Você está na página 1de 16
ISSN 1414-0160 N25 (2*Edigao) 2000 O discurso em mosaico = PuB/UFRI | CA EA presente pesquisa foi planejada e iniciada sm uma hipdtese de trabalho que conduzisse ‘ampliar ¢ modificar a hipétese.” A hipotese sera aqui descrita da maneira F ‘como se desenvolveu em nosso pensamento. Trabalhos anteriores de fundamental impor- tncia realizados por Whitehead ¢ Russel (1910), Wittgenstein (1922), Carnap (1937), Whorf (1940), entre outros, bem como minha propria tentativa de usar esses raciocinios como uma base epistemolégica para a teoria psiquise ttica, levaram a uma série de generalizagées: (1) Que a comunicagao verbal humana pode ccanhecid no Brasil por sta teoria da “aupla vinci”, que ex lice pi “aasterieaa pola comural de pela Smbivalencis. Eston inicalmente a natuvecs da pases comunicagi humana, estendende posteriormente a sie tigagio ao dizeurso da eaquicafieni, *Greyory Bateson, antropaloge norte Uma teoria sobre brincadeira e fantasia! Gregory Bateson” operar € de fato sempre opera em muitos ni- veis contrastrantes de abstracio. Estes se distri- buem em duas diregdes a partir do nivel apa- rentemente simples da denotagio (“o gato esti em cima do tapete”). Uma distribuigio ou con- junto desses niveis mais abstratos inclui aque- las mensagens implicitas ou explicitas em que © assunto do discurso é a linguagem. Nés as sticas (por exemplo, Jo sonora de ‘gato’ representa qual- quer membro de tal ou tal classe de objetos” ou ‘a palavra ‘gato’ nao tem pélo ¢ nao arranha”) Ao outro conjunto de niveis de abstragao, cha- maremos de metacomunicativo (por exemplo, “eu dizer onde encontrar 0 gato foi um ato chamaremos de metalin, amistoso” ou “isto é brincadeira"). Nestas meta- comunicacdes 0 assunto do discurso é a relacio entre os falantes. Note-se que a grande maioria das mensa- gens, tanto metalingiiisticas como meiacomunicativas, permanece implicita; note- se também que, especialmente na entrevista 36 psiquidtrica, ocorre uma outra classe de men- sagens implicitas - sobre a maneira como men- sagens metacomunicativas de afeto e hostilida- de devem ser interpretadas. (2) Se especularmos sobre a evolucio da comunicagao parece evidente que ocorre um estigio muito importante nessa evolucio, quan- do o organismo gradualmente para de respon- der de maneira “automatica” aos indicios de humor do outro ¢ se torna capaz de reconhe- cer um indicio como um sinal, isto é, de reco- nhecer que os sinais emitidos pelo outro indi- viduo por ele mesmo sio apenas sinais, em que se pode confiar, desconfiar, que se pode falsear, negar, ampliar, corrigir, ¢ assim por di- ante. E claro que este reconhecimento, de que sinais sio sinais, de modo algum est completo mesmo na espécie humana, Freqientemente respondemos automaticamente a manchetes de jornal, como se estes estimulos fossem indi- cadores diretos de eventos em nosso ambiente, em ver de sinais inventados e transmitides por criaturas tao complexamente motivadas como nés mesmos. O mamifero nao-humano fica automaticamente excitado pelo odor sexual do ‘outro, Isto é como deve ser, na medida que a secretacio desse indicio é um indicador “involuntario” de humor, isto é, um evento exterior perceptivel que é parte do proceso fisiolgico que estamos chamando de humor. ‘JA na espécie humana, uma situagao mais com- plexa comeca a ser a norma. Os desodorantes mascaram os indicios olfat6rios involuntarios ¢, k Cadernos 1PUB/S em seu lugar, a indiistria cosmética oferece a0 individuo perfumes que nao sao indicios involuntirios, mas sinais voluntarios ¢ reconhe- civeis como tal, Nio so poucos os homens que ficam de cabeca virada com 0 apelo de algum perfume e, se acreditarmos nos publicitirios, parece que esses sinais usados de maneira vo- luntaria tém, as vezes, um efeito antomatico € auto-sugestivo até sobre quem os usa voluntari- amente. Seja como for, essa breve digressio serve para ilustrar um estigio de evolucao - o drama inici- ado quando os organismos, tendo comido 0 fruto da arvore do conhecimento, descobrem que seus sinais sio sinais. Segue-se nfo apenas Co evento caracteristicamente humano da lingua- gem, mas a complexidade de fenémenos como ‘empatia, identifica¢ao, projecio € assim por diante. E com eles vem a possibilidade de nos comunicarmos na multiplicidade de niveis de abstragio mencionada acima. (8) © primeiro passo definido na formula- ‘do da hipotese que guia essa pesquisa ocorreu em janeiro de 1952 quando fui a0 zoolégico de Fleishacker em Sio Francisco para procurar critérios comportamentais que pudessem indi- car se um dado organismo € ou no capaz de reconhecer que 0s indicios emitidos por ele mesmo € por outros membros de sua espécie sio sinais. Teoricamente eu tinha imaginado quais deveriam ser esses critérios - que @ ocor- réncia. de indicios (ou _sinais) ‘metacomunicativos no fluxo da interacao en- twe 08 animais indicaria que eles tém pelo me

Você também pode gostar