Você está na página 1de 270

NOTAS DE AULA

CURVAS PARAMETRIZADAS

Cláudio Martins Mendes

Segundo Semestre de 2005


Sumário

1 Funções com Valores Vetoriais 2


1.1 Definições - Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Movimentos no Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1
Capı́tulo 1

Funções com Valores Vetoriais

Até aqui trabalhamos com funções f : R → R .


Estudaremos agora funções com valores vetorias. As mesmas são úteis para descrever
superfı́cies e curvas espaciais. São também úteis para descrever o movimento de objetos no
espaço.

1.1 Definições - Propriedades


Definição 1.1.1. F : I → R3 , I ⊂ R , intervalo F (t) = (f1 (t) , f2 (t) , f3 (t)) ou
F (t) = f1 (t)~ı + f2 (t)~ + f3 (t)~k é dita uma função com valores vetoriais.

Definição 1.1.2. Se F (t) = (f1 (t) , f2 (t) , f3 (t)) então


³ ´
lim F (t) = lim f1 (t) , lim f2 (t) , lim f3 (t) .
t→a t→a t→a t→a

Definição 1.1.3. F é dita contı́nua em a se lim F (t) = F (a) .


t→a

F (t + h) − F (t)
Definição 1.1.4. F tem derivada F 0 (t) se F 0 (t) = lim .
h→0 h
Observe que
µ ¶
F (t+h)−F (t) f1 (t+h)−f1 (t) f2 (t+h)−f2 (t) f3 (t+h)−f3 (t)
lim = lim , lim , lim
h→0 h h→0 h h→0 h h→0 h

= (f10 (t) , f20 (t) , f30 (t)) .

2
Z b µZ b Z b Z b ¶
Definição 1.1.5. F (t)dt = f1 (t)dt , f2 (t)dt , f3 (t)dt
a a a a
ou Z Z Z Z
b b b b
F (t)dt = f1 (t)dt ·~ı + f3 (t)dt · ~ + f3 (t)dt · ~k .
a a a a

Propriedades: Consideremos:
F, G : I → R3
µ:I → R
(i) (F + G)0 (t) = F 0 (t) + G0 (t)

(ii) (µ · F )0 (t) = µ(t)F 0 (t) + µ0 (t)F (t)

(iii) (F q G)0 (t) = F (t) · G0 (t) + F 0 (t) · G(t) , onde q denota o produto escalar.

(iv) (F × G)0 (t) = F (t) × G0 (t) + F 0 (t) × G(t) , onde × denota o produto vetorial.

Faremos a prova de (iii). As outras serão deixadas como exercı́cio.


Prova de (iii):
Seja F (t) = f1 (t)~ı + f2 (t)~ + f3 (t)~k e G(t) = g1 (t)~ı + g2 (t)~ + g3 (t)~k .
3
X
(F q G)(t) = fi (t) · gi (t)
i=1
à 3 !0 3
X X
(F q G)0 (t) = fi (t) · gi (t) = (fi (t) · gi (t))0 =
i=1 i=1
3
X 3
X 3
X
= (fi (t) · gi0 (t) + fi0 (t) · gi (t)) = fi (t) · gi0 (t) + fi0 (t) · gi (t) =
i=1 i=1 i=1

= F (t) q G0 (t) + F 0 (t) q G(t) .

Passaremos a nos utilizar de funções do tipo acima para estudar os movimentos no espaço.

1.2 Movimentos no Espaço


Para descrever o movimento de uma partı́cula no espaço precisamos explicar onde a
partı́cula está em cada instante de tempo t de um certo intervalo. Assim, a cada ins-
tante t no intervalo considerado I , corresponde um ponto γ(t) e o movimento é descrito
por uma função γ : I → R3 .

3
γ(t)
z 6
± *

γ(t)

z
y
¼ x

Definição 1.2.1. Uma curva no R3 é uma aplicação contı́nua γ : I → R3 , onde I é um


intervalo da reta.
γ(t) = (γ1 (t) , γ2 (t) , γ3 (t)) .


 x = γ1 (t)


As equações : y = γ2 (t) são chamadas equações paramétricas de γ .



 z = γ (t)
3

Como vimos, a função vetorial γ tem derivada γ 0 (t) em t ∈ I se

γ(t + h) − γ(t)
γ 0 (t) = lim .
h→0 h

Lembre-se: γ 0 (t) = (γ 01 (t) , γ 02 (t) , γ 03 (t)) .

Definição 1.2.2. γ : I → R3 uma curva. Traço de γ é a imagem do intervalo I por γ .


γ é dita diferenciável de classe C r se γ1 , γ2 , γ3 o forem em I .
γ(t + h) − γ(t)
A figura a seguir mostra que o vetor tem a direção que, conforme h tende
h
a zero, aproxima-se da direção que costumamos chamar a direção tangente à curva γ em γ(t) .

4
z 6 z6

µ
¡ - γ(t+h)−γ(t) µ
¡
γ(t) ¡ γ(t) ¡ γ 0 (t)
¡ ¡ j
¡ ¡
¡ -U ¡ -
o γ(t+h) o γ(t+h)

U
¼x yj ¼x yj

?
γ(t+h)−γ(t)
h
, 0<h<1

A derivada γ 0 (t) se existe e é diferente do vetor nulo é chamada o vetor tangente a γ


em γ(t) . Ele é usualmente representado com a origem em γ(t) , como na figura.

Exemplos:

1. γ : [0, 2π] → R2 definida por γ(t) = (cos t , sen t) .


Temos γ 0 (t) = (−sen t , cos t) .
Notemos que:

(i) kγ 0 (t)k = 1

(ii) γ 0 (t) q γ(t) = 0

6y
B
B γ 0 (t)
BMB
¼ B
BB
qB
γ(t) ³
³ 1BB

³ B -
B x
¸ B

· ¸

2. γ : 0 , → R3 ; γ(t) = (cos t , sen t , t) .
2

5
6z

¡ ¢
r γ 5π
2

¡ -
¡ * y
r
¡
¡ γ(0)
¡
¡x
¡
ª

3. γ : [ 0 , π ] → R2 ; dada por γ(t) = (cos 2t , sen 2t) .


Aqui temos γ 0 (t) = 2(−sen t , cos t) .

BM
y6 B
0
B γ (t)
BB
BB
¼ BB
qBB
γ(t) ³ B³
1 B
³³ B -
B x
¸ B

Compare com o exemplo 1 . Note que diferentes curvas podem ter o mesmo traço.

4. Curvas podem ser, em geral, muito arbitrárias. Por exemplo, existe uma curva contı́nua,
a curva de Peano, cujo traço é o quadrado [0, 1] × [0, 1] ⊂ R2 (Para maiores detalhes
o leitor pode consultar o Livro de Elon Lages Lima, Elementos de Topologia Geral ,
pg. 252 )

Muitas vezes chamamos o vetor γ 0 (t) como o vetor velocidade. Isto tem sentido pois
estamos entendendo uma curva como o movimento de uma partı́cula no espaço. Esse movi-
kγ(t + h) − γ(t)k
mento é descrito em função do tempo por γ(t) . Observe que o número ,
|h|

6
para h pequeno, é a velocidade média de γ no intervalo de t a t + h . Se γ 0 (t) existe, não é
difı́cil provar que
kγ(t + h) − γ(t)k
kγ 0 (t)k = lim .
h→0 |h|
De fato: Notemos que
¯ ¯
¯ kγ(t + h) − γ(t)k ¯ (∗)
0 ≤ ¯¯ − kγ (t)k¯¯ ≤
0
|h|
° °
° γ(t + h) − γ(t) °
≤ °° − γ 0
(t)° → 0 , com h → 0 .
°
|h|
kγ(t + h) − γ(t)k
Logo → kγ 0 (t)k , com h → 0 .
|h|
¯ ¯
¯ ¯
(∗) Usamos a propriedade ¯¯ k~uk − k~v k ¯¯ ≤ k~u − ~v k .

Assim kγ 0 (t)k é um limite de velocidades médias sobre intervalos arbitrariamente pe-


quenos. Por esta razão kγ 0 (t)k é chamado a velocidade de γ no ponto γ(t) e γ 0 (t) é dito
o vetor velocidade de γ no ponto γ(t) .

Definição 1.2.3. Uma curva γ : I → R3 é dita regular (ou suave) se for diferenciável de
classe C 1 e se γ 0 (t) = (γ 01 (t) , γ 02 (t) , γ 03 (t)) 6= (0, 0, 0) , ∀ t ∈ I .

Definição 1.2.4. γ : [a, b] → R3 é dita regular por partes (ou suave por partes ) se
existir uma partição finita de [a, b] em subintervalos tal que a restrição de γ a cada subin-
tervalo seja regular. γ é dita fechada se γ(a) = γ(b). Se γ é fechada e o seu traço não se
intercepta em nenhum outro ponto então γ é dita curva fechada simples.

γ(a) = γ(b)
¼
I γ(a) = γ(b)
º

* µ
ª
ª

Fechada não Fechada


simples simples

7
Exemplos:

1. γ : [ −1 , 1 ] → R2 , γ(t) = (t3 , t2 ) .

 y = t2 = (t3 )2/3 = x2/3
 Assim o traço da curva está contido no gráfico da função y = x2/3 .

y 6

q q
R µ
-
x

Notemos que γ ∈ C ∞ . Ainda γ 0 (t) = (3t2 , 2t) , t ∈ (−1, 1).


γ não é regular, uma vez que γ 0 (0) = (0, 0).
γ é regular por partes.

Obs. Note a diferença entre traço de curva e gráfico de f : R → R .

2. γ : R → R2 , γ(t) = (t3 − 4t , t2 − 4) .
γ 0 (t) = (3t2 − 4 , 2t) 6= (0, 0) , ∀ t ∈ R .
γ ∈ C∞ .
Assim γ é regular.
Note: γ(−2) = γ(2) = (0, 0)
γ 0 (−2) = (8 , −4) e γ 0 (2) = (8 , 4)

6y

j *
-
x
¸

-4

8
3. O
 gráfico de uma função contı́nua y = f (x), a ≤ x ≤ b , pode ser parametrizado assim:
 x=t
t ∈ [a, b]
 y = f (t)

y6 q

¸
q

-
a b x

Um resultado que temos é o seguinte: uma curva regular (ou suave) não tem bicos (qui-
nas).
De fato:
Uma curva regular é tal que o vetor tangente varia de maneira contı́nua.
Em um bico (quina) a mudança do vetor tangente só pode ser contı́nua se no bico ele for
nulo (contra a regularidade da curva).

q
q
N j
±

A recı́proca deste resultado não é verdadeira. Para tanto consideremos o exemplo:


γ : R → R2 , γ(t) = (t3 , t3 ).
Neste caso γ 0 (0) = (0, 0) e assim γ não é regular, mas o seu traço não forma bico.

y6
p
pp
¡
µ¡
¡ -
¡ x
¡
µ
¡
p
pp

9
Iremos agora fazer uma convenção:
Seja γ : [a, b] → R3 .
Iremos denotar por −γ a curva definida como:

−γ : [a, b] → R3 , −γ(t) = γ(a + b − t).

q
γ(b)

−γ ±γ
°

q
γ(a)

Exercı́cios:

1. Mostre que se kγ(t)k é constante então γ 0 (t) é ortogonal a γ(t), ∀ t ∈ I .

Resolução:
Temos (γ q γ)(t) = γ(t) q γ(t) = kγ(t)k2 = C .
Derivando obtemos (γ q γ)0 (t) = 0.
Usando a propriedade da derivada do produto escalar obtemos:

(γ q γ)0 (t) = 2 γ 0 (t) q γ(t) .

Logo γ 0 (t) q γ(t) = 0 .


Assim γ 0 (t) é ortogonal a γ(t) , ∀ t ∈ I .
Observe: Se kγ(t)k é constante então a extremidade de γ(t) se desloca sobre uma
superfı́cie esférica de centro na origem. O vetor tangente γ 0 (t) é sempre ortogonal a
um raio da esfera.

@
I
@
@
¡
µ
r
¡

10
2. A figura abaixo é descrita por um ponto P sobre uma circunferência de raio a que
rola sobre o eixo x . Esta curva é chamada ciclóide. Determinar uma parametrização
dela.

y6

µ
r
r -
x

y6

pC
a
Py r Kt
Q
y
p -
o x
A B x

Seja P (x, y) . Dando um ”zoom”:

C(at , a)

K
a t
a cos t

P (x,y) Q(at,y)
a sen t

O giro da circunferência implica que OB = arco BP = a.t .


Logo: x = OB − AB = OB − P Q = at − a sen t = a(t − sen t) .
Também y = BC − QC = a − a cos t = a(1 − cos t) .
Portanto a ciclóide tem a representação paramétrica:

 x = a(t − sen t)
 y = a(1 − cos t) .

11
dx dy
Assim: = a(1 − cos t) e = a sen t , que são funções contı́nuas. Ainda, estas se
dt dt
anulam em t = 2 n π , ∀ n ∈ N . Logo a ciclóide não é suave.

Nota 1: Vamos registrar aqui algumas propriedades da ciclóide. Para maiores detalhes o
leitor pode consultar o Livro Cálculo com Geometria Analı́tica - Vol. 2 - Simmons - pg. 259.

y6
- Tangente - “topo” do cı́rculo
r
- comprimento = 4(2a)

r
P r

r -
2πa x
Rárea = 3(πa2 )

Nota 2: Vamos aqui também apresentar algumas curiosidades à respeito desta curva. O
leitor interessado em maiores detalhes pode consultar o Livro citado anteriormente na Nota
1, pg. 264.

Na situação representada a seguir, consideremos o problema de deslizar arruela sob ação


da gravidade somente.

*A
- arruela

- arame delgado
B (arbitrário)

Qual deve ser a forma do arame (trajetória) que permita a arruela ir de A até B no menor
tempo possı́vel?
A resposta é uma ciclóide (invertida) com A na origem.
Não é o segmento de reta.
(Menor tempo: braquistócrona)

Outra propriedade:

12
A
a

B - ponto mais baixo

Soltando-se a arruela em qualquer ponto entre A e B o tempo levado até chegar a B é o


mesmo.
(Tempos iguais: Tautócrona)

Ambos problemas foram resolvidos no sec. XVII pelos Irmãos Bernouilli.

// //

O comprimento de uma curva é a distância total percorrida pela partı́cula móvel.


Prova-se que dada uma curva diferenciável de classe C 1 , γ : [a, b] → R3 , seu comprimento
é dado por Z b
c(γ) = kγ 0 (t)kdt
a

Vejamos uma interpretação:

q γ(b)

γ µγ 0 (ti )
¡
- ¡
ti ¡
@
q q
¡
¾ - γ(a) CC ¡
a b
∆i

kγ 0 (ti )k · ∆i ' comprimento do arco destacado, melhorando a aproximação quando ∆i → 0 .


Assim: Z
n
X b
0
c(γ) = lim kγi (ti )k · ∆i = kγ 0 (t)k dt
∆i →0 a
i=1

13
Observação: O Leitor interessado na dedução desta fórmula pode consultar, por exemplo,
o livro Advanced Calculus - Buck - pg. 321.

Exemplos:

1. γ : [0, 2π] → R2 , γ(t) = (cos t, 0)

6y

¾
-
-
x
-1 1

O comprimento da curva é 4 . Calcule pela definição.

2. Calcular o comprimento da hélice circular γ(t) = (cos t , sen t , t) , t ∈ [0, 2π]


Z 2π √ Z 2π √ √
c(γ) = sen2 t + cos2 t + 1 dt = 2 dt = 2 2 π
0 0

3. Calcular o comprimento do gráfico da função de classe C 1 , f : [a, b] → R .


PodemosZ bpensar na parametrização γ : [a, b] → R2 , γ(t) = (t, f (t)).
p
c(γ) = 1 + [f 0 (t)]2 dt - fórmula já deduzida anteriormente.
a

Definição 1.2.5. Seja γ : [a, b] → R3 . Dizemos: γ(t) - vetor posição.


γ 0 (t) - vetor velocidade. γ 00 (t) - vetor aceleração.

Exemplos:

1. Consideremos a situação:

14
6y
¸
γ(t) γ 0 (t)
j

?
γ 00 (t)
-
x

Conclua que γ 00 (t) aponta para o lado côncavo de γ , como ilustrado acima.

2. Uma partı́cula desloca-se num plano obedecendo a lei:

γ : [0, 2] → R2 , γ(t) = (t2 − t)~ı + t~j

Determine a velocidade e a aceleração no instante t . Esboce a trajetória e represente


geometricamente γ 0 (1) e γ 00 (1) .

γ 0 (t) = (2t − 1)~ı + ~ y 6


γ 00 (t) = 2~ı γ 0 (1)
p γ(2)
γ (1) = (0, 1) µ
¡
¡
¡
γ 0 (1) = ~ı + ~ ¡ - γ 00 (1)
6
γ(1)
γ 00 (1) = 2~ı .
O -
γ(0) 2 x

3. Uma partı́cula percorre uma circunferência com velocidade angular constante. Mostre
que a aceleração é representada por um vetor de módulo constante, orientado para o
centro da circunferência (este vetor é chamado aceleração centrı́peta ).
Sem perda de generalidade, podemos supor:

15
y 6

θ = ângulo formado por


P (x, y)
−→
K
OP no instante t . ) θ
γ(t) A(a, o)
-
x

Temos: velocidade angular w = constante.


Assim: θ = w · t .

 x = a cos (wt)
Logo:
 y = a sen (wt) .

γ(t) = a cos(wt)~ı + a sen(wt)~ .


γ 0 (t) = −a w sen(wt)~ı + a w cos(wt)~ .
γ 00 (t) = −a w2 cos(wt)~ı − a w2 sen(wt)~ .
Temos então que:
kγ 00 (t)k = a w2 e γ 00 (t) = −w2 γ(t)

o que comprova que γ 00 (t) aponta para o centro da circunferência.

4. Consideremos o movimento dado por:

γ(t) = a cos(wt)~ı + a sen(wt)~ + h ~k

6z

*
γ 0 (t)
¡*
¡ θ
µ
γ(t)
~ 6
w
-
y

ªx

16
~ = w ~k - chamado velocidade angular de γ .
Definimos w
¯ ¯
¯ ~ ¯
¯ ~ı ~ k ¯
¯ ¯
¯ ¯ 0
w
~ × γ(t) = ¯ 0 0 w ¯ = −a w sen(wt)~ı + a w cos(wt)~ = γ (t) .
¯ ¯
¯ ¯
¯ a cos(wt) a sen(wt) h ¯

Portanto: o vetor velocidade é o produto vetorial da velocidade angular w


~ pelo vetor
posição γ(t) .

5. Vamos agora examinar o comportamento de um projetil disparado por um canhão.


Introduzimos o sistema de coordenadas.

y 6

µ
α *
I γ(t)
-
o A x

Vamos desprezar a resistência do ar, considerando apenas a força da gravidade.


Seja kv~0 k = v0
~g = −g ~ , onde k~g k = g = 9, 8m/s2
Pela 2a¯ Lei de Newton (F~ = m ~a) temos:

m ~a = m ~g
ou
γ 00 (t) = ~g
Integrando:
γ 0 (t) = t · ~g + ~c

Temos que ~v0 = γ 0 (0) = ~c


Logo γ 0 (t) = t ~g + ~v0
Integrando novamente:
1 2
γ(t) = t ~g + t ~v0 + d~
2

17
Ainda: ~0 = γ(0) = d~
1 1
Logo: γ(t) = t2 ~g + t ~v0 = − t2 g ~ + t(v0 cos α~ı + v0 sen α ~)
2 2
Temos então as equações paramétricas:


 x = (v0 cos α)t
(∗)
 y = − 1 t2 g + (v0 sen α)t
2
Eliminando t , temos:
−g
y= 2 2
x2 + (tg α)x - o que mostra que a trajetória é uma parábola.
2v0 cos α

Alcance (ou ponto A):


Fazemos y = 0 em (∗)
1
t(− g t + v0 sen α) = 0
2
2 v0 sen α
t = 0 - corresponde ao ponto O ou t= - corresponde ao ponto A .
g
Substituindo na 1a equação de (∗) obtemos:

2 v0 sen α v 2 sen(2α)
x = v0 cos α = 0 .
g g

Em particular: alcance máximo se sen(2α) = 1 ou seja α = 450 .

Altura Máxima:
y 0 = −tg + v0 sen α = 0
v0 sen α
t=
g
v0 sen α v02 sen2 α
Assim a altura máxima ocorre em t = e hmax = .
g 2g

18
NOTAS DE AULA

FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS -


DIFERENCIAÇÃO

Cláudio Martins Mendes

Segundo Semestre de 2005


Sumário

1 Funções de Várias Variáveis - Diferenciação 2


1.1 Noções Topológicas no Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Funções - Limites - Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.2 Gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3 Curvas e Superfı́cies de Nı́vel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Funções Limitadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.6 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.7 Derivadas Parciais e Funções Diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.7.1 Derivadas Parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.7.2 Derivadas parciais de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.7.3 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.7.4 Regras da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1.7.5 Gradiente - Curva de Nı́vel - Superfı́cie de Nı́vel . . . . . . . . . . . . . 57
1.7.6 Derivada Direcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
1.8 Teoremas: Valor Médio e Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
1.9 Máximos e Mı́nimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
1.10 Máximos e Mı́nimos Condicionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

1
Capı́tulo 1

Funções de Várias Variáveis -


Diferenciação

1.1 Noções Topológicas no Rn


Consideremos P = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn .
Associamos ao ponto P um número real chamado sua norma, definido por:

¡ ¢1/2
kP k = x21 + x22 + · · · + x2n

¡ ¢1/2
Se P ∈ R2 , então kP k = x21 + x22 , que é reconhecida com “distância” do ponto P à
origem, ou seja, o comprimento do vetor associado a P .
Analogamente, para P ∈ R , P ∈ R3 , etc...
Usamos agora a definição de norma para definir distância no Rn . Dizemos que a distância
entre os pontos P e Q é dada por kP − Qk .
Se P = (x1 , . . . , xn ) e Q = (y1 , . . . , yn ), então

£ ¤1/2
d(P, Q) = kP − Qk = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + · · · + (xn − yn )2

Observação: Esta é a distância euclidiana. Observamos que, além deste, há outros conceitos
de distância.

2
Pq
y - P −Q
O
*q

q
0

Ao espaço Rn , com esta distância, costumamos chamar de ESPAÇO EUCLIDIANO .

Definição 1.1.1. Chama-se bola aberta de centro P0 ∈ Rn e raio δ > 0 , ao seguinte


conjunto:
B(P0 , δ) = {P ∈ Rn | d(P, P0 ) < δ}

y 6
P0 −δ P0 P0 +δ
q
Pq0

6z
-
x
Pq0

q
¼ y
x

Chama-se bola fechada de centro P0 ∈ Rn e raio δ > 0 ao conjunto

B(P0 , δ) = {P ∈ Rn | d(P, P0 ) ≤ δ}

Chama-se esfera de centro P0 ∈ Rn e raio δ > 0 , ao conjunto

S(P0 , δ) = {P ∈ Rn | d(P, P0 ) = δ}

Observação: Uma bola aberta de centro P0 e raio δ > 0 também será chamada uma
vizinhança de raio δ do ponto P0 .

Notação: Vδ (P0 )

Dado um conjunto S ⊂ Rn , qualquer, todo ponto do Rn tem uma das propriedades:

3
(a) dizemos que P é ponto interior a S , se existe δ > 0 tal que B(P, δ) ⊂ S .

(b) dizemos que P é ponto exterior a S , se existe δ > 0 tal que B(P, δ) não contém
qualquer elemento de S , isto é, B(P, δ) ∩ S = ∅ ;

(c) dizemos que P é ponto fronteira de S , quando P não é interior nem exterior a S ,
isto é, ∀ δ > 0, B(P, δ) contém pontos de S e pontos que não são de S .

Exemplos:

Q
º
(1) P é exterior a S y 6
Q é interior a S
S
R é fronteira de S

: P
-
R
-
x

½µ ¶ ¾ y 6
1 1
(2) S= , , n∈N q
n n qR

q Q
P é ponto fronteira de S q
q
q
Q é ponto fronteira de S q
q
q q
R é ponto exterior a S qq -
I P x

Definição 1.1.2. Seja A ⊂ Rn . Dizemos que A é aberto, se todo ponto de A for interior
a A , isto é, ∀ P ∈ A, ∃ δ > 0 tal que B(P, δ) ⊂ A .

Exemplos:

1. Rn é aberto no Rn

4
2. A = {P ∈ R2 ; kP k < 1} é aberto em R2 .
De fato:

Seja P0 ∈ A. Logo kP0 k = r < 1


µ ¶
1−r
Consideremos B P0 ,
2
µ ¶
1−r
Mostremos que B P0 , ⊂A
2
µ ¶
1−r
P ∈ B P0 , =⇒ kP k = kP − P0 + P0 k ≤ kP − P0 k + kP0 k =
2
1−r
= kP − P0 k + r < +r <1 .
2

6y 1 1−r
KU
K
r
U

°
Po
-
x

3. Qualquer B(P0 , δ) é um conjunto aberto no Rn .

4. C = {(x, y) ∈ R2 | |x| + |y| < 1}

6y

1
C é aberto -
x

5
5. C ∪ {(0, 1)} não é aberto.

Observação: Dado um conjunto A ⊂ Rn , o conjunto dos pontos interiores a A é chamado


interior de A e é denotado por int A ou Å .
Analogamente, ext A ou front A .

Definição 1.1.3. Dado A ⊂ Rn , dizemos que P é um ponto de acumulação de A , se


qualquer vizinhança de P contém um ponto de A , diferente de P .

Exemplos:

1. Todo ponto P ∈ Rn é ponto de acumulação do Rn .

2. Nenhum ponto P ∈ Rn é ponto de acumulação do conjunto ∅ .

3. A = {(x, y) | x2 + y 2 < 1}
O conjunto dos pontos de acumulação de A é: {(x, y) | x2 + y 2 ≤ 1}

4. A = {(x, y) | y > x} ∪ {(1, 0)}


(1, 0) ∈ A mas não é ponto de acumulação de A .
(1, 1) 6∈ A mas é ponto de acumulação de A .

y 6

r
(1,1)

(1,0)
r -
x

Conjunto dos pontos de acumulação de A : {(x, y) | y ≥ x} .


½µ ¶ ¾
1 1
5. A = ,− | n∈N
n n

Observe que (0, 0) 6∈ A e que (0, 0) é o único ponto de acumulação de A .

6
Exercı́cio: Mostre que se P é ponto de acumulação de um conjunto A , então toda B(P, δ)
contém infinitos pontos de A .
Conclua disto que um conjunto finito não pode ter pontos de acumulação.

Definição 1.1.4. Dado um conjunto A ⊂ Rn , dizemos que P é um ponto isolado de A se


P ∈ A e P não é ponto de acumulação de A .

Exemplos:

1. Vide exemplo (4) da definição 3 :


(1,0) é ponto isolado de A
(2,1) não é ponto isolado de A (não pertence a A ).

2. Vide exemplo (3) da definição 3 :


O conjunto A não tem pontos isolados.

Definição 1.1.5. Um conjunto A é fechado se todo ponto de acumulação de A pertence


a A.

Exemplos:

1. Rn é fechado

2. ∅ é fechado

3. A = {(x, y) ∈ R2 | x2 + y 2 < 1} não é fechado

4. Vide exemplo (4) da definição 3: A não é fechado

5. Vide exemplo (5) da definição 3: A não é fechado

Exercı́cios:

1. Prove que todo conjunto finito é fechado.

2. O conjunto {(x, y) ∈ R2 | x = y} é fechado em R2 ?

7
Observação: Na linguagem comum as palavras aberto e fechado são exclusivas e totali-
zantes. Tal fato não ocorre aqui, como mostram os exemplos abaixo:

conjuntos aberto fechado


{(x, y) | x2 + y 2 < 1} sim não
conjunto finito não sim
©1 ª
n
| n ∈ N não não
R2 sim sim

Teorema 1.1.6. Um conjunto é fechado se, e somente se, seu complementar é aberto.

Prova:
(→) Seja F - conjunto fechado
∀ P ∈ CF ⇔ P 6∈ F (fechado) ⇒ P não é ponto de acumulação de F ⇔ ∃ δ > 0 tal que
B(P, δ) ⊂ CF . Portanto CF é aberto.

(←) Seja CF - conjunto aberto


Consideremos P um ponto de acumulação qualquer de F . Mostremos que P ∈ F .
Suponhamos que P 6∈ F ⇒ P ∈ CF (aberto).
⇒ ∃ δ > 0 tal que B(P, δ) ⊂ CF ⇒ P não é ponto de acumulação de F (contra hipótese).
Logo P ∈ F e assim F é fechado.

Definição 1.1.7. A ⊂ Rn é dito limitado se existe δ > 0 tal que A ⊂ B(0, δ).

y 6

...
.......
.......
......
....
... ...
δ A
........
......
......
......
.......
........
........
.........
........
........
......
.....
...
N -
x

Exemplos:

8
1. Qualquer B(P, δ) é um conjunto limitado

2. {(1, m) | m ∈ N } não é limitado

3. {(sen x , cos x) | x ∈ R} é limitado. Desenhe-o.

Vamos agora enunciar um dos resultados básicos do Cálculo, que garante a existência de
pontos de acumulação. Para a prova, o leitor pode consultar o livro: Advanced Calculus,
Buck, pg. 38 .

Teorema 1.1.8 (Bolzano-Weierstrass). Todo subconjunto infinito e limitado do Rn tem


pelo menos um ponto de acumulação.

Definição 1.1.9. Um conjunto A ⊂ Rn se diz compacto quando é fechado e limitado.

Exemplos:

1. Todo conjunto finito é compacto

2. Toda bola fechada do Rn é compacta

3. [a, b] × [c, d] ⊂ R2 é compacto

Definição 1.1.10. Uma coleção {Ωα }α∈I de conjuntos abertos é chamada uma cobertura
[
aberta ou um recobrimento aberto do conjunto A ⊂ Rn se A ⊂ Ωα .
α∈I

Exemplos:

1. {B(0, n)}n∈N cobertura aberta do Rn

2. {B(P, 1)}P ∈Zn cobertura aberta do Rn

3. {B(P, 12 )}P ∈Zn não é cobertura aberta do Rn mas é de Zn

Definição 1.1.11. Seja Ω uma cobertura de A ⊂ Rn . Uma subcoleção Ω 0 de Ω é dita uma


subcobertura de A relativamente a Ω se Ω 0 ainda é cobertura de A .

Observação: Se o número dos conjuntos na subcobertura é finito ela é dita subcobertura


finita.

Exemplo:

9
1. {B(0, n)}n∈N cobertura do Rn
{B(0, n)}n∈2N subcobertura do Rn relativa a cobertura acima

Uma caracterização de grande valor teórico dos conjuntos compactos (cuja prova pode
ser encontrada em Advanced Calculus, Buck, pg. 39) é a seguinte:

Teorema 1.1.12 (Heine-Borel). Toda cobertura aberta de um conjunto compacto A ⊂ Rn


admite uma subcobertura finita.

Exercı́cios 1.1:

1. Se A e B são conjuntos fechados, mostre que A ∩ B e A ∪ B são também fechados.

2. Esboce os seguintes conjuntos:


A = {(x, y) ∈ R2 | max{|x|, |y|} < 1}
B = {(x, y) ∈ R2 | |x| + |y| < 1}

3. Pense e veja se concorda:

(i) O conjunto {x ∈ R | 0 < x < 1} é aberto;

(ii) O conjunto {(x, 0, 0) ∈ R3 | 0 < x < 1} não é aberto;

(iii) Qualquer plano não é aberto no R3 .

4. Qual é a fronteira do conjunto

P = {(x, y) ∈ R2 | x, y ∈ Q}

Observe que R2 − P = {(x, y) ∈ R2 | (x, y) 6∈ P } não é um conjunto aberto.

5. Determine os pontos de acumulação, a fronteira e o interior dos seguintes conjuntos:

(a) {(x, y) ∈ R2 | x ≥ 0}

(b) {(x, y) ∈ R2 | |x| = |y|}

(c) {(x, y) ∈ R2 | x, y ∈ Z}

(d) R3

10
(e) {(x, y) | x2 − y 2 ≥ 1}
©¡ 1 1 ¢ ª
(f) m n
, | m, n ∈ N . Esboce o conjunto.

(g) {(x, y, z) | x2 + y 2 + z 2 > 4}

6. Citar as propriedades que se aplicam a cada um dos conjuntos do exercı́cio anterior,


dentre as seguintes: aberto, fechado, limitado, finito.
1 ◦
7. Seja S o conjunto de todos os pontos (x, y) tais que y = sen e x > 0. Determine S .
x
S é fechado? Determine front S .

8. Considere S = {(x, y) | x2 + y 2 = 1 ou y=0 e 0 ≤ x ≤ 1 }. Determine S .
S é fechado?

9. Justifique porque não se pode aplicar o teorema de Heine-Borel aos seguintes conjuntos
e respectivos recobrimentos:

A = [a, b] × [c, d] A = R2 A = V1 (0) ⊂ R2


{Sy }y∈[c,d] {Vδ (0)}δ∈N {Vr (0)}0<r<1
onde Sy = [a, b] × {y}

10. Mostre que um ponto fronteira de S que não está em S é um ponto de acumulação
de S .

11. Determine um subconjunto do R2 com exatamente três pontos de acumulação.


Será possı́vel conseguir um subconjunto do R2 com exatamente três pontos interiores?

12. Prove que um conjunto A ⊂ Rn que não tenha pontos de acumulação não tem pontos
interiores.

1.2 Funções - Limites - Continuidade

1.2.1 Definição

Definição 1.2.1. Seja A ⊂ Rn . Uma função f definida em A com valores em R é uma


correspondência que associa a cada ponto de A um e um só número real.

11
Os pontos de A são chamados variáveis independentes.

A ⊂ Rn
R
Pr - q f (P )
f

Notação: f : A ⊂ Rn → R .

O conjunto A é chamado domı́nio de f .


O conjunto B = {f (P ) | P ∈ A} é chamado imagem de f e denotado por Im(f ) .

Observação: Durante o curso de Cálculo I estudamos funções f : I ⊂ R → R . Genera-


lizações deste conceito podem ser feitas das mais diversas maneiras. Por exemplo, f : I ⊂
R → R2 , g : A ⊂ R2 → R , h : A ⊂ R2 → R2 , ` : A ⊂ R3 → R3 , etc.
Todos estes casos aparecerão durante o curso, mas em especial estaremos trabalhando com
f : A ⊂ Rn → R, mais particularmente com f : A ⊂ R2 → R .

Exemplos:

1. f : A ⊂ R3 → R
f (x, y, z) = altura em relação ao plano xy

A = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y 2 + z 2 = 1}

6z
R

f -

- 0
y
p

ªx

12
2. Pi : Rn → R
(x1 , . . . , xn ) → xi Chamada i-ésima projeção.
Por exemplo, n = 3 e i = 2 , (x, y, z) → y .

6z

q
Uq
z
y

ªx

y
Exercı́cio: Encontre o domı́nio da função dada por f (x, y) = p .
x − y2
Encontre também os pontos (x, y) para os quais f (x, y) = 1 .

Resolução:
A expressão só faz sentido nos pontos (x, y) tais que x − y 2 > 0 ou seja x > y 2 .
p
Ainda: f (x, y) = 1 ⇔ y = x − y 2 ⇔ y 2 = x − y 2 , y ≥ 0 ⇔ x = 2y 2 , y ≥ 0 .
A seguir representamos o domı́nio de f e os pontos onde f (x, y) = 1 .

y 6
x = y2
x = 2y 2 ; y ≥ 0
r -
x

Observação: Analogamente como feito para função h : R → R podemos definir, ponto a


ponto, a soma, o produto, a divisão de duas funções f, g : A ⊂ Rn → R . Por exemplo: a
função soma f + g é definida por: (f + g)(P ) = f (P ) + g(P ), ∀ P ∈ A .

13
1.2.2 Gráficos

Definição 1.2.2. f : A ⊂ Rn → R . Chama-se gráfico de f ao subconjunto do Rn+1


definido por
Gf = {(P, f (P )) | P ∈ A} .

Observação: Como o gráfico é um subconjunto do Rn+1 e no papel podemos representar


até o R3 então podemos desenhar o gráfico de funções de no máximo duas variáveis, isto é,
n = 2.

Exemplos:
6y

Gf
®
f (a)
(1) f : I ⊂ R → R

[ ] -
a I x

6z

1y
(2) f : R2 → R b
q
2
f (P ) = 2
a
Gf = {(x, y, 2) / x, y ∈ R}

xj
6z

(3) f : R2 → R
q
(x, y) → y 1
y
b b
Gf = {(x, y, y) / x, y ∈ R}

q
x

14
6z
2
(4) f : A ⊂ R → R ¡
¡
(x, y) → x2 + y 2 ¡
q
A = {(x, y) ∈ R2 / x ≥ 0, y ≥ 0}
-
Gf = {(x, y, x2 + y 2 ) / x ≥ 0, y ≥ 0} y
ªx

z
6
:

(5) f : R2 → R
f (P ) = distância de P ao
ponto (0,0), ou seja,
p
f (x, y) = x2 + y 2 XX© ©
© XXXX
© XXX
©©
©
¼ y
X
z
x

6z
(6) f : R2 → R
(x, y) → x2
Gf = {(x, y, x2 ) | x, y ∈ R}

)
x

j
y
Exercı́cios 1.2:

1. Esboce o gráfico de f : A ⊂ R2 → R tal que f (P ) = distância do ponto P ao ponto


(0, 0) onde A = {(x, y) ∈ R2 | x2 + y 2 ≥ 1}.

2. Tente definir uma função f : R2 → R cujo gráfico seja uma “telha eternit” .

3. Esboce o gráfico de f (x, y) = x2 + |y| .

15
1.3 Curvas e Superfı́cies de Nı́vel
Existe uma outra técnica gráfica útil para descrever o comportamento de uma função
de duas variáveis. O método consiste em descobrir no plano xy os gráficos das equações
f (x, y) = k para diferentes valores de k . Os gráficos obtidos desta maneira são chamados as
curvas de nı́vel da função f .
f : A ⊂ R2 → R

Curva de nı́vel k : {(x, y) ∈ A tal que f (x, y) = k} .

y6
R

q
* k
f
-
x
² A
curva de
nı́vel k
ou
6z

*
y
: curva de nı́vel
f (x, y) = k
z x

Exemplos:

1. z = f (x, y) = altura em relação ao nı́vel do mar (definida em uma pequena porção


aproximadamente plana).
Nossas curvas de nı́vel correspondem às linhas de contorno em uma mapa to-
pográfico.

16
250
300
350

2. f : R2 → R
f (x, y) = x2 + y 2
As curvas de nı́vel são os gráficos das equações x2 + y 2 = k .
6z
:
6y

¡
4 ¡
1 ¡
p̀ -
x
-
y
ªx

3. f : D ⊂ R2 → R
1
f (x, y) = 2
x + y2
Curvas de nı́vel: x2 + y 2 = c . :
z
6
6y

1
4
1
p̀ -
x

¼ j
x y

17
4. z = f (x, y) = x2 − y 2
Curvas de nı́vel:
x2 − y 2 = c
c = 0 → |x| = |y|
c 6= 0 - hipérboles

6y
0 6z
@ −1 ¡
@ ¡
@ ¡ 1
@ ¡
@ ¡
@ ¡ -
x
-
¡
@
¡ @ x ¡
¡ y¡
ª
@
¡ @
¡ @
¡ @
¡ @
0

Se f é uma função de três variáveis x, y, z então, por definição, as superfı́cies de


nı́vel de f são os gráficos de f (x, y, z) = k, para diferentes valores de k .

f : A ⊂ R3 → R

Superfı́cie de nı́vel k : {(x, y, z) ∈ A tal que f (x, y, z) = k} .


Em aplicações, por exemplo, se f (x, y, z) é a temperatura no ponto (x, y, z) então as
superfı́cies de nı́vel são chamadas superfı́cies isotermas. Se f (x, y, z) representa potencial
elas são chamadas superfı́cies equipotenciais.

6z R
* sup. de nivel k1
j q
k1
q f
z q k2

q
k3

-
y
x
¼

18
Exemplos:

6z
(1) f : R3 → R
f (x, y, z) = 2x + y + z
superfı́cies de nı́vel
2x + y + z = k
-
planos paralelos y

x
+

z
6
(2) g : R3 → R
g(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2
superfı́cies de nı́vel q
z
x2 + y 2 + z 2 = k ≥ 0 y

Superfı́cies esféricas de centro na origem


ªx

(3) h : R3 → R z
6
y
h(x, y, z) =
ex
superfı́cies de nı́vel
y = kex ¡ -
¡ y
¡
¡

ª ²
S : h(x, y, z) ≡ 1

1.4 Funções Limitadas


Definição 1.4.1. f : A ⊂ Rn → R diz-se limitada em um conjunto B ⊂ A se existir
uma constante K ∈ R tal que |f (P )| ≤ K, ∀ P ∈ B .

19
f qK
B j
q 0

q
−K

A ⊂ Rn

Exemplos:

1. f : R2 → R
f (x, y) = 2x + y
B = {(x, y) ∈ R2 | x2 + y 2 ≤ a2 }
f é limitada em B ; senão vejamos:
|f (x, y)| = |2x + y| ≤ 2|x| + |y| ≤ 2a + a = 3a .

2. f : R2 − {(0, 0)} → R
1
f (x, y) = 2
x + y2
f não é limitada em R2 − {(0, 0)} .

Definição 1.4.2. f : A ⊂ Rn → R diz-se limitada em um ponto P0 ∈ A se existir δ > 0


tal que f seja limitada em A ∩ B(P0 , δ) .
p
pp
f R
z
A ⊂ Rn

q q0
*
p
j P
0 pp

20
:
Exemplo:
z
6
f : R2 − {(0, 0)} → R
1
f (x, y) = 2
x + y2
não é limitada em
R2 − {(0, 0)} mas é limitada
em qualquer ponto de
R2 − {(0, 0)} .
¼ j
x y

Teorema 1.4.3. Se uma função é limitada em todos os pontos de um conjunto compacto C


então ela é limitada em C .

Prova:
Para todo P ∈ C existe B(P, δp ) tal que

|f (Q)| < KP , ∀ Q ∈ C ∩ B(P, δp ) .

Como C é compacto, pelo Teorema de Heine-Borel existe um número finito de bolas


abertas B(P1 , δp1 ), . . . , B(Pn , δpn ) que recobrem C .
Temos as constantes KP1 , . . . , KPn .
Seja K = max{KP1 , . . . , KPn } .
Então,
P ∈ C ⇒ ∃ Pi tal que P ∈ B(Pi , δpi ) ⇒ |f (P )| < KPi ≤ K .

Portanto f é limitada em C .

Exercı́cios 1.4:

1. Determinar os domı́nios máximos de cada uma das funções abaixo, esboçando-os gra-

21
ficamente:
x ln(x − 2y)
(a) z = arc sen (b) z = √
x+y y − 2x
x
(c) z = ln(36 − 4x2 − 9y 2 ) (d) z = 2
y − 4x
p p
(e) z = x2 − y 2 + x2 + y 2 − 1

2. Esboce o gráfico de:


p
(a) f (x, y) = x2 + y 2 − x2 + y 2
1
(b) g(x, y) = sen , x 6= 0
x
3. Considere no R2 o seguinte conjunto:

H = {(x, y) ∈ R2 | x ≤ y ≤ x + 1} .

Considere ainda f : H → R dada por f (x, y) = x2 + y 2 . Observe que f é limitada em


todo ponto do conjunto H mas não é limitada em H . Compare com o resultado dado
no Teorema 1.4.3.

4. Traçar curvas de nı́vel para as funções:

(a) f (x, y) = xy

(b) g(x, y) = cos x

5. Determinar as superfı́cies de nı́vel das funções:


x2 + y 2
(a) f (x, y, z) =
z
(b) g(x, y, z) = x + 2y

6. Ache as curvas de nı́vel de f : R2 → R definida por f (x, y) = sen(x − y). Esboce o


gráfico de f .

1.5 Limites
Definição 1.5.1. Escrevemos lim f (P ) = L e dizemos que limite da função f no ponto
P →P0
P0 é igual a L quando:

22
(i) f : A ⊂ Rn → R e P0 é ponto de acumulação de A .

(ii) Correspondendo a cada ε > 0 existe um δ > 0 tal que



0 < kP − P0 k = d(P, P0 ) < δ 
=⇒ |f (P ) − L| < ε .
P ∈A 

R
A⊂R n f

j L+ε
q q
L
q P
L−ε
0

Observação: Quando lim f (P ) = 0 diremos frequentemente que f é infinitésima no


P →P0
ponto P0 .

Exemplos:

1. f : R2 → R
(x, y) → x
f é infinitésima no ponto (0,0)
De fato:
√ p
Sabemos que |x| = x2 ≤ x2 + y 2
Dado ε > 0 tomamos δ ≤ ε .
Então,
p
x2 + y 2 < δ =⇒ |x| < δ ≤ ε

23
2. f : R2 → R 6y
f (x, y) = x + y 2 2
lim f (x, y) = 3 1¡¡
(x,y)→(2,1)
1 q¡
De fato:
-
Sabemos que 2 x

|x + y 2 − 3| = |x − 2 + y 2 − 1| ≤ |x − 2| + |y + 1| |y − 1|
n εo
Então, dado ε > 0 tomamos δ = min 1 , .
4
Logo, |y + 1| < 3 .
Teremos,
ε
[(x−2)2 +(y −1)2 ]1/2 < δ ⇒ |x+y 2 −3| ≤ |x−2|+|y +1| |y −1| ≤ δ +3δ = 4δ ≤ 4 = ε
4
Propriedades:

1. Se f : Rn → R tem limite em um ponto P0 então este limite é único.

2. Se lim f (P ) = L e lim g(P ) = M então, lim (f + g)(P ) = L + M e


P →P0 P →P0 P →P0
lim (f g)(P ) = L.M
P →P0

1 1
3. Se lim f (P ) = L 6= 0 , então, lim =
P →P0 P →P0 f (P ) L
g(P ) M
Ainda se lim g(P ) = M , então, lim =
P →P0 P →P0 f (P ) L
4. Se uma função tem limite em um ponto P0 então ela é limitada em P0 . (P0 pertencente
ao domı́nio da função).

Observação: A recı́proca não é verdadeira. (Dê um contra exemplo).

5. O produto de um infinitésimo em um ponto por uma limitada no ponto é um infinitésimo


no ponto.

6. Teorema da Conservação do Sinal:


Se lim f (P ) = L 6= 0, então existe B(P0 , δ) na qual as imagens f (P ) têm o mesmo
P →P0
sinal de L (exceto, possı́velmente, f (P0 )).

24
Idéia:

- q
A ⊂ Rn L
q
0

q
P0

|L|
ε=
2

// //

No caso de uma variável vimos que existem somente duas “direções” através das quais o
ponto P pode se aproximar do ponto P0 . Introduzimos então as noções de limite à esquerda
e à direita. No caso de duas variáveis (ou mais) temos um número infinito de “modos de
aproximação”.
O caso geral é coberto pela seguinte definição:

Definição 1.5.2. Sejam S um conjunto no qual f está definida e P0 um ponto de acumulação


de S . Dizemos que f (P ) converge para L conforme P aproxima-se de P 0 em S e
escrevemos
lim f (P ) = L
P →P0
P ∈S

se, e somente se, correspondendo a cada ε > 0 existe um δ > 0 tal que

0 < kP − P0 k < δ 
=⇒ |f (P ) − L| < ε
P ∈S 

R
f

j L+ε
A ⊂ Rn Pq 0 q L
L−ε
S

25
Observação: Um importante caso especial é S
n
quando S é um segmento ou um arco de curva. A⊂R
q
P0

Teorema 1.5.3. Se f (P ) está definida para todos pontos P em uma vizinhança de P0 , exceto,
possivelmente, em P0 e lim f (P ) = L , então o limite de f (P ) existe para P aproximando-
P →P0
se de P0 em qualquer conjunto S que tenha P0 como ponto de acumulação e sempre tem o
mesmo valor L .

Prova: Dados P0 e S nas condições.


Dado ε > 0 .
Como lim f (P ) = L , sabemos que existe δ > 0, tal que 0 < kP−P0 k < δ ⇒ |f (P ) −L| < ε .
P →P0
Isto ainda é verdadeiro se P ∈ S .
Assim segue que lim f (P ) = L .
P →P0
P ∈S

Observação:
Este teorema fornece um critério:

Se os limites em dois caminhos diferentes são diferentes então o limite não existe.

Exemplos:
z
6
1. f : R2 → R ¡
 ¡
 1 , para x 6= 0 1 ¡
f (x, y) = ¡
 0 , para x = 0 ¡ -
¡ y
2
S1 = {(x, y) ∈ R | y = 0} ªx

lim f (x, y) = lim 1=1


(x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0)
(x,y)∈S1 (x,y)∈S1

S2 = {(x, y) ∈ R2 | x = 0}

26
lim f (x, y) = lim 0=0
(x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0)
(x,y)∈S2 (x,y)∈S2

Portanto, não existe lim f (x, y)


(x,y)→(0,0)

2. f : R2 − {(0, 0) → R
xy
f (x, y) = p
x2 + y 2

P ∈ eixo y 
=⇒ xy = 0 =⇒ f (P ) = 0
P ∈ eixo x 

Logo f (P ) converge para 0 conforme P aproxima-se de 0 através dos eixos coordenados.


É verdade que lim f (P ) = 0 ?
P →0
P = (x, y) p p
|xy||x| |y| x2 + y 2 · x2 + y 2 p 2
|f (P )| = p =p ≤ p = x + y2
x2 + y 2 x2 + y 2 x2 + y 2
Assim dado ε > 0 podemos tomar δ = ε e teremos

0 < kP − 0k < δ = ε =⇒ |f (P ) − 0| < ε

Portanto, lim f (P ) = 0 .
P →0

3. g : R2 − {(0, 0)} → R
xy
g(x, y) =
x2 + y2
g(P ) ≡ 0 quando P está em um dos eixos coordenados, de modo que g(P ) converge
para 0 quando P aproxima-se de O pelos eixos. Entretanto lim g(P ) não existe.
P →O
2
Seja S = {(x, y) ∈ R | x = y}
1
g(P ) = g(x, x) =
2
1
lim g(P ) = 6= 0
P →0 2
P ∈S

Portanto, lim g(P ) não existe.


P →0
m
Observamos que g(x, m x) = e que g(0, y) = 0 e assim o gráfico de g é cons-
1 + m2
tituı́do por retas horizontais. Tente esboça-lo.

27
4. F : R2 − {(0, 0)} → R
xy 2
F (x, y) =
x2 + y 4
Se P pertence a um dos eixos, F (P ) = 0
Sobre a reta y = x :
x
F (P ) = F (x, x) = de modo que lim F (P ) = 0 .
1 + x2 P →0
P =(x,x)
De fato, F (P ) converge para 0 conforme P aproxima-se da origem ao longo de toda
reta passando pela origem.
Vejamos:
Seja y = mx
m2 x
F (P ) = F (x, mx) = e assim lim F (P ) = 0 .
1 + m 4 x2 P →0
y=mx
Apesar disto, não é verdade que lim F (P ) = 0 .
P →0
2
Tomemos S = {(x, y) | y = x}
1
F (P ) = F (y 2 , y) =
2
1
lim F (P ) = .
P →0 2
6y
P ∈S

N +
@ ¡
@ ¡
@ ¡ )
@ ¡
@ ¡
¡
@ -
¡ @ x
¡ @
¡ @
µ
¡ @
±
¡
¡ @
@
k

1.6 Continuidade
Definição 1.6.1. Sejam f : A ⊂ Rn → R , P0 um ponto de acumulação de A com P0 ∈ A .
f é dita contı́nua em P0 se lim f (P ) = f (P0 ), ou seja:
P →P0

28
dado ε > 0 , ∃ δ > 0 tal que

kP − P0 k < δ 
=⇒ |f (P ) − f (P0 )| < ε .
P ∈A 

Definição 1.6.2. Uma função f é dita contı́nua em um conjunto B quando for contı́nua
em todo ponto de B .

Exemplos:

1. f : R2 → R f (x, y) = x + y
Seja (x0 , y0 ) ∈ R2
Dado ε > 0
Queremos δ > 0 tal que
£ ¤1/2
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 < δ =⇒ |x + y − (x0 + y0 )| < ε
mas
|x + y − (x0 + y0 )| ≤ |x − x0 | + |y − y0 | < δ + δ = 2δ
ε
Basta tomar δ = .
2

2. p1 : R2 → R 6y

p1 (x, y) = x
y0 q
2
p1 é contı́nua no R .
Olhe a ilustração ao lado.
Qual o δ apropriado?
-
x0 x

3. pi : Rn → R
pi (x1 , . . . , xn ) = xi
pi é contı́nua no Rn .

29
 2 2
 x − y , se (x, y) 6= (0, 0)

4. f (x, y) = x2 + y 2

 0, se (x, y) = (0, 0)

f não é contı́nua em (0, 0) .

Propriedades:

1. A soma de m funções contı́nuas em um ponto é uma função contı́nua no ponto.

2. O produto de m funções contı́nuas em um ponto é uma função contı́nua no ponto.

Conseqüência: Denotando x = (x1 , x2 , . . . , xn ), uma polinômial P (x) em x1 , . . . , xn é


uma soma de parcelas do tipo:

 a - constante
ax`11 · x`22 · · · x`nn onde
 ` ∈ N , i = 1, . . . , n
i

que pode ser escrita como


a [p1 (x)]`1 · · · [pn (x)]`n

que é contı́nua, como produto de funções contı́nuas.


Logo, usando a propriedade (1), toda polinomial é contı́nua.

3. Dada uma função contı́nua e 6= 0 em um ponto, então a recı́proca é contı́nua naquele


ponto.

4. Se uma função é contı́nua e 6= 0 em um ponto, ela possui sinal constante em alguma


vizinhança daquele ponto.

5. Se uma função é contı́nua em um conjunto compacto, então ela é limitada nesse con-
junto.

De fato:
Como a função tem limite em todos os pontos do conjunto, ela é limitada em todos os
pontos do conjunto compacto. Pelo teorema 1.4.3 ela é limitada no conjunto.

30
Definição 1.6.3. f : A ⊂ Rn → R , B ⊂ A.
Imagem do conjunto B pela função f é o conjunto f (B) = {f (P ) / P ∈ B}.
Assim, por exemplo, a função f é dita limitada em B se f (B) é limitado.

Observação: Com esta definição a propriedade (5) pode ser enunciada assim:

Se f é contı́nua em K onde K é compacto então f (K) é limitado. Como f (K) ⊂ R e é


limitado, temos pelo axioma do sup, que existe L = sup f (K) e ` = inf f (K) .

Teorema 1.6.4. Se uma função é contı́nua em um conjunto compacto então existe um ponto
onde ela atinge seu extremo superior e um ponto onde ela atinge seu extremo inferior.

Prova: Suponhamos que f não assuma L = sup f (K).


Logo f (P ) < L , ∀ P ∈ K.
Seja g(P ) = L − f (P ) > 0, contı́nua.
1
Assim, é contı́nua no compacto K .
g(P )
1 1 1
Então = é limitada em K ⇒ ∃ H tal que < H , ∀ P ∈ K.
g(P ) L − f (P ) L − f (P )
1 1
Logo L − f (P ) > ⇒L− > f (P ) , ∀ P ∈ K .
H H
Portanto, L não é extremo superior (contra hipótese).
Fica como exercı́cio a demonstração para extremo inferior.

Definição 1.6.5. Sejam f : A ⊂ Rn → B ⊂ R e g : B → R . A função composta de g


com f , indicada por g ◦ f é definida por

g ◦ f : A ⊂ Rn → R
(g ◦ f )(p) = g(f (P ))

A ⊂ Rn
q f (P )
q g(f (P ))
r g
P f µ
µ

g◦f

31
Teorema 1.6.6. Sejam f : A ⊂ Rn → B ⊂ R e g : B → R tais que f seja contı́nua em P0
e g contı́nua em f (P0 ). Então g ◦ f é contı́nua em P0 .

Prova: Dado ε > 0 .


Queremos δ >0 tal que
kP − P0 k < δ 
=⇒ |(g ◦ f )(P ) − (g ◦ f )(P0 )| < ε .
P ∈A 

f
P0 y g
j
q
f (P0 ) q
qXX δ1 g(f (P0 ) q
δ2
ε

Sabemos que existe δ1 = δ1 (ε , f (P0 )) tal que


|z − f (P0 )| < δ1 =⇒ |g(z) − g(f (P0 ))| < ε .

Como f é contı́nua em P0 sabemos que dado δ1 > 0 , ∃ δ2 > 0 tal que



kP − P0 k < δ2 
=⇒ |f (P ) − f (P0 )| < δ1 .
P ∈A 

Logo para
kP − P0 k < δ2 =⇒ |f (P ) − f (P0 )| < δ1 =⇒ |g(f (P )) − g(f (P0 ))| < ε .
Portanto, g ◦ f é contı́nua em P0 .

Exercı́cios 1.6:

1. Mostrar, pela definição, que lim (x2 + y 2 − 4) = 0 .


x→2
y→0

 1, x≥0
2. Seja a função f (x, y) =
 −1 , x < 0 .

32
Prove que a função tem limite igual a 1 nos pontos (x0 , y0 ) com x0 > 0 e que tem limite
igual a −1 nos pontos (x0 , y0 ) com x0 < 0. Prove ainda que não tem limite nos pontos
(0, y0 ) .

3. Sejam A e B dois pontos no espaço e seja f (P ) = kP − Ak − kP − Bk .


f é uma função limitada ?
Você pode mostrar que, para qualquer P0 , lim f (P ) = f (P0 ) ?
P →P0

4. Prove, usando a definição de limite, que: lim (x2 + 2yx + y 2 ) = 9 .


x→1
y→2

5. Determinar o valor dos seguintes limites, quando existirem:


x2 − y 2 x
(a) lim (b) lim
(x,y)→(0,0) 1 + x2 + y 2 x→0 x2 + y2
y→0
µ ¶ ³y´
2 2 1 2
(c) lim (x + y ) sen (d) lim x sen
x→0
y→0
xy x→4
y→π
x
(1 + y 2 )sen x 1+x−y
(e) lim (f) lim
x→0
y→0
x x→0
y→0
x2 + y 2
4x − y − 3z
(g) lim
x→0
y→0
2x − 5y + 2z
z→0

6. Usando a definição, prove que f (x, y) = xy + 6x é contı́nua em:


(a) (1, 2) (b) (x0 , y0 )

7. Investigue a continuidade de cada uma das funções abaixo, no ponto (0,0):


 x
 , 3x + 5y 6= 0
(a) f (x, y) = 3x + 5y

0 , 3x + 5y = 0


 (x2 + y 2 ) sen 1
, se (x, y) 6= (0, 0)
(b) g(x, y) = x2 + y2

 0 , se (x, y) = (0, 0)

 2 2
 x − y , (x, y) 6= (0, 0)

8. (a) Mostre que a função f (x, y) = x2 + y 2 é limitada em R2 .

 0 , (x, y) = (0, 0)

33
(b) Mostre que f (x, y) não tem limite em (0, 0).
· ¸
x2 − y 2
(c) Caso exista, determine o valor lim sen(x + y) 2 .
x→0
y→0
x + y2

9. Investigue a continuidade no ponto (0,0) da função abaixo:



 xy x − y , (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

0 , (x, y) = (0, 0)

1.7 Derivadas Parciais e Funções Diferenciáveis

1.7.1 Derivadas Parciais

Seja z = f (x, y) definida em um conjunto aberto A e seja (x0 , y0 ) ∈ A. Então para x


suficientemente próximo de x0 todos os pontos (x, y0 ) estão em A . Assim podemos considerar
z = f (x, y0 ) como uma função de x , em um pequeno intervalo em torno de x0 . A derivada
em x0 desta função de x (se a derivada existir) é chamada derivada parcial de f em
relação a x no ponto (x0 , y0 ).

Notações:
y 6
∂f
fx (x0 , y0 ) ; (x0 , y0 ) ; f1 (x0 , y0 )
∂x
A
y0 q
∂z
zx (x0 , y0 ) ; (x0 , y0 )
∂x
-
Assim: x0 x
· ¸
df (x, y0 ) f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 , y0 )
fx (x0 , y0 ) = = lim .
dx x0
∆x→0 ∆x

Considerando z como uma função de y , para x fixo, obtemos de maneira semelhante uma
∂f ∂z
outra derivada parcial fy = = f2 = z y =
∂y ∂y
Temos
f (x0 , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 )
fy (x0 , y0 ) = lim
∆y→0 ∆y

34
Interpretação Geométrica

Podemos interpretar geometricamente a derivada parcial como uma inclinação. Conside-


remos a secção da superfı́cie z = f (x, y) pelo plano vertical y = y0 . Neste plano a curva
z = f (x, y0 ) tem uma tangente com inclinação fx (x0 , y0 ) em x0 .

z 6 β
y* M

y0

x0 6
α

xR

z6 z6
β
I
y 3y

´
´
´
y0
y0 Oα
´
´ ´
´
´ ´
´ ´
x0
x0

tg α = fx (x0 , y0 ) s tg β = fy (x0 , y0 )
x xR

outras ilustrações:

35
6
z z6
: z = f (x0 , y)

- z = f (x, y0 )
* fy (x0 , y0 )
1

- fx (x0 , y0 ) ¼ 1 -
y0 y y0 y
x0 x0

ªx ªx

Observação: Para se achar as derivadas parciais de uma função dada por uma lei de
formação podem-se aplicar as regras usuais para funções de uma variável, tratando-se to-
das as variáveis independentes, exceto uma, como constantes.

Exemplo: Se f (x, y) = x2 y + y cos x, determine fx (1, 0) e fy (1, 0).

Resolução: Mantendo y constante e derivando em relação a x obtemos fx (x, y) = 2xy−y sen x


e assim fx (1, 0) = 0 .
Mantendo x constante e derivando em relação a y obtemos fy (x, y) = x2 + cos x e assim
fy (1, 0) = 1 + cos 1 .

Para o caso de n variáveis x1 , x2 , . . . , xn :


Qual a derivada parcial no ponto (x01 , x02 , . . . , x0n ) relativamente a x1 da função f (x1 , . . . , xn ) ?
Fixando-se x2 , x3 , . . . , xn a nossa função fica sendo função de uma variável x1 ,
f (x1 , x02 , . . . , x0n ).
Assim · ¸
∂f 0 0 df (x1 , x02 , . . . , x0n )
(x , . . . , xn ) =
∂x1 1 dx1 x0
1

Exemplo: z = f (x1 , x2 , x3 ) = x1 cos x2 + x3


f1 (x1 , x2 , x3 ) = cos x2 ; f2 (x1 , x2 , x3 ) = −x1 sen x2 ; f3 (x1 , x2 , x3 ) = 1 onde estamos usando
∂f
a notação fi para .
∂xi

36
1.7.2 Derivadas parciais de ordem superior

Se f é uma função de duas variáveis x e y, então fx e fy são também funções de duas


variáveis. Se estas funções fx e fy estiverem definidas em um aberto A poderemos considerar
suas derivadas parciais (fx )x , (fx )y , (fy )x e (fy )y chamadas derivadas parciais de
segunda ordem de f , denotadas como segue:
µ ¶
∂ ∂f ∂ 2f
(fx )x = fxx = f11 = =
∂x ∂x ∂x2
µ ¶
∂ ∂f ∂ 2f
(fx )y = fxy = f12 = =
∂y ∂x ∂y∂x
µ ¶
∂ ∂f ∂ 2f
(fy )x = fyx = f21 = =
∂x ∂y ∂x∂y
µ ¶
∂ ∂f ∂ 2f
(fy )y = fyy = f22 = =
∂y ∂y ∂y 2

Se estas derivadas parciais existirem em todos os pontos de um aberto A , poderemos falar


nas derivadas parciais de terceira ordem, e assim sucessivamente.
De forma completamente análoga definimos as derivadas parciais de ordem superior para
função de três ou mais variáveis.

Definição 1.7.1. Seja f : A ⊂ Rn → R, A aberto. f é dita de classe C k (k ≥ 1) em


B ⊂ A se f e as derivadas parciais até a ordem k forem contı́nuas em todos os pontos de
B . f é dita de classe C ∞ se f é de classe C k , ∀ k ≥ 1 .

Notação: f ∈ C k ou f ∈ C ∞ .

Exemplo 1: A função z = f (x, y) = xy é de classe C ∞ já que fx (x, y) = y ; fy (x, y) = x ;


fxy (x, y) = fyx (x, y) = 1 e todas as demais derivadas parciais de qualquer ordem são nulas.
Como as funções acima e a função nula são contı́nuas temos que f ∈ C ∞ .

Exemplo 2: A função z = f (x, y) = x sen y + y 2 cos x é de classe C ∞ .

Observação: Nestes dois exemplos notamos que fxy (x, y) = fyx (x, y), isto é, a ordem de
derivação não influi no resultado, mas isto nem sempre é válido.

37
De fato:
Consideremos z = f (x, y) = x + |y|

fx (x, y) ≡ 1 fxy (0, 0) = 0

No entanto fy (0, 0) não existe e assim fyx (0, 0) não existe.


O próximo Teorema fornece condições sob as quais podemos afirmar que fxy = fyx

Teorema 1.7.2 (Teorema de Schwarz ou Teorema de Clairaut). Seja z = f (x, y) tal


que f , fx , fy e fxy sejam contı́nuas em um conjunto aberto A . Seja P0 = (x0 , y0 ) ∈ A. Então
fyx (P0 ) existe e fyx (P0 ) = fxy (P0 ).

Prova:
Seja φ(x) = f (x , y0 + k) − f (x, y0 ), onde k e y0 são fixados.
Para x suficientemente próximo de x0 e k pequeno, φ é uma função da única variável x ,
diferenciável no intervalo (x0 , x0 + h) e contı́nua em [x0 , x0 + h], h pequeno.
Para esta função aplicamos o Teorema do Valor Médio para funções de uma variável, entre
x0 e x0 + h, obtendo:

φ(x0 + h) − φ(x0 ) = h · φ0 (x0 + θ1 h) onde 0 < θ1 < 1

Assim: φ(x0 + h) − φ(x0 ) = h [fx (x0 + θ1 h , y0 + k) − fx (x0 + θ1 h , y0 ].


Agora para cada h aplicamos o Teorema do Valor Médio novamente para a segunda
variável, obtendo:

φ(x0 + h) − φ(x0 ) = h · k [fxy (x0 + θ1 h , y0 + θ2 k)]

onde também 0 < θ2 < 1 .


Relembrando o significado de φ podemos escrever:

[f (x0 + h , y0 + k) − f (x0 + h , y0 )]−[f (x0 , y0 + k) − f (x0 , y0 )] = h·k fxy (x0 +θ1 ·h , y0 +θ2 ·k)

Dividindo por k e fazendo k → 0 obtemos fy (x0 +h , y0 )−fy (x0 , y0 ) = h fxy (x0 +θ1 h , y0 ),
desde que fxy é contı́nua.
Novamente usando a continuidade de fxy , dividimos por h e fazemos h → 0 e obtemos

fyx (x0 , y0 ) = fxy (x0 , y0 )

38
¤
Observação: Vejamos outro exemplo onde não temos a igualdade fxy = fyx .
Consideremos:
 2 2
 xy · x − y se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) = x2 + y 2

 0 se (x, y) = (0, 0)

Neste caso temos fxy (0, 0) 6= fyx (0, 0)


De fato,

4xy 2 x2 − y 2
fx (x, y) = xy · + y · , (x, y) 6= (0, 0)
(x2 + y 2 )2 x2 + y 2
−4yx2 x2 − y 2
fy (x, y) = xy · 2 +x· 2 , (x, y) 6= (0, 0)
(x + y 2 )2 x + y2
f (∆x, 0) − f (0, 0)
fx (0, 0) = lim =0
∆x→0 ∆x
f (0, ∆y) − f (0, 0)
fy (0, 0) = lim =0
∆y→0 ∆y
fx (0, ∆y) − fx (0, 0)
fxy (0, 0) = lim = −1
∆y→0 ∆y
fy (∆x, 0) − fy (0, 0)
fyx (0, 0) = lim =1
∆x→0 ∆x

Observação: No exemplo anterior podemos observar que f , fx e fy são contı́nuas em todo


R2 . Assim, pelo Teorema anterior fxy não pode ser contı́nua em (0, 0), pois caso o fosse
fxy (0, 0) = fyx (0, 0), o que não é o caso. Obtenha uma expressão para fxy e tente provar a
não continuidade.

Exercı́cios 1.7.2:
³ π´ ³ π´
1. Se f (x, y) = (x − y) sen(3x + 2y) calcule: (a) fx 0, , (b) fy 0,
3 3
2. Calcule ux e uy quando:
p
(a) u = exy sen(x + y) (b) u = ln(x4 + y 4 ) arcsen 1 − x2 − y 2

3. Se

39
 2 2
 x y + xy para x 6= −y

f (x, y) = x+y

 0 para x = −y

(a) calcule fx (x, 0) e fy (0, y);


(b) observe que f não é constante em nenhuma vizinhança de (0, 0).
∂3f
4. Ache (x, y) se f (x, y) = ln(x + y)
∂x2 ∂y
∂ 2f ∂ 2f
5. Mostre que + = 0 está satisfeita por:
∂x2 ∂y 2
(a) ln(x2 + y 2 ) (b) x3 − 3xy 2

6. Mostre que a função definida por



 x2 sen 1 , x 6= 0
f (x) = x
 0 , x=0

é diferenciável para todo x , mas não é de classe C 1 em x = 0 .

xy
7. Calcule fy (1, 2) onde f (x, y) = xx + sen (πx)[x2 + sen (x + y) + ex cos2 y].
Sugestão: Existe uma maneira muito fácil de fazer isto.

8. Sejam g, hZ: R2 → R, contı́nuas.


Z Defina f : R2 → R por
x y
f (x, y) = g(t, 0)dt + h(1, t)dt
0 0

(a) Mostre que fx (x, y) = g(x, 0) e que fy (x, y) = h(1, y)

(b) Ache uma função f : R2 → R tal que f x (x, y) = x e f y (x, y) = y

1.7.3 Diferenciabilidade

Quando uma função de uma variável é derivável em um ponto, ela é também contı́nua
neste ponto. Observe agora o que acontece com o exemplo a seguir:

Exemplo:
 xy
 , para (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2
+ y2

0 , para (x, y) = (0, 0)

40
Note que não existe limite no ponto (0, 0) (visto anteriormente), e assim, f não é contı́nua
em (0, 0).
Mas f é derivável em relação a x e a y em (0, 0). De fato:
Fixando-se y = 0 =⇒ z = f (x, 0) ≡ 0, e assim fx (0, 0) = 0 .
Fixando-se x = 0 =⇒ z = f (0, y) ≡ 0, e assim fy (0, 0) = 0 .
Assim é possı́vel que uma função tenha todas as derivadas parciais em um ponto e que
não seja contı́nua naquele ponto.
Vamos então introduzir o conceito de diferenciabilidade, que entre outras propriedades,
vai garantir a continuidade da função. Na realidade ele implicará que o gráfico da função
não tem quinas, e em particular, que não tem saltos. Será introduzido por analogia com o
conceito de diferenciabilidade de funções de uma variável.

Para uma variável:

y = f (x) é diferenciável em x0 , se existe uma reta passando por (x0 , f (x0 )) de equação

Y = f (x0 ) + m(x − x0 ) ,

tal que a diferença f (x) − Y seja um infinitésimo de ordem superior, em comparação com
x − x0 , quando x → x0 , isto é:
f (x) − Y
lim =0
x→x0 x − x0

y6 y = f (x)
Y

f (x0 )

-
x0 x x

y = f (x) é derivável no ponto x0 , se existe o seguinte limite:

f (x) − f (x0 )
lim
x→x0 x − x0

41
Mas ser derivável é equivalente a ser diferenciável (para funções de uma variável).
De fato:
=⇒ Suponhamos f derivável em x0 .
f (x) − f (x0 )
Então existe lim = m.
x→x0 x − x0
Consideremos a reta de equação Y = f (x0 ) + m(x − x0 )
µ ¶
f (x) − Y f (x) − f (x0 ) − m(x − x0 ) f (x) − f (x0 )
lim = lim = lim −m =0
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
Portanto f é diferenciável em x0 .

⇐= Suponhamos f diferenciável em x0 .
f (x) − Y f (x) − f (x0 ) − m(x − x0 )
0 = lim = lim =
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
µ ¶
f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )
= lim − m =⇒ lim =m
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
Portanto f é derivável em x0 .

Assim, geometricamente, podemos traçar uma tangente ao gráfico da função f pelo ponto
(x0 , f (x0 )).

Exercı́cio Conceitual:

Seja f diferenciável em x0 . Seja P0 = (x0 , y0 ) onde y0 = f (x0 ). Se P é um outro ponto


da curva C descrita por y = f (x) e β é o ângulo entre o vetor P − P0 e a reta tangente a C
em P0 , mostre que
β→0 com P → P0 .

Reciprocamente, mostre que se β → 0, então f é diferenciável em P0 .

42
y 6
C

qP
t
µ
p
q
P0

-
x

Nota: O exercı́cio anterior mostra que em um sentido preciso o ângulo entre a reta tangente
e a curva é zero no ponto de tangência.

Para duas variáveis:

Diz-se que z = f (x, y) é diferenciável num ponto (x0 , y0 ), se existe um plano pelo ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )), de equação:

Z = f (x0 , y0 ) + A(x − x0 ) + B(y − y0 ) ,

tal que a diferença f (x, y) − Z seja um infinitésimo de ordem superior, em comparação com
p
α = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 , quando α → 0, isto é:

f (x, y) − Z
lim =0 (∗)
α→0 α

Em notação alternativa, tomando x = x0 + h e y = y0 + k e chamando

E(h, k) = f (x, y) − Z = f (x0 + h, y0 + k) − [f (x0 , y0 ) + Ah + Bk]

(∗) pode ser reescrita como

E(h, k)
lim =0 (∗∗)
(h,k)→(0,0) k(h, k)k

Ainda, com a notação alternativa, temos:

f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 ) + Ah + Bk + E(h, k)

43
. Passando ao limite, com (h, k) → (0, 0), obtemos:

lim f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 )


h→0
k→0

Acabamos de provar que se f é diferenciável em (x0 , y0 ), então f é contı́nua em (x0 , y0 ).


Voltemos em (∗∗), fazendo k = 0

y6

y0 q q

-
x0 x0 + h x

Obtemos:
f (x0 + h , y0 ) − f (x0 , y0 ) − Ah
lim =0
h→0 |h|

Isto equivale a:
f (x0 + h , y0 ) − f (x0 , y0 ) − Ah
lim =0
h→0 h

ou · ¸
f (x0 + h , y0 ) − f (x0 , y0 )
lim −A =0
h→0 h

ou · ¸
f (x0 + h , y0 ) − f (x0 , y0 )
lim =A
h→0 h

Assim, fx (x0 , y0 ) = A .
Analogamente, fy (x0 , y0 ) = B .
Portanto: se f for diferenciável num ponto (x0 , y0 ), então f tem derivadas parciais nesse
ponto. Além disso, o plano de equação

(∗∗) Z = f (x0 , y0 ) + fx (x0 , y0 )(x − x0 ) + fy (x0 , y0 )(y − y0 )

44
aproxima o gráfico de z = f (x, y) no seguinte sentido:
f (x, y) − Z
lim =0
α→0 α
ou, na notação alternativa
E(h, k)
lim =0
(h,k)→(0,0) k(h, k)k
Este é um modo de exprimir o fato de que o plano é tangente à superfı́cie no ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

- −E(h,k)
z 6

1
y

y0 +k
6 : k(h,k)k
y0

x0
x0 +h

xj

Exemplos:

1. z = g(x, y) = x + y
g é diferenciável em (x0 , y0 ), ∀ (x0 , y0 ) ∈ R2 .
De fato:
Consideremos o plano

Z = x0 + y0 + 1(x − x0 ) + 1(y − y0 ) = x + y

g(x, y) − Z
= 0 → 0 com α → 0
α
2. z = f (x, y) = xy
f é diferenciável em (x0 , y0 ), ∀ (x0 , y0 ) ∈ R2 .
De fato:
Consideremos o plano
Z = x0 y0 + y0 (x − x0 ) + x0 (y − y0 )

45
f (x, y) − Z x(y − y0 ) − x0 (y − y0 ) (x − x0 )(y − y0 )
=p =p →0
α 2
(x − x0 ) + (y − y0 ) 2 (x − x0 )2 + (y − y0 )2

com α → 0 (já visto anteriormente).

3. p1 (x, y) = x
p1 é diferenciável em (x0 , y0 ), ∀ (x0 , y0 ) ∈ R2 .
De fato:
Consideremos o plano
Z = x0 + 1(x − x0 ) = x

p1 (x, y) − Z
= 0 → 0 com α → 0 .
α
Observação 1: Observe os exemplos (1) e (3). Qual é o tipo de gráfico destas funções ?
Qual seria o plano esperado para resolver o problema da diferenciabilidade ?

Observação 2: No caso de uma função f ser diferenciável em um ponto, nós podemos


mostrar que em um sentido preciso o ângulo entre o plano tangente e a superfı́cie é zero no
ponto de tangência. [generalização do exercı́cio conceitual dado anteriormente.]

Propriedades:

1. A soma (também o produto) de duas funções diferenciáveis em um ponto é uma função


diferenciável no ponto.

2. Se uma função f (x, y) 6= 0 é diferenciável em um ponto, então a recı́proca é diferenciável


nesse ponto.
X
3. Toda polinomial em duas variáveis P (x, y) = aij xi y j é diferenciável, como soma e
i,j
produto de diferenciáveis.

Observação 1: Já vimos que toda função diferenciável é contı́nua, mas nem toda contı́nua
é diferenciável.

Exemplo:
z = f (x, y) = |x| + |y| é contı́nua em (0, 0).
∂z
Fixando y = 0 =⇒ z = |x| =⇒ (0, 0) não existe.
∂x

46
Sabemos que se z = f (x, y) é diferenciável, então ela tem derivadas parciais. Assim, z =
|x| + |y| não é diferenciável em (0, 0).

Observação 2: Vimos que se z = f (x, y) é diferenciável em (x0 , y0 ), então existem fx (x0 , y0 )


e fy (x0 , y0 ). No entanto, pode acontecer que existam fx (x0 , y0 ) e fy (x0 , y0 ) e f não ser
diferenciável em (x0 , y0 ).

Exemplos:
 xy
 , para (x, y) 6= (0, 0)
1. z = f (x, y) = x2
+ y2

0 , para (x, y) = (0, 0)

Já foi visto anteriormente que fx (0, 0) = fy (0, 0) = 0. Ainda: f não é contı́nua (e
portanto não é diferenciável) em (0, 0).
p
2. z = g(x, y) = |xy|
Observe que gx (0, 0) = gy (0, 0) = 0 e que g é contı́nua em todo ponto do plano.
Ainda assim, g não é diferenciável na origem, pois:
p
E(h, k) g(h, k) − [g(0, 0) + 0 · h + 0 · k] |h k|
= =√
k(h, k)k k(h, k)k h2 + k 2
não tende a zero com (h, k) → (0, 0) (observe o que acontece na direção h = k ).
Tente esboçar o gráfico de g .

Algumas vezes é difı́cil verificar diretamente a diferenciabilidade da função. O próximo


teorema dá uma condição suficiente para que uma função f seja diferenciável e é importante
dada a facilidade de verificação de suas hipóteses.

Teorema 1.7.3 (Critério de Diferenciabilidade). Se as derivadas parciais fx e fy exis-


tirem em um conjunto aberto A contendo P0 e forem contı́nuas em P0 , então f será dife-
renciável em P0 .

Prova: Consideremos P0 = (x0 , y0 ). Como A é aberto, para h e k suficientemente pequenos o


retângulo formado pelos 4 pontos: (x0 , y0 ), (x0 +∆x , y0 ), (x0 , y0 +∆y) e (x0 +∆x , y0 +∆y)
está contido em A .
Temos então que ∆f = f (P ) − f (P0 ) = f (x0 + h , y0 + k) − f (x0 , y0 ) = [f (x0 + h , y0 +

47
k) − f (x0 + h , y0 )] + [f (x0 + h , y0 ) − f (x0 , y0 )].
Usando o Teorema do Valor Médio para funções de uma variável sobre cada uma das
diferenças acima, obtemos:

∆f = fy (x0 + h , y1 ) · k + fx (x1 , y0 ) · h

Por hipótese, fx e fy são contı́nuas em P0 e assim

fx (x1 , y0 ) = fx (x0 , y0 ) + η1 e fy (x0 + h , y1 ) = fy (x0 , y0 ) + η2

onde ambos η1 e η2 tendem a zero com k(h, k)k → 0 .


Assim: ∆f = fx (x0 , y0 ) · h + fy (x0 , y0 ) · k + η1 · h + η2 · k .
Pela definição de diferenciabilidade nós temos somente que mostrar:

n1 · h + n2 · k
√ →0
h2 + k 2

mas ¯ ¯
¯ n1 · h + n2 · k ¯
¯ √ ¯ ≤ (|n1 | + |n2 |) → 0
¯ h2 + k 2 ¯

conforme h2 + k 2 → 0 . ¤

Exemplo:
Seja z = f (x, y) = sen(xy)
fx (x, y) = y · cos(xy)
fy (x, y) = x · cos(xy)
são contı́nuas em todo ponto (x, y) ∈ R2 . Logo pelo teorema anterior, f (x, y) = sen(xy) é
diferenciável em todo ponto (x, y) ∈ R2 .

Observação: Embora o teorema anterior pareça resolver todos os problemas no que se refere
a mostrar que uma função é diferenciável, há casos em que ele não se aplica, ou seja: existem
funções diferenciáveis em um ponto cujas derivadas parciais não são contı́nuas neste ponto.
Neste caso a verificação da diferenciabilidade deve ser feita pela definição. Veja o exemplo a
seguir:

48
Exemplo:
Seja  µ ¶

 (x2 + y 2 ) · sen 1
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x + y2
2

 0 , (x, y) = (0, 0)

(a) Determine fx e fy ;

(b) Mostre que fx e fy não são contı́nuas em (0, 0) ;

(c) Prove que f é diferenciável em R2 .

Resolução:
 µ ¶ µ ¶

 2x sen 1 2x 1
− 2 · cos , (x, y) 6= (0, 0)
(a) fx (x, y) = x2 + y 2 (x + y 2 ) x2 + y 2

 0 , (x, y) = (0, 0)
 µ ¶ µ ¶

 2y sen 1 2y 1
− 2 · cos , (x, y) 6= (0, 0)
fy (x, y) = x + y2
2 (x + y 2 ) x + y2
2

 0 , (x, y) = (0, 0)

(b) lim fx (t, t) e lim fy (t, t) não existem e portanto fx e fy não são contı́nuas em (0, 0).
t→0 t→0

(c) Para verificar que f é diferenciável em (0, 0) note que


µ ¶
E(h, k) p 1 E(h, k)
2 2
= (h + k ) · sen e que lim =0
k(h, k)k h2 + k 2 (h,k)→(0,0) k(h, k)k

A Diferencial

Seja f (x, y) diferenciável em (x0 , y0 ) e consideremos a transformação linear L : R2 → R


dada por
L(h, k) = fx (x0 , y0 )h + fy (x0 , yo )k .

Voltando à condição de diferenciabilidade notamos que

E(h, k) = f (x0 + h , y0 + k) − f (x0 , y0 ) − [fx (x0 , y0 )h + fy (x0 , y0 )k] = ∆f − L(h, k) ,

49
onde ∆f = f (x0 + h , y0 + k) − f (x0 , y0 ).
Assim:
∆f − L(h, k)
lim =0
(h,k)→(0,0) k(h, k)k
ou seja L(h, k) ∼ ∆f , para k(h, k)k ∼ 0 .
Chamamos a transformação linear L de diferencial de f em (x0 , y0 ).
Dizemos que L(h, k) = fx (x0 , y0 )h + fy (x0 , y0 )k é a diferencial de f em (x0 , y0 ) relativa
aos acréscimos h e k .
Em notação clássica a diferencial de f em (x, y) relativa aos acréscimos dx e dy é
indicada por dz (ou df )
dz = fx (x, y)dx + fy (x, y)dy

Assim, para acréscimos pequenos,

∆z ∼ dz .

z 6 * superf. z=f (x,y)


6
∆z=∆f
6
dz=df
? ?
¡
¡
¡ plano tangente
(x0 ,y0 , f (x0 ,y0 )) ¡ µ
y0 -
y
(x0 +∆x , y0 +∆y,0)

x0
ªx

∆f − df
Chamando η = , a condição de diferenciabilidade pode ser reformulada como:
k(h, k)k √
f é diferenciável em (x0 , y0 ) se, e somente se, ∆f = df + η · h2 + k 2 , onde η → 0 com
k(h, k)k → 0 .

Observação 1: Em geral, ∆z 6= dz. Quando h = ∆x e k = ∆y são pequenos, então dz


constitui uma aproximação de ∆z .

50
Observação 2: Podemos dizer que a diferencial é uma função de quatro variáveis indepen-
dentes, a saber: as coordenadas x , y do ponto considerado e os acréscimos ∆x e ∆y .

Exemplos:

1. Se z = f (x, y) = 3x2 − xy, calcule ∆z e dz se (x, y) muda de (1, 2) para (1.01 , 1.98).
Temos:
dz = (6x − y)dx + (−x)dy
Substituindo x = 1, y = 2, dx = ∆x = 0.01 e dy = ∆y = −0.02, obtemos:
dz = (6 − 2)(0.01) + (−1)(−0.02) = 0.06
Calculando diretamente ∆z , terı́amos:
∆z = 0.0605 .
Assim, o erro envolvido é 0.0005.

2. O raio e a altura de uma caixa de forma cilı́ndrica são medidos como 3m e 8m res-
pectivamente, com um possı́vel erro de ±0.05m. Use diferenciais para calcular o erro
máximo no cálculo do volume
V = π r2 h
∂V ∂V
dV = dr + dh = 2πr h d r + π r2 dh
∂r ∂h
Substituindo r = 3, h = 8, dr = dh = ±0.05, temos:
dV = 48π(±0.05) + 9π(±0.05) = ±2.85π ' ±8.95m3 .

// //

Resultados análogos valem para funções de n-variáveis (n > 2).


Por exemplo:
f é diferenciável em um ponto P0 = (a1 , a2 , . . . , an ) em Rn se
p
f (P ) = f (P0 ) + A1 h1 + A2 h2 + · · · + An hn + η · h21 + · · · + h2n tal que η → 0
p
conforme kP − P0 k = h21 + · · · + h2n → 0 , onde P = (a1 + h1 , a2 + h2 , . . . , an + hn ).
Neste caso: fxi (P0 ) = fi (P0 ) = Ai , i = 1, . . . , n .

Exercı́cios 1.7.3:

51
1. Justifique porque a função


 xy 3
, se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 6

 0 , se (x, y) = (0, 0)
não é diferenciável na origem.

2. Calcular as diferenciais das funções dadas abaixo:


p
(a) z = ex y 2 (b) z = x2 1 + xy 2

3. As dimensões de uma caixa retangular fechada são medidas como sendo 3, 4 e 5 metros,
com um possı́vel erro de 5cm. Use diferenciais para aproximar o erro máximo no cálculo
de :

(a) área da superfı́cie da caixa;

(b) volume da caixa.

4. Seja f (x) diferenciável com f (0) = 0 e f (x) 6= 0 para x 6= 0, x ∈ R.




 f (x)f (y)
, para (x, y) 6= (0, 0)
Seja g(x, y) = f (x) + f 2 (y)
2

 0 , para (x, y) = (0, 0)

(i) Mostre que existe gx (0, 0) e gy (0, 0);

(ii) Mostre que g(x, y) não é diferenciável em (0, 0).

5. Seja f : R2 → R tal que |f (x, y)| ≤ x2 + y 2 .


Mostre que f é diferenciável em (0, 0).

1.7.4 Regras da Cadeia

Muitas vezes a função z = f (x, y) é dada sob a forma de função composta, em que os
argumentos x , y são eles próprios funções de t

x = φ1 (t) y = φ2 (t).

Então, z = f (φ1 (t) , φ2 (t)) e podemos, portanto, falar em diferenciabilidade relativamente


a t.

52
6
(φ1 ,φ2 ) 1 f

(φ1 (t),φ2 (t)) R


q
t R - R
µ

f o(φ1 ,φ2 )

Teorema 1.7.4. Sejam φ1 (t) e φ2 (t) diferenciáveis em t0 e z = f (x, y) diferenciável no ponto


P0 = (φ1 (t0 ), φ2 (t0 )). Então z(t) = f (φ1 (t), φ2 (t)) é diferenciável no ponto t0 e ainda
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
dz ∂z dφ1 ∂z dφ2
= · + · .
dt t0 ∂x P0 dt t0 ∂y P0 dt t0
Prova:
Como z é diferenciável em P0 , temos em particular que:
µ ¶ µ ¶
∂z ∂z
∆z = · ∆x + · ∆y + α η
∂x P0 ∂y P0
p
onde η → 0 com α → 0 e α = (∆x)2 + (∆y)2 sendo que

 ∆x = φ (t + ∆t) − φ (t )
1 0 1 0
 ∆y = φ (t + ∆t) − φ (t ) .
2 0 2 0

y 6

φ2 (t0 + ∆t)
∆y
φ2 (t0 )
∆x

-
φ1 (t0 ) φ1 (t0 + ∆t) x

Logo, para ∆t 6= 0
µ ¶ µ ¶ sµ ¶2 µ ¶2
∆z ∂z ∆x ∂z ∆y ∆x ∆y
(∗) = + ± η +
∆t ∂x P0 ∆t ∂y P0 ∆t ∆t ∆t

53
Observemos que

µ ¶ µ ¶
∆x dφ1 ∆y dφ2
lim = e lim =
∆t→0 ∆t dt ∆t→0 ∆t dt
t0 t0

ainda:
∆t → 0 =⇒ [∆x → 0 e ∆y → 0]

pois φ1 e φ2 sendo diferenciáveis em t0 são contı́nuas em t0 .


Passando ao limite a expressão (∗) com ∆t → 0 , temos:
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
dz ∂z dφ1 ∂z dφ2
= · + · .
dt t0 ∂x P0 dt t0 ∂y P0 dt t0

pois η → 0 com ∆t → 0 e [(∆x/∆t)2 + (∆y/∆t)2 ] → L ∈ R com ∆t → 0 .

Exemplos:

 x = sen t
1. z = f (x, y) = exy onde
 y = cos t

1o¯ modo:
x0 = sen t0
y0 = cos t0
µ ¶
dz £ ¤
= y0 ex0 y0 cos t0 + x0 ex0 y0 · −sen t0 = ex0 y0 cos2 t0 − sen2 t0 .
dt t0

2o¯ modo:
z(t) = esen t cos t
µ ¶
dz ¡ ¢
= esent0 cos t0 (sen t0 · −sen t0 + cos t0 cos t0 ) = esent0 cos t0 cos2 t0 − sen2 t0 .
dt t0

Observação: Podemos pensar que a regra da cadeia seja dispensável, já que podemos
primeiro fazer as substituições e depois derivar. Na verdade, ainda continuamos fazendo
uso da regra da cadeia mesmo depois de fazermos as substituições.

2. z = f (x, y) = x2 + y onde x = t3 , y = t2
¡ dz ¢
dt t0
= 6t50 + 2t0

54
Observação: Vale um teorema análogo para o caso de n variáveis.

Enunciado:
Sejam xi = xi (t) i = 1, . . . , n funções diferenciáveis em t0 . Seja z = f (x1 , . . . , xn )
diferenciável em P0 = (x1 (t0 ), . . . , xn (t0 )). Então z(t) = f (x1 (t), . . . , xn (t)) é dife-
renciável em t0 e µ ¶ n µ
X ¶ µ ¶
dz ∂z dxi
= ·
dt t0 i=1
∂xi P0 dt t0

Generalização:

Sejam z = f (x1 , . . . , xn ) onde


x1 = x1 (t1 , . . . , ts )
..
.
xn = xn (t1 , . . . , ts )
Temos então:
µ ¶ n µ ¶ µ ¶
∂z ¡ 0 0
¢ X ∂z ∂xj ¡ 0 ¢
t1 , . . . , t s = · t1 , . . . , t0s .
∂ti j=1
∂xj P0 ∂ti

onde P0 = (x1 (t01 , . . . , t0s ) , . . . , xn (t01 , . . . , t0s )).


Na prática, costuma-se escrever:
n
X ∂z ∂xj
∂z
= · .
∂ti j=1
∂xj ∂ti

Exemplo: 
 x = x(r, s) = r + s
z = f (x, y) = exy onde
 y = y(r, s) = r − s

∂z ∂z ∂x ∂z ∂y 2 2
= · + · = er −s · 2r
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r

∂z ∂z ∂x ∂z ∂y 2 2
= · + · = er −s · (−2s)
∂s ∂x ∂s ∂y ∂s

2x + y  x = 2u − 3v
Exercı́cio: Seja z = f (x, y) = onde
y − 2x  y = u + 2v
Calcular:

55
∂f ∂f ∂ 2f ∂2f ∂2f
(a) (b) (c) (d) (e)
∂u ∂v ∂u2 ∂v 2 ∂u ∂v
no ponto u = 2 e v = 1 .

Respostas: (a) 7 (b) −14 (c) 21 (d) 112 (e) −49

Observação: É freqüente encontrar-se z = f (x, y) com y = y(x). Neste caso,


z = f (x, y(x)) = z(x). Ainda

dz ∂z dx ∂z dy
= · + ·
dx ∂x dx ∂y dx
Portanto
dz ∂z ∂z dy
= + ·
dx ∂x ∂y dx
y 6
y = y(x)

-
x

Exercı́cios 1.7.4:

1. (a) Mostre que para uma função f (x, y) ter como curvas de nı́vel circunferências com
∂f ∂f
centro na origem é necessário e suficiente que x =y .
∂y ∂x
Sugestão: as equações paramétricas da circunferência com centro na origem e
raio a são: 
 x = a cos t
 y = a sen t

(b) Dê dois exemplos de funções diferenciáveis na origem cujas curvas de nı́vel sejam
circunferências.

2. Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Considere a curva y = φ(x) = x3 e calcule:

∂z dz
(a) (1, 1) (b) (1)
∂x dx

56
1.7.5 Gradiente - Curva de Nı́vel - Superfı́cie de Nı́vel

Definição 1.7.5. Seja z = f (x, y) com derivadas parciais no ponto P . Chamamos


gradiente de f no ponto P = (x, y) e indicamos por ∇f (P ) ao vetor:
µ ¶ ¶ µ
∂f ∂f
∇f (P ) = · ~i +
· ~j
P ∂x ∂y P
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂f ∂f ∂f
Se w = f (x, y, z) e P = (x, y, z) então ∇f (P ) = · ~i + · ~j + · ~k
∂x P ∂y P ∂z P
Exemplos:

1 6y
(1) f (x, y) = (x2 + y 3 )
6 ] M 6 ± Á

q q q q q
Yq q*
1 1
∇f (x, y) = x~i + y 2 ~j -
3 2 ] M 6 ± Á x

q q q q q
- (0,−2)

z 6
¸ µ
1
(2) g(x, y, z) = (x2 + y 2 + z 2 )
2
I q q y
*
q
3
q
q -
∇g(x, y, z) = x~i + y ~j + z ~k q
q q
ª j
² x
^

57
y 6 ¡
¡
¡
(3) h(x, y) = x2 − y 2 ¡
¡
¡
∇ h(1, 0) = 2~i ¡
q ∇h(1, 0)
¡ - -
Curva de Nı́vel por (1, 0): @ x
@
@
{(x, y) | x2 − y 2 = 1} @
@
@
@
@

Neste exemplo notamos que ∇h(1, 0) é normal à curva de nı́vel de h que passa por (1,0).
O resultado a seguir mostra que este fato, sob certas condições, é geral:

Teorema 1.7.6. Seja z = f (x, y) diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) com ∇f (P0 ) 6= ~0. Então
∇f (P0 ) é normal à curva de nı́vel γ que passa por P0 (estamos supondo γ uma curva regular
numa vizinhança de P0 ).

Prova:
Seja γ(t) = (x(t), y(t)) a curva de nı́vel de f (x, y) tal que γ(t0 ) = P0 .
Assim temos que
z(t) = f (x(t), y(t)) ≡ k (∗)

Como γ e f são diferenciáveis, podemos usar a Regra da Cadeia para diferenciar ambos
os membros de (∗) , obtendo:
µ ¶ µ ¶
∂f dx ∂f dy
(P0 ) · + (P0 ) · =0
∂x dt t0 ∂y dt t0

A equação anterior pode ser reescrita como

< ∇f (P0 ) , γ 0 (t0 ) > = 0

Portanto, ∇f (P0 ) ⊥ γ 0 (t0 )

58
∇f (P0 ) γ 0 (t0 )
y 6 K
*
q
: f (x, y) ≡ k
P0

-
x

Exercı́cio:

1. Achar um vetor normal à curva y = x + sen x no ponto x = π/2 .


Resolução:

1o¯ modo: y 6

Definimos 1 + π/2 q

F (x, y) = (x + sen x) − y U
?
Temos que a curva considerada

é uma curva de nı́vel da função


-
π/2 x
diferenciável F . Assim, para calcular
³π π ´
um vetor normal basta calcular ∇F , +1
2 2
³π π ´
∇F , + 1 = ~i − ~j
2 2
π
Portanto o vetor ~i − ~j é normal à curva y = x + sen x no ponto x = .
2

2o¯ modo:

Uma equação vetorial da curva pode ser:

~r(x) = x~i + (x + sen x)~j

O vetor tangente é
d~r ~
= i + (1 + cos x)~j
dx

59
π
No ponto x = temos
2 µ ¶³ ´
d~r π
= ~i + ~j
dx 2
Verifica-se que ~η = ~i − ~j é tal que
µ ¶³ ´ µ ¶³ ´
d~r π d~r π
< , ~η > = 0 ⇐⇒ η ⊥ .
dx 2 dx 2

Exercı́cios 1.7.5:

1. Achar as equações

(a) da tangente


 x = t − cos t


π
(b) do plano normal à curva y = 3 + sen 2t no ponto t =

 2

 z = 1 + cos 3t
³ π´
Resposta: plano normal: 2 x − − 2(y − 3) + 3(z − 1) = 0 .
2
2. Consideremos g e f tais que g(x, y) = ex+y , f 0 (0) = (1, 2) e f (0) = (1, −1). Calcular
F 0 (0), onde F (t) = g(f (t)).

3. Considere f (x, y) = xy + 1 .

(a) Desenhe as curvas de nı́vel f (x, y) ≡ 0, f (x, y) = 1, f (x, y) = 2.

(b) Desenhe alguns vetores gradientes de f .

(c) O que acontece com ∇f (0, 0) e com a curva de nı́vel que passa por (0, 0) ?

4. Em cada um dos casos abaixo, desenhe um número suficiente de vetores para ilustrar
o campo gradiente de f :
1
(a) f (x, y) = (x2 − y 2 )
2
(b) f (x, y, z) = x + y + z

(c) f (x, y, z) = 20 − z

60
// //

Vamos agora generalizar o resultado visto na última seção, para funções de 3 variáveis.
Suponhamos que S seja uma superfı́cie com equação F (x, y, z) = k, ou seja, uma superfı́cie
de nı́vel da função F , e seja P0 = (x0 , y0 , z0 ) um ponto sobre S .
Seja ainda γ(t) = (x(t), y(t), z(t)) uma curva arbitrária, contida na superfı́cie S , tal que
γ(t0 ) = P0 .
Assim temos F (x(t), y(t), z(t)) = k (∗) .
Se γ e F são diferenciáveis podemos usar a Regra da Cadeia para diferenciar ambos os
lados de (∗) , como se segue:

∂F dx ∂F dy ∂F dz
· + · + · =0
∂x dt ∂y dt ∂z dt
µ ¶
0 dx dy dz
Como ∇F = ( Fx , Fy , Fz ) e γ (t) = , , a equação anterior pode ser
dt dt dt
reescrita como
< ∇F , γ 0 (t) > = 0

Em particular, quando t = t0 , temos γ(t0 ) = (x0 , y0 , z0 ) e assim

< ∇F (x0 , y0 , z0 ) , γ 0 (t0 ) > = 0

∇F (P0 )
z6 6

R
qp -
γ 0 (t0 )
P0 γ

F k
S 1

z
y
¼x

A equação anterior nos diz que o vetor gradiente em P0 , ∇F (x0 , y0 , z0 ), é normal ao


vetor γ 0 (t0 ) de qualquer curva de nı́vel γ em S com γ(t0 ) = P0 .
Se ∇F (x0 , y0 , z0 ) 6= ~0 é natural definir o plano tangente à superfı́cie de nı́vel F (x, y, z) = k
em P0 = (x0 , y0 , z0 ) como o plano que passa por P0 e tem como vetor normal o vetor

61
∇F (x0 , y0 , z0 ).
Assim uma equação do plano tangente seria:

(∗) Fx (x0 , y0 , z0 )(x − x0 ) + Fy (x0 , y0 , z0 )(y − y0 ) + Fy (x0 , y0 , z0 )(z − z0 ) = 0

Observação: No caso especial em que S seja o gráfico de z = f (x, y), com f diferenciável
em (x0 , y0 ) podemos reescrever a equação como

F (x, y, z) = f (x, y) − z = 0 e

entender S como uma superfı́cie de nı́vel (com k = 0) de F . Então

Fx (x0 , y0 , z0 ) = fx (x0 , y0 )
Fy (x0 , y0 , z0 ) = fy (x0 , y0 )
Fz (x0 , y0 , z0 ) = −1
Logo (∗) se torna

fx (x0 , y0 )(x − x0 ) + fy (x0 , y0 )(y − y0 ) − (z − z0 ) = 0

ou
z − z0 = fx (x0 , y0 )(x − x0 ) + fy (x0 , y0 )(y − y0 )

Então, nossa nova, mais geral, definição do plano tangente é consistente com a definição
que foi dada no caso de diferenciabilidade para funções de duas variáveis.

Exemplos:

1. Dada a superfı́cie regular

S : x2 yz + 3y 2 = 2xz 2 − 8z ,

encontrar:

(a) Equação do plano tangente no ponto (1,2,-1).


(b) Equação da normal à superfı́cie no mesmo ponto.
(c) Em que ponto a normal encontra o plano x + 3y − 2z = 10.

Resolução:

62
(a) Definimos
F (x, y, z) = x2 yz + 3y 2 − 2xz 2 + 8z - diferenciável em todo R3
Notamos que S é superfı́cie de nı́vel de F , pois F (S) ≡ 0
∇F (1, 2, −1) = −6~i + 11~j + 14~k
Pelo resultado anterior ∇F (1, 2, −1) é normal à superfı́cie S no ponto (1, 2, −1),
e assim, a equação do plano tangente é

−6(x − 1) + 11(y − 2) + 14(z + 1) = 0 ,


ou seja
6x − 11y − 14z + 2 = 0 .

(b) P − P0 = t(−6, 11, 14)


(x − 1 , y − 2 , z + 1) = t(−6, 11, 14) P = (x, y, z) q
µ
¡
 ¡

 x = 1 − 6t ¡

 ¡
µ
¡
y = 2 + 11t t ∈ R ¡

 q¡

 z = −1 + 14t P0 = (1, 2, −1)

(c) Substituindo um ponto geral da reta que é da forma (1 − 6t , 2 + 11t , −1 + 14t)


na equação do plano x + 3y − 2z = 10 temos
(1 − 6t) + 3(2 + 11t) − 2(−1 + 14t) = 10
t = −1
Portanto o ponto de encontro será (7, −9, −15) .

2. Dada a curva (x, y, z) = (et , e−t , 2 t).
Qual a equação do plano normal à curva no ponto P , correspondente a t = 0 ?

Resolução: Em geral, plano normal à curva é o plano normal à tangente.

O ponto correspondente a t = 0 é P0 = (1, 1, 0).

63

Seja ~r(t) = et~i + e−t~j + 2 t~k . Então:
√ γ(t)
d ~r
(t) = et~i − e−t~j + 2 ~k
dt À
d ~r √
(0) = 1~i − 1~j + 2 ~k = ~v
dt r
A equação do plano normal será do tipo 9

1 · (x − 1) + (−1) · (y − 1) + 2 (z − 0) = 0 ¼
γ 0 (t)
ou seja

x−y+ 2z = 0.

z
6

~v
I

- y
q
P0

3. Dada a superfı́cie z = x2 + 2xy + y 3 , determinar a reta normal no ponto (1, 2, 13).

Resolução:

Definimos
F (x, y, z) = x2 + 2xy + y 3 − z - diferenciável em R3
A superfı́cie dada é uma superfı́cie de nı́vel de F .
∇F (1, 2, 13) = (6, 14, −1) é um vetor normal à superfı́cie dada, no ponto (1, 2, 13).
Equação da reta normal


 x = 1 + 6λ


y = 2 + 14λ



 z = 13 − λ

Exercı́cios:

1. Determinar a equação do plano tangente à superfı́cie z = x2 + y 2 no ponto (1, 2, 5).


Resp. 2x + 4y − z − 5 = 0 .

64
p
2. Determinar o plano tangente a z = 9 − x2 − y 2 no ponto (1, 2, 2).
Resp. x + 2y + 2z − 9 = 0 .

3. Ache um vetor normal e o plano tangente ao gráfico de f (x, y) = xy + yex em (x, y) =


(1, 1). Resp. Plano: (1 + e).(x − 1) + (1 + e).(y − 1) − 1.(z − (1 + e)) = 0

4. Ache os pontos do parabolóide z = x2 + y 2 − 1 nos quais a reta normal à superfı́cie


1
coincide com a reta que liga a origem a estes pontos. Resp. z = − ou (0, 0, −1)
2
5. Dar a equação do plano tangente à superfı́cie regular S : x2 + 2y 2 + 3z 2 = 36 no ponto
(1, 2, 3). Resp. x + 4y + 9z = 36

6. Ache a equação do plano tangente à superfı́cie z = x2 + 5xy − 2y 2 no ponto (1, 2, 3).


Resp. 12x − 3y − z = 3

7. Ache o plano tangente e a reta normal ao hiperbolóide de uma folha x2 + y 2 − z 2 = 4


no ponto (2, −3, 3). Resp. Equação do plano: 2x − 3y − 3z = 4

8. (a) Encontre a equação do plano tangente à superfı́cie f (x, , y, z) = x2 + y 2 − z 2 = 0


√ √
no ponto (1, 1, 2). Resp. x + y − 2 z = 0

(b) Mostre que a superfı́cie e o plano têm uma reta comum.



Resp. Reta comum: (x, y, z) = (0, 0, 0) + t(1, 1, 2)
√ π
(c) Qual é o ângulo entre esta reta e o vetor ∇f (1, 1, 2) ? Resp.
2

1.7.6 Derivada Direcional

Definição 1.7.7. Consideremos z = f (x, y) definida em um aberto do R2 e seja ~v = (v1 , v2 )


um vetor unitário (k~v k = 1). A derivada direcional de f no ponto P0 na direção ~v é o
valor do limite:
f (P0 + t~v ) − f (P0 )
lim , quando este limite existir.
t→0 t

Notação: µ ¶
∂f
D~v f (P0 ) ou (P0 )
∂~v

65
z 6

D~v f (P0 ) = tg α K
α

1
y
-
P0 ~v

q
x

Exemplos:

1. Dada a função f (x, y) = x2 − xy + 5y , calcular D¡ 3 ¢ f (−1, 2).


5
, − 54

Resolução:
°µ ¶°
° 3 4 °
Verifica-se que °
° 5 , − °=1
5 ° 6y

36 21 2
f (P0 + t~v ) = . . . = 13 − t+ t 2
5 25
f (−1, 2) = 13 R~
v

f (P0 + t~v ) − f (P0 ) 36


lim =−
t→0 t 5 -
36 -1 x
Portanto, D¡ 3 ¢
4 f (−1, 2) = −
5
, −5 5

2. f (x, y, z) = 2xy − z 2 (um exemplo para 3 variáveis)

Calcular a derivada direcional em (2, −1, 1) na direção ~v = (3, 1, −1) .



Observe que k~v k = 11
~v 1
~u = = √ (3, 1, −1)
k~v k 11
5t2
f (P0 + t ~u) = . . . = −5 +
11
f (P0 ) = −5

66
f (P0 + t~u) − f (P0 ) 5t
lim = lim = 0.
t→0 t t→0 11

Exercı́cios:

1. Prove que D~i f (a, b) = fx (a, b)


D~j f (a, b) = fy (a, b)

Vejamos a resolução de D~i f (a, b)

~i = (1, 0)
f [(a, b) + t(1, 0)] − f (a, b) f (a + t, b) − f (a, b)
D~i f (a, b) = lim = lim = fx (a, b)
t→0 t t→0 t
2. Responda: se D~v f (P0 ) = k então D−~v f (P0 ) = ? (Resp.: −k).

Teorema 1.7.8. Consideremos f : A ⊂ R2 → R com A aberto e f diferenciável em P0 ∈ A.


Para todo ~v ∈ R2 com k~v k = 1, existe a D~v f (P0 ) e ainda:

D~v f (P0 ) = < ∇f (P0 ), ~v >

Prova:
Sejam ~v = (v1 , v2 ) e P0 = (x0 , y0 ) fixos.
Consideremos a função F (t) = f (x0 +tv1 , y0 +tv2 ) onde t é tal que (x0 +tv1 , y0 +tv2 ) ∈ A .

y6
1 f
~v
µ
y0 q R
q q
0 t R - R
x0 x µ

F pode ser vista como composta de funções e como tal ela é diferenciável no ponto t = 0 .
Usando a Regra da Cadeia obtemos:

F 0 (0) = fx (x0 , y0 )v1 + fy (x0 , y0 )v2 = < ∇f (P0 ) , ~v >

67
mas

F (t) − F (0) f (x0 + tv1 , y0 + tv2 ) − f (x0 , y0 )


F 0 (0) = lim = lim = D~v f (P0 )
t→0 t t→0 t

Assim
D~v f (P0 ) = < ∇f (P0 ) , ~v >

Observação 1: Temos: Se f for diferenciável em P0 , então a derivada direcional D~v f (P0 )


é a projeção escalar do ∇f (P0 ) na direção ~v , quando f é.

∇f (P0 )
y6 µ
¡
¡
¡I θ
¡ *
D~v f (P0 ) = k∇f (P0 )k k~v k cos θ = ¡
¡ *~
v
= k∇f (P0 )k cos θ ¡ D~v f (P0 )
P0 ¼

*
~v
-
x

Observação 2: O teorema afirma que se f é diferenciável em um ponto P0 , então f tem


todas as derivadas direcionais em P0 . E a recı́proca, é verdadeira ?
Vejamos um exemplo em que f tem todas as derivadas direcionais em P0 , mas f não é
diferenciável em P0 . 
 x|y|
 p , (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

 0 , (x, y) = (0, 0)
Seja ~v = (v1 , v2 ) com k~v k = 1 .

tv1 |tv2 | v1 |v2 |


D~v f (0, 0) = lim p 2 2
=p 2 = v1 |v2 |
t→0 t t2 (v + v )
1 2 v1 + v22

Em particular:

fx (0, 0) = D~i f (0, 0) = 0 e fy (0, 0) = D~j f (0, 0) = 0 .

68
Ainda se
p p
∆f = f (x, y) − f (0, 0) = df (0, 0)(x, y) + η · x2 + y 2 = 0 + η · x2 + y 2

então
x |y|
η= 6→ 0 , com (x, y) → (0, 0)
x2 + y2
Portanto, f não é diferenciável em (0, 0).

De maneira análoga define-se derivada direcional para funções de 3 ou mais


variáveis. Resultados análogos aos anteriores permanecem válidos.

Exercı́cios:

1. Supondo f diferenciável, quando a derivada direcional é máxima e quando é mı́nima?

Resolução:

Admitamos ∇f (P0 ) 6= ~0
D~v f (P0 ) = k∇f (P0 )k cos θ .
Logo, é máxima quando cos θ = 1 ⇐⇒ θ = 0 .
Portanto D~v f (P0 ) é máxima quando ~v tem o mesmo sentido de ∇f (P0 ).
É mı́nima quando cos θ = −1 ⇐⇒ θ = π .
Portanto D~v f (P0 ) é mı́nima quando ~v tem sentido oposto ao de ∇f (P0 ).

2. Supondo f diferenciável, quando a derivada direcional é nula ?

Resolução:

D~v f (P0 ) = k∇f (P0 )k cos θ = 0


π
∇f (P0 ) = ~0 ou cos θ = 0 ⇐⇒ θ =
2

69
y 6 K
K +ε
ε>0
P0
qp

N ∇f (P0 ) -
x
Ilustração para o caso f : R2 → R

Portanto se ∇f (P0 ) 6= ~0 a derivada direcional é nula na direção normal ao ∇f (P0 ),


logo, na direção de uma curva ou de uma superfı́cie de nı́vel.

3. Seja w = f (x, y, z) = 2xy − z 2 .


Calcular a derivada direcional de w no ponto P0 = (2, −1, 1), no sentido de
~v = (2, 2, 1).

Resolução:

Observemos que f é diferenciável em todo R3 , uma vez que é uma polinomial, e que
k~v k = 3.
~v
¡2 2 1
¢
Façamos ~u = k~v k
= 3
, 3
, 3

∇f (P0 ) = −2~i + 4~j − 2~k


2
D~u f (Po ) = < ∇f (P0 ) , ~u > =
3
100xy
4. A temperatura num ponto (x, y) do plano é dada por T (x, y) = .
x2 + y 2
(a) Calcule a derivada direcional no ponto (2.1), no sentido que faz um ângulo de 60o
com o semi-eixo positivo dos x .
y 6

~u
¸ 60o
1 qI

q -
2 x

(b) Em que direção, a partir de (2,1) é máxima a derivada direcional ?

(c) Qual o valor deste máximo ?

70
Resolução:

1~ 3~
(a) Consideremos ~u = i + j - vetor unitário na direção de interesse.
2 2
Observemos que T é diferenciável em (2, 1), uma vez que as suas derivadas parciais
são continuas neste ponto.

∇T (2, 1) = . . . = −12~i + 24~j


∂T √
(2, 1) = < ∇T (2, 1) , ~u > = −6 + 12 3
∂~u
(b) É máxima no sentido do gradiente, isto é, do vetor −12~i + 24 ~j

(c) O máximo é o módulo do gradiente = 12 5 .

5. Achar a derivada direcional de F (x, y, z) = x2 yz 3 ao longo da curva


(e−t , 2sen t + 1 , t − cos t), no ponto P0 , onde t = 0 .

Resolução:

No instante t = 0 o ponto P0 correspondente é P0 = (1, 1, −1) .


Temos que ∇F (x, y, z) = (2xyz 3 , x2 z 3 , 3x2 yz 2 ).
Assim ∇F (P0 ) = −2~i − ~j + 3 ~k
O vetor posição da curva é dado por ~r(t) = e−t ~i + (2sen t + 1)~j + (t − cos t)~k
Logo, o vetor tangente à curva é:
d~r
= e−t ~i + 2 cos t ~j + (1 + sen t)~k
dt
Calculado no ponto correspondente a t = 0 temos −1~i + 2 ~j + 1 ~k.
1
Seja ~u = √ (−1, 2, 1) - vetor unitário na direção de interesse.
6
Como F é diferenciável em P0 , pelo Teorema 1.7.8 temos

∂F 6
(P0 ) = < ∇F (P0 ) , ~u > =
∂~u 2

y
6z q*
(0,3,0)
±

* (−1,2,1)

jx
q(1,1,−1)

71
Exercı́cios 1.7.6:

1. Ache o valor absoluto da derivada direcional em (1,0,1) da função f (x, y, z) = 4x2 y+y 2 z
na direção normal em (1,1,1) à superfı́cie x2 + 2y 2 + z 2 = 4 .

2. Se a temperatura em um ponto (x, y, z) de uma bola sólida de raio 3 centrada em


(0,0,0) é dada por T (x, y, z) = yz + zx + xy ache a direção, a partir de (1,1,2), na qual
a temperatura cresce mais rapidamente.

3. Sendo f diferenciável em R2 , qual o significado geométrico para o fato de ∇f (x, y) = 0


(a) em um ponto;
(b) em todos os pontos.
µ ¶
2 2 1 2
4. Se f (x, y) = x −y , calcule a derivada direcional de f na direção √ , √ no ponto
5 5
(1, 1).

5. Se f (x, y) = ex+y , calcule a derivada direcional de f no ponto (1, 1) na direção da curva


definida por g(t) = (t2 , t3 ) em g(2) para t crescendo.
y
6. A temperatura num ponto (x, y) do plano xy é dada por T = .
x2 + y2
(a) Calcule a derivada direcional no ponto (1,2) no sentido que faz um ângulo de 45o
com o semi-eixo positivo dos x .

(b) No sentido de P para Q onde P = (x, y) e Q = (0, 0), no ponto P .


µ ¶
3 3 3
7. Suponha que você esteja sentado no ponto − , , de uma superfı́cie que tem
2 8 4
por equação z = −x − 2y . Qual é a direção em que você deve começar a escorregar
para atingir o plano xy o mais depressa possı́vel ?

8. Seja f (x, y) = x2 + y 2 . Observe que ∇f (0, 0) = ~0 , o que deixa de indicar qual a direção
em que temos o máximo crescimento de f (x, y) a partir de (0, 0). Isto é razoável ? O
que acontece em uma vizinhança de (0, 0) ?

9. A interseção do gráfico da função diferenciável z = f (x, y) com o plano x = 1 é uma


reta. O gráfico, a seguir, representa curvas de nı́vel de f .
Calcule:

72
(i) fx (1, 0)

(ii) fy (1, 0)

(iii) D~v f (1, 0) onde ~v = 2~i + 2 ~j

(iv) Levando em conta direção, sentido e módulo, desenhe o vetor gradiente de f no


ponto (1, 0).
y 6

q(0,1)
4

3
q -
2 (1,0) x
1

10. A interseção do gráfico da função diferenciável z = f (x, y) com o plano y = 1 é uma


reta.
O gráfico a seguir representa curvas de nı́vel de f . Calcule:

(a) fx (1, 1)

(b) fy (1, 1)

(c) D~v f (1, 1) onde ~v = 2~i − 3 ~j

(d) Levando em conta direção, sentido e módulo, desenhe o vetor gradiente de f em


(1, 1).
y 6 0 1 2 3 4

(0,1)
q q

x
q q -
(1,0)

73

 xy
 p , (x, y) 6= (0, 0)
11. Seja f (x, y) = x2 + y 2

 0 , (x, y) = (0, 0)
Mostre que fx (0, 0) = fy (0, 0) = 0 mas que o gráfico de f não tem plano tangente em
(0, 0).


 xy 2
, (x, y) 6= (0, 0)
12. Considere f (x, y) = x2 + y 4

 0 , (x, y) = (0, 0)

(a) Mostre que f tem derivada direcional, em qualquer direção, em (0, 0).

(b) Mostre que f não é diferenciável em (0, 0).




 x3
, (x, y) 6= (0, 0)
13. Seja f (x, y) = x2 + y 2

 0 , (x, y) = (0, 0)

(a) Mostre que f não é diferenciável em (0, 0).

(b) Considere γ : (−1, 1) → R2 uma curva diferenciável tal que γ(0) = (0, 0). Mostre
que f ◦ γ : (−1, 1) → R é diferenciável em todos os pontos de (−1, 1).

(c) Compare com o resultado enunciado na Regra da Cadeia.

1.8 Teoremas: Valor Médio e Taylor


Teorema 1.8.1 (Teorema do Valor Médio). Seja z = f (x, y) diferenciável em uma
vizinhança A = B(P0 , r) de P0 = (x0 , y0 ). Então, se ∆x e ∆y são tais que (x0 + ∆x, y0 +
∆y) ∈ A , temos que:

f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) = ∆xfx (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y) + ∆yfy (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y) ,

onde 0 < θ < 1 .

74
Observação: O teorema afirma que a diferença
(x0 + ∆x, y0 + ∆y)
r
entre os valores da função nos pontos r
(x0 + θ∆x, y0 + θ∆y)
(x0 + ∆x , y0 + ∆y) e (x0 , y0 ) é igual à r
(x0 , y0 )
diferencial em um ponto intermediário na

linha que une os dois pontos. Note ainda

que este teorema é uma generalização do Teorema do Valor Médio para funções de uma
variável.

Prova: Consideremos a função


F (t) = f (x0 + t∆x , y0 + t∆y) (é uma função de t , pois estamos considerando x0 , y0 , ∆x
e ∆y fixados).

(x0 + ∆x, y0 + ∆y) p R


r pp
q q (x0 + t∆x, y0 + t∆y)

f -
p p p r p p p 3

0 t 1 r p
(x0 , y0 ) pp
F

F é uma função composta e como tal é diferenciável em (0, 1) e contı́nua em [0, 1].
Pelo Teorema do Valor Médio, para uma variável, temos:

F (1) − F (0) = F 0 (θ)(1 − 0), onde 0 < θ < 1 .

Pela Regra da Cadeia:

F (1) − F (0) = fx (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y)∆x + fy (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y)∆y

Logo:

f (x0 + ∆x , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) = fx (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y)∆x +

+ fy (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y)∆y ,

75
onde 0 < θ < 1 .

Exemplos:

(1) Toda função f (x, y) cujas derivadas parciais fx e fy existam e tenham o valor 0 em
qualquer ponto de uma região R , é uma constante em R .

Região: conjunto aberto com a propriedade que dois pontos quaisquer podem ser ligados
por uma poligonal contida no conjunto.

y
6 r y
6
@
@
@rR
¡ r
¡

r

- -
x x
Região

Não é Região

Sejam (x, y) e (x0 , y 0 ) ∈ R tais que exista um segmento contido em R ligando-os.

Pelo Teorema do Valor Médio:


r (x0 , y 0 )
f (x, y) − f (x0 , y 0 ) = 0 ⇐⇒ f (x, y) = f (x0 , y 0 )

r
(x, y)

Fixemos agora (x0 , y0 ) ∈ R . Seja (x, y) ∈ R , arbitrário.


A situação é do tipo:
r
ppp r
p p p
(xn , yn ) (x, y)
rp p p

r
r
(x0 , y0 ) (x1 , y1 )

76
onde cada segmento está contido em R . Assim,

f (x0 , y0 ) = f (x1 , y1 ) = . . . = f (xn , yn ) = f (x, y).

∴ ∀ (x, y) ∈ R f (x, y) ≡ f (x0 , y0 ).

Desafio: Mostre que se tirarmos a hipótese de R ser uma região a conclusão não é mais
verdadeira. Dê um exemplo para quando trabalhamos com uma variável e outro para duas
variáveis.

(2) Demonstre que µ ¶


x+y x+y−2
`n =
2 2 + θ(x + y − 2)
onde 0 < θ < 1, x, y > 0
Resolução: µ ¶
x+y
Seja f (x, y) = `n ; x, y > 0
2
1
fx (x, y) = fy (x, y) = .
x+y
fx e fy são contı́nuas para x, y > 0, e assim, f é diferenciável em ∀ (x, y); x, y > 0.
f (1, 1) = 0
∆x = x − 1 ∆y = y − 1

f (x, y) − f (1, 1) = fx (1 + θ∆x , 1 + θ∆y)∆x + fy (1 + θ∆x , 1 + θ∆y)∆y =

x−1 y−1
= + =
θ∆x + θ∆y + 2 θ∆x + θ∆y + 2

x+y−2
= , 0 < θ < 1.
2 + θ(x + y − 2)

Cuidado: Note que θ não é fixo. Depende de x e de y .

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Seja f : I ⊂ R → R de classe C n sobre I e seja x0 ∈ I. Entre todas as polinomiais de


grau n existe exatamente uma que iguala f em x0 através da n-ésima derivada, isto é,

(∗) Pn(k) (x0 ) = f (k) (x0 ) k = 0, 1, . . . , n .

77
Esta polinomial será chamada polinomial de Taylor em x0 de grau n , e denotaremos
por Pn,x0 .
Quando n = 1 , a polinomial de Taylor em x0 de grau 1 , é justamente a reta tangente ao
gráfico de f em (x0 , f (x0 )).

P1,x0 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )

Quando n = 2, P2,x0 é uma parábola que tem a mesma tangente de f em (x0 , f (x0 )) e a
mesma curvatura de f em (x0 , f (x0 )).
Escrevendo P2,x0 (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 e impondo as condições (∗) , temos:

f 00 (x0 )
P2,x0 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 .
2

Em geral,

f (n) (x0 )
Pn,x0 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + . . . + (x − x0 )n .
n!

Se desejarmos estudar como esta polinomial aproxima f nos pontos do intervalo I , pre-
cisamos estudar o resto
Rn (x) = f (x) − Pn,x0 (x) .

O Teorema a seguir, conhecido como Teorema de Taylor expressa, este resto em termos
de f .

Teorema de Taylor (para uma variável)


Seja f de classe C n+1 em uma vizinhança de x0 . Então, para algum τ entre x e x0 ,
temos:

f (n) (x0 ) f (n+1) (τ )


f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + . . . + (x − x0 )n + (x − x0 )n+1 .
n! (n + 1)!

Observação 1: Se temos uma limitação em f (n+1) (τ ), podemos calcular o possı́vel erro come-
tido, com a aproximação de f pela polinomial de Taylor Pn,x0 (x).

Observação 2: Quando n = 0, temos:


f (x) = f (x0 ) + f 0 (τ )(x − x0 ), que é o Teorema do Valor Médio.

78
Exemplo:
Encontrar uma polinomial que aproxima ex sobre o intervalo [−1, 1], com erro menor que
0, 005.
Resolução: Seja x0 = 0 e f (x) = ex .

f (n) (0) n
Pn,0 (x) = f (0) + f 0 (0)x + . . . + x
n!
x2 xn
Pn,0 (x) = 1 + x + + ... +
2! n!
Ainda:

f (n+1) (τ ) n+1 xn+1


ex − Pn,0 (x) = Rn (x) = x = eτ
(n + 1)! (n + 1)!
Para x e τ ∈ [−1, 1], temos:
e
|Rn (x)| ≤
(n + 1)!
Queremos que |Rn (x)| ≤ 0, 005 .
Escolhemos então n , tal que:
e
≤ 0, 005
(n + 1)!
ou seja, e = 2, 718 . . . ≤ (0, 005)(n + 1)!
Observemos que n = 5 satisfaz esta desigualdade.
Logo, a polinomial
x2 x3 x4 x5
P5,0 (x) = 1 + x + + + +
2 6 24 120
tem a propriedade desejada.

O Teorema de Taylor se generaliza para funções de mais de uma variável, da seguinte


maneira:

Teorema 1.8.2. Seja z = f (x, y), de classe C n+1 numa vizinhança A = B(P0 , r) do ponto
P0 = (x0 , y0 ). Então,

f (x0 + ∆x , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) = [∆x fx (P0 ) + ∆y fy (P0 )] +


1 1
+ [∆x fx (P0 ) + ∆y fy (P0 )]2 + . . . + [∆x fx (P0 ) + ∆y fy (P0 )]n +
2! n!
1
+ [∆x fx (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y) + ∆y fy (x0 + θ∆x , y0 + θ∆y)]n+1
(n + 1)!

79
com 0 < θ < 1, (x0 + ∆x , y0 + ∆y) ∈ A e onde estamos convencionando o seguinte:

fx · fx = fxx
fy · fx = fyx
fy · fy = fyy

A prova deste teorema pode ser feita análoga à do Teorema do Valor Médio, isto é,
definindo
F (t) = f (x0 + t∆x , y0 + t∆y), t ∈ [0, 1]

e aplicando o Teorema de Taylor (para funções de uma variável) à F .

Exerçı́cios:

1. Desenvolver f (x, y) = x2 y + 3y − 2 segundo potências de (x − 1) e (y + 2).

Resolução:

Apliquemos a fórmula de Taylor com P0 = (1, −2)

∆x = x − 1 ∆y = y + 2
 
  f

 xxx = 0

 fxx = 2y

  f =2
 xxy
fx = 2xy 

  f =2

 xyx

 f = 2x

 xy  f =0
xyy

 

  f =2

 f = 2x
yxx
 yx
 f =0
f y = x2 + 3 yxy




 f =0
yy

Assim: f (1, −2) = −10 , fx (1, −2) = −4 , fy (1, −2) = 4, . . . .

Logo,

f (x, y) = −10 − 4(x − 1) + 4(y + 2) − 2(x − 1)2 + 2(x − 1)(y + 2) + (x − 1)2 (y + 2)

80
2. Escreva f (x, y) = x2 y + x3 + y 3 como uma polinomial em (x − 1) e (y + 1).

Resposta: f (x, y) = −1 + (x − 1) + 4(y + 1) + 2(x − 1)2 + 2(x − 1)(y + 1) − 3(y + 1)2 + (x − 1)3 +

(x − 1)2 (y + 1) + (y + 1)3
p
3. Seja f (x, y) = 1 + x2 + y 2 . Calcular o desenvolvimento de Taylor em (0, 0) até os
termos de segunda ordem.

Resolução: Temos
x y
fx (x, y) = p e fy (x, y) = p .
1 + x2 + y 2 1 + x2 + y 2

Assim: fx (0, 0) = fy (0, 0) = 0

Ainda temos: fxx (0, 0) = fyy (0, 0) = 1 e fxy (0, 0) = 0

Logo:
1
P2,(0,0) (x, y) = 1 + (x2 + y 2 )
2
4. Encontre uma aproximação quadrática de f (x, y) = xseny perto da origem. Qual a
precisão da aproximação se |x| ≤ 0, 1 e |y| ≤ 0, 1 ?
Resolução:

Sabemos que
1 1
f (x, y) = f (0, 0) + ( xfx + yfy ) + ( x2 fxx + 2xyfxy + y 2 fyy ) + ( x3 fxxx + 3x2 yfxxy +
2 6
3xy 2 fxyy + y 3 fyyy )(cx, cy)

Neste caso:
fx (0, 0) = seny|(0,0) = 0 fy (0, 0) = xcosy|(0,0) = 0
fxx (0, 0) = 0|(0, 0) = 0 fxy (0, 0) = cosy|(0,0) = 1
fxy (0, 0) = −xseny|(0,0) = 0
Logo:

1
xseny ' 0 + 0 + 0 + (x2 .0 + 2xy.1 + y 2 .0)
2
xseny ' xy

O erro cometido na aproximação é:


1
R2 (x, y) = ( x3 .0 + 3x2 y.0 + 3xy 2 fxyy + y 3 fyyy )|(cx, cy)
6

81
As derivadas fxyy (x, y) = −seny e fyyy (x, y) = −xcosy não ultrapassam 1 em valor
absoluto. Ainda, |x| ≤ 0, 1 e |y| ≤ 0, 1 e assim,
1 4
R2 (x, y) ≤ ( 3.(0, 1)3 + (0, 1)3 ) = .(0, 1)3 ≤ 0, 00067
6 6

Exercı́cios:

1. Calcular o desenvolvimento de Taylor até os termos de terceira ordem de f (x, y) = exy ,


no ponto P0 = (1, −1).

2. Considere f (x, y) = ax2 + bxy + cy 2 + dx + ey + f onde a, b, c, d, e, f são constantes.


Escreva o desenvolvimento de Taylor de f no ponto (0, 0), até os termos do segundo
grau. O resultado a que você chegou é mais geral. Toda polinomial de grau n coincide
com o seu desenvolvimento de Taylor de ordem n .
y2
3. Desenvolver f (x, y) = segundo potências de (x − 1) e (y + 1), até os termos do
x3
segundo grau, inclusive.

4. Encontre uma aproximação quadrática de f (x, y) = cosxcosy na origem. Estime o


erro na aproximação se |x| ≤ 0, 1 e |y| ≤ 0, 1.

1.9 Máximos e Mı́nimos


Definição 1.9.1. f : A ⊂ Rn → R , A-aberto.

a) P0 ∈ A é um ponto de máximo local de f se existir uma vizinhança V de P0 tal que


f (P ) ≤ f (P0 ), ∀ P ∈ V ∩ A (analogamente ponto de mı́nimo local).

b) P0 é ponto de máximo absoluto de f se para todo p ∈ A, f (P ) ≤ f (P0 ) (analogamente


ponto de mı́nimo absoluto).

c) P0 é ponto crı́tico (ou estacionário) de f se fxi (P0 ) = 0, i = 1, . . . , n .

Teorema 1.9.2. Seja f : A ⊂ Rn → R , onde A é aberto e f é diferenciável em P0 ∈ A .


Se P0 é um ponto de máximo (ou de mı́nimo) local de f , então P0 é ponto crı́tico de f ,
ou seja, as equações abaixo estão satisfeitas:

82
z6


 fx1 (P0 ) = 0



 q
 f (P ) = 0
x2 0
(I) ..

 .

 -

 y
 f (P ) = 0 q
xn 0
P0
¼
x
Ilustração para n = 2

Prova: P0 = (x01 , x02 , . . . , x0n )


Seja P0 um ponto de máximo (ou de mı́nimo) local de f .
Consideremos f (x1 , x02 , . . . , x0n ) - função de uma variável. (x01 , x02 , . . . , x0n ) é ponto de
máximo (ou de mı́nimo) local desta função de uma variável. Logo, fx1 (x01 , . . . , x0n ) = 0.
Analogamente para x2 , . . . , xn .

Observação: As equações (I) não são suficientes, isto é, podemos ter um ponto estacionário
que não seja ponto de máximo ou de mı́nimo.
Considere f : R2 → R, f (x, y) = xy.
(0, 0) é ponto estacionário de f mas não é ponto de máximo ou de mı́nimo de f .
z Gf
6
y6 ?

− + 1
y
-
x
+ −
q
x
Quais seriam então as condições suficientes para garantir a natureza de um ponto esta-
cionário de uma função?
O Teorema a seguir dá a resposta para o caso de duas variáveis.

Teorema 1.9.3. Seja f : A ⊂ R2 → R , f de classe C 2 . Suponhamos que no ponto


P0 = (x0 , y0 ) tenhamos:

fx (P0 ) = fy (P0 ) = 0

H(P0 ) = fxx (P0 )fyy (P0 ) − [fxy (P0 )]2 > 0

83
Então P0 é ponto extremo e

i) Se fxx (P0 ) < 0 , então P0 é ponto de máximo local.

ii) Se fxx (P0 ) > 0 , então P0 é ponto de mı́nimo local.

Se H(P0 ) = fxx (P0 )fyy (P0 ) − [fxy (P0 )]2 < 0 , então o ponto estacionário não será nem
ponto de máximo e nem de mı́nimo [neste caso P0 é chamado ponto de sela ].
Se H(P0 ) = 0, nada se pode afirmar.

Prova: Para H(P0 ) > 0 e fxx (P0 ) < 0.


Como f é de classe C 2 , temos garantida a existência de uma vizinhança V de P0 tal que
fxx (P ) < 0 e H(P ) > 0, ∀ P ∈ V .
Pelo Teorema de Taylor temos:
·
1
f (x0 + ∆x , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) = (∆x)2 fxx (x0 + θ ∆x , y0 + θ ∆y) +
2
+ 2∆x ∆y fxy (x0 + θ ∆x , y0 + θ ∆y) +
¸
2
+ (∆y) fyy (x0 + θ ∆x , y0 + θ ∆y) ,

onde 0 < θ < 1.


Completando o quadrado e condensando a notação, vem:
·µ ¶2 µ 2 ¶ ¸
1 fxy fxx fyy − fxy 2
f (x0 + ∆x , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) = fxx ∆x + ∆y + 2
(∆y)
|2 {z } | fxx
{z } |
fxx
{z }
<0 ≥0 >0

Assim,
f (x0 + ∆x , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) ≤ 0

Portanto, P0 = (x0 , y0 ) é ponto de máximo local.

Observe que o mesmo tipo de prova serve para H(P0 ) > 0 e fxx (P0 ) > 0 e neste caso
P0 será ponto de mı́nimo local.

Observação:
H(P ) = fxx (P ) · fyy (P ) − (fxy (P ))2 =
¯ ¯
¯ ¯
¯ fxx (P ) fxy (P ) ¯
¯ ¯
= ¯ ¯
¯ ¯
¯ fyx (P ) fyy (P ) ¯

84
é chamado hessiano de f em P .

Obs.: O Teorema anterior se generaliza para 3 ou mais variáveis, com as devidas adaptações.
O leitor interessado pode consultar textos mais avançados.

Exercı́cios resolvidos

1. Encontrar os pontos de máximo e mı́nimo locais das funções:

a) z = f (x, y) = (x − 1)2 + 2y 2
Resolução :
Notemos que f é de classe C 2
fx (x, y) = 2(x − 1)
fy (x, y) = 4y

Logo, o único ponto estacionário é (1, 0)


¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯ ¯ ¯
¯ fxx (1, 0) fxy (1, 0) ¯ ¯ 2 0 ¯
¯ ¯ ¯ ¯
H(1, 0) = ¯ ¯ = ¯ ¯ = 8>0
¯ ¯ ¯ ¯
¯ fyx (1, 0) fyy (1, 0) ¯ ¯ 0 4 ¯

Ainda: fxx (1, 0) = 2 > 0.


Logo, (1, 0) é ponto de mı́nimo local.
Obs.: Neste caso particular, podemos observar que o gráfico de f tem o aspecto a
seguir .

z6

: Gf

1
¼ q
y x

b) z = f (x, y) = (x − 1)2 − 2y 2
Analogamente, o único ponto estacionário é (1, 0).

85
H(1, 0) = −8 < 0 .
Portanto, (1,0) é ponto de sela e assim, não existem pontos extremos.
Qual seria o gráfico de f ? Procure desenhá-lo.

2. Classificar os pontos crı́ticos da função f (x, y) = 3xy 2 + x3 − 3x.


Resolução :
Notemos que f é de classe C 2 .
fx (x, y) = 3y 2 + 3x2 − 3 = 0 ⇔ x2 + y 2 = 1
fy (x, y) = 6xy = 0 ⇔ x = 0 ou y = 0
Assim os pontos crı́ticos são: (0, 1), (0, −1), (1, 0) e (−1, 0).
Observemos que ¯ ¯
¯ ¯
¯ 6x 6y ¯
¯ ¯
H(x, y) = ¯ ¯ = 36x2 − 36y 2
¯ ¯
¯ 6y 6x ¯

(i) Análise para o ponto (0, 1):


H(0, 1) = −36 < 0
Logo (0, 1) é ponto de sela.

(ii) Análise para o ponto (0, −1):


H(0, −1) = −36 < 0
Logo (0, −1) é ponto de sela.

(iii) Análise para o ponto (1, 0):


H(1, 0) = 36 > 0 e fxx (1, 0) = 6 > 0
Logo (1, 0) é ponto de mı́nimo local de f .

(iv) Análise para o ponto (−1, 0):


H(−1, 0) = 36 > 0 e fxx (−1, 0) = −6 < 0
Logo (−1, 0) é ponto de máximo local de f .

Notemos ainda que: f (1, 0) = −2, f (−1, 0) = 2 e f (0, 1) = f (0, −1) = 0. Tente
visualizar como seria o gráfico de f . Você poderia usar um programa computacional
para traçar o gráfico.

86
3. Seja f (x, y) = 2x3 + 2y 3 − 6x − 6y. Analisar os pontos de máximos e mı́nimos locais
de f no conjunto aberto A = {(x, y) ∈ R2 , |x| + |y| < 3}

y
Resolução: 6
3
Inicialmente observamos que o conjunto A
tem o aspecto dado ao lado. -
-3 3 x

-3

Notemos que f é de classe C 2


fx (x, y) = 6x2 − 6 = 0
fy (x, y) = 6y 2 − 6 = 0
Assim os pontos crı́ticos são: (1, 1), (1, −1), (−1, 1) e (−1, −1).
Observemos que ¯ ¯
¯ ¯
¯ 12x 0 ¯
¯ ¯
H(x, y) = ¯ ¯ = 144xy
¯ ¯
¯ 0 12y ¯

(i) Análise para o ponto (1, 1):


H(1, 1) = 144 > 0 e fxx (1, 1) = 12 > 0
Logo (1, 1) é ponto de mı́nimo local de f .

(ii) Análise para o ponto (−1, −1):


H(−1, −1) = 144 > 0 e fxx (−1, −1) = −12 < 0
Logo (−1, −1) é ponto de máximo local de f

(iii) Análise para os pontos (1, −1) e (−1, 1):


H(1, −1) = H(−1, 1) = −144 < 0. Logo (1, −1) e (−1, 1) são pontos de sela de f .

87
6 ponto de
ponto : min. local
de ¾
sela q q
-
q q
z ponto de
² sela
ponto de
max. local

4. Determinar os pontos crı́ticos de f (x, y) = 25x2 + 4y 2 − 20xy e classificá-los.

Resolução:
Notemos que f é de classe C 2

fx (x, y) = 50x − 20y = 0  5x − 2y = 0

fy (x, y) = 8y − 20x = 0  5x − 2y = 0

5
Logo, os pontos crı́ticos são os pontos da reta y = x
2
¯ ¯
fxx (x, y) = 50 ¯ ¯
¯ 50 −20 ¯
¯ ¯
fxy (x, y) = −20 H(P ) = ¯ ¯ = 0
¯ ¯
¯ −20 8 ¯
fyy (x, y) = 8

Nada podemos afirmar, em geral.

Notemos, neste caso particular, que f (x, y) = (2y − 5x)2 ≥ 0. Como nos pontos
crı́ticos 2y − 5x = 0, temos que f (x, y) = 0. Segue assim, que estes pontos são pontos
de mı́nimo absoluto de f (x, y).

z
6
Gf
¸

z
y

88
// //

Até aqui estudamos o aspecto local. Vamos agora passar a estudar o aspecto global.
Antes de prosseguirmos vamos relembrar um resultado.

Teorema de Weiertrass: Seja f : K ⊂ Rn → R , contı́nua, com K fechado e limitado.


Então existem P1 e P2 em K tais que f (P1 ) ≤ f (P ) ≤ f (P2 ), para qualquer P em K ( ou
seja: f tem valor máximo e valor mı́nimo em K)
Observação.: Este é o Teorema 1.6.4, visto anteriormente. Lembremos, ainda, que um con-
junto K ⊂ Rn , fechado e limitado é chamado de compacto.

Assim se estivermos interessados em descobrir os pontos de máximo e mı́nimo absolutos


de f : K ⊂ Rn → R , f diferenciável e K compacto devemos procurá-los entre:
(i) Pontos fronteira de K.
(ii) Pontos interiores crı́ticos de f .

Voltemos então aos exercı́cios

1. Consideremos uma chapa com a forma D = {(x, y) ∈ R2 | x2 + y 2 ≤ 1} e suponhamos


que a temperatura em D seja dada por T (x, y) = x2 + 2y 2 − x. Determinar o ponto
mais quente e o mais frio de D.

Resolução:
Como T é diferenciável e o conjunto D é compacto, pelo Teorema de Weiertrass sabemos
que existem P1 e P2 em D tais que

T (P1 ) ≤ T (P ) ≤ T (P2 ), para todo P em D.

Assim, P1 e P2 são os pontos de mı́nimo e máximo absolutos.


Como sabemos, eles podem ocorrer somente em:
(i) Pontos interiores crı́ticos de T .
(ii) Pontos da fronteira.
Vamos procurá-los.

89
(i) No interior de D : {(x, y) / x2 + y 2 < 1}
Pontos crı́ticos:
Tx (x, y) = 2x − 1 = 0
Ty (x, y) = 4y = 0 µ ¶ µ ¶
1 1 1
Assim, o único ponto crı́tico é o ponto ,0 eT ,0 =− .
2 2 4

(ii) Na fronteira de D: {(x, y) / x2 + y 2 = 1}

Temos que x2 + y 2 = 1 e assim y 2 = 1 − x2

T (x, y) = x2 + 2y 2 − x = x2 + 2(1 − x2 ) − x = −x2 − x + 2 = F (x),

onde −1 ≤ x ≤ 1 .

Chegamos assim ao problema de determinar os pontos de máximo e mı́nimo absolutos


de F (x) = −x2 − x + 2 em [−1, 1].

Determinemos os pontos crı́ticos em (−1, 1):

F 0 (x) = −2x − 1 = 0 ⇐⇒ x = −1/2

F (−1/2) = 9/4. Ainda, nos pontos extremos, temos: F (−1) = 2 e F (1) = 0

Assim:

Ponto de máximo absoluto de F em [−1, 1]: x = −1/2 e F (−1/2) = 9/4 = 2, 25.

Ponto de mı́nimo absoluto de F em [−1, 1] : x = 1 e F (1) = 0.


Voltando ao nosso problema inicial em estudo temos:
 √

 1 3
 x = − =⇒ y = ±
2 2


 x = 1 =⇒ y = 0
à √ !
1 3
T − , ± = 9/4 = 2, 25
2 2
T (1, 0) = 0

Podemos sintetizar as informações na tabela a seguir:

90
Pontos Localização Imagem do Ponto
(1/2, 0) Interior de D -1/4
(1, 0) Fronteira de D 0

3
(−1/2, ± 2
) Fronteira de D 9/4
y6
Conclusão:

√ r
O ponto mais frio da chapa D é o ponto
µ ¶ (−1/2, 3/2)
1 1
, 0 e sua temperatura é − = - 0,25.
2 4 r -
(1/2, 0) x
Os pontos mais quentes da chapa são
à √ !
1 3 r
− , ± e a temperatura √
2 2 (−1/2, 3/2)
9
correspondente é = 2, 25.
4
p
2. Quais são o máximo e o mı́nimo de x2 + y 2 no retângulo fechado −1 ≤ x ≤ 2,
−2 ≤ y ≤ 3 ?
Resolução:
Pelo Teorema de Weiertrass o máximo e o mı́nimo existem, uma vez que a função
p
f (x, y) = x2 + y 2 é contı́nua e o conjunto é compacto.
p
Podemos resolver este exercı́cio diretamente, observando que a função f (x, y) = x2 + y 2
fornece a distância de (x, y) à origem e o ponto mais afastado da origem é o vértice
p √ √
(2, 3). Portanto o máximo de x2 + y 2 é seu valor 4 + 9 = 13 em (2, 3). O mı́nimo
é 0 e ocorre no ponto (0, 0).
x
3. Caso existam, determinar o máximo e o mı́nimo de f (x, y) = e os pontos
x2 + y 2 + 4
onde eles ocorrem.
Resolução:
Inicialmente, encontremos os pontos crı́ticos de f :
x2 + y 2 + 4 − 2x.x y 2 − x2 + 4
fx (x, y) = = =0
(x2 + y 2 + 4)2 (x2 + y 2 + 4)2

−2yx
fy (x, y) = =0
(x2 + y 2 + 4)2

91


 y 2 − x2 + 4 = 0

 2yx = 0 =⇒ x = 0 ou y = 0

(i) x = 0 =⇒ y 2 + 4 = 0 - não tem solução.


(ii) y = 0 =⇒ −x2 + 4 = 0 =⇒ x = ± 2.

Logo os pontos crı́ticos são: (2, 0) e (−2, 0).


f está sendo considerada no plano xy inteiro, o qual é um conjunto aberto. Assim
um máximo ou um mı́nimo absoluto deve ser um máximo ou mı́nimo local e portanto
ocorre em um dos pontos crı́ticos. Notemos que f (2, 0) = 1/4 e f (−2, 0) = −1/4
Portanto, se f tem um máximo ele deve ser o valor 1/4 em (2, 0) e, se tem um mı́nimo,
ele deve ser −1/4 em (−2, 0).
Estamos impossibilitados de usar o Teorema de Weierstrass, uma vez que o plano xy
não é limitado.
Vamos utilizar um raciocı́nio alternativo.

p
|x| x2 + y 2 + 4 1
(*) | f (x, y) | = < = p
x2 + y 2 + 4 x2 + y 2 + 4 x2 + y 2 + 4

Logo | f (x, y) | é pequeno quando x2 + y 2 é grande.


1
Em particular (*) mostra que | f (x, y) | < , para x2 + y 2 ≥ 60.
8
−1 1
Assim: < f (x, y) < , para x2 + y 2 ≥ 60.
8 8

Voltemos agora a nossa atenção para o


y6
conjunto {(x, y) / x2 + y 2 ≤ 60}.

Apliquemos o Teorema de Weierstrass

à função continua f no disco fechado e


√ -
60 x
limitado x2 + y 2 ≤ 60.

Na fronteira temos que x2 + y 2 = 60 e


−1 1
assim < f (x, y) < .
8 8

92
Logo o máximo é 1/4 e o mı́nimo é −1/4, alcançados nos pontos (2, 0) e (−2, 0),
respectivamente.

Finalmente (*) também mostra que 1/4 e −1/4 são o máximo e o mı́nimo para todo
(x, y), uma vez que f (x, y) também está entre estes valores para (x, y) fora do disco.

Observação: Notemos que [ k(x, y)k −→ ∞ ] =⇒ [ (f (x, y)) −→ 0 ]

4. Caso exista, determinar o mı́nimo de f (x, y) = x2 (1−y)3 +y 2 e o ponto onde ele ocorre.
Resolução:
Notemos que f (x, y) é de classe C 2 .
fx (x, y) = (1 − y)3 .2x = 0
fy (x, y) = −3x2 (1 − y)2 + 2y = 0.
A única solução é x = 0 e y = 0. Assim o único ponto crı́tico é o ponto (0, 0).
Vamos determinar a natureza local do ponto (0, 0).
fxx (x, y) = 2(1 − y)3
fyy (x, y) = 6(1 − y).x2 + 2
fxy (x, y) = −3(1 − y)2 .2x
Assim: fxx (0, 0) = 2, fyy (0, 0) = 2 e fxy (0, 0) = 0
¯ ¯
¯ ¯
¯ 2 0 ¯
¯ ¯
Logo H(0, 0) = ¯ ¯ = 4 > 0 e fxx (0, 0) = 2 > 0
¯ ¯
¯ 0 2 ¯
e portanto (0, 0) é ponto de mı́nimo local de f .
Observemos aqui que nada podemos afirmar sobre a situação global do ponto (0, 0).
Nem mesmo podemos garantir que a função f tem mı́nimo global, uma vez que o Teo-
rema de Weierstrass não pode ser aplicado.
De fato, notemos que f (0, 0) = 0 e f (1, 4) = (−3)3 + 42 = −11 < 0 e assim (0, 0)
não é ponto de mı́nimo global de f . Mais ainda, f (1, y) = (1 − y)3 + y 2 é tal que
[f (1, y) −→ −∞] quando [y −→ ∞], e assim não existe ponto de mı́nimo global.

Observação: Este exercı́cio mostrou que podemos ter f : B ⊂ R2 → R com só um ponto
crı́tico, mı́nimo local, que não é mı́nimo absoluto de f .

93
5. Uma caixa retangular, sem tampa, deve ter 32 cm3 . Quais devem ser suas dimensões
para que a superfı́cie total seja mı́nima?
Resolução:
32
Volume = xyz = 32 ⇒ z =
xy
z
Superfı́cie = S = 2xz + 2yz + xy; x > 0, y > 0
y
Substituindo z obtemos: x
64 64
S(x, y) = + + xy; x > 0, y > 0
y x
Como a região é aberta o mı́nimo deve ocorrer num ponto crı́tico de S. Passemos então
a determiná-los:
∂S 64
(x, y) = y − 2 = 0 ⇐⇒ x2 y = 64
∂x x
∂S 64
(x, y) = x − 2 = 0 ⇐⇒ y 2 x = 64
∂y y

Dividindo membro a membro

x2 y
= 1 =⇒ x = y
y2x

Portanto, x3 = 64 =⇒ x = 4 = y

32
Assim, o único ponto crı́tico é (4, 4). Usando a equação z = encontramos z = 2
xy
Aqui temos duas opções:
(i) Partimos do princı́pio que o problema tem solução.
(ii) Não partimos do princı́pio que o problema tem solução.
Na opção (i), como esperamos que o problema tenha solução e encontramos somente
um ponto crı́tico (um candidato), podemos admitir que ele fornece a solução.
Na opção (ii), uma demonstração formal de que S(x, y) tem de fato um mı́nimo absoluto
em (4, 4) pode ser feita com o argumento a seguir: Conforme (x, y) aproxima-se do
infinito ou do bordo do quadrante (semi eixos) f (x, y) cresce, assim o mı́nimo de S é
obtido no ponto crı́tico. Alternativamente, poderı́amos fazer uso do tipo de argumento
usado anteriormente no exercı́cio 3.

94
O que tem que ficar claro é que argumento que (4, 4) é ponto de mı́nimo local não serve
para concluir que é mı́nimo global (absoluto), como bem mostra o exercı́cio 4 anterior.

6. Uma indústria pode produzir dois produtos, A e B , usando três tipos de material, I ,
II e III. O modo como a indústria opera é descrito pela tabela abaixo.

PRODUTOS
A B
I 1 4
MATERIAIS II 1 3
III 0 1

Sabe-se ainda que para cada unidade produzida de A o lucro é 5 e para cada unidade
produzida de B o lucro é 20. No estoque existem 80 unidades do material I, 60 unidades
do material II e 15 unidades do material III. O material não usado não tem valor algum
e o custo da produção é proporcional à quantidade produzida. Determinar o esquema
de produção que torne o lucro máximo, nestas condições.
Resolução:
x - quantidade de A produzida.
y - quantidade de B produzida.
Lucro: L(x, y) = 5x + 20y
Problema: máximo de L(x, y) respeitadas as condições de estoque.

Estas condições são:


x · 1 + y · 4 ≤ 80,

onde estamos levando em consideração o material I utilizado por unidade de A, de B e


o seu estoque. Analogamente:

x · 1 + y · 3 ≤ 60

x · 0 + y · 1 ≤ 15

95
Isto significa que L(x, y) está definida no conjunto D , determinado por:


 x + 4y ≤ 80




 x + 3y ≤ 60
D :

 y ≤ 15




 x≥0 , y≥0

6
y

20
15

-
15 60 80 x

Como L é contı́nua e D é compacto, L atinge seus extremos em D. Ainda, como


Lx (x, y) = 5 e Ly (x, y) = 20, não temos pontos crı́ticos. Assim os extremos ocorrem
necessariamente na fronteira de D. Vamos determiná-los. A fronteira de D é constituı́da
de 4 segmentos. Passemos a analisar cada um deles.

(i) x = 0 =⇒ L(0, y) = 20y , 0 ≤ y ≤ 15


Máximo para y = 15 e L(0, 15) = 300

(ii) y = 0 =⇒ L(x, 0) = 5x , 0 ≤ x ≤ 60
Máximo para x = 60 e L(60, 0) = 300

(iii) y = 15 =⇒ L(x, 15) = 300 + 5x , 0 ≤ x ≤ 15


Máximo para x = 15 e L(15, 15) = 375

(iv) x = 60 − 3y =⇒ L(60 − 3y , y) = 300 + 5y , 0 ≤ y ≤ 15


Máximo para y = 15 e L(15, 15) = 375 .

Conclusão: O máximo se dá no ponto (15, 15).


Assim o melhor esquema de produção seria: 15 unidades de A e 15 unidades de B e o
lucro seria de 375

96
Um segundo modo de resolver o problema seria:

Curvas de nı́vel de L: 5x + 20y = k

∇L(x, y) = (5, 20)

Observamos que o valor de L(x, y) aumenta quando “deslocamos” as curvas de nı́vel no


sentido ∇L .

Portanto, o máximo será alcançado em (15, 15).

y
6
∇L(x, y)
¤¤º
¤
15 ¤
¤ r
¤
¤r

-
15 60 x

7. Calcular a menor distância do ponto (1, 0) a um ponto da parábola y 2 = 4x.


Resolução:

A distância de um ponto (x, y) ao ponto (1, 0)


y6
é dada por y 2 = 4x
p
d(x, y) = (x − 1)2 + y 2 .
(1, 0)
d(x, y) tem um valor mı́nimo onde r -
x
2 2
f (x, y) = (x − 1) + y tem um valor mı́nimo.

Vamos então calcular o ponto de mı́nimo de

f (x, y) = (x − 1)2 + y 2 , sujeito à condição de y 2 = 4x.

Logo:
T (x) = (x − 1)2 + 4x , x≥0
T 0 (x) = 2(x − 1) + 4 = 2x + 2 = 0 ⇐⇒ x = −1

97
Observemos o gráfico de T . y
6
No conjunto x ≥ 0, o mı́nimo ocorre

na fronteira (x = 0). 1r

Resposta: r -
−1 x
A menor distância é 1 e ela ocorre no ponto (0, 0).

1.10 Máximos e Mı́nimos Condicionados


Um exemplo inicial: 6z

(a) Consideremos z = f (x, y) = x2 + y 2 + 1

e o problema de encontrar o mı́nimo de f . z = x2 +y 2 +1


*
Notemos que f (x, y) = x2 + y 2 + 1 ≥ 1 e
1
f (0, 0) = 1 e assim o ponto de mı́nimo absoluto
-
de f é (0, 0) e o valor mı́nimo é 1. y
=
x

(b) Consideremos agora z = f (x, y) = x2 + y 2 + 1 e o problema de encontrar o mı́nimo


de f condicionado ao conjunto {(x, y) / x + y = 8}
Nas duas ilustrações a seguir fica claro qual é o ponto procurado.

6
y 6z

- (4, 4)
r

-
ª
x
2 2
x +y +1 = c
x+y =8
-
r
(4, 4) y
= z x + y = 8, z = 0
x

98
Observação 1: Poderı́amos ter resolvido analiticamente, fazendo a substituição y = 8 − x
em f (x, y) = x2 + y 2 + 1.
Observação 2: Nem sempre dá para fazer isso.
Passemos então ao problema geral.
Problema: Consideremos a função z = f (x, y) definida em D ⊂ R2 . Queremos achar os
pontos de máximo e mı́nimo de f não em D , mas entre os pontos de D que satisfazem à
condição ψ(x, y) = 0
y6
f p
pp
R
U

K
D
- p
x pp
ψ(x, y) = 0

Suponhamos f ∈ C 1 , P0 ∈ D , ψ(P0 ) = 0 e que f (P ) ≤ f (P0 ) para todo P na curva de


nı́vel ψ(P ) = 0.
Analisemos a situação das curvas de nı́vel ψ(x, y) = 0 e f (x, y) = K, K ∈ R.
∇ψ(P0 )
∇f (P0 )
6 6
∇ψ(P0 )
6
»:
»
» »»»∇f (P0 )
q q»
P0 f ≡K1 P0
f ≡K2
£q±P P q£±
f ≡K3

f ≡K4

f≡K2
f≡K1
ψ≡0 f≡K3 ψ=0
(1) (2)

Se P percorre a curva de nı́vel ψ(x, y) = 0 no sentido indicado na Figura (1), então f (P )


cresce até o ponto P atingir P0 e depois f (P ) começa a decrescer.
Já a situação da Figura (2) não é possı́vel, pois depois de P passar por P0 existem pontos
tais que f (P ) ≥ f (P0 ).

99
Na figura (1) temos que ∇f (P0 ) = λ∇ψ(P0 ).
Notemos ainda na Figura (3) a seguir uma situação em que ∇f (P0 ) = λ∇ψ(P0 ) e no
entanto P0 não é ponto de máximo ou de mı́nimo de f condicionado à curva ψ(x, y) = 0.

∇f (P0 )
6
∇ψ(P0 )
6

f ≡ K5
q f ≡ K4
P0
f ≡ K3
f ≡ K2
ψ≡0 f ≡ K1
(3)

Formalizemos a discussão anterior:

Teorema 1.10.1. Suponhamos que f e ψ sejam de classe C 1 em uma vizinhança de P0 ,


que ψ(P0 ) = 0 e que f (P ) ≤ f (P0 ) para todo ponto P na curva de nı́vel ψ(P ) = 0. Se
∇ψ(P0 ) 6= ~0 então ∇f (P0 ) é um múltiplo de ∇ψ(P0 ), isto é:

∇f (P0 ) = λ∇ψ(P0 )

(o número λ é chamado Multiplicador de Lagrange )

Prova:
Pode-se mostrar que, sob as condições dadas , podemos representar a curva ψ(P ) = 0
próxima de P0 = (x0 , y0 ) na forma paramétrica γ(t) = (x(t), y(t)) para t em um intervalo I,
0
γ (t) 6= (0, 0), γ de classe C 1 e γ(t0 ) = (x(t0 ), y(t0 )) = (x0 , y0 ) = P0 . [ a existência de uma
tal parametrização é garantida pelo Teorema das Funções Implı́citas (veremos adiante)]
Por hipótese, a função composta F (t) = f (x(t), y(t)) tem um máximo em t = t0 . Assim:

0 = F 0 (t0 ) = fx (x0 , y0 ). x0 (t0 ) + fy (x0 , y0 ). y 0 (t0 ) = < ∇f (x0 , y0 ) , γ 0 (t0 ) >

Por outro lado, do fato de ψ(γ(t)) = 0, t ∈ I, resulta que < ∇ ψ(γ(t0 ) , γ 0 (t0 ) >= 0.
.
As equações anteriores implicam que os vetores ∇f (P0 ) e ∇ψ(P0 ) são perpendiculares ao
vetor não nulo γ 0 (t0 ). Assim, tais vetores são paralelos, ou seja, existe λ ∈ R tal que

∇f (P0 ) = λ∇ψ(P0 )

100
∇f (P0 )
M

y6 ∇ψ(P0 ) 0
M : γ (t0 )
γ(t) r
P0

ψ(x, y) = 0
-
x

Ilustração da conclusão do Teorema

Exercı́cios resolvidos:

1. Determinar os valores extremos da função f (x, y) = xy no cı́rculo de raio unitário e


centro na origem.
Resolução:
D = {(x, y) / x2 + y 2 ≤ 1}

fx (x, y) = y e fx (x, y) = x

Portanto, o único ponto estacionário no interior de D é o ponto (0, 0), que já sabemos
ser ponto de sela.

Ainda: f é contı́nua em D (que é compacto) e assim, assume seus extremos (não no


interior e portanto na fronteira).

Consideremos
f (x, y) = xy

ψ(x, y) = x2 + y 2 − 1
Temos:
∇ψ(x, y) = (2x, 2y)

∇f (x, y) = (y, x)
Observemos que ∇ψ(x, y) 6= ~0, ∀ (x, y) satisfazendo x2 + y 2 = 1.

Se ∇f (x, y) = λ∇ψ(x, y), então

101

 y = 2λx
 x = 2λy

ou seja:

 2λx − y = 0
 x − 2λy = 0

Multiplicando a segunda equação por −2λ, e somando membro a membro obtemos:


−y + 4λ2 y = 0

y(4λ2 − 1) = 0

mas y 6= 0 (pois caso contrário terı́amos x = 0 ). Temos então:

1
4λ2 − 1 = 0 ⇐⇒ λ = ±
2
1
(i) λ = =⇒ x = y
2

Substituindo em x2 + y 2 − 1 = 0, temos

2
x=y=±
2

1 2
(ii) λ = − =⇒ x = −y = ±
2 2
Assim:
à √ √ ! 
2 2 f 1 

, −→ 

2 2 2 

à √ √ ! ∴ são pontos de máximo


2 2 f 1 

− , − −→ 
2 2 2 

à √ √ ! 
2 2 1 
−→ − 
f
, − 

2 2 2 

à √ √ ! ∴ são pontos de mı́nimo


2 2 f 1 
− , −→ − 
2 2 2 

Vejamos a configuração de algumas das curvas de nı́vel.

102
y
6

∇ψ(P1 ) @
I ¡µ ∇ψ(P0 )
¡
@
@
@ ¡
@
@ µ ∇f (P0 )
¡
@ P1 P0 ¡
@
@r r¡
@
@
@
@ ∇f (P1 )
R
@ -
x

2. Encontre a menor distância da origem a um ponto da elipse


ψ(x, y) = 8x2 − 12xy + 17y 2 = 20.
Resolução:
Queremos minimizar f (x, y) = x2 + y 2 (Podemos pensar assim, pois a distância é
positiva e portanto basta minimizar seu quadrado).

Observemos que f é contı́nua e a elipse é um conjunto compacto. Assim, f atinge seus


extremos.

Temos:

∇ψ(P ) = (16x − 12y , 34y − 12x) 6= (0, 0) nos pontos da elipse

∇f (P ) = (2x , 2y).

 x = λ(8x − 6y) (∗)
Se ∇f (P ) = λ∇ψ(P ) =⇒
 y = λ(17y − 6x)

(∗)
Podemos supor 8x − 6y 6= 0, uma vez que se 8x − 6y = 0 =⇒ x = 0 ⇒ y = 0, ponto
que não está sobre a elipse.
x x
Assim, λ = ⇒ y = (17y − 6x) ⇒ 6x2 − 9xy − 6y 2 = 0, a qual
8x − 6y 8x − 6y
2
juntamente com 8x − 12xy + 17y 2 = 20 fornecerá y = ± √ .
2
5

Calculando x obteremos os pontos

103
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
4 2 1 2 −4 −2 −1 −2
√ ,√ , √ ,√ , √ ,√ e √ ,√
5 5 5 5 5 5 5 5

6y
µ ¶ µ ¶
4 2 −4 −2
f √ ,√ = f √ ,√ =4
5 5 5 5 r
r
µ ¶ µ ¶
−1 2 1 −2
f √ ,√ = f √ ,√ =1 -
5 5 5 5 x
r
Assim, os pontos da elı́pse mais próximos r
µ ¶ µ ¶
−1 2 1 −2
da origem são: √ , √ e √ ,√
5 5 5 5
µ ¶ µ ¶
4 2 −4 −2
Os pontos da elipse mais distantes da origem são : √ , √ e √ ,√
5 5 5 5
 
a b
3. Seja A =   e consideremos Q a forma quadrática associada, isto é:
b c
   
h i a b x
Q(x, y) = x y     = ax2 + 2bxy + cy 2
b c y

Calcular o máximo e o mı́nimo de Q , sujeito à condição ψ(x, y) = x2 + y 2 = 1


Resolução:
Observemos que Q é contı́nua e x2 + y 2 = 1 é um conjunto compacto. Assim Q atinge
seus extremos.

Temos:

∇ψ(x, y) = (2x, 2y) e ∇Q(x, y) = (2ax + 2by , 2bx + 2cy)


    
 ax + by = λx x x
∇Q(x, y) = λ∇ψ(x, y) ⇐⇒ ⇐⇒ A   = λ   .
 bx + cy = λy y y

Assim: (x, y)-autovetor de A associado ao autovalor λ .


     
h i a b x h i x
Q(x, y) = x y     = x y λ  = λ.
b c y y

104
Assim: o máximo de Q sujeito a x2 + y 2 = 1 é igual ao maior autovalor de A e ele é
obtido quando (x, y) é um autovetor associado. Analogamente para o mı́nimo.

4. Encontre o máximo de f (x, y) = xy sobre a curva y


6

ψ(x, y) = (x + 1)2 + y 2 = 1. Observe que de fato


?r
existe um máximo.

Resolução: −1
r -

Observemos que o conjunto A = {(x, y) / (x + 1)2 + y 2 = 1} ?r

é compacto e f é contı́nua. Logo, f atinge seus extremos em A .

∇ψ(x, y) = ( 2(x + 1) , 2y).

Assim ∇ψ = ~0 somente em (−1, 0).


∴ ∇ψ 6= ~0 em todo ponto da curva de nı́vel ψ(x, y) = 1 .
∇f (x, y) = (y, x) .
No ponto de máximo devemos ter ∇f (x, y) = λ∇ψ(x, y),

ou seja,


 y = λ2(x + 1)


x = λ2y



 (x + 1)2 + y 2 = 1

Se y = 0 ⇒ x = 0.
x x
Se y 6= 0, temos λ = , e assim, y = 2(x + 1) ou y 2 = x2 + x.
2y 2y
∴ (x + 1)2 + x2 + x = 1
2x2 + 3x = 0
3
x = 0 ou x = − .
2
Para x = 0 ⇒ y = 0 ⇒ xy = 0
√ √
3 3 −3 3
Para x = − e y= ⇒ xy =
2 2 4
√ √
3 3 3 3
Para x = − e y=− ⇒ xy =
2 2 4

105
à √ !
3 3
∴ − , − é ponto de mı́nimo
2 2
à √ !
3 3
− ,− − é ponto de máximo
2 2

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Observação 1: No exemplo anterior temos que


6
y
∇f (0, 0) = λ∇ψ(0, 0) e no entanto o ponto (0, 0)

não é ponto de máximo (ou de mı́nimo) de f

restrita à curva ψ(x, y) = 1 . -

[Observe o que acontece quando P percorre a curva rµ


P
ao lado no sentido indicado].

Observação 2: O fato de ∇ψ(P0 ) 6= ~0 é importante. Se tal fato não acontecer, a


regra não é válida.

Exemplo:

Calcular o mı́nimo de f (x, y) = x2 + y 2 sujeito à condição ψ(x, y) = (x − 1)3 − y 2 = 0.

Notemos que o problema é equivalente a encontrar a menor distância da curva ψ ≡ 0


à origem.

Geometricamente, é claro que a menor distância da origem à curva ψ ≡ 0 é alcançada


no ponto P0 = (1, 0).

y
6
∇ψ(x, y) = ( 3(x − 1)2 , −2y) (x−1)3 = y 2
:
∇f (x, y) = (2x , 2y)
(1, 0)
r -
 x

 2x = λ3(x − 1)2


2y = λ · −2y não está satisfeito por (1, 0).



 (x + 1)3 − y 2 = 0
106
Observemos que ∇ψ(1, 0) = (0, 0)

// //

O que acabamos de estudar nesta seção se generaliza para mais variáveis e para mais
restrições e é do que trataremos a seguir.

Generalizações

6
(I) Com mais variáveis ∇f (P0 )

Por exemplo: Maximizar f (x, y, z) r P0


sujeita à restrição ψ(x, y, z) = 0.
f ≡ C2
Notemos que ∇f (P0 ) deve ser

normal à superfı́cie ψ ≡ 0.

Assim: ∇f (P0 ) = λ∇ψ(P0 )


f ≡ C1

:ψ≡0

Exercı́cios propostos:

(1) Encontrar o ponto do plano 2x + y − z = 5 que está mais próximo da origem.


5 5 −5
Resposta: ( , , )
3 6 6
(2) Minimizar f (x, y, z) = 4x2 + y 2 + 5z 2 restrita ao plano 2x + 3y + 4z = 12.
1
Resposta: 11
(5 , 30 , 8)

(II) Com mais restrições


Por exemplo: Maximizar f (x, y, z) sujeita a duas restrições:
ψ(x, y, z) = 0 e φ(x, y, z) = 0.
Notemos que ψ(x, y, z) ≡ 0 - em geral, define uma superfı́cie.
Analogamente, φ(x, y, z) ≡ 0 - em geral, define uma superfı́cie.
Seja P0 - ponto em que f (x, y, z) assume valor máximo sobre a curva ψ ≡ φ ≡ 0

107
Temos que ∇f (P0 ) ⊥ à curva em P0 [ por raciocı́nio análogo ao desenvolvido na
prova do Teo. 1.9.1 ]

Ainda:
∇ψ(P0 ) - normal à curva em P0 [ pois a curva está contida na superfı́cie ψ ≡ 0 e
∇ψ(P0 ) ⊥ (superfı́cie ψ ≡ 0) ].
Analogamente, ∇φ(P0 ) - normal à curva em P0 .
Assim se ∇ψ(P0 ) e ∇φ(P0 ) não são nem paralelos e nem nulos (ou seja L.I.) eles
determinam o plano normal à curva em P0 . Como ∇f (P0 ) está neste plano, temos
que
∇f (P0 ) = λ.∇ψ(P0 ) + µ.∇φ(P0 )

para números reais λ e µ.

ψ=0
ª ∇f (P0 )
9
±
∇ϕ(P0 ) 6
∇ψ(P0 )
P0 z¼

ψ ≡ ϕ ≡ 0

W
ϕ≡0

Exemplo:
Determine os pontos de C mais próximos e mais afastados da origem, onde C é o arco,
no primeiro octante, da curva em que o parabolóide 2z = 16 − x2 − y 2 intercepta o
plano x + y = 4
Resolução:
Seja P (x, y, z) - ponto genérico de C.
p
Queremos encontrar o maior e o menor valor de d(O, P ) = x2 + y 2 + z 2 .
Se a distância é mı́nima ou máxima seu quadrado é mı́nimo ou máximo, e assim vamos
extremar f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , sujeita às condições:

108

 ψ(x, y, z) = x2 + y 2 + 2z − 16 = 0
 φ(x, y, z) = x + y − 4 = 0

Assim:

∇f (x, y, z) = λ.∇ψ(x, y, z) + µ.∇φ(x, y, z)

se expressa como:

(2x, 2y, 2z) = λ.(2x, 2y, 2) + µ.(1, 1, 0)

ou seja z
6


 2x = λ.2x + µ


2y = λ.2y + µ



 2z = 2λ
P3
r
P
r2
2(x − y) = 2λ(x − y) P1r

2(x − y)(1 − λ) = 0 rB -
± y
r
Assim x = y ou λ = 1 A
+x

 x2 + y 2 − 14 = 0
(i) Se λ = 1 =⇒ z = 1 =⇒
 x+y−4=0
Assim:
x2 + (4 − x)2 − 14 = 0
x2 + 16 − 8x + x2 − 14 = 0
2x2 − 8x + 2 = 0
x2 − 4x + 1 = 0 (∆ = 12)

x=2± 3
√ √
Assim os pontos de C que podem ser extremos são: P1 = (2 + 3 , 2 − 3 , 1)
√ √
e P2 = (2 − 3 , 2 + 3 , 1)
√ √
As distâncias correspondentes são: d(O, P1 ) = 15 e d(O, P2 ) = 15

 2x2 + 2z − 16 = 0
(ii) Se y = x =⇒
 2x − 4 = 0

109
Assim x = 2 e z = 4

Neste caso obtemos o ponto P3 = (2 , 2 , 4) e d(O, P3 ) = 2 6
Notemos: Quando um ponto move-se ao longo de C de A = (4, 0, 0) até B =
(0, 4, 0) sua distância a origem começa em d(O, A) = 4, decresce até o mı́nimo de
√ √ √
15 em P1 e cresce até o máximo de 2 6 em P3 . Depois decresce até 15 em P2
e cresce novamente até 4 em B.

d6

-
A P1 P3 P2 B `

Obs.: Outra maneira de resolver este exercı́cio seria notar que as equações paramétricas
de C são x = 4 − t, y = t e z = 4t − t2 ; 0 ≤ t ≤ 4 e f (x, y, z) = (4 − t)2 + t2 + (4t − t2 )2
e usar métodos de uma variável.

Exercı́cios propostos:

(1) Calcular o máximo e o mı́nimo de f (x, y) = x + y sujeito à condição x2 + y 2 = 1.


Observe que de fato eles existem. Desenhe os vetores gradientes de f (x, y) e de
ψ(x, y) = x2 + y 2 .

(2) Calcular os pontos extremos da função

z = f (x, y) = (x − y)6 + (y − 2)4

Nota: Observe que H = 0 .


27 27
(3) Calcular os extremos de z = f (x, y) = (xy) + + .
x y
(4) Estude as funções abaixo quanto à pontos extremos:

(a) f (x, y) = (y − x2 )2 + x5

(b) f (x, y) = (x − y)4 + (y − 1)4

110
(5) O que podemos afirmar no caso de f ∈ C 2 e P0 ser um ponto estacionário de

f : R2 → R tal que fxx (P0 ).fyy (P0 ) < 0 ?

(6) Se f (x, y) tem um mı́nimo local em (a, b), então fxx (a, b) ≥ 0 e fyy (a, b) ≥ 0.

Sugestão: Analise o comportamento de f nas retas x = a e y = b.

(7) Se f (x, y) satisfaz 5fxx (x, y) + 4fyy (x, y) = −1 em todo ponto (x, y) então f não
pode ter um mı́nimo local em nenhum ponto.

(8) Este exercı́cio irá mostrar que a natureza de um ponto estacionário não pode ser
determinada aproximando-se apenas por linhas retas.

Seja f (x, y) = (y − 4x2 )(y − x2 ).

(a) Desenhe as regiões onde f (x, y) = 0, f (x, y) > 0 e f (x, y) < 0.

(b) Mostre que a origem é um ponto estacionário de f .

(c) Mostre que sobre qualquer reta através da origem, a função tem um mı́nimo
local na origem.

(d) Use um outro caminho para mostrar que a origem é um ponto de sela.
p
(9) Considere a função f (x, y) = |y| + x2 + (y − 1)2 .

(a) Em quais pontos não existem (uma das duas ou as duas) derivadas parciais.

(b) Ache todos os pontos onde as duas derivadas parciais são nulas.

(c) Qual é o mı́nimo absoluto de f e em qual ponto ocorre?

(10) Dividir 120 em três partes de modo que a soma dos produtos das partes tomadas
duas a duas seja máxima.

(11) Achar o ponto do plano 2x − y − 2z = 16 mais próximo da origem.

Sugestão: Procure tirar y como função de x e z .

(12) Uma chapa retangular D é determinada pelas retas x = 3, y = 5, x = 0 e y = 0.


A temperatura da chapa é T (x, y) = xy 2 − x2 y + 100. Determinar o ponto mais
quente e o ponto mais frio da chapa.

(13) Seja f : R → R diferenciável, com f 0 (u) > 0, ∀ u ∈ R.

Consideremos g : R2 → R definida por g(x, y) = f (x2 y).

111
(a) Desenhe algumas curvas de nı́vel de g .
(b) Achar os pontos estacionários de g .
(c) Dentre os pontos estacionários quais são os pontos de máximo, mı́nimo e de
sela ?

(14) Qual é o ponto (x, y) do plano que tem a propriedade de ter como mı́nima a soma
de sua distância ao eixo x com duas vezes a sua distância ao ponto (0, 1) ?

(15) Mostrar que de todos os triângulos com a mesma área A , o de menor perı́metro é
o triângulo equilátero.
Sugestão: A2 = p(p − x)(p − y)(p − z) onde 2p é o perı́metro e x, y, z são os
lados do triângulo.

(16) Achar os máximos e mı́nimos locais de f (x, y) = x3 + y 3 − 3x − 12y + 20.

(17) Mostrar que um paralelepı́pedo de volume máximo V com área S constante é um


cubo.
Observação: Note que podemos tirar z da equação da superfı́cie S como função de
x e y usando o Teorema das Funções Implı́citas.

(18) Calcular o ponto da esfera x2 + y 2 + z 2 = 4 que está mais próximo do ponto


A = (3, 3, 3).
Observação: Observe que de fato existe um ponto de mı́nimo.

(19) Os leitos de dois rios são aproximadamente representados pela parábola y = x2 e


a reta x − y − 2 = 0. Deseja-se reunir os dois cursos por um canal retilı́neo de tal
maneira que o comprimento seja mı́nimo. Quais são os pontos pelos quais deve
passar o canal ?
Observação: Distância de um ponto (x0 , y0 ) à reta ax + by + c = 0 é dada por:
¯ ¯
¯ ax0 + by0 + c ¯
¯ √ ¯
¯ a2 + b2 ¯
(20) Achar a maior e a menor distância de um ponto situado sobre a elipse
x2
+ y 2 = 1 à reta x + y − 4 = 0.
4
(21) Determinar qual é o tipo dos pontos estacionários da função
f (x, y) = ex (x − 1)2 + (y − 2)4 .

112
(22) A figura abaixo mostra pontos onde a condição de Lagrange ∇f = λ∇ψ está
satisfeita. Quais são pontos de máximo de f sobre ψ ≡ c, quais são pontos de
mı́nimo, e quais não são nem de máximo e nem de mı́nimo ? (as linhas são curvas
de nı́vel de f , f ∈ C 1 ).

∇f M ∇f M ∇ψ
]
∇ψ ∇ψ
M M

ψ≡c ψ≡c ψ≡c


∇f^
(∗) (∗∗) (∗ ∗ ∗)

(23) Calcule os pontos extremos de f (x, y) = 4xy − 2x2 − y 4 .

(24) Calcule o volume máximo de uma caixa retangular cuja soma dos comprimentos
de suas arestas é 12a.

(25) Determine o paralelepı́pedo retângulo de volume máximo, com as arestas paralelas


x2 y 2 z 2
aos eixos coordenados, inscrito no elipsóide + + = 1.
4 9 16
(26) Maximize a função f (x, y, z) = x2 + 2y − z 2 sujeita às restrições 2x − y = 0 e
y + z = 0.

(27) Encontre os valores extremos da função f (x, y, z) = xy + z 2 sobre a circun-


ferência resultante da intersecção do plano y − x = 0 com a superfı́cie esférica
x2 + y 2 + z 2 = 4.

113
NOTAS DE AULA

FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS -


INTEGRAÇÃO

Cláudio Martins Mendes

Segundo Semestre de 2005


Sumário

1 Funções de Várias Variáveis - Integração 2


1.1 Integrais Iteradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Integrais Múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Mudança de Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4 Algumas Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4.1 Densidade - Centro de Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4.2 Momento de Inércia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

1
Capı́tulo 1

Funções de Várias Variáveis -


Integração

1.1 Integrais Iteradas


Suponhamos que f (x, y) seja contı́nua num retângulo R , a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d.
Consideremos Z b
F (y) = f (x, y)dx
a

Prova-se que a função F é contı́nua em [ c, d ]. Logo, tem sentido escrever:


Z d Z dµZ b ¶
F (y)dy = f (x, y)dx dy .
c c a

Uma integral desse tipo é chamada integral iterada.


z6

a c
y
b d
¼ j y
x

A região de integração das integrais iteradas não precisa, necessariamente, ser um retângulo.
Podemos fazer integrais iteradas sobre regiões como exemplificam as figuras:

2
y6 y6

y=g2 (x)
d
x=h1 (y)

x=h2 (y)

y=g1 (x)
c
- -
a b x x

Figura 1 Figura 2

Na figura (1) temos:


Z bZ g2 (x)
f (x, y)dy dx .
a g1 (x)

Na figura (2) temos:


Z d Z h2 (y)
f (x, y)dx dy .
c h1 (y)

Exemplos:
y
6
Z 1 Z 2
1. (x2 + y 2 )dy dx = I 2
0 0
Z µ ¶ ¯2
1
2 y 3 ¯¯
I= x y+ dx =
0 3 ¯0
Z µ ¶ ¯1
1
8 2x3 8 ¯
= 2
2x + dx = ( + x) ¯ = 10 .
3 3 3 ¯ 3 -
0 0 1 x

v 6

Z 2 Z u u=v
2. 5u2 v dv du ¸
0 0 ¡¡
¡
¡
¡
¡
¡ -
2 u

3
Z 1 Z 1 Z 1 y
6
2 1 - y = 2x
3. (x − yz)dz dy dx = · · · = 4
0 0 0 12

y = x2
*

Z 2 Z 2x
32
4. (x3 + 4y)dy dx = · · · =
0 x2 3 -
2 x

Z 3 Z y2
y6
5. 2y cos x dx dy = I
1 π/6
Z ¯y2 3
3 ¯
I= 2y sen x¯¯ dy =
1 π/6
Z 3 ¡ ¢ √
= 2y sen y 2 −y dy = - y= x
1
µ ¶¯3 1
2 1 2 ¯¯
= − cos y − y ¯ = cos 1−cos 9 − 4 -
2 1 π/6 1 x

Uma outra notação que usaremos para as integrais iteradas é:


Z b Z g(y)
dy f (x, y)dx , onde
a h(y)

Z b Z g(y) Z bZ g(y)
dy f (x, y)dx = f (x, y)dx dy .
a h(y) a h(y)

1.2 Integrais Múltiplas


Consideremos agora f : B ⊂ Rn → R.

Problema: Definir a integral de f sobre B , análoga à definição para função de uma variável.

Um retângulo coordenado fechado R no Rn é um subconjunto do Rn constituı́do de todos


os pontos x = (x1 , . . . , xn ) que satisfazem às desigualdades:

ai ≤ xi ≤ bi , i = 1, 2, . . . , n

4
6 6

- -
¼

O volume de R, denotado por V (R), é definido como V (R) = (b1 − a1 ) · · · (bn − an ). Se


para algum i , ai = bi , então o retângulo é degenerado e V (R) = 0.
Um número finito de planos n−1 dimensionais no Rn , paralelos aos planos coordenados,
é chamado uma rede.

6
6

q q q

-
j
¼

Uma rede sempre divide o Rn em um número finito de conjuntos limitados (retângulos)


e um número finito de conjuntos não limitados.
Dizemos que uma rede cobre um conjunto B ⊂ Rn , se este estiver contido na reunião dos
retângulos fechados R1 , . . . , Rr , por ela determinados.

Claramente, um conjunto pode ser coberto


6
por uma rede se, e somente se, ele é limitado.

Malha da rede será o maior comprimento

dos lados dos retângulos por ela ¾ m -


-
determinados.

m = malha da rede

5
Definição 1.2.1. Sejam f : Rn → R e B ⊂ Rn , tais que:

a) B é um subconjunto limitado.

b) f é limitada sobre B .

Seja ainda:

 f (x) se x ∈ B
fB (x) =
 0 se x 6∈ B .

Tomemos G uma rede que cobre B e que tenha malha m(G). Em cada um dos retângulos
coordenados Ri determinados por G , i = 1, . . . , r , escolhemos um ponto arbitrário Pi .

A soma:
r
X
fB (Pi )V (Ri )
i=1

é chamada uma soma de Riemann de f sobre B .


Dados f e B , este valor depende da rede G e dos pontos escolhidos P1 , . . . , Pr .
Se, variando as redes G , com m(G) tendendo a zero,
r
X
lim fB (Pi )V (Ri )
m(G)→0
i=1

existe ele é chamado a integral de f sobre B , sendo denotado por:


Z
f dv
B

Se a integral existe, então f é dita integrável sobre B .


Xr Z
lim fB (Pi )V (Ri ) = f dv
m(G)→0 B
i=1

significa que para ε > 0 dado, existe δ > 0, tal que se G é qualquer rede que cobre B e tem
malha menor que δ , sendo S uma soma de Riemann arbitrária para fB formada de G , então:

¯ Z ¯
¯ ¯
¯S − f dv ¯<ε.
¯ ¯
B
¾ ε -¾ ε -
Z
M
f dv
B S
6
Notações:
Z Z Z Z
f dA f (x, y)dx dy f (x, y)dx dy n=2
B B B
Z Z Z Z
f (x, y, z)dx dy dz f (x, y, z)dx dy dz n=3
B B
Z
f (x1 , . . . , xn )dx1 . . . dxn .
B
Z
Para interpretar, geometricamente, o significado da integral dupla f (x, y)dx dy , supo-
B
remos f positiva e contı́nua sobre B (supondo a existência da integral).
Então, o gráfico de f é uma superfı́cie que está acima do plano xy. A soma de Riemann
é a soma dos volumes dos paralelepı́pedos cujas bases são os retângulos determinados pela
rede e cujas alturas correspondentes são os valores f (xi , yi ).

z
6

-
q y
B

ªx

Quando a malha da rede tende a zero, essas somas vão se aproximando do que podemos
chamar volume do sólido S , delimitado pelo domı́nio B , pelo gráfico de f , e pelas retas que
passam pela fronteira de B e são paralelas ao eixo z . Definimos então:

Z
V (S) = f (x, y)dx dy .
B

Surge a primeira pergunta: Quais seriamZ as condições, sobre a função f e sobre o conjunto
B, que poderiam garantir a existência da f dv ?
B

7
Vejamos uma definição, antes de enunciarmos o Teorema que dará a resposta a esta
pergunta.

Definição 1.2.2. Conjunto suave em Rn é a imagem de um conjunto compacto sob uma


função φ : Rm → Rn , m < n e φ de classe C 1 . Conjunto suave em R será entendido
como um conjunto unitário.

6 6

p pp p
p p p p p pp p ppp
p pp pp pp pp pp
q - p p pp
p

¼
p j

Tipos de Conjuntos Suaves

A idéia intuitiva de conjunto suave é a de que o conjunto deve ter “volume” nulo no
espaço em que estiver contido.

Teorema 1.2.3. Seja B ⊂ Rn , limitado, tal que a fronteira de B esteja contida em um


número finito de conjuntos suaves. Seja ainda f definida e limitada em B . Se f é contı́nua
sobre B , excetoZtalvez sobre um número finito de conjuntos suaves, então f é integrável sobre
B . O valor de f dv não se altera por troca de valores de f sobre qualquer conjunto suave.
B

Exemplo:
Z
(2y + x)dx dy ,
B

onde B {(x, y) ∈ R2 / 0 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ 1}

8
z 6
y6
U G2
z = 2y + x

4
2 r r r r
1
2 r Br r r
1 -
2 2 x
j
¼ y
x

Observe que a existência da integral está assegurada pelo Teorema anterior. Por esta
razão, qualquer seqüência de somas de Riemann associadas a redes que têm malhas tendendo
a zero, pode ser usada para avaliar a integral.
i
Para cada n = 1, 2, 3, . . . consideremos a rede Gn constituı́da das retas x = ,
n
j
i = 0, . . . , 2n e y = , j = 0, . . . , n.
n
Temos:
1
m(Gn ) =
n
1
área de Rij = 2 .
n µ ¶
i j
Em cada um dos retângulos coordenados, escolhemos os pontos xij = (xi , yj ) = ,
n n
i = 1, . . . , 2n; j = 1, . . . , n.
Formamos então a soma de Riemann:

2n X
X n n µ
2n X
X ¶ 2n n
i 2j 1 1 X X
(xi + 2yj )A(Rij ) = + = 3 (i + 2j) =
i=1 j=1 i=1 j=1
n n n2 n i=1 j=1

2n µ ¶ 2n
1 X 1+n 1 X
= ni + 2 · ·n = 2 (i + 1 + n) =
n3 i=1 2 n i=1
· ¸
1 (1 + 2n)
= · 2n + (1 + n) · 2n =
n2 2
µ ¶
2 1 + 2n 3
= +1+n =4+
n 2 n

9
Z
3
∴ (2y + x)dx dy = lim (4 + )=4
B n→∞ n
.

Observação: Compare este resultado com o volume do sólido S sob o gráfico de


f (x, y) = 2y + x e acima de [0, 2] × [0, 1]. (Neste caso particular o volume é de cálculo
direto)

O exemplo anterior mostra que uma avaliação direta da integral múltipla pode ser muito
difı́cil. Agora vamos avançar no sentido de vencer esta dificuldade.

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Antes de prosseguirmos, vejamos um caso especial:


Consideremos f : [a, b] × [c, d] → R, f contı́nua e f ≥ 0.
Z b
Foi visto em Cálculo de uma Variável que: V ol(S) = A(x)dx
a
z6
Gf
°
S
3
a c
x y
b d
¼ j y
x
? - A(x)
R Z d
Observemos que nesta situação temos A(x) = f (x, y)dy
Z b Z d c

Assim V ol(S) = ( f (x, y)dy ) dx


a c Z
Pelo visto anteriormente, também temos: V ol(S) = f (x, y)dx dy
R
Logo, pelo menos neste caso,
Z Z b Z d
f (x, y)dx dy = ( f (x, y)dy ) dx
R a c

ou seja, a integral múltipla é igual à integral iterada.

10
Surge então a pergunta geral:
O que dizer da integral múltipla, relativamente à integral iterada, quando ambas estão defini-
das?
O Teorema a seguir dará a resposta à esta pergunta.

Teorema 1.2.4. (Teorema de Fubini) Seja B um subconjunto do Rn tal que a integral iterada
Z Z Z
d x1 d x2 · · · f d xn
Z
existe sobre B . Se a integral múltipla f dv existe, então as duas integrais são iguais.
B
Z
Corolário 1.2.5. Se f dv existe e as integrais iteradas existem para algumas ordens de
B
integração, então todas as integrais são iguais.

Exemplos:
Z
1. Avaliar a integral (2y + x)dx dy, onde B é o retângulo 0 ≤ x ≤ 2 e 0 ≤ y ≤ 1 .
B
Aplicando os Teoremas anteriores temos:
Z Z Z Z ¯2
2 1 2
x2 ¯¯
(2y + x)dx dy = dx (2y + x)dy = (1 + x)dx = (x + )¯ = 2 + 2 = 4
B 0 0 0 2 0

2. Seja R o retângulo definido por −1 ≤ x ≤ 2, 0 ≤ y ≤ 2, 1 ≤ z ≤ 2.

Considere f (x, y, z) = xyz .

Então:
Z Z
z6
f dv = xyz dx dy dz =
R R

Z 2 Z 2 Z 2
9
= dx dy xyz dz = · · · = .
−1 0 1 8 -
¡ y
¡
¡
¡
ª
x

Observação: Registramos aqui o fato de que é possı́vel a existência da integral iterada sem
que exista a integral múltipla.

11
Exemplo:

 1 , se x é racional
f (x, y) =
 2y , se x é irracional
Z 1 Z 1 Z 1
dx f (x, y)dy = 1 dx = 1 .
0 0 0
Z
Mas f dA não existe, onde R = [0, 1] × [0, 1].
R

De fato:
Seja G uma rede, do tipo ao lado, cobrindo R . y
6

Vamos formar duas somas de Riemann, a partir 1


da rede G . 1/2

Primeira Soma: nos retângulos coordenados es- -


1 x
colhemos pontos (xi , yj ), tais que xi ∈ Q. Logo,

S1 = 1 .
1
Segunda Soma: até a altura y = escolhemos pontos (xi , yj ) nos retângulos coordenados
2
1
tais que xi 6∈ Q. Logo, esta parcela da soma de Riemann converge para à medida que
4
1
m(G) → 0. Depois de y = escolhemos pontos (xi , yj ), tais que xi ∈ Q. Esta segunda
2
1
parcela da soma de Riemann dará .
2
z
6
1 1 3
Assim, S2 → + = . yI
4 2 4
6
Deste modo, as somas de 1

1 R
Riemann não convergem para 1
2
z = 2y
nenhum número real.

)
x

Seja a função f ≡ 1 integrável sobre um conjunto B ⊂ Rn . Então definimos volume de B

12
como sendo: Z Z
V (B) = 1 dv = dv .
B B

No caso de B ⊂ R2 o volume anteriormente definido é o que chamamos de área. Escre-


vemos, então, A(B) e não V (B).
Segue, da última parte do Teorema 13 que o volume de um conjunto suave é igual a zero:
Z Z
V (S) = 1 dv = 0 dv = 0 .
S S
R
Para alguns conjuntos B , a integral B
dv não existe. Quando isto acontece, o volume de
B não está definido.

Exemplo:

B = [0, 1] ∩ Q
Z
dx não existe (Pense em dois tipos de somas de Riemann)
B

Observação 1: Para retângulos R o volume V (R) tem sido definido de duas maneiras:
(i) Como produto dos comprimentos dos lados.
(ii) Como uma integral.
As duas definições são compatı́veis pelos Teoremas 1.2.3 e 1.2.4 .
Z Z b1 Z bn
dv = dx1 · · · dxn = (b1 − a1 ) · · · (bn − an ) .
R a1 an

Z
Observação 2: Seja f (x, y) ≥ 0, tal que f dA exista, onde D ⊂ R2 .
D
z
Na situação ao lado, o volume do sólido 6 S
µ - z = f (x, y)
S tem sido definido de duas maneiras, que

são compatı́veis, pois:


a
Z Z b Z h(x) Z f (x,y) z
x y
V (S) = 1 dv = dx dy dz =
S a `(x) 0 b
Z b Z h(x) Z ª
x ²
- y = h(x)
= dx f (x, y)dy = f dA . y = `(x) ?
a `(x) D D

13
Exercı́cios resolvidos:

1. Seja B a região do plano representada abaixo. Calcule a área de B .

y
6
Z Z b Z f (x)
A(B) = dA = dx dy =
B a 0

Z b Gf
= f (x)dx . B
a
-
a b x

2. Calcular a área entre a parábola y = x2 e a reta y = x + 2, representada abaixo:

Z 2 Z x+2 y6
A= dx dy
−1 x2 r
(2, 4)

ou

Z 1 Z √
y Z 4 Z √
y (−1, 1) r
A= dy √
dx + dy dx . -
0 − y 1 y−2 x

(Note como é importante a ordem de integração)

3. Ache o volume da região B ⊂ R3 , limitada pelos planos coordenados x = 0, y = 0,


z =0 e x+y+z =1
Z Z 1 Z 1−x Z 1−x−y
1
V (B) = dv = dx dy dz = · · · =
B 0 0 0 6

14
z
6
Poderı́amos resolver também pensando
1
como o gráfico de f (x, y) = 1 − x − y

Z 1 Z 1−x
1
V (B) = dx (1 − x − y)dy = · · · =
0 0 6
Y
1 j 1
¼
x j
y

4. Determine o volume do sólido cuja base é a região do plano xy delimitada pela parábola
y = 2 − x2 e pela reta y = x e cuja parte superior está contida no plano z = x + 2.

y 6

6z
2

r (1, 1)
-
q x
(0,2,0) -
(−2,−2,0) r y
r
r
(1,1,0) (−2, −2)

xR

Z 1 Z 2−x2 Z x+2
27
V = dx dy dz = · · · =
−2 x 0 4
ou Z Z
1 2−x2
27
V = dx (x + 2)dy = · · · =
−2 x 4

// //

Regra Geral: Para estabelecer os limites de uma integral iterada, devemos primeiramente
escolher as variáveis externa, intermediária e interna. Digamos, por exemplo, x , y e z
respectivamente.

15
Primeira Etapa:
Achar os valores extremos da variável externa. Por exemplo:
Z b Z Z
dx dy f (x, y, z)dz .
a

Segunda Etapa:
Fixe a variável externa num determinado valor, determinando um corte na região sólida.
Determine os valores extremos da variável intermediária neste corte. Por exemplo:
Z b Z g(x) Z
dx dy f (x, y, z)dz .
a h(x)

Terceira Etapa:
Fixe agora, neste corte, a variável intermediária, obtendo um segmento de reta. Determine
os valores extremos da variável interna. Por exemplo:

z
6
: z = s(x, y)
q q

q q q
1 z = `(x, y)
q

y -
a y
q
q
x q q
b q
¼ - y = g(x)
x
° z=0
y = h(x)
z=0
Z b Z g(x) Z s(x,y)
dx dy f (x, y, z)dz
a h(x) `(x,y)

// //

Vejamos agora algumas propriedades das integrais múltiplas

16
1. Se f e g são integráveis sobre B e se a, b são números reais, então af + bg é integrável
sobre B e Z Z Z
(af + bg)dv = a f dv + b g dv
B B B

2. Se f ≥ 0 é integrável sobre B , então


Z
f dv ≥ 0
B

3. Se f e g são integráveis sobre B e f ≤ g sobre B , então:


Z Z
f dv ≤ g dv
B B

4. Se f é integrável sobre cada um dos conjuntos disjuntos B1 e B2 , então f é integrável


sobre B1 ∪ B2 e Z Z Z
f dv = f dv + f dv
B1 ∪B2 B1 B2

Observemos que isto generaliza a seguinte propriedade: (a ≤ c ≤ b)


Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
a a c

Exercı́cios resolvidos:
Z 2 Z 4−x2
1. Desenhe a região de integração referente à integral dx √
dy
−1 − 4−x2
Resolução: y6

q y = 4 − x2

−2 q−1 2 -
x

- y=− 4 − x2

2. Encontre o volume do sólido limitado pelos gráficos de x2 + y 2 = 9 e y 2 + z 2 = 9.

Resolução:
Notemos inicialmente que o gráfico de cada uma das equações representa um cilindro,

17
com eixo sendo um dos eixos coordenados e raio igual a 3. A representação da porção
do sólido situada no primeiro octante seria:

z
6

x2 + y 2 = 9
*
p
- z= 9 − y2
-
y 3 y

- y2 + z2 = 9
¼
x
p
Assim, calculando como volume sob o gráfico da função f (x, y) = 9 − y 2 temos:
Z 3 Z √9−y2 p
V = 8. dy 9 − y 2 dx = ....... = 144
0 0
Z 1 Z x Z 2 Z 1
3. (a) Desenhe a região de integração dx dy + dx dy
0 0 1 2−x

(b) Sem calcular, dê o valor da integral.

Resolução:
(a) y
6

1
¡@
¡ @
¡ @
¡ @
¡ @ -
1 2 x

(b) Observemos que a integral representa a área da região formada por dois triângulos
de base 1 e altura 1 e assim seu valor é 1.

4. Dada a expressão
Z Z √1−(x−1)2 Z Z √
2 0 3+ 1−y 2
dx dy + dy √ dx
0 0 −1 3− 1−y 2

Pede-se:

(a) Região de integração.

18
(b) Valor da integral.

Resolução:
(a)

y
6
r

r 2 3 4 -
1 x
r r
2 2
1 (x − 3) + y = 1

(b) Observemos que a integral representa a área da região anterior, a qual é igual a
área do circulo de raio 1, e assim o valor da integral é π.

5. Ache a massa do cilindro C a seguir, se a densidade em cada ponto é proporcional a


distância à base inferior.

Resolução:
Aproveitemos este exercı́cio para introduzir a Situação Geral:

Seja um sólido S, com densidade ρ(P ) no ponto P , sendo a função ρ contı́nua sobre S.
Por definição: Z
X
Massa = M = lim ρ(Pi )V ol(Ri ) = ρ dv
m(G)→0 S
i

z 1
Ri
6

- Pi

z
9 y
x

No caso particular de termos ρ(P ) ≡ K = constante podemos escrever:


Z Z
M= ρ dv = ρ dv = ρ.V ol(S)
S S

19
Voltando então ao caso do exercı́cio proposto temos: ρ(x, y, z) = Kz

z
6 C
µ

6
h
¾ r - ? -
y
ª
x - x2 + y 2 = r 2

Assim:
Z Z Z √ Z Z Z √ Z
r r2 −x2 h r r2 −x2 h
M= ρ(x, y, z)dxdydz = dx √
dy Kzdz = 4K dx dy zdz =
C −r − r2 −x2 0 0 0 0

Z Z √ Z r√
r r2 −x2
h2 1 2 1
= 4K dx dy = 2Kh2 r2 − x2 dx = 2Kh2
πr = Kh2 r2 π.
0 0 2 0 4 2
Z r√
Estamos usando a simetria do problema (da região e da função) e ainda que r2 − x2 dx
0
é igual a um quarto da área do circulo de raio r.

Exercı́cios propostos 1.2


Z 1 Z √
3 y
1. Desenhe a região de integração para a integral iterada: dy √
f (x, y)dx
0 y
Z
2. Calcule f dv para as seguintes escolhas de f e R
R

(a) f (x, y, z) = x+y+z

R : Cubo de vértices (0, 0, 0), (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1), (1, 0, 1), (0, 1, 1), (1, 1, 0)
e (1, 1, 1).

(b) f (x, y, z) = x2 yz

R : Tetraedro de vértices (0, 0, 0), (1, 0, 0), (1, 1, 0) e (1, 1, 1).

(c) f (x, y, z) = x + z

R : x2 + y 2 + z 2 ≤ 1, x ≥ 0, y ≥ 0, z ≥ 0.

20
3. Determinar o volume do sólido no 1o. octante limitado pelos planos coordenados e os
gráficos das equações: z = x2 + y 2 + 1 e 2x + y = 2.

4. Justifique as desigualdades:
Z
(a) 0 ≤ (x2 + y 2 )dx dy ≤ 30 R : [0, 1] × [0, 3].
R

Z  0≤x≤1
4 4e2
(b) ≤ exy dx dy ≤ R :
3 R 3  0 ≤ y ≤ 1 + x2
Z
−16 2 −y 2 −z 2
(c) 84 π e ≤ e−x dx dy dz ≤ 84 π e−1 R : 1 ≤ x2 + y 2 + z 2 ≤ 16.
R

Se D é a região triangular limitada pelas retas 2y = x, y = 2x e x = π, calcule


5. Z
sen y dA.
D

Seja D o conjunto de pontos (x, y) ∈ R2 , tais que x ≥ 0, y ≥ x2 e y ≤ 2 − x2 . Calcule


6. Z

xy dA.
D

7. Ao se estabelecer a integral dupla que dará o volume V sob o parabolóide z = x2 + y 2


e acima de uma certa região R do plano xy, chegou-se a seguinte expressão:
Z 1 Z y Z 2 Z 2−y
2 2
V = dy (x + y )dx + dy (x2 + y 2 )dx .
0 0 1 0

Desenhe a região R.

8. Ache a área da região do plano xy limitada pelos gráficos de x = y 3 , x + y = 2 e


y = 0, desenhada abaixo.
y6

@
@
@q
@
@
@
@
@ -
@ x

9. Justifique a afirmação, usando as propriedades conhecidas das integrais:

21
Se f é contı́nua em uma região limitada R ⊂ R2 com fronteira de R contida em um
número finito de conjuntos suaves, então:
¯Z ¯ Z
¯ ¯
¯ f (x, y)dx dy ¯ ≤ |f (x, y)| dx dy
¯ ¯
R R

Z
10. Calcule a integral x dx dy onde B é o conjunto representado a seguir:
B

y6

(0,1) r r(1,1) r(2,1)


¡
¡ ¡
¡
¡ ¡
¡ ¡
r
¡ r¡ r -
(1,0) (2,0) x

11. Responda, justificando:

(a) Seja f : R2 → R definida por



 1

 1 , se x 6= , n∈N
n
f (x, y) =

 1 , se x = 1 , n ∈ N

n n
1
Considere B = [ , 1 ] × [ 0, 2 ].
Z 4
3
Então, f dA = .
B 2
Z ½ ¾
−4 −x2 −y 2 2 x2 2
(b) 2 π e ≤ e dx dy ≤ 2π , onde R = (x, y) ∈ R / +y ≤1 .
R 4
½µ ¶ ¾
√ 1 1
(c) V (B) = 2 , onde B = , / n ∈ N ∪ {(0, 0)}.
n n

1.3 Mudança de Variáveis


A troca de variáveis para integrais 1-dimensionais é dada por:
Z φ(b) Z b
f (x)dx = f (φ(u))φ0 (u)du (x = φ(u))
φ(a) a

22
Este resultado será estendido para dimensões mais altas.
Num espaço n-dimensional, uma troca de variáveis é efetuada por uma transformação
T
Rn −→ Rn .
No que se segue, é mais conveniente tomar o espaço domı́nio e o espaço de chegada como
distintos. Assim, consideramos T como uma transformação de uma cópia do Rn (a qual
chamamos de U n ), em outra do Rn (a qual continuaremos chamando de Rn ), e escrevemos
T (u) = x , onde u ∈ U n e x ∈ Rn .

T
Teorema 1.3.1. (Mudança de Variáveis) Seja A ⊂ U n −→ Rn uma transformação de classe
C 1 . Seja B um subconjunto limitado de U n , tendo sua fronteira contida em um número
finito de conjuntos suaves. Suponhamos que B e sua fronteira estejam contidos no interior
do domı́nio de T e que:

(i) T é injetora em B.

(ii) det J(T ) 6= 0 para todo ponto de B .

Então, se a função f é limitada e contı́nua sobre T (B), temos:


Z Z
f dv = (f ◦ T ) · | det J(T )| dv
T (B) B
q
q
q R
v 6 y6

B T - f -
T (B)
q
q
- - q
u x

Observação: O teorema ainda é verdadeiro se as condições (i) e (ii) não são verdadeiras
em um conjunto de volume nulo.

Exemplos:
Z
1. A integral (x + y)dx dy , onde P é o paralelogramo ilustrado abaixo, pode ser trans-
P
formada na integral sobre um retângulo:

23
v 6 y 6

(2, 1)
q T - (1, 1)q (3,
q
1)
¡ ¡
R ¡ P ¡
¡ ¡
- ¡ ¡ -
u x
f Rp
p p
?

p
p p

(x, y) = T (u, v) = (u + v , v)
¯ ¯
¯ ¯
¯ 1 1 ¯
¯
det J(T ) = ¯ ¯ = 1 6= 0
¯
¯ 0 1 ¯
T é injetora, T é de classe C 1 e T (R) = P .
Z Z Z 2 Z 1
(x + y)dx dy = [(u + v) + v] · 1 du dv = du (u + 2v)dv = ... = 4
P R 0 0

2. Calcular a área da região limitada pela elipse, conhecendo-se a do cı́rculo.

v y6
6

b T - b
C - E a -
b a u x

³a ´
(x, y) = T (u, v) = u, v
b
T é injetora, T é de classe C 1 e T (C) = E .
¯ ¯
¯ ¯
¯ a/b 0 ¯ a
¯
det J(T ) = ¯ ¯ = > 0.
¯
¯ 0 1 ¯ b
Pelo Teorema de Mudança de Variáveis
Z Z Z
a a a
dA = dA = dA = π b2 = π ab .
E C b b C b

24
x2 y 2
Logo, a área da região limitada pela elipse + 2 = 1 é π ab.
a2 b

3. Calcular a área da região P dada abaixo:

θ6 y6

(0,2)
(1, π2 ) (2, π2 ) T -
R P

- -
r (1,0) (2,0) x

Observe que T (r, θ) = (r cos θ , r sen θ) transforma o retângulo R do plano rθ no setor


P do plano xy .

T é de classe C 1 , T é injetora
¯ ¯
¯ ¯
¯ cos θ −r sen θ ¯
det J(T ) = ¯¯ ¯=r
¯
¯ sen θ r cos θ ¯
Z Z Z π/2 Z 2 Z π/2
3 3π
dA = 1 · |r| dA = dθ rdr = dθ = .
P R 0 1 0 2 4

Na realidade, o exemplo anterior envolve um dos casos mais importantes de trans-


formação de coordenadas, que é a transformação polar.

θ6 y6

r2 (θ)
r
θ2 P
B T -
θ r r r2 (θ) r r1 (θ)
r1 (θ)
θ1 Y
θ2 K θ1
- -
r x

(x, y) = T (r, θ) = (r cos θ , r sen θ) onde 0 ≤ r e 0 ≤ θ < 2π .

T é de classe C 1 e injetora (exceto em um conjunto de área nula)

25
¯ ¯
¯ ¯
¯ cos θ −r sen θ ¯
det J(T ) = ¯¯ ¯=r
¯
¯ sen θ r cos θ ¯

∴ det J(T ) é não nulo, exceto em um conjunto de área nula.

A fórmula de mudança fica:


Z Z Z θ2 Z r2 (θ)
f (x, y)dx dy = f (r cos θ , r sen θ)rd rd θ = dθ f (r cos θ , r sen θ)r d r .
P B θ1 r1 (θ)

Observemos a seguir como a transformação polar atua:

θ6 y6
Y
± θ2
T -
θ2 r2

θ1
r1* ] θ1
- °
¼ -
r1 r2 r x

Exercı́cios resolvidos:
Z
1. Determinar y dx dy , onde D é o setor circular mostrado abaixo.
D
Resolução:
y6
Z Z 2π/3 Z a (0, a)
y dx dy = dθ r sen θ r d r =
D π/3 0 D
Z 2π/3
a3 a3
= sen θ d θ = · · · = µ I π
π/3 3 3 π
3 3
-

2. Calcule o volume do sólido D cuja base está no plano xy , sendo delimitada pelas curvas
x2 + y 2 = 1 e x2 + y 2 = 4 (x ≥ 0 , y ≥ 0) e cuja parte superior está no plano z = x + y,
tendo as faces laterais ortogonais ao plano xy .

Resolução:

26
z6
y6

1
B y
z=x+y
Y

-
1 2 x

j
x
Z Z π/2 Z 2
14
V = (x + y)dx dy = dθ (r cos θ + r sen θ)r d r = ... =
B 0 1 3

3. Calcular a área de um laço da figura r = sen 3θ.


Resolução:

Precisamos ter sen 3θ ≥ 0. Assim: 6

2kπ ≤ 3θ ≤ 2kπ + π
2 2 π
kπ ≤ θ ≤ kπ + D
3 3 3
π -
k=0 0≤θ≤
3

k=1 ≤θ≤π
3
4π 5π
k=2 ≤θ≤
3 3

Z Z π/3 Z sen 3θ Z π/3


sen2 3θ π
dx dy = dθ rdr = dθ = · · · =
D 0 0 0 2 12
1
Lembrar: sen2 u = (1 − cos 2u)
2
Z p
4. Calcular x2 + y 2 dx dy , onde D é o domı́nio do plano xy limitado por x2 + y 2 = 4
D
e x2 + y 2 = 9.
Resolução:

27
y6 z
6

2 3 -
x -
y
ª
x

Z p Z 2π Z 3 Z 2π
19 38
x2 + y2 dx dy = dθ rrdr = dθ = π
D 0 2 0 3 3
5. Determinar os extremos de integração onde R é o hemisfério x2 + y 2 + z 2 ≤ 1, z ≥ 0 .
Resolução:

z
6
1 z 2 = 1 − x2 − y 2

r (−1,0,0)
r
-
r - x + y2 = 1
2
r
(1,0,0) z=0

ªx

Z Z 1 Z √
1−x2 Z √1−x2 −y2
f (x, y, z)dv = dx √
dy f (x, y, z)dz
R −1 − 1−x2 0

6. Determinar o volume compreendido entre as superfı́cies z = 8 − x2 − y 2 e z = x2 + 3y 2


Resolução:

z z6
6
(0, 0, 8)
z = 8 − x2 − y 2
- z = x2 + 3y 2 µ

) q
x
y q
x +
y

28
z
6

q
z = x2 + 3y 2
µ
q

z = 8 − x2 − y 2
6 q 4 3

-
−2
√q
2 x
2
: x2 + 2y 2 = 4
z=0
¼
y
Se um ponto (x, y, z) está na intersecção então:

x2 + 3y 2 = 8 − x2 − y 2 =⇒ x2 + 2y 2 = 4

Assim a curva interseção se projeta em x2 + 2y 2 = 4, z = 0.

Z 2 Z √(4−x2 )/2 Z 8−x2 −y 2


V = dx √ dy dz =
−2 − (4−x2 )/2 x2 +3y 2

Z 2 Z √(4−x2 )/2
= dx √ (8 − 2x2 − 4y 2 ) dy =
−2 − (4−x2 )/2

Z " µ ¶3/2 #
2 p 8 4 − x2
= 2(8 − 2x2 ) (4 − x2 )/2 − dx =
−2 3 2

Z µ ¶3/2 √ Z 2
2
16 4 − x2 2 √
= dx = 4 (4 − x2 )3/2 dx = · · · = 8π 2
−2 3 2 3 −2

Lembre-se: você pode fazer uma substituição trigonométrica para resolver a integral.

// //

Vamos agora estudar dois tipos particulares de transformações as quais são usadas muito
freqüentemente.

29
Transformação Cilı́ndrica
Consideremos a transformação:
(x, y, z) = Tc (r, θ, z) = (r cos θ , r sen θ , z)
¯ ¯
¯ ¯
¯ cos θ −r sen θ 0 ¯
¯ ¯
¯ ¯
det J(Tc ) = ¯ sen θ r cos θ 0 ¯ = r
¯ ¯
¯ ¯
¯ 0 0 1 ¯

Notemos que:
(i) Tc é de classe C 1 .
(ii)Tc é injetora (exceto em conjunto de volume nulo - r = 0).
(iii) det JTc ) 6= 0 (exceto em conjunto de volume nulo - r = 0)
z6
rP
z6

q z

z @
1 z
y θ @@r
ª @r
x
ª
x
Exemplo:
Z
Calcular f (x, y, z)dv , onde f (x, y, z) = 4xy e R é a região cilı́ndrica x2 + y 2 ≤ 1,
R
0 ≤ z ≤ 1.

Z Z 2π Z 1 Z 1
4xydv = dθ dr 4r2 sen θ cos θ r d z =
R 0 0 0
Z ¯2π

u = sen θ sen2 θ ¯¯
= sen θ cos θ d θ ========= =0
0 2 ¯0

A figura geral a seguir informa qual é o efeito provocado pela atuação da transformação
cilı́ndrica:

30
z Tc z
6 z 6

z2 z2
¡ ¡
z1 ¡ ¡ z1
¡
¡
¡ θ1 θ2 - ¡ -
¡ θ ¡* y
¡ θ2 *
r1 ¡ ¡
¡ ¡ ¡ θ1
r2 ¡ ¡ ¡ ¡
¡ ¡

ª ¡
¡
ªx

A segunda transformação a merecer um destaque especial seria a

Transformação Esférica
Consideremos a transformação:

(x, y, z) = Te (ρ, ψ, θ) = (ρ sen ψ cos θ , ρ sen ψ sen θ , ρ cos ψ)


¯ ¯
¯ ¯
¯ sen ψ cos θ ρ cos ψ cos θ −ρ sen ψ sen θ ¯
¯ ¯
¯ ¯
det J(Te ) = ¯ sen ψ senθ ρ cos ψ sen θ ρ sen ψ cos θ ¯ = · · · = ρ2 sen ψ
¯ ¯
¯ ¯
¯ cos ψ −ρ sen ψ 0 ¯
Notemos que:
(i) Te é de classe C 1 .
(ii)Te é injetora (exceto em conjunto de volume nulo - ρ = 0).
(iii) det JTe ) 6= 0 (exceto em conjunto de volume nulo- ρ = 0 ou ψ = 0 ou ψ = π)
z6
rP

ψ ρ
? z

@
* z
θ @@ y
@r

ª
x

31
Exemplo
Z 1:
Calcular f (x, y, z)dv , onde f (x, y, z) = z 2 e B é a região x2 + y 2 + z 2 ≤ 1.
B

Z Z 2π Z π Z 1
2 4π
z dv = dθ dψ ρ2 cos2 ψρ2 sen ψ d ρ = · · · =
B 0 0 0 15

Exemplo 2:
Calcular o volume comum à esfera ρ = a e ao cone ψ = α (Veja figura a seguir)

Z 2π Z α Z a 6
V = dθ dψ ρ2 sen ψ d ρ =
0 0 0

Z 2π Z α
α
9
= dθ sen ψ d ψ =
0 0

Z 2π
:
a3 9 a
= (1 − cos α)dθ =
0 3

a3 +x yj
= 2π (1 − cos α) .
3

Observemos os casos particulares:


π a3
α = → hemisfério V = 2π
2 3
4 3
α = π → esfera V = πa
3

A figura geral a seguir informa qual é o efeito provocado pela atuação da transformação
esférica:

θ6 Te z
6
z

θ2
¡ ¡
θ1 ¡ ¡ ψ1
U
¡
¡ ρ1 Á
¡ ψ1 ψ2 - -
¡ ψ ¡ * y
ρ1 ¡ ¡ θ2 *
¡ ¡ ¡ ¡ θ1
ρ2 ¡ ¡ ¡ ¡
¡ ¡
¡
ª
ρ ¡
ª
x

32
Exercı́cios propostos 1.3

1. Calcule a área da imagem da região retangular com vértices (0, 0), (0, 1), (2, 0) e (2, 1),
sob a transformação

   
2 3 u
(x, y) = T (u, v) =    
2 1 v

2. Seja (x, y) = T (r, θ) = (r cos θ , rsen θ).


³ π ´ ³π ´
(a) Desenhe a imagem, sob T , da região quadrada de vértices (0, 0), 0, , ,0
³π π ´ 2 2
e , .
2 2
(b) Qual é a área da região desenhada em (a) ?

3. Prove que a transformação T : U 3 → R3 dada por (x, y, z) = T (u, v, w) = (u , u +


v , u + v + w), não altera o volume de regiões correspondentes.

4. Ache o volume do sólido V limitado pelo parabolóide z = 4 − x2 − y 2 e pelo plano xy .

Sugestão: Coordenada polar.

5. Calcule:
(a) O volume da região abaixo do plano z = 2 + x + y para x2 + y 2 ≤ 1.
h p 2
(b) O volume do cone sólido acima da superfı́cie z = x + y 2 e abaixo do plano
a
z = h; para h , a > 0 .

6. Avaliar com a ajuda de coordenadas polares:


Z p
(a) x2 + y 2 dx dy R : x2 + y 2 ≤ 4
R

 √
Z  0≤y≤ 2

(b) xy dx dy R: 2
R 
 p
y ≤ x ≤ 1 − y2

Z  π
 0≤θ≤
(c) r2 cos θ dr dθ R: 2
R 
 1 ≤ r ≤ 1 + sen θ

33
7. Avaliar com a ajuda de coordenadas cilı́ndricas:
Z
(a) xy dx dy dz R : x2 + y 2 ≤ 1, x ≥ 0, y ≥ 0, 0 ≤ z ≤ 1
R



 0≤r≤1
Z 


(b) r2 dr dθ dz R: 0≤θ≤π
R 




0 ≤ z ≤ r sen θ

8. Avaliar com a ajuda de coordenadas esféricas:


Z
(a) (x2 + y 2 + z 2 )3/2 dx dy dz R : x2 + y 2 + z 2 ≤ 1
R


 0≤ρ≤1


Z 

π
(b) ρ cos(ψ + θ)dρ dψ dθ R: 0≤θ≤
R 
 2



 0≤ψ≤θ

9. Seja a transformação T (u, v) = (u + v , u2 − v) = (x, y). Considere R a região limitada


pelo eixo u, pelo eixo v e pela reta u + v = 2.

(a) Desenhe T (R).


Z
1
(b) Calcule √ dx dy
T (R) 1 + 4x + 4y
10. Seja a transformação do plano xy no plano uv dada por:

(u, v) = T (x, y) = (x, y(1 + 2x))

(a) O que acontece com as retas horizontais do plano xy ?

(b) Se R é a região retangular 0 ≤ x ≤ 3, 1 ≤ y ≤ 3 ache T (R) = D.


Z
(c) Calcule du dv diretamente e depois usando mudança de variáveis.
D

11. Faz-se um orifı́cio circular em uma esfera, sendo que o eixo do orifı́cio coincide com o
diâmetro da esfera. O volume do sólido resultante é dado por:
Z Z Z √
2π 2 4−r2
V =2 dθ dr r dz .
0 1 0

34
(a) Por observação da integral acima determine o raio do orifı́cio e o raio da esfera.

(b) Calcule o valor da integral.

12. Ache o volume de uma cunha formada pelo cilindro x2 + y 2 = 4 e pelos planos z = 0 e
z = 2y, no semi-espaço z ≥ 0.
Z
1
13. Calcule p dx dy onde B é a região hachurada abaixo:
B x + y2
2

y6

9
r = 4 sen θ

r=2
M
-
x

14. Considere a transformação T (u, v) = (u2 − v 2 , 2uv) = (x, y).

(a) Qual é a imagem, por T , da região mostrada a seguir.


Z
(b) Calcular x dx dy
T (R)
v6

1
R
1 2 -
u

−1

15. Considere a transformação T (u, v) = (eu cos v , eu sen v) = (x, y).

(a) Qual é a imagem, por T , da região mostrada a seguir.

35
(b) Calcular a área da região T (R).

v6

π R
2

r -
1 u

16. Calcular o volume compreendido entre as superfı́cies z = x2 + y 2 e z = 8 − x2 − y 2 .


2
17. Calcular o volume do sólido delimitado por z = ey , z = 0 , x = 0 , y = 3 e 3x = y.

1.4 Algumas Aplicações


Já usamos as integrais múltiplas para calcular áreas de figuras planas e volumes de sólidos.
Vejamos agora outras aplicações.

1.4.1 Densidade - Centro de Massa


Introdução:
Consideremos ` uma reta coordenada e P um ponto sobre ` , de coordenada x . Se uma partı́cula de
massa m é colocada em P , então o momento da partı́cula em relação à origem O é definido como o produto
mx . Consideremos uma “balança” do tipo desenhado abaixo, onde duas partı́culas de massas m1 e m2 estão
localizadas em pontos com coordenadas x1 e x2 , respectivamente, sendo x1 > 0 e x2 < 0. Então o sistema é
dito em equilı́brio se m1 x1 = m2 |x2 | , ou seja, m1 x1 = −m2 x2 , ou ainda, m1 x1 + m2 x2 = 0, isto é, a soma
dos momentos em relação à origem é zero.
m2 0 m1
r r -
x2 N x1

Em geral:
Se n partı́culas de massas m1 , . . . , mn estão localizadas em pontos de ` com coordenadas x1 , . . . , xn ,
Pn
respectivamente, então a soma dos momentos i=1 mi xi é chamada o momento do sistema em relação à
origem.
Pn
Seja m = i=1 mi a massa total dos sistema. Definimos:
Pn Xn
mi x i
(∗) x = i=1 ou mx = mi x i
m i=1

36
O número mx é o momento, em relação à origem, de uma partı́cula de massa m localizada no ponto de
coordenada x . A fórmula (∗) dá a posição x na qual toda a massa m pode ser concentrada sem trocar o
momento do sistema em relação à origem. O ponto P com coordenada x é chamado o centro de massa do
sistema.
P
Se x = 0, então i mi xi = 0 e o sistema é dito em equilı́brio. Neste caso, a origem é o centro de massa.

O conceito anterior pode ser estendido para dimensão 2, como segue:


Sejam n partı́culas de massas m1 , . . . , mn , localizadas em pontos P1 = (x1 , y1 ), . . . , Pn = (xn , yn ),
respectivamente, sobre um plano coordenado. Os momentos Mx e My do sistema em relação aos eixos x e
y , respectivamente, são definidos por:
n
X n
X
Mx = mi yi My = mi xi
i=1 i=1
P
Se m denota a massa total do sistema (m = i mi ), então o centro de massa do sistema é o ponto
P = (x, y), dado por:

(∗∗) mx = My e my = Mx

Observe que se tivermos uma partı́cula de massa m localizada no ponto P = (x, y), então o momento
em relação ao eixo y será mx e o momento em relação ao eixo x será my.
A fórmula (∗∗) dá a posição (x, y), na qual toda massa pode ser concentrada sem trocar os momentos
do sistema em relação aos eixos coordenados.
Se (x, y) = (0, 0), então Mx = My = 0 e o sistema é dito em equilı́brio. Neste caso a origem coincide
com o centro de massa. O centro de massa é o ponto pelo qual poderı́amos pendurar o sistema de modo que
ele fique em equilı́brio na horizontal.

Visualização: Suponhamos que num plano temos 5 partı́culas constituindo um “mobile” do tipo da
figura a seguir. Se quisermos através de um fio, prender este “mobile” ao teto, de maneira que o plano das
partı́culas fique na posição horizontal, deveremos prender o fio no centro de massa do sistema.

q q
q
q q

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Consideremos agora uma lâmina L com a forma da região D ao lado.

37
Suponhamos que a densidade no ponto (x, y)
y
seja dada por ρ(x, y), onde ρ é contı́nua sobre D . 6

Tomemos G uma rede cobrindo D .

Escolhemos pontos (xi , yi ) nos retângulos


D
coordenados Ri . Chamaremos de Li a parte
-
x
de L que corresponde a Ri . Desde que ρ

seja contı́nua, uma pequena troca em (x, y) produz uma pequena troca na densidade ρ(x, y),
isto é, ρ é quase constante sobre Ri , quando m(G) → 0. Assim, se m(G) → 0, então a
P
massa de Li pode ser aproximada por ρ(xi , yi ) · A(Ri ). A soma i ρ(xi , yi ) · A(Ri ) é uma
aproximação da massa de L . A massa M de L é definida como:
X Z
M = lim ρ(xi , yi )A(Ri ) = ρ(x, y)dA
m(G)→0 D
i

Em particular, se a distribuição de massa M for homogênea, isto é, ρ(x, y) = c, então:


Z
M =c dA = c · (área de D )
D

Ainda: a densidade média da lâmina L é


Z
ρ(x, y)dA
massa
ρ= = D Z
área
dA
D

Se a massa de Li é suposta concentrada em (xi , yi ) então o momento de Li em relação ao


eixo x é yi ρ(xi , yi )A(Ri ). O momento Mx de L em relação ao eixo x é definido como o limite
de tais somas, isto é:
X Z
(∗∗) Mx = lim yi · ρ(xi , yi ) · A(Ri ) = y · ρ(x, y)dA
m(G)→0 D
i

Analogamente:
X Z
My = lim xi · ρ(xi , yi ) · A(Ri ) = x · ρ(x, y)dA
m(G)→0 D
i

Ainda, o centro de massa da lâmina L é o ponto (x, y), tal que:


My Mx
x= e y=
M M

38
Substituindo, temos:
Z Z
x · ρ(x, y)dA y · ρ(x, y)dA
x= Z
D
e y= Z
D

ρ(x, y)dA ρ(x, y)dA


D D

No caso particular em que a densidade ρ(x, y) é constante, as expressões acima se reduzem


a: Z Z
x dA y dA
x= ZD e y= ZD
dA dA
D D
Neste caso , o centro de massa é denominado centróide. Observe que independe do valor
c = ρ(x, y). Deste modo, ele pode ser pensado como um conceito geométrico associado
unicamente à forma da região A , independendo da distribuição de massa.

Exercı́cios resolvidos:

1. Ache o centróide de uma lâmina que ocupa a região D, delimitada pelos gráficos de
y + x2 = 6 e y + 2x − 3 = 0.
Resolução:
Z 3
32 y6
A(R) = ((6 − x2 ) − (3 − 2x))dx = · · · =
−1 3
Z Z 3 Z 6−x2
y dA = dx y dy =
D −1 3−2x (−1, 5) r
Z 3
2 416 R
= ((6 − x2 ) − (3 − 2x)2 )dx = · · · =
−1 15
-
x
r (3, −3)
416/15 13
Logo, y = =
32/3 5
Z Z 3 Z 6−x2 Z 3 £ ¤ 32
x dA = dx x dy = x (6 − x2 ) − (3 − 2x)) dx = · · · =
D −1 3−2x −1 3

32/3
Assim x = =1
32/3
µ ¶
13
∴ Centro de Massa é 1, .
5

39
2. Determine o centróide de uma lâmina que ocupa a região R do semicı́rculo
x2 + y 2 ≤ 1, y ≥ 0.
Resolução:
Por simetria sabemos que o centróide está situado sobre o eixo y, ou seja é da forma
C = (0, y).
π
Sabemos também que A(R) =
2
Z Z Z ¯π ¯1
π 1 ¯ r3 ¯
y dA = ¯
(rsen θ)rdrdθ = (− cos θ) ¯ . ( ) ¯ = (1 + 1) . 1 = 2 .
3 ¯ 3 3
R 0 0 0 0

Z
y dA 2
4
Assim temos: y = ZD = 3
π =

dA 2
D
µ ¶
4
Logo, o centro de massa é o ponto 0,

Exercı́cio proposto:
Determine o centro de massa de uma lâmina com a forma do setor circular abaixo, sendo
que a densidade é ρ(x, y) = 5.
µ ¶
2a y6
Resposta: 0, .
π
(0, a)
> }
D
π π
3 3
-

1.4.2 Momento de Inércia

Suponhamos dadas uma reta s e massas m1 , m2 , . . . , mn localizadas nos pontos P1 , . . . , Pn ,

40
no plano R2 . Denotemos por d1 , . . . , dn as ¡s ¡
m1 ¡
r
distâncias desses pontos à reta s . Ao número m3 d1 ¡
r
n d3 ¡
X ¡
real Is = mi d2i costumamos chamar de ¡ d2
i=1 ¡
¡ r
momento de inércia do sistema em relação ¡ m2
¡
à reta s . ¡
n
X
Em particular, se a reta s é o eixo dos x , temos Ix = mi yi2 , onde Pi = (xi , yi ).
i=1
n
X
Analogamente Iy = mi x2i .
i=1

Este conceito pode ser estendido para lâminas usando o processo limite das integrais
duplas. Se L é uma lâmina do tipo usado na seção anterior e se ρ(x, y) é a densidade em
(x, y), onde ρ é contı́nua , então é natural definir o momento de inércia Ix de L com relação
ao eixo x trocando yi por yi2 em (∗∗). Assim,
X Z
Ix = lim yi2 · ρ(xi , yi ) · A(Ri ) = y 2 · ρ(x, y)dA
m(G)→0 D
i

Analogamente,
X Z
Iy = lim x2i · ρ(xi , yi ) · A(Ri ) = x2 · ρ(x, y)dA
m(G)→0 D
i

Se multiplicarmos ρ(xi , yi ) · A(Ri ) por x2i + yi2 que é o quadrado da distância do ponto
(xi , yi ) à origem e tomarmos o limite de somas constituidos por tais termos, obtemos o
momento de inércia I0 de L com relação à origem. Assim,
Z
I0 = (x2 + y 2 )ρ(x, y)dA
D

I0 é também chamado momento de inércia polar da lâmina L em relação à origem. Observe


que I0 = Ix + Iy .

Exemplo:
Uma lâmina delgada de densidade constante ocupa a região mostrada abaixo. Calcule o
seu momento de inércia polar em relação a 0 .

41
Z y6
I0 = (x2 + y 2 )ρ dA =
R

Z Z Z ¯2 R
2π 2
2

r4 ¯¯
= dθ r ρr dr = ρ dθ =
0 1 0 4 ¯1 r 1r r2 -
x
Z 2
15 15π
= ρ dθ = ρ · .
0 4 2

Observação: Quando uma partı́cula de massa m gira ao redor de um eixo, num cı́rculo de
raio r , com velocidade angular w e velocidade v(v = wr), sua energia cinética é:

¡
¡
¡
¡
¡
¡
1 1 ¡
Ec = mv 2 = mw2 r2
2 2 ¡¡K
r
¡
¡
¡ Us µ
¡ m
¡

Se um sistema de partı́culas de massas m1 , . . . , mn gira em torno do mesmo eixo com a


mesma velocidade angular, w , as distâncias ao eixo sendo r1 , . . . , rn , respectivamente, então
a energia do sistema é
n n
1X 1 X 1
Ec = mi vi2 = w2 mi ri2 = w2 I ,
2 i=1 2 i=1
2

n
X
onde I = mi ri2 é o momento de inércia em relação ao eixo.
i=1
A energia cinética de um sistema em rotação é a quantidade de trabalho necessária para
fazer o sistema parar. Em certo sentido, o momento de inércia de um grande eixo é que torna
difı́cil iniciar ou fazer cessar a rotação do eixo.
Além de sua importância em relação à energia cinética dos corpos com movimento gi-
ratório, o momento de inércia é também usado na teoria de deflexão de vigas sob a ação de
carga transversa, onde o “fator de rigidez”da viga é dado por E.I , sendo E o módulo de

42
Young e I o momento de inércia de uma secção transversa da viga em relação a um eixo
horizontal passando por seu centro de massa. Quanto maior for o valor de I , mais rı́gida
será a viga e menor a deflexão. Utiliza-se este fato nas chamadas “vigas em I”, nas quais
as flanges acham-se a distâncias relativamente grandes do centro, e correspondem, portanto,
Xn
a grandes valores de r2 na equação I = mi ri2 , contribuindo assim para o momento de
i=1
inércia, mais do que no caso de a secção transversa ser quadrada.
Os momentos também são usados em estatı́stica. O segundo momento (que corresponde
ao momento de inércia) é usado no cálculo do desvio padrão.

Exercı́cios resolvidos:

1. Uma chapa delgada, de espessura e densidade uniformes cobre a região do plano xy


situada entre y = x2 e y = x + 2. Calcular seu momento de inércia em relação ao
eixo y .
Resolução:
Z 2 Z y6
x+2
Iy = dx x2 · δ dy = r
−1 x2 (2, 4)
Z ¯x+2
2 ¯
2 ¯
= δ x y¯ dx =
−1 2 x
Z 2 (−1, 1) r
63
= δ (x3 + 2x2 − x4 )dx = δ
−1 20 -
x

2. Determinar o centro de massa de uma placa delgada, de espessura e densidade unifor-


mes, que está sobre a região do plano xy limitada pelas retas y = 1, x = 2 e y = 0 e
pela parábola y = x2 .
Resolução:

43
Z Z
xρ dA x dA y6
x = ZA = ZA
ρ dA dA y = x2
A A

Z Z 1 Z 2
4
dA = dy dx = · · · = 1
A 0

y 3
Z Z 1 Z 2
7
x dA = dy x dx = · · · = 2 -
A 0

y 4 x
21
∴ x= .
16
9
Analogamente, y =
20
µ ¶
21 9
∴ Centro de gravidade: , .
16 20
3
3. Ache o centro de massa de uma lâmina quadrada ABCD, de lado , sabendo que a
2
densidade em qualquer ponto P é o produto das distâncias de P a AB e a BC .
Resolução:

Escolhemos um sistema de coordenadas como na figura. Temos que ρ(x, y) = xy

Z Z y6
3/2 3/2
81
M = dy xy dx = · · · =
0 0 64
Z Z
3/2 3/2
81 3/2
Mx = dy xy 2 dx = · · · =
0 0 64 1 r
Z 3/2 Z 3/2
81
My = dy x2 y dx = · · · =
0 0 64 -
1 3/2 x
Assim, (x, y) = (1, 1) é o centro de massa.

4. Ache o centro de massa de uma lâmina semicircular, sendo a densidade da lâmina em

44
y6
qualquer ponto P proporcional à distância entre

P e o centro do cı́rculo.

Resolução:

Escolhemos um sistema de coordenadas polares, r -


a x
com o semicı́rculo tendo equação

r = a (0 ≤ θ ≤ π)

Temos ρ(r, θ) = kr , para alguma constante k .


Z π Z a Z
k · a3 π πk · a3
M = dθ (kr)r dr = dθ =
0 0 3 0 3
Z π Z a Z
k · a4 π k · a4
Mx = dθ (kr) · r sen θ · r dr = senθ dθ =
0 0 4 0 2

π
Por simetria, temos que o centro de massa encontra-se sobre o raio θ = , ou seja,
2
My = 0 .
µ ¶ µ ¶
3a 3a π
Logo, (x, y) = 0, ou em coordenadas polares , .
2π 2π 2

Exercı́cios propostos:

1. Uma lâmina tem a forma de um triângulo retângulo isósceles, cujos lados iguais medem
a . Ache o centro de massa, sabendo que a densidade num ponto P é diretamente
proporcional ao quadrado da distância de P ao vértice oposto à hipotenusa.

y6
Resposta: na situação ao lado
a
@
@
o centro de massa é @
@
µ ¶ @
2a 2a @
, . @
5 5 @
@ -
a x

45
2. Calcular o momento de inércia, em relação ao eixo x , de uma lâmina situada entre as
curvas x = y 2 e x = 2y − y 2 , sendo que a densidade em (x, y) é ρ(x, y) = y + 1.

1
Resposta:
6

// //

Tudo o que foi visto nas seções anteriores generaliza-se para sólidos, usando-se integrais
triplas.
Se um sólido tem o formato de uma certa região 3-dimensional Q e se a densidade no
ponto (x, y, z) é ρ(x, y, z), então analogamente ao visto anteriormente, a massa é dada por:
Z
M= ρ(x, y, z)dv .
Q

Se temos uma partı́cula de massa m num ponto (x, y, z), então seus momentos com relação
aos planos xy, xz e yz são definidos como zm, ym e xm, respectivamente. Usando os mesmos
tipos de argumentos utilizados anteriormente definimos os momentos do sólido em relação aos
planos coordenados como sendo:
Z
Mxy = z · ρ(x, y, z)dv
Q
Z
Myz = x · ρ(x, y, z)dv
Q
Z
Mxz = y · ρ(x, y, z)dv
Q

O centro de massa é o ponto (x, y, z), onde

Myz Mxz Mxz


x= y= z=
M M M

Quando ρ(x, y, z) ≡ C , então o centro de massa é chamado centróide. Observemos que


ele

46
independe do valor de ρ(x, y, z). z6

Se uma partı́cula de massa m está


r
no ponto (x, y, z), então seu momento ]
z
de inércia em relação ao eixo y é
^
2 2
(x + z )m. x z
y y
¼x

Novamente aqui somos levados a definir


Z
Iy = (x2 + z 2 )ρ(x, y, z)dv
Q

Analogamente, temos:
Z
Ix = (y 2 + z 2 )ρ(x, y, z)dv
Q
Z
Iz = (x2 + y 2 )ρ(x, y, z)dv
Q

Exemplo:
Considere o sólido com o formato dado abaixo. Ache o seu centro de massa e o momento
de inércia em relação ao eixo z . (ρ(x, y, z) = 1).
Z Z 2π Z 1 Z 1
z6
M = 1dv = dθ dr rdz =
S 0 0 r
Z 2π Z 1 1©©
©
= dθ r(1 − r)dr = © r
©©
0 0
Z 2π µ ¶ S r
1 1 π
= − dθ =
0 2 3 3
XX© ©
Z Z Z Z © © XXXX 1
2π 1 1 XXX
Mxy = zdv = dθ dr zrdz = ©©
©
¼ y
X
z
x
S 0 0 r
Z 2π Z 1 Z 2π
1 3 1 1 1 1 π
= dθ (r − r )dr = dθ = · · 2π =
2 0 0 2 0 4 2 4 4
π/4 3
Logo, z = = .
π/3 4
Por simetria x = y = 0
µ ¶
3
∴ centro de massa: 0, 0, .
4

47
Z Z 2π Z 1 Z 1
2 2
Iz = (x + y )dv = dθ dr r2 · rdz =
S 0 0 r
Z 2π Z 1 Z 2π
1 π
= dθ r3 (1 − r)dr = dθ =
0 0 0 20 10

Exercı́cios propostos:

1. Encontrar o centro de massa da pirâmide homogênea de base delimitada pelas retas


x = 1, x = −1, y = 1, y = −1 no plano z = 0, e cujo vértice é o ponto (0, 0, 1).
1
Resposta: ( 0, 0, ).
4

2. Use coordenadas cilı́ndricas para determinar o momento de inércia de uma esfera de


2
raio a e massa M , em relação a um diâmetro. Resposta: M a2 .
5
Z Z Z
3. Calcule x2 y 2 z dV , onde B é a bola de raio a e centro na origem do R3 .
B
Sugestão: Você pode calcular de uma maneira indireta. Resposta: 0

4. Está claro que se B é a bola de raio 1 e centro na origem então


Z Z Z
[3 + (x2 + y 2 + z 2 ) sin z]dV = 4π ?
B

Z Z
3
5. Calcule xy dA, onde B = [0, 1] × [1, 2]. Resposta: ln( )
B 2

48
NOTAS DE AULA

TRANSFORMAÇÕES

Cláudio Martins Mendes

Segundo Semestre de 2005


Sumário

1 Transformações 2
1.1 Transformações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1 Campos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.2 Fluxos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.1.3 Transformações Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2 Teorema da Função Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Teorema da Função Implı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

1
Capı́tulo 1

Transformações

Até aqui trabalhamos com funções f : R → R , f : R → Rn e f : Rn → R. Iremos


nesta secção iniciar uma generalização para f : Rn → Rm , para diferentes valores de n e
m. Algumas interpretações geométricas ou fı́sicas serão dadas para estes tipos de funções,
muitas vezes chamadas de transformações.

1.1 Transformações
Definição 1.1.1. Sejam A ⊂ Rm e B ⊂ Rn . Uma transformação de A em B é uma
correspondência que associa a cada elemento de A um único elemento de B .

Notação:
T
T :A→B ou A −→ B

Exemplos:

(1) T : R2 → R2
T (x, y) = (x, y 2 ) y6 y6

T-

- -
x x

2
(2) T : R2 → R2
T (x, y) = (2x , x + 2y)
Notemos que T leva retas em retas

y6 y6

T-

- -
x x

(3) T : R2 → R2
“enrola
T (x, y) = (sen x , cos xy , ex ) esticando
de fator a ”

ª y6
¾
comprimento
igual a 2π

(4) T : [0, 2π] → R2


Yt -
t 7→ ( a cos t , a sen t ) (a, 0) x

(5) Transformação de Kelvin ou Inversão


Seja C = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 = 1}.

Dado P 6= 0 , sua imagem f (P ) é o ponto Q sobre o raio OP , tal que


−→ −→
k OP k · k OQ k = 1 .

q
O “exterior” de C é levado no “interior” de C e vice-versa. P
Ela deixa invariante os pontos de C .
Ainda [kP k → ∞] =⇒ [f (P ) → 0]
q
[P → 0] =⇒ [kf (P )k → ∞] q Q
0
Seja P = (x, y). Vamos determinar as C
coordenadas de Q.

3
−→ −→
Temos que OQ = k. OP , k > 0 e que
−→ 1
k OQ k = −→ , P 6= 0 .
k OP k
−→ −→
Assim: k OQ k = kk OP k.
1 −→ 1 −→
Logo, −→ = kk OP k ⇐⇒ = k OP k2 = x2 + y 2 .
k OP k k

Então:
1
f (x, y) = (x, y).
x2 + y2

Mostre que f ◦ f = IdR2 −{0} , isto é, f = f −1 ( f é auto inversı́vel).

Calcule f (S) onde S = {(x, y) ∈ R2 / (x − 3)2 + y 2 = 1}.


Registramos aqui que esta transformação tem a propriedade de levar circunferências em
circunferências ou retas. (Veja alguns exemplos).

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

A cada transformação T : A ⊂ Rm → B ⊂ Rn correspondem n funções Ti : A ⊂ Rm → R,


i = 1, . . . , n, que são as funções coordenadas [T (P ) = (T1 (P ), . . . , Tn (P ))]. Reciprocamente,
dadas n funções Ti : A ⊂ Rm → R, a elas fica associada uma transformação T : A ⊂ Rm →
Rn , cujas funções coordenadas são as Ti .

Definição 1.1.2. Sejam T : A ⊂ Rm → Rn e P0 ∈ Rn um ponto de acumulação de A .


Então, lim T (P ) = L = (L1 , . . . , Ln ) se, e somente se, lim Ti (P ) = Li , i = 1, . . . , n.
P →P0 P →P0

Exemplos:

1. T : R2 → R2
T (x, y) = (2x + 1 , xy 2 )
lim T (x, y) = (lim 2x + 1 , lim xy 2 ) = (1, 0)
x→0 x→0 x→0
y→0 y→0
y→0

2. G : R2 − {(0, 0)} → R3
µ ¶
xy
G(x, y) = , x, x + y
x2 + y 2

4
@ lim G(x, y)
x→0
y→0

Definição 1.1.3. T : A ⊂ Rm → Rn é contı́nua em P0 se as funções coordenadas


Ti : A ⊂ Rm → R forem contı́nuas em P0 .

Exemplos:

1. A transformação do exemplo (1) anterior é contı́nua em (0, 0).

2. A transformação do exemplo (2) anterior não é contı́nua em (0, 0) (nem está definida
em (0, 0) ).

3. T : R2 → R2  Ã !

 xy

 px2 + y 2 , xy
 , (x, y) 6= (0, 0)
T (x, y) =




 (1, 0) , (x, y) = (0, 0)
T não é contı́nua em (0, 0).

Definição 1.1.4. T é diferenciável em P0 se, e somente se, as suas funções coordenadas o


forem. Além disso, definimos:
µ ¶
∂T ∂T1 ∂T2 ∂Tn
(P0 ) = (P0 ) , (P0 ) , . . . , (P0 )
∂xi ∂xi ∂xi ∂xi

Exemplo:
T (x, y) = (x3 , y 2 )
P0 = (0, 1)
µ ¶
∂T ∂x3 ∂y 2
(0, 1) = (0, 1) , (0, 1) = (0, 0)
∂x ∂x ∂x
µ 3 ¶
∂T ∂x ∂y 2
(0, 1) = (0, 1) , (0, 1) = (0, 2)
∂y ∂y ∂y

Composição de Transformações:
Sejam U ⊂ Rm , V ⊂ Rn e W ⊂ Rp e T : U → V , G : V → W .
Podemos então definir a transformação G ◦ T : U → W , dada por:

(G ◦ T )(P ) = G(T (P )) , ∀ P ∈ U .

5
Destacamos aqui a seguinte propriedade da composição:

T G H
U −→ V −→ W −→ K

(H ◦ G) ◦ T = H ◦ (G ◦ T ).

Transformação Inversa
Seja T : A → B. Diz-se que T tem inversa se existir uma transformação G : B → A, tal
que:
G ◦ T = IA e T ◦ G = IB .

1.1.1 Campos Vetoriais

Em muitas aplicações está associado a cada ponto P de uma certa região, um único vetor
tendo origem em P . A totalidade de tais vetores é chamada campo vetorial.

Exemplos:
(1) Campo de velocidade determinado pela rotação ¼
¼ ]
]
em torno de um ponto fixo. ¼
¼ ]
r]
?
A cada ponto corresponde um vetor-velocidade. ? ? j Á Á
? Á Á
j
(2) Campo de velocidade determinado pelo movimento j
j
de um fluido.

**
** *
* *
- - - **
- - -
- - -j
jj j
jj j
jj

(3) Campo de forças (campo elétrico, campo gravitacional, etc.) - os vetores representam
a força exercida pelo campo sobre uma unidade de carga ou de massa.

6
@ ¡
j @ ¡ ¼
R
@ N ° ¡
ª
q q ) )
- q ¾
1 1 i i

* µ
¡
¡ ± M @
I
@ Y
¡ @

Observação: Desenhamos acima apenas alguns poucos vetores dos campos. É importante
lembrar que a todo ponto da região está associado um vetor. Nas ilustrações acima assumimos
serem os vetores independentes do tempo. Campos com esta propriedade são chamados
campos de vetores steady ou estacionário.

Se introduzirmos um sistema retangular de coordenadas, então o vetor associado a


P = (x, y, z) pode ser denotado por T (x, y, z):

T (x, y, z) = T1 (x, y, z)~i + T2 (x, y, z)~j + T3 (x, y, z)~k =


= (T1 (x, y, z), T2 (x, y, z), T3 (x, y, z)) .

Reciprocamente, toda equação deste tipo determina um campo vetorial.


Logo: todo campo vetorial, no espaço, pode ser definido por uma transformação T : R3 →
R3 ( se os vetores dependerem do tempo, então teremos G : R4 → R3 ).
Exemplos:

(1) f (x, y) = 2x~i + y~j = (2x, y)

¡
µ
y ¡
6
¡
y Y q¡ * :
6
q q q q q
¾ q q - -
x
q q q q q
9 ¼ ? j z

7
y6
(2) Descreva o campo vetorial:
BMB
F (x, y) = −y~i + x~j = (−y, x) q B
»»»Y
9»»
» B
Seja P = (x, y) q q B
­ Bq
h F (P ) , OP~ i = 0 , logo F (x, y) está ­ q ­
Á
­ ­ -
sempre ortogonal ao vetor (x, y), e assim, ­ ­ x
À
­ ® q µ ­
q q­
é tangente ao cı́rculo de centro na origem e
p W
raio r = x2 + y 2 . Ainda qP
PP
p P PP
q
kF (x, y)k = y 2 + x2 = r .

Compare com o campo de velocidades dado no exemplo anterior.

(3) Descreva o campo vetorial:


c
T (x, y, z) = (x, y, z); c < 0, (x, y, z) 6= (0, 0, 0).
(x2 + + z 2 )3/2
y2
Observe que o sentido de T (x, y, z) é contrário ao de (x, y, z).
|c|
kT (x, y, z)k = 2 2 2 3/2
(x2 + y 2 + z 2 )1/2 =
(x + y + z )
|c|
= .
x2 + y2 + z2

Assim, o módulo de T (x, y, z) é inversamente proporcional ao quadrado da distância de


0 até o ponto (x, y, z).
Estes tipos de campos ocorrem em muitas aplicações. Vejamos, por exemplo:
Se uma partı́cula de massa M está colocada na origem, então a força de atração gravita-
cional sobre uma partı́cula de massa unitária colocada em P = (x, y, z) é de módulo
gM
x2 + y2 + z2
Então: µ ¶
gM (x, y, z)
F (x, y, z) = · − =
(x + y 2 + z 2 )
2 (x + y 2 + z 2 )1/2
2

gM
= − (x, y, z).
(x2 + y 2 + z 2 )3/2

8
z6

^
ª
°
s
z )
U ¼
-
* O y
y
K i

3 ±
I
Àx O

Um importante tipo de campo vetorial é o que se obtém usando o gradiente de uma função
escalar f de duas ou três variáveis.

∇f (x, y, z) = fx (x, y, z)~i + fy (x, y, z)~j + fz (x, y, z)~k .

Se um campo vetorial F é o gradiente de um campo escalar f , isto é,

F (x, y, z) = ∇f (x, y, z) ,

então F é chamado um campo vetorial conservativo e f (x, y, z) é chamado o potencial em


(x, y, z). A função f é chamada a função potencial de F .

1.1.2 Fluxos

Uma transformação f : R3 → R2 pode ser interpretada como um fluxo 2 dimensional da


seguinte maneira:
Um ponto (x, y, t) ∈ R3 é levado pela f num ponto (x0 , y 0 ) = f (x, y, t) ∈ R2 , onde (x, y) é
visto como a posição da partı́cula no R2 , no instante t = 0, e f (x, y, t) é a posição da mesma
partı́cula depois de um tempo t .
y6
Tomando (x, y) fixo e deixando t variar,
obtemos uma curva chamada a trajetória r
f (x,y,t)
do fluxo.
A famı́lia de todas as trajetórias determinada -
x
por f dá a representação geométrica do fluxo. r
(x,y)

Os vetores tangentes ft (x, y, t) para cada t fixado


9
formam um campo vetorial chamado o campo de velocidade do fluxo no tempo t .
Se o campo de velocidades de um fluxo é independente
de t , então o fluxo é chamado de steady ou estacionário.
ft (x,y,t)

Conforme mostra o exemplo a seguir, um µ

fluxo estacionário não é necessariamente um fluxo q


f (x,y,t)
para o qual a função ft (x, y, t) independe de t .
Veja ainda o exercı́cio (2) a seguir. r
(x,y)

Exemplo: Considere f (x, y, t) = (x cos t − y sen t , x sen t + y cos t).


Podemos entender f (x, y, t) como sendo:
   
cos t −sen t x
f (x, y, t) =    
sen t cos t y
que é a rotação em torno da origem de um ângulo t , no sentido contrário ao dos ponteiros
do relógio, para cada t fixado.
y6
Assim, a trajetória de um ponto (x, y)
p
é o cı́rculo de raio x2 + y 2 , com centro ¡
¡
na origem. @ft ¡
@
I

¡
Temos: ¡t
¡I -
ft (x, y, t) = (−x sen t − y cos t , x cos t − y sen t) x

ou seja:
   
−sen t − cos t x
ft (x, y, t) =    
cos t −sen t y

Para calcular ft (x, y, t) em termos das coordenadas de posição (x0 , y 0 ) = f (x, y, t), pode-
mos resolver a equação
     
0
x cos t −sen t x
  =    
y0 sen t cos t y
para (x, y) e encontrar:
     
0
x cos t sen t x
  =    
y −sen t cos t y0

10
Então:
       
−sen t − cos t cos t sen t x0 −y 0
ft (x, y, t) =       =  
0 0
cos t −sen t −sen t cos t y x

Assim, o campo de velocidade v é dado por v(x0 , y 0 ) = (−y 0 , x0 ), que independe do


tempo. Logo, o fluxo é estacionário.

Fazemos sempre uma hipótese básica sobre um fluxo:


Duas partı́culas não podem ocupar a mesma posição ao mesmo tempo, isto é:
Se f (x, y, t) = f (x, y, t), então (x, y) = (x, y).
Tal hipótese não implica em dizer que as trajetórias não se interceptam.
T
Uma transformação T do tipo R4 −→ R3 pode ser usada para descrever um fluxo 3-
dimensional.

Exemplo:

1. Considere o fluxo 2-dimensional


 
x + t
f (x, y, t) =   , t≥0
y + t2

a) Desenhe as trajetórias do fluxo que começam em (x, y) = (0, 0), (0, 1) e (1, 1).

b) Para t = 1, desenhe os vetores-velocidades nos pontos f (x, y, 1), com (x, y) sendo
(0, 0), (0, 1) e (1, 1).

c) Mostre que o fluxo não é estacionário.

a) trajetória de (0, 0) :
 
t
f (0, 0, t) =  
2
t

11
y6

trajetória de (0, 1) : ¸ ¸
 
t ¸
f (0, 1, t) =  
1 + t2 q q

trajetória de (1, 1) : q q -
 
1+t q -
f (1, 1, t) =   x
1 + t2

 
1
b) ft (x, y, t) =  
2t
c) Consideremos f (0, 0, 1) = (1, 1) e ft (0, 0, 1) = (1, 2).
Ainda: f (1, 1, 0) = (1, 1) e ft (1, 1, 0) = (1, 0).
Logo, o fluxo não é estacionário.

Observação: Imaginemos uma sala com um ventilador funcionando. Isto dá origem
a um deslocamento de ar pela sala. Se o ventilador permanece fixo o fluxo é steady ou
estacionário. Se o ventilador oscila o fluxo não é steady ou estacionário.

Exercı́cios propostos:

1. Considere o fluxo
 
(t2 + 1)x
f (x, y, t) =   , t≥0
2
(t + 1)y

a) Desenhe as trajetórias que começam em (x, y) = (0, 0), (1, 1), etc. Qual é o tipo
das trajetórias?

b) Para t = 1 , desenhe os vetores-velocidades nos pontos f (x, y, 1) com (x, y) sendo


(0, 0) , (0, 1) e (1, 1).

c) Mostre que o fluxo não é estacionário.

2. Considere o fluxo

12
 
(t + 1)x
f (x, y, t) =   , t≥0
(t + y

a) Desenhe as trajetórias que começam em (x, y) = (0, 0), (1, 1) e (1, 0).

b) Para t = 1 , desenhe os vetores-velocidades nos pontos f (x, y, 1) com


(x, y) = (0, 0) , (1, 1) e (1, 0).

c) Observe que ft não depende de t , mas que apesar disto o fluxo não é steady.
(Sugestão: desenhe a trajetória que começa em (2, 2) ).

1.1.3 Transformações Lineares

Consideremos T : R2 → R2 definida por

T (x, y) = (ax + by , cx + dy) (∗)

onde a, b, c, d são fixos.


T transforma retas em retas.
De fato:
Os pontos P = (x, y) de uma reta satisfazem as equações paramétricas:
6
(x, y) − (x0 , y0 ) = λ(m, p)
(m, p)
 µ 1

 x = λm + x0 r 1 (x, y)
(1) (x0 , y0 )

 y = λp + y
0
-

(z, w) = T (x, y) = ( a(λm + x0 ) + b(λp + y0 ), c(λm + x0 ) + d(λp + y0 ) )

Portanto,



 z = (am + bp)λ + (ax0 + by0 )
(2)

 w = (cm + dp)λ + (cx + dy )
0 0

que são equações paramétricas de uma reta.

13
Por esta razão, uma transformação do tipo (∗) é chamada uma transformação linear.
Podemos reescrever (*) como:
     
a b x ax + by
T (x, y) =    = 
c d y cx + dy

Vamos interpretar a linearidade da transformação T em termos de vetores:

(z, w) = T (x, y) = x(a, c) + y(b, d)

As equações (1) podem ser escritas:

(x, y) = λ(m, p) + (x0 , y0 )

As equações (2) podem ser escritas:

(z, w) = T (x, y) = λT (m, p) + T (x0 , y0 )

Então:
T (λ(m, p) + (x0 , y0 )) = λT (m, p) + T (x0 , y0 )

Fazendo ~u = (m, p) e ~v = (x0 , y0 ), temos:

T (λ~u + ~v ) = λT (~u) + T (~v ) ,

equação que exprime a linearidade da transformação T , como costumamos introduzir esse


conceito em Álgebra Linear.
Tomemos os vetores:
~e1 = (1, 0) e ~e2 = (0, 1)

 
a b
[T ]e~i =  
c d

Sabemos, da Álgebra Linear, que T admite inversa se, e somente se, [T ]e~i é inversı́vel,
isto é, ad − bc 6= 0.

14
Ainda, a inversa G é tal que [G]~ei = [T ]~−1
ei ou seja:

 
1 d −b
[G]~ei =  
ad − bc −c a
Assim µ ¶
dz − bw aw − cz
G(z, w) = ,
ad − bc ad − bc

// //

Matriz Jacobiana

Consideremos
F : R2 → R2
F (x, y) = (F1 (x, y) , F2 (x, y))
diferenciável em (0, 0) com F (0, 0) = (0, 0).
Assim, F1 (x, y) e F2 (x, y) são diferenciáveis em (0, 0).
Tomemos a aplicação linear R2 → R dada por:

(x, y) 7→ F1x (0, 0) · x + F1y (0, 0) · y .

Já foi comentado ser esta uma aplicação linear que “aproxima bem” a função F1 (x, y)
numa vizinhança de (0, 0). [Veja diferenciabilidade].
Analogamente, podemos considerar:

(x, y) 7→ F2x (0, 0) · x + F2y (0, 0) · y .

É de se esperar (o que de fato acontece) que a transformação linear L


L ¡ ¢
(x, y) −→ F1x (0, 0) · x + F1y (0, 0) · y , F2x (0, 0) · x + F2y (0, 0) · y

“aproxima bem” F (x, y) numa vizinhança de (0, 0).


Calculando a matriz de L em relação à base ~e1 = (1, 0), ~e2 = (0, 1), temos:
 
F (0, 0) F1y (0, 0)
 1x 
[L]~ei =  
F2x (0, 0) F2y (0, 0)

15
que recebe o nome de matriz jacobiana de F em (0, 0).

Definição Geral:

Seja F : A ⊂ Rm → Rn uma transformação diferenciável em A , com as coordenadas


(F1 , . . . , Fn ). Por definição, as n funções Fi : A ⊂ Rn → R são diferenciáveis em A , e assim,
existem todas as derivadas parciais das Fi0 s em A. A matriz:

 
∂F1 ∂F1 ∂F1
(P ) (P ) ··· (P )
 ∂x1 ∂x2 ∂xm 
 
 
µ ¶  
∂Fi  .. 
JF (P ) = (P ) = 
 . 

∂xj  
 
 
 ∂Fn ∂Fn 
(P ) ······ (P )
∂x1 ∂xm n×m

é chamada matriz jacobiana de F em P ∈ A.


Exemplo:
F : R2 → R3
(x, y) → (x2 y , x + y 2 , y)
 
2
2xy x
 
 
JF (x, y) =  1 2y 
 
0 1

1.2 Teorema da Função Inversa


Se temos T : U ⊂ Rm → Rm e sabemos que JT (P0 ) é uma matriz inversı́vel, então
sabemos que uma transformação linear que “aproxima bem” T em uma vizinhança de P0 é
inversı́vel. O que poderı́amos esperar de T ?

Teorema 1.2.1 (Teorema da Função Inversa). Seja T = (T1 , . . . , Tm ) : U ⊂ Rm → Rm ,


onde U é aberto e T é de classe C k (k ≥ 1). Seja P0 ∈ U , tal que det JT (P0 ) 6= 0. Então

16
existem vizinhanças V de P0 e W de T (P0 ), tais que T : V → W é inversı́vel e a sua inversa
é de classe C k .

T
j

q P0 q
T (P0 )

Y
¡
¡ ¡
¡
T −1
¡ ¡
¡ ¡
¡ ¡
¡ ¡
¡ Rm ¡ Rm

Exemplos:

1. Consideremos f : R → R , f de classe C 1 .

Seja x0 ∈ R , tal que f 0 (x0 ) 6= 0 .

Como f 0 é contı́nua, existe uma vizinhança de x0 onde f 0 assume o mesmo sinal de


f 0 (x0 ) (conservação do sinal). Logo, a função é estritamente crescente (ou decrescente)
em uma vizinhança de x0 , e assim admite uma inversa local.

Observe que temos ainda, y6


assegurado pelo teorema, que
a inversa é de classe C 1 .

q -
x0 x

2. Consideremos T : R2 → R2 , dada por T (x, y) = (ex cos y , ex sen y)

Notemos que
 
ex cos y −ex sen y
 
det JT (x, y) =   = e2x 6= 0 , ∀(x, y) ∈ R2 .
ex sen y ex cos y

Portanto, ∀ (x, y) ∈ R2 , existem vizinhanças onde T é inversı́vel.

17
Observe que T não é globalmente inversı́vel, uma vez que não é biunı́voca.

y6
p
T
T
(0, 0) 7−→ (1, 0) y
R 6
T
(0, 2π) 7−→ (1, 0)
p - p -
x x

3. Consideremos T : R2 → R2 , dada por T (x, y) = (2xy , x2 − y 2 ). Mostre que:


(a) T não admite inversa global.
(b) T admite inversa local, exceto numa vizinhança da origem (cuidado com o seu
argumento ! ).

1.3 Teorema da Função Implı́cita


É freqüente a representação de curvas sob a forma F (x, y) = 0, em vez de y = f (x).

Exemplos:
reta: ax + by + c = 0
x2 y 2
elipse: 2 + 2 = 1
a b
Dada a curva F (x, y) = 0, para se obter y = f (x) devemos “resolver” a equação
F (x, y) = 0 em relação a y . Em alguns casos, a solução pode ser determinada em ter-
mos de funções elementares. Em outros casos, a solução pode ser aproximada. É preferı́vel,
entretanto, operar não com a forma resolvida da equação ou com a aproximação obtida, mas
sim deduzir as conclusões sobre a solução, estudando a própria função F (x, y).

y
6
F (x, y) = 0

-
x

18
Exemplos:
y6
1. F (x, y) = x2 − y + 1

x2 − y + 1 = 0 ⇐⇒ y = x2 + 1

A função y = f (x) = x2 + 1 está definida

implicitamente por F (x, y) = x2 − y + 1 = 0. -


x

2. F (x, y) = x2 + y 2 − 1
y6
x2 + y 2 − 1 = 0 define implicitamente

y = 1 − x2 ou

y = − 1 − x2 −1 1 -
x
com |x| ≤ 1 .

Observe que não temos uma função y = f (x), tal que o conjunto de pontos (x, f (x)) seja
igual ao conjunto de pontos que satisfazem F (x, y) = 0.

3. F (x, y) = x2 + y 2 + 1
x2 + y 2 + 1 = 0 não é satisfeita para nenhum valor real.

4. F (x, y) = x2 + y 2
x2 + y 2 = 0 ⇐⇒ x = y = 0

5. F (x, y) = x cos(xy) + 1
x cos(xy) + 1 = 0 será que define y como função de x em algum intervalo ?

Observação: Em alguns casos, como no exemplo 2 , apesar de não existir y = f (x)


“globalmente”, se nos restringirmos a uma conveniente vizinhança de um ponto P0 ,
conforme o ponto , podemos obter funções.

19
Na figura, podemos observar que é possı́vel
y6
obter uma função y = f (x) numa vizinhança de P0
Ã√ √ ! *
2 2 r
P0 = , , porém tal função não existe
2 2
em nenhuma vizinhança de P00 = (1, 0). r -
x
q
Veja que em uma vizinhança de P00 = (1, 0), P00

é possı́vel obter x = g(y).

Exercı́cio:

1. Tente esboçar o aspecto local de uma curva que passa por P0 , tal que em nenhuma
vizinhança de P0 possa ser possı́vel obter y = f (x) ou x = g(y).

O teorema que estabelece as condições suficientes para a existência das funções implı́citas
dando, ao mesmo tempo, a regra para derivá-las, é o seguinte:

Teorema 1.3.1 (Teorema das Funções Implı́citas). Seja F : A ⊂ R2 → R onde A é


aberto e F é de classe C k (k ≥ 1) em A. Se F se anula em P0 = (x0 , y0 ) ∈ A e Fy (P0 ) 6= 0,
então existe um intervalo aberto I contendo x0 e um aberto Z ⊂ A, P0 ∈ Z com a seguinte
propriedade:
Para cada x ∈ I existe um único ξ(x) ∈ R tal que (x, ξ(x)) ∈ Z e F (x, ξ(x)) = 0.

A aplicação ξ : I → R assim definida é de classe C k e sua derivada é dada por:


0 −Fx (x, ξ(x))
ξ (x) = .
Fy (x, ξ(x))
Interpretação:

y
6 ∇F (P0 ) R
K F
R
y0 q q 0

µ
Z

I -
x0 x
ξ

20
∇F (P0 ) = (Fx (P0 ) , Fy (P0 )) - normal à curva de nı́vel F (x, y) = 0 que passa por P0 .
Como Fy (P0 ) 6= 0, então ∇F (P0 ) nunca é do tipo q - ( “horizontal”)

Exercı́cios resolvidos

1. Mostre que existe um intervalo I contendo x0 = 2, no qual está definida a função


y = ξ(x) satisfazendo x2 + xy + y 2 = 7 com ξ(2) = 1.
Resolução:
Definimos
F (x, y) = x2 + xy + y 2 − 7 .

Observemos que F é de classe C ∞ em R2 .

F (2, 1) = 0 e Fy (2, 1) = 4 6= 0 .

Pelo Teorema anterior, existe um intervalo I contendo x0 = 2 e uma função y = ξ(x),


tais que:
y
x2 + xξ(x) + (ξ(x))2 = 7 , ∀ x ∈ I . 6

@
Ainda: ξ(2) = 1, ξ é de classe C ∞ e @
@
1 @
0 −Fx (x , ξ(x)) @
ξ (x) = . @
Fy (x , ξ(x)) @
I -
5 @
2 x
Em particular, ξ 0 (2) = − .
4

2. Mostre que existe um intervalo aberto contendo o ponto x0 = 1, no qual está definida
π
uma função y = f (x), diferenciável em x0 , satisfazendo: f (1) = e x cos(xf (x)) = 0.
2
0
Calcule f (1).
Resolução:
Definimos F (x, y) = x cos(xy).
Observemos que F é de classe C ∞ em R2 .
¡ ¢ ¡ ¢
F 1 , π2 = 0 e Fy 1 , π2 = −1 6= 0 .

21
Pelo Teorema anterior existe um intervalo y6

aberto I contendo x0 = 1 e uma função

y = f (x), tal que

x cos(xf (x)) = 0 . Z
π q
2
π
Ainda: f (1) = , f é de classe -
2 1 x
C ∞ em I e

−Fx (1 , π2 ) π
f 0 (1) = π =−
Fy (1 , 2 ) 2

Exercı́cio proposto
Mostre que F (x, y) = xy + ln(xy) = 1 define implicitamente y como função de x em uma
vizinhança do ponto P0 = (1, 1).

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Observação 1: Se temos F (x, ξ(x)) = 0 com ξ diferenciável em x ∈ I , então, pela Regra


da Cadeia:

0 = Fx (x , ξ(x)) + Fy (x , ξ(x)) (x) =⇒
dx
dξ −Fx (x , ξ(x))
=⇒ (x) = .
dx Fy (x , ξ(x))

Observação 2: Se Fy (P0 ) 6= 0 , então podemos tirar y como função de x e garantir que a


função é diferenciável no ponto. Se Fy (P0 ) = 0, o teorema não pode ser aplicado.

22
Exemplos:
y6
(a) y 3 + x = 0 P0 = (0, 0)

F (x, y) = y 3 + x

Fy (x, y) = 3y 2 ∴
Fy (0, 0) = 0
-
√ x
Ainda y 3 + x = 0 ⇐⇒ y = 3 −x.

Portanto pode ocorrer que Fy (P0 ) = 0

e assim mesmo podemos tirar y = ξ(x)

(neste exemplo, não diferenciavelmente)

y6
(b) x2 + y 2 − 1 = 0 P0 = (1, 0)

F (x, y) = x2 + y 2 − 1

Fy (1, 0) = 0
q1 -
x
Aqui Fy (1, 0) = 0 e não podemos tirar y = ξ(x).

y6 ¡
(c) x2 − 2xy + y 2 = 0 P0 = (0, 0) ¡
¡
2 2
F (x, y) = x − 2xy + y = (x − y) 2 ¡
¡
¡
Fy (0, 0) = Fx (0, 0) = 0 ¡
¡ -
¡ x
mas y = x , diferenciavelmente. ¡
¡
¡
¡

Observação 3: O teorema que acabamos de enunciar pode ser generalizado para


F : U ⊂ Rm → R, m > 2 e, mais ainda, para um sistema de equações considerando
G : U ⊂ Rm → Rn , onde trabalhamos com G(x1 , . . . , xm ) = (0, . . . , 0).

Exercı́cios propostos

23
¡x ¢
1. Descrever a imagem da circunferência x2 + y 2 = r2 pela transformação T (x, y) = 4
,y .

2. Descrever as imagens das retas x = c pela transformação (x, y) → (ex cos y , ex sen y) e
fazer gráficos.

3. Mostre que o campo gravitacional é um campo conservativo.


gM
Sugestão: Considere f (x, y, z) = .
(x2 + y 2 + z 2 )1/2
4. Considere o fluxo 2 dimensional: f (x, y, t) = (x et , y et ), t ≥ 0.

a) Desenhe as trajetórias do fluxo que começam em (x, y) = (0, 1) e (1, 1).

b) Para t = 1 calcule os vetores velocidades nos pontos f (x, y, 1) com (x, y) = (0, 1)
e (1, 1).

c) Resolva a equação (x0 , y 0 ) = f (x, y, z) para (x, y) em termos de (x0 , y 0 ) e substitua o


resultado em ft (x, y, z) para mostrar que o fluxo determinado por f é estacionário.

5. Desenhe alguns vetores dos campos vetoriais:

a) f (x, y) = (1, x) para −1 ≤ x ≤ 2.

b) f (x, y) = (−x, y) para x2 + y 2 ≤ 4.


1
c) f (x, y) = (1, 1) para x2 + y 2 ≤ 4.
x2 + y 2
6. Mostre que F (x, y) = 0 define uma função implı́cita y = f (x) em uma vizinhança do
dy
ponto (x0 , y0 ) e calcule f 0 (a) = dx
(a).

a) F (x, y) = x2 − xy + y 2 − 3 (x0 , y0 ) = (1, 2)

b) F (x, y) = 2ex+y − x + y (x0 , y0 ) = (1, −1)

c) F (x, y) = xy − 1 (x0 , y0 ) = (1, 1)

7. Se x0 6= 0 e x0 6= 1 mostre que se (x, y) está suficientemente próximo de (x0 , 0) a


equação sen(x2 y) − xy = 0 é equivalente a y = 0.

8. a) Qual é o lugar geométrico dos pontos (x, y) do plano que satisfazem a equação:
y 2 + x2 ey = 0 ?

24
b) Idem para a equação (esen x − 1)2 + (sen y − 1)2 = 0 ?

c) Estude as equações (a) e (b) de acordo com o Teorema das Funções Implı́citas e
veja se está tudo bem.

9. Dada a transformação F : R2 → R2 definida por F (u, v) = (u − uv , uv) = (x, y)

a) Calcule F (0, v), ∀ v ∈ R .

b) F é inversı́vel ? Justifique.

c) F/R2 − S onde S = {(u, v) ∈ R2 | u = 0} é inversı́vel ?

Se for, qual a sua inversa

10. Se F (x, y) = x2 + y 2 − x3 ache a solução y = f (x) de F (x, y) = 0 :

a) Em uma vizinhança de (5, 10).

b) Em uma vizinhança de (10, −30).

c) Observe que y 2 = x3 − x2 ≥ 0. Logo existe uma região do plano onde esta equação
não tem solução. Qual é ela?

d) Em que pontos (x0 , y0 ) do lugar geométrico F (x, y) = 0 nós não temos um intervalo
I contendo x0 tal que F (x, y(x)) = 0, ∀ x ∈ I.

11. A equação de estado de um gás ideal é p · v = KT onde K é uma constante, p , v


e T são a pressão, o volume e a temperatura do gás, respectivamente. Verifique que:

∂p ∂v ∂T
· · = −1
∂v ∂T ∂p

25
NOTAS DE AULA

CÁLCULO VETORIAL

Cláudio Martins Mendes

Segundo Semestre de 2005


Sumário

1 Cálculo Vetorial 2
1.1 Integrais de Linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Campos Conservativos e Integrais de Linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Teorema de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.4 Integrais de Superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.5 Divergente - Rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.6 Teoremas: Gauss - Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

1
Capı́tulo 1

Cálculo Vetorial

1.1 Integrais de Linha


Sejam Ω um aberto de R2 e γ : [a, b] → Ω ⊂ R2 uma curva suave ( isto é, γ 0 (t) é contı́nuo
e γ 0 (t) 6= 0, ∀ t ∈ [a, b] ). Seja ainda f : Ω ⊂ R2 → R.

pp
p R
γ - 6
Aq f
q Pi−1 j
q Pi q
q
B
ppp q q q ppp -
Ω pp
p

a b

Tomemos A = γ(a) e B = γ(b).


Seja a = t0 < t1 < · · · < tn = b uma partição de [a, b]. Consideremos ∆i = ti − ti−1 ,
i = 1, . . . , n. Esta partição em [a, b] determina uma partição do arco AB em arcos Pi−1 Pi ,
onde Pi = γ(ti ), i = 1, . . . , n.
Sejam ∆Si = comprimento do arco Pi−1 Pi e k∆k = max ∆Si .
Em cada arco Pi−1 Pi tomamos (ui , vi ) e formamos a soma
X
f (ui , vi )∆Si
i

2
Definição 1. A integral curvilı́nea de f sobre γ de A até B é definida (e denotada)
por: Z X
f (x, y)ds = lim f (ui , vi )∆Si ;
γ k∆k→0
i

desde que o limite exista independentemente da escolha de (ui , vi ) ∈ Pi−1 Pi .

Obs: A integral anterior é também conhecida como integral de linha relativa ao com-
primento de arco.

Uma condição suficiente para garantir a existência da integral em questão é dada a seguir.

Teorema 2.ZSe γ : [a, b] → Ω ⊂ R2 , γ(t) = (g(t), h(t)) é suave e f (x, y) é contı́nua em Ω ,


então existe f (x, y)ds e
γ

Z Z b p
f (x, y)ds = f (g(t), h(t)). [g 0 (t)]2 + [h0 (t)]2 dt
γ a

Não faremos a demonstração deste resultado.

Observação 1: Se usarmos a notação vetorial para γ e colocarmos γ(t) = g(t)~i + h(t)~j , temos:
Z Z b
f (x, y)ds = f (γ(t)).kγ 0 (t)kdt .
γ a

Observação 2: O resultado do Teorema anterior pode ser esperado, uma vez que
X X
f (ui , vi )∆Si ' f (γ(t∗i )).kγ 0 (t∗i )k.∆i ,
i i

onde estamos usando que (ui , vi ) = γ(t∗i ) e que ∆Si ' kγ 0 (t∗i )k.∆i (espaço percorrido =
velocidade . tempo ), melhorando a aproximação quando k∆k → 0.

Z
Observação 3: Notemos que no caso particular de f (x, y) ≡ 1 temos que f (x, y)ds é o
γ
comprimento da curva γ .

Uma curva γ : [a, b] → R2 contı́nua é dita suave por partes se existe uma partição finita
de [a, b] emZ subintervalos tal que a restrição de γ a cada subintervalo seja suave. Neste caso,
definimos f (x, y)ds como soma das integrais das restrições.
γ

3
Interpretação Geométrica

Suponhamos f contı́nua, com f (x, y) ≥ 0 em Ω .

6
z
z = f (x, y)
º

r r r
A Pi−1 r
¤º Pi r
¤ q
¼x (ui , vi ) B y

Área da região hachurada: f (ui , vi ) · ∆Si


Z natural então:
f (x, y)ds = área da superfı́cie cilindrica de base AB com altura determinada pelo
γ
gráfico de f (uma espécie de cortina).

Interpretação Fı́sica:

Encarando a curva γ como um fio delgado e f (x, y) = densidade em (x, y), temos:

f (ui , vi )∆Si ' massa de Pi−1 Pi = ∆mi


X X
f (ui , vi )∆Si ' ∆mi é, assim, uma aproximação da massa total M do fio.
i i

Assim, Z
M= f (x, y)ds .
γ

Exercı́cios resolvidos
Z
1. Calcular f (x, y)ds onde f (x, y) = x3 + y e γ(t) = (3t, t3 ), t ∈ [0, 1].
γ

4
Resolução:
Z Z 1 √ y6
f (x, y)ds = (27t3 + t3 ) · 9 + 9t4 dt =
γ 0
Z 1 √ 1 r
= 84t3 1 + t4 dt = ...
0 *
√ r -
= 14(2 2 − 1). 3 x

2. Calcular a área da região representada abaixo.

z
6

z = x2 + 2y 2
i x2 + y 2 = 1
2
µ
-
1 1 y
1

ªx

Resolução: Consideremos γ : [0, π2 ] → R2 definida por γ(t) = (cos t, sen t). Então a área
A da superfı́cie será dada por:
Z
A = f (x, y)ds =
γ
Z π/2 √
= (cos2 t + 2sen2 t) · cos2 t + sen2 t dt =
0
Z π/2 Z π/2
2 1 3π
= (1 + sen t)dt = 1 + (1 − cos 2t)dt = ... =
0 0 2 4

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Consideremos γ : [a, b] → Ω ⊂ R2 , γ(t) = (g(t), h(t)), suave, f (x, y) contı́nua em Ω .


Se, ao invés de ∆Si usarmos ∆xi = xi − xi−1 , onde Pi = (xi , yi ), na definição de integral
curvilı́nea, obtemos a integral curvilı́nea de f sobre γ em relação a x , dada (e denotada)
por: Z X
f (x, y)dx = lim f (ui , vi )∆xi
γ k∆k→0
i

5
Analogamente, Z X
f (x, y)dy = lim f (ui , vi )∆yi
γ k∆k→0
i

Estas novas integrais podem ser calculadas através das formas:


Z Z b
f (x, y)dx = f (g(t), h(t))g 0 (t)dt
γ a

Z Z b
f (x, y)dy = f (g(t), h(t))h0 (t)dt
γ a

Observação:
Tudo o que foi feito até aqui é generalizável de maneira análoga para três ou mais variáveis.

Exercı́cio proposto
Z Z
2
Calcular x y dx e x2 y dy quando:
γ γ

a) γ é o segmento de (0, 0) até (1, 1).

b) γ é a parábola y = x2 , 0 ≤ x ≤ 1 .

c) γ é o segmento de (1, 1) até (0, 0).

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Seja γ : [a, b] → Ω ⊂ R3 , γ(t) = (g(t), h(t), k(t)) suave.


Sejam f1 (x, y, z), f2 (x, y, z) e f3 (x, y, z) funções contı́nuas em Ω .
A soma Z Z Z
f1 (x, y, z)dx + f2 (x, y, z)dy + f3 (x, y, z)dz
γ γ γ

será indicada por Z


f1 (x, y, z)dx + f2 (x, y, z)dy + f3 (x, y, z)dz
γ

Intrepretação Fı́sica

Suponhamos γ uma curva suave, trajetória de uma partı́cula sujeita a um campo de


forças contı́nuo
F~ (x, y, z) = f1 (x, y, z)~i + f2 (x, y, z)~j + f3 (x, y, z)~k

6
Se F~ é constante e γ uma reta, temos que Trabalho = F~ q (vetordeslocamento) ,
onde q denota o produto escalar.
Se F~ não é constante ou γ não é uma reta, particionamos γ num número finito de
arcos.
Se k∆k é pequena, o trabalho realizado por F~ ao longo do arco Pi−1 Pi pode ser aproxi-
mado por

∆Wi = F~ (Pi−1 ) q (∆xi ~i + ∆yi ~j + ∆zi ~k) = f1 (Pi−1 )∆xi + f2 (Pi−1 )∆yi + f3 (Pi−1 )∆zi
q
A
q Pi−1
¢
¢
¢ Wq Pi
¢®
F~ (Pi−1 ) q
B

O trabalho W realizado por F~ ao longo de γ é, por definição:


X
W = lim ∆Wi , isto é,
k∆k→0

Z
W = f1 (x, y, z)dx + f2 (x, y, z)dy + f3 (x, y, z)dz
γ

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

A integral anterior pode ser expressa em forma vetorial. É o que faremos a seguir.
Sejam γ : [a, b] → Ω ⊂ R3 , γ(t) = (g(t), h(t), k(t)) [ ou na notação vetorial ~r(t) =
g(t)~i + h(t)~j + k(t)~k ] uma curva suave e F~ (x, y, z) = f1 (x, y, z)~i + f2 (x, y, z)~j + f3 (x, y, z)~k
um campo contı́nuo sobre Ω .
Então:
Z
f1 (x, y, z)dx + f2 (x, y, z)dy + f3 (x, y, z)dz =
γ
Z b
= [f1 (g(t), h(t), k(t)). g 0 (t) + f2 (g(t), h(t), k(t)). h0 (t) + f3 (g(t), h(t), k(t)). k 0 (t)]dt =
a
Z b Z
Notação
= F~ (γ(t)) q γ (t)dt
0
=== F~ q d~r , a qual será chamada de integral de linha do
a γ
campo F~ sobre γ .

7
BM
~r 0 (t)
B
q B
B γ(t)
BqP
z
6 ± PPP ~
qF (γ(t))
P PP
M
~r(t)
qA

¼ q
x y

Vejamos agora uma relação entre a integral de linha de um campo vetorial e a integral de linha com
relação ao comprimento de arco.
Denotemos por T~ (P ) o vetor unitário tangente a γ em P .
Z Z b Z b· 0
¸
γ (t)
F~ q d~r = F~ (γ(t)) q γ (t)dt =
0
F (γ(t)) q 0 (t)k
. kγ 0 (t)kdt =
γ a a kγ
Z b Z b Z
~ ~ Teorema 2 ~ ~ Notação
= 0
[F (γ(t)) q T (γ(t))] . kγ (t)kdt ==== F (γ(t)) q T (γ(t))ds === F~ q T~ ds
a a γ

P = γ(t)
¸
z
6 ~
j T (P )

~r(t) = γ(t)

¡
¡ q
¡
ª y
x

Resumindo:
Z Z b Z
W = F~ q d~r = F~ (γ(t)) q γ 0 (t)dt = F~ q T~ ds
γ a γ

Obs: Notemos que F~ q T~ é a componente tangencial de F~ com relação à curva. Assim,


poderı́amos ter deduzido a expressão do trabalho usando este fato.

Exercı́cios resolvidos
Z
1. Calcular F~ q d~r onde F~ (x, y) = x~i + y~j e γ(t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, π].
γ

Resolução: Observe que deveremos ter a integral igual a zero, uma vez que o desloca-
mento se processa perpendicularmente ao campo.

8
6
y
K ¸

Y *

O -
B A x

De fato:
Z Z π Z π
F~ q d~r = (cos t ~i + sen t ~j) q (−sen t ~i + cos t ~j)dt = 0 dt = 0 .
γ 0 0

2. Calcular o trabalho realizado por F~ ao longo de γ, onde F~ (x, y) = (x, y) e


γ(t) = (t, |t|), t ∈ [−1, 1].

y
6
q q
@ @ ¡
¡
R@ ¡
@ µ
¡
@q¡ -
x

Resolução:
Z Z 1 Z 0 Z 1
W = ~
F d~r =
q F~ (γ(t)) q γ 0 (t)dt = F~ (γ(t)) q γ 0 (t)dt + F~ (γ(t)) q γ 0 (t)dt =
γ −1 −1 0
Z 0 Z 1 Z 0 Z 1
= (t, |t|) q (1, −1)dt + (t, |t|) q (1, 1)dt = 2t dt + 2t dt = −1 + 1 = 0
−1 0 −1 0

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —
Z
Uma pergunta que se coloca aqui: A integral F~ q d~r depende da parametrização de γ ?
γ
Veremos a seguir que só depende do sentido de percurso.

Teorema 3. Sejam γ : [a, b] → R3 uma curva suave e h : [c, d] → [a, b] uma mudança de parâmetros
(isto é h0 > 0 ou h0 < 0). Seja ainda λ = γ ◦ h uma reparametrização de γ . Então:
Z Z
F~ q d~r = F~ q d~r , se h0 (τ ) > 0
γ λ

ou
Z Z
F~ q d~r = F~ q d~r , se h0 (τ ) < 0
γ λ

9
Prova:
q
j-
λ=γ◦h γ z6

c τ d a 3 t b ¼ j
x y
h

Suponhamos h0 (τ ) < 0. Neste caso, h(c) = b e h(d) = a.


Pela Regra da Cadeia, λ0 (τ ) = γ 0 (h(τ )) . h0 (τ ).
Fazendo a mudança t = h(τ ) obtemos
Z Z b Z c
F~ q d~r = F~ (γ(t)) q γ 0 (t)dt = F~ (γ(h(τ ))) q γ 0 (h(τ )) . h0 (τ )dτ =
γ a d
Z d Z
= − F~ (λ(τ )) q λ 0 (τ )dτ = − F~ q d~r
c λ

O caso h0 (τ ) > 0 é semelhante.


Z
Observação: Relembre a definição de f (x, y)ds. Fica claro que este tipo de integral independe
γ
também do sentido de γ . Prove isto com o mesmo tipo de argumento usado na demonstração do
teorema anterior.

Exercı́cios resolvidos
Z
1. Calcular F~ q d~r onde F~ (x, y) = (x2 y , x2 y) quando:
γ

(a) γ1 é o segmento de reta que liga (0, 0) a (1, 1).

(b) γ2 é a parábola y = x2 , 0 ≤ x ≤ 1.

(c) γ3 é o segmento de reta que liga (1, 1) a (0, 0).

Resolução:

(a) uma parametrização da curva pode ser γ1 (t) = (t, t), 0 ≤ t ≤ 1.

10
y6 q(1,1)
¡
¡
¡
µγ1
¡
¡
¡
¡ -
x

Assim,
Z Z 1 Z 1
1
F~ q d~r = 3 3
(t , t ) q (1, 1)dt = 2t3 dt = ... =
γ1 0 0 2

(b) uma parametrização da curva pode ser γ2 (t) = (t, t2 ), 0 ≤ t ≤ 1.

y q(1,1)
6

µ γ2
-
x

Assim,
Z Z 1 Z 1
8
F~ q d~r = 4 4
(t , t ) q (1, 2t)dt = t4 + 2t5 dt = ... =
γ2 0 0 15

(c) uma parametrização da curva pode ser γ3 (t) = (1 − t , 1 − t), 0 ≤ t ≤ 1.

y6 q(1,1)
¡
¡
¡¡
ª
¡
¡γ 3
¡
¡
¡ -
x

Assim,
Z Z 1 Z 1
1
F~ q d~r = 3 3
((1 − t) , (1 − t) ) q (−1, −1)dt = −2(1 − t)3 dt = · · · = −
γ3 0 0 2

Observemos neste exercı́cio que podemos obter dois valores diferentes para a integral de linha
ao longo de duas curvas ligando (0, 0) a (1, 1).

2. Calcular a área da região R representada a seguir:

11
6z z = x2
º

q
q
) qR z
(0,2,0)
x (1,1,0) y

Resolução:

Sejam z = f (x, y) = x2 e γ(t) = (t , 2 − t), t ∈ [0, 1].


Z Z 1 √
2
√ 2
Área de R = f (x, y)ds = t . 2 dt = u.a.
γ 0 3

Z
3. Calcule 2xdx + dy + dz, onde γ é a intersecção do cilindro y = x2 com o
γ
parabolóide z = 2 − x2 − y 2 , contida no octante x, y, z ≥ 0. O caminho é percorrido de
(1, 1, 0) a (0, 0, 2).
Resolução: Uma visualização da curva:
z
6
2
1y=x
(0, 0, 2) q

γ
¼ 6
z = 2−x2 −y 2

-
y
q
(1, 1, 0)
+x

Uma parametrização de γ pode ser dada por

γ(t) = ( 1 − t, (1 − t)2 , 2 − (1 − t)2 − (1 − t)4 ), 0 ≤ t ≤ 1.

Temos
Z Z 1
2xdx + dy + dz = [−2(1 − t) − 2(1 − t) + 2(1 − t) + 4(1 − t)3 ]dt =
γ 0
Z 1 ¯1
3 2 4 ¯
¯
= [2(t − 1) + 4(1 − t) ]dt = [(t − 1) − (1 − t) ] ¯ = 0
0 0

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

12
Exercı́cios propostos 1.1
Z
1. Calcular x2 y dx + xy 2 dy, onde γ é a curva indicada a seguir.
γ

y6
q (2, 1)

6
q - -
(2, 0) x

2. Considere o campo vetorial sobre R2 , definido por F~ (x, y) = −y~i + x~j. Encontre uma curva
Z
γ começando no ponto (1, 2) de comprimento 1 tal que F~ q d~r = 0.
γ

3. Calcule a área da região R representada a seguir

z
6
1 y
- R
z x2 + y 2 = 4, z = 0
q
x
j
z = xy
Z
4. Calcule F~ q d~r onde F~ (x, y) = (2x + y 3 )~i + 3xy 2~j e γ é a curva indicada na figura a seguir
γ
y
6

3
6
2
?
1

- -
1 5 x
2

Observação: Volte a fazer este exercı́cio após a leitura da secção a seguir.

1.2 Campos Conservativos e Integrais de Linha


Teorema 4 (Teorema Fundamental para Integrais de Linha). Sejam Ω ⊂ Rn um aberto e
f : Ω → R de classe C 1 . Seja γ : [a, b] → Ω ⊂ Rn dada por γ(t) = (γ1 (t), . . . , γn (t)) uma curva

13
Z
suave por partes tal que γ(a) = A e γ(b) = B. Então, ∇f q d~r = f (B) − f (A).
γ

Prova:

(i) Se γ é suave:
Z Z b
q
∇f · d~r = ∇f (γ(t)) p γ 0 (t)dt B
γ a

¸γ
Pela Regra da Cadeia

d ∂f 0 ∂f 0
f (γ(t)) = ∂x1 (γ(t)) . γ 1 (t) + ··· + ∂xn (γ(t)) . γ n
dt
q
= ∇f (γ(t)) · γ 0 (t). A

Do Teorema Fundamental do Cálculo segue que:


Z Z b
d
∇f q d~r = f (γ(t))dt = f (γ(b)) − f (γ(a)) = f (B) − f (A)
γ a dt

(ii) Se γ é suave por partes:

γ = γ1 ∪ · · · ∪ γm , onde γi é suave, i = 1, . . . , m Aq 1 qB
γ1 µ γ3
µ R γ2
Z m Z
X q q
∇f p d~r = ∇f p d~r A A2
γ
Á γi
i=1 Á Á Á
= f (A1 ) −f (A)+ f (A2 ) −f (A1 )+ · · · +f (B)−f (Am−1 )= f (B)−f (A).

Definição 5. Uma curva γ : [a, b] → Rn é dita fechada quando γ(a) = γ(b).

Notação: Quando a curva γ é fechada,


Z I 9
costuma-se denotar por . Quando º
γ γZ Z r
γ está no plano, usa-se ainda ª ou © .
γ γ 3
r

Corolário 6. Se F~ = ∇f onde f : Ω ⊂ Rn → R com f ∈ C 1 e γ : [a, b] → Ω ⊂ Rn é suave por


Z
partes e fechada, então F~ q d~r = 0.
γ

14
Exercı́cios resolvidos
Z
1. Calcular x dx + y dy em cada um dos casos abaixo:
γ

i) γ é o segmento de (0, 0) a (1, 1)


y6
ii) γ é a parábola y = x2 , 0 ≤ x ≤ 1 r (1, 1)

iii) γ é a curva indicada ao lado. 6


r - -
iv) γ é a circunferência (cos t , sen t), 0 ≤ t ≤ 2π x

Resolução:
Z Z
x dx + y dy = (x, y) · d~r. y
6 r(1, 1)
γ γ
1¡ 2 ¢
Seja f (x, y) = x + y2 . µ
2 6
Então ∇f (x, y) = (x, y). µ
r - -
Z Z x
Logo, x dx + y dy = ∇f · d~r.
γ γ

Respostas para (i), (ii), (iii): f (1, 1) − f (0, 0) = 1

Respostas para (iv): 0 , pois A = B.


Z
2. Calcular y dx + x dy onde γ é uma curva suave unindo (0, 1) a (2, 3).
γ

Resolução:
Z Z
y dx + x dy = (y, x) q d~r.
γ γ
Seja g(x, y) = xy. Então ∇g(x, y) = (y, x).

Logo,
Z
y dx + x dy = g(2, 3) − g(0, 1) = 6 .
γ

Observação: O teorema anterior afirma que, sob certas condições, a integral de linha independe
do caminho de integração, mas somente dos pontos extremos. Conforme já visto anteriormente,
nem todas as integrais de linha tem esta propriedade. Veremos uma recı́proca do Teorema anterior.

Definição 7. Ω ⊂ Rn é dito conexo se quaisquer dois pontos em Ω podem ser ligados por uma
curva suave por partes, inteiramente contida em Ω . Uma região é um conjunto aberto e conexo.

15
Exemplos:
Nos casos abaixo Ω1 é conexo e Ω2 não é conexo.
© ª
Ω1 = (x, y) ∈ R2 ; x > 1
© ª
Ω2 = (x, y) ∈ R2 ; |x| > 1

Teorema 8. Sejam Ω ⊂ Rn uma região e F~ : Ω ⊂ Rn → Rn um campo vetorial contı́nuo. Se a


Z
integral de linha F~ q d~r é independente da curva suave por partes γ ligando A a X em Ω , onde
γ
A é fixado e X é arbitrário, então a função real definida por
Z X
f (X) = F~ q d~r
A

é de classe C 1 e satisfaz ∇f = F~ em Ω .

Prova:
Para simplificar a notação vamos fazer a prova para n = 2.
Inicialmente observemos que em virtude da independência de caminho a fórmula para f (x, y)
fornece uma função sem ambigüidade. µ ¶
∂f ∂f
Precisamos mostrar que ∇f (x, y) = F~ (x, y), ou seja (x, y) , (x, y) =
∂x ∂y
(F1 (x, y) , F2 (x, y)).
Escolhemos curva suave por partes ligando A a (x, y) contida em Ω (que existe pois Ω é conexo)
e a estendemos horizontalmente até o ponto (x + t , y), |t| < δ (isto é possı́vel pois Ω é aberto).

(x,r y) r

- (x + t, y)

r
A

Z (x+t , y) Z (x,y)
f (x + t , y) − f (x, y) = F~ q d~r − F~ q d~r =
A A
Z (x+t , y) Z t Z t
= F~ q d~r = F~ (x + τ , y) q (1, 0)dτ = F1 (x + τ , y)dτ
(x,y) 0 0

Assim:
Z t
∂f f (x + t , y) − f (x, y) 1
(x, y) = lim = lim · F1 (x + τ , y)dτ =
∂x t→0 t t→0 t 0
µZ t ¶Á
d
= F1 (x + τ , y)dτ = F1 (x, y)
dt 0 t=0

16
onde usamos nas igualdades anteriores a definição de derivada de função de uma variável e o Teorema
Fundamental do Cálculo.
∂f
Analogamente (x, y) = F2 (x, y).
∂y
Logo ∇f (x, y) = (F1 (x, y) , F2 (x, y)) = F~ (x, y).

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Resumindo os teoremas 4 e 8, podemos enunciar:


Ω ⊂ Rn – região.
γ ⊂ Ω – curva suave por partes, ligando A a B .
F~ – campo vetorial contı́nuo sobre Ω .
Z
F~ q d~r é independente de γ ⇐⇒ ∃ f tal que F~ = ∇f em Ω .
γ

Definição 9. Um campo vetorial F~ para o qual existe uma função real f tal que F~ = ∇f é chamado
um campo gradiente ou conservativo. A função −f é chamada o potencial de F~ .

A motivação para chamarmos um campo gradiente por conservativo será colocada a seguir.

Suponhamos uma partı́cula de massa m percorrendo um caminho γ : [a, b] → Ω ⊂ Rn suave por


partes, sob a ação de um campo contı́nuo F~ .
Temos:
Z Z b
Trabalho = W = F~ · d~r = F~ (γ(t)) · γ 0 (t)dt .
γ a

Da segunda Lei de Newton temos: F~ (γ(t)) = m . γ 00 (t)


µ
Portanto, r
A γ
· ¸ ^
~ 0 00 0 d 1 0 0
F (γ(t)) · γ (t) = m . γ (t) · γ (t) = m . γ (t) · γ (t) =
dt 2 r
· ¸ · ¸ B
d 1 0 2 d 1 2
= m . kγ (t)k = m(v(t)) ,
dt 2 dt 2

onde v(t) = kγ 0 (t)k é a velocidade escalar da partı́cula.


Portanto,
Z b· µ ¶¸
d 1 1 1
W = m(v(t))2 dt = m(v(b))2 − m(v(a))2 =
a dt 2 2 2
1
= K(b) − K(a) , onde K(t) = m(v(t))2
2
é a energia cinética da partı́cula no instante t . Assim,

17
Trabalho = W = variação da energia cinética.

Suponhamos agora que F~ = ∇f .


Sabemos da Proposição ?? que W = f (B) − f (A).
Comparando com a fórmula acima, temos:

f (B) − f (A) = K(b) − K(a)

ou seja,
K(b) − f (B) = K(a) − f (A) .

A quantidade −f (P ) é chamada energia potencial da partı́cula em P .


Portanto, a soma da energia potencial com a energia cinética permanece constante quando a
partı́cula se move ao longo de um campo gradiente. Esta é a razão de chamarmos este tipo de
campo como “Campo Conservativo”.

Exercı́cio
K
Encontrar o trabalho realizado pelo campo F~ (x, y, z) = (x~i + y~j + z~k) ao longo da
x2 + y2 + z2
curva γ : [0, 2π] → R3 , dada por γ(t) = (cos t , sen t , t)

Resolução:

Poderı́amos resolver usando a definição.


Tentaremos resolver aplicando a Proposição ?? .
Procuramos f tal que
z
6
Kx B = (1, 0, 2π)
fx (x, y, z) = (1) r¼
x2 + y2 + z2

Ky
fy (x, y, z) = (2)
x2 + y2 + z2 Y

Kz
fz (x, y, z) = (3)
x2 + y2 + z2 r :
6

ª j
x y
A = (1, 0, 0)

18
Integrando (1) em relação a x obtemos
Z
Kx K
f (x, y, z) = dx + φ(y, z) = ln(x2 + y 2 + z 2 ) + φ(y, z) (4)
x2 2
+y +z 2 2

Assim,
Ky
fy (x, y, z) = + φy (y, z) .
x2 + y2 + z2
Comparando com (2) temos φy (y, z) = 0 e assim φ = φ(z), isto é φ não depende de y .
Logo (4) pode ser escrita como

K
f (x, y, z) = ln(x2 + y 2 + z 2 ) + φ(z)
2

Diferenciando com respeito a z e comparando com (3) obtemos φ0 (z) = 0 e assim φ ≡ C.


Tomemos φ ≡ 0.
K
Portanto f (x, y, z) = ln(x2 + y 2 + z 2 ).
Z 2Z
K
Assim W = F~ q d~r = ∇f q d~r = f (1, 0, 2π) − f (1, 0, 0) = ln(1 + 4π 2 ).
γ γ 2

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Problema: Dado F~ , como saber se ∃f tal que ∇f = F~ ?

Teorema 10. Seja F~ (x, y) = A(x, y)~i + B(x, y)~j , onde A(x, y) e B(x, y) são de classe C 1 num
retângulo < = [a, b] × [c, d].

Ay = Bx em < ⇐⇒ ∃ f tal que ∇f = F~ em < .

Prova:

(⇐)
∂f ∂f
Se ∇f = F~ então A = e B= . Logo
∂x ∂y

∂A ∂2f Teo. Schwarz ∂2f ∂B


= ======= =
∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂x

(⇒)

Desenvolveremos argumento semelhante ao feito na prova do Teorema anterior.


Fixemos (x0 , y0 ) ∈ < .

19
Seja f (x, y) definida em < por: < (x, y)
Z
γ2
6
f (x, y) = F~ · d~r , γ1
γ -
(x0 , y0 ) (x, y0 )
onde γ é a curva indicada na figura ao lado.

Consideremos as parametrizações γ1 : [x0 , x] → < dada por γ1 (t) = (t, y0 ) e γ2 : [y0 , y] → <
dada por γ2 (t) = (x, t).
Z x Z y
Assim f (x, y) = A(t, y0 )dt + B(x, t)dt.
x0 y0
∂f (∗)
Então: (x, y) == B(x, y).
∂y
Z y
∂f (∗)+(∗∗) ∂B hip.
(x, y) === A(x, y0 ) + (x, t)dt === A(x, y0 ) +
∂x Z y y0 ∂x
∂A (∗)
+ (x, t)dt == A(x, y0 ) + A(x, y) − A(x, y0 ) =
y0 ∂y
= A(x, y).

Onde estamos usando:


(*) Teorema Fundamental do Cálculo.
(**)Teorema de Derivação sob o Sinal de Integração.
Portanto, ∇f (x, y) = F~ (x, y).

Observação:
O teorema anterior continua válido se ao invés do retângulo < considerarmos uma região Ω
simplesmente conexa, isto é, Ω não apresenta “buracos”. [Mais precisamente, uma região Ω ⊂ Rn
é dita simplesmente conexa se toda curva fechada contida em Ω puder ser deformada continuamente
dentro de Ω até reduzir-se a um ponto.] No entanto, o teorema não é válido para regiões quaisquer,
conforme mostra o exemplo a seguir.

não
simplesmente simplesmente
conexa conexa

Exemplo:

20
y
Seja γ(t) = (cos t , sen t) , t ∈ [0, 2π]. 6
γ
}
−y ~ x ~
F~ (x, y) = i+ 2 j ; (x, y) ∈ D = R2 − {0} a -
x2+y 2 x + y2 x

−y y 2 − x2
A(x, y) = ⇒ Ay (x, y) =
x2 + y 2 (x2 + y 2 )2

x y 2 − x2
B(x, y) = ⇒ Bx (x, y) =
x2 + y 2 (x2 + y 2 )2
Z Z
Se existir f tal que ∇f = F~ em D , então F~ q d~r = ∇f q d~r = 0.
γ γ
Mas, calculando pela definição,
Z Z 2π
F~ q d~r = 1dt = 2π 6= 0 .
γ 0

Portanto, @f definida em D com a propriedade acima.


No entanto, para qualquer curva fechada Λ contida em um retângulo contido em D teremos:
Z y6
F~ p d~r = 0
Λ Λ
¼
Um resultado análogo ao teorema anterior r -
x
também é válido para R3 . Vejamos.

Teorema 11. Seja F~ (x, y, z) = A(x, y, z)~i + B(x, y, z)~j + C(x, y, z)~k onde A , B e C são de classe
C 1 no paralelepı́pedo < = [a, b] × [c, d] × [e, f ].

Então F~ é conservativo em < se e somente se

Ay = Bx , Az = Cx e Bz = Cy em <

Observação: A prova é semelhante à do teorema anterior, sendo que a função potencial do campo
pode ser obtida integrando F~ sobre uma poligonal contida em < como abaixo:

z
6

r
¡

¡
ª
¡ 6 z
q y
¡
¡
ª
x

21
Observação: O teorema anterior continua válido se ao invés do paralelepı́pedo < considerarmos
uma região Ω simplesmente conexa como na Observação depois do Teorema 10. Note que no R3
uma região simplesmente conexa pode apresentar “buracos”como entendidos na linguagem comum.
Tal é o caso de uma bola da qual foi retirada o centro. Já uma bola da qual foi retirado um diâmetro
não é uma região simplesmente conexa.

Não simplesmente Simplesmente


conexa conexa

Exercı́cios resolvidos
1. Seja ~r(t) = cos t ~i + sen t ~j , t ∈ [0, π/2]

F~ (x, y) = y 2 ~i + (2xy − ey )~j .


Z
Calcular F~ q d~r .
γ
6y
Resolução:

(0, 1)
1o
¯ Método: I

Pela definição: -
Z Z π/2 ¡ (1, 0) x
¢
F~ · d~r = 2
sen t , 2 cos t sen t − e sen t
· (−sen t , cos t)dt = . . .
γ 0

2o¯ Método:
F~ é do tipo gradiente ?

Ay = 2y = Bx em qualquer retângulo.

Portanto é gradiente.

Procuremos f tal que ∇f = F~ , isto é,

fx (x, y) = y 2 (1)
fy (x, y) = 2xy − ey (2)
Logo f (x, y) = xy 2 + φ(y)

22
(2)
fy (x, y) = 2xy + φ 0 (y) === 2xy − ey
∴ φ 0 (y) = −ey ⇒ φ(y) = −ey
∴ f (x, y) = xy 2 − ey
Logo,
Z
F~ q d~r = f (0, 1) − f (1, 0) = 1 − e
γ

3o
¯ Método:
Sabemos que F~ é do tipo gradiente em R2 . Logo, a integral não depende da curva. Vamos
calcular sobre o segmento de (1,0) até (0,1).

Consideremos Γ(t) = (1 − t)~i + t~j , t ∈ [0, 1]

Assim:
Z Z Z 1 Z 1£ ¤
F~ q d~r = F~ q d~r = (t2 , 2t(1 − t) − et ) q (−1, 1)dt = −t2 +2t(1−t)−et dt = 1 − e
γ Γ 0 0

Z
2. Calcular (y + sen x)dx + (x + ey )dy onde γ é uma curva suave por partes, de (0, 1) a
γ
(π, 0).

Resolução:
y
∂A ∂B 6
= em R2
∂y ∂x
1
-
Portanto vale a condição do Teorema 10

em qualquer retângulo < . -


π x

Aqui, para encontrarmos a função potencial −f vamos utilizar um método alternativo, base-
ado no raciocı́nio desenvolvido na demonstração do Teorema 10.
Z
Seja f (x, y) definida em R2 por f (x, y) = F~ q d~r, 6y
Γ (x,q y)

Γ2
6
onde Γ é a curva indicada ao lado Γ1
- -
(0, 0) (x, 0) x

Assim:
Z x Z y
f (x, y) = sen t dt + (x + et )dt = xy + ey − cos x
0 0

23
Logo, ∇f (x, y) = F~ (x, y) = (y + senx, x + ey ) e portanto
Z Z
y
(y + sen x)dx + (x + e )dy = ∇f q d~r = f (π, 0) − f (0, 1) = 3 − e
γ γ

3. Considere F~ (x, y, z) = y 2~i + (2xy + e3z )~j + 3y e3z ~k. Encontre uma função f tal que ∇f = F~ .

Resolução:

Queremos f (x, y, z) tal que:

fx (x, y, z) = y 2 (1)
fy (x, y, z) = 2xy + e3z (2)
fz (x, y, z) = 3y e3z (3)

Integrando (1) com respeito a x , obtemos:

f (x, y, z) = xy 2 + φ(y, z) (4)

Assim fy (x, y, z) = 2xy + φy (y, z).

Comparando com (2) obtemos


φy (y, z) = e3z .

Logo φ(y, z) = y e3z + h(z) .

Reescrevendo (4):
f (x, y, z) = xy 2 + y e3z + h(z).

Diferenciando com relação a z e comparando com (3) obtemos h0 (z) = 0 e assim


h(z) = K.

Logo: f (x, y, z) = xy 2 + y e3z + K é tal que ∇f = F~ .

4. Seja F~ um campo de quadrado inverso tal que

c
F~ (x, y, z) = ~r , onde
k~rk3

~r = x~i + y~j + z~k e c é uma constante. Sejam P1 e P2 pontos cujas distâncias à origem são
d1 e d2 , respectivamente.

24
Expresse em termos de d1 e d2 o trabalho realizado por F~ ao longo de uma curva suave por
partes unindo P1 a P2 .

Resolução:

c
F~ (x, y, z) = (x, y, z)
(x2 + y 2 + z 2 )3/2

z6 P1
r
:
d1
r
P2
d2
z
y
¼
x

Notemos que
|c|
kF (x, y, z)k = , ou seja, F~ é do tipo quadrado inverso.
x2 + y 2 + z 2
−c
Observemos então que F~ (x, y, z) = ∇f (x, y, z) onde f (x, y, z) = .
[x2 + y 2 + z 2 ]1/2
Assim:
−c c c(d2 − d1 )
W = f (P2 ) − f (P1 ) = + = .
d2 d1 d1 d2

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Exercı́cios propostos 1.2


I
−y x
1. Calcular dx + 2 dy , onde γ é a fronteira do disco unitário, centro em (2, 0).
γ x2 + y 2 x + y2
Z
2. Calcular (3x2 y − sen x)dx + x3 dy onde γ é a curva γ(t) = ((1 − π)t2 + π , t), t ∈ [0, 1]
γ
Z
3. Calcular x dy + y dx onde γ é uma curva suave unindo (1,1) a (2,3).
γ

4. Prove: Se F~ é um campo vetorial contı́nuo definido numa região Ω ⊂ Rn , então são equiva-
lentes:
Z
(a) F~ q d~r = 0 para qualquer curva fechada γ ⊂ Ω .
γ

25
Z
(b) F~ q d~r é independente do caminho suave por partes, γ , ligando dois pontos
γ
em Ω .

5. Calcular o trabalho realizado pelo campo F~ (x, y) = (2 − 5x + y)~i + x~j ao deslocarmos uma
partı́cula de massa unitária ao longo do triângulo de vértices (2,2), (3,1) e (3,2), no sentido
anti-horário.

1.3 Teorema de Green


Definição 12. Uma região B ⊂ R2 é dita uma região simples se toda reta paralela a um dos
eixos coordenados corta a fronteira de B em um segmento ou, no máximo, em dois pontos.

6 6 6

- - -

região simples região não simples união finita de


regiões simples

Teorema 13 (de Green). Seja D região plana limitada, que é reunião finita de regiões simples,
cada uma com fronteira constituı́da de uma curva suave por partes. Se A(x, y) e B(x, y) são de
classe C 1 num aberto contendo D e a sua fronteira γ , então:
Z ZZ · ¸
∂B ∂A
A(x, y)dx + B(x, y)dy = (x, y) − (x, y) dx dy
γ D ∂x ∂y

onde γ é percorrida deixando D sempre à esquerda (dizemos γ-orientada positivamente).

De maneira abreviada:
Z ZZ µ ¶
∂B ∂A
A dx + B dy = − dx dy
γ D ∂x ∂y

26
° *γ

D
*γ * γ

Prova:
1o
¯ Caso:
Suponhamos D-região simples (com o aspecto abaixo, por exemplo)

6y
x = h1 (y)
b µ

® x = h2 (y)
O
D 6

a -

-
x

ZZ Z b Z h2 (y)
∂B ∂B
(x, y)dx dy = dy (x, y)dx =
D ∂x a h1 (y) ∂x
Z b
= [B(h2 (y), y) − B(h1 (y), y)] dy =
a
Z b Z a Z
= B(h2 (y), y)dy + B(h1 (y), y)dy = B(x, y)dy
a b γ
A última igualdade ocorre, uma vez que a parte paralela ao eixo x em nada contribui com a
integral.
Analogamente,
Z ZZ
∂A
A(x, y)dx = − (x, y)dx dy
γ D ∂y
A soma destas igualdades fornece a prova deste primeiro caso.

2o
¯ Caso:
Suponhamos D = D1 ∪ · · · ∪ Dn reunião finita de regiões simples, cada uma com uma fronteira
constituı́da de uma curva suave por partes γi , i = 1, . . . , n .

27
Temos já provado: µ ¶
Z ZZ
∂B ∂A
Adx + Bdy = − dx dy
γi Di ∂x ∂y
A soma das integrais sobre Di é uma integral sobre D . Logo,
ZZ µ ¶ Xn Z
∂B ∂A
− dx dy = Adx + Bdy (*)
D ∂x ∂y γi i=1

A fronteira de D é constituı́da de partes das curvas γi .


Podem existir partes das curvas γi que não fazem parte de γ , como mostra a figura a seguir.

y
6

ª 6
? @ D
¶³
- @
@
R
¾ @
I
µ´
Y Yj @
@
6? :

-
x

Estas partes serão percorridas duas vezes, uma em cada sentido, em nada contribuindo com o
membro direito de (∗).
Logo,
ZZ µ ¶ Z
∂B ∂A
− dx dy = Adx + Bdy
D ∂x ∂y γ

Aplicação: Área de uma região plana


ZZ Z
Tomando-se A ≡ 0 e B(x, y) = x, temos Área de D = dx dy = x dy .
D γ
ZZ Z
Tomando-se A(x, y) = −y e B ≡ 0, temos Área de D = dx dy = − y dx
D γ
Z
1
Ainda, somando-se as duas igualdades anteriores temos Área de D = − y dx + x dy .
2 γ

Exercı́cios resolvidos
I
1. Use o Teorema de Green para calcular (1 + 10xy + y 2 )dx + (6xy + 5x2 )dy, onde γ é o
γ
quadrado de vértices (0, 0), (a, 0), (0, a) e (a, a).

28
Resolução:
I ZZ
(1 + 10xy + y 2 )dx + (6xy + 5x2 )dy = [(6y + 10x) − (10x + 2y)] dx dy =
γ R
ZZ
= 4y dx dy =
R
Z a Z a
= dy 4y dx = · · · = 2a3 .
0 0

y
6

? R 6

- -
x

Z
2. Calcular x2 y dx + y 3 dy, onde γ é a curva indicada na figura.
γ

y6
y=x

1 y 3 = x2
ª
µ
γ
-
1 x

Resolução:

Seja D a região limitada pela curva.


∂A
A(x, y) = x2 y , (x, y) = x2
∂y
∂B
B(x, y) = y 3 , (x, y) = 0
∂x

Z ZZ Z 1 Z x2/3
2 3 2
x y dx + y dy = −x dx dy = − dx x2 dy =
γ D 0 x
Z 1
1
= − (x8/3 − x3 )dx = · · · = − .
0 44

x2 y 2
3. Calcular a área limitada pela elı́pse + 2 = 1.
a2 b

29
6y

rb
ra -
x
1
γ

Resolução:

Seja γ(t) = (a cos t , b sen t), t ∈ [0, 2π]


Z Z
1 1 2π
Área = ª x dy − y dx = (a cos t · b cos t + b sen t · a sen t)dt =
2 γ 2 0
Z
1 2π
= ab dt = π ab
2 0

4. D = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1}

A(x, y) = A(r), B(x, y) = B(r) ; funções de classe C 1 que dependem somente da distância
r à origem.

Prove que
ZZ µ ¶
∂B ∂A
− dx dy = 0 .
D ∂x ∂y

Resolução:
y
6
Seja γ(t) = (cos t , sen t), t ∈ [0, 2π]

D
Pelo Teorema de Green, -
x
ZZ µ ¶ Z 7γ
∂B ∂A
− dx dy = A(1)dx + B(1)dy
D ∂x ∂y γ

Considerando agora A(x, y) = A(1) e B(x, y) = B(1), (x, y) ∈ D (isto é, estendemos A e B
como constantes em D ) e aplicando novamente o Teorema de Green obtemos
Z ZZ µ ¶ ZZ
∂B ∂A
A(1)dx + B(1)dy = − dx dy = 0 dx dy = 0
γ D ∂x ∂y D

Assim:
ZZ µ ¶
∂B ∂A
− dx dy = 0
D ∂x ∂y

30
5. Considere F~ (x, y) = A(x, y)~i + B(x, y)~j
∂B ∂A
A, B ∈ C 1 com = na região S hachurada abaixo.
∂x ∂y

ª
γ2 ¿
γ1 S
6
ÁÀ

Prove que:
Z Z
F~ q d~r = F~ q d~r
γ1 γ2

Resolução:

Pelo Teorema de Green:


Z Z ZZ µ ¶
∂B ∂A
F~ q d~r − F~ q d~r = − dx dy = 0
γ2 γ1 S ∂x ∂y
Z Z
∴ F~ q d~r = F~ q d~r
γ2 γ1

−y x
6. Considere F~ (x, y) = · ~i + 2 · ~j , (x, y) 6= (0, 0) e Γ(t) = (2 cos t , 3 sen t),
x2 + y 2 x + y2
t ∈ [0, 2π].
Z
Calcular F~ q d~r .
Γ
y
6
3

2 -
x

ºΓ

Resolução:

Torna-se difı́cil calcular diretamente.

Ainda: não podemos aplicar diretamente o Teorema de Green.


∂B ∂A
Observamos que = na região hachurada ao lado.
∂x ∂y

31
y
6
3

º·
I1 2 -
Γ1
¹¸ x

ºΓ

Pelo exercı́cio anterior temos:


Z Z Z 2π
F~ q d~r = F~ q d~r = 1 dt = 2π .
Γ Γ1 0

Exercı́cios propostos 1.3


Z
1. Calcular (x2 + y)dx + (2x + 2y)dy, onde γ é a curva indicada na figura.
γ

y
6
1 ¾
?
6
R 6
−1 1 1 -
2 x
?

-
−1
Z
2. Use o Teorema de Green para calcular a integral F~ q d~r , onde:
γ

F~ (x, y) = (sen y − x2 y)~i + (x cos y + xy 2 )~j e γ é a circunferência x2 + y 2 = 1 , orientada


positivamente.
Z
(x + y)dx − (x − y)dy
3. Calcule , onde Γ é a circunferência x2 + y 2 = r2 , sentido anti-
γ x2 + y 2
horário.

(Sugestão: usar a definição).

1.4 Integrais de Superfı́cie


Consideremos o problema de definir área de uma superfı́cie S : z = f (x, y) sobre Ω ⊂ R2 .

32
* S
z 6

z
¼
y
x
z Ω

Comecemos com uma superfı́cie plana S : z = Ax + By + C sobre um retângulo R, como a


seguir.
Sabemos que área de S = k~a × ~bk, onde:
ponto inicial de ~a = (x, y, Ax + By + C)
ponto final de ~a = (x + ∆x , y , A(x + ∆x) + By + C)
Logo ~a = (∆x , 0 , A∆x) ou seja ~a = ∆x~i + A∆x~k.
- S
z6
~b
~a j

x y
y + ∆y
x + ∆x z
¼ y
x R

Analogamente, ~b = ∆y~j + B∆y~k

¯ ¯
¯ ~i ~j ¯ ~k
¯ ¯
¯ ¯
¯ ¯
~a × ~b = ¯ ∆x 0 A∆x ¯ = −A ∆x ∆y~i − B ∆x ∆y~j + ∆x ∆y~k .
¯ ¯
¯ ¯
¯ 0 ∆y B∆y ¯


Logo, área de S = A2 + B 2 + 1 ∆x ∆y .

Antes de passarmos ao caso geral, introduziremos uma nova nomenclatura.

33
Uma superfı́cie S será dita suave se o seu vetor normal unitário ~η variar continuamente através
de S .
Se S : z = f (x, y), (x, y) ∈ Ω , então S é suave se e somente se f é de classe C 1 sobre Ω (isto
é, fx e fy são contı́nuas sobre um aberto contendo Ω ).
Ainda, se S : z = f (x, y), (x, y) ∈ Ω onde Ω é do tipo considerado para integrais duplas
(fronteira contida em um número finito de conjuntos suaves) diremos que S tem projeção regular
no plano xy .
Consideremos então S : z = f (x, y), suave, com projeção regular Ω no plano xy .
Seja G uma rede cobrindo a região Ω .
Seja (xi , yj ) o centro de cada retângulo coordenado Rij determinado por G .

z
6

z
y
¼ Rij
x

Aproximamos a área de S sobre o retângulo Rij pela área do plano tangente a S pelo ponto
(xi , yj , f (xi , yj )).
A equação do plano tangente é:

∂f ∂f
(x − xi ) (xi , yj ) + (y − yj ) (xi , yj ) − (z − f (xi , yj )) = 0
∂x ∂y

ou
∂f ∂f
z= (xi , yj )x + (xi , yj )y + Cij
∂x ∂y

34
r

r
Rij
z
(xi , yj , 0)

∴ Área sobre Rij , no plano tangente considerado é:


s· ¸2 · ¸2
∂f ∂f
(xi , yj ) + (xi , yj ) + 1 · ∆xi ∆yj
∂x ∂y

Esta expressão dá uma estimativa para a área da superfı́cie sobre Rij .
Somando, teremos uma estimativa para a área de S .
Fazendo m(G) → 0, temos:
sµ ¶2 µ ¶2
ZZ
∂f ∂f def.
+ + 1 dx dy == Área de S
Ω ∂x ∂y

Exemplos:

1. Ache a área da região do plano z = −y + 1 que está dentro do cilindro x2 + y 2 = 1.


z
6

-
y

= ²
x Ω

35
Seja z = f (x, y) = −y + 1

Ω = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1}

fx (x, y) = 0

fy (x, y) = −1
Z √ Z √ Z

A(S) = 1 + 1 dA = 2 dA = 2 π , onde usamos o fato que dA é a área do cı́rculo
Ω Ω Ω
de raio 1.

2. Calcular a área do parabolóide hiperbólico z = xy que fica dentro do cilindro x2 + y 2 = 1.

ZZ p
Área = y 2 + x2 + 1 dx dy

Integrando em coordenadas polares:
Z 2π Z 1 p
2 h √ i
Área = dθ r2 + 1 r dr = · · · = π 2 2 − 1
0 0 3
3. Dar a área da parte do cilindro z = y 2 que fica sobre o triângulo de vértices (0, 0), (0, 1) e
(1, 1).

z
6

S
1y

q
x

36
ZZ p Z 1 Z y p
A(S) = 2
4y + 1 dx dy = dy 4y 2 + 1 dx =
Ω 0 0

Z 1p
1 √
= 4y 2 + 1 y dy = · · · = (5 5 − 1)
0 12
— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Seja S : z = f (x, y) suave, com projeção regular Ω no plano xy .


~η = vetor unitário normal a S por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Sejam α, β e γ os ângulos que ~η faz com os semi-eixos positivos 0x , 0y , 0z , respectivamente.

γ ¸ η

z
6

~a = q ~b

z
¼ y
∆x q
x
∆y

?
(x0 , y0 )

~η = cos α .~i + cos β . ~j + cos γ . ~k (*)


π
Convencionamos: ~η é tomado de modo que 0 ≤ γ ≤ (normal superior).
2
π
Observação: Com estas hipóteses, a situação γ = não ocorre. (Justifique)
2

Seja o retângulo ilustrado e a sua correspondente imagem no plano tangente a S por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
A equação deste plano pode ser escrita como:
∂f ∂f
z= (x0 , y0 )x + (x0 , y0 )y + C
∂x ∂y
Pelo visto anteriormente,
h i
~a × ~b = −fx (x0 , y0 )~i − fy (x0 , y0 )~j + ~k ∆x ∆y

37
~a × ~b −fx (x0 , y0 )~i − fy (x0 , y0 )~j + ~k
~η = =q
k~a × ~bk [fx (x0 , y0 )]2 + [fy (x0 , y0 )]2 + 1
Comparando com (∗),

1
cos γ = q
[fx (x0 , y0 )]2 + [fy (x0 , y0 )]2 + 1
q
Assim [fx (x0 , y0 )]2 + [fy (x0 , y0 )]2 + 1 = sec γ .

Variando o ponto (x0 , y0 ) : γ = γ(x, y)


q
[fx (x, y)]2 + [fy (x, y)]2 + 1 = sec γ(x, y)

ZZ
∴ Área de S = sec γ(x, y)dx dy

De modo análogo:
Se S : x = g(y, z) com hipóteses semelhantes às anteriores, teremos:
ZZ
Área de S = sec α(y, z)dy dz

z6

qΩ

S q
) y
x

α z
®~
η

Massa de uma Lâmina Curva


Consideremos uma lâmina que tenha a forma de uma superfı́cie S , a qual se projeta regularmente
em Ω , no plano xy .

Problema: Definir a massa da lâmina.

38
z
6

- S
ij

j
ª y
x Ω
?
Rij

Se a densidade ρ é constante, então massa = ρ · (Área de S ).


Suponhamos ρ = ρ(x, y, z) contı́nua.
S : z = f (x, y) suave, com projeção regular Ω no plano xy .
Seja G uma rede cobrindo Ω .
Seja (xi , yi ) o centro de cada retângulo coordenado Rij determinado por G .
Consideremos
Sij : z = f (x, y); (x, y) ∈ Rij .

Se Rij é pequeno, a densidade em Sij é aproximadamente ρ(xi , yj , f (xi , yj ))


( ρ é contı́nua ) e assim,

massa de Sij ' ρ(xi , yj , f (xi , yj )) · Área Sij '


q
' ρ(xi , yj , f (xi , yj )) · [fx (xi , yj )]2 + [fy (xi , yj )]2 + 1 ∆xi ∆yj
Somando, teremos uma estimativa para a massa de S .
Fazendo m(G) → 0, temos
ZZ q
def.
massa de S === ρ(x, y, f (x, y)) fx2 (x, y) + fy2 (x, y) + 1 dx dy

ZZ
= ρ(x, y, f (x, y)) sec γ(x, y)dx dy

Exercı́cio resolvido
1. Calcular a massa de uma lâmina que tem a forma do cone z 2 = x2 + y 2 entre os planos z = 1
e z = 4, se a densidade é proporcional à distância ao eixo 0z .

39
Resolução:

p
ρ(x, y, z) = k x2 + y 2
z
6
p
f (x, y) = x2 + y 2

x
fx (x, y) = p
x2 + y 2
y
fy (x, y) = p
x2 + y2
y
fx2 + fy2 +1=2 z 2 z
j x + y 2 = 16

+ x2 + y 2 = 1
∴ sec γ(x, y) = 2 x

ZZ p Z Z µ ¶
√ √ 2π 4 √ 43 − 1
massa = k x2 + y2 · 2 dx dy = 2 k dθ r · r dr = · · · = 2 2 kπ .
Ω 0 1 3

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

S : z = f (x, y) suave, com projeção regular Ω no plano xy .


Seja ainda H(x, y, z) contı́nua em um aberto contendo S .

Definição 14. A integral de superfı́cie de H sobre S é definida (e denotada) por:


ZZ ZZ
H(x, y, z) dS = H(x, y, f (x, y)) sec γ(x, y)dx dy
S Ω

Observação: Notemos que a Integral de Superfı́cie é uma generalização da integral de linha.


Trabalhamos com:
Na integral de Linha: (função).(comprimento de arco).
Na integral de superfı́cie: (função).(área).

Casos Especiais:
ZZ
(i) H(x, y, z) ≡ 1 ⇒ dS = Área de S .
S
(ii) H(x, y, z) = densidade no ponto (x, y, z) de uma lâmina S .
ZZ
H(x, y, z)dS = massa da lâmina.
S

40
Aplicação: Fluxo de um Fluı́do através de S
~ (variando de ponto a ponto mas
Suponhamos S imersa num fluı́do que escoa com velocidade V
não com o tempo).

Fluxo através de S = volume do fluı́do que atravéssa S na unidade de tempo.

Casos Particulares:

(i) S - plana

~ - constante
V 6
6
6
~ ⊥S
V 6
6 ~
V
Fluxo por S = volume do cilindro =
S
~ k p (área de S).
= kV

(ii) S - plana
¢¢̧ ¢¢̧
~ - constante
V ¢ ¢¢̧
¢ ¢
(A) ¢
¢ ¢
~ - não perpendicular a S
V ¢ ¢
¢ ¢
¢S ¢
¢ ¢
¢

Fluxo por S = volume do cilindro (A) =

= volume do cilindro (B) = º

~ · ~η ) p (Área de S). (B) V


= (V
~η 6
(unitário) S

Caso Geral:
S : z = f (x, y) suave, com projeção regular Ω no plano xy .
~ =V
V ~ (x, y, z) - contı́nuo.

Problema:

41
Definir fluxo através de S .
Seja G uma rede cobrindo Ω , com retângulos Rij dividindo S em pedaços Sij .
(xi , yj ) - centro de Rij .

z
6
S
º

¡
µ
¡ - Sij
¡
q¡ »»
:
»» ~
q»»» V

q
Ω j
ª
x y

R
Rij

~ = constante = V
Se Sij é pequeno, supomos que V ~ (xi , yj , f (xi , yj )) em todo Sij .

Tomamos o plano tangente a S por (xi , yj , f (xi , yj )) e substituı́mos Sij pela imagem de Rij no
plano tangente, denotando por S∗ij .
Fluxo por ~ (xi , yj , f (xi , yj )) q ~η (xi , yj , f (xi , yj )) · (área deS∗ij )
Sij ' V =
~ (xi , yj , f (xi , yj )) q ~η (xi , yj , f (xi , yj )) · sec γ(xi , yj )∆xi ∆yj
= V
Somando e fazendo m(G) → 0, temos:
ZZ
def.
Fluxo por S === ~ (x, y, f (x, y)) q ~η (x, y, f (x, y)) · sec γ(x, y)dx dy =
V

ZZ ZZ
def. abrev.
=== ~ (x, y, z) q ~η (x, y, z) dS ====
V ~ q ~η dS
V
S S

Observação: Se trocarmos ~η por −~η , o sinal da integral será trocado.

Teorema 15.
S : z = f (x, y), onde f ∈ C 1 em
Ω = projeção regular de S no plano xy .
~η - normal superior (unitário)
~ - campo vetorial contı́nuo
V

42
Então:
ZZ ZZ
~ q ~η dS =
V (−v1 fx − v2 fy + v3 )dx dy
S Ω

(a integranda calculada em (x, y, f (x, y)).

Prova:
Estamos supondo V~ (x, y, z) = v1 (x, y, z)~i + v2 (x, y, z)~j + v3 (x, y, z)~k.
−fx~i − fy~j + ~k
Lembremos que ~η = .
sec γ(x, y)
Logo,
ZZ ZZ h i
~ q
V ~η dS = V~ (x, y, f (x, y)) q −fx (x, y)~i − fy (x, y)~j + ~k dx dy =
S Ω
ZZ
= (−v1 fx − v2 fy + v3 )dx dy.

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Exercı́cios resolvidos
ZZ p
1 2
1. Calcule a integral 1 + y 2 dS , onde S : z = y , 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1.
S 2
S
µ
6z
* y

q Ω
1
j
x
Resolução:
1
Temos f (x, y) = y2.
2
q p
Assim: sec γ(x, y) = fx2 + fy2 + 1 = 1 + y 2
ZZ p ZZ p p Z 1 Z 1
4
1 + y 2 dS = 1 + y2 · 1 + y 2 dx dy = dy (1 + y 2 )dx = · · · =
S Ω 0 0 3
2. Ache a massa de uma lâmina triangular com vértices (1, 0, 0), (0, 1, 0) e (0, 0, 1), cuja densidade
é proporcional ao quadrado da distância ao plano yz .

43
z
6
1
1 S

q
q Ω y
1
ª
x
Resolução:

Temos que ρ(x, y, z) = kx2


ZZ ZZ
Massa = ρ(x, y, z) dS = ρ(x, y, f (x, y)) · sec γ(x, y)dx dy
S Ω
S : z = f (x, y) = 1 − x − y
√ √
sec γ(x, y) = 1 + 1 + 1 = 3
Z 1 Z 1−x √ 1 √
∴ Massa = dx kx2 · 3 dy = · · · = 3k
0 0 12
~ (x, y, z) = x2 y~i + z 2~k através de S : z = xy , com 0 ≤ x ≤ 1 e
3. Determine o fluxo de V
0 ≤ y ≤ 1.

*
6z y


I 1 ~
µV

1 q
x

Resolução:
ZZ ZZ
T eo.15
~ q ~η dS ====
Fluxo = V (−v1 fx − v2 fy + v3 )dx dy =
S Ω
Z 1 Z 1
= dx (−x2 y 2 − 0.x + x2 y 2 )dy = 0
0 0
Observação: notemos que neste exercı́cio V é tangente a S, e assim o fluxo seria 0.

~ (x, y, z) = 3x~i + 3y~j + z~k


4. Sejam S : z = 9 − x2 − y 2 , z ≥ 0, e V

44
ZZ
Calcular ~ q ~η dS
V
S
Resolução:
6z

-
y
M
x2 + y 2 = 9
ª
x
Consideremos Ω : x2 + y 2 ≤ 9 e f (x, y) = 9 − x2 − y 2
ZZ ZZ
£ ¤
~
V q ~η dS = −(3x) · (−2x) − (3y) · (−2y) + (9 − x2 − y 2 ) dx dy =
S Ω
ZZ Z 2π Z 3
£ 2 2
¤ 567
= 5(x + y ) + 9 dx dy = dθ (5r2 + 9)r dr = · · · = π
Ω 0 0 2

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Consideremos agora S : y = g(x, z) suave, com projeção regular Ω no plano xz .


Definimos:
ZZ ZZ
H(x, y, z) dS = H(x, g(x, z), z) sec β(x, z)dx dz
S Ω

y
*
6z
β
ª-

r 1 S

R
x

Analogamente, se S : x = h(y, z) suave, com projeção regular Ω no plano yz , definimos:


ZZ ZZ
H(x, y, z) dS = H(h(y, z), y, z) · sec α(y, z)dy dz
S Ω

45
z6


q
S
) q
x q y

αj
À~
η
ZZ
Com estas considerações, podemos definir quando S é uma superfı́cie “fechada”.
S ZZ
Nesse caso, convencionamos tomar ~η como a normal externa a S . A integral ~v q ~η dS
S
mede o fluxo que escoa para fora de S . Se for positiva, o fluxo para fora excede o fluxo para
dentro (dizemos que dentro de S temos uma fonte).Caso contrário, dizemos que dentro de S temos
um sumidouro ou poço.

Exercı́cio resolvido
~ (x, y, z) = xy~i + 4yz 2~j − yz~k para fora do cubo 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1,
Calcule o fluxo total de V
0 ≤ z ≤ 1.

Resolução:

Face η
~ ~ ·η
V ~ Fluxo ~η
6
z
6
RR
z=1 ~k −yz = − 21
R −y dx dy
RR q
z=0 −~k yz R 0 dx dy = 0
RR q ~η
z
x=1 ~i xy 1
R y dy dz = 2 q
RR ~η¼ z
x=0 −~i −xy R 0 dy dz =0 q y
RR
y=1 ~j 4yz 2 2 dx dz 4
R 4z = 3 ¼
RR x
y=0 −~j −4yz 2 R 0 dx dz = 0 ~η
?

ZZ
∴ ~ q ~η dS = 4 . Assim, temos uma fonte no interior do cubo.
V
S 3

46
Exercı́cios propostos 1.4
1. Seja S : z = f (x, y) suave, com projeção regular Ω no plano xy . Interprete geometricamente
ZZ
H(x, y, z) dS, onde H(x, y, z) ≡ C > 0.
S
ZZ
2. Mostre que uma integral dupla g(x, y)dx dy do tipo considerado no Capı́tulo anterior é

um caso particular de integral de superfı́cie.

1.5 Divergente - Rotacional


Seja F~ (x, y, z) = A1 (x, y, z)~i + A2 (x, y, z)~j + A3 (x, y, z)~k um campo de vetores com derivadas
parciais.

~ , div F~ , é definida por:


Definição 16. A divergência de F
∂A1 ∂A2 ∂A3
div F~P = (P ) + (P ) + (P ) .
∂x ∂y ∂z
No plano: F~ (x, y) = A1 (x, y)~i + A2 (x, y)~j
∂A1 ∂A2
div F~ (x, y) = (x, y) + (x, y) .
∂x ∂y
Exemplos:

1. F~ (x, y, z) = x2~i − xy~j + xyz~k

div F~ (x, y, z) = x + xy

2. F~ (x, y, z) = −y~i + x~j z


6
div F~ (x, y, z) = 0
³q
³³
³
)
1
³
³
qP q³³
PP
P
P
q

³q
³³
³
)
³³PPP ³³1
³
³ qP³
³ Pq³
P

³ PP PP
PP
q PP
q
x
y

3. F~ (x, y, z) = x~i + y~j + z~k

div F~ (x, y, z) = 3

47
z
6
¸

I q
q
3
q
q -
³³PPP
³³q PP
³³ q PP
³³ q PP
³³
) ª P
q
x ² y
^

−→
Definição 17. Seja F~ = A1~i + A2~j + A3~k , com derivadas parciais. O rotacional de F~ , rot F~ , é
definido por:
µ ¶ µ ¶ µ ¶
−→ ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1
rot F~P = (P ) − (P ) ~i + (P ) − (P ) ~j + (P ) − (P ) ~k
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
Pode ser calculado através do determinante simbólico:
¯ ¯
¯ ~ ~j ~k ¯
¯ i ¯
−→ ¯ ¯
¯ ∂ ¯
rot F~ = ¯ ∂x ∂ ∂ ¯
¯ ∂y ∂z ¯
¯ ¯
¯ A1 A2 A3 ¯

No plano: F~ (x, y) = A1 (x, y)~i + A2 (x, y)~j

· ¸
−→ ∂A2 ∂A1
~
rot F (x, y) = (x, y) − (x, y) ~k
∂x ∂y

Exercı́cios resolvidos
1. F~ (x, y, z) = −y~i + x~j
¯ ¯
¯ ~ ~j ~k ¯¯
¯ i
−→ ¯ ¯
¯ ∂ ∂ ¯¯ = 2~
rot F~ = ¯ ∂x ∂ k (rotação pura)
¯ ∂y ∂z ¯
¯ ¯
¯ −y x 0 ¯

2. F~ (x, y, z) = x~i + y~j + z~k


−→
rot F~ = 0

Exercı́cios propostos
1. Sejam φ(x, y, z) = x2 yz 3 e F~ (x, y, z) = xz~i − y 2~j + 2x2 y~k

Calcular:
−→ −→
~ φ
a) grad b) div F~ c) rot F~ d) div (φ F~ ) e) rot (φ F~ )

48
−→
2. Prove que div(rot F~ ) = 0 , onde F~ = A1~i + A2~j + A3~k , com derivadas parciais segundas
contı́nuas.
−→
~ f ) = 0, onde f ∈ C 2 .
3. Prove que rot (grad

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Observação:
Consideremos o operador ∇ (nabla) definido por:

∂ ∂ ∂
∇ = ~i + ~j + ~k .
∂x ∂y ∂z

Então: µ ¶
~ f = ~i ∂f + j ∂f + k ∂f = ~i ∂ + ~j ∂ + ~k ∂ f = ∇f ,
grad
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
notação que já vı́nhamos usando para o gradiente.
As notações abaixo, encontradas em muitos textos, são sugestivas:

div F~ = ∇ q F~

−→
rot F~ = ∇ × F~ .

Com a introdução do rotacional, podemos resumir alguns resultados já alcançados (Teoremas
4, 8 e 11) do seguinte modo:
Seja F~ um campo vetorial de classe C 1 num paralelepı́pedo < = [a, b]×[c, d]×[e, f ]. As seguintes
afirmações são equivalentes:

1. F~ é conservativo em <.

2. rot F~ = ~0 em <.
Z
3. F~ q d~r = 0 para qualquer curva fechada γ ⊂ <, suave por partes.
γ
Z
4. F~ q d~r é independente da curva suave por partes γ ⊂ < , ligando dois pontos em < .
γ

De fato:
(1) ⇐⇒ (2) - (Teorema 11)
(1)⇐⇒ (4) - (=⇒ Teorema 4); (⇐= Teorema 8)
(3) ⇐⇒ (4) - ( Exerı́cio 4, pg. 26)

49
1.6 Teoremas: Gauss - Stokes
Suponhamos A, B, Γ, D nas condições do teorema de Green (Teo. 13). Então:
Z ZZ µ ¶
∂A ∂B
−B dx + A dy = + dx dy
γ D ∂x ∂y

γ?

T~
Á

D p

s

Colocando
F~ (x, y) = −B(x, y)~i + A(x, y)~j
~ (x, y) = A(x, y)~i + B(x, y)~j
V
a equação acima fica:
I ZZ
F~ q d~r = ~ dx dy .
div V
γ D

Lembrando que
I I
F~ q d~r = F~ q T~ ds
γ γ

(vide observação após a interpretação da integral de linha como trabalho).


e notando que
F~ q T~ = V
~ q ~η (*)

obtemos
I ZZ
~ q ~η ds =
V ~ dx dy
div V
γ D

Prova de (∗):
Seja ~η = (a, b) e T~ = (−b, a) ( rotação de 900 de ~η no sentido anti-horário ).
Temos: F~ = (−B, A) e V
~ = (A, B).

Assim: F~ q T~ = Bb + Aa = V
~ q ~η .

O teorema de Green, na formulação anterior, admite uma extensão.

Teorema 18 (da Divergência (ou Teorema de Gauss)). Seja Ω um sólido limitado por uma
superfı́cie fechada S , formada por um número finito de superfı́cies suaves e seja ~η a normal externa

50
~ (x, y, z) tem derivadas parciais contı́nuas num aberto contendo
unitária. Se as componentes de V
Ω , então:
ZZ ZZZ
~ q ~η dS =
V ~ dx dy dz
divV
S Ω

z
6

3 ~
η
q

S
q
j
y
¼ ~η W
x

Lembremos, antes de prosseguir, o Teorema do Valor Médio do Cálculo Integral:


Z b
Seja f : [a, b] → R contı́nua. Então, existe c ∈ (a, b) tal que f (x)dx = f (c) · (b − a).
a

Resultado análogo continua válido para integrais triplas. Mais especificamente:


g : E → R contı́nua na esfera E . Então existe P0 no interior de E tal que:
ZZZ
g(x, y, z)dx dy dz = g(P0 ) · vol(E)
E

Interpretação Fı́sica da Divergência


P - ponto arbitrário.
Bε - bola fechada de centro P , raio ε > 0, imersa em um fluı́do.
Sε - superfı́cie de Bε .
~ (x, y, z) - velocidade do fluı́do no ponto (x, y, z), com derivadas parciais contı́nuas.
V
Pelo teorema da Divergência, temos:
ZZ ZZZ
~ q ~η dS =
V ~ dx dy dz
div V (*)
Sε Bε
ZZZ
Logo, ~ dx dy dz = fluxo para fora de Sε .
div V

Aplicando o Teorema do Valor Médio para o segundo membro de (∗) , temos:


ZZ
~ q ~η dS = div V
V ~Pε · vol(Bε )

51

¸

qP
βε

onde Pε ∈ Bε , ou seja: ZZ
~ q ~η dS
V
~ Pε = Sε
div V
vol (Bε )
Fazendo ε → 0 temos que Pε → P e assim
ZZ
~ q ~η dS
V
~P = lim S ε def.
div V == intensidade do fluxo em P
ε→0 vol (Bε )

~P é o valor limite do fluxo por unidade de volume sobre uma esfera de centro em
Assim: div V
P , quando o raio da esfera tende a zero.
~P e tomamos uma pequena esfera de centro em P , temos:
Se conhecermos div V

vol. do fluı́do para fora por unidade de tempo ~P


' div V
vol. da esfera

~P > 0 então o fluı́do “se afasta” de P , isto é, P é uma fonte. Se div V
Logo: Se div V ~P < 0

então o fluı́do “se aproxima” de P , isto é, P é um poço ou sumidouro.


~P = 0, ∀P , dizemos que o fluı́do é incompressı́vel.
Se div V
~ = 0 é chamada equação de continuidade dos fluı́dos incompressı́veis.
div V

Observação:
Podemos repetir o raciocı́nio acima para fluxo magnético ou elétrico.

Exercı́cios resolvidos
1. Comprove o teorema da divergência para o caso:

Ω - tetraedro limitado pelos planos coordenados e por x + y + z = 1.

~ (x, y, z) = 3x2~i + xy~j + z~k


V

Resolução:

52
~ (x, y, z) = 6x + x + 1 = 7x + 1
div V
Consideremos:

z
6
S3 S4 : x + y + z = 1
M µ
S2
*

z
y
) ?
x
S1
Z Z 1 Z 1−x Z 1−x−y
~ dx dy dz = 1
div V (7x + 1)dx dy dz = · · · =
Ω 0 0 0 8
ZZ ZZ
~ q ~η dS =
V (3x2~i + xy~j + 0~k) q (−~k)dS = 0
S1 S1
ZZ ZZ
~ q ~η dS =
V (0~i + 0~j + z~k) q (−~i)dS = 0
S2 S2
ZZ ZZ
~ q ~η dS =
V (3x2~i + 0~j + z~k) q (−~j)dS = 0
S3 S3

S4 : z = f (x, y) = 1 − x − y, (x, y) ∈ S1
ZZ ZZ
~ T eo.15
V q ~η dS ==== (−v1 · fx − v2 · fy + v3 )dx dy =
S4 S1
Z 1 Z 1−x
£ 2 ¤ 1
= dx 3x + xy + (1 − x − y) dx dy = · · · =
0 0 8
Logo,
ZZ ZZZ
V~ q ~η dS = ~ dx dy dz
div V
S Ω

2. Sejam: Ω - sólido limitado por x2 + y 2 = 4, z = 0, z = 3

~ (x, y, z) = x~i + y~j + z~k e


V
ZZ
Use o teorema da divergência para calcular o fluxo ~ q ~η dS .
V
S
Resolução:

53
z
6

z=3

2 -
z=0
y

ª
x
ZZ
Sem calcular, sabemos que ~ q ~η dS > 0. Por que?
V
S
Calculando:
ZZ ZZZ
~ q
V ~η dS = 3 dx dy dz = 3.vol(Ω) = 3.12π = 36π
S Ω

~ (x, y, z) = −y~i + x~j.


3. Idem ao exercı́cio anterior, com V
Resolução:
ZZ
Sem calcular, sabemos que ~ q ~η dS = 0. Por que?
V
S
Calculando:
ZZ ZZZ
V~ q ~η dS = 0 dx dy dz = 0
S Ω

Exercı́cios propostos 1.6 - A


~ (x, y, z) = x~i + y~j + z~k para
1. Se Ω é o cubo unitário [0, 1] × [0, 1] × [0, 1], calcule o fluxo de V
fora de Ω .

~ = x~i + 2y 2~j + 3z 2~k para fora do sólido Ω : x2 + y 2 ≤ 9 , 0 ≤ z ≤ 1.


2. Calcule o fluxo de V

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

Voltemos a examinar o Teorema de Green.


Suponhamos A , B , γ , D nas condições do Teorema. Então:
Z ZZ µ ¶
∂B ∂A
A dx + B dy = − dx dy (∗)
γ D ∂x ∂y

54
~ (x, y) = A(x, y)~i + B(x, y)~j , então
Lembrando que se V
· ¸
−→ ∂B ∂A
~
rot V (x, y) = (x, y) − (x, y) ~k ,
∂x ∂y

podemos reescrever a fórmula (*) acima como:

I ZZ
−→
~ q d~r =
V ~ ) q ~k dx dy
(rot V
γ D

O teorema de Green, na formulação anterior, admite uma extensão.

Teorema 19 (de Stokes). Seja S : z = f (x, y) superfı́cie suave que se projeta numa região Ω do
plano xy , nas condições do Teorema de Green.
~η - normal unitária superior
Γ - curva que delimita Ω orientada no sentido positivo.
Seja γ a imagem de Γ por f , orientada no mesmo sentido de Γ .
~ tem derivadas parciais contı́nuas num aberto contendo S , então:
Se as componentes de V
Z ZZ
−→
~ q d~r =
V ~ ) q ~η dS
(rot V
γ S


z K
6 S

-
γ

z
y
¼ Ω
x -
Γ

Exercı́cios resolvidos
1. Comprove o Teorema de Stokes para o caso:

~ (x, y, z) = x~i + y~j + z~k


S : parte da superfı́cie esférica x2 + y 2 + z 2 = 1, z ≥ 0 e V
Resolução:

55
6z

-
1 y
γ
x
ª
−→
~ = ~0
Notemos que rot V

Logo,
ZZ ZZ
−→
~ ) q ~η dS =
(rot V 0 dS = 0
S S
Ainda: Seja γ(t) = (cos t , sen t , 0), t ∈ [0, 2π]
Z Z 2π Z 2π
~ q d~r =
V (cos t, sent, 0) q (sent, cost, 0)dt = 0 dt = 0
γ 0 0

2. Verifique o Teorema de Stokes para o caso:


~ (x, y, z) = 3z~i + 4x~j + 2y~k
S : z = 10 − x2 − y 2 , 1 ≤ z ≤ 9 e V
Resolução:

6z
Queremos verificar que:
) - γ2
ZZ Z Z
−→
~ · ~η dS =
rot V ~ · d~r +
V ~ · d~r
V
S γ1 γ2

γ1 (t) = (3 cos t , 3 sen t , 1), t ∈ [0, 2π]

γ
1 * 1
γ2 (t) = (cos t , − sen t , 9), t ∈ [0, 2π] ) -
¡- 3 y
¡
¡
¡
¡
ª
x

Z Z 2π
~ q d~r =
V (3 , 12 cos t , 6 sen t) q (−3 sen t , 3 cos t , 0)dt =
γ1 0
Z 2π Z 2π
1
= (−9 sen t + 36 cos2 t)dt = 36 (1 + cos 2t)dt = · · · = 36π .
0 0 2
Z Z 2π
~ q d~r =
V (27 , 4 cos t , −2 sen t) q (− sen t , − cos t , 0)dt =
γ2 0
Z 2π Z 2π
2 1
= (−27 sen t − 4 cos t)dt = −4 (1 + cos 2t)dt = · · · = −4π .
0 0 2

56
¯ ¯
¯ ~ ~j ~k ¯¯
¯ i
−→ ¯ ¯
~ = ¯¯ ∂
rot V ∂ ∂ ¯¯ = 2~i + 3~
j + 4~k
¯ ∂x ∂y ∂z ¯
¯ ¯
¯ 3z 4x 2y ¯

Seja f (x, y) = 10 − x2 − y 2 , 1 ≤ x2 + y 2 ≤ 9

ZZ ZZ
−→
~ q ~η dS =
rot V [−2 · (−2x) − 3 · (−2y) + 4] dx dy =
S Ω
Z 2π Z 3
= dθ [4r cos θ + 6r sen θ + 4] r dr =
0 1
Z 2π · ¸3
4 3
= r cos θ + 2r3 sen θ + 2r2 dθ =
0 3 1
Z 2π µ ¶
104
= cos θ + 52 sen θ + 16 dθ = · · · = 32π .
0 3

Z Z ZZ
−→
∴ ~ q d~r +
V ~ q d~r =
V ~ q ~η dS
rot V
γ1 γ2 S

Interpretação Fı́sica do Rotacional


Z
A integral ~ q T~ ds é chamada circulação ao longo de γ (mede a tendência média do
V
γ
fluı́do circular ao longo da curva γ ).
~ q T~ 6= 0 – contribui para movimento circulatório.
V
~ q T~ = 0 – não contribui para movimento circulatório.
V

~
V
@
I
@
yXX
X @q
T~

q
~ ´J
V
´

J γ
T~ J
^

Consideremos:

P – ponto arbitrário. @
I ~η
@
@ Dε
Dε – disco arbitrário de centro P , r@
­ @r P
raio ε > 0 , imerso em um fluı́do. ­ P
­ r ε
γε – circunferência de Dε . T~ ­
À
­

T~ – vetor tangente unitário.


57
~ (x, y, z) – velocidade do fluı́do no ponto (x, y, z) – com derivadas parciais contı́nuas.
V
Usando os teoremas de Stokes e do Valor Médio para integrais duplas, obtemos:
Z Z ZZ h −→ i
−→
~ q ~
V T ds = ~ q
V d~r = ~ q ~η dS = rot V
rot V ~ q ~η (πε2 )
γε γε Dε Pε

h −→ i Z
~ 1 ~ q T~ ds
q
rot V ~η = 2 V
Pε πε γε

Fazendo ε → 0 , temos que Pε → P e assim


h −→ i Z
~ 1 ~ q T~ ds.
rot V q ~η = lim V
P ε→0 πε2 γε
h −→ i
Portanto: Em cada ponto P a componente de rot V ~ em qualquer direção ~η é o valor limite
P h −→ i
~ ~ q
da circulação de V por unidade de área no plano normal a ~η . rot V ~η tem máximo quando ~η
h −→ i h −→ i P
~
é paralelo a rot V . Logo, a direção de rot V ~ é a direção para a qual a circulação ao longo
P h −→ i P
da fronteira de um disco perpendicular a rot V ~ atinge seu valor máximo quando o disco tende
P
a reduzir-se a um ponto.

−→
~ e os aspectos rotacionais do movimento pode ser feita no caso
Uma outra relação entre rot V
que descrevemos a seguir:
Consideremos um fluı́do em rotação uniforme em torno de um eixo.
Definimos o vetor-velocidade angular, w
~ , por:

¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡ 1
¡
¡

(i) tem a direção do eixo de rotação.

(ii) tem o sentido positivo em relação à rotação (da “ponta”de w


~ , vê-se a rotação no sentido
anti-horário).

def. def. ~k
kV
(iii) kwk
~ == velocidade angular == .
k~rk

~ k = kwk
Da figura ao lado, notando que kV ~ =w
~ · k~rk , concluı́mos que V ~ × ~r .

58
Se ~ = w1~i + w2~j + w3~k
w µw
¡ ~
¡
P = (x, y, z) ¡
¡
P0 = (x0 , y0 , z0 ) ~r ¡r P0
r¼¡
P
¡
Então: ¡ ~
¡ wV
wV~
¯ ¯
¯ ~i ~j ~k ¯
¯ ¯
¯ ¯
~ ¯ ¯
V = ¯ w1 w2 w3 ¯=
¯ ¯
¯ ¯
¯ x − x0 y − y0 z − z0 ¯

= [w2 (z−z0 )−w3 (y−y0 )]~i + [w3 (x−x0 )−w1 (z −z0 )] ~j + [w1 (y−y0 )−w2 (x−x0 )] ~k .

−→ −→
~ = 2w1~i + 2w2~j + 2w3~k .
~ , temos rot V
Calculando rot V
−→
~ = 2w
Assim rot V ~.

Observação:
Se temos o movimento de um fluı́do incompressı́vel e irrotacional, no plano, então:

~ = ∂A + ∂B = 0
div V
∂x ∂y

~ = ∂B − ∂A = 0
−→
rot V
∂x ∂y
que são as equações de Cauchy-Riemann, muito utilizadas na teoria das funções de variáveis com-
plexas.

Exercı́cios propostos 1.6 - B


1. Seja S parte da superfı́cie esférica x2 + y 2 + z 2 = 1 , z ≥ 0 , orientada pela normal superior,
e seja F~ (x, y, z) = (x − y , 3z 2 , −x).
ZZ
Avalie r ~o t F~ q ~η dS .
S
2. Verifique o Teorema de Stokes sobre o triângulo de vértices (2, 0, 0), (0, 2, 0), (0, 0, 2) e para
~ (x, y, z) = x4~i + xy~j + z 4~k .
o campo V

— ◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦−◦ —

59
Resumo dos Teoremas
Os principais resultados vistos são generalizações do Teorema Fundamental do Cálculo. Co-
locamos a seguir uma relação de resultados (sem suas hipóteses) para que o leitor possa sentir
suas semelhanças essenciais. Notemos que em cada caso temos do lado esquerdo uma integral de
uma ”derivada”sobre uma região, e do lado direito, temos os valores da função original somente na
fronteira da região.

1. Teorema Fundamental do Cálculo

Z b
F 0 (x)dx = F (b) − F (a)
a a b

2. Teorema Fundamental para Integrais de Linha

Z r
∇f · d~r = f (B) − F (A) * B
γ
γ
r
A

3. Teorema de Green


ZZ µ ¶ Z
∂B ∂A
− dx dy = Adx + Bdy
D ∂x ∂y γ

4. Teorema da Divergência ou de Gauss

ZZZ ZZ
~ dx dy dz =
div V ~ · ~η dS
V 3

Ω S q

S
q

~η W

60
5. Teorema de Stokes

¡
µ
¡
¡
ZZ Z r¡
*S
~ ) · ~η dS =
(rot V ~ · d~r
V
S γ

-
γ

61

Você também pode gostar