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CMCG AE2/2016 – LITERATURA 3º ANO DO ENSINO MÉDIO 1ª CHAMADA 01 Visto:

GABARITO ___________
Maj Pimenta

QUESTÃO ÚNICA (40 escores)

MODERNISMO BRASILEIRO – 2ª GERAÇÃO, 3ª GERAÇÃO, CONCRETISMO

MÚLTIPLA ESCOLHA

ESCOLHA A ÚNICA RESPOSTA CERTA, ASSINALANDO-A COM UM “X” NOS PARÊNTESES À ESQUERDA, E
TRANSCREVENDO-A PARA A TABELA DE RESPOSTAS.
SÓ SERÃO CONSIDERADAS AS OPÇÕES ASSINALADAS NA TABELA DE RESPOSTAS AO FINAL DO
ITEM 08.

01. Sobre Carlos Drummond de Andrade e sua obra literária, é correto afirmar:

( A ) Sua obra está inserida na segunda geração modernista e sua principal característica é a poesia
surrealista inspirada no experimentalismo linguístico.
( B ) Sua poesia denuncia a condição de exploração e marginalização dos negros em nosso país e
também apresenta grande enfoque nos temas religiosos.
( C ) Um dos grandes nomes da poesia da segunda geração modernista, sua obra é marcada pela
preocupação religiosa e pela angústia existencial diante da condição humana.
( D ) Escritor cuja obra pertence à segunda geração modernista, quatro fases podem ser
identificadas em sua obra: fase gauche, fase social, a fase do “não” e a fase da
memória.
( E ) Carlos Drummond de Andrade não restringiu sua escrita à poesia, também foi contista, cronista
e romancista.

02. (CESESP-PE - Modificado) Leia a estrofe abaixo, do famoso “Poema de sete faces”, de Carlos
Drummond de Andrade:

"Mundo mundo vasto mundo


se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é o meu coração."

Nessa estrofe, o poeta:

( A ) declara que seu nome é sonoro por causa da rima.


( B ) deixa claro que desejaria mudar de nome.
( C ) tem dúvida quanto ao tamanho do seu coração.
( D ) sugere que a atividade poética não consiste apenas em "fazer rimas".
( E ) afirma que a questão central não é o nome, e sim sua origem.

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Leia o texto I, abaixo, e responda aos itens 03 a 05.

TEXTO I

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias*,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

* fugidias – que fogem e/ou têm curta duração.

(MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2001. p. 227.)

03. O verso “Eu canto porque o instante existe” apresenta uma atitude lírica marcante da obra de Cecília
Meireles, o(a)

( A ) dedicação desinteressada ao próximo.


( B ) criação de imagens surrealistas.
( C ) ênfase nas contradições do amor.
( D ) religiosidade cristã.
( E ) fugacidade do tempo.

04. A autora Cecília Meireles aborda uma temática comum aos poetas do Modernismo. Essa temática é
o(a)

( A ) reflexão sobre o próprio ato de escrever.


( B ) mudança entre as diversas fases da vida.
( C ) ausência do eu lírico em poemas subjetivos.
( D ) analogia entre o canto dos pássaros e a morte.
( E ) mistério da vida terrena.

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05. Quanto ao aspecto formal, afirma-se:

I. O texto foi construído com versos livres, embora rimados.


II. O poema apresenta um esquema de rimas cruzadas.
III. As metáforas do poema remetem aos problemas psíquicos relativos à sociedade pós-industrial.

Está correto o que se afirma apenas em

( A ) I e III.
( B ) II e III.
( C ) II.
( D ) III.
( E ) I e II.

06. Analise as proposições abaixo:

I. Moderno e versátil, Vinicius de Moraes compõe, com mestria, tanto letras para canções como
poemas dentro dos mais estritos padrões clássicos.

II. Cecília Meireles caracterizou sua poesia pela constante referência ao Simbolismo; mas soube
também incorporar a matéria histórica, em uma de suas mais importantes obras.

III. Em inúmeros poemas, Drummond aborda a função social do poeta.

Está correto o que se afirma

( A ) em I e II.
( B ) em I, II e III.
( C ) em II e III.
( D ) apenas em I.
( E ) em I e III.

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Leia o texto II, abaixo, e responda aos itens 07 e 08.

TEXTO II

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

(MORAES, Vinicius de. O encontro do cotidiano. In: BUENO, Alexei [Org.]. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
p. 337.)

07. Sobre o poema de Vinicius de Moraes, é correto afirmar, EXCETO:

( A ) Apesar de ser construído com apuro formal, o soneto não segue o mesmo esquema de rimas
para os quartetos nem para os tercetos.
( B ) No poema, o autor utiliza vocábulos do cotidiano, pouco comuns nesse tipo de
composição.
( C ) O poema possui forma fixa e regular, por ser estruturado em quatro estrofes, divididas em dois
quartetos e dois tercetos.
( D ) O recurso da antítese em “fez-se” e “desfez-se” revela, sob certo aspecto, a inconstância na
vida amorosa.
( E ) O soneto é composto por um jogo antitético: riso x pranto, calma x vento, triste x contente e
próximo x distante, o que confere certo dinamismo ao texto.

08. De acordo com a interpretação do texto, é possível afirmar que

( A ) toda espécie de sentimento tem um fim rápido.


( B ) a paixão continua, ainda que o amor acabe.
( C ) o amor é um sentimento poderoso e fugaz.
( D ) amar é geralmente previsão de algo triste na vida dos seres humanos.
( E ) o amor termina quando os amantes se desentendem.

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- TABELA DE RESPOSTAS -
SÓ SERÃO CONSIDERADAS AS OPÇÕES ASSINALADAS NESTA TABELA

ITENS
OPÇÕES
01 02 03 04 05 06 07 08
A X
B X X
C X X
D X X
E X

VERDADEIRO OU FALSO

COLOQUE UM “X” NO RETÂNGULO COM V, QUANDO A SENTENÇA FOR DE SENTIDO


VERDADEIRO, OU NO RETÂNGULO COM F, QUANDO A SENTENÇA FOR DE SENTIDO FALSO.

Leia o texto abaixo, um poema de Décio Pignatari, e responda ao item 09.

TEXTO III

(SIMON, Iumna Maria; DANTAS, Vinicius de Avila. Poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 75.)

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09. Julgue as proposições acerca do poema de Décio Pignatari e, por extensão, da Poesia Concreta:

V F Abolição do verso tradicional, sobretudo através da eliminação dos laços sintáticos,


gerando uma poesia objetiva, feita quase tão somente por nomes.

V F Linguagem sintética, dinâmica, homóloga à sociedade industrial, incorporando os signos


da sociedade moderna.

V F Devido a seu caráter “verbivocovisual”, o poema deverá ser simultaneamente lido e


tocado com os dedos, a fim de que seus significados sejam plenamente vivenciados pelo
leitor.

V F Ruptura com o lirismo, ou seja, com boa parte da tradição literária da poesia brasileira.

V F A temática é intimista, pois relaciona a ambiguidade entre ter e ser, embora possa ligar-
se também a algo tão objetivo como o problema fundiário no Brasil.

V F O poema transforma-se em objeto visual, valendo-se do espaço gráfico como agente


estrutural: uso dos espaços brancos, de recursos tipográficos etc.

DÊ O QUE SE PEDE

Leia o texto IV e responda ao item 10.

TEXTO IV

CAMPOS, Augusto de. Luxo. Poesia 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 119.

10. Analise o emprego das duas palavras que compõem o texto e seu sentido de crítica social.
(02 escores)

O poema é composto por uma palavra básica: luxo, que, disposta repetidas vezes , forma
um caligrama nominal, representando uma outra palavra: lixo√. O sentido crítico expresso é
o de que um produto de luxo para muitos pode representar algo sem valor nenhum, algo
descartável, assumindo, portanto, a condição de lixo√. ____________________________

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Releia o texto IV, leia o texto V e responda ao item 11.

TEXTO V

Atravessadores lucravam com coleta no lixão de Campo Grande, diz MPT

Procurador diz que eles recebiam mais de R$ 30 mil por mês com produtos.
Lixão foi fechado para atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos.

O fechamento do lixão de Campo Grande já gerou muitos protestos. Nesta quinta-feira (2), o
procurador do Trabalho Paulo Douglas Almeida de Moraes afirmou que atravessadores é que lucravam
com a exploração de materiais recicláveis no local.
Segundo o procurador do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS), as
manifestações contrárias à criação da Unidade de Tratamento de Resíduos (UTR) são organizadas não por
quem deixou de coletar materiais recicláveis no lixão, mas sim por atravessadores que recebiam mais de
R$ 30 mil por mês com a compra dos produtos. A renda do trabalhador não chegava a R$ 700.
“Até então, nós tínhamos uma concentração dessa distribuição nas mãos de um grupo não maior
do que dez pessoas. Não é justo e adequado que a sociedade seja efetivamente enganada, levada ao
erro, em imaginar que esse pequeno grupo de atravessadores seriam catadores”, disse Moraes.
O lixão foi fechado em fevereiro, para que Campo Grande se adequasse à Política Nacional de
Resíduos Sólidos e fiscalizações do Ministério do Trabalho. Além da preservação do meio ambiente, a
medida é essencial para saúde e segurança dos coletores.
Uma criança chegou a morrer soterrada em dezembro de 2011. Por várias vezes, desde o
fechamento, os catadores protestaram querendo voltar para o lixão, onde eram autônomos. Agora, eles
só podem trabalhar na UTR, onde o promotor de Justiça Eduardo Cândia destaca que sobram vagas.
“A UTR está em pleno funcionamento e atuando de forma subutilizada, com esteira ociosa.
Portanto, realmente há possibilidade de recebimento de mais catadores para trabalhar como cooperados,
ou então como empregado da concessionária”, garantiu Cândia.
(ROCHA, Ellen. Atravessadores lucravam com coleta no lixão de Campo Grande, diz MPT. Portal G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2016/06/atravessadores-lucravam-com-coleta-no-lixao-de-campo-grande-diz-
mpt.html> Acesso em: 05 jul. 2016.)

11. A fim de confirmar que muitas vezes o texto literário expressa de modo artístico situações do
cotidiano, explique detalhadamente a relação temática comum aos textos IV (poema concreto) e V
(notícia). (03 escores)

Como ocorre no texto IV, em que lixo e luxo estão intimamente ligados, o texto jornalístico
aborda o aproveitamento do material reciclável (lixo)√ por meio da exploração de
trabalhadores, a fim de um grande lucro (luxo)√, por parte dos atravessadores desse
material. O produto reciclável segue o percurso gerativo de sentido de lixo (material
retirado manualmente do lixão) a luxo (material que gera altos lucros a
atravessadores)√.__________________________________________________________

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Leia os excertos de textos abaixo e responda aos itens 12 a 14.

TEXTO VI

Vou contar para vocês


um caso que sucedeu
na Paraíba do Norte
com um homem que chamava
Pedro João Boa-Morte,
lavrador da Chapadinha:
talvez tenha boa morte
porque vida ele não tinha.

Sucedeu na Paraíba
mas é uma história banal
em todo aquele Nordeste.
Podia ser no Sergipe,
Pernambuco ou Maranhão,
que todo cabra-da-peste
ali se chama João
Boa-Morte, vida não.

Morava João nas terras


de um coronel muito rico,
tinha mulher e seis filhos,
um cão que chamava "Chico",
um facão de cortar mato,
um chapéu e um tico-tico.

Trabalhava noite e dia


nas terras do fazendeiro,
mal dormia, mal comia,
mal recebia dinheiro;
se não recebia não dava
para acender o candeeiro.
João não sabia como
fugir desse cativeiro.

(GULLAR, Ferreira. João Boa-Morte, cabra marcado para morrer. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. p. 23-24.)

TEXTO VII

— O meu nome é Severino,


como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
[...]

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Maj Pimenta
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.

(MELLO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. p. 12.)

12. Por que podemos afirmar que, formal e tematicamente, os poemas são intertextuais, ou seja,
dialogam entre si? (02 escores)

Porque ambos versam sobre personagens que vivem de forma difícil (temática) √ e são
poemas construídos à maneira de cordel (forma) √ ._______________________________

13. Embora esses textos sejam agrupados didaticamente na 3ª fase modernista, nota-se que eles
possuem motivações semelhantes à geração de 1930. Explique contextualmente essas motivações.
(02 escores)
São textos que facilmente seriam agrupados na 2ª fase modernista porque fazem denúncias
sociais, como o trabalho quase escravo (em Gullar) √ e morte por fome (em João Cabral),
ambas situações de desmandos de ordem política.√________________________________

14. Explique o efeito de sentido na escolha dos nomes “João” e “Severino” para protagonizar essas
narrativas poéticas. (02 escores)
São nomes bastante comuns no Nordeste√, demonstrando que pertencem a personagens
bem populares, ou seja, aparentemente sem distinção social, de classe
baixa√.___________________________________________________________________

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Leia o texto a seguir, um fragmento do conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de Guimarães Rosa,
lido e estudado em sala de aula durante o 2º trimestre, e, com seus conhecimentos sobre o conto,
responda aos itens 15 a 17.

TEXTO VIII

[...] As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam [...]. Sempre chegava
mais povo — o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois,
antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia trazer as duas, conforme. A
mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo.
Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum.
Alguém deu aviso: “Eles vêm!...” [...]
Aí que já estava chegando a horinha do trem, tinham de dar fim aos aprestes, fazer as duas entrar
para o carro de janelas enxequetadas¹ de grades. [...] Elas não haviam de dar trabalhos.
Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçoo2 do canto, das duas, aquela chirimia3, que
avocava4: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem
jurisprudência5 de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois.
Sorôco.
[...] E lhe falaram: — “O mundo está dessa forma...” Todos, no arregalado respeito, tinham as
vistas neblinadas. De repente, todos gostavam demais de Sorôco.
Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s'embora. Estava voltando
para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.
Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num
excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num
rompido — ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si — e era a cantiga, mesma, de
desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.
A gente se esfriou, se afundou - um instantâneo. A gente...
E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do
Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos
caminhando, com ele, Sorôco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam,
ninguém deixasse de cantar. Foi o de não sair mais da memória. Foi um caso sem comparação.
A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até
aonde que ia aquela cantiga.

1. enxequetadas – diz-se de escudo dividido em quadrados simétricos; enxadrezados.


2. acorçoar – estimular, animar.
3. chirimia – um tipo de corneta, no conto é usada no sentido de cantoria.
4. avocar – retornar, repetir.
5. jurisprudência – no conto usada no sentido de juízo.

(ROSA, Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 62-66.)

15. Os habitantes do lugar estavam curiosos para saber como seria o desfecho da história, mas não
interferiram diretamente no caso. Explique essa atitude. (02 escores)

Eles agiam com preconceito e curiosidade , por isso aproximaram-se por curiosidade√, mas
mantiveram distância por preconceito√._________________________________________

16. Na opinião do povo, o que representaria para Sorôco a partida das duas mulheres? (02 escores)

Representaria o rompimento dos únicos laços afetivos que Sorôco possuía√, denotando
desse modo que ele, por si uma figura que vivia apenas para seus familiares, estaria
completamente derrotado como ser humano√. ___________________________________

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17. Por que a cantiga que se constituiu em fator de desequilíbrio entre as duas mulheres e o restante dos
personagens tornou-se mais tarde fator de aproximação? Explique detalhadamente. (03 escores)

Porque a cantiga funcionou, de modo misterioso, como elemento agregador no clímax da


história, quando Sorôco e toda a multidão cantou junto√. É o único momento em que as
pessoas se uniram a Sorôco, a sua dor, e à doença de sua família, solidariamente√,
retirando os limites preconceituosos entre sanidade e loucura.√ .____________________

Leia o texto a seguir, um excerto do romance lido e estudado em sala de aula durante o 2º trimestre,
“A hora da estrela”, em que o narrador descreve os personagens Macabéa e Olímpico de Jesus, e, com
seus conhecimentos sobre o livro, responda aos itens 18 a 23.

TEXTO IX

Da terceira vez em que se encontraram – pois não é que estava chovendo? – o rapaz [...] disse-lhe:
— Você também só sabe é mesmo chover!
— Desculpe.
Mas ela já o amava tanto que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor.
Numa das vezes em que se encontraram ela afinal perguntou-lhe o nome.
— Olímpico de Jesus Moreira Chaves, mentiu ele [...]
— Eu não entendo o seu nome, disse ela. Olímpico?
Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que
isso era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era, arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele
não sabia responder. Disse aborrecido:
— Eu sei, mas não quero dizer!
— Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente não precisa entender o nome.
[...]
Olímpico de Jesus trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava
de “operário” e sim de “metalúrgico”. Macabéa ficava contente com a posição social dele porque também
tinha orgulho de ser datilógrafa, embora ganhasse menos que o salário mínimo. Mas ela e Olímpico eram
alguém no mundo. “Metalúrgico e datilógrafa” formavam um casal de classe. A tarefa de Olímpico tinha o
gosto que se sente quando se fuma um cigarro acendendo-o do lado errado, na ponta da cortiça. O
trabalho consistia em pegar barras de metal que vinham deslizando de cima da máquina para colocá-las
embaixo, sobre uma placa deslizante. Nunca se perguntara por que colocava a barra embaixo. A vida não
lhe era má e ele até economizava um pouco de dinheiro: dormia de graça numa guarita em obras de
demolição por camaradagem do vigia.

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 45.)

18. No contexto da história, o que se pode inferir da fala de Olímpico: “— Você também só sabe é mesmo
chover!”? (01 escore)

A chuva tem um valor negativo e significa um impedimento no bom relacionamento entre


Macabéa, a suposta promotora de chuvas, e Olímpico, que sempre se exime de situações
negativas√. _______________________________________________________________

19. De acordo com a caracterização da personagem Macabéa, por que ela assume a culpa por estar
chovendo? (01 escore)

Porque ela, de modo ingênuo, assume a responsabilidade por todos os atos que incomodem
os outros personagens, ainda que isso não seja real.√. _____________________________

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20. Por que Olímpico mente acerca de seu nome? (01 escore)

Ele faz isso porque, na realidade, seu pai não o reconheceu como filho, ou seja, ele é filho
de mãe solteira e não se sente bem com essa condição√. ___________________________

21. Que distinção pode ser feita entre os vocábulos “operário” e “metalúrgico” para a identificação
profissional de Olímpico e por que ele opta por “metalúrgico”? (02 escores)

O vocábulo “operário” generaliza uma profissão, que parece igual a muitas outras,
portanto√. Já o vocábulo “metalúrgico” apresenta um tratamento especial ao trabalhador,
no caso, promove uma ascensão social por meio do léxico e, por isso, é assim que Olímpico
deseja ser tratado, de modo diferenciado. √. _____________________________________

22. Explique como o narrador desconstrói o artifício linguístico de Olímpico, que se qualifica como um
“metalúrgico”. (01 escore)

O narrador compara a tarefa de Olímpico, que se autodenomina um metalúrgico, ao gosto


de um cigarro sendo fumado pelo lado errado√.___________________________________

23. A obra de Clarice Lispector, de modo geral, se caracteriza sobretudo pela narrativa intimista,
introspectiva. Entretanto, o livro “A hora da estrela” não pode ser, assim, caracterizado. Explique,
portanto, de que maneira a construção de uma protagonista como Macabéa diferencia “A hora da
estrela” dos demais textos da autora. (02 escores)

Ao escolher Macabéa como protagonista desse romance, Clarice Lispector, além de enfatizar
aspectos da realidade, manifesta uma intenção explicitamente social que não aparece em
outros textos√. A representação da vida de Macabéa e de suas misérias pode ser vista como
uma tentativa de retratar as condições dos muitos nordestinos que há muitos anos
migravam para o Sudeste em busca de melhores oportunidades de vida√ .______________

Correção gramatical e/ou apresentação da prova: 0,5 ponto.

FIM DA PROVA

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