Becker
Outsiders
Estudos de sociologia do desvio
Tradução:
Maria luiza X. de A. Borges
Revisão técnica:
Karina Kuschnir
lFCS/UFRJ
Título original:
Outsidet>
(Studies in the Sor:iolagy of Oevinnce)
CIP-Brasil. Catalogação-na-font~
S~ndic~toNacional dos Editores de livros, RJ.
Becker, Howard !;aul, 1928-
B356o Outsiders: estudos de sociologia do desvio / Howard S. Beckt>r;
tradução Maria luiza X. de Borges; revi~ão téwica Karina Kuschnir.- l.ed.
- Rio de Janeiro: J~rge Zahar Ed .. 2008.
(Antropologia social)
Tradução de: Outsiders: studies in tht sociology of deviance
Inclui bibliografia e indice
ISBN 978-85-378-0108-6
1. Oesajustamento social. I. Titule.
CDD: 302.542
08-4049 CO'J: 316.624
P.s vezes não tenho tanta certeza de quem tem
. o direito de dizer quando uma pessoa está louca
e quando não. Às vezes penso que nenhum de nós é
totalmente louco e que n~nhum de nós é totalmente
são até que nosso equilíbrio diga ele é desse jeito.
É como se não importasse o que o sujeito faz, mas a
forma como a maioria das pessoas o vê quando ele faz.
W!LLIAM fAULKNER, Enquanto eu agonizo
(São Paulo, Mandarim, 2001, tradução de Wladir Dupont).
36/h Sumário
7h no total
Prefádo, 9
1
Outsiders, 1s
Definições de desvio, 17
Desvio e as reações dos outros, 21
Regras de quem?, 27
2
Tipos de desvio: um modelo seqüencial, 31
Modelos simultâneo e seqüencial de desvio, 33
Carreiras desviantes, 36
3
Tornando-se um usuário de maconha, 51
Aprender a técnica, 55
Aprender a perceber os efeitos, 57
Aprender a gostar dos efeitos, 61
4
Uso de maconha e controle sodal, 69
Fornecimento, 71
Sigilo, 76
Moralidade, 82
5
A cultura de um grupo desviante:
o músico de casa noturna, 89
A pesquisa, 93
Músico e "quadrado", 94
Reações ao conflito, 100
Isolamento e auto-segregação, .[)5
6
Carreiras num grupo ocupac-ional desviante:
o músico de casa noturna, 111
"Panelinhas" e sucesso, 112
Pais e esposas, 123
7
As regras e sua imposição, 1?9
Estágios de imposição. 136
Um caso ilustrativo: a lei da -;"ributação da Maconha, 141
8
Empreendedores morais, 153
Criadores de regras, 15J
O destino das cruzadas morais, 157
Impositores de regr:Js, 160
Desvio e empreendimento: um resumo, 167
9
O estudo do d<i!svio: problemas e simpatias, 169
10
A teoria da rotulação reconsiderada, 179
O desvio como ação coletiva, 183
A desmistificação c;o desvio, 189
Problemas morais, 194
Conclusão, 206
Notas, 209
Referêndas bibliográfir.as, 219
Agradedmentos, 228
Índice remissivo, ?29
Prefádo*
,. A edição anterior deste capítulo t>m português oplou pQr traduzir outsiders por
"marginais t: Jcsviantes~ assinalandu ~1ue "margimtis" signilkavu, nesse contexto,
alguém que está do lado de fora, para além das margem; de determinada fronteira
ou limite social. Ni! prescnh: edição, OJ'tou-se por mant~r o tt:rmo outsider porque
seu uso já se tornou consagrado na:. dências sociais. ( N.lt'l:)
16 Outsiders
Definições de desvio
R~gras de quem?
4~-~
Não percebido como desviante li&&
.,pa~
• Convém lembrar que essa classillcação ~kve sempre ser u~ .• ,b rl.1 perspectiva de
um dado conjunto de regra~; cl.1 não lt:vil em coma as compk~id;lJ~s.J•i di.;çutidas,
que aparecem quando há mais de um conjunto de regr•h disponivd para ser
usado pelas :11esmas pessoas ao definir o mesmo ato. Além disso, a classificação
st! refere a duis tipor de comportamento,~ não a tipos de pcS!>oa, .1 :ltos e não a
personalidades. O comportameuto de uma mesma pcsst><l pode obvi:unente ser
<lpropriado em algumas atividades e desvi.mte em outra~.
31
32 Outsiders
• 1\cusaçlhJ ou punição in.iustas feit;ts ~L'Ill b;Jsc ,·m e\'id~nci.t~ -algo equiv.tkntc
il polida prendi."" .tlgu.:m usU~JlCito" par.t w,·rigu.t.,: ..io. (!\:.R. LI
Tipos de desvio: um modelo seqüencial 33
Carreiras desviantes
zação: "Justificações para o desvio que são vistas como válidas pelo
delinqüente, mas não pelo sistema legal ou pela sociedade em gerai:'
Eles distinguem várias técnicas pan1 neutralizar <l força dos valores
.le aceitação da ordem.
51
52 Outsiders
uma função da concepção que o indivíduo tem dela e dos usos a que
ela se presta, e essa concepção se dt:>senvolve à medida que aumenta
a experiência do indivíduo com a droga.~
A pesquisa relatada neste capítulo e no seguiPte ciiz respeito à
carreira do usuário de maconha. Neste, examinaiPOS o desenvolvi-
mento,:!.:; cxper!êJ1cia física imediata do individuo com a maconha.
No próximo, consideramos o modo como ele reage ao:; vários con-
troles sociais que se desenvolveram em torno du emprego d.1 droga.
O que tentamos compreender aqui é a seqüência de mudanças na
atitude e na experiência que leva ao rt.so de maconlw por prazer. Essa
maneira de formular o problP.ma requer uma pequena explicação./,
maconha não produz adição, pelo menos não no mesmo sentido c:m
que o álcool e as drogas opiáceas. O usuário não experimenta nenhu-
ma síndrome de abstinênda e não exibe quak1uer ânsia ine'Ctirpávd
pela droga. 3 O padrão ma ic; freqüente de uso poderia ser denominado
··r~creativo': Lança-se mão da droga ocasionalment.: pelo prazer qtk'
o usuário encontra nel<>, um tipo de comportamento relativamentl:
casual em comparação com aquele associado ao uso de drogas qu.:
gl'ram dependênda. O rdatório do Comitê sobn~ ~:hKl1llha da Prc·
feitura da Cidade de Nova York l'lll~lliza CS!>C aspecto:
droga por prazer, num estúgio posterior será c.tpaz t: e~tará de~ejosa
de fazê-lo, e, mais tarde ainda, se tornará <.ic novo incapaz de usá-la
dessa maneira. 1àis mudan\·as, difíceis de expliLar a partir de uma
teoria bac;t•ada nas necessidades de "fuga" do usuário, são taci)r,1ente
compreensíveis como conseqüências de mudanças em st ta concep-
ção da droga. De maneira semelhante, se pensarmos no usuá~io de
maconha como alguém que aprendeu .1 \·l--la como algo que pode
lhe dar prazer, náu tcrcmo~ diliLLtld;llk· alguma em lOillJHecndcr
a o:xisténcia de usuários psicol0gicamentc "normais':
Ao fazer o estudo, lancei mão do ml-todo d;t i11duçau analítica.
Tentei chegar a uma formulação geral da scqüencia de nh1danças
na atitude c experiéncia indiviJu;ll quL" ~cmprc owrri.un qu;mdo o
indivíduo tornava-se desej0so e capaz de usa,· maconha por prazer,
c nunca ocorria ou não en• pcrmanentL'IllL'Iltc mantida quando a
pessoa não estava disposta <l usar maconha por prazer. O método
requer que todos os casos colhidos na pesquisa comprovem a hipó·
tese. Se for encontrado um caso que não a comprove, o pesquis;tdor
é obrigado a alterar a hipócese pa 1a que corresponda ao ~:as o que
provou que sua idéia original t:stava crrad ..,.. (•
Para dest.O'.'O)ver e testar minh.1 hipóte1>e sobre a gênese do
uso de maconha por prazer, realizei 50 entrevistas com usuários
da droga. EL1 havia sido mt1sico profiso;ional de casa noturna
durante alguns Jnos quand0 fiz o l'Studo, e minhas primeiras
entrevistas foram c.Jm pesso:ts que havia conhecido no meio
musical. Pedi-lhes que me vusessem em contato com outros
usllários que estivessem dispostos a discutir sua!> experiêt.ciar
comigo. Colegas que trabalhavam num estudo de usuários de
drogas opiáceas colocaram à minha disposição algumas entre-
vistas que continham, além de material sobre drogas opiáceas,
material suficiente mbrc o uso de maconha que fornecesse um
testt! de minha hipótese. 7 Embora, por fim, metade da~ 50 entre-
vistas tivessem sido feitas com músicos, a outra metade cobria
uma ampla variedade de pessoas, incluindo operários, mecânicos
c profissionais liberais. A amostra, evidentemente, não é de ma-
neira alguma "aleatória"; não seria possível obter uma amostra
Torn!Jndo-se um usuário de maconha 55
Aprender a técnica
Inalar muito ar, sabe, e, ... não sei como desaever isso, você não
fuma maconha como \lm cigarro, você aspira muito :~r e faz descer
bem fundo, em seu sistema, e depois segura ell! ali. Tem de segurar
o ar ali o máximo de tempo po:;sível.
Njo 11quei no barato na p•·im~.:u·.t \'l'/, ..• Adw l}lll' n.in ~q~un.:i ,, co:s.1
tempo suficiente. Provavelmente wlt.::i, ~al>t!, a ~ente tic.t.:om um pou-
co de medo. l\'a segunda vez eunJo tive certeza, e ele [um companhdro
de fumo !me dissl!, quando lhe perguntei sobre alguns dos sintomas,
e coisa e tal, como eu podia ficar sabendo, você sabe .... Então ele me
disse para sentar num tamborete. Eu sentei - acho que sentei nuw
tamborete de bar-,c de disse: "Deixe os pés pendurados",e depois,
quando desci, meus pés estavam muito frios, sabe.
E com~c~i a sentir'' wisa, sac.t. Al]Ucl•' foi tl primeira vc1. Depoi!>,
cerca de uma semana rrais tarde, mais ou menos por aí, eu realmente
consegui. Es:ii.l foi a primcim vez que tive um grande &llaque de riso,
sabe como é. E11tão soube que realmente estava no barato.
Tornando-se um usuário de maconha 59
lVocê ticou no barato a primeim Vt:l que fumou? J Fiquei, com certeza.
Se bem que, pen:.ando mclhur, admljt;e n;w.lsto C!, daltt:da primcin1
vez foi mais ou menos como um porre leve. Piquei feli;:, acho, você
Si.lbc o qut: eu quero diz<!r. Mas cu re;llmc:ntc: não sab1.1 que c~tava num
barato, entende. Foi só dep0is da segunda vez que entre. num barato
que me dei conta de qul' fJquei no barato na primeira , .:1.. Então cu
soube que alguma cni~a difercnt~· cstav;l <Kontl' ... cndo.
!Como soube?] Como soulx·? s,· •, l]lll' ,,l·onkú~u wm:!to aqud.·.
noite <ICOntec<!ssc com Wllc.', vocc i.1 _,,tbcr, <Krl'ditc. To,·amns a pri-
mcir,Jmúsica por ljU,I~c dll<l~ hor.h --uma rmhka! lmJginc, ~.tr;t!
Subimos no cstrildo c tocamos l'sso~ t:Uli~a música, l"<lll1l\illllos ;\,,
':Ih. Qu,mdo .ICilh,llnm, olhei meu relogiP, cr,1111 !Oh.J 'i. ()uast• dua~
horas numa músic:1 só. E ~~~o p.trc.:c·u nad.1 dl· m.ti~.
Qm m dizer, ,·or.:· ~.tbl.', d;t f.11 i~'uu1111 a gente. F como se vncl-
tivc~:;(' muito mais tt•mpu, lllll·l ..·ois;\ .tv;im. De qualquer maneira.
quando ·:u vi isso, cara, f(• i dt·m•us. l·.u S<lbi.l qul' d(·\ ia n:alml'lltl'
e!.tar no barato se uma .:oisa dt·s~a' podi.1 <II.:Ont~.:cr. r ntilo eles m..:
explicaram que er;t bso -JliC el.t f.11i.1 .:om .1 gente, vncl' tinha uma
perçepçilu diferente: Jo tultpo o.: ,h: tudo. Entau mr dl"i conta dt• qu~·
era assim que a coisa fum.ionava. Lnt,lo ('U saquei. !\;1 primeira wz.
provavelmcntl.' cu me scnt; daqu~h:: l<'ito, mas niiu s.1bi.t o que t':>t,l\'.1
a<.:on tecendo.
Achei que estava louco, ~abl.'. Tudo que a~ po.:ssoas 1111.' fat.iam só me
al\'oroçava. ~ão cons<.'guia manh:.'r uma ..:onver5a, minha cabe~, a di-
vagava, e eu ficava pensando sem parar, ah, não sei, coisas estrann.Is,
como ouvir müsica diferente .... Fico com a sensação de que n;io
posso f;llar com ningu~m. Vou vir.tr um completo mané.
fumava?! Ah, ficava, eu tinha ~cnsações muito daras. Mas não gos-
tava delas. Quer dizer, eu tinh<l uma porção de reações, mas eram
sobretudo reaçi:.es de medo. [V(lCê ficava anwdron 1.1do?] ficava, Eu
não gostava daquilo. Não tinh<l a impressão de rel<~xar com aquilo,
voct! sabe. Se você nüu consegue t·d<~xar Wlll uma wisa, você nãu
consegue gostar de!<~, acho qlll: não.
Bom, 3s vezes eles entram num grande h.trato. A pessoa comum não
est;í preparada para is\{>, 1.' ~~um pou~.o amedrontador par.• ele:., il~
VC'lCS. Isto é, eles já ticar 1m Jc porr~.-. l'Illr.un num b.tr.ttom.tis liJrtc
que •1ualqucr ~.ui!>a qu~.· lllll~utnir.nn .utk·~ ,. 11o1o ,_,b,·nr '' •llll' ~.·~to~
acontecendo com ele~. P;>rquc p~.·n,.tm qu~.· 11 b,u;~to \';ti .:ontinu.11·
aumcntanJo, aumentando, tté que ck~ p~.·rc.un <ll.tbc.,:a ou..:omcu•m••
.1gir de maneira csquisit.t, c,s,Is ..:oi~.h. \'o.:0 tl'lll nwi~.) que tranqLiili1.ar
des, cxpJi,:ar que mio c:-.L.h >rt\tln ,,•nlc ti..:.mdu malm:o' n~.·rn nada, qu.:-
vão hc.tr bem. Você t~m de .:únn·n.:.:·r a n ·w ter medo. h car falando
wm eles, tranqüilizando, dizcmk qu~.· l'o;t.í tudo bem. E contar sti.l
própria história, vocé sd>c: "A tHcsm•• coisa aconte;:ceu ..:omigo. Voei':
vai passar a gostar disso depois deu m tempo." Continuar filiando dcsst'
jeito; logo a ~ente consegl:e fazer ele~ Ul•ixarcm de ficar apavorados.
Além disso, eles vêem a gente fazendo isso, e nada dt• horrível está
acontecendo com a gt.!nte, t· isso lhe~ d;1mai~ contimç.1.
Uma nm•;l usuária tl'W sua priml'ir;l experiência dos efdtos d:~
maconha e ficou amedrontada c hist.erica. Ela "teve a impressão de
l]Ul' l':;t<tva mci.1 dentro e ml'io for.1 d,,
!>.lia" c t!xpcrim'.!'ntou vlirios
sintomas físicos alarmante:.. Um dos usuários mais e>.pt!rientes que
Torrando-se um usuário de maconha 65
estava lá comentou: "Ela está chiltt:ada por estar num barato desses.
Eu daria tudo para entrar num haratu igual. Fa:t ;mos qut· não tenho
um desses."
se torne c continue a ser um obj .:to que cl.1 nmsidere capaz d<.·
produzir prazer.
Em resumo, um indivíduo só s!.!r;Í C:.lpai' de fumar maconh<l
por prazer quando atravessa um processo de aprendizagem para
concebê-la corno um objeto que pode ser usado dt·ssa maneira.
Ninguém se torna usuário sem ll) aprender a fumar a droga de
urna maneira que produza efeitos 1eais; (2) aprender a reconhe-
cer os efeitos " associá-los ao uso da droga i aprender, em outras
palavras, a ter um barato); c (3) aprender a gos1<1r d;ls sensações
que percebe. No curso de~se processo, o sujeito desenvolve uma
disposição ou motiva,;.1o pam \Jsar rnaconh;l que náo estava e não
poderia estar prCfsente quando ~:omeçou, pois envolve concepçôes
da droga que só seri('l possível formar a partir do tipo de cxperiênci;l
real antes detalhado, e depende delas. Ao concluir esse processo,
ele está desejoso e é capaz de usar maconha por prazer.
Ele aprendeu, em suma, a responder "Sim" à pergunta: "É
agradável?" A direção que seu uso da droga assume a p<utir disso
depende de sua capaciJade de responder "Sim" a essa pergunta, e,
ademais, de sua capacidade de rt·sponder ..Sim" a outras perguntas
que surgem à medida que toma wnsciência das implicações do fato
de que a sociedade reprova a prática: "É conveniente?'' "É moral?"
Depois que a pessoa adquiriu a capacidade de ubtcr prazer pelo uso
da droga, esse uso continuará possível para ehl. Considerações de
moralidade e conveniência, ocasionadas por reações da sociedade,
podem interferir no uso e inibi-lo, mas este continua a ser uma
possibilidade em termos da concepção que a sociedade tem da
droga. O ato s6 se torna impossível quando se perde a capacidade
c!e desfrutar a experiência de estar no barato, por uma mudança na
'oncepção do usuário sobre a droga, ocasionada por certos tipos
de experiência que viveu com da. '
4
Uso de maconha e controle social
69
70 Outsiders
Fornecimento
Mas o problema era que a gente n.ln ~.tbia onde des..:olar al~,;um.
Nenhum de nos sabiõl ond•· .:on~l·~uir ou como dc~cobrir omk
conseguir. Bom, havi;~ aquelu g.trota hi .... Ela tinha umas ;~migas
negras t: tinha puxado fumo antes com da~. làlvcz uma ou du.1s
\ez.es. Mas sabia um pouco mais sobre i~so que qualqut:r um de nós.
Ela conseguiu descolar um pouco, por meio dessas amigas negras,
e uma noite trouxe alguns baseados.
tal moJo qu~ não hesitem em f.t:tcr vl·nd.t. bsu é b.tstanll' ditú:il
no caso de pessoas que esti:io apenas casualmente envolvidas wm
grupos que usam drogas. Mas, à medida que a pessoa se to.:na ma i!\
identificada com esses grupos, e é vista com•) mais digna de con-
fiança, o conhecim,:nto r.ecessário e as apresentações a traficantes
tornam-se disponíveis para da. Ao ser definido como integrante
de um grupo, um indivídu,J é também classificado como alguém
que pode ser seguramente considerado capaz de comprar dng<~~
sem pôr os outros em perig0.
Mesmo quando a opo~tunidatk se torna aCl:ssível para de!>,
muitos não se aproveitam. O peri3o de prisão inerente a tal ato os
impede de tentar:
Sigilo
Eu ni\o gostava de ter maconha pela casa, sab~? IPor quê?] Bom,
pensava que talvez minha mãe pudesse achá-la, ou algo assim.
[Que acha que ela diria?) Ah, bem, você sabe .... Bom, eles nunca
mencionam isso, sabe, nada sobre viciados em drogas ou qualquer
coisa desse tipo, mas seria realmente uma 'oisa ruim no meu c~tso,
eu sei, por causa da grande família de que venho. E minhas irmãs e
irmãos, eles iriam me armsar. [E você não quer que isso aconteça? I
Não, acho que não.
78 Outsiders
[Este homem havia usado maconha bem intensamente, mas sua mu-
lher era contra.) Claro, foi em grande parte por causa da minha mulher
que pMci. Hou,·e algumas m:as;,ks em que tive vontade ... não fiquei
r~almente fi~surado, mas ia gostar de fumar um pouco. [Ele não pôde
continuar u.;ando a droga exceto •rregularmente, naquelas ocasiões
em que estava longe da }>resrnç;l Ldo ~ontrolc da mulher.!
Sabe, cara, vou lhe contar uma coisa que realmente me arrasa, ,[!
realmente terrfvel. Alguma vez você entrou no barato e depois teve
de encarar sua famUia? Eu realmente tenho pavor disso. Como ter de
falar com meu pai, minha mãe ou irmãos, cara, é realmente demais.
Eu re<llmente não consigo. Tenl1o a impressão de que estão me
manjando [observando I e sabem que estou doidão. É uma sensação
horrivel. Odeio isso.
80 Outsiders
!Então você fazia isso muito, de ini,Io?] Não, não dem&lis. Como cu
disse, tinha um pouco de medu. ?\la~. finalmente, foi por volta de
1948 que realmente comecei a fumar para valer.[ Do que você tin;,,,
medo?) Bom, eu tinha medo de ficar drogado e não ser capaz Je
me desempenhar, entende, qu~r di<rcr, tinha medo de rt•laxar e ver o
que iria acontecer. Especialmente no trabalho. Eu n;io podia confiar
em mim quando entrava no barato. Tinha medo de ficar doid:ão
demais e perder compL:tamente a consciência, ou fal'.cr bobagem.
Não queria fic;u pcrlurb;ldo dcmai~.
[Como superou isso?] Bom, são essas coisas, cara. Uma noite eu
puxei um fun1o e de repente me ~cnti reahnente ótimo, relaxado, voce
sabe, fiqul!i real:nente numa boa. Desde então fui capaz de fumar
tanto quanto queria sem ter nenhum problema com isso. ;:lempre
consigo controlar.
[Sugeri que ll"uitos usuários acham difícil realizar seu trabalho com
eficiência quando drogados. O entrevistado, um mcdnico, respon-
deu com a história de como superou essa barreira.]
'"~o nã, me incomoda tan!o. Tive lllll<l cxpericnda uma vez
que provou isso para mim. Eu tinh.l ido ;1 uma festa du barulho na
Uso de maconha e controle social 81
Moralidade
uma visão alternativa da pr;\t ica. De outro modo, id, ~.-orno o faria
a maior parte dos membros da sociedade, condenar a si mesma
como um outsider dcsviantc.
O iniciante partilhou em algum momento a visão convencio-
nal. No curso de sua participação num segmento não-convencional
da sociedade, contudo, é suscetível de adquirir uma visão mais
"emancipada" dos padrões morais implícitos na caracterização
habitual do usuário de drogas, pelo menos a ponto de não rejeitar
sumariamente atividades porque são condenadas por convenção.
Talvez a observação de outros consumidores o leve a aplicar sua
rejeição dos padrões convencionais ao caso espedfico do uso de
maconha. Essa interação, portanto, tende a fornecer as condições
que permitem ao noviço escapar da influência das normas-- pelo
menos o bastante para que ele arrisque uma primeira experiência
coma droga.
No curso de uma maior experiência com grupos que usam a
droga, o noviço adquire uma série de racionalizações e justificativas
com as quais pode responder a objeções quanto ao uso ocasional,
caso decida envolver-se nele. Se ele mesmo suscitar as objeções da
moralidade convencional, encontrará respostas prontas disponíveis
no folclore dos grupos que fumam maconha.
Uma das racionalizações mais comuns é que as pessoas con-
vencionais entregam-se a práticas muito mais nocivas, e que um
vício comparativamente peq ucno como fumar maconha não pode
ser errado quando coisas como o uso de ákool são tão aceitas:
{Então você não curte álcool?] Não, não curto nem um pouco. [Por
que não?] Não sei. Realment'! não curto. Bom, veja, o negócio é o
seguinte. Antes que eu chegasse à idade em que os garotos começam
a beber, já estava puxando fumo e via as vantagens disso, sabe, isto é,
não havia nenhum enjôo e era muito mais barato. Essa foi uma das
primeiras coisas que aprenJi, cara. Para <]llt.' você t.]llcr beber? Beber
é bobeira, sabe.~ tão mais barato puxar um fumo e a gente não tem
cnjôo, não é sujo c toma nH.'nos tempo. Ed.1 rcahnt.·ntc passou a ser
a coisa, sahe. Então eu puxl.'i fumo antes dt• beber, s;H.:a ...
8lt Outsiders
f Que quer dit.~r com •·c~~a I oi lllll.l dal> prim~iras l:oi~J!; 'llll'
aprendeu"!) Bom, quero dizer, é wmo cu Jigo, eu estava começand,1
a trabalhar como músico quando l:Oillecci a puxar fumo, e e~tavJ
t~unbl•m em ú>ndiçôc.·s dl' bd>~r nn trab.!IIH>, sabe. F ~ll)lldc.·s c,tr;ll>
Bom, l'll me pr'rgunto ~cu meihur é n:io tom<lr coisa nenhuma. Isso
~o que dizem. Se bem que já ouvi psiquiatras dizerem: "Puxe todo
o fumo que quiser, mas não toque em hero!na."
[lbm, parece sensato.] É, mas quantas pessoas cons<:guem isso?
Não há muitas .... Acho que 75% ou talvez umn porcentagem ainda
maior das peS!>oas que puxam fumo têm um padrão de comporta-
mento que as levaria a puxar cada vez mais fumo e a se distanciar cada
vez mais das coisas. Acho que eiJ mesmo tenho esse padrão. M;ls acho
que tenho consciêucia disso, então acho que posso combatê-lo.
89
90 Outsiders
A pesquisa
Músico e "quadrado"
Eddie trepa demais por aí; ele vai c.cabar se matando ou sendo morto
por alguma garota. E depois ele tem uma ótima mulher também. Não
deveria tratá-la des.c;e jeito. Mas foda-se, isso é problema dele. Se é assim
que ele quer viver, se é feliz desse jeito, então é assim que tem de ser.
sabia que não iríamos ficar depois dessa. Ele me perguntou: "Esse
baterista é bom da cabeça?" Eu respondi: "Não sei, nunca o vi an-
tes." E acabamos contando para ele que vínhamos tocando juntos
havia seis meses. Então isso ajudou também. Claro, quando Jack
começou a tocar, fui o fim. Tão alto! E não tocou uma batida de
jeito algum. Só usava o bumbo para as batidas mais fortes. Que tipo
de percussão era aqudii? Quanto •w mais, era urna boa turminha .
... Era um bom trabalho. Poderíamos ter ficado lá para sempre ....
Bom, depois que tocamos umas duas seqüências, o patrãü nos disse
que estávamos fora.
LlECKER: Que aconteceu depois que vocês foram despedidos?
BECKER: Como voce se sente em relação 'ls pessoas para quem t( ca,
o públiw?
DAYE: Ele~ são um saco.
BEt:KER: Por que diz isso?
DAVE: Bom, porque, ~e vocc está numa banda comercial, eles gostam,
e assim voe~· tem de tocar mai~ coisas melosas. Se você está tr .. b.1-
lhando numa b.mda boa, ck:. n;to gost<tm, e isso~ um saco. Se Vl•cê
está trabalhando numa hand.t boJ ._,eles gostam, é um saco também.
A gl'nte os detesta de qualquer mancir<l, porque sJbe que eles não
conhecem nada. Eles são simplesmente um grande saco.
Reações ao conflito
Eles têm um Mimo tipo d~ ~:;enlt' aqui, tamb(·m. É claro que são
quadrados. Não estou ti.'ntando negar isso. Sem dúvida são um
bando de quadrados fodidos, mas, porra, quem paga as contas? Eles
pagam, então você tem de tocar o que eles querem. Isto é, que merda,
você ni'io pode ganhar,,' ida SI! não tor.t r para os quadrados. Quan-
tas porras de pessoJs \'O.:ê pl•nsa que nüo são qu.1drados? De 100
pessoas, você teria sorti.' s~· 15% não fm~l!lll quadrJdos.lsto é, talvez
os profissionais liberais - médicos, advogado~. esse pesstJal - ,
eles podem não ser qu.ldr.tdos, mas .1 pessoa média não p;1ssa de
um maldito quadrado. Cl,lro, o pessoal du cinema não é assim. Mas,
fora o pessoal do cincnw e o~ profissionais, ,Jn todos uns grandes
quadrados. 6 Não sabem na(~a.
Vou lhe contar. Isso l" um<~ coiSill(lll' "j'rcndi uns três am" <~I r.ís.
Se você quiser faturar algum, tem de agr<ldar .\os quadrad(ls. São eles
que pagam as wntas,..: vm:ê tem de tol.ll p;1ra ck~. Um bom músico
não ..:onsegue arranjar emprego. Voei.• tem de tocar um monte de
merda. Mas, que diabo, vamos I.'IKM.Ir. Qlll'I"O viver bem. Quero
ganhar algum dinheiro; quero ter um L.'arro, saca. Por quanto tempo
a gente consegue se opor a isso? ...
'102 Outsiders
Quero dizer, merda, Sl· você está tocando para um bando de c;uadra-
dos, está tocando para um bando de quadrados. Que porra vo...:ê vai
faze!~ ·;~·cê não pode empurrar is~o pela goela deles al:aixo. Bom,
acho que você pc)de fazer eles cnJnlircrn isso. mas, .tfinal, des estfio
lhe pagando.
Boom: Meu Deus, por que você não pode ser bem-sucedido tocando
jazz? ... Isto é, você poderia ter um grupinho ótimo e ainda tocar
arranjos, mas bons, saca.
CHARLIB: Você nunca conseguida arranjar emprcgu para uma
banda assim.
EDDIE: Bem, você poderia ter uma putinha scxy para ficar de pé na
frente, cantar e rebolar o traseiro para os caretas rq uad rndos ]. Assim
conseguiria emprego. E ainda poderia tocar muito bem quando ela
não estivesse cantando.
CHARLtE: Bem, não era assim -1ue era a banda de Q? Você gosta\·a
daquilo? Gostava do jeito que ela cantava?
EDDIE:.Não, cara, mas a gente tocava jazz, sabe.
CHARLIE: Você gostava do tipo de jazz que tocavam? Era meio co-
mercial, não era?
EDDIE: Era, mas poderia ter sido ótimo.
CHARLIE: É, mas se tivesse sido ótimo vocês não teriam continuado
trabalhando. Acho que vou ser sempre infeliz. É assim que as coisas
são. O sujeito vai sempre estar lilal consigo m~:smo.... Nunca haverá
nenhum tipo de emprego realmentt! bom para um músico.
Gosto mais de tocar qu.mdo h;í algu(·m pJra OU\'Ír. A g~ntc tem a
impn.ssão de que não h <i muito st ntidn en, tocar se não hâ ninguém
para no~ :1uvir. Isto é, ;~final, müsic•t é fl<lnl isso- para <lS pessoas
ouvirem c terem pr;:zcr. Epor is-;u que n.:io me imporh1 nmito em
tocJr música melosa. Se ~~Jguém go~ta di.,so, então de certo modo
isso me da prazer. Acho qu.:- sou meio diklantc.l\las ):\OS to de dcix,u
as pe~soas felizes dess.t m.tueira.
A cultura de um grupo desviante: o músico de casa noturna 105
Isolamento e auto-segregaç~o
Uma outra coisa sobre caliamclltos, cara. Vocc tiL:a ali m~smo no chão,
bem no meio das pessoas. Você não pode escapar delas. É diferente
se você toca num b;oile ou num bar." Num salão de dança você fica
em cima de um pakll. onde d!!s não podem lhe alc.111çar. A mesma
106 Outsiders
coisa num Séllão de ~oquctd, vucê fica no altu atrás c.lo b<lkiio. Mas
num casó\me:1to, cara, você fica bem no meio deles.
+No original, "IfYou Do,l't Like my Queer Way~ You Cm Kiss My Fucking Ass':
(N.T.)
108 Outsiders
Sabe, desde que sai pam trabalhar reahHl'llk tiqul'i de tal jeito l)llC
posso conversar com algun~ d.tqucles cara:; no bairro.
IQuer dizer (lllC tinh<l dil1culdadc em I alar o.:om dcs antes?!
lk1111, l'U simpleMnellll' lkav.t por .ti• ~· 11.1•1 ~.thi.t o que dí,~·r.
Ainda tenho difi(uldadc p.tra mnversar llllll ;lqudl.'s caras. Tudo
que eks dizem p.lrc~.:c holm l' dcsíntcrt.·s~.tllll'.
111
112 Outsiders
"Panelinhas"* e sucesso
Veja, funcion<l assim. 1\linh.1 m:1o dircit.1 .1qui, ~ão dn(o m(Jsicos.
Minhil mJo ~:,(1 u~:rd.1, :-;i o m.1i:. ô Ih''· Agt •r a u ll' dc~lc~ r.1pa1.cs aq111
consegue um emprego. Ele es..:olhc m homens p.1ra ck ap~na~ entre
os suJeitos deste grup1). <;unprc <Jllt: um deles •on~~guc um emprego,
naturalmente contrata esse ~ujcito. Voe,· n~. portanto, •.-onw a çoi:.a
funcion.•. Eles nunct contr<ll<llll nin[!u~·m qtH.: n;\o esteja na pancl.l.
Se um deles trabalht, todos tnthalh.un.
Havia uns sujeitos nesta banda para q ucm eu tinha conseguid0 bons
empregos, e eles continuavam a ocup:i·I,Js desde então. Como um
daqueles trombonistas. Eu o colnqttl·i num.t boa b;tnda. llm dos
twmpetistas também .... Vo•ê sabe como isso fundo na. Cm líder 111c
pede um homem. Se ele gostar do ~ujcito que voc:ê lhe <~rranja, louil
vez que precisar d~ um, Yai lhe pedir. l>cs:.~ modo vwê consegue
empreg•lr rodos os seus amigos.
Você tem de fazer contatos d~sse tipo pela cidadt! inteira, até que se
crie uma situação na qm•l quando qualquer pe!>soa quiser alguém
ela o chame. Então você l1UIK':J ficará sem trabalho.
vocé. Uma pe!'Soa leva muito te.npo para se firmar dessa maneira.
Eu levei uns dez ant>S para conseguir o emprego t 1ue :t·nho agora.
Eu ~ei, você prova\•elmeete gosta d~· tocar iazz. Claro que entendo. Eu
costumava me interessai por j.;a, mas Llcscobri que não compe,lS<lVil.
As pessoas não gostavam Je jazz. f..las gostam de rumbas. Afin<ll, isto
é 11111 negócio, não ~ mesmo? S.: '•Ké está nele par.\ ganh;;~r a vkht,
não pode jogar jazz em cima das pcs~oas o tempo todo, ehu nüo
vão Jccitar. Emão você tem de I<JC,\r o t~ue dJs qucrl.'m, s;io elas que
pagam ns contas. Isto é, não me entenda mal. Se um sujeito con~<'guc
ganhar a vida tocando jazz, ótimo. Mas eu gostaria de conhcc<·r <>
sujeito que consegue fazer isso. Se você quiser chegar a algum lugar,
tem de ser comercial.
É melhor pegar um emprego com o qual você sabe que ficará de-
primido, no qual você espera úc.l'· arrasado, que 1er ,,m emprego
na música, que poderia ser excelente, mas não.:. Por exemplo, voe{·
entra no comércio, mas não sabe nada sobre isso. EI,tão imagi11J
que vai ser uma amolaç.:.o e espera por isso. !vias a l'lúsira pode ser
tão legal que, quandc não é, torn<He uma grande tkcepçao. Ent<IP,
é melhor ter algum o•.Jtro tipo de emprl•go, que náo deixe voe~
arrasado dessa manc;ra.
Vimos a gama das rt:srostas para es.w dilema por parte daque-
les que permanecem na ~'rofissão. O fazzmclli ignora as demandas
do público para se ater aos padrôcs artísticos, enquanto o mtbic<>
comercial faz o oposto, an-,bos sentindo a pressão das duas força~.
Meu interesse aqui é discutir ;1 n:lação dc:,sas respostas com a~
per.specttvas da carreira.
O homem que opt.l pur ignor<lr pn::.sõb coml'rciais vê-se cfl·-
ti~·;unente impedido de Ler acesso .1 empregos de maior prest[gio e
renda, e de ingressar naqul'l.!s "pant:las" que lhe proporcionariam
segurança e a oportunidnoc> de desfrutar t'Ssa mobilidade. POLtC.Js
pessoas estiio dispostas a <Jdotar uma po~içáo t<lo extrema ou s;io
capazes disso; ,1 maioria transige em algum grau. O padrão de
movimento envolvido nes!>J transig·:·ncia é um fenômeno comum
de carreira, muito conhecido entre os músicos e considerado pra-
ticamente inevitável:
Vou lhe dizer, concluí que a única coisa a fazer é realmente virar
comercial - tocar o que as pesso<~s querem ouvir. Acho que h:í
um bom lugc~r para o cara que dá a eles ex<~tamenlc o que querem.
A melodia, só i~o. Nenhuma improvisação, nada dl! técnica- só
a pura melodia. Vou lhe dizer, por, que eu não deveria tocar desse
jeito? Afinal, vamos parar de nos enganar. Na maioria, não somos
realmente músicos, somos apenas instrumentistas. Isto é, penso
em mim mesmo como uma espéc~e de trabalhador comum, sabe.
Não faz sentido tentar me enganar. A maioria desses caras é só ins-
trumentista, eles não são músicos de verc!ade, de maneira alguma,
deveriam parar de tentar se enganar achando que são.
Pais e esposas
Observei que os músicos estendem seu desejo de liberdade de
interferência externa em seu trabal~o a um sentimento generali-
zado de que não deveriam ser tolhi4os pelas convenções comuns
da sociedade. O ethos da profissão tbmenta uma admiração pelo
comportamento espontâneo e individualista e um desdém pelas
regras da sociedade em geral. É deiesperar que os membros de
nma ocupação com esse ethos tenham problemas de conflito
quando entrarem em contato mais próximo com essa sociedade.
Um ponto de contato está no trabalho, em que o público é a fonte
dt: problemas. O efeito dessa área de problemas sobre a carreira
foi descrito anteriormente. 1
NJ maion<t d1ls ct~os, <1 fam íl i.t 1 •u 1h ami!!oS dt·scmpt:n har.un 1111'
impnrtante papel im.1ginando o po.:rtil d;t c<Hrcir,t c rd"orç;mdo os
esforços do rt:>cruta. Propor..:inn.u.tm c::.sc rl'llli\'t) cncoraj.tndo,
ajudando a t'stahelecer as rqti11a~ upropriadas, pn1piciando a pri-
v,Jcidade necessária, dc.;co;timulandtl t) wmpon.unenro anôm;lhl e
d('finindo a~ rccompeusas do d1a-a-dia.·
Sabe, todo mundo adwu horrível qu.mdo deLidi ser músico ....
Lembro que me tormei na escola secundúria numa quinta-fc:ir<~
e deixei a cidade na segunda-feira pm-.r peg<tr um trabalho. Meus
pais ficarnm dillcutind<J wmigo e todm ~~~ ll•l'll)> p.rrcntes tarnbc.-'m.
Eles me fizeram passar um mau bocad•l .... Teve um tio meu qut'
foi dní.stico, dizl·nJo qm· .ttJuda niio l'r,, um" vida norm.rl, lj\11..' cu
nunca poderia me casar, l' toda aquel,t nmvers.1.
com isso:
126 Outsiders
Cara, minha mulher é uma g.trota excelente, mas não há jeito ,le
ficarmos juntos, nJo enquanto cu estiver tr;ll-,alhando como mú-
sico. Nenhum jeito, nenhum jeito mesmo. Logo que nos casa,nos,
era ótimo. Eu estava trabalhando na cidade, ganhando uma boa
grana, todo mundo estava feliz. :vias quando esse trabalho acab:m,
fiquei sem nada. Então recebi uma oferta para viajar. Bem, que diabo,
cu precisava do dinheiro, a~eitl'i. S•1lly disse: "N.io, quero vocc n.t
cid&l:lc, comigo." Ela prcfcri;l \(li C l'll fos~c tralMlh.~r numa fúbt Íl",t!
Bom, foi uma grande merda. Então fui embora com a banda. Que
dial'o, gosto demais .la prr.fiss.io. N~o vou abrir múo dda pur Sally
ou por CJualquer ou li a mulh..:r.
Não, não tenho trabalhado muito. Acho que vou pegar um maldito
emprego diurno. Você sabe, quando VO(ê é casado é um pouco di-
ferente. Antes era diferente. Eu trabalhava, não trabalhava, dava no
mesmo. Se precisava de dinheiro, pedia cinco emprestados a minha
mãe. Agora aquelas contas simplesmente não esperam. Quando
você é casado, tem de estar sempre trabalhando, ou não dá conta
do recado.
129
130 Outsiders
'-':"': técnk<' .je raios X num hol>pital furtava presunto<; e comida enla·
tada e sentia~se no direito de· fa7ê-lu porque se•J s;11.1rio era baixo.
As regras e sua imposição 133
Dalton diz que chamar todas essas ações de furto t não com-
preender o que interessa. De fato, insiste de., a gerência, mesmo
condenando oficialmente o furto dentro da organização, estava em
conluio com ele; não se trata de um sistema de furto em absoluto,
mas de um sistema de recompensas. As pessoas que se apropriam
de serviços e materiais pertencentes à organização na realidade são
recompensadas não oficialmente por contribuições extraordinárias
que fazem para o funcionamento da organização, contribuições
para as quais não existe um sistema legitimo de recompensas. O
capataz que equipou sua oficina mecânica doméstica com máqui-
nas da fábrica estava de fato sendo recompensado por ter abando-
nado o catolicismo e se tornado ma~rom a fim de demonstrar sua
aptidão para um posto de supervisão. Permitia-se ao técnico de
raios X furtar comida do hospital porque a administração sabia
que não estava lhe pagando um sa.!.ário suficiente para exigir sua
lealdade e o trabalho árduo.1 As regras não são impostas porque dois
grupos que competem pelo poder -·gerência e trabalhadores -
encontram vantagens lllÍitUaS Clll ignorar <IS i nfr<I\~ÔCS.
13 4 ÜLJtsiders
Estágios de imposição
I
Período 1 ' Número de artigos
Uma família inteira foi assassinada por um jovem vidJdo (em ma-
conha] na Hórida. Quando policiais chegaram à casa, encontraran~
o rapaz cambaleando em meio a um matadouro humano. Ele havia
assassinado com um machado o pai, a mãe, dois irmãos e uma irmã.
Parecia atordoado.... Não tinha lembrança alguma de ter cometido
o crime múltiplo. Os policia ir. o conheciam usualmente como um
jovem sensato, hastante calmo; agora estava deploravdmente loucv.
Eles procu;aram a razão. O rap,1z disse que adquirira o hábito de
fumar algo que seus jovens amigos ~:hamavam de "muggles': um
nome intàntil para maconha. 1'
Criadores de regras
onde uma lei foi aprov.tdil .tpú ... 1re ... u11 qual ro alaqm·o, WXllitÍo, L'lll
[ndialliipolis, com '11!Sa~sinatos em doi~. Chefes de famíli.l compra-
ram ;.mnar. c cães de guarda, 1: l' csloqm· de c,tdcado.., c wrn.•ntcs na~
lojas de ferragens da cidade foi LOmpletamente esgoti.ldo ....
Um segundo elcmentd no pro·~~..,..,o de desenvolvimento de kb
sobre o psicopata sexu;ll e a at;vidade agitada da comutlidilde em
conexão com o medo. A atrnçüu da '-omunidade est,í cuno.::entr~da cm
crimes sexuair., as pcs~oas vrcm pL·ngo na!. mais variadas SJtuaçõl.!~
t· sentem il necessidade c a possiJilidade de control,i-la~ ....
A terceira fase 110 desenvolvimento dessas leis rd.ltivas ao psi-
copJta .~exual foi a design;u;ão de um comitê. Este 1\:únc as muitas
recomendações conflitantes de pe:.so<ls c grupos de pl''iSoas, tent•'
determinar "fatos': estuda procedimentos l'IU outros estados e faz
recomendações, que geralmente incluem projetos de h:i. Embora o
temor g~ml de habito se .-eduza em alguns dias, o comitê tem o dever
formal de perseverar l'm seus esforços ate que se tomem medidas
positivas. O terror llllt: não rcsuh;~ num comitê tem muito menor
probabilidade de rl·sultar nun1<1 lei.
Assim que esta união foi organizada, tinham os muitas das senhoras
mais influentes da cidade. Mas agora elas passaram a achar que
nós, senhoras contrárias a se tomar um coquetel, somos um pouco
esquisitas. Temos a mulher de um empresário e a mulher de um
ministro, mas as mulheres do advogado e do médico nos evitam.
Não querem ser consideradas esquisitas.
Tememos a moderaçã" mais que qualquer outra coisa. Beber
tornou-se em tal gn1u uma p.11 te de tudo - ,tlé c111 nossa vida mt
igreja e em nossas faculdades.
A moderação se insinua nos boletins ofici,tis da igrcj<~. Eles aguar-
dam em suas geladeiras.... O pJstor aqui acha que a igreja foi muito
160 Outsiders
longe, que elc:s t.•sti.\o fazl•ndo dl'nt<lis parJ ajudar a~. usa da tem:'e-
nm,-a. Ele tem rnedo de pisar em cJk1s de pessoas intluentes. 11
Impositores de regras
eficazes e valem a pena, que o mal com que ele supostamente deve
lidar está sendo de tàto enfrentado adequadamente. Portanto,
organizações de· impo:;ição, em pari icular quando c~ I :i o em busca
de recursos, oscilam em geral entre dois tipos de afirmação. Pri-
meiro, dizem que, em decorrência de seus esforços, o problema
a que se dedicam se aproxima de uma solução. Mas, ao mesmo
tempo, dizem que o problema está talvez mais grave que nunca
(embora não ~or culpa delas próprias) e requer um esforço re-
novado e intensificado para mantê-lo sob controle. Encarregados
da imposição podem ser mais veementes que qualquer p~ssoa em
sua insistência ele que o problema com que devem lidar continua
presente, de fato m:tis qne ma~ca. Ao fazer essas afirmações, esses
encarregados da imposição fornecem boa razão para que a posição
que ocupam continue a existir.
Podemos também notar çuç encarregados e agências de
imposição tend~m a formar uma visão pessimista da natureza
humana. Se não acreditam realmente no pecado original, pelo
menos gostam de enfatizar as dificuldades que têm para levar as
pessoas a cumprir regras: as em actcrísticas da natureza human<l
que levam as pessoas para o mal. ~~üo céticos em rdaçJ.o a tentativas
de reformar os infratores.
/ . ._·isão cétka e pessimista du impositor d~ regn's é r·~forçada,
claro, por sua experiência diária. Ele vê, à medida que realiza seu
trabalho, a evidência de que o problPma continua pre:;ente. Vê JS
pessoas que repetem continuamente as transgre3sôes identifican-
do-se claramente a seus olhos como outsiders. Nãn ~. contudu,
um vôo excessivamente grande da imaginação :.,upor que uma ths
razões subjacentes para o pessimismo do imrositor com relaçáo
à natureza humana e as possibilidades de reforma é o fato de que,
fosse a natureza humann perfeita, e pudessem as ~essoas ser refor-
madas de modo permanente, seu trabalho dcixa.-ia de existir.
Da mesma maneira, um impu~itor de regras provavelmente
acreditar{! ser necessário que as pesso:v; com quem lidn o respei-
tem. Se não o fizerem, s<.·rá muito difkil realizar seu trabalho; seu
sentimento de seguran•;a r.o trabalho Sl·rá perdido. Portanto, boa
Empreendedores morais 163
~atisfatório, ou que
os ganhos antes obtidos foram pouco a pouco
reduzidos e perderam-se.
~/ --~~ ~~-
·;.:·-~~~~f.~:;_
O estudo do desvio: problemas e simpatias 175
• Este artigo foi apresentado pela primeira vez na r~união da British SociologicaJ
Association, l.ondres, em abril de 1971. Vários ami~o.~ fizeram comentdrios útds
sobre um rascunho anterior. Quero agradecer especialmente a Eliot Freidson,
Blanche Geer,lrving Louis Horowitz e John I. Kitsuse.
179
180 Outsiders
A desmistificação do de~vio
Problemas morais
como f;) r que as pessoas os deti.nam. ' 1 Ambos os lados querem ver
~uas concepçôes éticas prévias incorporadas ao trabalho científico
na forma de asst:rções factuais não inspecionadas, baseadas no
uso implícito de juízos éticos sobre os quais há u:n elevado grau
de consenso.
Assim, se eu disser que o estupro é realmente dt'sviante, ou qne
o imperialismo é realmente um problema social, estou sugerindo
que esses tenômenos tê:n certas características empíricas que, tot1os
nós concordaríamos, os tornam repreensíveis. Poderíamos, com
nossos e;tud·Js, ser capazes de estabelecer exatamente isso; m;-s
muito freqüentemente nos pedem que o aceitemos por definição.
Definir algo como tlcwiantc ou wmo um problema svcial-torna
a demonstracão empírica desncccss;íria e nos protege da descob<.•rta
de que nossa concepção prévia é incorreta (quando o mundo não
é como o imaginamos). Quando protegemos nossos juízos éticos
de testes empíricos, encerrando-os em d~finições, cometemos o
erro que ~hamo de sentimentalismo. 42
Os dentistas muitas vezes querem fazer com que uma com-
binação complexa de teorir.s sociológicas, evidências científica<;
e juízos éticm pareça não passar de uma simples questão de defi-
nição. Cientistas que assumiram sérios compromissos de valor (não
importa de que variedade política ou moral) parecem em espedal
propensos a querer isso. Por que as pessoas querem disfarçar sua
moral como ciência? Muito provavelmente compreendem ou in-
tuem a vantagem retórica contemporânea de não ter de admitir que
se faz "apenas um juizo moral"' e alegar que se trata de um achado
científico. Todos os participantes de qualquer controvérsia social
e moral importante ir~ o tentar ganhar essa va.ltagem e apresentar
sua pu:.içã\J moral como tão axiomática que pode Jer incorporada
sem problemo aos pressupostos dessa teoria, pesquisa e dogma
político. Sugiro à esquerda, com a qual partilho simpatias, que
deveríamos atacar a injustiça e a opressão direta t' abertamewe,
mais que alegar que o juízo de que essas coisas si'.o más pod<.· de
algum modo s>.!r deduzi<.lo de princípios sodolót~ico!: básict,s ou
justificado somente por achados empíricos.
A teoria da rotulação reconsiderada 203
Conclusão
Prefádo, (p.9-14)
1. Outsiders, (p.lS-30)
209
21 O Outsiders
6. Ibid., p.142.
7.Ibid., p.l43 ·5.
B.Ibid., p.l45-6.
9. Sheldon, Messinger, "Organizational Transformation", p.3-10.
10. Gunsfield, op. cit., p.227-8.
lI. Ibid., p.22i, 229-30.
12. Ver R. Gole, "Janitors Versus Tenants':
13. W.A. Wo!stlcy, "Violence and the Policc", p.39.
14. Jbid.
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