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fascista no Brasil)
nildouriques.blogspot.com/2018/09/o-segredo-de-bolsonaro-reflexao-sobre.html
A saída desse circulo é muito simples: do fato de o liberalismo burguês, por medo do
movimento operário ascendente e de seus objetivos finais ter exaltado o último suspiro
decorre apenas que hoje, justamente, o movimento operário socialista é e pode ser
o único suporte da democracia; não que os destinos do movimento operário socialista
estão ligados aos da democracia burguesa, mas que inversamente os destinos do
desenvolvimento democrático estejam ligados ao movimento socialista; que a democracia
não se torna capaz de viver na medida em que a classe operária abandona sua luta
emancipatória, mas, inversamente, na medida em que o movimento socialista se torna
suficientemente forte para combater as consequências reacionárias da política mundial e
da deserção burguesa; que quem deseja o fortalecimento da democracia também precisa
desejar o fortalecimento e não o enfraquecimento do movimento socialista e que, com o
abandono dos anseios socialistas, também soa igualmente abandonados o movimento
operário e a democracia
Rosa Luxemburgo, 1899
Não é fácil superar ilusões. No entanto, sem renunciá-las não se vai adiante. Numa aguda
análise das revoluções de 1848 na Europa - ano de publicação do Manifesto - Marx
escreveu em 24 de dezembro ao seu amigo Fred que "o grande fruto do movimento
revolucionário de 1848 não é o que os povos obtiveram senão aquilo que perderam: a
perda das ilusões".
"Duas bombas de alto teor explosivo provocaram a morte de uma senhora e ferimentos em
outras seis pessoas, ontem, no Rio, em dois atentados ocorridos no início da tarde: um, na
sede da Ordem dos Advogados do Brasil e outro na Câmara dos Vereadores. Num terceiro
atentado, de madrugada, uma bomba de pouca potência destruiu parcialmente a sala do
jornal "Tribuna da Luta Operária", não fazendo vítimas."
Na verdade, em 1985 a ditadura já não era mais possível e a transição era pra valer. A
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política externa dos Estados Unidos não mais estava baseada exclusivamente no terror de
Estado. A crise econômica, o processo de acumulação de capital e a ofensiva burguesa
contra o "gigantismo estatal" anunciava amplo processo de privatização preconizado pelo
manifesto dos empresários em março de 1977 encabeçado por Einar Kok, então
presidente do Sindicato de máquinas do Estado de São Paulo. A fração da burguesia
industrial reivindicava a "volta a democracia" com considerável apoio de outros setores da
classe e os capitalistas preparavam o assalto ao estado na "compra" das suculentas
estatais e no controle civil do Estado. À esquerda, nós, os defensores da derrubada
revolucionária da ditadura, perdíamos espaço para o Partidão que postulava a defesa das
"liberdades democráticas" apoiado numa ampla aliança de classe encabeçada pela
burguesia paulista. A lembrança daquela época e do clima então dominante me ocorre
agora, quando escuto algo acerca da "onda fascista" que segundo alguns, se aproxima
com a certeza semelhante àquela que anuncia o amanhecer. Aos que desprezam as lições
da história, é necessário recordar que aquela longa ditadura cívico-militar não era
considerada um regime fascista, embora suas atrocidades - ainda impunes – tenham sido
imensas. Agora, observo que a "ameaça fascista" é denunciada sem análise detalhada,
apenas como expressão da angústia produzida pela crise do regime político de petistas e
tucanos.
De fato, eis aqui a questão central: o sistema petucano agoniza. Na ausência desse
reconhecimento e ignorando o fracasso histórico - programático e moral - do petismoem
mudar o país, tornou-se cômodo e até mesmo necessário atribuir à "onda fascista" todo e
qualquer evento, seja a repressão a uma greve, o assassinato de uma liderança popular, a
decisão de um tribunal, uma campanha da mídia, etc. Mais do que uma possibilidade real,
a ameaça fascista é invocada pela ala esquerda do liberalismo como meio de iludir a
bancarrota histórica do petismo e serve também à direita que, se efetivamente ameaçada
em seu privilégio de classe, não vacilaria em caminhar rumo à ditadura.
O espasmo fascista
Na América Latina ninguém pode menosprezar a tentação fascista e, em consequência,
não se deve banalizar o fenômeno sobretudo porque em algum momento, quiçá será
necessário reconhecê-lo e enfrentá-lo. Aqui e agora, não tenho dúvidas a respeito: não
vivemos uma onda fascista ainda que existam manifestações de caráter e orientação
fascista.
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A despeito da desinibição do general, as limitações e contradições para
o fascismo emergir no país são ainda consideráveis. O fascismo supõe a existência de
organizações de massa e lideranças que inexistem no Brasil. É fácil constatar que tanto o
MBL quanto o "Vem pra rua" não possuem a capacidade ofensiva e atuam quase
exclusivamente na reação ao petismo e a Lula, um adversário tão débil quanto necessário.
Ademais, uma onda fascista requer um líder político, alguém com capacidade semelhante
àquela de Carlos Lacerda no período pré-64. O deputado Bolsonaro, antecipo, não reúne
condições para cumprir essa função, embora as pesquisas eleitorais deste
momento despertem temores ao eleitor/militante de consciência ingênua. Portanto, a
ausência de organizações de massa e a inexistência de uma liderança consistente, limitam
o potencial fascista na conjuntura imediata. Mas há obstáculos ainda maiores.
Na medida em que o Plano Real (tucano) se consolidou nos governos petistas, a coesão
das distintas frações de classe atingiu o ápice. Hoje a burguesia exige fidelidade à
proposta liberal e nem mesmo sua fração industrial residual é capaz de oferecer qualquer
resistência significativa em direção oposta. Assim, o desenvolvimentismo de Lula e Ciro
representa basicamente uma proposta ilusória em busca de uma classe social impossível
de encontrar no país, razão pela qual o lamento em torno da "desindustrialização" e a
promessa de "crescimento com distribuição de renda" ocorre sem produzir qualquer
consequência.
O liberalismo de esquerda - Lula, Ciro, Manuela e até mesmo Boulos - clama pela
restauração de programas sociais limitados, doses possíveis de justiça tributária e respeito
ao cretinismo parlamentar, que é incapaz de legitimar o regime politico que apodrece. Não
há saída pelas regras do sistema! Não é mais possível restaurar as "virtudes" da
democracia. O que acontecerá?
O papel da pequena burguesia
Ao contrário da grande burguesia que, repito, exibe enorme unidade política em torno do
programa liberal, a pequena burguesia - proprietária e assalariada - indica um
comportamento errático, mas de crescente radicalização. Não faz sentido buscar coerência
na atuação da pequena burguesia e das classes médias em geral, pois ela oscila de
acordo com a intensidade da crise. No entanto o combustível da radicalização das classes
médias é duplo: a corrupção e os efeitos nocivos da crise econômica. A corrupção -
sempre inaceitável para um socialista! - é igualmente detestável para todos e funciona,
aqui e agora, como espécie de justificativa "ética" para o cinismo pequeno burguês, cuja
existência está marcada por pequenos privilégios numa sociedade atravessada pela
profunda desigualdade de classe.
A direita e a corrupção
A redução da política à moral confere enorme e invejável radicalidade à pequena
burguesia na disputa abstrata pelos "valores", pois assim não necessita prestar contas às
exigências do mundo real. Portanto, o liberalismo de direita está mais apto para capitalizar
o descontentamento generalizado contra a corrupção, na medida em que indica o Estado
como origem de todos os males no suposto de que o "setor privado" não é corrupto!
Ademais, como sabemos, as massas não fazem distinção entre governo e Estado e
culpam o primeiro por seus males. Neste contexto pouco importa se atrás de um político
corrupto sempre encontramos um empresário exitoso, afinal a crítica do liberalismo de
direita não é dirigida contra os capitalistas (Eike Batista ou os irmãos Batista da JBS), mas
aos políticos corruptos comprados por eles e com insistência denunciados no noticiário
diário da TV.
A esquerda e a corrupção
Nada pode ser mais pernicioso na política do que a complacência, ou ainda a
ambiguidade, na luta contra a corrupção. Ainda pior é considerar o combate à corrupção
mero resíduo moralista inadequado à luta de classes. Aos complacentes bastaria recordar
que Getúlio Vargas foi acossado até os últimos dias sob a acusação de orquestrar um
"mar de lama". Jânio Quadros tornou-se popular também porque "varreria" a corrupção do
país. João Goulart e o reformismo nacionalista era igualmente acusado de conviver com a
roubalheira. E Collor de Mello, como esquecê-lo? Acaso não atacaria os marajás para
redimir o país dos males da corrupção? Após tantos exemplos de nossa História é no
mínimo irresponsável abandonar a luta contra a corrupção ou, pior ainda, deixá-la nas
mãos do liberalismo de direita sob o "argumento" de udenismo. Não se deve esquecer que
quando surgiu na cena política o PT (e especialmente Lula!) tinha no combate à corrupção
uma importante bandeira de agitação contra a classe dominante que, lentamente, foi
secundarizada e mais tarde completamente esquecida na exata medida em que o partido
se submetia à razão de Estado. Não foram necessárias mais do que algumas vitórias
eleitorais em prefeituras e governos de estado para indicar a Lula e ao PT que a crítica, e
especialmente o combate à corrupção, deveriam ser considerados "erros de juventude"
incompatíveis com o "realismo político" de quem precisa governar o país.
A burguesia opera a redução da política à moral, empurrando o liberalismo de esquerda
para a impotência política na exata medida em que novas denúncias surgem e velhas são
requentadas segundo a conveniência e cálculo político do juíz Moro. Foi assim que a
classe dominante - articulando judiciário e imprensa - afastou de maneira definitiva amplos
segmentos da classe média do polo eleitoral representado pelo PT e Lula. No entanto,
ainda que importante, não foi esta a cartada decisiva. A ofensiva do liberalismo de direita é
resultado necessário do pacto de classe comandado pelo PT em benefício de todas as
frações do capital. A eliminação definitiva do horizonte socialista e de certo radicalismo
político no partido e nos sindicatos sob sua influência, promovidos pela suposta sapiência
de Lula - considerado pelos ingênuos pouco menos que um gênio político -, eliminava no
nervo o único obstáculo que as frações burguesas realmente temem: a referência classista
e a ação combativa orientada pelo programa socialista. Neste contexto, a acomodação de
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classe não poderia produzir mais do que as políticas sociais compensatórias – uma
digestão moral da pobreza – destinada tão somente a mitigar a dor dos miseráveis sem
qualquer possibilidade de superar a opressão e exploração a que estão historicamente
submetidos. Esse processo é irreversível e basta observar as alianças que Lula - desde a
cadeia em Curitiba - traça com Renan Calheiros, Eunício de Oliveira, Wellington Fagundes
e tantos outros personagens que votaram pela destituição de Dilma e eram considerados
"golpistas" até ontem na mesma medida em que são absolutamente necessários e
justificáveis para sair da crise agora...
Eis a razão pela qual Lula foi presa fácil para Moro: sua prisão não representava qualquer
ameaça à ordem dominante tal como demonstrou sua melancólica despedida no sindicato
dos metalúrgicos de São Bernardo. Quando muito Lula figura como obstáculo eleitoral, que
ao fim e ao cabo, caso necessário, a classe dominante estabelece o rumo do governo num
acordo tão fácil quanto desejado pelo ex-presidente. Por isso todas as previsões
catastróficas produzidas por seus profetas acerca do cancelamento das eleições
presidenciais, golpes militares ou ainda a ameaça fascista são tão descabidas quanto
convenientes para o petismo. Essa narrativa é irreal mas não inútil, pois mantém o
liberalismo de esquerda cativo dos estreitos limites do sistema, onde cumprirá
eternamente a função de denunciá-lo na vã tentativa de melhorá-lo e colocá-lo a serviço
dos interesses das maiorias. A recente reativação eleitoral da polarização petucana
(Alckmin x Haddad), é talvez a última cena deste conhecido roteiro cujo objetivo é limitar o
horizonte político do processo eleitoral. O resultado será visto em poucos meses.
A enorme ofensiva do capital contra o funcionalismo público – nas três esferas, federal,
estadual e municipal - é crescente e afeta diretamente as classes médias insatisfeitas com
os custos elevados das escolas privadas, planos de saúde, segurança, vida social e
cultural, etc. Assim, se por um lado a ideologia liberal condena o Estado como fonte de
todos os males, por outro a ausência ou a péssima qualidade dos serviços públicos
decorrentes da "austeridade fiscal" empurra milhões para o combate anti-sistêmico. Sendo
assim, não basta clamar em defesa dos "direitos da cidadania" e menos ainda à retórica
sobre a importância das políticas públicas notoriamente incapazes de evitar o abismo
social onde se encontram milhões de trabalhadores. Numa lógica das situações extremas
simplesmente não há espaço para o antigo keynesianismo ou as políticas de bem estar
social de extração socialdemocrata. Nem mesmo cobrando impostos da classe dominante
ou limitando o tradicional assalto ao Estado promovido por todas as frações do capital. O
rentismo é imbatível no interior do sistema pois ele é o sistema!
O combate a corrupção
Nós socialistas sabemos que a origem da corrupção é a relação simbiótica entre capital e
Estado. No entanto, este reconhecimento não pode ocultar a decadência política e moral
do petismo, especialmente de sua direção, e a consequente impotência política de um
partido sob razão de Estado incapaz de combate-la até o fundo e o fim. O bom moço
Keynes - ignorado em larga medida pelos keynesianos brasileiros - alertou há quase um
século (1926) que "a inépcia dos administradores públicos contribuiu muito para levar o
homem prático ao lasseiz-faire – um sentimento que, de maneira alguma, desapareceu.
Quase tudo o que o Estado fizesse além de suas funções mínimas, no século XVIII, era,
ou parecia, injusto ou sem êxito”. Ora, quando Dilma aplicou em 2014 um estelionato
eleitoral semelhante ao de FHC em 1994, a inépcia petista sabotou no nervo a
“competente” administração da ordem alimentada durante dois mandatos por Lula. Neste
contexto, a memória sobre o veranico maravilhoso do segundo mandato do ex-presidente
evaporou, especialmente para as classes médias e a pequena burguesia proprietária. A
destituição de Dilma - o momento em que a burguesia decretou o fim da conciliação de
classe no país - foi embalada na propaganda exitosa que a ex-presidente era
completamente destituída de qualidades intelectuais e virtudes políticas para dirigir o país.
Enfim, seu governo exibiu a "inépcia dos administradores públicos" indicada por Keynes e
aqui difundida de maneira insistente; até mesmo parte do petismo alimentou esta política
na medida em que também dirigiu muitas críticas a Dilma no suposto de que se "Lula
estivesse lá, tudo seria diferente"...
A redução da política à moral segue crescendo no processo eleitoral sempre que surgem
novas acusações e as antigas são tiradas do baú pelo juíz Moro contra Lula. Foi assim que
a classe dominante afastou amplos segmentos da classe média do polo eleitoral
representado pelo PT e Lula, agora estruturalmente debilitado por razão elementar: sem
uma referência de classe socialista e combativa, Lula e o PT não podem mais vencer essa
batalha. Ao contrário, cada dia que passa, como partido da ordem que alimenta
esperanças no sistema, empenhado em renová-lo como se fosse possível fazê-lo, terá
inexoravelmente menos espaço entre as classes médias, jogando-as aos braços do melhor
pastor. As classes médias - ao contrário do que pensa a filosofa municipal - não
representam o "horror". Ora, foram precisamente elas que deram a vitória ao PT e ao seu
profeta Lula, que nos governos petistas fixaram como utopia possível a "inclusão social" tal
como se, de fato, a esquerda não mais se definisse pela luta socialista mas única e tão
somente na luta contra as "injustiças sociais" ou, como pretende renovar o PSOL, na luta
"contra os privilégios". Afinal, não foi de Lula a propaganda segundo a qual "40 milhões de
brasileiros deixaram a miséria e outros 30 entraram na classe média"? Pois bem, as
classes médias e os despossuídos desfrutam agora de um país sem horizonte socialista, o
único polo capaz de rivalizar com a ofensiva ultra liberal das classes dominantes e, em
consequência, oscilam em direção à direita que captura sua atenção na medida em que a
política está reduzida à moral e o paraíso parece perdido para sempre por pura
responsabilidade da "esquerda".
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De resto, as reformas liberais caminham bastante bem. Não deve ser considerado um feito
menor o fato de que um governo sem qualquer aceitação tenha avançado como nenhum
outro na direção da política encabeçada pela fração financeira do capital. A mais
importante foi a reforma trabalhista que derrubou estruturalmente os salários e afirmou o
terreno fértil para o aprofundamento da superexploração da força de trabalho. Antes dela, o
congelamento dos gastos do Estado por duas décadas garantiu os recursos necessários
para manter o caráter rentista cujo epicentro é a dívida pública. E o fim de um regime
previdenciário de interesse imediato para os bancos está consolidado como se sua
eliminação fosse uma condição para a existência do país. A resistência ao programa
liberal tem sido forte mas fragmentada, e tragicamente, os sindicatos e movimentos
populares reagem somente na medida em que o parlamento pauta as reformas. Um
movimento de massas orientado por uma concepção parlamentar de política seguirá
necessariamente limitado a posição reativa.
O segredo de Bolsonaro
Bolsonaro mantém posição nas pesquisas operando no vazio do radicalismo de esquerda
e também na dupla incapacidade de liberais de esquerda (PT) e de direita (PSDB) em
afirmar mecanismos de renovação do sistema petucano, cuja impotência em afastar-se da
lepra da corrupção é cada dia mais evidente para milhões de eleitores. Neste contexto, a
pecha de fascista destinada ao deputado oculta algo essencial: o êxito nas pesquisas
eleitorais é resultado direto de sua insistência na acusação do sistema político petucano,
de todas suas misérias e não por que é de fato, um novo ‘Messias’, capaz de representar o
ovo da serpente que na próxima segunda-feira nos conduzirá ao regime fascista. As teses
ultra liberais que toscamente indica no terreno da economia são - ao contrário do que os
acadêmicos julgam - ácido contra a inépcia das políticas públicas de corte socialdemocrata
ou caritativa em tempos de crise social e de colapso financeiro do Estado, incapazes de
romper a dinâmica satânica do rentismo sobre a dívida pública e o raquitismo dos
programas sociais.
Ademais, o ultraliberalismo defendido por ele jamais poderá ser testado no mundo dos
homens - razão pela qual tampouco pode ser batido no terreno da mera argumentação -
pois é utopia reacionária e, embora de comprovada eficácia para capturar o senso comum
em períodos eleitorais, jamais foi levado a prática em qualquer país do mundo,
simplesmente porque sem Estado não existe capitalismo. Há que se compreender algo
decisivo nesta disputa: Bolsonaro é um marionete nas mãos de Washington, uma carta do
ultraliberalismo a serviço dos Estados Unidos. Aqui reside, precisamente, a força de seus
argumentos, pois o ultraliberalismo jamais poderá ser levado a prática de maneira cabal;
basta observar que a realização de uma etapa de reformas liberais deverá,
necessariamente, ser seguida de outra ainda mais forte que, invariavelmente, será ainda
insuficiente! A natureza religiosa da política que ele representa é capaz inclusive de roubar
protagonismo do pastor-evangélico-deputado que, com os pés no mundo real e aferrado
ao dinheiro (In God we trust), adotará sem cerimônia e remissão o messias mundano,
renegando logo que necessário e possível, o deus que simulam adorar. Portanto, as
acusações de que Bolsonaro não tem programa e que seus argumentos são irracionais,
sem compromisso em solucionar os cada dia mais graves problemas nacionais,
simplesmente não colam mais.
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Os partidos políticos da esquerda liberal manifestam ineficácia na tarefa de produzir teoria
sobre a realidade brasileira e sua profunda crise, razão pela qual importam da academia
fragmentos de interpretação da realidade nacional sem qualquer compromisso com o
radicalismo político e o rigor científico. Em consequência, os partidos políticos do
liberalismo de esquerda são cativos do academicismo liberal hegemônico na chamada
inteligência universitária, sem perceber suas graves consequências. Na prática, estendem
polêmicas do mundinho acadêmico para a vida partidária como se pudessem nessa infantil
operação, cativar as massas! Este comportamento - expressão necessária do colapso
completo do sistema petucano e dos acadêmicos com fortes vínculos com partidos de
origem na esquerda - não é somente ingênuo; é também fatal para reconstruir o
radicalismo de esquerda necessário para enfrentar o avanço liberal e suas expressões
proto-fascistas. É ilustrativo deste fato que muita gente boa repita os bordões de
acadêmicos inofensivos a ordem burguesa como Boaventura de Souza Santos e outros
tantos, para iluminar o próximo passo da luta...
Ora, a separação radical entre o candidato e seu economista é também a maior expressão
da concepção tecnocrática de política, dirigida precisamente à administração da crise
segundo os interesses da classe dominante (especialmente da fração financeira) e jamais
em superá-la em favor das classes subalternas! O antigo elogio à tecnocracia como
caminho redentor diante da deficiência crônica da política social e do subdesenvolvimento
encontra seu correlato à esquerda na medida em que a política como atividade totalizante,
ato destinado à emancipação dos oprimidos, se refugia em "causas" e termina na
impotência quando adota o "conceito" de "empoderamento" para redimir, por meio do
otimismo individual, dos manuais de auto ajuda e da simulação de práticas coletivas, a
violência e exploração a que estão submetidas as vítimas do sistema. A denúncia retórica
contra a "política do ódio", a "violência" e a "intolerância" nada pode no contexto de uma
guerra de classes! Mais do que um caminho para enfrentar a ofensiva burguesa, a
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insistência nas lutas fragmentadas destinadas a fortalecer "causas", indica que a defesa de
direitos particulares não mais pode ser eficaz como substituição da práxis totalizante; ao
contrário, somente um programa totalizante e o ataque ao coração do sistema petucano
poderia multiplicar o esforço anônimo e militante de milhares de pessoas que sustentam os
movimentos populares. Eis a razão pela qual os chamados movimentos sociais - a
despeito de sua importância - acumulam derrotas atrás de derrotas no contexto da guerra
de classes aberta contra o povo. Expressam também que se a resistência é importante e
sempre ocorrerá movida pelo sofrimento e exploração das vítimas do sistema, os limites
implícitos da política baseada na denúncia da "intolerância" e da "política de ódio" soam
infantis e antecipam o destino de todo moralismo: a impotência em ação!
Epílogo eleitoral
Neste mês inicia o epílogo eleitoral: a propaganda na TV. Os dois partidos da ordem (PT e
PSDB) poderão afirmar a centralidade da disputa pois dispõem de maior tempo de
televisão. O desafio central do sistema petucano é impedir que Bolsonaro apareça como o
único candidato anti-sistêmico numa eleição aparentemente previsível que repetiria a
polarização dominante desde 1994. As últimas semanas oferecem indicativos sérios de
que a eleição petucana poderá não existir. A renúncia ao radicalismo de esquerda permitiu
a Bolsonaro avanço solitário na condição de alguém que está contra "tudo o que aí está".
Alguém poderia acreditar? Em larga medida alertamos para este fato desde o início do ano
indicando também o único caminho capaz de barrar Bolsonaro: o radicalismo de esquerda.
O caminho ficou livre para o proto-fascista que, nos marcos de uma eleição disputada,
atualiza o voto útil já no primeiro turno. O voto progressista tem neste contexto um único
objetivo: evitar o pior. E o que seria o pior? Bueno, a consciência ingênua tentará evitar um
segundo turno entre Marina e Bolsonaro ou entre este e Alckmim. Nesta miséria -
dependendo do que farão tucanos e petistas no horário eleitoral - a candidatura de Haddad
poderá crescer.
A frente eleitoral anti-fascista tão desejada pelo liberalismo de esquerda como meio de
exorcizar a ameaça fascista conta inclusive com o entusiasmo de Fernando Henrique
Cardoso, que já anunciou que votaria em Haddad contra Bolsonaro. E o que faria o PT
caso Bolsonaro fosse para o segundo turno contra os tucanos? Creio que retribuiriam a
gentileza para evitar o avanço do "fascismo". A luta política esfacelou os partidos da ordem
e exige radical redefinição entre os políticos da classe dominante.
E nós, da esquerda? Não teremos mesmo que chafurdar nesta lama na qual os liberais
redefinem seu futuro diante do avanço inexorável do ultraliberalismo. Aqui e agora é
preciso exercer a política da renúncia às misérias do sistema, abandonar as ilusões das
possibilidades parlamentares, renovar a práxis política no interior dos sindicatos e exercer
a crítica a tudo e a todos no lento trabalho de reconstrução das referências críticas para os
trabalhadores e nossa juventude num pais em rápido giro à direita. A reconstituição de
uma referência radical, preferencialmente de corte socialista, tinha na disputa eleitoral uma
oportunidade estratégica que a aliança PSOL/PCB desprezou completamente. Este grave
erro cobrará elevado preço a partir de janeiro de 2019, quando um governo liberal e um
parlamento corrupto dominado por conhecidas figuras a serviço da classe dominante
atuarão segundo o roteiro do ultraliberalismo e, na mesma medida, os políticos
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profissionais sempre orientados pelas conhecidas virtudes republicanas exibirão as
vísceras de um sistema colapsado a serviço do exclusivismo burguês.
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