lhe sobrevir a morte em S. Paulo em fevereiro de 1740.
as ordenar e publicar. Assim se cumpriu. A ele é devido o cuidado Em 1749, De La Condamine desceu o rio Amazonas, e as
que teve era verter ao alfabeto vulgar tudo quanto Marcgrav, re­ observações que~íèT~ãnõi:ou jm~~séü~cliâriõ"de viagem.
ceoso de alguém, por sua morte, se apossar do seu trabalho, havia
escrito em outro alfabeto seu particular e secreto. Também lhe Muitas outrãs observações constam nos diários e escritos,
são devidas algumas ilustrações e notas que juntou. Sabe-se por publicados por Lery, Gentile, Frosier, Dampierre, Courserac, Ker-
sua testemunha quais foram as observações de Marcgrav, porque guelin, De La Rabbinais, De~La Flote, Solander Boungainville.
ele, Laeth dando conta dos seus estudos matemáticos, se serviu Banks, Perusse e outros que examinaram os referidos portos e
das mesmas palavras daquele filósofo para mencionar os títulos de costas. Alguns deles escreveram peças concernentes à História
suas obras -— autem Auctor Operi suo promittere. Natural,
Na demarcação de 50, foram empregados com exercício de
~ P r o g y m h a s tic a M a t h e m a t ic a A m e r ic a n a astrónomo, os estrangeiros: o veneziano Bartholonseu di Panigai;
o genovês Bartholomeu Pincete; o placentino Stefano Brami; os
Tribus, ectionibus comprehensa. Prima, sectio est. Astronô­ alemães Xaverio Haller e Ignacio Zamartonio: o polonês Dr. An­
mica ct optica. gelo Brunelli; o paduano D r. Michele Antônio Ciera.
Omnium siderum australium intra tropicum cancri polum an- , Em M e d i c in a
tarcticum existanctium instaurationem observationes varias, multas,
omnium planetarum, dcliquiorum, solis, luno indeque extrueta sin­ A Brasilia Médica de Guilherme Pison ‘ compreende 4 livros_
gular: nova, véras. que tratam de: L.° — LJe Aeré, Äquis et Locis; 2.^~- De^jMorbis
T heorias infeiorum planetarum, veneris Mercurii, pbservatio- Endemicis; 3.° — De Venenalis et Antidotis; 4.? — De faculta-
níbus propriis superstruetas: refractionum, parallaxium doctri- tibus Simpiicium.
nam. obiquitatem maximam ccliphco descripitam; nom aliqua de I Todos são de suma importância para os estudiosos em me-
maculis solis, varias raritaíes vranicas alias continens. I dicina brasileira, tanto pela exatidão das novidades como pela va-
A ltera s e c tio est. i riedade de suas observações.
— 120 — 121

Antes que omita, por razão de importância, temos o «Erário nuscrito sem o nome do autor, intitulado — Relação Geral de
Mineral» por seu autor Luiz Gomes Ferreira. toda a conquista do Maranhão ■ — o qual (diz ele) fora escrito por
Anda pelas mãos dos curiosos o «Governo de Mineiros» Frei Christovão_deJLjsbqa, tio do Secretário das Mercês. Gaspar
«História das Enfermidades de Minas Gerais» por José Antô­ de Faria Severim, e que na maior parte trata da História Natural.
nio Mendes. Em outra biblioteca, de D , Antonio Alvares da Cunha, ele
«Relação cirúrgica e Médica» na qual se declara especial- viu outro manuscrito intitulado — História Natural e Moral do
mente um novo método de curar a infecção escorbútica ou Mal de Maranhão e Pará por Frei Christovão de Lisboa, bispo eleito de
Loanda, e todos os seus derivados conseqüentes, fazendo para tal, Congo e Angola.
menção a dois remédios específicos e muito particulares — por O jesuíta Diogo Soares que acompanhou o padre Capaci, não
João Cardoso .de -Miranda. somente satisfez a obrigação que lhe tocou de trabalhar nas cartas
Contam que, durante o governo do Exmo. Marquês de La­ geográficas da capitania do Rio de Janeiro, mas também escreveu
vradio, José Henriques Ribeiro_^de_i>_aiya_ foi médico de sua uma história natural dos rios, montes, árvores, ervas, frutos e
câmara na cidade do Rio de Janeiro, o qual sob os auspícios de animais do Brasil.
S. Excia., fez algumas observações médicas, naturais que ainda Também dela trataram os outros dois jesuitas, José da Costa
não foram publicadas.
e Simão de Vasconcellos.
Na H is tó r ia N a tu r a l Havendo o Senhor Rei D. José, o l 9 de saudosíssima me­
mória. ordenado a reforma geral dos estudos na Universidade de
Já foi d ito em ou tra parte que a H istó r ia Natural é tratada Coimbra, mandou que entre eles se cultivasse o da História Na­
m ais p articularrnente no B rasil e n ão em to d a a América. tural. Cultivou-a, em nossos dias, seu augusto neto, o Senhor
O q ue P iso n d e ix o u escrito n o L ivro I V — D e F a cu lta tib u s D. José, Príncipe do Brasil, que sucedeu seu irmão o Sr. Dom
sim plicium — n ã o p a ssa m d e d esc riç õ es n atu rais c virtu d es m é­ João. Antes de S .S A .A ., a tinham cultivado e honrado seus
d ica s d e a lg u m a s serp en tes n o rein o an im al, d em o ra n d o -se prin­ augustas tios, os sereníssimos senhores D , Antônio e D . José.
cip a lm en te n a s p la n ta s d e reco n h ecid o p réstim o para o cu rativo Sempre a estudaram e protegeram, os Exmos. Martinho de Mello,
d a s en fer m id a d e s en d êm ica s. o Castro, Marquês de Angeja (falecido) e Luiz Pinto de Sou2a
Coutinho.
M a is d o q u e P iso n , s e este n d eu J o rg e M a r c g r a v n a su a
H isto r ia R erum N atu ra liu m B rasília. E la s e a ch a d iv id id a em 8 O primeiro que se doutorou nesta faculdade, na Universidade
liv ro s q u e tratam : o s 3 p rim eiros d e p la n ta s, o IV ,° d e p eix es, de Coimbra, foi o Exmo. Visconde de Barbacena, filho.
o V .° d e a v e s, o V I .9 d e q u a d rú p ed es e d e se rp en te s, o V I I .0 de D . Alexandre da Terceira Ordem de S. Francisco que passou
in seto s, o V I I I .9 d a r e g iã o d o B rasil e se u s ín co la s. N ã o se i a té
a Bjspojle PêHrn7estudou a História Natural como uma disciplina
o p resen te d e o u tra s o b ras im p ressas, seja m e la s p or n a cio n a is ou
preparatória para as matemáticas, na mesma Universidade de
estra n g eiro s.
Coimbra.
N a c io n a is — A m esm a a fe iç ã o q u e te v e o In fa n te D . H e n ­
rique à s m a tem á tica s e em g era l a to d a s a s ciên cia s natu rais, o Quanto ao Brasil, S. Exa. o Sr. Luiz Pinto de Souza Cou­
In fa n te D . A le x a n d r e , irm ão do E l R ei D . João IV .°, te v e à s tinho, o terceiro governador e Capitão-General das capitanias de
ciê n c ia s n atu rais. C o m o g ra n d e p erscru tad or tam bém en con tram os M ato Grosso e Cuiabá passou a ser mensageiro de Sua Majes­
o jesu íta A n tô n io V ie ir a e A le x a n d r e , o R e i da M a c e d ô n ia . tade Fidelíssima, na corte de Londres. De todas as suas escru­
pulosas averiguações concernentes à História ^faturai, tanto em
A le x a n d r e , o In fa n te d e P o rtu g a l, a estu d o u e h o n ro u . O viagem desde o Pará até aquela capitania, como dentro delas,
m esm o têm fe ito m u itos o u tro s n a cio n a is, d e to d a s as o rd en s e comunicou a M r. Robertson algumas notícias e manuscritos seus,
co n d içõ es. o qual ingenuamente se explica, à S. Exa. pelo teor que consta
O au tor d o s a n a is h istó ric o s do e sta d o d o M a r a n h ã o n o s no prefácio da sua história; e por esta razão me dispenso em tentar
a sse g u r a ter a c h a d o na b ib lioteca d o C o n d e d e V im ieiro , um ina- tocar esta matéria.
— 122 —
— 123 —

D a ordem do Exmo. M arquês de Lavradio quando V^ce-


Academia Real das Ciências de Lisboa, bem conhecido pelos seus
Rei do^ Brasil, se estabeleceu c cultivou no Rio de Janeiro, um '
pêqtfêncTKõrto_botânico sob a inspeção do médico da sua câmara, talentos c estudos jurídicos, matemáticos c filosóficos. Aprovei­
tando Sua Exa. a ocasião para ampliar a Zoologia, a Botânica,
ajudado pelos conhecimentos de seu pai e de seu irmão Manoel a Mineralogia, a Geografia, a Hidrografia, etc. — o que facil­
Joaquim Henrique - de Paiva, Jamais se viu tanto adiantamento mente consegue aquele que pode, quer e sabe.
dc botânica, químic"a'e’Tã?mãcia! Uns dos manuscritos que vi do
referido médico tratava extensamente da cochonilha. Tanto desta Dentro da mesma_çapitanicLje_nQ-distrito da cidade de M a-
como de muitas outras produções naturaii7~a~SúãT~Exa, enrique­ riana, existe o D r. Joaquim Roiz VellozoAo segundo D r. que teve
ceu o Real Gabinete de História Natural, fazendo ali aparecerem -a referida Faculdade"e a quem o Real Gabinete deve uma grande
pela primeira vez, os mais belos e decorados quadros de borbo­ parte de seu escolhido herbário brasileiro, Ele o enriqueceu com
letas brasileiras, além de muitas aves, pedras e cristais preciosos. bastantes esqueletos de plantas, fora as suas observações mine­
U m a boa parte da decoraçeão deste gabinete c devida ao bom ralógicas, instituídas particularmente em minas próprias.
gosto e delicadeza do sucessor de S . Exa. o Exm o. Luiz de Ao D r. Astrônomo Antônio Pires da Silva Pontes foi ofe­
Vasconcellos e Souza em cumprimento das ordens çxpedidias-pelo recido um teatro bem vasto para as milhares de observações filo­
ilm o, e E x m o M ar tin fi^ d e^M el lo_e_ C astro,_ fu n da d o re ^ conser- sóficas que enriquecem os seus diários, não somente das sucessi­
vãdõjTdo referido gabinete. O Exm o. Luiz de Vasconcellos fez vas viagens que fez pelos rios Amazonas, Negro, Branco e
recolher, acondicionar e remeter entre muitos outros produtos na- M adeira, mas também as viagens no interior da capitania de M ato
ituraís, a mais rara, mais variada e mais industriosa coleção de aves Grosso pelos rios Mamoré, Guaporê, Paraguai, Cuiabá, e tc .
preparadas que jamais se viu na Europa.
N a cidade da Bahia estão residindo os dois Bacharéis JoA:
N a Capitania do M aranhão pelo tempo que governou o da Silva Lisboa, Professor Régio de Filosofia Racional e Moral
Exm o. José Telles da Silva, não deixou Sua Excia. de mandar e Serafim Francisco de M acedo. Ambos profundamente instrui-
observar e recolher muitos produtos naturais, empregando nestas ■dos nas línguas orientais e nas ciências filosóficas ê~xbãtèmáticas.
e outras diligências, o talento e a aplicação que sempre teve João Ò s dois, já neste tempo, talvez tenham prevenido a expectativa
M achado, ex-aluno da Faculdade de Filosofia de Coimbra. Ele do público na participação dos frutos de seus trabalhos e apli­
fez por ordem de sua Excia. uma excursão filosófica à capitania cações.
do C earájje quando a Sua Excia. voltou para a corte, fez trans­ N a cidade do Pará encontra-se o Capitão Luiz Pereira da
portar, para que se pudesse vê-los, alguns gentios Gemelas que Cunha, remetido para o Real Gabinete e por minha comissãcTRiê
são na verdade dignos de serem vistos pelos europeus, tal a de» 'deixei um sem número de produções dos três reinos, merecendo
formidade trabalhosa de seus lábios. entre elas, uma distinta estimação as muitas plantas vivas que têm
D a capital de M ato Grosso, volta para a corte de Lisboa o feito transportar para o Real Jardim Botânico. A respeito do des­
quarto governador e C apitão-G eneral Luiz de Albuquerque dc velo com quê aquele útil patriota se interessa o quanto pode em
Mello Pereira e Çaccres. Este, não cessou de empregar pelo es­ repetir e variar as suas remessas, já por duas vezes se tem dig­
nado o Exmo. Ministro da Repartição de Ultram ar de lhe signi­
paço de quase 17 anos as mais eficazes diligências para completar
ficar da parte de sua Majestade, a aceitação e o apreço que
um Gabinete Mineralógico por ser esta a parte da História N a­ delas faz.
tural cujo aumento favorecia, mais particularmente a sua situação.
Deste gênero de produções é transportada para a Europa a mais Eu, há seis anos e meio que trato de observar e recolher
vasta, mais selecionada e mais rica coleção que se pode desejar. algumas p articipações_e_jBemórias e as tenhoi posto na presença
Sua E xa. juntou mais alguns animais preparados, desenhos de -de Sua M ajestade assim como os diferentes objetivos dc minha
todo o gênero de produções dos três reinos e prospcctos. comissão. As que me têm sido possível ordenar de modo que
se possa ler, são as seguintes: Dissertação sobre a Alvacora, de
A capitania dc Minas Gerais é governada pelo Exmo- Vis- _ l 18 de setembro de 1783; Viagem à Ilha Grande de Joannes, de
conde de Barbacena, Luiz Antônio Furtado, o primeiro D r. que 20 de dezembro; Descrição, do engenho_de_iÍ£S.casear-je_bianqiicar.
teve a Faculdade dc Filosofia depois da felicíssima restauração o a rroz^scgu_ndo_o, fez construir na Ilha de Cutijuba, o seu dono
das letras na Universidade dc Coimbra. É também Secretário da o Capitão Luiz Pereira da Cunha, de 27 de fevereiro de 178*5;
0
, ,í *asr

— 124 _
•■’4

Estado presente da agricultura do Pará, representado a Sua Exa.


-. „ A
-'’• W o Sr, Martinho de Souza Albuquerque, de 15 de março: Misce-
lânia Histórica, para servir de explicação ao prospecto da cidade
*# do Pará, dc 8 de novembro.
M e m ó r i a s — Sobre as tartarugas que foram preparadas c
remetidas nos caixões n.° 17 da primeira remessa do rio Negro,
de 3 de fevereiro de 1786.
Sobre os peixes-boi que foram preparados e remetidos da Vila
de Santarém, de 4 de fevereiro.
Sobre as cuias que fazem as índias da Vila de Monte Alegre,
<*# para serem anexadas às amostras que se remeteram no caixão
número primeiro da primeira remessa de 5 de fevereiro.
Sobre as salvas e outros utensílios curiosos que fazem de pa­
lhinha, as Índias das Vilas de Santarém e Alter do Chão; de 5 de
fevereiro.
Sobre a louça que fazem as indias do rio Negro; para ser ane­
xada às amostras que foram remetidas nos caixões números I, 5
e 8 da primeira remessa; de 5 de fevereiro.
Sobre o isqueiro ou caixa de guardar a isca para o fogo e
sobre os lisos das canas e dos caniços com relação às artes; de 9
de fevereiro.
Sobre os instrumentos que os gentios usam para tomarem o
tabaco de Paricá: de 13 de fevereiro.
*1
$ Sobre os gentios Curutus que habitam no Rio Apaporiz: acom­
panhada de uma tábua que representa a planta e o alçado em pers­
pectiva dc cada uma das suas malocas; de 20 de fevereiro de 1787-
Sobre os gentios Mauás que habitam no rio e seus confluentes;
de 20 de fevereiro.
Sobre os gentios Jurupexunas que habitam no rio Puras e em
alguns outros da margem austral do rio Japurá; de 20 de fevereiro.
Sobre a Marinha Interior do Estado do Grão-Pará, particular­
mente em relação ao limo. Exmo. Sr. Martinho de Mello e Castro
na qualidade de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da
Marinha: de 26 de março.
P ig. 3 — Ccphaloplcnis ornatus (G co[froy Saint-HUaire, 1809)
Sobre o peixe Pirarucu; dc 30 de abril. Pauão-do-mato — Lii>ro M useu Nacional — A ues, Estampa 7 .
i Sobre os gentios Caripunas que habitam a margem ocidental
do rio Jatapu que desagua na margem oriental do rio Llatuman;
de 28 de agosto.
i-*
n
;V

— 125 —

Sobre os gentios Uariquenas que habitam nos rios Içana e


Ixié, confluentes da margem ocidental da parte superior do rio
Negro; de 29 de agosto.
Sobre os gentios que voluntariamente desceram para as povoa­
ções dos rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira; de 30 de
agosto.
Sobre as máscaras e farsas que fazem para os seus bailes, os
gentios Jurupexunas; de 31 de agosto.
Sobre os gentios Cambebas que antigamente habitaram as mar­
gens c ilhas da parte superior do rio Solimões; de 17 de setembro.
N .B . — das muitas outras memórias e dissertações parti­
I
i culares sobre alguns animais e plantas como o cacau, café e o ta­
baco, estão prontas as suas minutas, porém, até agora não se tem
podido reduzir à sua devida forma.
P a r tic ip a ç õ e s — Nas quais compreende a história geral e
particular do estado preçente de cada uma das povoações do rio
Negro, acompanhadas dos seus respectivos mapas da população,
da colheita e das cabeças de gado de cada uma delas.
I
) D i t a s d a p a r t e su p e rio r. — Participação do lugar de Moreira;
de 17 de janeiro de 1786. Da Vila de Thomar; de 30 de janeiro.
Do lugar de Lamalonga; de 5 de fevereiro. Da povoação de Santa
Izabel; de fevereiro. Ditas das ditas anexas à Fortaleza de
S . Gabriel; de 30 de março. Ditas das ditas anexas à Fortaleza de
S. José de Marabitenas’ de M de junho. Ditas das viagens aos
rios Cauaburys, Padauiry e Maracá; de 18 de junho.
D i t a s d a p a r te in f e r io r — Participação da Vila Capital de
Barcelos; de 31 de outubro. Do lugar de Poíares; d e 16 de no­
vembro. Do lugar de Carvoeiro; de 12 de dezembro. Da Vila
de Moura; de 11 de maio de 1787. Do lugar de Airão; de 7 de
junho. Da Fortaleza da Barra; de 30 de junho. De todo o rio em
geral; de 28 de (?).
Observações gerais e particulares sobre a classe dos mamíferos
•observados nos territóriGS dos três rios Amazonas, Negro e Madei­
ra, com descrições circunstanciadas de quase todos os naturalistas
modernos e antigos e principalmente a dos Tapuias; de 28 de fe­
vereiro de 1790.
Estão prontas mas ainda não foram copiadas as minutas se­
guintes;
Viagem ao rio Branco.
— 127 —

Relação circunstanciada dos três rios Madeira, Mamoré e Gua- Grande de Joannes, permitindo-lhe, quando voltou, a honra de
poré até a capital de Mato Grosso. acompanhar a Sua Exa. na viagem que fez ao rio Tocantins.
Observações filosóficas e políticas sobre as minas de Mato Protegeu todas as suas dependências públicas e particulares.
Grosso e Cuiabá, enfermidades endêmicas da capitania de Mato Previu as suas necessidades para a viagem ao rio Negro, mu­
Grosso etc. Umas c outras têm sido feitas mediante os auxílios nindo-o de uma portaria franca para tudo quanto precisasse. O r­
que pata este fim me têm dado os meus patrocinadores. denou que fosse construída uma canoa cômoda e decente para o
seu transporte. Recolheu no seu palácio e fez acondicionar e
ln p c r e n n e m •geati a n im i s ig n ific a íio n c m
remeter os volumes dos produtos naturais. Promoveu a Alferes dos
índios, das suas povoações, dois índios: Cipriano de Souza e José
da Silva por terem servido de preparadores dos referidos produtos,
P R IM E IR O
com a mesma habilidade e sujeição que o naturalista havia demons­
trado. Tudo informou a Sua Majestade e todos os seus pedidos
O limo. e Exmo. Sr. Martinho de Mello e Castro do Con­ foram atendidos por Exa.
selho de Sua Ma/estade Fidelíssima, seu Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, etc. Quare — Infreta dum fluvii current dum montibus umbrae
lustrabum convexa, polus dum sydera pascet, semper honos, nomen
Adiantou as obras do Real Jardim Botânico da Ajuda e o en­ que suumt laudes que manebunt.
riqueceu de um sem número de plantas indígenas e exóticas; pro­
moveu as experiências químicas que por ordem de Sua Exa. con­
tinuaram a ser feitas no Real Laboratório. Estabeleceu o Real Ga­ T E R C E IR O
binete de História Natural. Chamou o Naturalista da Universi­
dade de Coimbra e o apresentou à Sua Majestade para o encar­ O limo. e Exmo. Senhor João Pereira Caldas, do Conselho
regar da História filosófica e politica dos estabelecimentos portu­ de Sua Majestade Fidelíssima, seu Governador e Capitão General
gueses no Estado do Grão-Pará. Provei''" de mão cheia, de todos nomeado, para as capitanias de Mato Grosso, Cuiabá e nos respec­
os livros e instrumentos preciosos e nomeou dois desenhistas e um tivos distritos de seus governos e do Estado do Grão-Pará. En­
jardineiro botânico para o acompanharem, exercitando cada um o carregado de execução do tratado preliminar de limites e demar­
emprego de sua profissão. E para todos alcançou de Sua Majes­ cação dos domínios reais, etc.
tade uma grande ajuda de custo. Consignou o ordenado de qua­ Preveniu, antes da chegada do naturalista à Vila Capital de
trocentos mil réis por ano ao naturalista, e de trezentos aos demais Barcellos, uma decente acomodação, para ele e os demais emprega­
empregados, além do sustento cotidiano e das despesas de trans­ dos. A todos recebeu, agasalhou e beneficiou, contemplando-os
portes. Contemplou o irmão do naturalista em um dos canonicatos na Mesa ordenada por Sua Majestade para os empregados na Di­
da sede arquiepiscopal da cidade da Bahia. Honrou-o e protegeu-o ligência da Demarcação. Instruiu e enriqueceu o naturalista de um
por obras c palavras. sem número de conhecimentos, fazendo-lhe a honra de lhe confiar
Q u a r e — . . . Erit ille mihi sempre Deus: . . . tener nostris ab
repetidas cópias das ordens compreendidas nos bandos, editais,
ovilibus imbuet agnus. portarias, avisos, cartas circulares e particulares, expedidos por Sua
Exa. e pelos seus predecessores, sobre as diferentes repartições
e dependências da população, agricultura, comércio, navegação e
SEGUNDO
das manufaturas do estado. Solicitou de sua parte, adquiriu e ofe­
O limo. e Exmo. Sr. Martinho de Souza e Albuquerque do receu muitos produtos e curiosidades naturais, e com as quais mul­
Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, seu governador e Capitão tiplicou e engrandeceu as remessas que fez aprontar e expedir.
General das capitanias do Pará e Rio Negro, etc. Recomendou-o aos comandantes e diretores de ambas povoações
todas as vezes que o expediu para as suas diligências: a primeira
Honrou-o com sua companhia na viagem de Lisboa para o para a parte superior do rio Negro c a segunda para o rio Branco.
Pará. Ali II;c ofereceu a honra de residir, se quisesse, no'Palácio Deu informações a respeito dele à Sua Majestade e o distinguiu
de sua residência. Sem a menor demora o expediu para ,a ilha com todas as demonstrações de proteção e amizade.
ji&dBEàâ

MAMAIS

1 — Q U AD RÚ PEDES I l t — P IN A D O S
Q uarc — Ante pererrntis amborum inibus, e.xul. Aut ararim U — ALADOS

parthus bibet, aut g e rm a n ia ... Quom nostro llius Jabatur pec-


tore vultus.
TERRESTRES VOADORES NADADORES
Passo a inventariar os mamíferos que pertencem a esta pri­
U n g ü jc u l a d o s '
meira repartição do viveiro da natureza. Seguindo ajfistribuição de
Lmeu quanto às classes, porém, com o dçxido_respeito.a Jãp^grãnde — com os u nho» p la n a s e
ovnis.
.mestre,;nfcnrtodas~as classes cu sigo as ordefts-. Tais são as que — S. N . P r im a te s - - com os pés o lad o a , ou com
o tro n c o , e o s m em b ro s
estabeleceu para u refendã- classê^ dos mamíferos, tirando os seus 2 S ím io c o n to r n a d o s de um a
caracteres principalmente dos dentes. Deles e dos pés,_já havia 3

Lcm ur
C om os u n h a s Agudas
m e m b ra n a a m b ie n te
— S . N . P r im a te s
tirado Brisson. Dos pés serem vinculados ou ungulados, tiraram — S. N . B ru tn S<> v o la n s — L e m u r — sem f ís tu la n a c a b e ç a
4 B ra d y p u s 37 V u p e rtU io — S . N . B e llu o e
Rayo, Klen, Halden e Brunnick. Vejo que no sistema de Lineu 5 M y rm c c o p h a g a 38 N o c L L o 40 A in n a ia ,
<i M a n is — S . N . F c ra e
ficaram reduzidos a pequenas ordens, o manatus e o delphinus; o 7 D asypus 41 P kcca
vespertilio e o noctilio; o rinoceronte e o elefante; e para se fami­ —
8
S. N .
C am s
liarizar e reduzir a uma mesma ordem, por exemplo: o cão (que é 9 F c lis
10 V ivcrrn
quadrúpede e terrestre) e a foca (que é pinada e p e l á g i c a ) ; a m b o s li M u ste ln
c p õ e m - s e à s leis c!as afinidades. Veja p o r t a n t o a s i n o p s e d o m é ­ 12 Urr.u»
13 D id c lp h ls
t o d o q u e sigo, d i v i d i n d o c m três f a m í l i a s g e r a i s , da m a n e i r a 14 'í . d p a
15 Sorcx
se g u in te : 16 E rin ó c c u s
— S . N . G lírc s — enro f ís tu la n a c a b eç a
17 I ly x t r t x — i>. *V C c te
18 Ix tp u a 42 M o n o d o n
19 M us 43 B& loena
20 S c iu ru s 44 P h y s e te r

UííOULADOS

— D e u n h a in te ira 45 D c lp h in o »
— S. N . B e llu o e
21 E q u u s
—■ D e u n h a ra c h a d a
— N ã o r u m in a n te s
— S. N . B r u t a — co m o s h íp o c ô n d rio s
22 E le p h a s fixos
—• S . N . B e llu o e —■ M ih i G e n u s
23 R h in o c c ro s CU,
24 S us — Spcoes
— R u m in a n te s n) m u r i n u , 8.
— S . N . P é c o ra / f / u / i'öL in,. L in .
25 C o rn e liu s b) T o lan s a. S e i-
26 M oschus u r u , vo b in , L in .
27 C c rv u s c) ja g ttia 9. Sau-
28 C o p ra r u , ja g itia L in .
2 9 O vis
a n f I b io s

U n C O lC U L A D O S >

30 Bos
— S. N . G lírc s
31 C a s to r
32 K av. L u t r a
—• S . N . Bt-lluue

U n b u ; \dos

33 G o tc r 'llv c lro c h u c ris


51 H ip p o p o tn m u s
55 G c sn . R o sm u ru s

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