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2. A questdo social no Brasil 2.1. Particutaridades da formacdéo historica brasileira e questao social As desigualdades que presidem 0 processo de desenvolvimento do Pais tém sido uma de suas particularidades historicas. O “maderno” se constréi por meio do “areaico”, rectiando elementos de nos: a heranga his- torica colonial ¢ patrimonialista, ao atualizar marcas persistentes ao mes- -las, ne contexte de mundializacdo do capital sob a hegemonia financeira. As mar zadas, repdem-se, modlificadas, ante as inéditas condi mo tempo, transforma ao serem atuali- 5 histdricas persistentes ies histéricas pre- sentes, ag mesmo tempo en que imprimem uma dindmica propria aos pro- cessos contempordneos, O novo surge pela mediagaa do passade, transfor- made ¢ recriado em novas formas nos process sociais do presente. A atual insergia do Pais na divisao internacional do trabalho, como um pais de economia dita “emergente” em um mercado mundializado, earrega a his- toria de sua formacan social, imprimindo um cardter peculiar 4 organiza- sd da produgas, as relagdes entre o Estado ¢ a sociedade, atingindo a forma a do universo politicn-cultural das classes, grupos ¢ individuos sociais Tais desigualdades reyelam o descompasso entre temporalidades his- tori as distintas, mas coetaneamente articuladas, atribuindo particularida- des @ formagae social do Pais Afelam a economia, a politica e a cultura, redimensionando, simultaneamente, nos sa heranga histérica ¢ 0 presente, 83, Repraduze aqui, com pequenas alteragoes, extratos de capitulo 2 du livre de minha auto- via: Tabata in Sio Paulo; Cortez, 2001, p. 101-112 Jmprimem um itmo particular ao proces so de mudangas em que tanto 0 hove quanto» welho alteram-se em direcSes contrapostas: a modernidade ‘los forcas produtivas do trabalho social convive com padroes retrégrados nus relagSes no trabalho, radicalizando a geste svete. A nos: w (Marx, 1985b, tI, v. II): a desigualdade entre o desenvolvimento econd- inico.& 9 desenvolvimento social, entre a expansao das forgas produtivas e de desenvotvinwnto desigual 6 utilizada em sua acepgao cf \) relagées sociais na formacdo capitalista, Revela-se como reproducao ompliada da riqueza e das desigualdades sociais, fazendo cxescer a pobr o telativa & concentracdio e centralizagio do capital, alijando segmentos lade do usuftute das conquistas do trabalho social. Desenvelvimento desigual em outa dimensio nao menos fundamenta desiguais entre as mudancas ocorridas na produgio material ¢ 4s formas culturais, artisticas, juridieas vte,; que expressans ag alteragées da Wajorilatios da se ome vida material A tensao entre o Movimento da realidade e as representa- hes sociais que o expressam estabelece cescompassos entre 0 ser e 0 apa- tocer, Atualiza fetichismos e mistificagées que acobertam as desigualdades © sua reprodiagao social M considera estar seu nticleo sediado na propriedade territorial capitalista tins (1994), a0 diseutir o poder do afraso na sociedade brasileira, Na intexpretaco do autor, a propriedade & responsavel pela persisténcia de constrangimentos histéricos que frelinn 0 alcance das transformagdes histéricas do presente, porque se realizam por meio de instituicdes, con- copgdes e valores enraizados em relagdes que tiveram sentido pleno no fb A contradigio entre as desiguakladies histéricas fundamentais da sociedacle do eapital & Hinticla por Mars na “Lei geral da aeurnulagito capitalista” (Mars, 19850, 1.1, \. ID. (5%, A referids cimensia do di nvelviments desigual @ exposta por Mars na cenhecida “in Inhilugio” aos Gruinirisse, be 1857; "0 desigual rlagio do desenvolvimento da procugao material fivinte.d produgéo artistica, por exeiplo, De uma mancina geral nao tomar pragresso no sentido: \iphitual. Arte mociorra ete. Esta despmopargio ust lonye de ser smportante e ta dificil de apreen: warque seprodus ne 2. Porexemplo, a cultura, O prop Wir 0 sega nto desiguel (Marx, 1 pill tevon das os socisis pit que redo relay 4a: 129; gritos nosso. se ins de produgi. conto relagaes fri nc une dese 66, Unna interpaitago do desenvolvimente desigual no segundo sentido peoposto por Marx Wal seja, tle como as relaches socials de produgio como relagbes juridicas seguem am closer lo desigual, pode ser encontrada em Laikies {197% 128-171) a AN passado e que sao ressuscitadas na atualidade. Preocupado em identificar as condigdes histdricas particulares que estabelecem 0 ritmo do progresso na sociedade brasileira, sugere como perspectiva de interpretacao o que chama de sociolagia da historia lenta: “a que permite fazer uma leitura dos fatos @ acontecimentos orientada pela necessidade de distinguir no con ftemporaneo a presenga viva e ativa de estruturas sociais do passaclo” (Martins, 1994; 14), A modernizagao conservadora articula 0 progresso no marco da or dem ¢ atribui um ritmo lento ds transformagdes operadas, de modo que o novo surja como wm desdobramento do yelho (Martins, 1994: 30). Ela per- mite explicar a incorporagao e/ou criago de relagdes sociais areaicas ou xi forga nos anos recentes, como a peonagem, a escravidao por divida, a clandestinidade nas atrasadas nos setores de ponta na economia, que adquir relagdes de trabalho ¢ sua precar acio mediante a regressao dos direitos sociais & trabalhistas, O desafio é, pois, compreender o modo como 0 capi tal articula essa cliversidade de relagdes, trazendo, para as determinacées de seu tempo, isto 6, do seu ritmo e de sua teproducio ampliada, os tempos. de diferentes relagSes que foi reproduzindo na sua logica, ou mesmo pro- duzindo, (Martins, 1989a: 20). A desigualdade de temporalidades histérieas tem na feigao antide- mocratica a: ssumida pela revolucio burguesa no Brasil um de seus pilares. As solugées polilicas para as grandes decisées que presidiram a condugdo da vida nacional tain sido orientadas por deliberagdes “de cima para bai- xo" ¢ pela feiterada exclusio das cla s subalternas, historicamente desti- tuidas da cidadania social e politica.” Seguneto Fernand monopolista no Brasil ocorre por caminhos que fogem ao “modelo univer- es (1975), a transigao do capitalismo competitive ao sal da demacracia burguesa”. A economia brasileira relacionou-se com a expar sio monopolista segundo a forma tipica que assumiu na periferia dos centros mundiais. As grandes corporagSes, operand diretamente ou 67, Comes rossalta Jann (19884: 11): “Todas as forma d@ncia ald» presente, denotam a contin histori: do Estado, desde & Indeper jade e reiteracciv de solugdes autoritarias, de cima para baixo, pelo alio, organizando o Estado segundo os interesses oligaéequ tas, Q que se revels, ar Longe da h bungiaesa pernuasterte” 08; burg 105 © lnnpetialis ‘Eo desenvolvimento de ama especie de contra-revelugao

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