Coleção · e-book
Coordenação gráfica da coleção · Olinda Martins
Capa · Olinda Martins
Revisão de texto · Cristina Palmeirão
Introdução
Construir a autonomia e a flexibilização curricular é o tema que este livro releva como
princípio e medida expresso pelo Ministério da Educação. O sentido é introduzir inovação
na organização e no desenvolvimento curricular, no propósito de focar a atenção no aluno
e nas aprendizagens essenciais (Despacho n.º 5908/2017). Oportunidade assumida por
muitas escolas agrupadas e não agrupadas para regressar ao coração da escola e abrir
espaço a práticas de ensino e de aprendizagem para o desenvolvimento humano, centrado
numa lógica de trabalho colaborativo das equipas de professores. Nesta matriz, “o
currículo é encarado como uma ferramenta para promover o sucesso escolar”, mediante
o estabelecimento de compromissos graduais de transdisciplinaridade, de participação e
de reforço da autonomia e responsabilidade pessoal e coletiva.
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Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal
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Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A atitude dos aprendentes está em mudança. Para eles, o valor da educação é dúbio e
subestimado. Ora, para operacionalizar as dimensões que integram o perfil do aluno para
o século XXI, importa romper com o modelo escolar baseado na separação das disciplinas
e abraçar um modelo cuja estrutura curricular esteja baseado nas necessidades e interesses
das pessoas que se desenvolvem e aprendem mediante a interação e o envolvimento ativo
com o seu meio e convoque os saberes disciplinares para um conhecimento mais
integrado. O desenvolvimento da participação dos alunos na vida escolar é um imperativo
da cidadania e do crescimento, porquanto autoriza a emergência de uma atitude de
comprometimento e a construção de um currículo que promove a competência global,
aqui entendida como a capacidade e a disposição de compreender e atuar sobre questões
de escala local, nacional e mundial.
Despertar e inscrever uma outra visão e estratégia para a escola aconselha a necessidade
e a capacidade de comunicação sobre o que se tem estado a fazer e o que se está a planear
fazer. No essencial, o desafio é, nas palavras de Edgar Morin (2001), “fortificar a aptidão
para interrogar e de ligar o saber à dúvida, de desenvolver a aptidão para integrar o saber
particular não apenas dentro de um contexto global, mas também na sua própria vida, a
aptidão para apresentar os problemas da sua própria condição e do próprio tempo” (p. 15).
Ao longo desta obra, os vários autores desafiam-nos a pensar, a fazer diferente, convo-
cando e fundamentando os princípios-chave para o sucesso educativo e para o desenvol-
vimento humano que conjugam necessariamente as dimensões da inclusão, da flexibili-
dade, da cooperação, da qualidade, da inovação e da autonomia.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resumo
Por outro lado, as lideranças educacionais têm de ver estas outras possibilidades de ação
e de organizar o trabalho educativo de modo a que outras práticas de flexibilização e
diferenciação sejam possíveis. Por fim, os modos de ser professor têm de evoluir para
uma prática profissional mais autónoma, interativa e colaborativa.
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Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
das equipas, dos espaços e tempos. Por fim, enuncia-se a imprescindibilidade da ação
profissional docente ver as virtualidades de um outro modo de trabalho interativo e
colaborativo.
A escola que hoje ainda temos é uma invenção da revolução industrial. Era
necessário escolarizar largas massas da população campesina para poder ler os
manuais de instrução que punham em marcha as roldanas das fábricas. E treiná-
la para se disciplinar numa ordem mecânica, repetitiva, baseada no comando e no
controlo.
Mas, para além deste imperativo produtivista, a escola cumpria ainda uma
importante função social e política de natureza ideológica. Era preciso que fosse
uma agência de uma socialização mais ou menos passiva, que os “cidadãos”
aceitassem ser funcionários de um estado, em muitos casos emergente, e que
contribuísse para a sua constituição e legitimação.
A escola passou, assim, de uma ordem limitada, artesanal e pessoal para uma
ordem de produção em série, tendo a capacidade de formar milhões de pessoas
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
para viverem num outro mundo empresarial e político. E não há dúvida que esta
revolução nos modos de ensinar – do ensino individual para um ensino coletivo,
do ensinar a todos como se todos fossem um só – correspondeu a um considerável
avanço na massificação e democratização do acesso à instrução. Esta passagem
parecia assegurar o ideal proclamado por Coménio (1976: 45) na sua notável
Didática Magna publicada no início do século XVII [1627]:
Esta ilusão tecnocrática e romântica de tudo ensinar a todos com prazer está longe
das evidências empíricas e mesmo da visão profética de um seu quase
contemporâneo, António Vieira. Com efeito, este mestre da oratória afirma
“O Mestre na Cadeira diz para todos; mas não ensina a todos. Diz para
todos porque todos ouvem; mas não ensina a todos, porque uns aprendem
e outros não. E qual é a razão desta diversidade se o Mestre é o mesmo e
a doutrina a mesma? Porque para aprender não basta só ouvir por fora, é
necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se
muito; se pouca, pouca; se nenhuma nada.” Edição de Referência:
Sermões, Padre Antônio Vieira, Erechim: Edelbra, 1998. [Sermão do
Espírito Santo], em linha
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&
id=37387
A escola que hoje, no início do século XXI, ainda temos é ainda a herdeira de uma
gramática que tem início na revolução industrial e que sumariamente se carateriza
pela separação e hierarquização dos conhecimentos, pela divisão dos espaços, pela
segmentação do tempo, pela separação dos alunos em anos e turmas, pela
separação dos professores em níveis e especialidades, pela alocação rígida de
professores a alunos, por uma pedagogia coletiva e uniforme, por dar o mesmo a
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A escola que queremos tem, pois, de ser muito mais flexível, muito mais variada,
muito mais sensível à diversidade de inteligências, ritmos e vontades. Tem de
atender às pessoas e colocar as aprendizagens de todos no centro das suas
preocupações e da sua organização. E isto implica pensar e praticar uma outra
gramática (Alves e Cabral: 2017).
2. Uma outra gramática implica ver e praticar o currículo de um outro modo. Aceita-
se que o currículo prescrito integre um conjunto de conhecimentos, competências,
capacidades, valores que um dado poder político considera relevante impor (ou
propor) a todos os cidadãos.
De facto, não basta prescrever o que de melhor existe dos saberes disponíveis para
o desenvolvimento dos seres humanos e sociais. Há, certamente, saberes
universais, abstratos, formais que é necessário incorporar no currículo. Mas
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
também aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos como nos
lembra o célebre relatório da UNESCO (UNESCO: 1996). É uma condição de
cidadania epistemológica esta incorporação equilibrada de todos os saberes
necessários à condição humana.
Se se quer que todos aprendam o máximo possível, o único caminho viável é uma
diferenciação inclusiva. O caminho que diferencia processos, que diferencia
produtos para que a equidade de resultados escolares e do usufruto dos bens
educacionais seja mais possível (Pires et al: 1991).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Nas mãos dos professores e das políticas que os podem (des)inspirar está, pois,
um outro possível futuro. Basta alimentar a capacidade de olhar, ver, reparar. E
de querer, saber e poder.
Referências
Alves, J. e Cabral, I. (Org.) (2017). Uma outra Escola é Possível. Mudar as regras da
gramática escolar e os modos de trabalho pedagógico. Porto: Faculdade de Educação e
Psicologia. Em linha, 31 outubro 2017:
http://www.fep.porto.ucp.pt/sites/default/files/files/FEP/SAME/Uma_Outra_Escola_E_
Possivel_%20Mudar_regras_da_gramatica_escolar_e%20os_modos_de_trabalho_peda
gogico.pdf
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Gaspar, Santos & Santos (2013). O currículo percecionado nas memórias dos professores.
In Alves, J. M. (Org). Memórias dos Professores – Emoções, identidades profissionais
currículo e avaliação. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resumo
A investigação curricular, atravessa no tempo atual um ponto crítico importante que nem sempre
é claramente percecionado na comunidade científica e educativa. Nascida a área do Currículo
e Desenvolvimento Curricular como quase um parente modesto das chamadas Ciências (ou
Ciência?) da Educação, tem-se-lhe associado predominantemente os estudos das componen-
tes práticas, operativas, da prática educativa - nomeadamente a planificação e organização
das atividades e sua avaliação bem como as dimensões organizativas da aprendizagem - re-
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Texto da autora adaptado, inicialmente publicado em Atas Profmat, 1997, pp 119-122. Lisboa:APM.
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Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
servando-se escasso espaço, principalmente nos países de influência francófona, para a refle-
xão e teoria curricular enquanto quadro essencial de análise do processo educativo.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
E partindo desse quadro de análise da realidade educativa que situamos as questões que são
objeto desta reflexão.
A primeira das questões curriculares clássicas é, como todos sabemos, a seguinte: o que se
considera , em cada época e contexto, que deve ser aprendido, e por isso ensinado? Este "o
quê" inicial não constitui, contudo, o primeiro momento na ordem logica do processo. De
facto, ao decidir-se "o quê" assumem-se, de forma explicita ou implícita, opções de fundo
quanto à justificação e finalização dessa escolha - as metas e objetivos, o para quê.
Uma segunda questão prende-se com a variabilidade deste corpus curricular ao longo do
tempo, particularmente ao longo das reformas curriculares globais, que em muitos sistemas e
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
até à década de 90, tipificaram os principais momentos de viragem das linhas orientadoras da
prática e da teoria curricular. Considerando esta evolução numa perspetiva macro, verificamos
que as grandes reformas curriculares - particularmente as das décadas de 60/70 e as do início
dos anos 90, introduziram essencialmente duas grandes orientações novas: nos anos 60/70 a
enfatização curricular dos processos de construção do conhecimento e da apropriação das
aprendizagens pelo aluno, e as da transição 80/90 a preocupação com a introdução no corpus
curricular de dimensões de formação transversais, nomeadamente no domínio das competên-
cias de vida, práticas de equidade social e exercício da cidadania. A incorporação destas
dinâmicas na construção curricular parece hoje, na segunda década do século XXI, um dado
adquirido. Os conteúdos científicos, num sentido mais restrito, embora tenham sofrido altera-
ções e atualizações, não refletem, na mesma perspetiva macro, alterações de fundo muito rele-
vantes, provavelmente porque algumas permanências no que se refere aos saberes de referên-
cia que à escola cabe proporcionar se fundamenta justamente no seu caráter referencial rela-
tivamente estável.
Não se espera mais da escola que, como em épocas passadas, passe todo o saber disponível
- hoje vastíssimo e acessível por tantos outros meios; mas continua a ser da escola que se espera
que proporcione os referenciais de conhecimento e de competências funcionais que habili-
tem os indivíduos a inserir-se noutros domínios de aprofundamento e aplicação de conhe-
cimentos e a gerirem os seus processos de formação e inserção na vida social e profissional.
A pergunta "o que ensinar" poderemos dizer que se encontram hoje respostas mais complexas
que no passado, dadas as mudanças sociais e institucionais que se vivem. O corpus curricular
e hoje integrador de conteúdos de aprendizagem, tomada a expressão em sentido muito lato
que compreende domínio de saberes, ativação de processos, desenvolvimento de atitudes e
competências, domínio de modos de aceder ao conhecimento.
Contudo, esta continua a ser a questão curricular central a que importa responder com cla-
reza, porque é sempre em torno dela que se estrutura o perfil do serviço que a escola, enquanto
instituição com uma especificidade que a define, presta à sociedade.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Estas e outras questões que atravessam o nosso quotidiano de professores e investigadores indi-
ciam, naturalmente, alguma perturbação de identidade profissional e alguma indefinição
acerca do papel institucional da escola e, nomeadamente, do papel e relevância do currículo
escolar.
Parece pois que a uma aparente aquiescência ao discurso curricular relativo às finalidades do
currículo da escola básica e da escola secundária, apoiadas nos princípios estabelecidos na
Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986, já em alguns aspetos menores revista, e no
recente Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória (ME, Despacho º 6478/2017
de 26 de julho) se contrapõe um sentimento difuso de questionamento dessas mesmas finali-
dades do currículo ao nível das dúvidas vivenciadas nos terrenos curricular, educativo e
social.
Deixando de lado as questões da possível evolução futura da escola, campo fértil de pouco
fundadas previsões, coloca-se-nos sim a questão das finalidades do currículo em termos da pró-
pria resposta à função social da educação escolar tal como se configura atualmente.
Neste domínio podem isolar-se duas grandes vertentes na reflexão curricular atual, que não são
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
necessariamente conflituantes. Uma dessas vertentes enfatiza o caráter funcional da educação es-
colar que deverá privilegiar finalidades operacionais no sentido de uma preparação mais efetiva
para a vida social e profissional e para a própria formação ao longo da vida. O "para quê"
das aprendizagens curriculares situar-se-á, assim, cada vez mais, no "para que serve" ao
aluno este ou aquele conjunto de aprendizagens. Nesta vertente se integram as tendências, lar-
gamente dominantes no discurso político e educacional internacional da atualidade, no sen-
tido de centrar as finalidades curriculares no desenvolvimento de competências que tornem
utilizáveis, reconvertíveis e operativos os saberes, as técnicas e as praticas que forem inte-
gradas no currículo - enunciado e implementado.
Esta perspetiva implica uma lógica de finalização clara das opções curriculares, passível de lhe
conferir maior unidade, eficácia e coerência, na medida em que se encarem as componentes
do currículo, nomeadamente as componentes disciplinares, como instrumentos orientados
para apetrechar os indivíduos com competências de vária ordem, que poderão mobilizar e
gerir nos seus próprios percursos pessoais.
Para ilustrar esta dupla valência da noção de competência, poderíamos dizer que é fundamental
que o currículo contribua para a consolidação de competências indispensáveis à vida social
como, por exemplo, a resolução de problemas ou a tomada de decisões fundamentadas, tanto
quanto promover, por exemplo, a capacidade/competência de entender e fruir bens como a
música ou a arte. Passará por aí, a meu ver, o papel do currículo escolar na promoção do
nível cívico de uma sociedade, na subida do nível educativo da população, na garantia de uma
melhor qualidade da vida pessoal e social para todos - e não só para os que já nascemos com
algumas portas de acesso confortavelmente abertas.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
O currículo para quem? Os alunos que temos e o currículo que construímos para
eles.
Todos sabemos que a escola de massas torna difícil a construção de significados comuns,
relativamente fáceis na escola de gerações anteriores, de que alguns discursos públicos se
fazem persistentemente eco saudosista, esquecendo que que os que as frequentámos éramos
tão mais semelhantes como grupo, social e culturalmente, porque tão mais pré-selecionados
pela lógica ideológica do tempo, que deixava de lado, com boa consciência, todos os que "não
precisavam de estudos" dado o estatuto e a expectativa diferentes que lhes eram injusta-
mente atribuídos.
É neste contexto que é impensável continuar a conceber o currículo segundo lógicas distri-
butivas uniformes, ainda que se tenha de manter sempre presente a necessidade de garantir
que todos percorrem um certo caminho comum, balizado pelas competências de que todos
precisarão.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Organizar o currículo em contexto e geri-lo de forma flexível significa, antes de mais, tomar
decisões face à pergunta em torno da qual se deve construir qualquer projeto de trabalho curri-
cular de cada equipa de professores "que proposta de trabalho curricular e de gestão conjunta
julgamos ser a melhor para que o que estes alunos precisam de aprender faça sentido para
eles e lhes permita adquirir as competências de que precisam? Que opções e que priorida-
des, que modos de estruturar o trabalho e os saberes de todo o tipo que estão em jogo no
currículo que queremos que seja aprendido nessa escola ou situação"?
O "como" - a última das questões curriculares clássicas, associada ao que mais frequentemente
se tem designado por desenvolvimento curricular, assume hoje um sentido cada vez mais
englobante. Associava-se este "como fazer" apenas à forma de concretizar didaticamente
um currículo pré-fornecido sobre o qual não havia nada a decidir.
Usar a autonomia curricular e desenvolvê-la significa, acima de tudo, procurar respostas mais
adequadas e mais bem sucedidas face à finalidade e justificação essencial do currículo escolar:
a aprendizagem daquilo que se considera necessário que a escola proporcione a todos.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Bibliografia
Bruner, Jerome (1996). The Culture of Education. Cambridge, MA: Harvard University
Press.
Goodson, Ivor (1988). The Making of Curriculum. London: Falmer Press, Inovação, Vol.9,
nQ3 (1996). Educação e Formação ao Longo da Vida. Lisboa: IIE,
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OECD (1996). A New era Curriculum: Edges and Outlooks . OECD Project "Teachers and
Curriculum Reform in Basic Schooling". Lisbon: draft document.
OECD (1994). The Curriculum Redefined: Schooling for the 21st Century. Paris: OECD
Documents. Pacheco, J.(1996). Currículo: Teoria e Pratica. Porto: Porto Editora.
Stenhouse, L.(1991). Investigacion y Desarrollo del Curriculum (P ed. 1981). Madrid, Edi-
cidnes Morata.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Joaquim Machado2
Resumo
A escola que hoje temos resulta de um longo processo de construção histórico e social até
se tornar o lugar por excelência da educação formal, utilizando dispositivos de
uniformidade, homogeneidade e conformidade, dificilmente compagináveis com uma
pedagogia humanista valorizadora das diferenças, da democracia e da autonomia. Neste
texto, damos conta da evolução da escola tradicional e do seu modo de adotar dispositivos
inovadores que a tem tornado mais inclusiva, assim como problematiza as potencialidades
e os desafios que se colocam a projetos recentes de renovação pedagógica que fomentam
a diversificação e a integração de saberes nos planos curriculares nacionais.
1
Este capítulo retoma e expande as ideias desenvolvidas pelo autor no texto “Para uma escola do presente
com futuro”, publicado em ELO24, Revista do Centro de Formação Francisco de Holanda – Guimarães,
julho de 2017, 29-36.
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mais ajustado a uma educação inclusiva, cujos contornos são aqui apresentados e que
colocam novos desafios aos professores e à escola, nomeadamente a rutura com a
uniformidade, a homogeneidade e a conformidade e a abertura à diversificação
pedagógica, à flexibilidade curricular e à autonomia profissional e organizacional
Em 1516, Tomás More apresentava uma ilha onde o desenvolvimento dos habitantes e da
sociedade começava precisamente com uma escola onde todos os meninos e meninas
recebiam instrução. Mas, para generalizar a escola a todas as crianças, era preciso faltava
uma organização com um plano de estudos sequencial e métodos pedagógicos
apropriados. Assim, em 1512, Erasmo publicou o seu Plano de Estudos e de Leitura e
Interpretação de Autores e, em 1523, foi a vez de João Luís Vives escrever a sua
Pedagogia Pueril. Um século depois, Coménio desenvolveu um método que parte dos
conceitos mais simples para chegar aos mais abrangentes, como se pode ler na sua
Didactica Magna ou Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, em 1649 e, já
no século XVIII, a Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs (fundada por João Batista
de La Salle para se dedicar à “educação dos filhos dos artesãos e dos pobres”) organizava
o processo de ensino pelo método coletivo de ensinar a todos como um só, assim como
adotava o uso da língua materna para o estudo das diversas matérias. No Guia para
Escolas Cristãs, editado pela primeira vez em 1720 a partir de um manuscrito de 1706,
La Salle propõe a organização do ensino em “lições” e “secções ou níveis” e, ao mesmo
tempo, preconiza que esta divisão do trabalho escolar seja suportada por estruturas
flexíveis que facilitem a repartição dos alunos de tal modo que cada um possa integrar-se
no grupo que melhor convém à sua situação (Lauraire, s/d, p. 3).
Faltava, no entanto, o impulso político que a criação dos sistemas educativos nacionais
viria a emprestar a esta ideia de generalização da educação escolar a todos os cidadãos,
agora subordinada ao grande objetivo da formação do cidadão e da ideia de pátria. Como
preconizava Rousseau (1712-1788), nas Considerações sobre o Governo da Polónia, “é
a educação quem deve dar às almas a força nacional, assim como dirigir de tal maneira
as suas opiniões e os seus gostos que cheguem a ser patriotas por inclinação, por paixão,
por necessidade” (1988:68). Acrescentava ainda este autor que “todos devem ser
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
educados conjuntamente e da mesma maneira” e que, “se não pode estabelecer-se uma
educação pública inteiramente gratuita, ao menos será necessária pô-la a um preço
acessível aos pobres” (1988, p. 70).
Barroso (1998) exemplifica como o ensino primário não graduado (espécie de cursos
livres) procurou alternativa pedagógica ao modo individual de ensino e passou pela opção
do modo simultâneo (século XVIII) e do modo mútuo (século XIX), recorrendo à divisão
do trabalho dos alunos, à especialização das funções docentes, à seriação do espaço, do
tempo, dos saberes e dos alunos e fazendo do princípio da uniformidade uma das marcas
distintivas da cultura escolar. Por sua vez, Fernandes (1992) mostra também a
uniformização e normativização do currículo, da pedagogia e da avaliação na emergência
da instrução secundária (séc. XIX), sublinha a garantia mínima de qualidade que foi
introduzida e constata que, já no período liberal, se tornou problemática “a congruência
entre a organização do sistema educativo e as finalidades políticas da educação escolar”
(1992, p. 436).
No século XIX ficaram, pois, estabelecidas as “bases da gramática da escola” atual, cuja
continuidade “frustrou gerações de reformadores que sonharam alterar estas formas
estandardizadas” de divisão escolar do tempo e do espaço, classificação dos alunos e sua
distribuição pelas classes, agrupamento por disciplinas, concessão de graus e certificação
de aprendizagens curriculares (David Tyack e Larry Cuban, cit. in Barroso, 2001;
Formosinho & Machado, 2009; Cabral, 2014).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A enunciação destas finalidades põe em evidência quão continua por cumprir parte
substancial da ideia utópica de Coménio quando prometia uma Arte Universal de Ensinar
Tudo a Todos de forma eficaz, rápida e sólida, isto é, uma arte com a qual “seja impossível
não conseguir bons resultados”, obtidos “sem nenhum enfado e sem nenhum
aborrecimento para os alunos e os professores” e que a instrução seja formativa e “não
superficialmente e apenas com palavras”. A primeira finalidade, contrariando “a
subordinação funcional da educação escolar à racionalidade económica vigente”, afasta-
se de “uma conceção molecular e transmissiva da aprendizagem, evoluindo da repetição
da informação para a produção de saber” (Canário, 2008, p. 87). A segunda finalidade
associa o gosto por aprender ao seu “valor de uso para ‘ler’ e intervir no mundo
[motivação intrínseca] e não aos benefícios materiais ou simbólicos que promete no
futuro [motivação extrínseca]” (p. 87). A terceira finalidade, pugna por uma “escola
democrática”, uma escola concebida como organização “onde se vive a democracia, onde
se aprende a ser intolerante com as injustiças e a exercer o direito à palavra, usando-a
para pensar o mundo e nele intervir” (p. 88).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
concorrência internacional. Esta perspetiva ganha hoje outra legitimidade política, quando
Piketty (2014), analisando na longa duração os desequilíbrios entre o capital e o trabalho,
afirma que “a longo prazo, a principal força motriz que verdadeiramente tende para a
igualdade das condições é a difusão do conhecimento e da qualificação” (2014, p. 43).
A escola tradicional está, pois, talhada para a seleção dos “mais capazes”, regulada pelas
aptidões, pelas vocações e pelo mérito de cada um. Por outras palavras, o mérito, que se
refere ao talento intelectual de cada um e, por isso, seria entendido como um dom, é
reduzido na escola tradicional à soma do talento intelectual natural e do esforço individual
(Young, 2008) e, como denuncia a teoria da reprodução social, nela vem a ser legitimação
ética das desigualdades sociais. Os mecanismos de seleção escolar fazem do fracasso
escolar a evidência do “não merecimento” e de “culpa” individual (Tognon, 2017) ao
mesmo tempo que iliba a escola de qualquer responsabilidade e afasta a ideia da
necessidade de encontrar respostas alternativas à reprovação e à repetição, que ela mesma
instituiu.
Ora, o que preconiza a escola inclusiva é a atenção e valorização das diferenças, enquanto
“valor estruturante do sistema educativo” e “recurso da sociedade democrática” (Barroso,
1998:9). E, por isso, exige a conciliação do ensino de todos e a aprendizagem de cada um
através da implementação da flexibilidade curricular e da diferenciação pedagógica.
Deste modo, as orientações normativas estimulam atualmente a promoção de uma
pedagogia diferenciada em aula, o ensaio de modos distintos de agrupar os alunos, a
proposta diferenciada de atividades e projetos, a organização das condições temporais e
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Neste modelo centralizado, as normas pedagógicas acabam por ser reduzidas a normas
burocráticas, a formulação geral do currículo cabe exclusivamente ao ministério que, por
sua vez, entrega a grupos de especialistas a formulação dos programas de cada disciplina
e incumbe as escolas, os seus órgãos e os seus professores, da implementação.
Várias foram as medidas que, entretanto, pretenderam romper com este modelo que faz
do professor um simples executor e mediador técnico do currículo prescrito. Valorizando
a ação da escola e dos seus professores, as medidas mais descentralizadoras valorizam a
autonomia organizacional daquela e a autonomia profissional destes. Mas esta
valorização implica responsabilidade e responsabilização, de tal modo que, num primeiro
nível de análise, é associada a um sentimento de perda da autonomia individual do
professor face à direção da escola e da autonomia coletiva face à comunidade local. Na
verdade, no quadro do sistema público de ensino a “autonomia das escolas” é relativa e
instrumental. Como escreve João Barroso (1996), por um lado, ela “é sempre uma
autonomia relativa, uma vez que é condicionada quer pelos poderes de tutela e de
superintendência do governo e da administração pública quer do poder local no quadro
de um processo de descentralização” (2008, p. 111) e, por outro lado, o seu reforço “não
constitui um fim em si mesmo, mas um meio de as escolas prestarem, em melhores
condições, o serviço público de educação” e, por isso, como também adverte o mesmo
autor, esse reforço deve garantir, em primeiro lugar, a “subordinação da autonomia da
escola aos interesses da formação das crianças e dos jovens de acordo com os princípios
constitucionalmente definidos e em função das especificidades locais” e garantir, em
segundo lugar, o “respeito pelo campo profissional dos professores, em particular no que
se refere à tecnicidade dos seus saberes e à responsabilidade que devem ter sobre os
‘meios de produção’ escolar, nomeadamente ao nível da organização pedagógica e dos
modos de ensino” (2008, p. 113).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
do que o artefacto legislativo que o determina e requer mais autoria que ação em
conformidade, assim como pressupõe a opção por um padrão de trabalho que requer a
cooperação dos pares e destes com outros profissionais no quadro de lógicas de trabalho
em rede e de respeito pela individualidade de cada um.
É na busca deste modelo organizativo “flexível no que se refere aos espaços, horários,
métodos” e requerendo a diversidade de constituição dos grupos de alunos e a adaptação
dos horários às tarefas e aos objetivos de aprendizagem, que se inscreve o projeto de
inovação educacional dos jesuítas da Catalunha. Este modelo faz deslocar o centro do
ensino para a aprendizagem e, ao lado de um modelo baseado no ensino por disciplinas,
“promove o trabalho por projetos, acentua a aprendizagem experiencial, através de
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Esta inovação visa concretizar os três planos de ação em que, segundo Canário (2008),
deve incidir a ação de transformação da escola:
O alcance desta inovação faz Azevedo (2016) anunciar que “há uma brecha no dique”,
perspectiva esta que é testemunhada pelas narrativas de professores portugueses que
visitaram nove destas escolas (Alves & Cabral, 2017), cujos factores de sucesso são: o
foco nos aprendentes e na educação integral de cada um, um currículo com tempos para
o ensino das matérias disciplinares e tempos para o desenvolvimento de projetos de
natureza interdisciplinar e transdisciplinar, espaços amplos com capacidade para acolher
grandes grupos, tempos alargados que facilitam o trabalho de projeto e outras
metodologias ativas, o uso de tecnologias digitais, modos diversos de agrupar os
aprendentes, constituição de equipas docentes e implementação de modalidades de ensino
em equipa (Alves e Cabral, 2017, p. 6-9).
Contudo, não dispomos hoje de dados suficientes para determinar os efeitos desta
“brecha” na “reestruturação” da escola, para além de constatarmos o facto de a inovação
incluir alterações profundas na organização pedagógica e curricular da escola, acolhendo
assim e dando coerência a princípios que estão na base de um conjunto de orientações e
medidas postas em ação pelos sistemas educativos mais avançados com vista a esbater a
pedagogia tradicional e concretizar a diversificação curricular e a diferenciação
pedagógica (Perrenoud, 2007, p. 50-51; Machado, 2017).
Esta inovação extravasa o alcance de todas as outras porque não se circunscreve a uma
sala, a um professor ou a uma escola. Ela abrange uma rede de escolas e leva já uma
dezena de anos de preparação, seja da arquitetura das salas e da adequação do mobiliário,
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
seja de uma larga equipa de profissionais que lidera o processo. Suscita, por isso, muitas
expetativas junto daqueles que têm pugnado por alterações estruturais sustentáveis
noutras escolas dos diferentes sistemas nacionais, procurando contrariar o que “a
experiência mostra”, isto é, “que a escola é muito dificilmente modificável a partir da sua
própria lógica” (Canário, 2008, p. 88).
Também por isso, a verificar-se o sucesso da rede de escolas jesuítas da Catalunha e dos
seus profissionais, ele dará conta de uma “boa prática” de intervenção na organização
pedagógica com impacto no modo tradicional de ser e fazer escola.
Conclusão
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Contudo, como todas as utopias, a sua realização não cumpre todas as promessas do sonho
inicial, movido pela conceção de igualdade dos cidadãos. Por isso, a utopia se desloca e
exige hoje a alteração do modo escolar de produzir a igualdade. A teoria da reprodução
assinala à escola a distopia da reprodução das desigualdades sociais e os movimentos de
renovação pedagógica assinalam a injustiça de um tratamento uniforme para pessoas que
são distintas. Estas denúncias justificam as diferentes propostas de diversificação
pedagógica e flexibilização curricular, cujas realizações põem em evidência a
necessidade de uma organização coerente do processo de ensino que promova a igualdade
através de processos mais ajustados. Para isso, é preciso romper com o modus operandi
do modelo burocrático e fabril.
Esta rutura não se processa apenas com o ato legislativo que “permite” a cada escola um
conjunto de dispositivos de flexibilização curricular. Ela carece de um processo de
construção em cada escola, onde se jogam as capacidades individuais e a capacidade
coletiva para ensaiar as “novas” possibilidades legalmente “permitidas”, aprender com
eventuais erros de percurso e celebrar os seus êxitos. Mas convém não esquecer as
“lições” das experiências já ensaiadas nas últimas décadas e da (relativa) incapacidade do
modelo tradicional para as incorporar sem neutralizar as finalidades que estão na base das
suas realizações.
Referências bibliográficas
Alves, J. M. & Cabral, I. (Orgs.) (2017). Uma outra escola é possível. Mudar as regras
da gramática escolar e os modos de trabalho pedagógico. Porto: Faculdade de Educação
e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa
35
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Formosinho, J., Alves, J. M. & Verdasca, J. (org.) (2016). Uma Nova Organização
Pedagógica da Escola: Caminhos de possibilidades. V. N. Gaia: Fundação Manuel Leão.
Formosinho, J.; Machado, J. (2009). Equipas Educativas. Para uma nova organização
da escola. Porto: Porto Editora.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Lauraire, L. (s/d). O Guia das Escolas Cristãs: Projeto de Educação humanista e cristã.
Em
http://www.irmaosdelasalle.org/public/uploads/irmaos/881908cfe343665f6c60383ef535
a7b2.pdf.
Young, M. (2008). The rise of the democracy. New Brunswick: Transaction Publishers
37
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Rosa Valls-Carol2
Mar Prados-Gallardo3
Antonio Aguilera-Jiménez4
Resune
1
Texto das autoras, inicialmente publicado em INVESTIGACIÓN EN LA ESCUELA, 2014, pp. 31-43.
Sevilha.
2
Rosa Valls-Carol. Departamento de Teoría e Historia de la Educación. Facultad de Pedagogía de la
Universitat de Barcelona
3
Mar Prados-Gallardo. Departamento de Psicología Evolutiva y de la Educación. Facultad de Ciencias de
la Educación de la Universitat de Sevilha. C/Pirotecnica, s/n, 41013 Sevilha
4
Antonio Aguilera-Jiménez. Departamento de Psicología Evolutiva y de la Educación. Facultat de
Psicología de la Universidad de Sevilha. C/Camilo José Cela. s/n, 41018 Sevilha
38
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
El contexto
Objetivos
El objetivo general de INCLUD-ED ha sido identificar las estrategias educativas que contribuyen
a superar las desigualdades y promueven la cohesión social, así como aquellas otras que generan
mayor exclusión.
Se estructuró en seis subproyectos, más un séptimo que supuso la integración de todos ellos,
cada uno de los cuales perseguía un objetivo específico (Valls y Mulcahy, 2012). Aquí se
presentan algunos de los principales resultados del proyecto de integración, su principal
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Metodología
Para alcanzar estas metas se ha realizado una revisión exhaustiva de la literatura científica
internacional, de documentos legislativos de los estados miembros de la Unión Europea (a
excepción de Bulgaria), de los resultados de los mismos en las evaluaciones educativas
internacionales – como PISA, PIRLS, TIMSS –, y de otras fuentes secundarias. Se han
desarrollado veinte estudios de caso en centros de educación infantil, primaria, secundaria,
formación profesional y programas de educación especial. Se han realizado seis estudios
longitudinales, de cuatro años, en centros que cuentan con una participación relevante del
entorno. Se han elaborado encuestas y estudios estadísticos con ONG, así como entrevistas y
relatos de vida a personas de perfiles diversos: grupos vulnerables, profesionales, responsables de
la Administración, etc. También se han establecido grupos de trabajo con diferentes colectivos,
como profesorado universitario de formación del profesorado o profesorado de diferentes niveles,
y un panel de expertos, que han permitido validar periódicamente los resultados obtenidos.
Todas las técnicas utilizadas se pueden consultar en Final INCLUD-ED Report (2012: 13-15).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
universal y transferible. Es decir, se trata de actuaciones que han demostrado buenos resultados en
diferentes contextos. Pueden ser transferidas a diferentes contextos geográficos, niveles educativos
y entornos socioeconómicos y culturales. La transferencia no significa necesariamente la
repetición literal y acrítica de una receta, sino que implica identificar sus aspectos más relevantes y
su recreación con los recursos y condiciones concretas de un centro o contexto determinado.
Por otro lado, mientras que en las “prácticas educativas de éxito” el acento se pone en que
mejoran los resultados escolares, en las “buenas prácticas” se enfatiza el proceso seguido o su
carácter innovador. En este sentido, es posible encontrar “buenas prácticas” que no se vinculan
con buenos resultados o que incluso reproducen la exclusión o segregación social.
Siguiendo a Ojala y Padrós, podemos agrupar en dos grandes bloques las “actuaciones educativas de
éxito” identificadas en INCLUD-ED: a) actuaciones inclusivas y b) la participación de las familias
y la comunidad (ver tabla 1). En los apartados siguientes profundizaremos un poco más en estas
prácticas educativas de éxito.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Los grupos mixtos se corresponden con la organización tradicional del aula en la que un
conjunto heterogéneo (en edad, cultura, religión, nivel de conocimientos, etc.) de chicos y
chicas son atendidos en una misma aula por un único docente. Si esta forma de agrupar al
alumnado no suponía grandes dificultades cuando el grado de heterogeneidad era mínimo (bien
por la homogeneidad de la sociedad en su conjunto, bien porque cada paso de un curso al
siguiente era una selectividad que expulsaba a los “malos alumnos” del sistema, o por cualquier
otra razón), en los últimos años, la ampliación de la enseñanza obligatoria y la creciente
diversidad cultural ha incrementado la heterogeneidad en las aulas aumentando las dificultades
para que un solo docente pueda asegurar la calidad educativa de todo el alumnado. Como
consecuencia algunos niños y niñas no adquieren los conocimientos instrumentales básicos,
acaban asistiendo a clase sin enterarse de nada y, ante el aburrimiento, la falta de aprendizaje y
la pérdida de sentido, pueden llegar a optar por generar desórdenes y conflictos en clase, o por el
absentismo.
Como respuesta a esta creciente diversidad de estos grupos mixtos, y la imposibilidad de que un
único docente pueda atenderla, se puede optar por resolver el problema reduciendo la
42
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
heterogeneidad del aula. Surgen así los agrupamientos homogéneos (streaming) (Duque, Holland
y Rodríguez, 2012).
Si reducir la heterogeneidad es una respuesta (ineficaz, como hemos visto) al problema que plantean
los grupos mixtos, la otra es mantener la heterogeneidad incrementando los adultos en el aula. Y en
esto consisten los grupos inclusivos. Una escuela inclusiva no es sólo la que atiende a la
diversidad de estudiantes manteniendo unas formas organizativas tradicionales, pensadas para
grupos homogéneos, sino aquella que, para que dicha respuesta a la diversidad sea adecuada, modifica
las estructuras escolares.
Así, en las aulas inclusivas se trabaja con grupos heterogéneos de alumnos y alumnas, ya sea en
una misma clase o en aulas diferentes, es decir, sin realizar ningún tipo de separación por niveles
educativos. Pero, al mismo tiempo, esta modalidad de agrupamiento implica redistribuir los
recursos humanos que tiene el centro (p.e. docentes de apoyo, los que están de guardia, etc.) y los
que se puedan buscar fuera del centro (p.e. familiares, voluntariado,…) para que haya más
adultos dentro del aula. De este modo, el alumnado con mayores dificultades no recibirá
43
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
conocimientos diferentes (de menor calidad) a los del alumnado más aventajado, sino que cada
uno recibirá, dentro del aula, los apoyos que necesite para alcanzar los mismos aprendizajes.
Por otra parte, en estas aulas inclusivas se potencia, además, la ayuda mutua y la solidaridad entre
el alumnado para la mejora del aprendizaje de todo el grupo, favoreciéndose el aprendizaje
instrumental y el desarrollo emocional, la autoimagen y la autoestima del alumnado, así como
la solidaridad que se va construyendo también entre las familias (Duque, Holland y Rodríguez,
2012; García y Yuste, 2012). Esto incluye también al alumnado con discapacidad (Molina y
Christou, 2012) que se beneficia tanto en el aprendizaje como en su socialización.
Los grupos interactivos son una de las formas de agrupación inclusiva en el aula que, según los
resultados del proyecto INCLUD-ED, tienen una gran capacidad de generar éxito educativo
(Martín y Ortoll, 2012). Responden a una concepción dialógica del aprendizaje (Flecha,
1997; Aubert y otros, 2008; Racionero y otros, 2012) basada en aportaciones como la de
Vygotski (1979), en las que se destaca la dimensión social del aprendizaje.
Para trabajar en grupos interactivos el grupo aula se divide en grupos heterogéneos de unos
cuatro o cinco alumnos/as cada uno, asegurándose el profesorado de que en cada pequeño
grupo hay alumnos/as que poseen mayores y menores facilidades para la puesta en práctica de
la materia o asignatura a trabajar, también representantes de los diferentes grupos culturales que
hay en el aula, etc. En el aula participan tantas personas adultas como grupos se han constituido.
El profesor o profesora diseña tantas tareas como grupos haya en el aula y cada adulto es
responsable de apoyar a los alumnos y alumnas en la realización de una de las tareas. Éstas
vienen a tener una duración de unos 15 minutos de tal modo que, a lo largo de una sesión, cada
grupo ha realizado un mínimo de 4 tareas, al mismo tiempo que interactúan entre ellos y con los
adultos.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
apuntaban Doise, Mugny y Perret-Clermont, (1975) o Mercer, (1997) cuando nos encontramos en
la situación de explicar a otra persona algo, necesitamos hacer una reelaboración cognitiva de cara
a nuestra argumentación, lo cual revierte en nuestro propio aprendizaje.
Con la incorporación a los grupos interactivos de familiares y otros adultos se otorga más
valor y da más sentido al trabajo escolar. De esta forma, a diferencia de lo que sucede con las
prácticas segregadoras (grupos mixtos y grupos homogéneos), los grupos interactivos mejoran los
resultados académicos del alumnado, las relaciones interpersonales y de amistad y la convivencia
en los centros escolares en los que se llevan a cabo (Elboj, et al., 2002; Flecha, 2009; Flecha,
García y Rudd, 2011). Gatt, Puigdellívol y Molina, 2010 han mostrado, además, los resultados
muy positivos para el alumnado con discapacidad de los grupos interactivos.
Ampliar el tiempo de aprendizaje supone una mejora de los resultados escolares y una mayor
cohesión entre los miembros de la comunidad educativa. Algunos modos en que se puede llevar
a cabo son las bibliotecas tutorizadas, las tertulias dialógicas, los clubes de deberes fuera del
horario escolar o las clases de lectura materna, entre otras.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Las tertulias literarias dialógicas (Valls, Soler y Flecha, 2008) son actividades en las que se
comparten las reflexiones, dudas y opiniones de un grupo sobre la lectura de textos de alto
valor cultural y literario. Actualmente se realizan en espacios y ámbitos muy diferentes: centros
de personas adultas, asociaciones, centros penitenciarios, universidades, y también en centros de
Educación Primaria y Secundaria (Racionero y Brown 2012). Sus dos elementos clave, presentes
en cualquiera de los contextos señalados, son el uso de obras clásicas de la literatura universal
(adaptaciones adecuadas a las etapas educativas iniciales y originales a partir de secundaria) y el
diálogo igualitario (Racionero y Brown, 2012).
La tertulia se desarrolla poniendo en común párrafos que han llamado la atención o suscitado
alguna reflexión en la lectura individual previa. Suelen hacerse sesiones semanales en las que
se comentan los capítulos que se acuerden del libro elegido. Después de que un alumno o alumna
(o adulto) lea el párrafo que ha seleccionado, los demás exponen su interpretación del mismo
a fin de profundizar en el texto y no porque sea necesario llegar a una interpretación de
consenso. En las tertulias literarias dialógicas se estimula también que los participantes
relacionen lo que leen con experiencias personales que puedan ser objeto, igualmente, de las
reflexiones del grupo y ocasión de compartir la vida, generando vínculos de amistad y cohesión
más fuertes.
La biblioteca tutorizada es una forma de extensión del tiempo de aprendizaje identificada por
INCLUD-ED como actuación educativa de éxito. Consiste en mantener abierta esta dependencia
del centro una vez terminado el horario escolar, para que los chicos y chicas puedan acudir a
hacer sus deberes, a leer o estudiar, incluso para que pueda ser usada por todas las personas del
entorno como “la biblioteca del barrio”. Para ello se cuenta con la colaboración de familiares o
voluntariado que se responsabilizan de atenderla y que pueden ayudar a los escolares en sus
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
tareas. El hecho de contar con un apoyo que posiblemente no puedan encontrar en sus domicilios
supone una optimización de recursos disponibles que contribuye a la aceleración de los
aprendizajes y a la mejora del rendimiento académico. También mejora la formación de las
familias, que tienen un acceso a la lectura que de otra manera no tendrían, y la relación entre las
familias y miembros de la comunidad que sostienen la biblioteca tutorizada, y entre estas personas
y el profesorado (Formosa y Ramis-Salas, 2012).
Otra de estas experiencias, también encontrada en Malta y en Finlandia, son los Clubes de
deberes y los clubes después de las horas de colegio (after-school hours clubs), en los que
familiares, niños y niñas se quedan en la escuela después del horario lectivo, con un educador
profesional, para trabajar diferentes contenidos curriculares, hacer los deberes o reforzar ciertas
materias que lo necesiten. Entre los beneficios de estas actuaciones, además de la mejora de
aprendizaje, se encuentran que: a) las familias y el profesorado intercambian información acerca de
los mejores modos de ayudar a los chicos; b) cuando los familiares participan en estos espacios de
aprendizaje junto a sus hijos e hijas, ganan también habilidades y confianza para poder ayudarlos más
en casa; y c) se incrementa la participación de las familias en la vida del centro, lo que a su vez
mejora la cohesión de la comunidad escolar (Formosa y Ramis-Salas, 2012).
Un caso que merece ser destacado es el de Finlandia (Leinonen y Niemelä, 2012), donde la
realización de deberes en casa está muy relacionada con el éxito escolar. Esto causa problemas a
los estudiantes que no pueden contar con el apoyo y la ayuda de sus padres. Para resolver este
problema los ayuntamientos han organizado un sistema de apoyo extraescolar para hacer las tareas
y que consiste en que algunas bibliotecas mantienen por las tardes un espacio conocido como
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
“ayuda para los deberes”, en el que un trabajador de la biblioteca asesora a los niños para que
encuentren la información necesaria para los trabajos de la escuela y les aconseja sobre materias
relacionadas con las tareas. También colaboran en propuestas como esta algunas ONG como la
Cruz Roja finlandesa que organiza “clubes de ayuda para deberes”, que se reúnen en escuelas o en
otros espacios públicos, como las “casas de la juventud” o “centros cívicos”. También suelen
participar estudiantes de Magisterio y docentes jubilados que quieren mantenerse en contacto con
la vida escolar.
Los clubes de lengua materna en preescolar y primaria es otra práctica que se lleva a cabo en
Finlandia, donde la enseñanza de la lengua materna del alumnado inmigrante es obligatoria por
ley (Leinonen y Niemelä, 2012) ya que se considera fundamental para el desarrollo de la identidad
multicultural y de la autoestima positiva del niño y para prevenir su exclusión social (Vedder,
Bouwer y Pels, 1996). Las prácticas inclusivas conllevan, además de ofrecer clases de lengua
materna, disponer en las aulas de materiales en distintos idiomas (en algunas ciudades hay hasta
30 idiomas distintos), publicar documentos en los idiomas nativos de las personas inmigrantes
y facilitar intérpretes para los padres y los niños si fuera necesario.
Las clases de lengua del país de destino a las familias inmigrantes son, por otra parte,
una forma de ayudar a su inclusión. Así, en Chipre, el Ministerio de Educación ofrece
clases vespertinas de conversación en griego y en otros idiomas extranjeros. También en
Italia se imparten clases de lengua italiana para las familias de alumnos inmigrantes con el
respaldo del Ministerio de Educación y en cooperación con organizaciones locales. Estas
actuaciones ayudan a promover la inclusión de las familias, que, de no ser así, quedarían
excluidas a causa de su lengua materna extranjera (Eurydice, 2005).
Por último, otra modalidad de extensión del tiempo de aprendizaje es la que podríamos
denominar “escuelas de fin de semana”. El centro educativo cede sus instalaciones para que
asociaciones comunitarias puedan desarrollar durante los fines de semana actividades educativas
informales como son las deportivas, lúdicas, recreativas, etc. Un buen ejemplo de desarrollo de
este tipo de propuestas es el Centro Finde, del CEIP “La Paz” de Albacete (Girbés y Rovira,
2012).
Es importante terminar este apartado señalando que la gran mayoría de las modalidades indicadas
de extender el tiempo de aprendizaje están abiertas a todo el alumnado y a todas las familias (y no
solo para el que tiene más dificultades). Así se fomenta la colaboración entre niños y niñas de
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
perfiles muy diversos y ello repercute, de nuevo, tanto en la mejora de los resultados de unos y
otros como en la creación de un clima de solidaridad y cohesión tanto en el aula como fuera de
ella.
Son muchas las investigaciones que han señalado los beneficios de la participación de las
familias en las escuelas (Epstein, 2004; Ho y Willms, 1996, entre otras.). Sin embargo,
“participar” no es una realidad unitaria. Uno de los resultados de INCLUD-ED es la
identificación de distintos niveles de participación, cada uno de ellos con diferentes
consecuencias en el éxito educativo de los alumnos y alumnas así como en otras áreas de la
sociedad, como la salud, el trabajo, la vivienda y la participación social (Gatt y Petreñas, 2012).
1. Informativa ● Las familias reciben información sobre las actividades escolares, el fun-
cionamiento del centro y las decisiones que ya han tomado.
● Las familias no participan en la toma de decisiones del centro.
● Las reuniones de padres y madres consisten en informar a las familias
sobre dichas decisiones.
2. Consultiva ● Las familias tienen un poder de decisión limitado.
● La participación se basa en consultar a las familias.
● La participación se canaliza a través de órganos de gobierno del cen-
tro.
3. Decisoria ● Los miembros de la comunidad participan en los procesos de toma de
deci- siones, teniendo una participación representativa en los órganos de
toma de decisiones.
● Las familias y los miembros de la comunidad supervisan la rendición de
cuen- tas a la escuela sobre el resultado académico
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
En las escuelas de éxito se tiene conciencia clara de que su papel va más allá de formar al
alumnado, para incluir una oferta de formación para sus familias y personas del entorno desde
el convencimiento de que esta formación de los adultos va a repercutir en el apoyo que pueden
dar a sus hijos o hijas, en su relación con el colegio.
Muchos docentes viven cada día la repercusión que los contextos sociales y familiares tienen
en el aprendizaje de sus alumnos. Sin embargo, lejos de ser una explicación del fracaso escolar
que exima de responsabilidad a la escuela, dichos contextos deben ser una diana de su actuación
para modificarlos y, consecuentemente incrementar el éxito escolar del alumnado. Por otra parte,
no son pocos los estudios que insisten en la correlación existente entre el nivel académico de los
padres y madres y los resultados escolares de sus hijos, pero ni “correlación” significa “relación
causal” ni hay que esperar a que todos los padres tengan un título universitario para evitar el
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
fracaso escolar de los hijos. La clave está en las pautas educativas presentes en los diferentes
contextos en los que se desarrolla la vida del escolar y estas pueden ser transformadas.
En este sentido, los resultados de INCLUD- ED aportan evidencias de que la participación de las
familias en actividades formativas puede superar la barrera que supone tener un bajo nivel de
estudios, pues, como apuntan García y Yuste, (2012), cuando las familias aprenden a la vez
que sus hijos, además de la adquisición de nuevos conocimientos, se producen cambios
en muchos detalles de la dinámica diaria en casa y de la relación con la experiencia
escolar (p. 59).
Es importante apuntar que las actividades de formación (uso de las TIC, idiomas, alfabetización,
matemáticas, tecnologías, arte...) que se desarrollan en los centros de éxito estudiados en INCLUD-
ED están dirigidas a todos los miembros de la familia (no sólo padres y madres). Además, el
criterio principal para la elección de unas u otras actividades es el de responder a las demandas e
intereses de las propias familias, las cuales también participan en la organización y horarios
(García y Yuste, 2012).
Siguiendo a estas mismas autoras, entre los beneficios de la formación de familiares se pueden
destacar los siguientes: a) aumentan las posibilidades de ayudar a sus hijos e hijas a hacer los
deberes, aconsejarles sobre temas académicos, etc; b) al estar ellos aprendiendo, transmiten a sus
hijos e hijas una valoración positiva del hecho de aprender; c) cogen libros en casa, preguntan por
los deberes, comentan las clases de unos y otros; d) mejoran los resultados académicos de los niños
y niñas; e) ayudan a fomentar en sus hijos hábitos de estudio y motivación hacia las tareas
académicas; f) mejoran las relaciones con el centro y el con el profesorado; g) amplían las
expectativas respecto al futuro educativo de sus hijos e hijas generando en ellos aspiraciones para
seguir estudiando en etapas posteriores; h) la formación les aporta más oportunidades en el
mercado del trabajo; i) la formación de las familias favorece un mejor acceso a los recursos y a la
información que se ofrecen en los servicios sociales, centros médicos, etc.; j) se generan más
posibilidades de implicación en otros espacios sociales del barrio más allá del propio centro
educativo: asociación de vecinos, centros cívicos, plataformas reivindicativas, etc. En definitiva, los
familiares que participan en actividades de formación mejoran tanto sus habilidades y
conocimientos como los de sus hijos e hijas. La formación de las familias permite contradecir la
interpretación fatalista de las estadísticas que vinculan nivel educativo de los progenitores a
resultados académicos.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Conclusiones
Entre los años 2006 y 2011, el proyecto INCLUD-ED ha revisado las teorías científicas más
relevantes para la mejora de los aprendizajes y de la convivencia escolar así como las políticas
y prácticas educativas de éxito en la lucha contra la exclusión escolar y social. Los resultados
han destacado la importancia para la mejora de los sistemas educativos de las concepciones
dialógicas del aprendizaje así como las prácticas que, basadas en ellas, apuntan en dos
direcciones: a) el desarrollo y la profun- dización de las estrategias de inclusión y b) la
colaboración de los centros escolares con las familias y otros agentes comunitarios en la tarea
educativa que se desarrolla, tanto en la escuela (educación formal) como fuera de ella (educación
no formal, e informal).
En estos tiempos convulsos de cambio de sociedad, todas las instituciones deben reencontrar
su papel, su misión, y las nuevas formas de alcanzarlo. La escuela no puede ser una excepción;
nacida en la Sociedad Industrial para dar respuesta a las necesidades de dicha sociedad, debe
transformarse en otra cosa que dé respuesta a unas exigencias distintas propias de la Sociedad de
la Información. En este textose avanzan algunas características que pueden ayudar a la construcción
de esa nueva escuela, propuestas que se hacen no a partir de ocurrencias, sino de las evidencias
científicas que ha puesto de manifiesto la investigación con más recursos y de más envergadura
sobre educación escolar de todos los Programas Marco de Investigación Europea hasta el momento:
el proyecto INCLUD-ED.
Referencias
AUBERT, A.; FLECHA. A.; GARCÍA, C.; FLE- CHA, R. y RACIONERO, S. (2008).
Aprendizaje dialógico en la Sociedad de la Información. Barcelona: Hipatia.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resumo
A reflexão desenvolvida neste texto é o princípio de uma demanda feita em conjunto por
uma comunidade educativa, que procura assumir a responsabilidade de construir um
modelo educativo diferente, centrado na pessoa e nas respostas de que necessita. Durante
estes dois anos, olhámos para a Administração do Agrupamento, para o Currículo, para a
Organização Pedagógica e Administrativa e para a Gestão de Recursos e encontramos
outros caminhos para as transformações que, necessariamente, terão de acontecer na
escola. A primeira lição está aprendida: apenas juntos será possível.
1 - Território Educativo
Em Óbidos temos procurado fazer um caminho que conduza a uma maior autonomia da
Escola. Num primeiro passo, definimos uma rede educativa intimamente ligada a uma
visão de desenvolvimento económico e urbano do território, através da construção de três
Complexos escolares estrategicamente localizados no território de Óbidos e da requalifi-
cação da EB2,3/S Josefa de Óbidos. Com estes novos equipamentos e a requalificação
dos jardins-de-infância, em simultâneo com a abertura de uma rede de creches, vincamos
a necessidade de criar uma rede educativa que permitisse uma equilibrada sequenciali-
1
Município de Óbidos, Gabinete de Educação
2
Adjunto do Diretor, Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos
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do saber, abandonado a atitude passiva de ouvinte, para a qual muitas vezes era convi-
dado.
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3
No âmbito da implementação de projetos, experiências e inovações pedagógicas, em função dos recursos
humanos disponibilizados e da definição de dispositivos de promoção do sucesso escolar e de estratégias
de apoio aos alunos, o Município, em parceria com o Agrupamento estabeleceu um protocolo de cooperação
com a Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Psicologia do Porto.
4
Durante o presente ano letivo, não foi possível iniciar a formação com o Pré-escolar. Está prevista e
agendada para o próximo ano, no âmbito deste protocolo, uma formação com todas as Educadoras.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
que o tradicional espaço da sala de aula com todos os alunos sentados a ouvir o professor
poderia ser pensado de outra forma. Criamos, assim, outros cenários de aprendizagem:
sala multimédia, biblioteca, sala TIC, sala Criarte, auditório, ateliê criativo, livrarias e
espaços culturais da vila de Óbidos. Sem percebermos, ainda, muito bem, tinhamos dado
início a um processo de mudança que dá pelo nome de Equipas Educativas.
Outro princípio importante, que foi tido em conta, foram as boas práticas educativas já
existentes no Agrupamento, como a participação em atividades várias de cariz cultural,
desportivo, ambiental, ações no âmbito da promoção da saúde e todas as dinâmicas de
trabalho no âmbito do Ensino Especial.
Estes projetos já implementados na Escola e outros que estão em fase de preparação têm
em comum as premissas de criatividade e inovação, centrando a sua metodologia no aluno
e nas respostas que este necessita, potenciando desta forma, o uso de diferentes modelos
de ensino- aprendizagem que garantem um maior sucesso nas aprendizagens e na aquisi-
ção de competências pessoais e sociais. Todos os projetos estão devidamente articulados
com a matriz curricular do primeiro, segundo e terceiro ciclos, quer através da Oferta
Curricular, quer através de coadjuvações na área de Expressões, quer, ainda, nas Equipas
Educativas, onde são um recurso fundamental para a consecução dos objetivos propostos.
61
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
(i) 1.º Ciclo – Nova área curricular – Equipas Educativas (Todos os Complexos)
– 2H. As horas de Apoio ao Estudo e meia hora de Estudo do Meio vertem
integralmente para esta nova área. No ano letivo 16/17, as Equipas Educativas
têm mais duas horas letivas em coadjuvação, vindas do Inglês, que passou a
curricular nos 3.º e 4.º anos.
(ii) 1.º Ciclo - Oferta complementar / Coadjuvação, ObidosAnima, Story Centre,
MyMACHINE – 1H.
5
No próximo ano letivo, todo o ensino básico estará a trabalhar em Equipas Educativas. Vide, em anexo,
horários das Equipas Educativas nos três ciclos.
62
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
6
O Departamento de Informática do Município faz, neste momento, todas as intervenções relacionadas com
as novas tecnologias em todos os Complexos Escolares e Josefa de Óbidos. Além da competência técnica
para o desempenho destas funções e da prontidão atempada e qualificada, esta parceria permite libertar
recursos humanos no Agrupamento para outras funções tão necessárias à melhoria das aprendizagens.
7
www.escolasobidos.com/website
63
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Todas estas iniciativas foram sempre concertadas com as Associações de Pais e os En-
carregados de Educação. No início do ano letivo, fizemos reuniões gerais por Complexo
Escolar e Escola Josefa de Óbidos com todos os Encarregados de Educação com o obje-
tivo de mobilizar toda a comunidade educativa para este processo de mudança e melhoria
contínua das aprendizagens.
64
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Plano de Formação
Para que tudo isto seja possível, definimos o desenvolvimento profissional de educadores,
professores e demais técnicos como uma prioridade, devidamente, articulada com os
objetivos, com a matriz identitária e com os domínios estratégicos de intervenção do
Plano Estratégico Educativo Municipal e Projeto Educativo. Apostamos num percurso de
aprendizagem permanente, experimentando novas formas ou modalidades de formação
com as Instituições de Ensino Superior e o Centro de Formação de Professores do Oeste.
Em parceria com Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Educação e Psicologia
do Porto, sessenta professores começaram a ação de formação Modelo Integrado de Pro-
moção do Sucesso Escolar. A professora Maria do Céu Roldão ficou responsável pelo
primeiro ciclo. Os professores José Matias Alves e Ilídia Cabral, pelos segundo e terceiro
ciclos. Durante o terceiro período, fizemos mais uma ação de formação para cerca de
dezasseis docentes com os seguintes módulos: Estratégias de ensino, Modelos e práticas
de avaliação pedagógica, Diferenciação pedagógica, Modos de trabalho docente, Disci-
plina e gestão de conflitos.
8
Faculdade de Educação e Psicologia do Porto, da Universidade Católica Portuguesa.
65
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Estamos, agora, em condições de afirmar que se começa a olhar a Escola de uma outra
perspetiva. Durante o último ano letivo, a Equipa Educativa esteve presente nos momen-
tos de planificação do trabalho e foi participativa na tomada de decisões. Foram formados
grupos dentro de cada ano, dentro de cada turma em função das suas dificuldades. Estes
alunos foram organizados por áreas onde manifestavam mais dificuldades e aí permane-
ceram em trabalho colaborativo com os professores até ultrapassarem essas dificuldades.
Houve, igualmente, projetos transversais que eram, paralelamente, desenvolvidos na Bi-
blioteca e no Ateliê Criativo para onde os alunos iam sendo encaminhados. Estes projetos
aconteceram depois de a Equipa Educativa reunir e considerar que eram aquelas as com-
petências necessárias, naquele momento, para aquele grupo de alunos, como por exemplo:
A Literacia da Informação, que foi trabalhada na Biblioteca, fruto dessa reflexão conjunta.
Os docentes fizeram uma grelha onde iam registando todas as anotações consideradas
necessárias à rotatividade dos alunos pelos vários grupos, servindo, ao mesmo tempo, de
guia das aprendizagens. Todos os alunos circularam pelos vários grupos com exceção dos
alunos de necessidades educativas especiais que apresentaram dificuldades mais estrutu-
rais, implicando uma permanência maior nos grupos iniciais, para que se pudessem ultra-
passar as dificuldades diagnosticadas. Os grupos constituídos por um número reduzido
de alunos funcionaram melhor e foi mais fácil acudir às suas dificuldades. Quando os
professores estão focalizados em grupos pequenos, as aprendizagens tendem a ser mais
eficazes.
9
Alves, J.M. & Cabral, I. (2016) Um modelo integrado de promoção do sucesso escolar (Mipse) - A voz
dos alunos. Revista Portuguesa de Investigação Educacional. Universidade Católica Portuguesa, vol.16,
pp.81-113
66
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Pela primeira vez foi uma realidade sentar à mesma mesa com uma periocidade regular
todos os responsáveis pela educação dos alunos: professores, animadores, atelieristas, te-
rapeutas, psicólogos e assistentes sociais. Este modelo pedagógico motiva os alunos a
trabalharem com os colegas de outras turmas, potencia a realização de um trabalho mais
plural, mais diversificado, mais interdisciplinar e tem proporcionado aos docentes um
abandono do manual escolar, principalmente, no que concerne a atividades demasiado
estandardizadas, que são aplicadas a todos os alunos, independentemente, dos ritmos in-
dividuais de aprendizagem. Parece haver um maior envolvimento de todos os docentes,
que se reflete num trabalho mais colaborativo.
Porém, há aspetos que devem ser melhorados, como a disponibilização de mais tempo
para trabalho colaborativo, para planificação conjunta, para a calendarização de ativida-
des, para a definição de critérios de mobilidade entre grupos e sobretudo para poder, cal-
mamente, interpretar o percurso que cada aluno está a fazer. O tempo foi manifestamente
curto. Uma hora não conseguiu acautelar todo o trabalho de planificação, que um projeto
desta natureza reclama e exige. Ficou a sugestão de ano letivo seguinte (16/17), fazer os
horários dos docentes com mais horas de trabalho colaborativo. O primeiro ciclo em De-
partamento Curricular nomeou uma comissão que fez uma proposta coletiva de reorgani-
zação dos horários. A direção participou neste trabalho conjunto e respeitou as sugestões
apresentadas. Esta responsabilidade partilhada no envolvimento da decisão, permitiu, du-
rante este ano letivo 16/17, uma melhor redistribuição dos tempos de trabalho colabora-
tivo. O primeiro ciclo reúne cento e vinte minutos de quinze em quinze dias e o segundo
e terceiro ciclos toda as semanas noventa minutos. Não menos importante, é o momento
das reuniões no horário dos docentes: primeiro ciclo (15H30 – 17H30), segundo ciclo
(14H30 – 16H00) e terceiro ciclo (12H00 – 13H30). Foi um esforço enorme, intraduzível
neste texto, conseguir arrumar estes tempos nos horários dos professores, atendendo a
tantas e complexas especificidades a que o Agrupamento está obrigado. Entendemos, po-
rém, que só desta forma poderá ser feito um trabalho consequente e proveitoso com me-
lhorias nas aprendizagens dos alunos. Dificilmente, se consegue planificar e discutir, se-
riamente, a organização pedagógica de uma Equipa Educativa por volta das 18H00, de-
pois de um dia de trabalho. Pensamos nós.
Há, pois, desta forma, uma predisposição lógica e entendível para se assumir este projeto
com uma maior centralidade no currículo dos alunos e na vida da escola. Esta implicação
67
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Há questões organizacionais que são de difícil resolução e que no nosso entender condi-
cionam o trabalho da Equipa Educativa. Como por exemplo, a inflexibilidade do currí-
culo, a imposição de descritores, metas e outras coisas quejandas na preparação dos exa-
mes nacionais, a dimensão dos programas e a submissão a uma avaliação sumativa de-
masiado normativa.
O trabalho tem sido muito e não é um percurso fácil. Há, como sabemos, nestes tempos
que vivemos um desfasamento entre o que ensinamos e o que os alunos realmente apren-
dem. E, enquanto insistirmos num modelo ultrapassado, vamos continuar barricados à
espera que alguém preencha o vazio que, quotidianamente, mais ou menos em surdina
identificamos, como a solução individual para cada um de nós: tirem-nos daqui. As polí-
ticas educativas têm segregado a sala de aula e continuam em ritmo divergente a acres-
centar conteúdos e metas curriculares aos programas. Não há espaço, nem tempo para um
68
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Muitos outros percursos feitos em Equipa Educativa foram apresentados nas II Jornadas
Pedagógicas e podem ser consultados na publicação Desafios 17 – Cadernos de Transfor-
69
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
mação (novembro 2016) feita em parceria com FEP - UCP10, que contou com a partici-
pação de animadores, atelieristas, psicólogos, técnicos de serviço social, terapeutas, fisi-
oterapeuta técnica superior de educação especial e reabilitação e o Gabinete de Educação
do Município de Óbidos, num total de 47 autores.
Estes são os primeiros passos fruto de um trabalho nem sempre compreendido, num sis-
tema demasiado normalizador, burocrático e pouco dado a autonomias, com perda de
rendimentos e horários de trabalho excessivos. É obra. E como sabemos: A gente vem
perdida e trabalhada. / Já parece bem feito que lhe seja / Mostrada a nova terra que
deseja.11
Nota de Agradecimento
Aos alunos que, desde o primeiro momento, souberam interpretar a mudança e foram
sempre parceiros interessados e entusiastas na descoberta de novos caminhos do saber.
Aos Professores Matias Alves, Ilídia Cabral e Maria do Céu Roldão por nos indicarem o
caminho para a nova terra prometida que tanto desejamos.
A todos, sem exceção, queremos aqui deixar o nosso agradecimento pela entrega e dedi-
cação, muitas vezes fora de horas, à construção de uma sociedade educativa em Óbidos.
10
Vide programa e publicação pela Faculdade de Educação e Psicologia do Porto, da Universidade Católica
Portuguesa, das comunicações apresentadas.
11
Camões, Luís de. (2006). Os Lusíadas. Editora Figueirinhas.
70
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Referências Bibliográficas
Alves, J.M. & Cabral, I. (2016). Um modelo integrado de promoção do sucesso escolar
(Mipse) - A voz dos alunos. Revista Portuguesa de Investigação Educacional. Universi-
dade Católica Portuguesa, vol.16, pp.81-113
Formosinho, J.& Machado, J. (2009) Equipas Educativas – Para uma nova organização
da escola. Porto: Porto Editora.
Oliveira, Miguel & Godinho, Ana (2013). Práticas pedagógicas em Contextos de Parti-
cipação e Criatividade. Folheto Edições e Design
Roldão, M.C (2009). Estratégias de Ensino: o saber e o agir do professor. Porto: Funda-
ção Manuel Leão.
71
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
ANEXOS
08h30
10H00
10H30
12H00
13h30
3ºA
2ºA 4ºA
1ºA 3ºB
2ºB 4ºB
1ºB 3/4ºC
15h30
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
08h30 Equipa Educativa - Arcos Equipa Educativa - Alvito Equipa Educativa - Furadouro
10h00 Equipa Educativa - Arcos Equipa Educativa – Alvito Equipa Educativa - Furadouro
10h20 Equipa Educativa - Arcos Equipa Educativa – Alvito Equipa Educativa - Furadouro
11h50 Equipa Educativa - Arcos Equipa Educativa - Alvito Equipa Educativa - Furadouro
15h30 Equipa Educativa - Alvito Equipa Educativa - Furadouro Equipa Educativa – Arcos
17h00 Equipa Educativa - Alvito Equipa Educativa - Furadouro Equipa Educativa - Arcos
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
10h20 Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano
11h50 Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano
12h00 Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano Reunião da Equipa – 8º ano Reunião da Equipa – 7º ano
13h30 Equipa Educativa – 8º ano Equipa Educativa – 7º ano Reunião da Equipa – 8º ano Reunião da Equipa – 7º ano
74
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Paulo Gil1
Fátima Fernandes2
Ana Botelho3
Márcia Sousa4
Resumo
1. Introdução
As mudanças que afetaram os setores económico, político e social, nos finais do século
XX, despoletaram o desencantamento com a escola. De facto, estas mudanças
propiciaram a passagem de uma relação com a escola marcada pela previsibilidade para
uma relação em que predomina a incerteza (Canário, 2008). Foi, com efeito, por esta
altura que se acentuou a discrepância entre o aumento de produção de diplomas pela
1
Escola Básica e Secundária de Pinheiro Termas de S. Vicente, Portugal paulo.gil@ebspinheiro.net
2
Escola Básica e Secundária de Pinheiro Termas de S. Vicente, Portugal
fatima.fernandes@ebspinheiro.net
3
Escola Básica e Secundária de Pinheiro Termas de S. Vicente, Portugal ana.botelho@ebspinheiro.net
4
Escola Básica e Secundária de Pinheiro Termas de S. Vicente, Portugal marcia.sousa@ebspinheiro.net
75
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Embora a universalização da educação formal seja hoje um facto, a educação escolar foi
organizada através dos princípios caraterísticos do modelo de decisão burocrática,
determinando e organizando de modo funcional as disciplinas, balizando regras, o que
tem colocado em causa a exequibilidade da igualdade de oportunidades (Machado &
Formosinho, 2012). Este modo de formular o currículo cultiva a uniformidade, o que faz
do currículo prescrito um projeto unificador de aprendizagens, inviabilizando a
adequação e a diferenciação curricular necessárias para que todos os alunos tenham
acesso ao mesmo a que têm direito (Roldão, 1999).
76
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
77
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Nesta perspetiva, toma especial relevo a importância de desenvolver nas escolas «(…)
equipas multidisciplinares que, com a especificidade de cada um dos seus membros,
favorecem as leituras e interpretações mais rigorosas das situações do que se elas
ocorrerem baseadas apenas em conhecimentos monodisciplinares.» (Leite, 2012, p. 89).
Exige-se, assim, ao órgão de gestão, às estruturas de coordenação intermédias e aos
professores a necessidade de se centrar no locus da ação educativa da escola (Gaspar &
Roldão, 2007).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Embora os alunos tenham de investir e trabalhar para aprender, qualquer que seja a sua
situação social ou pessoal, a escola tem a função de organizar adequadamente, através da
ação dos seus professores e da maneira de estruturar a sua prática, os modos de trabalho
que permitam que esse esforço de aprender ocorra, seja orientado adequadamente, e dê a
quem chega ao sistema, vindo de meios social ou economicamente desfavorecidos, as
condições para aprender bem (Roldão, 2008). Nesse sentido, e de acordo com Leite (2012,
p. 90), torna-se pertinente «(…) prever e concretizar momentos de articulação curricular
que deem sentido e utilidade social ao que se aprende.».
3. O planeamento colegial
79
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Tendo em conta as dificuldades manifestadas pelos alunos e uma vez que ser capaz de
selecionar, organizar, interpretar e comunicar informação é essencial para a participação
na vida cívica de forma livre, responsável e crítica, decidiu-se que o conjunto de
estratégias a adotar deveria ser adequado ao trabalho a desenvolver com os alunos para a
consecução do produto final desejável, por forma a que estes fossem envolvidos em
situações em que identificassem e articulassem diferentes saberes e conhecimentos,
comunicassem e defendessem as suas ideias, mobilizando adequadamente diferentes
linguagens e utilizando de forma diversificada o conhecimento resultante da interpretação
da informação.
80
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
81
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
82
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
promover de forma intencional, quer em sala de aula quer fora dela, atividades
que permitissem aos alunos fazer escolhas, confrontar pontos de vista e resolver
situações problemáticas, tomando decisões em conjunto;
organizar o ensino prevendo a utilização de fontes de informação diversas e de
tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento do produto
final.
Execução Apreciação
Aspetos a observar
Sim Não NS S B MB
Seleciona informação pertinente
Apresenta a sua opinião/posição com clareza
Indica pelo menos uma razão ou argumento
Utiliza conectores apropriados para apresentar os argumentos (de
natureza causal ou justificativa)
Admite e reconhece opiniões diferentes
Apresenta contra-argumentos, utilizando conectores de natureza
adversativa
Reitera a sua posição e sintetiza-a
Expressa-se oralmente e por escrito de forma clara e organizada
A expressão corporal projeta o retrato/momento pretendido
83
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Estes diferentes registos permitiram aos docentes confrontar o modo como os alunos
tomaram decisões, selecionaram informação, organizaram as estratégias, coletivamente e
individualmente, face aos problemas apresentados em cada contexto disciplinar. Acresce
referir que, para além dos dados recolhidos através desta grelha definida conjuntamente,
cada professor, de forma sumária, apresentou ainda os resultados obtidos pelos alunos
nos trabalhos individuais solicitados ao longo da implementação do projeto. Toda essa
informação permitiu não só avaliar a aprendizagem de cada aluno, em cada disciplina,
como também propiciar um momento de reflexão conjunta face às dificuldades
inicialmente diagnosticadas.
4. O produto final
Tudo começou com o mote “educar para a inclusão, contra o preconceito, com o intuito
de aceitar o outro como igual, aceitando assim a diversidade como caraterística da
humanidade”. O desafio consistiu em perceber como conseguir abordar esta temática,
“Contar o Holocausto”, com os alunos, tentando abrange-la e contextualizá-la às
diferentes áreas disciplinares, sem esquecer que o trabalho a realizar neste âmbito deveria
ser estimulante e apelativo para os alunos. Uma vez que os interesses atuais dos alunos
passam pelas redes sociais, nas quais surgem diariamente diversos fenómenos de
apresentação criativa de ideias ou atividades, pensou-se que um desses fenómenos
poderia servir de mecanismo para os aliciar e conduzi-los àquilo que era pretendido e que
se ambicionava desenvolver com eles.
84
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Os alunos selecionaram diferentes momentos que pudessem retratar alguns das diferentes
situações vividas pelas pessoas durante o Holocausto. Retrataram a fome e a partilha de
alimentos entre os prisioneiros num campo de concentração; a separação de pais, filhos e
de outros entes queridos; os momentos que antecediam a entrada na câmara de gás; a
tentativa de fuga, espelhando o medo e o pânico; o abatimento a sangue frio; o esforço do
trabalho árduo e forçado sob pena da execução; o sarcasmo e o gozo dos militares que
tinham prazer com o que viam; o que estava subjacente às ideias de Hitler, a supremacia
da raça ariana.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Conclusão
Assim fora contado e encenado o Holocausto, para que a Terra não esqueça e nunca mais
aconteça. Eis o pretexto, o enquadramento, a forma e a estratégia que vestiram o ensejo
de contribuir, em articulação curricular, para a participação dos alunos no concurso
escolar, promovido pela Memoshoá, em parceria com a Direção Geral da Educação.
Referências Bibliográficas
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resumo
Introdução
1
Docente na ESE do Porto e no AE de Monserrate, investigador do CITCEM (antjasesm@gmail.com)
“Quando a escola cede aos desvios comunitaristas renuncia à mais nobre das suas missões: permitir que
as crianças acedam a um mundo diferente daquele em que nasceram e nele participem de pleno direito”
(Nóvoa, 2003)
2
Consultora SAME-UCP, investigadora do CITCEM e docente na ES/3 Henrique Medina
(fatimabragaeshm@gmail,com)
88
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
igualdade de oportunidades, este texto equaciona a questão lançada pelo Conselho Naci-
onal de Educação: “Seremos capazes de aumentar hoje a qualidade e a equidade, de modo
a criar oportunidades para todos os cidadãos, contribuindo para a realização pessoal, es-
colar e social de cada uma das crianças e dos jovens (…) num país socialmente tão desi-
gual?” (CNE, 2016).
De um modo genérico, dir-se-ia que a relevância deste desafio passa i) pela diferenciação
das respostas pedagógicas, como reconhecimento da centralidade contextual do aluno e
ii) pelo desenvolvimento de dispositivos colaborativos docentes de apoio à otimização
dos processos de tomada de decisão, de modo a permitir concetualizar valores educativos
e pedagógicos facilitadores de práticas docentes articuladas e potenciadores da gestão
eficiente de recursos e de respostas profissionais eficazes e de qualidade, o que pressupõe:
89
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
ação coletiva, solidária e investigativa alargada, tão necessária num tempo em que “a
inovação educacional no mundo aponta para práticas mais disruptivas” conciliadas com
“as tradicionais reformas incrementais”, de modo a não colocar em causa “os equilíbrios
genéricos alcançados, uma vez que a educação escolar envolve toda a sociedade na refle-
xão sobre a qualidade necessária do acolhimento a todos os portugueses e portuguesas
que agora estão obrigatória e longamente na escola” (CNE, 2016).
1. O problema
É assim que, analisado o vetor partilha identificado por Nóvoa (idem), percebemos que,
para construir uma pedagogia da emancipação, traduzida na triangulação poder-saber-
conviver, é urgente repensar o conceito de diferença. Tal como tem sido assumido, con-
duziu, não raro, a excessos de infantilização (demasiada aproximação da escola ao mundo
social retira-lhe a sua essência, a mais nobre das suas missões: permitir que as crianças
90
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
acedam a um mundo diferente daquele em que nasceram e nele participem de pleno di-
reito) e de comunitarização, pois “aquilo que nos junta no espaço escolar não são, em
primeiro lugar, as afinidades ou os laços afetivos. O que nos junta é a vontade de ensinar
as regras da vida social, de aprender a viver em conjunto” (Nóvoa, 2003, 6). Numa ex-
pressão, conclui Nóvoa que “não se trata tanto de conviver, mas sim de aprender as regras
do convívio” (idem, ibidem), o que nos remete para o tema polifónico da voz dos alunos
e para a complexidade dos desafios que esta voz, simultaneamente única e social, põe às
escolas e aos professores.
2. Quadro teórico
Olhados alguns dos tópicos e problemas que subjazem à estruturação em curso das polí-
ticas públicas de educação, no que neles releva (e se revela) de uma agenda global plas-
mada, por exemplo, em documentos como o da “Educação 2030” (2016), a par de muitos
outros que sobre educação têm vindo a ser produzidos designadamente no âmbito da
OCDE, exploraremos agora alguns elementos teóricos que se propõem concetualizar a
radicalidade que julgamos presente no conceito de voz, referindo este conceito “aos tra-
jetos de construção da consciência, de invenção das identidades e de fixação de códigos”
(Kincheloe, 1992, 132) em jogo na experiência educativa.
Retomando à distância a distinção feita por Dewey (1959) entre a educação como uma
tarefa da sociedade e a sociedade como uma tarefa da educação, cada vez mais é feito o
apelo à escola para, a partir do seu lugar social e da centralidade dos meios pedagógicos,
estruturar caminhos de transformação coletiva onde se cruzam, entre outros, problemas
sobre o sentido e valor do conhecimento, o estatuto da autoridade e o interesse cultural
da própria escola.
91
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Rousseau (1990, 10), ao possível não seja apenas pedido o que já se faz, mas lhe seja
exigido o vislumbre do que falta fazer.
Por razão de cidadania democrática, existe a necessidade de dar voz aos silêncios estabe-
lecidos entre as disciplinas - aquilo que normalmente é designado por diálogo interdisci-
plinar -, em que os saberes disciplinares falem de e com os problemas educacionais que
afetam a própria vida, de modo a que os critérios do saber imediato – o saber sem apren-
der - e do conhecimento instrumental do progresso técnico – o para que serve - não se
sobreponham aos interesses de uma humanidade culturalmente situada.
Recorrendo à perspetiva crítica de Freire (1988), este é um programa que procura novas
questões, novos caminhos e novas práticas intelectuais, em que sujeitos interlocutores
buscam a significação dos significados ou, por outras palavras, se interessam por com-
preender porque é que as coisas são como são. Numa outra formulação, poderemos tam-
bém dizer, com Derrida (2003), que estamos perante a necessidade de construir novas
humanidades – ou novos ensinos -, rompendo para isso com os limites tradicionais do
conhecimento, sem contudo se dissolver a especificidade de cada disciplina, e, simulta-
neamente, fazendo extravasar o puro saber técnico-científico dos professores para zonas
de compromisso com a esfera pública da responsabilidade.
Como se percebe, estamos aqui num domínio que vincula a educação e as escolas à prática
de uma ação interpretativa que singulariza a construção quotidiana das subjetividades –
melhor dizendo, das vozes -, no sentido de capacitar os estudantes com “o conhecimento,
92
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
caráter e visão moral que formam a coragem cívica” (Giroux, 1992a, 18) - a coragem que
nasce da compreensão de si próprio, da história que os une a uma tradição cultural e da
descoberta do poder de significar o mundo - e também de capacitar os professores, como
propõe Day (2004), com os propósitos morais que sustentam o seu sentido de comprome-
timento e de cuidado para com os alunos.
No que releva da legitimidade da voz, parece consensual considerar que cada aluno é um
ser dotado de integridade única, capaz de estruturar interesses próprios e com igualdade
de direitos para os fruir e materializar. Neste quadro, não é possível reduzir um jovem à
escola ou, mais especificamente, à condição única de aluno. Simultaneamente, será tam-
bém reconhecível que só o indivíduo aprende, mas que ninguém aprende sozinho ou fora
de contextos e condições de mediação. No caso da aprendizagem do jovem aluno essas
condições de mediação são as próprias do mundo escolar. Por esta via argumentativa,
perceberemos que quando se fala da voz dos alunos não se está a celebrar a pura subjeti-
vidade ou um qualquer outro excesso relativista.
93
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Do entendimento dado aqui ao conceito de voz parecem resultar duas consequências para
a esfera educacional, que Giroux e Freire (1987) situam. A primeira remete para o enten-
dimento da aprendizagem como um processo pedagogicamente reivindicativo, em que se
procuram novas formas de comunidade ética e relacional. Daqui uma segunda consequên-
cia traduzida na inevitabilidade de a construção das subjetividades passar a ser ela própria
um conteúdo educacional nuclear.
Uma dupla razão, apontada por Simon (1987, 157), subjaz a esta última consequência:
por um lado, sabemos como da subjetividade das vozes fazem parte um conjunto alargado
de conhecimentos, de lugares comuns do pensamento e de desejos que nos influenciam
sem disso termos uma consciência clara; por outro lado, a subjetividade não é unitária,
encontrando-se dividida entre a repressão do que não podemos ou queremos expressar e
os processos contínuos de reorganização da nossa própria consciência fragmentada e con-
traditória.
Nestes jogos de entre dois, e sem entrar no detalhe da análise sobre as relações que Gi-
ddens (1997) estabelece entre os lugares e os poderes dos agenciamentos individuais, por
um lado, e das estruturas sociais, por outro, a compreensão do conceito de voz que aqui
apresentamos remete, precisamente, para a importância do reconhecimento do entrecru-
zamento e complexidade destas dinâmicas. Em concreto, trata-se de compreender de que
modo poderá ser possível redefinir algumas das fronteiras onde habitualmente se alojam
tensões entre a epistemologia disciplinar, o valor das aprendizagens e a natureza do pró-
prio conhecimento e da prática profissional na educação.
Explicitando um pouco mais, reconhecer a voz dos alunos deverá referir-se a um esforço
para os retirar de um senso comum (académico, psicológico, social ou outro) que os priva
das “estruturas de pensamento sistemáticas que distinguem o conhecimento e que permi-
tem uma compreensão crítica do mundo natural e social” (Lauder, 2010, 13), ou seja, um
esforço que promove a compreensão do conhecimento como algo que adquire significado
coletivamente através das formas de vida particulares, o que não é o mesmo que confor-
mação com significados particulares do conhecimento. Como objetiva Young (2010, 46),
existe uma complexidade e subtileza no processo de conferir significado ao conhecimento
em que “as análises têm de começar em casos específicos de comunidades concretas, mas
também precisam de tomar em consideração os contextos sociais e históricos mais globais
que dão forma às comunidades particulares”.
94
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Estamos perante um campo concetual que, tomando como linha de referência a escuta da
voz dos alunos, compromete professores e alunos num trabalho que se abre à possibili-
dade de transformação dos universos textuais em objetos de investigação intelectual, al-
terando-se a habitual relação de consumo passivo para uma relação interpretativa dos di-
versos textos culturais que atravessam a sala de aula. A ser assim, a significação passa a
resultar de um trabalho dialógico de reconstrução de objetos, ou de textualidades do
mundo, que desconstrói e contextualiza as experiências culturais em presença.
Fica claro que à voz – à escuta das subjetividades que a atravessam – corresponde um
reconhecimento da diferença, o que só é possível acontecer por uma disposição ética não
redutível a uma tecnologia educativa (neste caso, estaríamos perante uma simples ence-
nação da escuta da autenticidade das vozes dos estudantes). Escutar a voz pressupõe um
saber cuidar que reconhece o aluno não tanto pelas respostas comportamentais aos estí-
mulos que extrinsecamente o motivam ou condicionam, mas pelo reconhecimento da sua
95
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
capacidade existencial de se interessar e de dizer não (Santos, 1982) e de, a partir daqui,
produzir significação a ser explorada e contextualizada. Neste sentido, ao ato pedagógico
de escutar, ou de diferenciar, corresponde um ato metodológico cujo valor axiológico está
orientado por valores que visam a formação de sujeitos críticos e emancipados – isto é,
capazes, como queria Dewey (1948), de assumirem a orientação e o controle consciente
das suas aprendizagens -, o que, aos professores, lança particulares desafios no modo
como assumem a dimensão pública da sua responsabilidade ou autoridade pedagógica.
Como vimos, proceder à escuta das vozes dos alunos significa criar condições de reco-
nhecimento do como e do porquê da manifestação dessas vozes, procurando para e com
elas encontrar legitimidades que aproxime a subjetividade de cada uma de relações sociais
e formas culturais cada vez mais humanas e democráticas. Isto significa que, do ponto de
vista do compromisso da educação com o que falta fazer, aos professores é pedido um
trabalho sempre próximo da ideia de inacabamento e continuidade. Daqui resulta que o
momento pedagógico não se esgota na visibilidade dos procedimentos e no domínio de
um corpo de conhecimentos.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Nestes casos, em que os professores produzem uma reflexão crítica sobre a relação entre
as subjetividades culturais e as formas de aprendizagem, a sua ação assume um protago-
nismo público – ou uma autoridade intrinsecamente pedagógica e, por isso, política - que
não pode ser confundido com formas de paternalismo ou tique vanguardista. Para lá deste
senso comum que, em muitos casos, reflete os isolamentos institucionais dos próprios
professores, importa compreender, na linha de Giroux (1992b, 47-48), que a transforma-
ção educativa que resulta do trabalho cultural dos professores não corresponde à imposi-
ção, mais ou menos sofisticada, de um arbitrário cultural iluminado. Está antes em causa
a tentativa de esclarecimento do capital cultural que dá sentido às vidas dos estudantes,
partindo para isso, das condições pedagógicas nas quais eles se expressam, sem que, no
entanto, isto signifique qualquer passividade face ao relativismo das formas de expressão
desses mesmos estudantes.
Esta é uma tarefa que, em larga medida, implica ultrapassar os dispositivos curriculares
que separam os professores do trabalho de concetualização da prática pedagógica, para
melhor se articular as regras e valores de relacionamento entre si e com os estudantes,
com as temáticas de estudo e a comunidade, naquilo que constitui uma passagem da pe-
dagogia do poder para a legitimação social e política da autoridade (Giroux e McLaren,
1996).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
muitas situações, não reconhece o papel que é por eles desempenhado. Se considerarmos
que, precisamente, a escola não tem outro meio de ação senão o da autoridade e que ne-
nhuma norma ou prescrição tem o poder de fazer aprender, compreenderemos então o
modo como, dentro da escola, repousa sobre os professores o protagonismo da resposta
ao mandato de confiança que é socialmente conferido à escola, bem como o protagonismo
no resgate e na reconstrução da autoridade comunicacional, pedagógica e científica da
escola e de si próprios. Daqui resulta que a autoridade docente se constitui como um
recurso público poderoso na tarefa de reconhecer e estruturar a singularidade das apren-
dizagens, ligando-as nas escolas à formação da vida pública e das relações sociais.
No contexto dos enunciados de cidadania crítica e criativa que têm vindo a estar presentes
nas políticas educativas, bem como num mundo de ambivalências éticas (Bauman, 2007),
de flexibilidades morais (Lipovetsky, 1994) e do fim dos absolutos de autoridade (Mei-
rieu e Gauchet, 2011), mas onde circulam subtis ortopedias discursivas (Foucault, 1976),
aos professores acaba por ser pedida uma pouco reconhecida tarefa próxima de uma es-
pécie de liderança intelectual ou, melhor dizendo, liderança axiológica. Noutros termos,
é-lhes pedido que tomem em mãos a reconstrução de formas de autoridade que deseja-
velmente tornem os alunos competentes nas ações intelectuais de relacionar e integrar
contextos, hierarquizar valores e discutir conceções de humanidade.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
3. Questões de pesquisa
No entretanto deste impasse, poderemos facilmente equacionar, ainda com Nóvoa (2003),
a questão relativa ao que é que vale a pena ser ensinado, cuja resposta nos diz que vale a
pena ser ensinado tudo o que une (aquilo que permite ao indivíduo integrar-se num espaço
de cultura e de sentidos), tudo o que liberta (aquilo que promove a aquisição do
conhecimento) e tudo o que torna a vida mais decente (aquilo que promove a relação entre
ciência e consciência). Aquilo que, no fundo, chama os professores e as escolas para a
utilidade do exercício de um conhecimento específico e que lhes é próprio. Young (2007)
fala de um conhecimento poderoso que, na escola, permite novas e mais confiáveis formas
de se pensar o mundo para além das fronteiras da casa de cada um.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Desta utilidade da escola não fica ausente o horizonte da promoção da equidade social.
No dirimir da tensão entre a escola como experiência educacional para formar cidadãos
críticos e informados, mas cidadãos que frequentemente resistem às aprendizagens que
lhe são propostas, está a marca do compromisso da escola com o reconhecimento dos
contextos de diferença e, deste modo, com o valor da justiça que é “a virtude primeira das
instituições sociais” (Rawls, 2001, 27). Contra as arbitrariedades da lotaria social, à escola
competirá então proporcionar a maior expectativa de benefício aos menos favorecidos e
desempenhar funções que garantam a cada indivíduo uma posição de igualdade equitativa
de oportunidades (idem, ibidem).
3.2. Como sabemos se o que fazemos tem impacto positivo nas aprendizagens / no
desenvolvimento dos alunos?
Esta questão poderá, na sequência do exposto no ponto 3.1., ser reequacionada da seguinte
forma: Como deve ser ensinado aquilo que vale a pena ser ensinado?
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Assim, num primeiro momento, e com base na observação da realidade de cada turma, os
professores (desejavelmente em conselho de turma) procurarão o conceito chave à volta
do qual os alunos estruturarão as aprendizagens, de modo a dar-lhes sentido (o que
ensinar? para quê? a que problemas dar resposta?); identificarão então situações
problema, com os respetivos pontos-chave, criando modelos e estruturas para a
abordagem dos diferentes programas das disciplinas que compõem o currículo dos alunos
(como potenciar as oportunidades e diminuir os constrangimentos identificados,
valorizando os pontos fortes de cada um?):
Introduzindo os alunos neste processo reflexivo, será altura de, cada professor, e com
base nos conteúdos i) concetuais – o conhecimento factual e concetual (knowledge)-, ii)
procedimentais – o conhecimento processual (skills) - e iii) atitudinais – (character) elen-
cados nos programas das diferentes disciplinas/áreas disciplinares, realizarem, com os
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Assumido, como primeiro desafio, um plano guia para a construção da sequência didática,
que partiu da definição do conceito chave à volta do qual os outros conceitos se organizam
e da tomada de decisão acerca do nível de formulação a dar-lhe (fonte: análise dos pro-
gramas e das representações dos alunos), pensou-se a formalização da situação problema,
procurando os instrumentos pedagógicos necessários e disponíveis (textos e experiências
dos alunos) e atendendo especialmente às indicações de trabalho a fornecer aos alunos
para orientarem, com rigor e precisão, a sua atividade; seguiu-se um quadro de sugestões
e de remediações, segundo as necessidades e as estratégias dos alunos, de modo a permi-
tir-lhes realizarem as atividades especificamente pensadas e terminou-se com a verbali-
zação das atividades mentais efetuadas e das aquisições realizadas, num exercício de au-
toavaliação que integra movimentos de descontextualização / recontextualização neces-
sários à mentalização e heteroavaliação das aprendizagens, para de novo se partir para a
observação da realidade, já noutro patamar. Um segundo desafio é apresentado por Mei-
rieu (1987) e prende-se com a fundamentação da ação docente ou, dito por outras pala-
vras, com a consciencialização das razões que nos levam a fazer assim e não de outra
maneira.
Trata-se então de explicitar o modo como se fundamentam as opções feitas para procurar
novas entradas no saber e novas conexões interdisciplinares. Dito de outro modo, consiste
em consciencializar a articulação existente entre a proposta didática em construção e os
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Princípios, a Visão e os Valores do Perfil dos Alunos para o Século XXI (2017). Imagi-
nemos uma tabela de dupla entrada, em que as diferentes questões que o professor se deve
colocar para procurar novas entradas no saber e novas conexões se estruturam, por um
lado, na análise da situação sociocultural dos alunos e, por outro, nas suas caraterísticas
sociomotoras e, ainda por outro lado, na consciencialização dos saberes do aluno em que
o professor se pode apoiar e nas entradas no saber de que dispõe.
Necessário é também fundamentar as opções feitas para definir temas problema que per-
mitam aos alunos: i) apropriarem-se de noções e de conceitos; ii) reelaborarem as suas
representações prévias; iii) consciencializarem as suas aprendizagens (meta-aprendiza-
gem). Trata-se de perceber a articulação entre as “Competências-chave” e as “Implica-
ções Práticas” definidas no Perfil dos Alunos para o Século XXI e as escolhas feitas pelo
conselho de turma, no Plano de Articulação Curricular, ao nível das estratégias e dos
dispositivos de concretização didática.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
o sujeito só reelabora as suas representações face a situações problema, pelo que, para
que o sujeito realmente aceda ao terceiro nível (aprendizagem), é imprescindível colocar
o aluno face a situações problema, sejam de comunicação, de resolução ou de utilização,
para podermos ajudá-lo a construir conhecimento significativo, identificando as suas
aquisições e os problemas que enfrenta, esclarecendo e articulando.
O processo que aqui está a ser caracterizado pressupõe um percurso que corresponde ao
desenvolvimento de esquemas mentais específicos. Trata-se então de consciencializar
operações mentais e de as formar. Por exemplo:
105
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Neste processo, fundamental se torna, porque a aprendizagem não se reduz a uma lógica
cumulativa, distinguir os alunos que estão com dificuldades (apresentam os trabalhos in-
completos, têm dificuldade em gerir o tempo, manifestam inquietude e pedem ajuda, mas
são capazes de reformularem o seu trabalho e de reconhecerem o seu erro, ou, não sa-
bendo uma regra, conseguem dar um exemplo que a ilustre) dos que estão com «desânimo
aprendido» (os trabalhos estão fora do tema, o tempo sobra, o aluno manifesta angústia
e/ou desencorajamento, não integra as críticas, aceita o erro como um estado, não conse-
gue dar, nem definição, nem exemplo). Se, para os primeiros, o método usado pode ser
continuado, com os necessários aprofundamentos, para os alunos que se encontram no
segundo grupo é preciso propor uma alternativa, procurando novos pontos de apoio e
novos métodos.
Conclusão
106
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
escola permite adquirir. Um caminho possível a seguir é apontado por Giroux (1988,
127): tornar o pedagógico mais político – ou seja, inserir o processo educativo do reco-
nhecimento das vozes na esfera política mais ampla da construção da cidadania – e, si-
multaneamente, tornar o político mais pedagógico – isto é, perspetivar formas pedagógi-
cas que reconheçam os estudantes como agentes críticos, capazes de problematizarem o
conhecimento e de aceder aos processos através dos quais o conhecimento é produzido.
O quadro teórico e prático que este texto concetualiza implica-se no interesse de formar,
como refere Nóvoa (2003), a competência coletiva, alicerçada num conhecimento
partilhado e numa ética do compromisso. Foi neste quadro que, ao longo de 2017, no
âmbito da formação contínua de professores, os autores deste texto dinamizaram duas
oficinas de formação (sobre articulação curricular e diferenciação pedagógica), cuja
lógica de funcionamento procurou fazer emergir dispositivos de colaboração docente
existentes nas escolas, assumindo-os como oportunidades de transformação da
experiência coletiva em conhecimento profissional, assim potenciando a diminuição dos
isolamentos institucionais e a melhoria das condições organizacionais de sucesso das
aprendizagens dos alunos do século XXI. Desta experiência é dada conta neste ebook no
107
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Cesário Silva1
Isilda Silva2
Resumo
Introdução
A escola está a mudar. Porém, a mudança tarda em fazer-se sentir na vida quotidiana dos
alunos e dos docentes. Esta constatação é alimentada pela tomada de consciência das
forças conflituais de dinâmica e inércia que interatuam no campo educativo e pela perda
1
Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade
de Lisboa (2006). Diretor do AEMGP, Marinha Grande
2
Licenciada em Filosofia pela Universidade de Lisboa (1983) e doutorada em Ciências da Educação pela
Universidade de Huelva (2013). Professora de filosofia no AEMGP e coordenadora TEIP., Marinha Grande
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Apesar disso, o termo ‘inovação’ faz hoje parte indiscutível da gramática escolar.
Todavia, se é verdade que o termo já ‘entrou’ na escola por via da literatura da
especialidade, dos documentos orientadores e dos normativos legais, não é menos
verdade que as práticas de inovação já existentes têm ainda escassa visibilidade e impacto
na vida quotidiana das escolas portuguesas e dos alunos que a frequentam. Falta, portanto,
perceber em que medida a inovação tem potencial transformador a nível da qualidade da
educação e das aprendizagens dos alunos (Freire, 1977).
Urge, por isso, dar sentido às mudanças implementadas pelas práticas de inovação, até
porque, sem uma visão integradora no quadro do ensino e das aprendizagens, a escola
arrisca-se a cumprir a profecia citada por António Bolívar «Os docentes são uma espécie
de Sisífios do mundo contemporâneo, condenados a reformar e a mudar para que, ab-
surdamente, tudo volte a ficar como anteriormente» (Bolívar: 2005: 15).
Por outro lado, a inovação não se prescreve nem se impõe, antes supõe um ethos comu-
nitário baseado nos valores do compromisso e da implicação, da confiança e da iniciativa
(Deakin C., 2008). Implica, por outro lado, resiliência e capacidade da escola para apren-
der, tendo sempre presente a finalidade última da sua missão, a da melhoria das aprendi-
zagens dos alunos no quadro da sociedade da informação e de novos e desafiadores espa-
ços virtuais de redes de interação (Darling-Hammond, 2006; Davies D, et al, 2013). A
promoção da cultura digital deve, portanto, estar intimamente associada a novas formas
de cidadania que começam a emergir no horizonte digital (Hannon, 2009; Twinning et al,
2013).
É, pois, com base nestes quatro pressupostos: 1. As práticas inovadoras constituem já uma
prática comum em muitas escolas portuguesas; 2. É necessário dar sentido às mudanças
operadas pelas práticas de inovação já existentes; 3. A inovação supõe um ethos comuni-
tário baseado em valores como o compromisso e a implicação, a confiança e a iniciativa;
4. A inovação visa a qualidade do ensino e a melhoria das aprendizagens, que iremos
descrever os processos de mudança operados no AEMGP desde 2012 e em particular no
âmbito do P-PIP (2016).
113
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
De entre esses estudos, tomámos como referência o estudo de 2010 intitulado «Creative
Learning and Innovative Teaching», no qual a Comissão Europeia reafirma a necessidade
de as políticas da UE contribuírem para o fortalecimento da capacidade inovadora da
Europa através do reforço do papel da educação e formação, ao mesmo tempo que chama
à atenção sobre a necessidade de melhorias em cinco áreas principais; a) aprendizagem
criativa e ensino inovador sobretudo a nível dos curricula, pedagogias e avaliação; b)
formação de professores; c) uso das TIC e multimédia; d) ambientes de aprendizagem e
cultura educacional; e) liderança. O estudo destaca ainda a necessidade de ação a nível
nacional e europeu para realizar as mudanças necessárias para uma abordagem aberta e
inovadora na cultura educacional europeia baseada no potencial criativo e inovador de
futuras gerações (COM, 2010, 57).
114
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A INOVAÇÃO DESCRITORES
Esta mesma ideia é veiculada no nosso país através do documento elaborado pelo Grupo
de Trabalho criado nos termos do Despacho n.º 9311/2016, de 21 de julho, intitulado
«Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória» e homologado através do
Despacho n.º 6478/2017, de 26 de julho; este documento assume-se como «matriz para
decisões a adotar por gestores e atores educativos ao nível dos organismos responsáveis
pelas políticas educativas e dos estabelecimentos de ensino», cuja finalidade é a de
«contribuir para a organização e gestão curriculares e, ainda, para a definição de
estratégias, metodologias e procedimentos pedagógico-didáticos a utilizar na prática
letiva.» (Id, 4). Neste mesmo documento é ainda reconhecida a necessidade de
«alterações de práticas pedagógicas e didáticas de forma a adequar a globalidade da
ação educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos».
115
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Por outro lado, diversos autores referem que uma escola inovadora é aquela que é capaz
de transformar o potencial criativo imprevisível em ações de melhoria contextualizadas e
direcionadas para a eficácia e eficiência (Fullan, 2003; Conway, P. et al, 2009), no quadro
de uma estratégia de melhoria cuja compreensão necessita de «saber articular tanto as
iniciativas como as resistências, equilíbrio e tensão, consensos e conflitos» (Coronel,
2002).
Torna-se claro que uma escola inovadora é aquela que aprende com a imprevisibilidade
das dinâmicas a gerir os processos de mudança e que adquire capacidade de antecipação
em vez de assumir uma postura simplesmente reativa e adaptativa. Esta capacidade de
antecipação só é possível no contexto de uma inteligência comunitária, inferindo-se,
portanto, que a inovação está diretamente relacionada com o fator humano e a cultura da
organização, a capacidade de mobilização interna e a qualidade da liderança, o
pensamento estratégico e a visão presente no projeto educativo (Carneiro, 2001, 115) e
que está diretamente relacionada com iniciativas de desburocratização dos processos e de
capacidade de mobilização dos docentes para participarem nas dinâmicas de mudança
(Bolívar, 2003). É, aliás, este mesmo autor, que nos fornece uma bela metáfora do que é
a inovação,
116
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Em suma, inova-se porque existem problemas cujas soluções até agora encontradas já não
respondem aos novos desafios da sociedade e dos alunos das novas gerações; inova-se
para que as novas soluções possam contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e
das aprendizagens dos alunos. Inova-se, enfim, para transformar a escola num ambiente
de aprendizagem promotor do bem-estar individual e coletivo, onde cada um possa
expressar-se e participar ativamente na vida da escola e da comunidade.
O contexto Marinhense
A Marinha Grande é hoje considerada uma cidade com uma forte dinâmica de
empreendedorismo e inovação. Com a decadência do setor do vidro artesanal, a cidade
voltou-se para novas indústrias, com o setor dos moldes e plásticos a contar atualmente
com mais de 300 empresas na região. De alta intensidade tecnológica e competências
especializadas, estas empresas integram desde a fase de conceção (design), ao
desenvolvimento de protótipos (engenharia) e ao fabrico de diferentes tipos de moldes.
Atualmente o terceiro maior produtor europeu e oitavo a nível mundial, o nicho
empresarial da Marinha Grande fabrica cerca de 65% dos moldes produzidos no país, a
maioria das quais recorrem a tecnologia de ponta, designadamente a nível programas de
simulação de processos de fabrico e de produção.
A cidade conta ainda com um forte setor de vidro de embalagem e um setor criativo de
vidro artesanal que procuram perpetuar a tradição marinhense.
A região usufrui ainda de incubadoras de empresas com uma forte ligação a universidades
e um Centro de Desenvolvimento Rápido e Sustentado do Produto ligado ao Instituto
Politécnico de Leiria, no qual são apoiadas ideias inovadoras, capazes de se
transformarem em produtos sustentáveis, conforme se pode ver pelo gráfico abaixo:
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Em 2012, a escola Engenheiro Acácio Calazans Duarte foi desafiada a integrar a rede de
escolas TEIP. De acordo com o artigo 2 do Despacho Normativo n.º 20/2012 de 3 de
outubro, «Integram os territórios educativos de intervenção prioritária, adiante
designados por TEIP3, os agrupamentos de escolas ou as escolas não agrupadas com
elevado número de alunos em risco de exclusão social e escolar, identificados e
selecionados a partir da análise de indicadores de resultados do sistema educativo e de
indicadores sociais dos territórios em que as escolas se inserem.».
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
O desafio ao agrupamento
Quando em agosto de 2016 o AEMGP foi convidado a integrar o P-PIP sentimos que
poderiam estar reunidas as condições para, num quadro de maior autonomia pedagógica,
podermos encontrar soluções para algumas questões que nos preocupavam.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
escola (integrada no Pinhal de Leiria), que estimulasse a sua procura por parte das famílias
e lhe conferisse uma identidade própria, levou-nos, enquanto agrupamento, a discutir e
recolher contributos dos docentes, dos pais e encarregados de educação.
Com esse objetivo promovemos uma reunião com pais, em março de 2017, onde estavam
trinta e dois dos quarenta e um encarregados de educação e, com a perspetiva de um
trabalho mais profícuo, constituímos três grupos de pais, dinamizados pelo diretor do
agrupamento, uma adjunta do diretor e o coordenador de departamento do primeiro ciclo.
A partir deste desafio, as sugestões por eles apresentadas levam-nos de imediato a desejar
que a Escola da Fonte Santa seja “uma escola onde todas as crianças aprendem”, onde
essa aprendizagem se processe através da “partilha, da realização de atividades
experimentais no exterior, (…) com pesquisas, valorizando os interesses das crianças
através de desafios e (…) estimulando a criatividade”. Os pais gostariam ainda que a
escola fosse “um local onde as crianças sejam felizes, (…) com mais tempo para interagir
entre elas, com os professores e auxiliares”. “Que a escola tivesse mais e melhores
equipamentos e mobiliário mais adequado”.
Ao segundo desafio foram feitas as seguintes sugestões: “os nossos filhos devem aprender
num ambiente calmo e sereno, (…) pela positiva, por observação dos factos, através de
pesquisas, (…) ir à procura de respostas, serem levados a pensar”. “O ensino deveria estar
mais centrado nos alunos e não nos programas”. “Os nossos filhos devem aprender com
motivação, alegria e a estarem mais concentrados”. “Aprender o que são as emoções, para
que servem e como utilizá-las de forma positiva”.
Quanto às formas como podem os pais participar na vida da escola é notória a vontade
em participar em atividades que a escola promova, nomeadamente: “oficinas de
123
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Ao nível das atividades promovidas, a escola tinha já uma preocupação com a interação
entre as crianças da educação pré-escolar e as do primeiro ciclo. No entanto, passou a ter
uma intencionalidade mais focada nos aspetos da transição entre níveis de educação e
ensino através da realização de atividades, que designamos de atividades «pré-pri» que
operacionalizam aspetos relacionados com a cultura local, as tradições e a exploração do
pinhal, enquanto espaço de aprendizagem in loco.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Nesse sentido foram constituídas duas equipas pedagógicas com oito docentes cada, que
se voluntariaram, responsáveis por quatro turmas de quinto ano cada, sendo estas equipas
alargadas à colaboração de outros docentes desse ou de outros ciclos de ensino.
A organização dos tempos conduziu ainda a que algumas disciplinas possam funcionar à
mesma hora, possibilitando, em caso de necessidade, a circulação de alunos entre as
turmas.
Quanto ao desenho curricular que está a ser implementado no quinto ano é o seguinte:
125
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Entendemos ainda que a abordagem à aprendizagem por projetos deve, nesta fase inicial,
assentar numa estratégia semiestruturada, indutora de maior segurança para os docentes,
pelo que as duas equipas pedagógicas, desenharam doze projetos no final do ano letivo
anterior, programando cada projeto para uma duração média de seis a oito semanas,
devendo cada turma realizar, ao longo do ano letivo, cinco a seis projetos.
126
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Projetos
A água que nos move
De olho na Floresta
Ambiente+
Alimentação
A Fada Oriana
Engenho & Parque
Afinal o que se passa aqui?
Quem sou eu?
O Sono
Imagens que nos movem
Português e Inglês no mundo
Marinha em Bicicleta
Nesse sentido, “o professor parte do princípio de que diferentes alunos têm diferentes
necessidades” (Tomlinson, 2008, p.16), e que através da diversidade de “meios e de
processos de ensino e de aprendizagem”, para os diferentes alunos “de idades, de
aptidões, de comportamentos, de savoir-faire heterogéneos”, possam num mesmo grupo
turma atingir os mesmos objetivos.
Não perdendo de vista estarmos integrados num território TEIP desde 2012, temos vindo
a apostar numa “igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não
produza, alimente ou reproduza as desigualdades” partilhando as palavras de Santos
(2003, p. 56), o que “exige que o professor crie um número razoável de abordagens
educativas para que a maior parte dos alunos consiga encontrar o que mais lhe convém”
(Tomlinson, 2008, p.35).
127
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Com base nestes pressupostos e dado que “o caminho faz-se caminhando”, a Inovação na
Escola da Fonte Santa e a (Re)organização curricular no 2º ciclo são espaços de
aprendizagem docente, partilha, cooperação e apropriação de novas abordagens de ensino
e aprendizagem. A Oficina de Projetos, no segundo ciclo, assume-se ainda como o espaço
de reconstrução do currículo, numa perspetiva multidisciplinar, sustentada num
funcionamento em par pedagógico, com recurso a abordagens mais ativas, nomeadamente
trabalho de projeto, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem por desafios,
aprendizagem colaborativa, que facilitem o desenvolvimento da autonomia dos alunos e
onde a sala de aula se abre à diversidade, aos outros e ao mundo. Na perspetiva de Dewey,
onde a escola não é a preparação para a vida, mas sim a própria vida.
Conclusões
No entanto, podemos referir já que, quer na Escola da Fonte Santa quer no 2º ciclo, a
mudança é possível, apesar de exigir um trabalho de maior articulação e proximidade
entre os docentes. Que a construção de uma verdadeira autonomia pedagógica carece de
um reforço ao nível da capacitação e formação em áreas como a diferenciação
pedagógica, flexibilização curricular, avaliação formativa e trabalho colaborativo que
acrescentem valor e confiança aos docentes.
128
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Referências Bibliográficas
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creativity and innovation in Education in the EU Member States. EN: IPTS. UE.
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Leaning Environments in education- A systematic literature review. Thinking Skills and
Creativity 8, 80-91.
129
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Hannon, V. (2009). Only Connect!: A new paradigm for learning innovation in the 21 st
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Twinning, P., Raffaghelli, J., & Albion, P. (2013). Moving Education into the digital age:
the contribution of teachers'professional development. Journal of Computer Assisted Le-
arning, 426-437.
130
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Fernando Lima1
Manuela Miranda2
Resumo
Podemos, portanto, em bom rigor, falar de alterações, mas a mudança que se exigia nunca
se veio a concretizar, quer pela falta de tempo para implementar as alterações
introduzidas, quer pela deficiente avaliação dessas mesmas alterações.
1
Agrupamento de Escolas do Sudeste de Baião
2
Diretora Agrupamento de Escolas do Sudeste de Baião
131
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Enquadramento
Na realidade, uma pessoa que tenha frequentado a escola nos anos 80 e 90 do século
passado e que a ela retorne nos dias de hoje, encontra, na maior parte dos casos, os
mesmos materiais, o mesmo mobiliário e um edifício mais degradado. Observa que os
filhos estudam da mesma forma, que assistem às aulas com o objetivo de registar somente
aquilo que o professor determina: o conjunto de conteúdos que vão ser alvo de avaliação.
Aquilo que através dos tempos e sem alteração sempre se designou como os “objetivos
para o teste”. Nas conversas com os filhos, muito provavelmente, constata que os casos
de indisciplina aumentaram, que as aulas são “uma seca” e que é preciso fazer resumos
para o teste, onde se inclui a matéria a estudar e onde são sublinhados os conteúdos que
o professor referiu serem de maior importância.
Nos media, nos discursos políticos, nas entrevistas aos profissionais que se debruçam
sobre a educação, no entanto, é possível concluir que a Escola mudou. Mudou muito. Para
uns, mudou para melhor, para outros, as mudanças foram insuficientes ou fruto de opções
erradas. De qualquer modo, é possível constatar que a Escola sofreu alterações: os alunos
têm cartões magnéticos que lhes permite o acesso à escola e a todos os serviços escolares;
as salas de aula estão equipadas com um computador, um projetor ou um quadro
interativo; o quadro negro e o giz foram substituídos pelo quadro branco e canetas; as
bibliotecas escolares são mais funcionais e existem salas equipadas com computadores.
132
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Gabinetes de Apoio ao Aluno, onde está inserido o apoio social e psicológico, e subsídios
no que concerne à alimentação e à aquisição de material escolar. “Para que a
aprendizagem tenha lugar a escola terá de cumprir, escusado será dizer, algumas missões
sociais e assistenciais. Os dramas da miséria, da fome, dos maus tratos, da gravidez
precoce ou do consumo de drogas, entre tantos outros, impossibilitam um projeto
educativo coerente”. No entanto, “assumir estas tarefas, provisoriamente, por imperativo
ético, não é a mesma coisa do que defini-las como missões primordiais da escola, e este
tem sido o erro maior da escola transbordante”. (Nóvoa, 2009).
No que diz respeito à prática letiva, as escolas passaram a disponibilizar diversos apoios,
como salas de estudo, assessorias, apoio tutorial, Planos de Recuperação e de
Acompanhamento, desdobramento das turmas nas disciplinas de Físico-Química e
Ciências Naturais e nunca se pensou tanto no trabalho a desenvolver com os alunos com
Necessidades Educativas Especiais.
Do mesmo modo, nunca se monitorizou de forma tão exaustiva, como se faz atualmente,
os resultados alcançados pela Escola nos seus mais diversos domínios, tendo sido
alcançados sucessos em áreas onde Portugal apresentava índices muito inferiores aos
nossos parceiros europeus. Dou como exemplo a descida significativa dos níveis de
abandono escolar.
Apesar desta evolução, não podemos deixar de referir que a Escola passou por períodos
conturbados - isto sem querer emitir qualquer opinião sobre a adequação das medidas que
foram impostas, para não nos desviarmos do raciocínio central - como a avaliação dos
professores, as aulas de substituição, o congelamento das carreiras, o aumento excessivo
do tempo de permanência dos alunos na escola, entre outros, que conduziram a um estado
atual que se caracteriza por uma degradação crescente da imagem e das condições de
trabalho dos professores e por uma consequente degradação da imagem da instituição
escolar.
133
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Em suma, como afirma Nóvoa (2009), “o sistema de ensino, público e homogéneo, está
hoje a ser posto em causa por correntes e tendências que o consideram obsoleto e incapaz
de se renovar. As críticas têm as mais diversas origens e alimentam-se de um sentimento
de crise”.
De qualquer modo, pretende-se tornar bem evidente que a escola passou por muitas
alterações que não se pretende desvalorizar. O que se pretende trazer para a discussão é
o conceito de mudança. E, sob esta perspetiva, impõe-se a seguinte pergunta: Apesar de
todas estas alterações, podemos falar numa verdadeira mudança?
Extrapolando para a área da educação podemos afirmar que o ambiente em sala de aula
manteve ao longo do tempo, as mesmas rotinas. A “organização escolar”, apesar das
alterações, não realizou os ajustes suficientes para encontrar um novo equilíbrio ou,
dizendo de outra forma, a introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) não foi suficiente para a alteração da metodologia de trabalho na sala de aula. O
foco continua a estar centrado no professor como transmissor de conhecimentos e de uma
realidade forçosamente enviesada, porque resultante da sua visão. O espaço de aula não
se alterou, nem a forma como os alunos se dispõem nesse espaço e o utilizam. Não há
lugar para o pensamento crítico e para a reflexão. A forma como é feita a avaliação,
continua, grosso modo, a ser igual a “outros tempos” bem mais longínquos e, mais grave
do que tudo, na minha opinião, a escola voltou-se quase em exclusivo para o aluno médio
e para o aluno com graves dificuldades de aprendizagem, deixando os restantes, aqueles
que podem aspirar a “outros voos”, à sua sorte, não tendo quem os possa ajudar no
desenvolvimento das suas capacidades.
Não podemos excluir, nesta crítica, o papel desempenhado por muitos docentes que
resistiram à mudança, algo que constitui uma característica intrínseca do ser humano, na
medida em que qualquer mudança implica receio. “Com frequência, as pessoas receiam
as mudanças e a melhoria, receiam que estas mudanças sejam sinónimo de redução de
pessoal, receiam fazer ou sugerir melhorias porque não querem mal interpretadas ou
134
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
135
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Sem pretender ser exaustivo, e não esquecendo que se trata de uma gestão do currículo
até um máximo de 25%, ao nível do método de trabalho é possível fazer diferente
incorporando: a metodologia de projeto; a interdisciplinaridade; a partilha de
instrumentos de avaliação; a organização de tempos letivos diferenciados; a possibilidade
de realização de trabalho autónomo e a oportunidade de trabalhar em rede com outras
escolas e agrupamentos. É facilmente percetível que este método de trabalho traz uma
maior motivação para alunos e professores e permite uma verdadeira inclusão, na medida
em que é possível elaborar planos de trabalho adaptados aos alunos, de forma individual.
O espaço de aula passa a ser diferenciado. Tendo presente que o espaço de sala de aula
tem, por imposições físicas, de ser o mesmo, faz todo o sentido criar espaços diversos e
com diferentes fins. Podemos ter numa mesma sala de aula, as mesas e as cadeiras usadas
atualmente, mas também, criar espaços apropriados ao trabalho de grupo ou equipados
com computadores. Paralelamente, torna-se pertinente a adoção das saídas de estudo para
136
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
permitir o conhecimento dos lugares que estão a ser alvo de estudo, dotando os alunos de
uma outra capacidade de perceção do meio envolvente. A aula pode ter lugar em múltiplos
espaços, até no espaço exterior da escola, permitindo uma liberdade consentânea com a
autonomia que se quer criar.
A escola tem de se abrir ainda mais à comunidade em que se insere. Os parceiros podem
ter uma voz ativa na planificação das atividades, sugerindo outras formas de trabalhar e
dando soluções para os problemas que um trabalho pode levantar. Do mesmo modo, ao
intervir na planificação, os parceiros sentem-se vinculados ao trabalho a desenvolver e,
consequentemente, sentem a “obrigação” de disponibilizar meios para a concretização
das tarefas. Os encarregados de educação, do mesmo modo, devem perceber que a escola
mudou. A sua participação na vida escolar não se deve cingir à presença em reuniões ou
à ajuda em uma ou outra atividade desenvolvida pela escola. Os pais e encarregados de
educação, chamados a participar ativamente nesta mudança, devem perceber que o
trabalho desenvolvido dota os seus educandos de um conjunto de competências úteis para
a vida profissional. Abreu (2012) afirmou que “o envolvimento e contributo das famílias
e da comunidade são decisivos, nomeadamente, nos planos da participação ativa das
famílias na colaboração escola -família e no estabelecimento de relações de confiança
mútuas e recíprocas. Apoiar as famílias na construção e desenvolvimento das suas
próprias competências e autonomias é algo extremamente importante, pois sabe-se que a
redução do stress destas está fortemente ligada à melhoria da qualidade das interações no
contexto familiar e é fator essencial no sucesso educativo.”
137
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
pode existir uma verdadeira autonomia se não a trabalharmos no sentido de se atingir uma
verdadeira consciência cívica.
Mas a avaliação, este processo contínuo de auxílio às aprendizagens, tem que ter uma
finalidade. Um período temporal dedicado à tomada de decisões, que devem ter em conta
as aprendizagens, a capacidade de pesquisa e mobilização de informação e as atitudes e
valores.
Metodologia
Comecemos pela parte mais prática do processo. Optou-se, em Conselho Pedagógico, por
integrar neste projeto piloto apenas uma turma do terceiro ciclo, o que pode trazer alguns
constrangimentos, mas por outro lado, algumas oportunidades de fazer uma verdadeira
avaliação do projeto, como veremos mais à frente. Após a seleção dos elementos do
Conselho de Turma, da Diretora de Turma e do Coordenador do Projeto, adotaram-se
medidas de cariz funcional como o acesso privilegiado à sala de TIC e à biblioteca
escolar. Na matriz curricular, as áreas de Cidadania e de Oficina de Análise Documental,
assumem particular importância, esta última, no sentido de colmatar as dificuldades
diagnosticadas ao nível da pesquisa e interpretação de documentos, ferramenta essencial
para os trabalhos de projeto que se pretendem concretizar. Foi, ainda, explicado todo o
processo aos pais e encarregados de educação.
138
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Definidos os eixos prioritários, passou-se à fase de planificação dos DAC, tendo bem
presente que os trabalhos a concretizar tinham obrigatoriamente de incorporar as
seguintes “palavras-chave”: motivação, inclusão, mudança e autonomia. A planificação
dos DAC contemplam vários elementos comuns: eixo ou eixos prioritários em que se
enquadram; designação e explicitação da atividade; disciplinas proponentes; conteúdos
(onde se incluem as metas de aprendizagem, as aprendizagens essenciais e o perfil dos
alunos à saída da escolaridade obrigatória); recursos; período temporal (onde são
139
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Ambos os DAC se inserem em quatro dos eixos prioritários referidos anteriormente (com
exceção do último), têm uma forte componente local e regional, foram planificados em
conjunto com os alunos, definidos os horários de utilização da sala de TIC e da biblioteca
escolar e solicitado apoio aos parceiros que colaboram há largos anos com o
Agrupamento, nomeadamente, a autarquia. Prevê-se incluir os encarregados de educação
na realização dos DAC e na apresentação dos mesmos, assim como, os vários clubes em
funcionamento na escola. Estão, ainda, previstas saídas aos locais em estudo.
Na minha opinião, estamos. Desde logo, pela participação ativa dos alunos no processo
de planificação, mas também, pela utilização de diversos espaços de aula, pela definição
de horas para trabalho autónomo, pela introdução de competências de pesquisa e
mobilização de informação e pela nova forma de trabalhar com as parcerias. A
colaboração dos professores tornou-se mais efetiva, mas o foco, passou a estar nas
aprendizagens e estas, pensadas na perspetiva do aluno. Estamos a falar de uma
verdadeira autonomia, onde o professor não perde a sua importância, pois o seu papel
continua a ser central, mas existe uma partilha concreta com os alunos.
140
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resultados
Nesta fase, com pouco mais de seis semanas de trabalho, apenas podemos falar nos
resultados que queremos alcançar. E, estes, são simples de enumerar: maior aquisição de
competências e de conteúdos; aprendizagens significativas; maior autonomia; adoção de
atitudes e valores que conduzam a uma cidadania participativa e responsável. Os critérios
específicos que quantificarão cada um destes parâmetros avaliativos, ainda estão em fase
de discussão. Esperamos, contudo, integrar um conjunto de critérios que sejam facilmente
mensuráveis e entendíveis pelos alunos.
Apesar de estarmos a aplicar este projeto a, apenas, uma turma do sétimo ano de
escolaridade, o que traz alguns constrangimentos ao nível da organização do trabalho do
Conselho de Turma, permite a comparação com as outras turmas do mesmo nível de
ensino. Teremos todo o gosto em partilhar os resultados dessa comparação, para a qual,
terá ainda de ser definido um modelo.
De qualquer modo, no final do ano letivo, se concluirmos que num destes domínios os
resultados alcançados ficaram aquém do esperado, não podemos concluir que todo o
trabalho foi em vão. Na minha opinião, se no final do ano letivo verificarmos uma
evolução significativa no domínio da cidadania ou das competências, todo este processo
terá valido a pena.
Conclusão
141
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Referências Bibliográficas
Nóvoa, A. (2009). Educação 2021: Para uma história do futuro. Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação. Universidade de Lisboa. Disponível em
http://hdl.handle.net/10451/670. [Consultado em 10/11/2017.]
142
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Luísa Orvalho2
Susana Nonato3
Resumo
1
Este capítulo retoma e expande as ideias desenvolvidas pelas autoras no VII Ciclo de Seminários sobre
Administração, Supervisão e Organização Escolar, subordinado ao tema "Desenvolver a escola como
comunidade de aprendizagem”, dia 22 de fevereiro de 2017, Campus da Foz, no Porto, participando no
painel sobre "Organização do ensino e promoção das aprendizagens", apresentando, às 14h30, o tema
"Ensinar e Aprender por módulos".
2
Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal
3
Escola Profissional da região do Alentejo (EPRAL), Évora.
143
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Introdução
António Nóvoa (abril, 2016) afirma que a escola atual tem de mudar, enquanto“ espaço
público de educação”, traduz-se, no plano local, em formas várias de participação social,
presentes em iniciativas como as “cidades educadoras” ou os “territórios educativos” (vá-
rios espaços públicos de educação, mais amplos que a própria escola).
O paradigma da escola do século XXI encontra riqueza metafórica numa espécie de or-
questra em que cada um tem papel diferente, pelo esforço colaborativo na missão comum
de transformar a diversidade na harmonia coesa (Machado, T., 2017).
Michel Serres diz-nos que estamos a viver a terceira revolução na história humana: depois
da “escrita” e do “livro”, o “digital” está, agora, a transformar a forma como pensamos,
144
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
como nos relacionamos e como aprendemos. O seu livro “Petite Poucette “ (Michel Ser-
res, 2012), cuja alcunha imagética, em brasileiro, para a geração mais jovem adoles-
cente é “ As Polegarzinhas” leva-nos a refletir acerca das competências a serem traba-
lhadas para se viver e trabalhar no século XXI, naquela que é considerada já a 4.ª revo-
lução industrial (indústria 4.0, a sociedade IoT - Internet das Coisas), “lugar invisível”,
em que se exige, entre outras, a resolução de problemas complexos, o pensamento crítico,
a criatividade, a gestão de pessoas, a inteligência emocional, a tomada de decisões, a ne-
gociação e flexibilidade cognitiva.( http://www.portaldalideranca.pt/conheci-
mento/competencias/4752-as-10-competencias-chave-para-prosperar-na-quarta-revolu-
cao-industrial
145
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Conteúdo l Aluno
relevante e útil único e irrepetível
Neste processo de ensinar, aprender e avaliar por módulos, dois princípios fundamentais
a ter em conta: atender à diversidade dos alunos e melhorar a qualidade de ensino de
modo que cada um dos alunos seja capaz de atingir o máximo do seu potencial. Assim,
nesta linha de pensamento a avaliação formativa deve estar presente em todo o percurso
modular, tendo o professor a responsabilidade de logo no inicio do processo tornar muito
claro e compreensível os objetivos de aprendizagem, os critérios de avaliação e os
descritores de nível de desempenho, as atividades diferenciadas a realizar por cada aluno/
grupo de alunos, ligando-as aos contextos de vida e da profissão, através da resolução de
problemas concretos, de projetos, de indagação de fenómenos, dando, deste modo a cada
aluno a possibilidade de uma proatividade na autorregulação da sua aprendizagem e de
uma autoavaliação permanentes, com feedback imediato e inteligente do professor.
A escola do século XXI precisa de uma nova pedagogia e de uma nova organização, com
outras e novas relações, para responder aos desafios da nova sociedade e desenvolver
146
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Fonte: https://www.slideshare.net/adfigueiredoPT/que-pedagogias-para-o-sculo-xxi
147
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Segundo Villas Boas (2007) "o portfólio é um procedimento de avaliação que permite aos
alunos participar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem e avaliar o seu
progresso. Eles são, portanto, participantes ativos da avaliação, selecionando as melhores
amostras de seu trabalho para incluí-las no portfólio “.
148
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
149
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
150
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Http://susanaqnonato.wixsite.com/portefolio
Conclusão
A urgência das mudanças no modo como se ensina e como se aprende a partir de óticas
construtivistas da aprendizagem às quais se juntam a simples complexidade da
cibercultura, encontra um campo muito fértil no Ensino Profissional (Estrutura Modular).
Urge uma escola verdadeiramente para todos, onde todos possam aprender, e onde o aluno
e o seu processo de aprendizagem seja o principal enfoque de toda a dinâmica escolar
(Nóvoa, 2016). A missão da escola, enquanto instituição da nova sociedade é “ Fazer
Aprender - Educação por todos ”. O modelo de escola tradicional, criado há 150 anos não
responde aos novos desafios da atualidade. Se esta não sofrer uma metamorfose pode
desintegrar-se (António, Nóvoa, 2017).Precisamos de uma nova organização dos espaços
(onde se possa trabalhar em conjunto), dos tempos, dos currículos, …, de um novo
contrato social de educação.
4
Projeto Integrado/Project Based Learning /Problem Based Learning/ Inquired Based Learning
151
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Hannah Arendt (2010),considera que a crise na educação deve ser entendida como
oportunidade crucial para reflexões críticas a respeito do próprio processo educativo. A
escola tem de ser o espaço comum da expressão das diferenças e da deliberação conjunta.
A escola como instituição pública pertence à “polis” e não apenas ao Estado ou a outa
qualquer corporação (Nóvoa, 2017). Todos podemos transformar a escola! A escola
enquanto espaço público de educação, de discussão e de deliberação compromete-nos a
todos.
Referências Bibliográficas
Lamer, J. & Mergendoller, J. (2015). Setting the Standard for Project Based Learning: A
Proven Approach to Rigorous Classroom Instruction. Suzie Boss: ASCD.
152
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
153
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Resumo
Este texto, redigido numa lógica que se aproxima da forma de “caso”, explora uma
experiência de planificação colaborativa cuja preparação envolveu três docentes, de
diferentes áreas disciplinares, a partir da temática do Renascimento e deve ser entendido
como uma evidência dessa intenção.
1
Professora do quadro da Escola Secundária Inês de Castro
2
Professora do quadro da Escola Secundária Inês de Castro
3
Professora do quadro da Escola Secundária Inês de Castro e Formadora.
4
Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa. Consultora Científica da Escola Secundária Inês de Castro, no âmbito do Serviço de
Apoio à Melhoria da Educação (SAME), Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade Católica
Portuguesa.
154
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Introdução
Este tipo de prática formativa vai ao encontro dos caracterizadores que enformam a
função do professor e que implicam “analisar/teorizar as práticas profissionais” de forma
fundamentada e colaborativa, no interior do seu “grupo funcional”, com a finalidade de
as “legitimar socialmente” e “divulgar” (Roldão, 2010).
O repto lançado pela professora de Educação Física, que também acumulou o papel de
formadora, evoca as dimensões supervisivas que se prendem com o ato de desafiar, de
desencadear oportunidades e de acompanhar (Alarcão, 2009). A compreensão partilhada
da realidade, o desenvolvimento transformador de pessoas e contextos (Palmeirão, 2016;
Vieira, 2014) constituíram propósitos deste caso que envolveu a vontade de concretizar
5
Veja-se artigo inserido na publicação e-book de outubro de 2016, sob o título “Observação de aulas e
formação entre pares” – Universidade Católica http://www.uceditora.ucp.pt/resources/Documentos/
UCEditora/PDF%20Livros/Porto/Professores%20e%20Escolas.pdf
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Adicionalmente, vários têm sido os autores que têm vindo a defender que o
desenvolvimento de competências nos alunos é facilitado pelo envolvimento das
diferentes áreas disciplinares, cabendo ao professor facilitar a aprendizagem (Formosinho
& Machado, 2009, Gimeno Sacristán, 2008; Palmeirão, 2014; Roldão, 2006, 2007;Tardif,
2000; Perrenoud, 2000, Vasconcelos, 2009). Pelo que se torna imperativo não só conhecer
o conjunto dos aprendentes, bem como explorar os recursos adequados ao momento
pedagógico, de modo a que o saber ou o conhecimento “seja incorporada
significativamente pelo aprendiz” (Gimeno Sacristán, 2008, p. 119), como pode ser
observado no quadro 1.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
o velho paradigma de pensar a disciplina pela disciplina e passar a ver a relação entre
saberes (Roldão, 1999; Alarcão e Roldão, 2008; Perrenoud, 2000).
158
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Uma parte significativa dos rapazes pratica desporto e gosta de competir. Revelam
resistência e ficam intimidados quando confrontados com situações que apelam à
expressão corporal. A docente, na área das atividades rítmicas e expressivas, tem vindo a
criar e propor sequências de elementos técnicos elementares realizadas em grupo, num
apelo à aplicação da expressividade de acordo com os motivos da composição.
A estratégia concebida foi pensada com o objetivo de que na aula de História os alunos
tivessem, num primeiro momento, a oportunidade de perceber as características do
movimento cultural, artístico e literário que marcou o Renascimento. O qual, entre outros
aspetos foi fortemente influenciado pela cultura e conhecimento do período greco-romano
e marcado pela ascensão do Homem como agente criador (antropocentrismo). Este novo
espírito viabilizado pela emergência da burguesia e patrocinado pelos mecenas assentou
no racionalismo crítico e naturalismo, permitindo avanços significativos nas diferentes
áreas, nomeadamente, na da engenharia, pela adoção de novos métodos de trabalho, como
se pôde analisar, posteriormente, de forma mais circunstanciada na aula de Matemática.
A construção da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, projetada por Brunelleschi
é exemplo disso, pela capacidade que o engenheiro manifestou em projetar uma cúpula
assente numa base octogonal, recorrendo a técnicas diferentes das da técnica construtiva
tradicional.
ii) Definiram pontos de partida para a abordagem dos conteúdos e formas de acesso
à sua compreensão
159
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Recurso disponível no link https://youtu.be/SxR6nEJvtWk
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Na aula de Educação Física, os alunos numa parte inicial de uma aula da unidade didática
da modalidade de ginástica foram estimulados a expressar o saber pela corporalidade em
ação, ao som de diferentes ritmos musicais, nomeadamente de trechos de Matona, mia
cara de Orlando di Lasso (compositor que chegou a trabalhar para Cosimo de Médici) e
Giovanni Pierluigi da Palestrina. Neste enquadramento foi feito um apelo para a
mobilização da expressão corporal como forma de comunicação e de expressão artística
em íntima ligação com a criatividade, numa aproximação aos sentimentos exibidos pelas
diferentes melodias.
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Matemática Recursos
Estratégia de ensino
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História Recursos
Objetivos/Indicadores de aprendizagem
Estratégia de ensino
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Problematizar com os alunos, a partir das imagens (os alunos têm em sua mão um
visualizadas, a temática do Renascimento e levantar guião)
ideias tácitas referentes à descoberta da cultura
clássica e expansão marítima.
Avaliação
Estratégia de ensino
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Corpo/expressão e espaço
- em pares, os alunos ao ritmo da Matona, mia cara, Matona, mia cara de Orlando di
realizam o jogo do espelho. No qual um dos alunos Lasso
funciona como o criador do movimento e o parceiro https://youtu.be/lmf2H7IxNDY
é o seu espelho, responsável por realizar o mesmo
movimento. Os movimentos devem privilegiar
diferentes níveis (inferior, médio e superior), bem
como utilizar diferentes trajetórias, utilizando o
espaço disponível. Os alunos passam pelo
desempenho dos diferentes papéis.
Avaliação
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Foi consensual para as docentes a perceção de que se as aulas tivessem sido observadas
seria possível detalhar, mais pormenorizadamente, as dificuldades e os constrangimentos
evidenciados. O “olhar externo focado com intencionalidade” poderia contribuir para o
registo de pequenos diálogos que mais tarde serviriam para refletir sobre a eficácia da
aula, permitindo a viabilidade de ajustes.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Por outro lado, se a observação formativa da aula tivesse sido realizada por um professor
da mesma área possibilitaria que o(s) professor (es) se focassem em aspetos que pudessem
ser trabalhados em conjunto, não só permitindo “poupar tempo”, mas também rentabilizar
as experiências que cada um dos profissionais foi reunindo ao longo do seu trajeto numa
lógica de partilha e enriquecimento do leque dos instrumentos de aprendizagem.
Considerações finais
Durante este processo, os docentes têm consciência que o tempo letivo é, geralmente,
muito curto para a acomodação do novo conhecimento. Tempo que nem sempre permite
que todos os alunos consigam, efetivamente, realizar as aprendizagens. Ao que acresce o
facto de, à partida, nem todos os alunos se encontrarem com os pré-requisitos necessários
e suficientes para a apropriação da matéria de ensino. No entanto, não é apenas o tempo
que pode explicar as diferenças de desempenho, mas também as diversas formas de
apropriar o saber, de pensar/raciocinar e a maneira como se estabelecem relações entre o
que se sabe e o que se aprende de novo.
167
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Gisela Carvalho1
Luísa Ribeiro2
Resumo
Assumindo uma perspetiva ecológica, este estudo teve como objetivo identificar
dimensões críticas na promoção do sucesso educativo de crianças e jovens em
acolhimento residencial, que possam posteriormente ser incluídas em instrumentos que
estão a ser desenvolvidos com a finalidade de avaliar as necessidades de intervenção no
domínio educacional em casas de acolhimento, que permitam a identificação de áreas de
melhoria e o desenho de intervenções. Após a revisão da literatura, foram realizadas
entrevistas e grupos de discussão focalizada com diversos intervenientes. São
apresentadas e discutidas as dimensões críticas identificadas, bem como as etapas que se
seguem no desenvolvimento dos instrumentos. São também discutidos os desafios para a
escola e para os professores na promoção de oportunidades de sucesso para todos,
nomeadamente para as crianças e jovens mais vulneráveis.
1
Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal
2
Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
1. Introdução
Estudos científicos têm evidenciado que os jovens acolhidos apresentam riscos elevados
em várias dimensões ao longo da sua vida. Quando adultos confrontam-se com problemas
de inserção laboral e com uma situação de alto risco de exclusão social – parentalidade
precoce, delinquência, sem-abrigo, dependência de subsídios sociais, dependência de
droga e álcool e salários baixos e problemas de saúde (Jackson, & Höjer, 2013;
Montserrat, Casas, & Bertrán, 2013; Stein, 2008; Tweddle, 2005). A fraca escolarização
tem, portanto, um impacto negativo para os jovens e para a sociedade a médio e a longo-
prazo (Jackson, & Sachdev, 2001) ao contribuir para a manutenção do ciclo
intergeracional da exclusão social (Martín, 2012).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
2. Metodologia
Assumindo uma perspetiva ecológica, este estudo teve como objetivo identificar
dimensões críticas na promoção do sucesso educativo de crianças e jovens em
acolhimento residencial, que possam posteriormente ser incluídas em instrumentos que
estão a ser desenvolvidos com a finalidade de avaliar as necessidades de intervenção no
domínio educacional em casas de acolhimento, que permitam a identificação de áreas de
melhoria e o desenho de intervenções.
3. Resultados e discussão
A investigação propõe vários fatores para o insucesso escolar das crianças e jovens em
acolhimento. A partir da revisão bibliográfica identificámos onze dimensões críticas na
promoção do sucesso educativo em casas de acolhimento: organização da casa de
acolhimento, estudo e aprendizagem, envolvimento em decisões que afetam as suas vidas,
articulação entre a escola e a casa de acolhimento, cuidadores, instabilidade, contexto
escolar, professores, atividades extracurriculares, contexto familiar e avaliação
psicológica.
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positivas e as suas ações no plano organizacional, curricular e da sala de aula devem ser
consistentes com tais expectativas (Amado et al., 2003). Deste modo, os professores
devem apoiar as crianças e jovens em situação de acolhimento nas suas tarefas escolares,
ajudá-los a superar as suas dificuldades de aprendizagem e a reconhecer o seu verdadeiro
potencial, valorizar os seus progressos escolares e incentivá-los a ser bem-sucedidos
(Harker et al., 2003; Martin, & Jackson, 2002), contribuindo, assim, para que a perceção
de autoeficácia, o autoconceito e a motivação destes alunos aumente (Höjer, & Johansson,
2013). As estratégias de ensino devem ser adequadas às dificuldades experienciadas por
esta população (Harker et al., 2003) e a relação com os alunos deve-se pautar por um
apoio e atenção consistente, assim como por empatia face aos problemas pessoais e
familiares destes jovens (Gilligan, 2007; Martin, & Jackson, 2002; Tilbury et al., 2012).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Conclusão
O insucesso escolar é uma realidade para muitas crianças e jovens residentes em casas de
acolhimento. Estudos científicos sugerem que o acolhimento residencial pode ser
benéfico para o desempenho escolar da população acolhida (Brodie, 2010; Franz, &
Branica, 2013).
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
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183
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Fátima Braga1
António Joaquim Abreu Silva2
Manuela Ferreira3
Graça McDade4
Resumo
1
Consultora SAME-UCP, investigadora do CITCEM e professora na E.S./3 Henrique Medina –
Esposende (fatimabragaeshm@gmail,com)
2
Docente na ESE do Porto e no A.E. de Monserrate – Viana do Castelo, investigador do CITCEM
(antjasesm@gmail.com)
3
Direção da E.S./3 Henrique Medina – Esposende (620mferreira@eshm.edu.pt)
4
Grupo “Ciência, Religião e Conhecimento” FCUP, professora e coordenadora dos diretores de turma da
E.S./3 Henrique Medina – Esposende (520gmcdade@eshm.edu.pt)
184
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Introdução
Em 2017-18, os princípios aqui expressos, e que foram orientadores das duas experiências
de formação, serão desenvolvidos em dois projetos orientados pela consultora que integra
o conjunto de autores deste texto, no âmbito da consultoria TEIP realizada pelo Serviço
de Apoio à Melhoria das Escolas da Universidade Católica do Porto. São princípios que
pretendem trazer para as dinâmicas de formação e de ação didática e pedagógica
dispositivos profissionais e organizacionais particularmente sensíveis à necessidade
continuada de diagnóstico de contextos e de ressignificação e reposicionamento das
práticas curriculares do ensino e da aprendizagem. Daqui que a proposta de formação
agora apresentada configure os conteúdos e a metodologia de trabalho de acordo com
áreas concetuais e procedimentais de evidente impacto no modo como as questões da
integração curricular e da significatividade das operacionalizações didáticas podem ser
trabalhadas em contexto escolar e de sala de aula.
185
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
186
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
1. Problema
1.1 Concetualização
Em contexto de formação, e sobre a pertinência dos três vetores enunciados por Nóvoa,
recorre-se a Meirieu (2017a) para equacionar os desafios colocados à escola em geral e
aos professores em particular, designadamente com a entrada em vigor em Portugal da
Lei nº 85/2009, de 27 de agosto, que inscreve no âmbito da escolaridade obrigatória as
crianças e jovens com idades compreendidas entre os seis e os dezoito anos. Para Meirieu,
a escolaridade obrigatória alargada consigna um imperativo democrático que obriga à
construção de uma ecologia da atenção capaz de, no mundo atual da complexidade, pro-
porcionar elevados níveis de formação, em que o pensamento abstrato se associa à ativi-
dade manual. Isto significa que os sistemas educativos não se podem continuar a pensar
a partir de um princípio que, de forma mais ou menos implícita, naturaliza a separação
entre concetores, executantes, desempregados e menos capazes.
Numa outra ordem de valores, próprios de uma democracia autêntica, a procura da exce-
lência deverá dizer respeito à exigência da aceitação da diferença como norma. Assim,
cada formando confronta-se com a ideia de que decretar o alargamento da escolaridade
obrigatória não significa um consequente aumento e uma direta melhoria das aprendiza-
gens. Pelo contrário, tal desiderato implica a ambição pedagógica de recontextualização
187
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Ainda nesta linha, recorre-se também a Meirieu (2017b) para se constatar que a reflexão
pedagógica atual se centra num paradoxo: estamos todos de acordo que as aprendizagens
escolares não resultam de simples imposição, mas, no entanto, o acesso à cultura
humanista universal é um imperativo de que ninguém está dispensado nas sociedades
democráticas. A ser assim, ganha radicalidade a questão pedagógica a ser colocada nos
nossos dias: Para que serve a escola? A esta questão associa-se inevitavelmente uma outra
que nos interpela sobre que escola queremos e devemos construir.
Alertando para o perigo de, na atualidade, se tratarem estas e outras questões centrais de
forma empírica ou subjugadas a relações de força entre diferentes grupos de pressão (veja-
se como o conhecimento pedagógico é construído, muitas vezes, a partir do senso-comum
e/ou de declarações que vão emergindo sem suporte científico), Meirieu (idem)
caracteriza a perspetiva a desenvolver: a de que a escola deve transmitir,
indissociavelmente, i) saberes que permitem ao aluno integrar-se no seu grupo de
pertença; ii) saberes que lhe permitem recusar qualquer forma de servidão, mesmo que
sejam os da comunidade em que se insere; iii) saberes que permitem ao aluno viver de
acordo com a dignidade e a universalidade da condição humana.
188
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
escolas e dos professores uma disponibilidade cultural que ultrapassa a soma das
competências técnicas que a escola permite adquirir.
Numa expressão de síntese, tomada de Giroux (1988), trata-se de, no caminho a seguir,
tornar o pedagógico mais político – ou seja, inserir o processo educativo de
reconhecimento das diferenças na esfera política mais ampla da construção da cidadania
– e, simultaneamente, tornar o político mais pedagógico – isto é, perspetivar formas
pedagógicas que reconheçam os estudantes como agentes críticos, capazes de
problematizarem o conhecimento e de aceder aos processos através dos quais o
conhecimento é produzido.
A par dos elementos teóricos mobilizados para concetualizar o problema relativo ao lugar
e funcionamento da escola no mundo atual, recorre-se também ao enquadramento norma-
tivo e institucional que tem vindo a estar presente na estruturação das atuais políticas
públicas de educação, referidas a uma escolaridade obrigatória de doze anos, que, neces-
sariamente, acolhe públicos heterogéneos e, por isso, exige da escola pública abordagens
diferenciadas e integradas ao nível das práticas pedagógicas e do desenvolvimento curri-
cular. Por entre a análise de normativos legais e projetos institucionais, e mesmo dos
registos mediáticos que inevitavelmente os acompanham, é possível organizar os princi-
pais eixos pedagógicos e curriculares que recobrem o cenário discursivo das políticas
públicas de educação em curso, com necessário impacto no trabalho das escolas, dos pro-
fessores e dos alunos.
Desses eixos, presentes nas normas e orientações da tutela educativa, ressaltam linhas de
força bem marcadas, cuja análise mostra como nelas pontuam os temas da articulação e
flexibilização curricular e da diferenciação pedagógica. Como decorre, por exemplo, do
consignado na Resolução do Conselho de Ministros nº 23/2016, de 11 de abril, que cria
o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, no Perfil dos Alunos à Saída da
Escolaridade Obrigatória (homologado no Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho) e dos
múltiplos relatórios e pareceres que sobre o tema têm vindo a ser elaborados, nos anos
mais recentes, pelo Conselho Nacional de Educação e pela OCDE, às escolas é lançado
189
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Ainda que com uma incidência mais específica, ligada ao desenvolvimento de autonomias
reforçadas, no âmbito de projetos-piloto de inovação pedagógica, o Despacho n.º
3721/2017, de 3 de maio, orienta-se para a adoção de medidas que, promovendo a quali-
dade das aprendizagens, permitam uma efetiva eliminação do abandono e do insucesso
escolar em todos os ciclos de ensino, para o que sugere a implementação de medidas e
190
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
É assim que, explicitando, por um lado, o alinhamento com o Perfil dos Alunos à Saída
da Escolaridade Obrigatória (que é também analisado e operacionalizado no contexto da
formação) e, por outro lado, situando este documento no quadro dos desenvolvimentos
educativos que têm vindo a ser feitos nos mais variados fóruns internacionais, nomeada-
mente os dos desígnios consignados no projeto Educação 2030 (UNESCO, 2016) e na
iniciativa da UNESCO/OCDE A Voz dos Alunos, enquanto simultaneamente define o cur-
rículo a desenvolver no âmbito de documentos curriculares como os das Aprendizagens
essenciais (disponíveis na página da Direção-Geral da Educação), o Despacho nº
5908/2017, de 5 de julho, autoriza em regime de experiência pedagógica a implementação
do projeto de autonomia e flexibilidade curricular dos ensinos básico e secundário, no
ano escolar de 2017-2018. Neste normativo, o currículo é entendido como um instru-
mento ao serviço de todos os alunos, independentemente da oferta educativa que frequen-
tam, no sentido de alcançarem as competências definidas no Perfil dos Alunos à Saída da
Escolaridade Obrigatória, o que, como também é dito, pressupõe uma apropriação con-
textualizada do currículo, em sede do seu planeamento. Um planeamento e uma prática
pedagógica que assentem numa visão de articulação interdisciplinar e de complementari-
dade das estratégias de ensino e de aprendizagem, por forma à efetiva apropriação dos
conhecimentos e ao desenvolvimento pelos alunos das capacidades e atitudes previstas
no Perfil. Tendo em vista a concretização destes princípios, o documento aponta ainda
para uma ação estratégica que, entre outros aspetos, ligue o desenvolvimento curricular à
diferenciação pedagógica, ao trabalho colaborativo dos professores e à organização dos
alunos em grupos de trabalho temporários, para a consolidação de aprendizagens especí-
ficas e o desenvolvimento do trabalho cooperativo e autónomo.
191
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
para as decisões a adotar por decisores e atores educativos ao nível dos estabelecimentos
de educação e ensino e dos organismos responsáveis pelas políticas educativas,
constituindo-se como matriz comum para todas as escolas e ofertas educativas no âmbito
da escolaridade obrigatória, designadamente ao nível curricular, no planeamento, na
realização e na avaliação interna e externa do ensino e da aprendizagem. Significa isto,
como neste Despacho é também dito, que para o Perfil devem convergir todas as
aprendizagens, garantindo-se a intencionalidade educativa associada às diferentes opções
de gestão do currículo, de tal modo que, na conclusão da escolaridade obrigatória e
independentemente do percurso formativo adotado, sejam asseguradas a todos os jovens
um conjunto de competências, entendidas como uma interligação entre conhecimentos,
capacidades, atitudes e valores, que os torna aptos a investir permanentemente, ao longo
da vida, na sua educação e a agir de forma livre, porque informada e consciente, perante
os desafios sociais, económicos e tecnológicos do mundo atual.
Numa breve síntese, perante a sinopse feita do quadro de respostas normativas em curso,
parece poder inferir-se que, para as escolas e professores, é determinante a assunção de
alguns eixos de trabalho e de formação que se ligam, designadamente, aos planos i)
metodológico e didático (metodologias e didáticas na docência); ii) organizacional e
pedagógico (gestão curricular, trabalho colaborativo e avaliação das aprendizagens); iii)
cívico-social (diferenciação e inovação pedagógicas).
192
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A ser assim, perceberemos a urgência do apelo feito à escola para, a partir do seu lugar
social e da centralidade dos seus meios pedagógicos, estruturar caminhos de transforma-
ção coletiva onde se cruzam, entre outros, problemas sobre o sentido e valor do conheci-
mento, o estatuto da autoridade e o interesse cultural da própria escola. Numa formulação
mais sistematizadora, na resposta a este apelo reclamam presença algumas dinâmicas que
passam i) pela diferenciação das respostas pedagógicas, como reconhecimento da centra-
lidade contextual do aluno e ii) pelo desenvolvimento de processos de colaboração do-
cente optimizadores de tomadas de decisão que capacitem os estudantes com “o conheci-
mento, caráter e visão moral que formam a coragem cívica” (Giroux, 1992, 18) – a cora-
gem que nasce da compreensão de si próprio e da descoberta do poder de significar o
mundo -, e também processos que capacitem os professores, como propõe Day (2004),
com os propósitos morais que sustentam o seu sentido de comprometimento e de cuidado
para com os alunos.
193
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
práticas intelectuais (vd. ponto 2.1.3.), em que sujeitos interlocutores buscam a significa-
ção dos significados ou, por outras palavras, se interessam por compreender porque é que
as coisas são como são.
A aplicação deste quadro teórico à realidade de escolas e de alunos está plasmada nos
anexos apresentados neste texto, elaborados em contexto de formação contínua.
O horizonte das perspetivas emancipatórias que temos vindo a equacionar e que marcam
os caminhos de uma educação implicada na pedagogia da voz – pedagogia do
reconhecimento da diferença e, por isso, da equidade -, aproxima-nos de uma interrogação
verdadeiramente interpelante. Tomada do CNE (2016), ela assinala a questão de
investigação que orienta o trabalho realizado em contexto real e também o racional
orientador das dinâmicas das oficinas de formação realizadas: “Seremos capazes de
aumentar hoje a qualidade e a equidade, de modo a criar oportunidades para todos os
cidadãos, contribuindo para a realização pessoal, escolar e social de cada uma das crianças
e dos jovens (…) num país socialmente tão desigual?”.
Assumindo que o sentido da existência da instituição Escola passa pela constante procura
de respostas que concretizem este desafio (Braga et allli, 2015), subdividimos esta
questão em duas outras que, com a enunciação dada em Braga e Silva, neste ebook,
focalizam os lugares de passagem da pesquisa: Por que razão os alunos resistem à
aprendizagem? e Como sabemos se o que fazemos tem impacto positivo nas
aprendizagens / no desenvolvimento dos alunos?.
194
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Para analisar a forma como este desafio pode ser concretizado nas decisões pré-ativas dos
professores, vejam-se os anexos 7, 8, 9 e 10 – Planificações Processuais. Trata-se, então,
de explicitar o modo como se fundamentam as opções feitas para procurar novas entradas
no saber e novas conexões interdisciplinares, conforme os anexos 7, 8, 9 e 10 explicitam.
Dito de outro modo, consiste em consciencializar a articulação existente entre a proposta
didática em construção e os Princípios, a Visão e os Valores do Perfil dos Alunos para o
Século XXI (Ministério da Educação, 2017). Para proceder à articulação curricular,
começa-se então por preencher uma tabela de dupla entrada, respondendo às diferentes
questões que o professor se deve colocar para procurar novas entradas no saber e novas
conexões. Estruturam-se, por um lado, na análise da situação sociocultural dos alunos,
por outro, nas suas caraterísticas sociomotoras e, ainda por outro lado, na
consciencialização dos saberes do aluno em que o professor se pode apoiar e nas entradas
no saber de que dispõe (vd. anexos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 – Planos de Articulação Curricular).
3. Metodologia
a. Ir para além da lógica única de obtenção de nota/nível positivo dos alunos nas pro-
vas de final de ciclo, assumindo uma conceção alargada de “sucesso educativo”,
para lá da reprodução de conteúdos e vinculando-o à significatividade do conheci-
mento, para uma aplicação criativa a situações novas;
d. A capacitação dos pais para se assumirem como gestores educacionais dos seus
filhos;
196
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Assim, organizam-se:
- Trabalho autónomo (da reflexão à ação), com vista à reformulação das decisões,
estratégias e técnicas discutidas nas sessões presenciais, aferição dos materiais e dos
resultados e registo das práticas que sustentam a discussão de resultados, na sessão
presencial subsequente;
197
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
questões estruturantes, que pretendem perspetivar o futuro ou, para lá do círculo das
rotinas, transformar as práticas numa espiral de apropriações significativas:
4. Resultados
Nas duas oficinas já dinamizadas, o conhecimento foi trabalhado em ação, com vista ao
desenvolvimento de uma competência global atenta aos valores da dignidade humana e
da diversidade cultural, de acordo com as orientações concetuais e enquadramentos
metodológicos sistematizados pelo Relatório Técnico do Conselho Nacional de Educação
sobre o Perfil do Aluno - Competências para o século XXI (CNE, 2017):
198
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Aprender a aprender;
Competências sociais e cívicas (colaboração);
Iniciativa e empreendedorismo;
Consciência cultural;
Competências digitais;
Competências lógico-matemáticas, científicas e tecnológicas;
Comunicação em língua materna;
Comunicação em línguas estrangeiras.
Como nos comportamos e envolvemos no mundo?
o Atitudes de:
Consciencialização e mentalização [mindfulness];
Respeito pela diferença cultural e pelo outro;
Consciência global;
Sentido de responsabilidade;
Curiosidade;
Coragem;
Resiliência;
Ética;
Liderança.
A partir deste referencial, que serviu de ficha de autoavaliação dos trabalhos, foram
concebidos, construídos e operacionalizados projetos didáticos de gestão flexível do
currículo e de diferenciação pedagógica, do mesmo modo que se refletiu sobre os
processos e os resultados obtidos, numa dinâmica de investigação-reflexão-ação. Desta
forma, na implementação já feita deste projeto, foi possível afirmar a ação docente como
um vetor de inovação e mudança, sem rutura, conciliando inventividade e regulação,
diversidade e coerência; repor a importância da pedagogia na construção de uma
perspetiva curricular sistémica que fundamente a ação educativa e responda à
heterogeneidade de públicos, quer se trate de desigualdade de sucessos, origem cultural e
socioeconómica, ou acumulação de dificuldades de aprendizagem.
199
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Em anexo apresentamos algumas das expressões dos trabalhos desenvolvidos que, pro-
duzidos neste contexto de formação, pretenderam dar conta das linhas orientadoras pro-
postas. São primeiras experiências a ser melhoradas, ajustadas e aprofundadas, mas que
provaram que despadronizar é possível e desejável.
Conclusão
Pareceu-nos que esta perspetiva de trabalho seria melhor concretizada pelo sentido de
comunidade de aprendizagem profissional, tendo como finalidade defender o papel
essencial que a educação deve reivindicar para, na tecedura económica e social da
atualidade, combinar cidadania, subjetividade e emancipação numa pedagogia da co-
responsabilização e do reconhecimento (Braga, 2010). Numa lógica de empoderamento
e como bem traduz a proposta epistemológica de Boaventura Sousa Santos, tratou-se de
contribuir para a superação necessária dos excessos de subtis regulações que, à escala
política e económica mundial, fazem acontecer a vida em sociedade nos limites estreitos
e parcelares de um jogo entre “cidadania sem subjetividade nem emancipação”,
200
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Olhando para o cruzamento complexo destas variáveis, procurámos pontos de fuga para
este jogo estreito e subtil, através dos seguintes elementos concetuais e metodológicos:
Referências bibliográficas
201
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Braga, Fátima (2015). Consultoria, Currículo e Cultura Escolar em contexto TEIP – para
a compreensão do pensamento e da ação do professor. In C. Palmeirão e J. M. Alves
(coord.). Ser Autor, Ser Diferente, Ser TEIP (ebook). Porto: FEP-UCP.
Braga, Fátima; Silva, António (no prelo). Construir conhecimento profissional para for-
mar a consciência coletiva - Alguns desafios atuais da experiência educativa. In C. Pal-
meirão e J. M. Alves (coord.). Construir a autonomia e a flexibilização curricular: os
desafios da escola e dos professores (ebook). Porto: FEP-UCP.
Giroux, Henry (1992). Border Crossings. Cultural Workers and the Politics of Education.
New York and London: Routledge.
202
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Young, Michael (2007). Para que servem as escolas? Educação e Sociedade, vol. 28, n.
101, pp. 1287-1302, set./dez. Em http://www.cedes.unicamp.br
Anexos
203
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
EDUCAÇÃO VISUAL
EDUCAÇÃO
DISCIPLINAS PORTUGUÊS e EDUCAÇÃO GEOGRAFIA CIÊNCIAS DA NATUREZA FÍSICO-QUÍMICA EMRC HISTÓRIA
FÍSICA
TECNOLÓGICA
Texto narrativo – a lenda Desenho de esboço; Elaboração de A atividade vulcânica: Solução - O politeísmo; -Atividades - A civilização
e o mito Desenho de representações Estrutura de um aparelho Soluto - o catolicismo rítmicas romana
Estrutura da narrativa: observação; cartográficas do vulcânico; materiais expelidos; Solvente como religião expressivas: (sociedade e
organização das Desenho expressivo. território relação tipos de magmas - tipos Concentração mássica de uma do império Dança cultura)
Conhecimento sequências narrativas; Diversidade de de atividade vulcânica; solução
s a adquirir texto descritivo (retrato e representações vulcanismo secundário;
Conhecer a civilização romana, para participar como figurante, no cortejo Braga Romana
formas
Atitudes a ALUNO analítico/crítico, comunicador, conhecedor/sabedor/culto/informado, criativo, cuidador (de si e dos outros), indagador/investigador, leitor, participativo, colaborador,
desenvolver respeitador da diferença/do outro, responsável/autónomo, questionador, sistematizador/organizador
Valores a
operacionaliza Liberdade, responsabilidade e integridade, cidadania e participação, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação
r
Leitura de lendas sobre a Trabalho de Elaboração de mapas -Usando como referência um filme - Atividade prático-laboratorial: - Pesquisar na -Praticar o - Pesquisar os
origem de Roma pesquisa: criação de de cidades romanas, sobre a destruição de Pompeia preparação de uma solução Net; projeto croquis para a
Resolução de exercícios um dossier individual em diferentes escalas pelo vulcão Vesúvio, serão aquosa de permanganato de - Elaborar coreográfico indumentária.
de compreensão escrita com recolha de abordados os tipos de materiais potássio e de uma solução cartazes com
Estratégias/ati Análise temporal e imagens e textos de vulcanismo, atividade vulcânica aquosa de sulfato de cobre. os deuses
vidades/ espacial, delimitação da relacionados com o e suas características; - Preparação de corantes de romanos,
tarefas a ação, identificação do modo de vida da - Atividade laboratorial sobre tipos plantas (casca de noz, açafrão, utilizando o
realizar em papel do narrador, civilização romana de atividade vulcânica. uvas, cascas de milho vermelho, computador
cada caracterização física e (vestuário; folhas de eucalipto)
disciplina psicológica, direta e construções, -Tingir com as soluções
indireta das personagens objetos…). preparadas peças de algodão.
Produção coletiva de
retratos e autorretratos
Produção de relatório
Aplicação AA: Linguagens e tex- AA: Pensamento AA: Bem-estar, saúde AA: Raciocínio e resolução de AA: Raciocínio e resolução de AA: AA: Consciên- AA: Saber cien-
competencial tos (A); Informação e criativo (D) - Elabo- e ambiente (G) - problemas (C) - Elaboração de problemas (C) - Aplicação de Pensamento cia e domínio tífico e técnico
comunicação (B) -Re- ração dos de trajes e Elaboração de objetos maquetes com as estruturas do tintos nos tecidos de algodão crítico (D) - do corpo (J) - (I) - Representa-
(Área de
presentação de papéis de objetos caracterís- cartográficos vulcão. utilizadas como vestuário no Representação Apresentação ção de papéis de
Aplicação – de personagens e figu- ticos da civilização Elaboração de cartazes sobre cortejo de uma dança / personagens e fi-
característicos da de papéis de
AA): Cortejo rantes romana rochas vulcânicas e paisagens coreografia gurantes
civilização romana deuses
Braga vulcânicas romanos
Romana AA: Relacionamento interpessoal (E); Desenvolvimento pessoal e autonomia (F); Sensibilidade estética e artística (H)
AA: Informação e comunicação (B) - Redação, na aula de Português, de um relatório escrito e individual, a ser corrigido por cada docente, no que aos conteúdos e capacidades da sua disciplina diz respeito, e
Avaliação cuja classificação reverterá na avaliação de cada disciplina, de acordo com os critérios de avaliação da mesma (Nota: possibilidade de utilização das TIC, nomeadamente os meios informáticos, telemáticos e vídeo).
O relatório deverá ser evidência das aquisições realizada na unidade, ao nível dos conhecimentos, das capacidades, das atitudes e dos valores.
Braga Romana – Plano de Articulação Curricular – 7º ano
Dalila Pires, Fernando Beça, Maria João Galvão – Oficina de Formação Articulação curricular, interdisciplinaridade e práticas de despadronização em conselho de turma
Anexo 1
204
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Pedreira do Galinha – Plano de Articulação Curricular – 7º ano
CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
DISCIPLINA FÍSICO-QUÍMICA MATEMÁTICA EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA GEOGRAFIA PORTUGUÊS EMRC
NATUREZA VISUAL
Compreender as Associar o peso de um Conhecer as Técnicas de Medição/metrologia Formas de Ler textos expositivos As origens na
grandes etapas da corpo à força gravítica diferentes representação Métodos e técnicas de medição. representação da /informativos/ perspetiva
história da Terra Distinguir peso de operações do espaço em Sistemas e convenções internacio- superfície terrestre científicos, descritivos (paisa- bíblica;
tempo histórico e massa, assim como as com números profundidade; nais. Processos de gem), roteiros. O diálogo Fé/
tempo geológico respetivas unidades SI racionais. Organizar o Instrumentos e equipamentos de me- orientação na Ciência;
datação relativa Relacionar as Compreender espaço visual dição. localização relativa A Criação, um
grandezas peso e a da folha de Diferentes formas Identificar temas e ideias acontecimento
Compreender a Controle de qualidade de materiais e
massa proporcionalid trabalho; de relevo e sua principais, causas e efeitos, inacabado;
importância dos objetos/produtos.
Indicar que a constante ade entre duas Reconhecer o identificação na fazer deduções e inferências, O respeito pela
fósseis para a Medições e tolerâncias erro relativo e
de proporcionalidade grandezas. papel do análise de mapas e distinguir facto e opinião. natureza que
reconstituição da
À descoberta das Pegadas dos Dinossauros da Pedreira do Galinha
205
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Mar Morto – Plano de Articulação Curricular – 7º ano
EDUCAÇ
FÍSICO PORTUGUÊ MATEMÁTI CIÊNCIAS EDUCAÇÃO
Disciplina QUÍMICA S CA NATURAIS VISUAL
GEOGRAFIA HISTÓRIA ÃO INGLÊS FRANCÊS TIC EMRC
FÍSICA
Densidade ou Tipologia Equações. Teoria da Design de Mapa. A estruturação do Natação: Sports. Nome, Normas de Atitudes no diálogo
massa volúmica. textual Problemas Tectónica de produto Globo. mundo -AMA Free time adjetivo, utilização do inter-religioso:
- Massa de um (relatório). envolvendo Placas. industrial. Imagens de satélite. grego e o -Técnicas de activities determinante computador e/ou -Estima;
corpo. - Plano do equações. Tipos de limites - Volume. Ortofotomapas. relacionamento nado Present e de dispositivos -Respeito;
- Volume de um texto. das placas - Cor. Elementos com outros espaços Perfect pronome eletrónicos -Acolhimento;
corpo. - Registo tectónicas - Textura. fundamentais de um civilizacionais, Adjectives Verbos: similares em -Humildade;
- Temperatura. científico. - Zona de - Contraste. mapa – título, Cidade-Estado; to - presente segurança. -Diálogo;
Conheciment - Concentração - Coerência subducção. - Desenho legenda, orientação, moeda; cidadão; describe do indicativo -Compreensão mútua;
os a adquirir de uma solução textual. - Limite rigoroso. escala e fonte – escravo; democracia e free time Preposições - Colaboração na
convergente. - Técnicas Descrição da Filósofo. activities. -com países defesa da justiça, da
- Densidade tridimensionais. informação e cidades. paz, da liberdade, da
das placas. fornecida por cada dignidade humana no
Por que razão não afundamos no mar morto?
um desses mundo.
elementos. As religiões
Abraâmicas.
O Judaísmo.
Definir massa Planificar a Resolver Explicar as Compreender a Identificar diferentes Conhecer e Deslocar-se Describing Cumpriment Utilizar Identificar o Mar Morto
volúmica de um escrita de problemas evidências metodologia formas de compreender a com places of ar, despedir- adequadamente o no mapa da palestina
material e efetuar textos. utilizando a clássicas projetual. representação da organização segurança interest. se; computador e/ou no tempo de Jesus.
cálculos com Utilizar fórmula de (oceânicas e Conceber superfície terrestre económica e social no no meio Develop Apresentar dispositivos Compreender a
Tema-Problema:
base na procedimentos cálculo da continentais) formas (mapas, globos, mundo grego. aquático, writing alguém; eletrónicos importância do rio
definição. adequados à densidade ou que obedecendo a fotografias aéreas, Conhecer o elevado coordenando skills by Pedir/dar similares Jordão, que desagua
Descrever organização e da massa fundamentam a alguns imagens de satélite, grau de a respiração creating a dados que processem no Mar Morto, para a
técnicas básicas tratamento da volúmica. Teoria da princípios de ortofotomapas...), desenvolvimento com as flyer. pessoais; dados. sociedade judaica no
para determinar a informação. Tectónica de representação referindo as atingido no mundo ações Caracterizar Reconhecer os tempo de Jesus.
massa volúmica Escrever Placas. normalizada. respetivas grego pela cultura e propulsivas física e cuidados a ter Explorar informação de
que envolvam relatórios Caracterizar Representar vantagens e pela arte. específicas psicologicam quando se diferentes fontes e
medição direta do experimentais placa tectónica formas, tendo desvantagens. Conhecer o processo das técnicas ente; descarrega formatos (texto,
volume de um Escrever para e os diferentes em conta os Distinguir mapas de de estruturação do selecionadas Perguntar e software da imagem, som e
Capacidades líquido. expressar tipos de limites processos base de mapas mundo grego e de . responder Internet. vídeo).
a desenvolver Medir a massa conhecimentos. existentes subjacentes à temáticos (físicos, relacionamento do Conhecer e sobre Pesquisar e
volúmica de Inferir a perceção do políticos, mesmo com outros interpretar informação explorar
materiais líquidos importância volume. demográficos, espaços civilizacionais. fatores de pessoal; diferentes formas
usando técnicas das correntes Identificar e económicos. Avaliar o contributo da saúde e Identificar de informação
laboratoriais de convecção distinguir Calcular a distância Grécia Antiga para a risco informação disponível na
básicas. como “motor” formas de real a partir da evolução associados à geral/específ Internet.
da mobilidade composição. distância no mapa. posterior das prática das ica num Navegar de forma
das placas Determinar sociedades atividades texto; segura na
tectónicas. distâncias a partir da humanas. físicas e Interagir de Internet.
ferramenta Descrever o processo aplicar forma Respeitar os
informática: Google de criação de colónias regras de simples. direitos de autor e
Earth. e identificar os higiene e de a propriedade
respetivos limites segurança. intelectual.
geográficos.
Atitudes a ALUNO analítico/crítico, comunicador, conhecedor/sabedor/culto/informado, criativo, cuidador (de si e dos outros), indagador/investigador, leitor, participativo, colaborador, respeitador da
desenvolver diferença/do outro, responsável/autónomo, questionador, sistematizador/organizador
Valores a
operacionaliz Liberdade, responsabilidade e integridade, cidadania e participação, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação
ar
Dolores Leite, Maria Luísa Gomes, Maria José Pereira, Marta Alves, Paula Pereira
Oficina de Formação Articulação curricular, interdisciplinaridade e práticas de despadronização em conselho de turma
Anexo 3
206
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Desenvolvimento Redação dos Resolução de Consulta de Planificação e Desenvolvimento Trabalho de pesquisa Prática da Create a Leitura de Instalar e utilizar Pesquisa
da aula partindo relatórios das uma ficha de site para construção, das aulas partindo sobre a vida e a obra modalidade flyer pequenos a aplicação
da questão atividades trabalho sobre observação de em formato 3D, das questões: de Arquimedes de de natação. textos sobre Google Earth no
exploratória: experimentais problemas simulações dos do Stomachion, 1. Quais as formas Siracusa e sua Arquimedes. computador e em
”Porque não efetuadas nas relacionados movimentos também de representação da contextualização -Consulta de telemóveis
afundamos no disciplinas de com o cálculo das placas conhecido superfície terrestre? histórica utilizando dicionário e (androids).
Mar Morto?” - Físico-Química da densidade tectónicas. como loculus 2.Qual a importância fontes de origem glossário. - Executar um
Atividade e Ciências ou massa Elaboração de Archimedius dos mapas para a diversa. -Registo de trabalho de
experimental que Naturais. volúmica. um mapa de (caixa de Geografia? - Planificação, em vocabulário. pesquisa e de
permita responder Cálculo da conceitos. Arquimedes). 3.Que tipos de grupos, das várias -Redação de análise de
à questão, com densidade dos Realização d Construção de mapas se podem tarefas e etapas do frases informação obtida
base no conceito diferentes uma atividade uma maquete utilizar? trabalho a realizar. simples de na Internet
de densidade: líquidos prática em 3D que 4. Qual a - Análise da apresentaçã sobre
- Preparação de utilizados na laboratorial: mostre uma importância da informação recolhida o de Arquimedes.
Estratégias/at soluções aquosas atividade formação de zona de escala para - Sistematização da Arquimedes. - Criar um
ividades/ de cloreto de experimental correntes de subducção. determinar as informação documento em
tarefas a sódio com efetuada na convecção. distâncias reais powerpoint com
diferentes disciplina de Discussão dos entre lugares texto e objetos
realizar em concentrações. Físico-Química. resultados representados num gráficos,
cada
Por que razão não afundamos no mar morto?
- Verificação
experimental da
flutuação de
corpos em
líquidos com
diferentes
densidades.
AA: Raciocí- AA: Lingua- AA: Raciocí- AA: Raciocí- AA: Sensibi- AA: AA: Pensamento AA: Cons- AA: Lin- AA: Lin- AA: Saber téc- AA: Pensamento
nio e resolu- gens e tex- nio e resolu- nio e resolu- lidade esté- Pensamento crítico (D) ciência e gua- guagens e nico (I) crítico (D)
ção de proble- tos (A) ção de pro- ção de pro- tica e artís- crítico (D) Apresentar dados, domínio gens e textos (A) Construir tabe- Interpretar dados,
mas (C); Sa- Informação blemas (C) blemas (C) tica (H) Apresentar discutir resultados do corpo textos Comunicar las ou gráficos discutir resultados
ber científico e comunica- Construir Saber cien- Explicar as dados, discutir e tirar conclusões (J) (A) dados com os dados e tirar conclusões
(I) ção (B) tabelas ou tífico (I) maquetes resultados e tirar Apresentar Comuni- recolhidos.
Executar práti- Comunicar gráficos com Caracterizar construídas conclusões dados e car da-
cas manipulati- resultados, os dados a dinâmica tirar dos
Aplicação vas. Analisar de forma recolhidos. da Terra no conclusões
competencial resultados de comparativa que se refere
(Área de aula prática. e argumentar ao
Aplicação – Interpretar funcionamen
dados, discutir to interno
AA): Painel
resultados e das placas
tirar tectónicas.
conclusões Enquadrar,
em mapa
tectónico, o
território de
Portugal
AA: Pensamenbto criativo (D); Relacionamento interpessoal (E); Desenvolvimento pessoal e autonomia (F); Bem-estar, saúde e ambiente (G)
AA: Informação e comunicação (B) - Redação, na aula de Português, de um relatório escrito e individual do painel, a ser corrigido por cada docente, no que aos conteúdos e capacidades da sua disciplina diz
Avaliação respeito, e cuja classificação reverterá na avaliação de cada disciplina, de acordo com os critérios de avaliação da mesma (Nota: possibilidade de utilização das TIC, nomeadamente os meios informáticos, telemáticos
e vídeo). O relatório deverá ser evidência das aquisições realizada na unidade, ao nível dos conhecimentos, das capacidades, das atitudes e dos valores.
207
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Castro de S. Lourenço – Plano de Articulação Curricular – 10º ano Ciências e Tecnologias
BIOLOGIA E
DISCIPLINA EDUCAÇÃO FÍSICA PORTUGUÊS FILOSOFIA INGLÊS FÍSICA E QUÍMICA A MATEMÁTICA
GEOLOGIA
O português: génese, Um mundo de
variação e mudança - Experiência valorativa muitas línguas: o
Descobrir o património geológico da região do Castro de São Lourenço e sua influência na cultura castreja etapas da formação do e características dos contacto com Ciclo das Rochas:
Elementos químicos e
Tabela Periódica, Estatística: somatório e regras
Conhecimentos Atividades de Exploração português (do latim ao valores: polaridade, outras línguas, rochas sedimentares,
propriedades dos operatórias.
a adquirir da Natureza – Orientação. galego-português – o latim diversidade e experiências e magmáticas e
átomos; ligações Conversão de escalas (revisão do EB)
vulgar e a romanização); hierarquia (tábua de culturas – metamórficas.
químicas.
fonética, fonologia e valores). mobilidade/turism
etimologia. o
Compreensão oral:
retenção de informação Expressão pessoal, Manipulação de médias e desvios-padrão
Aeróbia; Orientação com Observação e
significativa e do seu comunicação e Identificação das de amostras, ou de percentis, para além
Capacidades a auxílio de um mapa e interpretação de dados.
encadeamento lógico; diálogo. propriedades dos das definições de variável estatística,
bússola (revisão do EB – Escrita: texto Compreensão da
desenvolver Geografia - leitura de
Leitura de artigos de Clarificação concetual.
instrutivo dinâmica do Ciclo das
materiais, com base nas amostra, média, variância, desvio-padrão
divulgação científica e de Elaboração analítica e ligações e percentil. Análise das propriedades
mapas; escalas numéricas Rochas.
exposições sobre o tema; interpretativa de texto. intermoleculares básicas destes conceitos e as respetivas
e escalas gráficas).
Escrita: relatório e interpretações em exemplos concretos.
exposição escrita.
Atitudes a ALUNO analítico/crítico, comunicador, conhecedor/sabedor/culto/informado, criativo, cuidador (de si e dos outros), indagador/investigador, leitor, participativo, colaborador, respeitador da
desenvolver diferença/do outro, responsável/autónomo, questionador, sistematizador/organizador
Valores a
Liberdade, responsabilidade e integridade, cidadania e participação, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação
operacionalizar
Aplicar os
Exploração de mapas com conhecimentos sobre
Tema-Problema:
208
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Castro de S. Lourenço – Plano de Articulação Curricular – 10º ano Línguas e Humanidades
LÍNGUA
DISCIPLINA EDUCAÇÃO FÍSICA PORTUGUÊS FILOSOFIA ESTRANGEIRA - HISTÓRIA GEOGRAFIA MACS
INGLÊS
Estatística – Interpretacão de
O português:
tabelas e gráficos;
génese, variação e
Um mundo de Planeamento e aquisição de
mudança Estudar / aprender história
Experiência valorativa muitas línguas: o dados. Questões éticas
- etapas da formação Raízes mediterrânicas da
e características dos cantacto com A população, relacionadas com as
do português (do civilização europeia – cidade,
Conheciment Atividades de Exploração valores: polaridade, outras línguas, utilizadora de recursos experimentações.
latim ao galego- cidadania e império na
os da Natureza – Orientação.
português – o latim
diversidade e experiências e
antiguidade clássica
e organizadora de Classificação de dados.
hierarquia (tábua de culturas – espaços Cálculo de estatísticas.
vulgar e a Permutas culturais e
valores). mobilidade Vantagens, desvantagens e
romanização); simultaneidade de culturas
(turismo) limitações das medidas
Descobrir o património histórico-cultural da região do Castro de São Lourenço
- fonética, fonologia e
consideradas. Introdução
etimologia.
gráfica.
Compreensão oral:
Análise de fontes de natureza
retenção de
diversa, distinguindo Perceção espacial Utilização da Matemática na
informação
informação, implícita e Apropriação criativa interpretação do real e na
significativa e do seu Expressão pessoal,
Capacidades explícita, bem como os limites dos espaços de vida intervenção nele:
encadeamento comunicação e diálogo.
Aeróbia; Orientação com para o conhecimento do Interpretação de Análise de situações da vida
lógico; Leitura de Clarificação concetual. Escrita: texto
auxilio de um mapa e passado situações geográficas real, identificando modelos
artigos de divulgação Elaboração analítica e instrutivo
bússola Localização cronológica e Relação entre matemáticos que permitam a
científica e de interpretativa de texto.
espacial de acontecimentos e mudança de escala e sua interpretação e
exposições sobre o
processos relevantes, compreensão do resolução.
tema; Escrita:
relacionando-os com os espaço geográfico
relatório e exposição
contextos em que ocorreram
escrita.
Atitudes a
Tema-Problema:
ALUNO analítico/crítico, comunicador, conhecedor/sabedor/culto/informado, criativo, cuidador (de si e dos outros), indagador/investigador, leitor, participativo, colaborador,
desenvolver respeitador da diferença/do outro, responsável/autónomo, questionador, sistematizador/organizador
Valores a
operacionaliz Liberdade, responsabilidade e integridade, cidadania e participação, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação
ar
Exploração de mapas com
diferentes escalas e Oficinas de leitura,
Treino das regras
sinalética; escrita e gramática, Revisão do EB –
Estratégias/at Mobilização de operatórias, de
Elaboração de percursos e com vista à Exploração interativa de leitura de mapas;
conhecimentos de realidades manipulação de médias, de
ividades/ sua realização em espaços explicitação dos documentos textuais e Estudo da área escalas numéricas e
históricas estudadas para desvio-padrão, de percentis
tarefas conhecidos (recinto conteúdos e ao icónicos e resolução de vocabular.
orientar a identificação e
escalas gráficas
de frequência de visitas ao
prévias escolar); treino das atividades. Exploração da temática
interpretação de fontes Castro de São Lourenço,
Cálculo de distâncias de capacidades de “População”
por exemplo.
acordo com as escalas do atitudes.
mapa.
AA: Linguagens e
AA: Raciocínio e textos (A) - Fazer o AA: Linguagens e textos
resolução de problemas registo de notas das (A) - Fazer a leitura crítica AA: Linguagens e
(C) - Realizar um percurso explicações fornecidas da linguagem icónica: BD textos (A) - Fazer
Aplicação fora da escola, o mais pelo guia; – álbum Caturo -, o registo de notas,
AA: Informação e
competencial rápido possível, e com o AA: Raciocínio e fotografia e audiovisual com vista à
AA: Informação e comunicação (B) - AA: Raciocínio e
(Área de cartão de controlo resolução de (Centro Interpretativo). AA: Informação e
comunicação (B) - Partilhar, Partilhar os progressos resolução de problemas
Aplicação – preenchido corretamente, problemas (C) - Ler os AA: Pensamento crítico comunicação (B) -
usando terminologia do trabalho de campo, (C) - Fazer os cálculos
AA): Pedy- segundo um mapa, com documentos e e pensamento criativo elaboração de um
específica, os progressos da relacionando a necessários.
Paper ajuda de uma bússola, informações escritos (D) Expor as suas texto instrutivo
atividade / trabalho de campo organização espacial e
Esposende- AA: Consciência e em português perspetivas, apresentando (panfleto turístico)
temporal
S.Lourenço, em domínio do corpo (J) medieval, disponíveis de forma metódica e para disponibilizar
pares durante o qual doseia o no Centro compreensível as ideias no Centro
esforço para resistir à Interpretativo do próprias ou os resultados Interpretativo.
fadiga. Castro de S. Lourenço do trabalho de campo.
(visita guiada).
AA: Relacionamento interpessoal (E); Desenvolvimento pessoal e autonomia (F); Bem-estar, saúde e ambiente (G); Saber científico e técnico (I)
AA: Informação e comunicação (B) - Redação, na aula de Português, de um relatório escrito e individual (que inclua o panfleto turístico em Inglês), a ser corrigido por cada docente, no que aos
Avaliação conteúdos e capacidades da sua disciplina diz respeito, e cuja classificação reverterá na avaliação de cada disciplina, de acordo com os critérios de avaliação da mesma (Nota: possibilidade de
209
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
utilização das TIC, nomeadamente os meios informáticos, telemáticos e vídeo). O relatório deverá ser evidência das aquisições realizada na unidade, ao nível dos conhecimentos, das capacidades,
das atitudes e dos valores.
Fátima Braga, António J. Abreu Silva, Manuela Ferreira, Graça McDade Anexo 5
Oficina de Formação Articulação curricular, interdisciplinaridade e práticas de despadronização em conselho de turma
Valores a
Liberdade, responsabilidade e integridade, cidadania e participação, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação
operacionalizar
Leitura de plantas; Leitura de plantas;
Exploração de mapas com
Registos fotográficos; Registos fotográficos;
diferentes escalas e sinalética;
Oficinas de leitura, escrita e Análise do espólio de Análise do espólio de
Elaboração de percursos e Exploração interativa de
gramática, com vista à Enquadrar a atividade com objetos, gráfico e objetos, gráfico e
Estratégias/atividad sua realização em espaços documentos textuais e Estudo da área
explicitação dos conteúdos e categorias analíticas multimédia existente multimédia existente no
es/ tarefas prévias conhecidos (recinto escolar); icónicos e resolução de vocabular.
ao treino das capacidades de adequadas no centro interpretativo centro interpretativo
Cálculo de distâncias de atividades.
atitudes. criado para criado para
acordo com as escalas do
conhecimento e conhecimento e
mapa.
divulgação. divulgação.
AA: Linguagens e textos (A)
AA: Raciocínio e
AA: Raciocínio e resolução AA: Linguagens e textos (A) - Fazer a leitura crítica da AA: Linguagens
resolução de problemas AA: Informação e
de problemas (C) - Realizar Fazer o registo de notas das linguagem icónica: BD – e textos (A) -
Aplicação (C) - Recolher informação e comunicação (B) -
um percurso fora da escola, o explicações fornecidas pelo álbum Caturo -, fotografia e Fazer o registo de
competencial mais rápido possível, e com o guia; audiovisual (Centro notas, com vista à
organizá-la (notas de AA: Raciocínio e Exprimir-se
(Área de campo, fotos, …); resolução de graficamente, revelando
cartão de controlo preenchido AA: Raciocínio e resolução Interpretativo). AA: Informação e
Aplicação – AA): sistematizá-la em esquema, problemas (C) - consciência histórica e
corretamente, de problemas (C) - Ler os AA: Pensamento crítico e comunicação (B)
para posterior Representar espaços, cultural.
Pedy-Paper segundo um mapa, com ajuda
de uma bússola, AA:
documentos e informações
escritos em português
pensamento criativo (D)
Expor as suas perspetivas,
- elaboração de
um texto instrutivo
AA: Pensamento crítico e formas visuais e suas Comunicar
pensamento criativo (D) -
Esposende- Consciência e domínio do medieval, disponíveis no apresentando de forma (panfleto turístico)
confronto analítico com a
posições relativas graficamente,
perspetivando a
corpo (J) durante o qual Centro Interpretativo do metódica e compreensível as para disponibilizar
S.Lourenço, doseia o esforço para resistir à Castro de S. Lourenço (visita ideias próprias ou os no Centro
realidade contemporânea disseminação da
em pares (no relatório a realizar informação.
fadiga. guiada). resultados do trabalho de Interpretativo.
posteriormente)
campo.
AA: Relacionamento interpessoal (E); Desenvolvimento pessoal e autonomia (F); Bem-estar, saúde e ambiente (G); Saber científico e técnico (I)
AA: Informação e comunicação (B) - Redação, na aula de Português, de um relatório escrito e individual (que inclua o panfleto turístico em Inglês), a ser corrigido por cada docente, no que aos conteúdos e
Avaliação capacidades da sua disciplina diz respeito, e cuja classificação reverterá na avaliação de cada disciplina, de acordo com os critérios de avaliação da mesma (Nota: possibilidade de utilização das TIC,
nomeadamente os meios informáticos, telemáticos e vídeo). O relatório deverá ser evidência das aquisições realizada na unidade, ao nível dos conhecimentos, das capacidades, das atitudes e dos valores.
Fátima Braga, António J. Abreu Silva, Manuela Ferreira, Graça McDade Anexo 6
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Oficina de Formação Articulação curricular, interdisciplinaridade e práticas de despadronização em conselho de
turma
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A avaliação prévia conduziu-nos à situação-problema: Não consumo de sopa na cantina da escola por alguns alunos desta turma e ao conceito
chave: SOPA NÃO PODE FALTAR.
Tivemos a intenção de colocar os alunos em confronto com as suas ideias prévias sobre o tema, os seus hábitos alimentares, as suas opções
do dia-a-dia quanto à sua alimentação e promover o conflito de conhecimentos. Desta forma, pretendemos que os alunos não só integrassem
de forma significativa novos conhecimentos e novas ideias e reconheçam as vantagens de mudarem os seus hábitos alimentares de forma
consciente e participada, mas também que sejam capazes de mobilizar os seus novos conhecimentos para ajudar os outros, através da sua
explicação e das suas ações de mudança de atitude face à situação-problema, passando a comer sopa às refeições.
Equacionamos formas de articulação curricular e de Identificamos técnicas de sala de aula que servissem as nossa intenção pedagógica:
diferenciação pedagógica: Dividimos os alunos em - Pergunta Circular para que todos os participantes expressem as suas opiniões - registar as razões apresentadas pelos
grupos heterogéneos, de forma que em cada grupo alunos para justificar porque comem ou não comem sopa às refeições.
estivessem alunos com diferentes representações - Tempestade Cerebral para em curto espaço de tempo produzir grande quantidade de ideias, com alto grau de originalidade,
prévias sobre a situação-problema, com o objetivo de desinibição e espontaneidade sobre o assunto tratado - registar as ideias sobre as formas de trabalhar este tema e relembrar
eles partilharem as razões, os conhecimentos e as os vários meios de comunicação, bem como determinar o mais apropriado com o intuito de o apresentar à comunidade
competências que os levaram a formular as escolar e alertar para a necessidade e vantagens do consumo de sopa às refeições.
representações que possuíam. A sequência de - Grelha de Prós e Contras, que enumera as vantagens e as desvantagens do assunto tratado e ajuda os alunos a desenvol-
atividades solicitadas em cada disciplina (Ciências verem competências analíticas e avaliativas, obrigando os alunos a ultrapassarem as suas reações iniciais, procurando ver
Naturais – dados científicos/trabalho cognitivo – os dois lados da questão e pensarem o valor das afirmações concorrentes.
Educação Musical – ritmo/trabalho psicomotor – - Estudo de caso, para desenvolver a capacidade analítica e preparar os alunos para saberem enfrentar situações complexas,
Educação Visual – representação gráfica/trabalho mediante o estudo coletivo de situações reais e fictícias - propor soluções e deduzir os princípios aplicáveis à conceção de
psicomotor – Educação Física – espaço/trabalho um flyer/marcador.
psicomotor) permitiu o confronto das representações Inicialmente agrupados em dois grandes grupos - os que comem e os que não comem sopa.
prévias com novos conhecimentos, abrindo - Resolução de problemas/método de projeto trabalhar em equipa na solução do problema - tomar consciência das diferentes
simultaneamente o trabalho para o domínio afetivo ao fases do projeto e da importância de cada uma delas para a conclusão da tarefa. Ao estudo de caso seguir-se-á uma dinâmica
nível da capacidade valorativa/aceitação de novos de diferenciação, para a construção de argumentos que fundamentem cada uma das perspetivas. Para o efeito, recorrer-se-
valores. á à técnica de cruzamento de grupos, de forma a promover a pesquisa de dados, o seu tratamento e a reflexão individual e
em grupo. Serão momentos de trabalho de grupo, destinados a para aprofundar a discussão do tema/problema, chegando a
conclusões - trabalhar em equipa de forma planificada incluindo tarefas relacionadas com o mesmo produto, mas que exigem
diferentes papéis ainda que complementares.
A fase final promove a patilha, através da comunicação ao grande grupo do trabalho sucessivamente
desenvolvido em cada pequeno grupo. Esta é uma estratégia de resolução da situação-problema,
pois ajuda os alunos a compreenderem todo o processo que leva à reconstrução do seu sistema de
valores, contribuindo para uma aprendizagem significativa e para a interiorização de novos
comportamentos (mentalização).
Surgiu a ação, no contexto da formação: a elaboração da planificação da sequência de articulação curricular e diferenciação e, com ela, a
decisão de partilha com o agrupamento, na comemoração do dia da alimentação.
Cláudia Dias, Elisa Pereira, Lina Cerqueira, Maria Augusta, Zita Esteves Anexo 7
Oficina de Formação Pedagogia diferenciada e inovação: para não deixar um só aluno para trás.
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A pronominalização
Planificação Processual de Diferenciação Pedagógica
Português 5º ano
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Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A carta de apresentação
Planificação Processual de Diferenciação Pedagógica
Ensino Vocacional
Situação problema: dificuldade apresentada pelos alunos do ensino vocacional que pretendem ingressar
Conceito chave: carta de apresentação a um posto de trabalho; do trabalho em redigirem uma carta de apresentação;
Público-alvo: turma de ensino vocacional do 3º Ciclo;
214
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
A estrutura da sequência:
A definição do conceito-chave foi elaborado a partir da análise do programa de Ciências Naturais de 7º ano, por corresponder ao ano inicial do 3º ciclo, tendo em conta
que nesta unidade programática são abordados conceitos transversais de outras áreas disciplinares como a Matemática e as Ciências Físico-Químicas. Este conceito-
chave corresponde a um ano de escolaridade em que se verifica um grande insucesso escolar, estando abrangido pelo Plano de Ação Estratégica (PAE). A partir da
constatação do nível de representação/ideias prévias dos alunos sobre o tema, utilizando como técnica a tempestade cerebral, foi possível a identificação/formalização
da situação-problema bem como as opções relativamente às estratégias de diferenciação pedagógica para a formulação do modo de resolução da situação-problema.
Os alunos não dominam o conteúdo – “Como se avaliam os sismos”. Dada a heterogeneidade da turma, esta foi dividida em quatro grupos homogéneos, para os quais
foram elaboradas indicações de trabalho diferenciadas, que orientaram a atividade de cada grupo de acordo com as necessidades dos mesmos (diferenciação pedagó-
gica). Numa fase posterior, fez-se o cruzamento dos alunos em grupos de integração, de modo a que na sala de aula se constituíssem grupos heterogéneos que terão
como objetivo de trabalho a resolução de uma ficha global. Cada aluno será um elemento significativo no novo grupo, podendo verbalizar a atividade mental anterior-
mente efetuada e a aquisição realizada. Através da apresentação/discussão das respostas da ficha de trabalho global dos grupos e da realização de uma simulação da
ocorrência de um sismo (precedida de uma pesquisa temática, na qual os alunos organizarão as informações essenciais recolhidas num panfleto) os alunos irão realizar
a descontextualização e recontextualização dos conteúdos temáticos (avaliação e mentalização).
215
Construir a Autonomia e a Flexibilização Curricular: os desafios da escola e dos professores
Num segundo nível é necessário que ocorra uma reelaboração de representações anteriores sobre a pressão de um conflito cognitivo. Para que os alunos acedessem a
um nível superior de formulação das suas representações, a cada um dos grupos foram apresentadas pequenas propostas de trabalho sobre a situação-problema, sendo
disto exemplo o preenchimento de um quadro-síntese com as principais diferenças entre os dois tipos de escalas (Grupo 3). O confronto das diferentes ideias permitiu
fazer emergir as representações já existentes, levou os alunos à sua reelaboração e a criar um novo equilíbrio, a um nível superior.
Uma vez que a aprendizagem só ocorre, verdadeiramente, quando os alunos reelaboram as suas representações face a situações-problema (terceiro nível), foi apresentada
a cada um dos seis grupos, agora de composição heterogénea, uma ficha de trabalho global. Como esta contemplava aspetos que tinham sido trabalhados pelos quatro
grupos iniciais, permitiu que cada aluno identificasse as suas aquisições e os seus problemas e ajudou-o a esclarecer e a articular.
As opções feitas para desenvolver esquemas mentais específicos, que favoreçam a aquisição do conhecimento
Para desenvolver esquemas mentais específicos que favoreçam a aquisição do conhecimento, utilizamos a dedução ao proporcionar aos alunos atividades em grupo
cujo objetivo seria, por exemplo, a construção de uma rosa dos ventos a partir da observação da representação da mesma, no átrio da escola. A indução foi realizada,
por exemplo, na atividade de comparação entre dois relógios com numeração árabe e romana respetivamente, de modo a que os alunos se apropriassem dos pontos
comuns. Como atividade final, foi proposta aos alunos a realização de um exercício de simulação de procedimentos, em caso de ocorrência de um sismo, estabelecendo-
se assim a interação entre os vários elementos da turma, utilizando uma espécie de jogo que possibilitou a conceptualização. Refira-se que, ao longo de todo o trabalho,
os alunos construíram competências analíticas, visto que puderam ler e analisar excertos de textos, objetos e tabelas, tendo sido sempre seguidos os quatro passos: i)
construção da análise, ii) prática, com aplicação dos conhecimentos a novas situações, iii) consciencialização das aquisições, através de ficha autocorretiva, iv) forne-
cimento de feedback.
Realizada a planificação, partiu-se para a ação, logo em contexto de formação, com a partilha com o grupo.
Lúcia Sobral; Maria Celeste Oliveira; Paulo Prior; Sandra Melo e Sara Carvalho
Oficina de Formação Pedagogia diferenciada e inovação: para não deixar um só aluno para trás Anexo 10
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OS DESAFIOS DA ESCOLA E
DOS PROFESSORES
www.uceditora.ucp.pt