• Discípula e seguidora de Freud, iniciou seus trabalhos pouco antes de 1920, quando Freud
revia a teoria dualística das Pulsões – de vida e de morte (1920) e propunha uma teoria
estrutural da mente em termos de Id, Ego e Superego (1923).
• Técnica de brincar como instrumento de investigação dos conflitos inconscientes infantis,
permitindo, assim, a promoção de uma compreensão sobre o desenvolvimento primitivo da
criança, desembocando em teorias específicas que melhor elucidaram a análise de adultos.
• 1932: estabelece os fundamentos da análise de crianças, apontando para um Complexo de
Édipo e Superego bem mais primitivos no curso do desenvolvimento infantil. O superego –
produto de uma evolução que começa na tenra infância – é vivenciado como figuras ou
objetos que existem e atuam dentro do corpo da criança. Os elementos que fazem parte do
ambiente da criança (mãe e outras pessoas) são introjetados, incorporando-se ao self como
objetos parciais, formando, assim, uma série de identificações, favoráveis e desfavoráveis.
• 1934: conceito de posição: dinâmico e nada estático, enfatiza a coexistência de estados
primitivos com estados posteriores, devido à fixação e regressão. É de acordo com a
organização egoica, a ansiedade prevalente, as defesas e as relações objetais, que o bebê será
capaz de responder aos estímulos que a ele chegam, sejam de ordem interna ou externa.
• Posição esquizo-paranoide e Posição depressiva: é sob a posição em que o bebê se encontra
em determinado momento, que será possível formar e manter, em fantasia e realidade,
relações de objeto.
• É central na obra de M. Klein as relações de objeto, internos ou externos, como determinantes
fundamentais da personalidade, bem como o papel da fantasia inconsciente.
• Ego desde o nascimento: lábil, primitivo e desorganizado, mas capaz de formar e manter
relações de objeto, experimentar ansiedade e usar mecanismos de defesa.
• Como consequência de seu trabalho clínico simultâneo com adultos neuróticos e crianças
neuróticas e psicóticas, elabora a hipótese de que a ansiedade de natureza psicótica é, em
certa medida, parte normal do desenvolvimento infantil. Períodos transitórios de ansiedades
paranoides e depressivas de tipo psicótico são vivenciadas por todas as crianças.
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dessa representação sobre os objetos externos, serão modificadas por eles, reintrojetadas como novas
representações e/ou como modificações da representação original e, assim, sucessivamente. Os
objetos do mundo interno, por projeção, dão significado à realidade externa. As pulsões de vida e de
morte (de amor e de agressão) estão misturadas e se ordenam em torno das relações de objeto, com
as fantasias e angústias associadas a elas.
Em outras palavras,
“poderíamos pensar o bebê como um sujeito dotado de imensa capacidade perceptiva,
que, inicialmente, conta apenas com os seus sentimentos (amor e agressividade inatos)
para “adivinhar” a realidade externa, as intenções e os comportamentos das outras
pessoas. É inevitável que “espere” encontrar fora dele aquilo que pode perceber
(sentir, experimentar) em si. Após isso, em um interjogo perceptivo dinâmico, o
sujeito utiliza o que sente para “adivinhar” o que é sentido pelo outro. A “reação de
fato” do outro se mistura com aquilo que ele imagina que seja a intenção desse outro e
constitui o que o sujeito percebe como realidade. Essa percepção, então, é introjetada
(gravada na memória) como um padrão possível de relacionamento. A introjeção (ou
imagem interna daquela possibilidade de relação) contém as atitudes e os
comportamentos percebidos, mas também os sentimentos experienciados e o “estado
emocional” que resultou dessa vivência. Esse processo se repete ao longo da vida,
resultando nas inúmeras relações objetais que compõe o mundo interno” (Cardiolli,
2008, p.154).
Segundo o autor, dessa forma, a transferência toma um sentido menos asséptico, à medida
que o conteúdo projetado, em alguma medida, será modificado pela reação do analista, que nunca
estará completamente livre da projeção de suas próprias relações objetais. Obviamente, na medida do
possível, a análise pessoal do analista e a constante auto-observação pretendem que ele entenda e
signifique o que está se passando nesse jogo de projeções. Com a evolução desses conceitos e o
entendimento do mecanismo da identificação projetiva (descrito inicialmente por Klein, em 1946) a
relação terapêutica passa a ser não apenas um meio de compreender a realidade psíquica do paciente
como um instrumento para modificá-la, por meio da introjeção de relações de objeto mais salutares.
Klein introduziu outro conceito de importante relevância para a psicanálise: a noção de
posição depressiva e esquizo-paranoide. O funcionamento da mente de todos os indivíduos oscila
entre esses dois estados. Na posição esquizo-paranoide, preponderante nos primeiros três meses de
vida, os objetos (distorcidos e fantasiados) são percebidos como exclusivamente bons ou
exclusivamente maus. Esse processo ocorre por meio de um mecanismo de defesa chamado cisão e
tem a finalidade de proteger os bons objetos (idealizados e continentes dos impulsos amorosos) e o
self da agressividade (projetada) dos maus objetos (vividos como persecutórios). É uma manifestação
da divisão entre seio bom e seio mau: representações da gratificação e da frustração das necessidades
do ego. Na posição depressiva, tanto os objetos internos quanto externos estão mais integrados
(contendo seus aspectos bons e maus), e, portanto, mais próximos da realidade. A posição depressiva
seria o resultado da percepção dessa integração, em oposição à idealização e à onipotência (quando a
cisão diz respeito ao self).
Para Klein, as relações com os cuidadores no início da vida seriam a pedra angular da vida
mental. Surge a ideia de que a mente é povoada por modelos de relações com o outro (objeto) e
consigo (self), que são construídos desde o nascimento e reconstruídos ao longo de toda a vida, a
partir das projeções e introjeções de impulsos amorosos e agressivos. Esses modelos são utilizados
permanentemente para “apreender” a realidade. Klein introduziu a ideia de que o sujeito oscila entre
dois estados emocionais: a posição esquizo-paranoide, em que amor e ódio estão dissociados, e a
posição depressiva, quando se percebe que um mesmo objeto (ou o self) contém aspectos positivos e
negativos.
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Relações de objetos:
Internos (frutos da fantasia do bebê sobre seu conteúdo interno) e externos, como
determinantes fundamentais da personalidade, bem como o papel da fantasia inconsciente.
Fantasia inconsciente:
Considerada por M. Klein expressão mental das pulsões, correspondente a todo impulso
experimentado pelo bebê, permitindo a satisfação momentânea de um desconforto ou a reação com
ataques destrutivos. As fantasias inconscientes são influenciadas e influenciam as experiências da
realidade, com as quais está em constante interação, não se restringindo a um meio de fuga, mas sim
objetivando a satisfação de impulsos instintuais. Além disso, a gratificação oriunda da fantasia age
como defesa contra a realidade externa e interna do bebê. As fantasias, originalmente guiadas pelo
princípio do prazer, permitem ao bebê fazer face às sensações de desconforto, angústia, destruição e
culpa. No entanto, aos poucos, o sentido de realidade vai operando mais plenamente, aproximando os
objetos internos, fantasiados, das pessoas e coisas reais, do mundo externo. Com o progressivo
desenvolvimento do bebê, o princípio da realidade vai se interpondo ao do prazer, dando origem a
funções mentais mais elevadas, como o pensar.
Ego
Klein discorda da importância que Freud dá ao conceito de Id e baseia sua teoria na capacidade
precoce do ego de perceber as forças destrutivas e amorosas e manejá-las por meio de defesas
(dissociação, introjeção, projeção). Um ego desde o nascimento, desorganizado, mas suficiente forte
para sentir ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar relações objetais precoces, tanto em
fantasia quanto na realidade. O ego começa a se desenvolver já na primeira experiência do bebê com
a amamentação → assim, a primeira relação objetal do bebê – o seio – se transforma no protótipo
não só para o desenvolvimento futuro do ego, mas também para as relações interpessoais posteriores
do indivíduo.
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Superego
A partir da experiência de Klein com a análise de crianças pequenas, difere de Freud em 3 aspectos:
surge bem mais cedo; não é fruto do Complexo de Édipo; e é muito mais severo e cruel. Esse
superego precoce produz não culpa, mas terror → as crianças pequenas temem ser devoradas e
rasgadas em pedaços (temores desproporcionais aos perigos reais) → impulsos destrutivos do bebê
experimentados como ansiedade - pulsão de morte ⇨ defesa do ego contra suas próprias ações. Para
Klein o superego se desenvolve com o complexo de Édipo e, por fim, emerge como culpa realista
depois que o Édipo é resolvido.
Complexo de Édipo
Mais precoce do que em Freud, já nos 1º meses de vida. Klein levantou a hipótese que, durante as
fases iniciais, o complexo de Édipo, serve às mesmas necessidades para ambos os gêneros, isto é,
estabelecer uma atitude positiva com o objeto bom e gratificante (seio ou pênis) e evitar o objeto
mau a aterrorizador (seio ou pênis) → menina e menino podem direcionar seu amor de forma
alternada ou simultânea para cada um dos pais – relações homo e hetero com ambos os pais. Assim
como Freud, Klein assumiu que meninos e meninas acabam experimentando o Édipo de formas
diferentes. Uma resolução do complexo de Édipo saudável para ambos os sexos depende da
capacidade da criança permitir que pai e mãe fiquem juntos e tenham relações sexuais um com o
outro. Não permanece qualquer remanescente de rivalidade. Os sentimentos positivos das crianças
para com os pais servem posteriormente para reforçar suas relações sexuais adultas.
Objetos
Klein concordava com Freud que os humanos possuem impulsos ou instintos inatos, incluindo um
instinto de morte. E cada impulso precisa de um objeto: impulso de fome → seio bom; impulso
sexual → objeto sexual. As primeiras relações objetais são com o seio da mãe, em seguida seu rosto
e mãos, assim como o pênis do pai. Esses objetos são introjetados dando origem aos objetos internos,
que ganham força própria. O bebê está em constante conflito entre instinto de vida e instinto de
morte, entre bom e mau, entre amor e ódio, entre criatividade e destruição. À medida que o ego
avança em direção à integração, os bebês preferem naturalmente sensações gratificantes em relação
às frustrantes. Na tentativa de lidar com essa dicotomia de bons e maus sentimentos, os bebês
organizam suas experiências em posições, ou formas de lidar com os objetos internos e externos.
Posição Esquizo-paranoide
Posição (e não estágio) do desenvolvimento infantil definida por M. Klein, em 1946, para
caracterizar os quatro primeiros meses de vida do bebê, onde este vivencia predominantemente
ansiedades de tipo paranoide (ansiedade persecutória de aniquilação), e seu ego e seus objetos
encontram-se em estado de divisão, daí o termo “esquizoide”. Essa posição é fundamentalmente
caracterizada por relações de objeto parcial (primordialmente o seio materno), onde a divisão
(splitting), a introjeção, a projeção e a negação constituem os primeiros mecanismos de defesa do
ego, além da identificação projetiva (Segal, 1964, 1979).
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Posição Depressiva
Definida por M. Klein, em 1934. Para que a passagem a essa posição ocorra, é necessário que
tenha havido a prevalência de experiências boas sobre as más, ou seja, que a pulsão de vida tenha
prevalecido sobre a pulsão de morte. Com isso, objetos bons e maus podem ser aproximados,
culminando numa integração. A relação de objeto é total (mãe inteira e diferenciada), já que o ego do
bebê é um ego total, cada vez menos dividido. O bebê reconhece que a mãe é a mesma pessoa que o
satisfaz e que o frustra, que ele ama e odeia. Ele depara-se, então, com a própria ambivalência, e com
a ansiedade de ter destruído a mãe com seu ódio (em sua fantasia). Luto e culpa são experimentados.
É também nessa posição que o bebê diferencia fantasia de realidade, e realidade interna de realidade
externa. Outra modificação importante: o pensar desarticulado e concreto da posição esquizo-
paranoide, dá lugar à capacidade de vincular e abstrair, formando a base do pensar esperado de um
ego maduro (a formação simbólica tem aqui sua gênese). Contra o sentimento depressivo e o
desespero por ter arruinado sua mãe (e o seio bom), o ego do bebê utiliza-se de defesas disponíveis,
entre elas, as defesas maníacas de controle onipotente, triunfo e desprezo, com o objetivo de
negar a realidade psíquica e suportar a dor depressiva (Segal, 1964, 1979).
Introjeção
Os bebês fantasiam incorporar a seu corpo aquelas percepções e experiências que tiveram com o
objeto externo – originalmente, o seio da mãe. Normalmente, o bebê tenta introjetar objetos bons,
incorporá-los dentro de si como uma proteção contra a ansiedade. Contudo, ás vezes, também
introjeta objetos maus para obter controle sobre eles. Quando objetos maus são introjetados, eles se
transformam em perseguidores internos, capazes de aterrorizar os bebês. Os objetos introjetados não
são representações precisas dos objetos reais, mas influenciados pelas fantasias das crianças.
Projeção
Assim como bebês usam a introjeção para incorporar objetos bons e maus, eles empregam a projeção
para se livrar deles. É a fantasia de que sentimentos e impulsos próprios, na verdade, residem em
outra pessoa e não dentro do próprio corpo. Ao projetarem impulsos destrutivos incontroláveis nos
objetos externos, os bebês aliviam a ansiedade insuportável de serem destruídos por forças internas
perigosas.
Identificação Projetiva
Termo conceituado por M. Klein, em 1946 no artigo “Notas sobre alguns mecanismos
esquizoides” (in Os Progressos da Psicanálise. RJ: Zahar, 1969), para designar:
“um mecanismo que se traduz por fantasias em que o sujeito introduz a sua
própria pessoa totalmente ou em parte no interior do objeto para o lesar, para o
possuir ou para o controlar” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 232).
Inveja
Conceituada por Klein em 1957 como um sentimento já atuante desde o nascimento, podendo afetar
substancialmente as experiências mais primitivas do bebê. A base da inveja reside na fantasia do
bebê, quando este encontra-se com fome ou solitário, de que o amor e dedicação de sua mãe lhe são
recusados deliberadamente ou guardados para satisfação da própria mãe. Logo no início da vida do
bebê a inveja surge e é dirigida ao seio materno. É suscitada pela satisfação proveniente do seio e a
percepção que essa fonte nutritiva de amos e conforto encontra-se fora do eu. Caracteriza-se por uma
relação dual, onde o bebê inveja o objeto – seio – por suas posses e qualidades. É, portanto,
experimentada em termos de objetos parciais e considerada como a mais primitiva externalização da
pulsão de morte, por atacar a fonte de vida.
No entanto, se a inveja não for avassaladora, é superada e modificada pela gratidão, conforme o ego
vai se tornando mais integrado.
Ciúme
Diferente da inveja, o ciúme é caracterizado por uma relação triangular de posse ao objeto amado e
remoção do rival. Pertence, portanto, a um período da vida em que os objetos são claramente
reconhecidos e diferenciados uns dos outros.
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Bibliografia:
CARDIOLLI, A.V. (org.) Psicoterapias: Abordagens Atuais. 3ª Ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.
LAPLANCHE E PONTALIS (1967) Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
SEGAL, H.(1964) Introdução a Obra de Melanie Klein. Rio de janeiro: Imago, 1975.
QUESTÕES
1. A criança, a partir da experiência com o seio bom, via introjeção, tenta proteger-se da ameaça de
aniquilação.
CERTO – ERRADO
2. A criança direcionaria seus desejos a objetos sempre relacionados à mãe, ou seja, seio bom e seio
mau. Não seria possível à criança ter o pênis como objeto. Essa é uma divergência da teoria kleiniana
em relação à teoria freudiana.
CERTO – ERRADO
3. Segundo essa teoria, as relações interpessoais do indivíduo são influenciadas pelo fato de que,
quando criança, ele se relaciona com objetos totais, entre os quais se inclui o seio.
CERTO – ERRADO
4. A representação psíquica dos objetos introjetados pela criança é enviesada pelas fantasias.
CERTO – ERRADO
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“Baseia-se no amor e visa a posse do objeto amado e a remoção do rival. Pertence a uma relação
triangular e, portanto, a um período da vida em que os objetos são claramente reconhecidos e
diferenciados uns dos outros.”
“É uma relação de duas partes. Visa a que se seja tão bom quanto o objeto; mas, quando isso é
sentido como impossível, visa a danificar a bondade do objeto, para remover a fonte de
sentimentos.”
a) ódio e reparação.
b) objeto bom e objeto mal.
c) posição paranoide e posição depressiva.
d) ciúme e inveja.
e) fantasia e medo.
GABARITO